“Revelação
de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as
coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e
as notificou a João seu servo… Escreve
as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão
de acontecer…” (Ap
1.1,19) [2].
Queremos fazer, sob a graça de Deus, uma série de leituras e breves análises sobre vários temas relativos à Escatologia (doutrina das últimas coisas) retirados dos textos bíblicos alusivos aos mesmos, ou seja, textos apocalípticos. Os comentários estão fundamentados nas fontes abaixo e em observações interpretativas pessoais. Chamo de apocalípticos, aqui, textos que tratam do fim dos tempos como parte do livro de Ezequiel, Daniel, Zacarias, Mateus 24, Lucas 21, parte de 1 e 2 Tessalonicenses, o livro do Apocalipse e assim por diante.
E neste primeiro artigo (post), quero fazer uma breve introdução sobre o livro de Apocalipse, deixando claro, entretanto, nossa concepção interpretativa acerca do livro que exporemos abaixo.
Ο livro do APOCALIPSE, cuja autoria é atribuída ao apóstolo João, filho de Zebedeu, escrito por volta do ano 95. A palavra "apocalipse", usada como título do mesmo, vem do grego apokalupsis, que significa revelação daquilo que estava anteriormente escondido ou que era desconhecido e desvenda os grandes acontecimentos do encerramento da história, inclusive a revelação de Jesus Cristo em Sua segunda vinda.
1.
Alguns
destaques [3]:
O
livro é um registro do que o Apóstolo João viu e ouviu.
Há
no livro o uso constante de símbolos.
Referências
aos acontecimentos do Antigo Testamento e suas profecias são
abundantes.
Podem
notar-se mudanças de local da terra para o céu e de volta à
terra.
O
livro é uma narrativa do juízo divino e do conflito que varre todo
o mundo.
O
número SETE (sete grupos de sete), número de perfeição na
Bíblia, é constante no livro: sete igrejas, sete candeeiros de
ouro, sete estrelas, sete selos, sete trombetas, sete taças, sete
flagelos… ou seja, os sete estão por todo o livro.
As
passagens citadas não têm sequência de narrativa profética, mas,
indo para trás e para frente, resumem o passado e antecipam o
futuro. Portanto, cronologicamente inconsistentes.
O
propósito principal do livro é fornecer o cenário da revelação
de Jesus Cristo. Trata do período da tribulação (que o mundo
chama de o Apocalipse, propriamente dito), e do clímax do livro que
e do retorno de Jesus à Terra para implantar Seu Reino.
Na época de João, como a Igreja era alvo de uma devastadora perseguição de Roma, assim deveria ser também nos últimos dias. A vitória dessa grande luta será o advento de Cristo em glória, e com Ele o estabelecimento do reino de Deus em poder, João claramente contemplou o fim como próximo (1.1-3).
2. As interpretações [4] e divisões [5] do Apocalipse:
Geralmente,
os vários tipos de exposição do Apocalipse limitam-se a quatro:
a) Concepção preterista: vê as profecias como inteiramente relacionadas aos dias de João, sem nenhuma referência a épocas futuras. Esta concepção é francamente endossada, principalmente por autores liberais.
b) Interpretação histórica: contempla as visões como a predição da história desde o tempo do escritor até o fim do mundo. Os reformadores, em geral, adotam esta interpretação...
c) Explicação futurista: coloca a relevância das visões inteiramente no fim da época, afastando-as grandemente do tempo do profeta. Posição dos cristãos dos primeiros séculos da Igreja e de grande parte dos evangélicos atuais.
d) Explanação poética: considera ilegítimos todos os sistemas de interpretação rígidos. Segundo ela, o profeta simplesmente descreve, à maneira dos seus predicados de artista, o triunfo certo de Deus sobre todos os poderes do mal.
Qual a minha concepção? Como um bom "batisbleiano" (misto de batista com assembleiano), fico com a interpretação futurista, mas entendo que a interpretação histórica também está relacionada. Por exemplo, no verso 9 do primeiro capítulo, está escrito: “Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer”. As coisas que “João tinha visto” e “as que são”, tratam de fatos históricos (já cumpridos e se cumprindo), portanto, se enquadram numa interpretação histórica, enquanto “as que depois destas hão de acontecer” ainda não aconteceram, como o próprio termo indica. São acontecimentos futuristas. Neste verso estão as três principais divisões do Apocalipse.
a) as coisas passadas, ‘as cousas que viste’, isto é, a visão de Patmos (1.1 a 20);
b) as coisas presentes, ‘as que são’, isto é, as igrejas existentes (2.1 a 3.22); e
c) as coisas futuras, ‘as que hão de acontecer depois destas’, isto é, os acontecimentos depois da Dispensação da Igreja (4.1 a 22.5).
Esta divisão proposta por Scofield e por muitos evangélicos conservadores, sugere que após o capítulo 4, o livro apresenta acontecimentos futuros e, assim, segue até o final do livro. Para todos os efeitos devemos lembrar que, a exemplo dos profetas do A. T., (cf. 1 Pe 1.12 e 2Pe 1.20-21) a João também foi revelado coisas que não seriam cumpridas em seu tempo e que por enquanto parece obscuras até o tempo de seu cumprimento determinado por Deus.
O esboço (adaptado) do livro de Apocalipse proposto por Beasley-Murray pode ser:
Introdução
/ Prólogo – 1.1-8.
Visão
do Filho do Homem – 1.9-20.
As
Cartas às sete igrejas – 2.1 a 3.22.
A
Visão do céu – 4.1 a 5.14.
Os
sete selos – 6.1 a 8.5
As
sete trombetas – 8.6 a 11.19.
O
fundo do conflito terrestre – 12.1 a 14.20.
As
sete taças – 15.1 a 16.21.
A
queda de Babilônia – 17.1 a 19.21.
O
reino consumado – 20.1 a 22.5.
Conclusão
/ Epílogo –
22.6-21.
Para concluir esta introdução, quero propor o vídeo de Luiz Sayão, a seguir:
[2] As referências bíblicas utilizadas aqui (e em outros artigos) são da versão Almeida Corrigida Fiel (ACF). Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/>. Acesso em: 11/09/2024.
[3] Texto adaptado de: SCOFIELD (Vide Referências bibliográficas).
[4] Texto adaptado de: BEASLEY-MURRAY
(Vide
Referências bibliográficas).
[5] Texto adaptado de: SCOFIELD (Vide Referências bibliográficas).
Referências
bibliográficas:
BEASLEY-MURRAY,
George
Raymond.Apocalipse.
In: O
Novo Comentário da Bíblia,
Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1983.
SCOFIELD.
CyrusIngerson.
A Bíblia Sagrada com referências e anotações de Dr. C. I.
Scofield. São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil, 1987.
Como
já dissemos nos posts anteriores sobre os bispos e papas, estamos
destacando inicialmente os listados porEusébio
de Cesareia,
no seu livro História
Eclesiástica [2].
Já
vimos os nove primeiros bispos, e desta
feita, vamos
ver um pouco sobre o
décimobispo
da
lista, chamado Aniceto.
Até
aqui já tivemos: Lino,
Anacleto,
Clemente.
“Mas
esse Clemente foi sucedido por Evaristo,
por
Alexandre.
Xistoseguiu-se
como o sexto desde os apóstolos, após quem veio Telésforo,
que
também sofreu glorioso martírio, depois veio Higinoe
após ele, Pio,
que
foi seguido por Aniceto...”
(HE: 5, VI).
Aniceto
nasceu na Síria e foi sucessor do Bispo Pio, em 155, quando
Antonino
Pioera
imperador romano. Exerceu
seu bispado (ou papado?)até
166(conforme
a wikipedia,
seu papado ocorreu entre 154 e 166).
Enfrentou, além da perseguição sistemática, também cismas internos que abalaram o cristianismo.
Eusébio (HE: 4, XI), destaca que no tempo de Aniceto (e os dois bispos anteriores a ele), havia muitas questões teológicas como as heresias de Valentim, Cerdão e Marcião. Ele destaca também a posição firme de Justino (filósofo e teólogo), que veio a ser chamado Justino Mártir, o qual colaborou teologicamente para a definição e condenação dos hereges.
Destaca-se (cf Wikipedia), por ter sido o primeiro papa a condenar oficialmente uma doutrina como heresia, em concreto o montanismo.
Além da base teológica de Justino, Aniceto, especificamente, contou com a cooperação de Policarpo de Esmirna. O Gnosticismo, conhecida como racionalismo cristão (uma supervalorização do conhecimento, segundo o qual bastava isso para a salvação), foi combatido por Aniceto com apoio dos doutores citados acima.
Aniceto proibiu os padres de deixar crescer o cabelo, para este não ser um motivo de vaidade, e contou também com Policarpo, para definição da data da Páscoa: a ressurreição de Cristo.
Aniceto morreu em 166, mas as fontes não o inclui entre os mártires, apesar da perseguição que a igreja enfrentou.
A
seguir, para concluir, o
vídeo, de um portal católico, Altierez
dos Santos Catequese e Teologia Católica,
em:
[2] Na
versão publicada pela CPAD em 1995, nas páginas 409/410, a editora
fez uma lista de 29 bispos de Roma citados por Eusébio, e Pio é o
número 9 da lista...
Eu sou cristão desde pequeno, católico até março de 1980 e protestante a partir de então. Já em março daquele ano (1980), quando comecei minha nova vida espiritual, sabia que entre os chamados evangélicos ou crentes, ou ainda protestantes..., há vários segmentos teológicos e/ou ideológicos: tradicionais, pentecostais e neopentecostais (este último estava no começo na época). Mas há também outras divisões, entre os quais podemos afirmar que incluem parte dos três grupos acima citados, que são – em resumo – os liberais, os fundamentalistas e os conservadores.
A igreja – Assembleia de Deus – da qual passei a fazer parte, em 1980, é fundamentalista. Lembro-me de que numa sala de aula de Teologia, acho que em 1981, um dos nossos professores disse aos alunos – maioria assembleianos – presentes, mais ou menos estas palavras que ficaram gravadas em minha mente: somos protestantes (porque somos herdeiros da Reforma); dispensacionalistas (porque acreditamos que Deus trata com o homem por períodos de tempo, abrangendo alianças e provas), pré-tribulacionistas (pois acreditamos que a Igreja será arrebatada antes da Grande Tribulação) e pré-milenistas (porque acreditamos que Jesus virá à Terra antes de um período de mil anos – literalmente – para governar). Pretendemos estudar rapidamente cada um destes dogmas, mas por ora, quero apenas destacar as três linhas ideológicas que envolvem a comunidade evangélica como um todo, destacando também, o papel dos conservadores na política brasileira.
1.
Evangélicos liberais
Por muito tempo, depois da Reforma e Contrarreforma do século XVI, até o século XIX, havia duas grandes divisões no Cristianismo ocidental: católicos e protestantes. Estes últimos foram os que mais se ramificaram (subdividiram) em várias igrejas e impactaram cultural e politicamente a sociedade europeia e estadunidense.
O
liberalismo, também chamado de
“modernismo”, corresponde à grande mudança no pensamento
teológico, alcançando
seu ápi’ce principalmente
entre
meados do
século XIX e
a primeira guerra mundial. “Os
desafios intelectuais que o século XIX apresentou ao cristianismo
foram enormes, e tanto o protestantismo como o catolicismo viram-se
obrigados a lhes responder”
(GONZÁLEZ [1]).
O
liberalismo teológico foi uma tentativa de resposta a estes
desafios, procurandoadaptar
as ideias religiosas cristãs à cultura
e formas de pensar da época. Uma vez que o mundo não era mais o
mesmo dos tempos da Bíblia e dos credos, era
preciso repensar a fé e transmiti-la em termos que possam ser
compreendidos hoje. A
Revolução Industrial, que afetou não só a economia, mas também
todos os aspectos da vida; o Evolucionismo
de Darwin, quelevou
os cristãos, senão
a se tornarem ateus, pelo menos a pensarem
num Deus imanente que edificou o universo lentamente e pôs em
descrédito a narrativa do Gênesis; o processo científico em geral
foi aplicado à teologia e à crítica bíblica e pôs em cheque os
dogmas cristãos...
Como
enfatizei nesta
minha monografia, [2] neste
período, as
correntes
do pensamento liberal, foram
notáveis
em todos os aspectos da vida, como migrações, principalmente rurais, rompimento dos laços de família, crescente individualismo e egocentrismo (o tema do ‘eu’) que passou a ocupar a literatura da época. O olhar para o futuro, sob a ideia do progresso, contrariava a forma de pesquisa que adotava até então. Até pouco antes, a opinião mais comum era de que as ideias eram certas quanto mais antigas fossem. Agora, muitos dos intelectuais que enfatizavam o ‘futuro’, motivado pelo progresso, em detrimento do passado, vão pôr em dúvida o que se tem dito até então, em matéria de ‘verdades’ histórica e religiosa. E neste sentido, a ‘Teoria da Evolução, de Darwin, é uma expressão dessa confiança no progresso’. Progresso este, teorizado por Augusto Comte, fundador da Sociologia Moderna, que seguia as etapas da ‘… ‘teológica’ à ‘metafísica’, e desta à ‘científica’. (...) No campo religioso, estes estudos, aplicados à Bíblia, produziram fortes abalos e extensos debates”. E nos Estados Unidos, a teoria de Darwin e outras também de relevância defesa do progresso, repercutiram em forma de ‘teologia liberal’ que tentava ‘… harmonizar o cristianismo com a modernidade, caso contrário, a fé cristã se tornaria uma religião irrelevante e sem sentido nos tempos modernos’. Apesar de não ter sido um ‘movimento monolítico’ o liberalismo foi considerado uma ameaça à fé cristã, e exigiu uma resposta da ‘ala conservadora’ de reação ‘antiliberal’, que defendia os ‘fundamentos da fé’ (Nota 2: item 5.2).
E para destacar os principais ensinos do liberalismo quero aproveitar também parte de uma das fontes utilizadas em minha monografia, o texto de Osiel Lourenço de Carvalho [3]:
“A aceitação das teorias das ciências da natureza como a teoria da evolução de Charles Darwin.
O uso da alta e baixa crítica na interpretação da Bíblia.
O reconhecimento da influência de povos vizinhos de Israel na constituição da religião judaica.
A ênfase em Deus como amor, em lugar de sua figura de juiz da humanidade.
A presença, em cada pessoa, de uma centelha divina, proporcionando uma visão otimista quanto à sua identidade e futuro.
A teoria da revelação progressiva, com a influência dos fatores naturais, econômicos e políticos.
Jesus mais que um salvador da humanidade, é exemplo de plenitude das potencialidades humanas.
A Bíblia é um testemunho da experiência religiosa de Israel e da igreja em seus primeiros anos.
As doutrinas e dogmas das igrejas devem ser substituídos pela experiência religiosa de cada indivíduo.”
Como Pierard [4] afirma, “… a Primeira Guerra Mundial esmagou o otimismo inebriante que era o seu patrimônio principal, enquanto os conservadores contra-atacavam…” e “… já na década de 1960, a maioria dos liberais tinha abandonado o otimismo humanista, o imanentismo cultural progressivo e o sonho de um reino terrestre, sem, contudo, ceder terreno quanto à sua interpretação não-literal da Bíblia.” O certo é que a corrente protestante liberal não morreu e continua dividindo espaços com fundamentalistas e conservadores nos dias atuais.
Como vimos acima, o fundamentalismo ganhou força após a primeira guerra mundial. Mas, como teoria ou linha ideológica/teológica, remonta até 1886, quando foi fundado o Moody Bibble Institute pelo evangelista norte-americano D. L. Moody, em Chicago, com o objetivo de combater a alta crítica e o avanço do liberalismo. Além deste seminário, já havia também, desde 1812, o Seminário Teológico de Princeton, de Nova Jérsei (EUA). Segundo o Portal Got Questions [5], “… 97 líderes de igrejas conservadoras de todo o mundo ocidental foram comissionados a escrever 12 volumes sobre os princípios básicos da fé cristã. Eles então publicaram esses escritos e distribuíram mais de 300.000 cópias gratuitamente para ministros e outros envolvidos na liderança da igreja. Os livros foram intitulados Os Fundamentos, e ainda existem hoje como um conjunto de dois volumes.”
Destacaram-se na formalização do Fundamentalismo, final do século XIX e início do século XX, alguns líderes cristãos, como John Nelson Darby, Dwight L. Moody, BB Warfield, Billy Sunday e outros, que estavam preocupados com o fato de que os valores morais estavam sendo corroídos pelo Modernismo ou liberalismo. Esta crença, segundo eles, estava centrada no homem e não em Deus. Seus adeptos, além da influência do Modernismo, era preciso lutar também contra o movimento alemão de alta crítica, o qual buscou negar a inerrância das Escrituras.
O Fundamentalismo é construído em cinco princípios da fé cristã, embora haja muito mais para o movimento do que a adesão a estes princípios [6]:
A
Bíblia é literalmente verdadeira. Associada a este princípio é a
crença de que a Bíblia é infalível, isto é, sem erro e livre de
contradições.
O
nascimento virginal e a divindade de Cristo. Os fundamentalistas
acreditam que Jesus nasceu da Virgem Maria, foi concebido pelo
Espírito Santo e era e é o Filho de Deus, plenamente humano e
divino.
A
expiação substitutiva de Jesus Cristo na cruz. O Fundamentalismo
ensina que a salvação é obtida somente através da graça de Deus
e a fé humana na crucificação de Cristo para os pecados da
humanidade.
A
ressurreição corporal de Jesus. No terceiro dia após a sua
crucificação, Jesus ressuscitou dos mortos e agora está assentado
à direita de Deus Pai.
A
autenticidade dos milagres de Jesus como registrados nas Escrituras
e a literal e pré-milenar segunda vinda de Cristo à Terra.
Diferentemente dos liberais, os fundamentalistas ensinam também, que os primeiros cinco livros da Bíblia foram escritos por Moisés; que a Igreja será arrebatada antes da tribulação do fim dos tempos e a maioria deles também é dispensacionalista (assunto do qual falaremos em outro momento).
Entendo que o fundamentalismo abrange tanto tradicionais quanto os pentecostais e neopentecostais. O fundamentalista exerce certa militância de sua religiosidade e se vê como guardião da verdade, normalmente excluindo a interpretação bíblica dos outros e gerando atritos com os mesmos, isto é, com outros segmentos religiosos.
O Fundamentalismo foi uma resposta radical para a época que nasceu, uma vez que o mundo estava adotando o Modernismo, Liberalismo e o Darwinismo, e a própria igreja estava sendo invadida por falsos mestres. Ele foi uma reação contra a perda do ensino bíblico, mas depois, começou a se fragmentar e se reorientar. “O grupo mais proeminente e vocal nos EUA [por exemplo] tem sido a Direita Cristã. Este grupo de autodenominados fundamentalistas tem sido mais envolvido em movimentos políticos que a maioria dos outros grupos religiosos. Na década de 1990, grupos como a Coalizão Cristã e Conselho de Pesquisa da Família têm influenciado a política e questões culturais. Hoje, o Fundamentalismo vive em vários grupos evangélicos, como a Convenção Batista do Sul. Juntos, esses grupos afirmam ter mais de 30 milhões de seguidores” (Idem). E como dissemos aqui, o fundamentalismo norte-americano chegou ao Brasil, no início do século XIX, como parte do “Destino Manifesto” protestante que se transformou no modelo do “Protestantismo de Missão”. Aqui, este modelo de protestantismo vai se firmar através de um “fundamentalismo” anticatólico e de muita pouca aproximação com a cultura brasileira, dificultando, desta forma, uma aproximação com pessoas de outros credos, mediante o diálogo sadio e amigável com estes grupos.
Os fundamentos são princípios de defesa do verdadeiro cristianismo, mas sua ênfase na inerrância da Bíblia, inclusive de sua escrita (letra-por-letra) fazem com que seus defensores, os fundamentalistas, sejam vistos como extremistas radicais, pessoas que, inclusive, idolatram a Bíblia. E assim, são criticados tanto por cristãos protestantes liberais, católicos e não-cristãos. Na verdade, os fundamentalistas têm uma característica evidente: “A convicção de que possuem o conhecimento absoluto da verdade, da qual se tornaram guardiões divinamente ordenados” (Lloyd Geering. In: Movimento Batistas por princípios – ver Nota 7). Teólogos conservadores como Alister McGrath afirmam que o movimento fundamentalista prejudicou a teologia acadêmica e o consequente debate com os liberais. Além disso, para ele, “… o surgimento do fundamentalismo causou impacto sobre o compromisso evangélico com a erudição em geral”. E no seu “… afã de se identificarem como detentores da verdade e paladinos da defesa do cristianismo, prejudicaram a integralização entre evangélicos e universidades” (Idem). O contraponto entre o radicalismo fundamentalista e a frouxidão (ou descuido com a pureza do verdadeiro Evangelho) do liberalismo pode ser visto, portanto, com a posição do conservadorismo, do qual falaremos a seguir...
3.
Evangélicos
conservadores
Voltando ao que falei no início, sobre a Igreja Assembleia de Deus, como sendo fundamentalista, alguns anos depois, esta posição já havia mudado bastante, e, num outro momento, lembro-me de que outro professor de teologia disse que esta igreja é literalista – interpreta a Bíblia de forma literal –, mas não fundamentalista. Eu fui membro daquela Assembleia em São Paulo, por 37 anos (há várias assembleias e cada uma com peculiaridades próprias), mas na verdade, sempre me considerei um “batisbleiano” (mistura de batista com assembleiano), portanto um fundamentalista por princípio, até certo ponto, mas convivi muito bem com outros que pensavam diferente. Em 2016, ao fazer um curso de pós numa faculdade batista, e ouvindo sobre muitas ressalvas e até críticas sobre o fundamentalismo – e isto num seminário tido como fundamentalista! –, resolvi estudar um pouco mais sobre o assunto, e escrevi o trabalho citado acima: “Fundamentalismo Protestante: dificuldades de interação e diálogo com a cultura brasileira”. Porém, embora eu reconheça esta dificuldade de interação com a cultura, vejo que o fundamentalismo defende pontos que são inegociáveis por serem verdades absolutas da Palavra de Deus. Por exemplo, mencionamos os cinco pontos de fé fundamentalista: a infalibilidade e inerência das Escrituras, a divindade de Cristo e seu nascimento virginal, a remissão dos pecados da humanidade pela crucificação de Jesus, a ressurreição corpórea de Jesus como um fato histórico e a volta iminente de Jesus à Terra. Eu acrescentaria também os cinco solas da Reforma: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Fide, Sola Gratia e Soli Deo Gloria. Estas são defesas também de conservadores. Ah, hoje, morando em Pindamonhangaba/SP e membro da Igreja da Cidade, com princípios batistas, continuo nesta mistura teológica de fundamentalismo com conservadorismo. Há alguma diferença? Para responder a esta pergunta, quero utilizar, na sequência, parte de um texto de um portal batista, bem sugestivo, a propósito: “Movimento Batistas por Princípios”, que afirma que:
embora fundamentalistas e conservadores tenham a mesma percepção quanto à ‘defesa’ da doutrina, há modos diferentes de entender como essa postura apologética é conduzida. Com os primeiros (fundamentalistas), o diálogo é quase nulo; com os segundos (conservadores), é possível dialogar porque estes já se deram conta há algum tempo que as coisas mudaram e o mundo não é mais como antigamente… o conceito ‘fundamentalismo’ é um termo que surgiu no contexto religioso protestante nos EUA, mas que já ultrapassou o âmbito protestante estadunidense há muito tempo, principalmente depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. O termo ficou popularizado e hoje pode ser visto sendo empregado não apenas no contexto religioso… Os conservadores passaram a se desvincular dos fundamentalistas por entender que a reflexão precisava acontecer e o recrudescimento a partir de posturas ferrenhamente antagônicas não contribuía para o debate com os liberais e, como consequência, com a sociedade. O que demonstra, que os conservadores procuraram o diálogo enquanto os fundamentalistas continuaram a se verem como os ‘únicos’ detentores de uma verdade que não abria para questionamentos… [7]
Bem, voltando à questão da “inerrância” ou “interpretação” da Bíblia Sagrada, vimos que os fundamentalistas afirmam de maneira peremptória sua inerrância, mas os conservadores preferem, ao invés disso, falar de sua “infalibilidade” “… em questões de doutrina e fé” (Júlio Zabatiero: Idem, Nota 7), considerando o contexto em que o texto foi escrito… Interessante que temos, dentre alguns teólogos bem conhecidos, aqueles que se identifica(ra)m como conservadores e não fundamentalistas, como: Billy Graham, John Stott, Isaltino Gomes Coelho Filho, Ebenézer Soares Ferreira, Irland Pereira de Azevedo etc. E os que são fundamentalistas sem serem conservadores, segundo o artigo a que estamos fazendo referência, são os que não aceitam “a diversidade” do modo de ser Batista. O éthos dos Batistas é ser conservador mas entende como a diversidade (ambos os lados são aceitos) é inerente ao seu sistema denominacional.
Conservadores
e liberais na política
O conservadorismo se estendeu para fora do âmbito religioso e alcançou a política. De 2016 para cá, tornou-se muito comum ouvirmos falar de “direita conservadora” aqui no Brasil. O que isto quer dizer? Um pequeno livro do influencer evangélico Luiz Camargo, “Breve manual do cristão conservador” [8] trata de forma bem objetiva deste assunto. Itens que ele aborda como relação do conservadorismo com a direita do Brasil, liberais x conservadores, a Verdade, globalismo, aborto e outros, demonstram a influência do conservadorismo na política brasileira. Aliás, este conceito vai além do grupo dos evangélicos chegando inclusive a católicos, espíritas e até não-religiosos. Mas o que unem estas pessoas ou grupos? Um resumo pode ser:
O conservadorismo implica em preservar valores, costumes e tradições da cultura judaico-cristã. Portanto, se alguém é antissemitista, e anticristão, por exemplo, não pode ser considerado um conservador, ao passo que na sociedade, alguém que mesmo não sendo evangélico ou cristão, mas aceita os valores cristãos como moral, ética etc., conseguem conviver muito bem como conservadores. Percebo isto na lista de contatos (ou seguidores) nas redes sociais de grandes influenciadores (de direita conservadora) da internet, por exemplo.
Mesmo no aspecto político, os conservadores são contrários ao aborto, mudança de sexo, legalização das drogas, defendem a família tradicional (pai, mãe e filhos), a liberdade (de imprensa, expressão, comércio etc. – com base no livre-arbítrio das pessoas), a pouca intervenção do Estado na economia e na vida das pessoas, são pró-Israel (semitistas), defendem o Estado laico (não o laicismo) etc.
Como partidos considerados de esquerda não aceitam os valores dos conservadores, estes são considerados de direita no espectro político.
Então só existem conservadores de direita? Entendo que não há compatibilização entre os princípios que os conservadores defendem com os defendidos pela esquerda. É comum ouvirmos também de “liberais na economia e conservadores nos costumes”. Liberalismo, neste caso, é diferente do que vimos no sentido teológico acima. E o liberalismo, no sentido econômico, é comum também para conservadores. O certo é que, em geral, os conservadores buscam um governo que seja “… pautado pela prudência, por isso tem como premissa a preservação dos valores morais, religiosos e patrióticos tradicionais da civilização ocidental, que foram estabelecidos não por governos ou pensadores na tentativa de chegar a um objetivo previamente arquitetado, mas pelas relações livres dos indivíduos livres ao longo da história. [9]” Ao contrário da esquerda, o conservador não é revolucionário. Na verdade, é exatamente por meio da revolução que os membros da esquerda tentam destruir todo o alicerce da cultura ocidental preservado pelos conservadores através da história.
Evangélico e protestante são palavras sinônimas correspondentes a um mesmo segmento, mas subdividido, de cristãos não-católicos, que abrangem tradicionais, pentecostais e neopentecostais. Os liberais ainda estão presentes hoje, a maioria defendendo pautas da esquerda, presente em grande número dentro das igrejas, principalmente entre os evangélicos tradicionais e católicos. Mas no campo político, liberalismo não tem necessariamente relação com temas teológicos e morais. O conceito está restrito ao mercado. Muitos políticos liberais são ateus e até amoralistas. É comum, por exemplo, liberais defendendo aborto, drogas, pautas LGBT…, condenando Israel e assim por diante. Estes são, via de regra, bem-aceitos no campo político e nas instituições educacionais, já os fundamentalistas/conservadores – nesse caso, tratados como se fossem apenas um grupo, que pensam igualmente e defendem as mesmas pautas – são muitos criticados, vistos como radicais, retrógrados, terraplanistas, fascistas, extremistas, ultradireitistas, anticiência e às vezes tratados como cidadãos com menos direitos do que os demais. Conservadores são vistos como sinônimos de fundamentalistas, colocados num mesmo balaio, mas nos últimos anos, sua presença tem sido notória no campo político.
É sabido que no Brasil, a maioria é conservadora: não só de evangélicos, mas também de católicos e até outros grupos não-religiosos. Mas há algo preocupante, a meu ver, quando pesquisa como esta do Datafolha [10] aponta, por exemplo, que enquanto o número de “… evangélicos que se identifica com a direita, é proporcionalmente maior que o da média brasileira”, mas, por outro lado, entre os próprios evangélicos “...o número de evangélicos de direita é equivalente aos de esquerda”. Não quero aqui defender nem condenar nenhum dos lados, embora vejo que há uma certa tendência do cristão, ao escolher o lado da esquerda, absorver também suas pautas e viver uma espécie de “Evangelho Segundo Marx”, “Teologia da Libertação” etc. E, por este motivo, escolher governantes que também pensam e agem assim.
Para concluir, quero sugerir o vídeo abaixo, de Luiz Camargo, explicando a diferença, no campo político, entre conservadores e liberais.
Notas / Referências bibliográficas:
[1] GONZÁLEZ, Justo. Uma história ilustrada do Cristianismo: a era dos novos horizontes. São Paulo: Vida Nova, 2009. Apud: AMORIM, Nota 2.
[3] CARVALHO, Osiel Lourenço de. Fundamentalismo Protestante. In: SOUZA, Sandra Duarte (Org.). Fundamentalismos religiosos contemporâneos. São Paulo: Fonte Editorial: 2013, pág.52 e 53.
[4] PIERARD, R. V. Liberalismo Teológico. In: ELWELL, Walter. A. (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1988 (1ª Ed.), Pág. 428 e 429.
[8] CAMARGO, Luiz. Breve manual do cristão conservador. Campinas/SP: Vide Editorial, 2022.
[9] Idem, pág. 23.
[10] Datafolha: número de evangélicos de direita é equivalente aos de esquerda. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/pesquisa-eleitoral/noticia/2022/06/07/datafolha-numero-de-evangelicos-de-direita-e-equivalente-aos-de-esquerda.ghtml>. Acesso em: 28/08/2024.
A
palavra “salvação”, do grego σωτηρία (soteria), tem um
significado bastante amplo como cura, remédio, recuperação,
redenção, bem estar… No sentido especificamente espiritual,
baseado, sobretudo no conceito neotestamentário, significa a
libertação ou redenção do homem do poder do pecado, por
intermédio da fé em Cristo, e o seu descanso eterno após a morte.
A salvação também tem um tríplice aspecto temporal: passado,
presente e futuro. É em relação ao aspecto passado, no chamado
protoevangelho, descrito em Gênesis 3.15, isto é, a primeira vez
que surge a ideia de evangelho e, consequentemente, a primeira
promessa de salvação feita por Deus ao homem, é que queremos
destacar neste breve artigo.
1.
O pecado do homem e a promessa de redenção
“Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu
descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar” (Gn 3.15) [2]
As
palavras ditas por Deus (Elohim) no texto em referência são em
consequências do que ocorreu nos versículos anteriores. O casal
Adão e Eva resolveu desobedecer a Deus, comendo do fruto da árvore
que estava no meio do jardim (Gn 3.3), dando assim início ao pecado
no mundo. Obviamente, que há muita objeção quanto à existência
literal deste casal, mas não há como rejeitar sua historicidade,
principalmente, porque documentos antigos tratam deste assunto,
sobretudo entre os mesopotâmicos, região onde, segundo a Bíblia,
ficava o referido jardim e consequentemente aconteceu o fato descrito
no referido texto. Afirmamos isto por causa da descrição geográfica
do Jardim do Éden em Gn 2.10-14. Dois rios, o Tigre e o Eufrates são
mencionados neste texto e tornaram-se a base da região que veio a
ser chamada de “Mesopotâmia” (entre rios), onde se desenvolveram
as primeiras civilizações.
Além disso, os autores do Novo Testamento aceitaram a historicidade literal de Adão e Eva. O apóstolo Paulo, por exemplo, chama o ato de desobediência do casal de pecado e afirma que este entrou no mundo a partir desse momento. “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens” (Rm 5.12). A morte (física e espiritual) foi a grande e triste consequência deste ato. Também aceita o relato de Gênesis 3 como literal ao afirmar que “…primeiro, foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1Tm 2.13-14).
“Não há nenhuma dúvida que os autores do Novo Testamento aceitaram a historicidade literal de Adão e Eva. A origem da raça humana é necessariamente assunto de revelação da parte de Deus, visto que nenhum registro escrito poderia remontar a uma época anterior à invenção da escrita [3]”.
O selo de ‘Adão e Eva’ foi descoberto na Mesopotâmia pelo arqueólogo George Smith, do Museu Britânico, e datado de 2200 a 2100 A.C.. A cena retratada no selo sugeria-lhe a história bíblica da tentação de Adão e Eva. Um homem e uma mulher estão sentados ao pé de uma árvore. Uma serpente está atrás damulher. [4]
Mas
o casal recebeu de Deus a primeira promessa de redenção. Antes,
porém, haveria uma grande batalha entre a mulher, mãe da raça
humana, e a serpente, personificação de Satanás. Esta batalha
seria o resultado da inimizade posta por Deus entre ambos. Como
resultado, a mulher teria o calcanhar ferido pela serpente, enquanto
esta teria a cabeça ferida (esmagada) pela mulher.
2.
Uma exegese de Gênesis 3.15: como a serpente teve sua cabeça
esmagada?
“E
do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa
que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê
tenha a vida eterna” (Jo 3.14-15).
A
luta entre a mulher e a serpente, bem como o seu resultado, tem que
ser analisada à luz da história da redenção da humanidade, cuja
promessa começa em Gênesis 3.15. E esta resposta encontra-se no
decorrer das Escrituras, sobretudo no Novo Testamento.
A
partir da sentença dada ao casal, este foi lançado fora do jardim
(Gn 3.20) e seguiu-se, a partir da mulher, Eva, “… mãe
de todos os seres humanos”
(Gn 3.20), toda a história da raça humana e também a promessa de
redenção através da “semente” (descendência) de Eva, até que
vindo "… a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei”
(Gl 4.4), para “… destruir as obras do diabo” (1Jo 3.9),
ilustrado na figura da serpente do jardim. Digno de nota é também a
figura de outra “serpente” (curadora, salvadora) levantada no
deserto (Nm 21.9), e que é relembrada por Jesus em João 3.14-15,
como tendo tido, nEle o seu cumprimento. Aquela serpente do deserto
aponta para aquele que esmagaria a cabeça da antiga e má serpente,
descrita em Gênesis 3.15. Jesus foi ferido no “calcanhar”,
simbolizado pela cruz. Mas, por meio de sua morte, “aquele
que não conheceu pecado [mas]
o
fez pecado por nós”
(2Co 5.21), consumou toda a sua obra (Jo 19.30), julgou o mundo e
expulsou o seu príncipe, o Diabo e Satanás (Jo 12.31; 16.11).
Portanto, a vitória de Cristo sobre o Diabo, a “antiga serpente”
(Ap 20.2) se deu por meio de sua morte e ressurreição dos mortos.
Mas
seu significado vai além disto. No vídeo abaixo, o bispo Ildo Mello
descreve a mensagem do protoevangelho como sendo o início do plano
de redenção, a partir do qual flui todo o resto da Bíblia, ou
seja, o Primeiro Adão caiu, mas o Segundo Adão, Jesus Cristo (1Co
15.45), foi o vitorioso (Jo 16.33). E destaca uma sequência desta
vitória da seguinte forma: Natal (o nascimento do descendente da
mulher); Páscoa (ferimento de seu calcanhar) e sua Segunda-Vinda
(triunfo final sobre o Maligno).
3.
Maria é a Segunda Eva, conforme Apocalipse 12?
“… o
dragão se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a
fim de lhe devorar o filho quando nascesse. Nasceu-lhe, pois, um
filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro.
E o filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono” (Ap 12. 4-5).
O
que diz a teologia católica sobre a mulher de Gn 3.15 e Ap 21? Na
nota de rodapé de minha bíblia católica [5] traz
o seguinte comentário sobre Gênesis 3.15: ”Esta: trata-se da posteridade da mulher, da qual Jesus Cristo é o mais eminente representante. – Estes vers. Contém o gérmen da promessa messiânica..." E na nota de Apocalipse 12.1 encontramos: "Uma mulher: esta mãe mística é a Cidade de Deus, a Jerusalém celeste. A sinagoga, em sua madureza [sic] espiritual, dá-se a luz a Cristo e em seguida a Igreja dá à luz os cristãos. Os seus traços adaptam-se também a Nossa Senhora, à Virgem Maria: nas dores de sua ‘compaixão’ ela dá à luz os irmãos de Jesus que formam, unidos com ele Cristo total”.
Estes
comentários referentes aos textos descritos acima, em se tratando de
Cristo, não estão muito diferentes da teologia protestante
reformada. Jesus Cristo é de fato o mais “eminente representante
da linhagem da mulher” (Gn 3.15), e este veio dos judeus, o que
parece indicar a expressão “sinagoga”, na nota de Ap 12.1. Jesus
constitui sua Igreja e esta dá à luz aos cristãos. Estes, por sua
vez, por sua fidelidade a Cristo, terão a grande promessa de
brevemente, o Deus de paz, esmagar a Satanás debaixo dos seus pés
(Rm 16.20). Portanto, a mulher de Apocalipse 12 é o povo de Deus,
tanto do Antigo Testamento, Israel, quanto do Novo Testamento, a
Igreja.
E
Maria, a mulher que deu à luz a seu filho Jesus? A teologia católica
vê Maria numa posição especial em relação a ambos os textos (Gn
3.15 e Ap 12). Exemplo disto são as diversas imagens de Maria [6]pisando
a cabeça da serpente. Obviamente, Maria teve papel especial nestas
profecias, como instrumento de Deus, ao ser escolhida para ser a mãe
terrena de seu Filho Jesus, mas jamais, segundo a Bíblia, ela pode
ser vista nesta posição em que a Igreja Católica a coloca. Por
exemplo, no comentário de Ap 21, aparece a referência à Maria que
“dá à luz os irmãos de Jesus que formam, unidos com ele Cristo
total”. Isso significa dizer que Maria, além de mãe de Jesus, foi
também mão do Cristo, o Verbo de Deus, e mãe da Igreja. O que
podemos afirmar é que Maria também esmagou e trinfou sobre Satanás
por ser parte da Igreja, que como um todo, há de “… julgar os
próprios anjos…” (1Co 6.3). Mas isto por causa dos méritos de
Cristo. “Porque,
como, pela desobediência de um só homem [Adão], muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência
de um só [Jesus
Cristo], muitos se tornarão justos”
(Rm 5.19).
Veja
a seguir a explanação do bispo metodista Ildo Mello, de O
“Protoevangelium”, em:
“Em
todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio
daquele que nos amou” (Rm 8.37).
[6]Por
exemplo, A
gravura de “Mary and Eve”.
In:
<http://resistenciaprotestante.blogspot.com.br/2015/12/uma-analise-teologica-da-gravura-mary.html>.
Acesso em: 04/10/2017.