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31 março 2021

Chá de Sabugueiro: sem comprovação científica

Cuidado!!! 
Chá de sabugueiro não tem comprovação científica para tratamento de sarampo.

Chá de Sabugueiro[1]

Nos anos 60, na região em que eu morava no estado do Paraná, houve um surto de sarampo muito grande – aliás, em todo o Brasil –, que atingia principalmente as crianças. Eu, ainda muito novo, também fui atingido, enquanto informações sobre mortes por causa da doença ocupavam os noticiários da época.

E não havia vacina contra o sarampo? Na época, não. Apenas em 1973 é que “... foi criado o Programa Nacional de Imunizações – PNI, com os objetivos principais de organizar, implementar e avaliar as ações de imunização em todo o país”[2]

Sem vacinas, o que as famílias faziam? Corriam atrás de um arbusto chamado sabugueiro, do qual (de suas folhas e flores) faziam um chá para os doentes tomarem. Foi o que eu tomei quando tive sarampo. Lembro-me de ter tido muita febre, precisei ficar de cama e isolado por alguns dias, talvez (não me lembro) tomando também cibalena, o analgésico mais conhecido na época. Depois de alguns dias, eu estava curado e imunizado. E, quando surgiu a vacina, nem precisei tomá-la.

Mas havia comprovação científica que o chá de sabugueiro curava sarampo? Bem, nem agora há. Hoje, por exemplo, encontrei esta informação: “... sabugueiro é muito utilizado para tratar os sintomas da gripe e do resfriado, mas dependendo do modo de uso, pode ser nocivo[3]. Além disso, neste artigo intitulado “sabugueiro: riscos e benefícios”, não encontrei nenhuma vez a informação que ele seja bom para sarampo. Pobres famílias dos anos 60: davam um remédio caseiro sem comprovação científica para as pessoas doentes de sarampo!

E quanto aos recursos jurídicos para impedirem o uso de medicamento sem comprovação científica? Ninguém recorriam contra este perigo? Não! Nos anos 60, não havia partidos como REDE, PT, PDT, PCdoB, PSOL e mais algum outro. Só tinham apenas dois partidos, ARENA e MDB, e o partido de oposição (MDB) não se prestava a este trabalho de prevenir famílias contra chá sem comprovação científica, e assim as mães, principalmente, ficavam à vontade para buscar o melhor tratamento para seus filhos.

Por que eu estou dizendo isto? Há alguma relação com o que estamos vivendo hoje no Brasil, em tempos de COVID-19 (ou já é Covid-B21, em se tratando do nosso país?). Sim, tristemente vejo que os defensores das chamadas "evidências cientificas" ou qualquer outro nome que se dá, estão impondo seus “cuidados” à sociedade para alertá-la do perigo de tomar um medicamento sem comprovação cientifica, e impedindo-a de encontrar o caminho da cura, como fazem partidos como os acima citados, que costumam defender uso da maconha, por exemplo. Aliás, encontrei esta matéria atual que diz que “do PT ao PSDB, candidatos defendem legalização da maconha[4]. E li também que “estudo mostra potenciais riscos da maconha para a saúde do coração... principalmente em portadores de doenças cardíacas, o consumo de maconha merece cautela, segundo cardiologistas[5], mas isto não vem ao caso, o que importa é que tratamento precoce – não posso falar o nome de alguns remédios “perigosos” que compões este tratamento aqui – não serve para tratamento de covid. E na sua esteira, há uma imensa plateia como imprensa, estudantes, professores, advogados, procuradores e (pasmem!) até uma quantidade considerável de médicos. Hoje, por exemplo, vi um vídeo de um homem, testado positivo com covid e que foi receitado para ele, dipirona e outro remédio para enjoo. Ao ser questionado que estes remédios não iriam curá-lo, o médico afirmou que não poderia receitar outro, para não correr o risco de ter o registro do CRM cassado.

E onde entra o chá nesta história? É que no tempo que só havia chá de sabugueiro e nem tinha tratamento precoce como hoje, mas também não tinham espectadores para promoverem a festa das mortes, as pessoas se viravam como podiam. Uma pessoa próxima a mim, segundo foi-me dito, teve covid e tomou chá de boldo e se curou. Mas foi só isso? Não, mas acredito que também por causa disso. Entendo que se eu estou numa pandemia terrível, e não há tratamento comprovado contra a mesma, mas existem “alguns chás” ou “tratamento precoce”, por que não fazer uso dos mesmos? Será que os defensores da maconha, quando pegam covid preferem ficar apenas com a sua ervinha ou tomam, talvez escondidos, remédio do qual já ouviu que é bom para a pandemia, como já fizeram algumas personalidades, inclusive da área da saúde, das quais não quero falar aqui?

O chá de sabugueiro era resultado da experiência da maioria das famílias, mas não dá para comparar sarampo com covid. Sim, por isso mesmo a busca pelo remédio que for – ou parecer ser – mais eficaz contra a doença, deve ser intensa, isto se a Globo e os “especialistas” deixarem obviamente.

Saudade do chá de sabugueiro e de quando não havia “especialistas” em "não cura" de pandemias!


Notas:

A Grande Tribulação

Por

ANDRADE, Pr. Claudionor Corrêa de. A Grande Tribulação? São José do Rio Preto/SP CACP – Centro Apologético Cristão de Pesquisas. Disponível em: <http://www.cacp.org.br/a-grande-tribulacao/>. Acesso em: 29/03/2021.


A Grande Tribulação será o período de maior angústia da história humana, em que os ímpios ver-se-ão constrangidos a reconhecer quão terrível é cair nas mãos do Deus vivo.

Na língua hebraica, a palavra tribulação é particularmente forte. ‘Tsará’ significa não somente tribulação, como também necessidade e esposa rival. Evoca aquelas contendas que havia, por exemplo, entre Penina e Ana, que levaram esta a uma aflição quase que indescritível (ISamuel 1.15).

A Grande Tribulação recebe as seguintes denominações na Bíblia Sagrada:

1) Dia do Senhor. “O grande Dia do Senhor está perto, está perto, e se apressa muito a voz do dia do SENHOR; amargamente clamará ali o homem poderoso” (Sofonias 1.14).

2) Dia da Angústia de Jacó: “Ah! Porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante! E é tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será salvo dela” (Jeremias 30.7).

3) Ira do Cordeiro: “E os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo servo, e todo livre se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas, e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono e da ira do Cordeiro, porque é vindo o grande Dia da sua ira; e quem poderá subsistir?” (Apocalipse 6.15-17).

Quando Terá Início a Grande Tribulação?

Embora haja muita controvérsia acerca do tempo em que terá início a Grande Tribulação, a Bíblia é bastante clara a este respeito. A Grande Tribulação terá início:

1) Após o Arrebatamento da Igreja: “Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Apocalipse 3.10). Neste período, estaremos recebendo nossos galardões consoante ao trabalho que executamos na expansão do Reino de Deus.

2) Na metade da 70a Semana de Daniel: A 70Semana de Daniel terá início imediatamente após o Arrebatamento da Igreja. A fim de que ela seja melhor compreendida, dividamo-la em duas partes: a primeira metade da semana será marcada pelo reinado absoluto do Anticristo, que, assentado no Santo Templo em Jerusalém, será aceito tanto pelos judeus quanto pelos gentios. Aqueles, tê-lo-ão como o seu messias; estes, como seu salvador (Daniel 9.27).

3) No auge do governo do anticristo: “Pois que, quando disserem: há paz e segurança, então, lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão” (1Tessalonicenses 5.3).

Qual o Objetivo da Grande Tribulação

Tudo o que Deus faz tem um propósito claro e bem definido. A Grande Tribulação não será deflagrada visando à destruição da Terra ou o mero castigo do ser humano. Ela visa:

1) Levar os homens a se arrependerem de seus pecados: “E, por causa das suas dores e por causa das suas chagas, blasfemaram do Deus do céu e não se arrependeram das suas obras” (Apocalipse 16.11).

2) Destruir o império do Anticristo: “E o quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, e o seu reino se fez tenebroso; e os homens mordiam a língua de dor” (Apocalipse 16.10).

3) Implantar o reino de nosso Senhor Jesus Cristo: “Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e esse reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos e será estabelecido para sempre” (Daniel 2.44).

Quem passará pela Grande Tribulação

Há dois grupos distintos que passarão pela Grande Tribulação:

1) Os judeus: “E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o varão. E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente. E a serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que pela corrente a fizesse arrebatar” (Apocalipse 12.13-15).

2) Os gentios: “Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição. Os reis da terra se prostituíram com ela. E os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias” (Apocalipse 18.3).

As quatro fases da Grande Tribulação

Durante a 70a Semana de Daniel, cuja última fase será marcada pela Grande Tribulação, haverá quatro fases distintas:

1) A falsa paz oferecida pelo Anticristo: “E olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso e para vencer” (Apocalipse 6.2).

2) A guerra: “E saiu outro cavalo, vermelho; e ao que estava assentado sobre ele foi dado que tirasse a paz da terra e que se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada” (Apocalipse 6.4).

3) A fome: “E, havendo aberto o terceiro selo, ouvi o terceiro animal dizendo: Vem e vê! E olhei, e eis um cavalo preto; e o que sobre ele estava assentado tinha uma balança na mão. E ouvi uma voz no meio dos quatro animais, que dizia: Uma medida de trigo por um dinheiro; e não danifiques o azeite e o vinho” (Apocalipse 6.5).

4) A morte: “E, havendo aberto o quarto selo, ouvi a voz do quarto animal, que dizia: Vem e vê! E olhei, e eis um cavalo amarelo; e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o inferno o seguia; e foi-lhes dado poder para matar a quarta parte da terra com espada, e com fome, e com peste, e com as feras da terra” (Apocalipse 6.7-8).

Os quatro primeiros selos do Apocalipse são uma admirável síntese do que ocorrerá durante a Grande Tribulação. Em primeiro lugar, há a falsa paz oferecida pelo Anticristo. Paz esta, aliás, que por ser estabelecida com base na injustiça, acabará por gerar guerras e desinteligências entre as nações. Como sói acontecer em períodos de grandes conflagrações, a guerra trará a fome, que haverá de gerar epidemias e pestilências.

Importante! Não podemos confundir o primeiro cavaleiro do Apocalipse com o cavaleiro que aparece neste mesmo livro em 19.11.

Haverá Salvação Durante a Grande Tribulação

Quando se estuda a Grande Tribulação, a pergunta é inevitável: Haverá salvação neste período? O livro do Apocalipse mostra dois grupos distintos de salvos: 1) Os 144 mil provenientes de todas as tribos de Israel (Apocalipse 7.4-8); 2) E os gentios martirizados por causa do testemunho de nosso Senhor Jesus Cristo (Apocalipse 7.9-14).

A Bíblia, apesar da oposição do Anticristo, continuará a ser largamente ensinada. Enganam-se, pois, os que afirmam que, após o Arrebatamento da Igreja, as Sagradas Escrituras perderão a sua inspiração sobrenatural e única. Precisamos tomar muito cuidado com tais ensinamentos, pois não contam com nenhum respaldo bíblico. Diz o profeta Isaías: “Seca-se a erva, e caem as flores, mas a palavra de nosso Deus subsiste eternamente” (Isaías 40.8).

Conclusão

Estejamos, pois, devidamente apercebidos, a fim de que não sejamos pegos de surpresa no dia do Arrebatamento da Igreja. Os que não subirem terão de enfrentar a Ira do Cordeiro. Infelizmente, muitos são os que se acham a ressonar a morte espiritual. É hora de despertar deste sono! Caso contrário, como haveremos de escapar à Grande Tribulação?

Pr. Claudionor Corrêa de Andrade

 

24 março 2021

A igreja e Israel no Novo Testamento

MATHISON, Dr. Keith. A igreja e Israel no Novo Testamento. São José dos Campos: Editora Fiel, 2015[1].


Uma das questões mais comumente perguntadas por estudantes da Bíblia diz respeito à relação entre Israel e a igreja. Nós lemos o Antigo Testamento e é evidente que a maior parte dele diz respeito à história de Israel. De Jacó ao exílio, o povo de Deus é Israel e Israel é o povo de Deus. A despeito do constante pecado do rei e do povo levarem ao julgamento do exílio, os profetas olham com esperança além desse julgamento para um tempo de restauração para Israel. Quando nos voltamos para o Novo Testamento, a mesma história continua e Israel ainda está em cena. Jesus é descrito como aquele a quem se dará “o trono de Davi, seu pai” e aquele que “reinará para sempre sobre a casa de Jacó” (Lucas 1.32-33). Ele é apresentado como Aquele que os profetas previram.


Os primeiros a crerem que Jesus é o Messias prometido são israelitas – André, Pedro, Tiago, João. Mas, nos evangelhos, nós também ouvimos Jesus falar sobre edificar a sua igreja e vemos uma hostilidade cada vez maior entre os líderes de Israel e Jesus. Nós ouvimos Jesus falar de destruir os trabalhadores da vinha e dá-la a outros (Lucas 20.9-18). No livro de Atos, a difusão do evangelho aos samaritanos e gentios conduz a um conflito ainda maior com os líderes religiosos de Israel. Então, será que Israel foi posto de lado e substituído por essa nova entidade chamada “igreja”?

Alguns dirão que sim, mas a resposta não é tão simples, pois nós também encontramos pistas de que Deus não terminou com a nação de Israel. Ao final de sua declaração de “ais” sobre os escribas e fariseus, Jesus diz: “Desde agora, já não me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mateus 23.39). No Sermão Profético, ele fala de Jerusalém sendo pisada “até que os tempos dos gentios se completem” (Lucas 21.24). Em Atos, Pedro diz a uma audiência judaica: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do Senhor, venham tempos de refrigério, e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade” (Atos 3.19-21). Por fim, Paulo diz coisas acerca de Israel que parecem afastar a ideia de total rejeição. Falando de Israel, ele diz: “Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum!” (Romanos 11.1a).

A fim de compreender a relação entre Israel e a igreja como descrita no Novo Testamento, precisamos olhar para a questão no contexto das diferentes respostas que os cristãos têm dado ao longo dos anos. A perspectiva dispensacionalista tradicional sustenta que Deus não substituiu Israel pela igreja, mas que Deus tem dois programas na história, um para a igreja e um para Israel. O dispensacionalismo tradicional também sustenta que a igreja consiste apenas dos crentes salvos entre o Pentecostes e o arrebatamento. A igreja enquanto o corpo de Cristo não inclui os crentes do Antigo Testamento. O dispensacionalismo progressivo modificou algumas dessas visões, mas a visão dispensacionalista tradicional continua muito popular. Alguns teólogos pactuais adotam uma visão que muitos dispensacionalistas descrevem como “teologia da substituição”. Esta é a ideia de que a igreja substituiu Israel por completo. Os judeus podem ainda ser individualmente salvos ao virem a Cristo, mas a nação de Israel e os judeus como um povo não mais têm qualquer papel a desempenhar na história da redenção.

Um estudo cuidadoso do Novo Testamento revela que ambas essas interpretações da relação entre Israel e a igreja são deficientes. A relação entre o povo de Deus no Antigo Testamento e o povo de Deus no Novo Testamento é melhor descrita em termos de um desenvolvimento orgânico do que em termos de separação ou substituição. Durante a maior parte da era do Antigo Testamento, havia essencialmente três grupos de pessoas: as nações gentílicas, o Israel nacional e o verdadeiro Israel (o remanescente fiel). Embora a nação de Israel estivesse frequentemente envolvida em idolatria, apostasia e rebelião, Deus sempre manteve para si um remanescente fiel – aqueles que confiavam nele que não dobravam seus joelhos diante de Baal (1 Reis 19.18). Esse remanescente, esse verdadeiro Israel, incluía homens como Davi, Joás, Isaías e Daniel, assim como mulheres como Sara, Débora e Ana. Havia aqueles que foram circuncidados na carne e um número menor que também fora circuncidado no coração. Então, mesmo no Antigo Testamento, não eram israelitas todos os que descendiam de Israel (Romanos 9.6).

Ao tempo do nascimento de Jesus, o remanescente fiel (o verdadeiro Israel) incluía crentes como Simeão e Ana (Lucas 2.25-38). Durante o ministério adulto de Jesus, o verdadeiro Israel era mais visível naqueles discípulos judeus que creram em Jesus como o Messias. Aqueles que rejeitaram Jesus não eram o verdadeiro Israel, a despeito de sua raça. Isso incluía muitos dos escribas e fariseus. Embora fossem fisicamente judeus, não eram o verdadeiro Israel (Romanos 2.28-29). O verdadeiro Israel passou a se definir pela união com o verdadeiro Israelita – Jesus Cristo (Gálatas 3.16, 29).

No dia de Pentecostes, o verdadeiro Israel, os judeus que creram em Jesus, foi tomado pelo Espírito Santo e transformado no núcleo da igreja do Novo Testamento (Atos 2). O Espírito Santo foi aspergido sobre o verdadeiro Israel e os mesmos homens e mulheres que eram parte desse verdadeiro Israel eram, agora, a verdadeira igreja da nova aliança. Pouco depois, gentios começaram a fazer parte desse pequeno grupo.

Esse é um ponto extremamente importante a compreender, pois explica por que há tanta confusão a respeito da relação entre a igreja e Israel. A resposta depende de se estamos falando do Israel nacional ou do verdadeiro Israel. A igreja é distinta do Israel nacional, assim como o verdadeiro Israel no Antigo Testamento era distinto do Israel nacional, mesmo sendo parte do Israel nacional. O grupo remanescente era parte do todo, mas podia também se distinguir do todo por sua fé.

Contudo, se estamos falando do verdadeiro Israel, não há de fato nenhuma distinção. O verdadeiro Israel do Antigo Testamento se torna o núcleo da igreja verdadeira no dia do Pentecostes. Aqui, a analogia da oliveira que Paulo usa em Romanos 11 é instrutiva. A árvore representa o povo pactual de Deus – Israel. Paulo compara o Israel descrente a ramos que foram arrancados da oliveira (v. 17a). Os gentios crentes são comparados a ramos de uma oliveira brava que foram enxertados na oliveira cultivada (vv. 17b-19). O ponto importante a notar é que Deus não corta a velha árvore e planta uma nova (teologia da substituição). Tampouco Deus planta uma segunda nova árvore ao lado da velha oliveira e então enxerta ramos a velha árvore na nova árvore (dispensacionalismo tradicional). Em vez disso, a mesma árvore atravessa a divisão do Antigo para o Novo Testamento. Aquilo que sobra depois que os ramos mortos são removidos é o verdadeiro Israel. Os crentes gentios são agora enxertados nessa velha árvore já existente (o verdadeiro Israel/a verdadeira Igreja). Há apenas uma boa oliveira, e a mesma boa oliveira atravessa a divisão pactual.

O que isso significa para o nosso entendimento da relação entre a igreja e Israel? Significa que, quando o verdadeiro Israel foi batizado pelo Espírito no dia de Pentecostes, o verdadeiro Israel se tornou a igreja do Novo Testamento. Portanto, há continuidade entre o verdadeiro Israel e a igreja. É por isso que as confissões reformadas podem falar que a igreja existe desde o princípio do mundo (por exemplo, Confissão Belga, art. 27). Contudo, há também descontinuidade entre a igreja e o Israel nacional, assim como havia descontinuidade entre o remanescente fiel e o Israel apóstata no Antigo Testamento.


Romanos 11 e o futuro de Israel

Então, o que isso significa para o Israel nacional, os ramos que foram arrancados do verdadeiro Israel por causa da incredulidade? Será que Deus terminou com esse povo enquanto uma entidade pactual? A fim de responder essa questão, devemos nos voltar ao argumento de Paulo em Romanos 9-11.
Em Romanos 1-8, Paulo negou que os judeus tivessem sua salvação garantida com base em seus distintos privilégios enquanto judeus. A fé era a chave, não a etnia ou qualquer tipo de obras. Paulo argumentou que todos os que creem em Jesus são filhos de Abraão. Ele também argumentou que nenhuma das promessas de Deus falharia. Tudo isso levantaria sérias questões na mente dos seus leitores. O que dizer de Israel? O que fazer com as promessas que Deus lhe fez, à luz de sua rejeição do Messias? Será que a incredulidade de Israel anulou as promessas de Deus? Será que Israel foi deserdado? Será que o plano de Deus revelado ao longo do Antigo Testamento foi arruinado ou descartado? Paulo responde essas questões em Romanos 9-11.

Paulo começa Romanos 9 com um lamento por Israel – seus “compatriotas, segundo a carne” (v. 3). Ele então relembra todos os privilégios que ainda pertencem a Israel – incluindo a adoção, as alianças e as promessas (vv. 4-5). Nos versículos 6-29, Paulo defende a proposição que estabelece no versículo 6a, isto é, que a promessa de Deus não falhou. Nos versículos 6-13, ele explica que a eleição corporativa de Israel nunca significou a salvação de cada descendente biológico de Abraão: “nem todos os de Israel são, de fato, israelitas” (v. 6b). Nos versículos 14-23, Paulo expande isso, explicando que a salvação nunca foi um direito de nascimento baseado na descendência biológica. Ela sempre foi um dom baseado na eleição soberana de Deus.

Em Romanos 9.30-10.21, Paulo descreve a virada ocorrida na história redentiva, a saber, que, enquanto Israel tropeçou sobre Jesus, os gentios estão agora afluindo para o reino. É importante observar que, em Romanos 10.1, Paulo escreve: “Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos”. Ele está falando sobre Israel. O próprio fato de Paulo ser capaz de continuar a orar pela salvação do Israel incrédulo indica que ele crê na possibilidade de salvação para os israelitas.

O que Paulo diz, então, levanta a grande pergunta, que ele agora apresenta: “Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum!” (11.1a). Esse é o tema básico do capítulo 11. Nos versículos 1-10, Paulo demonstra que Deus não rejeitou Israel ao distinguir entre o “remanescente” e os “endurecidos”. Desenvolvendo o que já havia dito em 9.6-13 e 9.27, Paulo indica que, assim como nos dias de Elias, também agora há um remanescente que crê (11.2-5). Em contraste com o remanescente, escolhido pela graça (v. 5), estão “os demais”, a nação de Israel como um todo, a qual foi “endurecida” (v. 7). Deus entorpeceu os sentidos espirituais de Israel (v. 8) e eles tropeçaram (vv. 9-10).

Paulo então pergunta: “Porventura, tropeçaram para que caíssem?” (11.11a). Qual a sua resposta? “De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes” (11.11b). Qual é o significado presente do tropeço de Israel? Paulo explica que isso aconteceu como um meio para trazer uma multidão de gentios para o reino. O endurecimento de Israel está servindo ao propósito de Deus. A transgressão deles serviu como ocasião para a outorga da salvação aos gentios. Paulo afirma: “Ora, se a transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude!” (v. 12, ênfase minha).

Nos versículos 11-12, Paulo menciona três eventos: a transgressão (ou “fracasso”) de Israel, a salvação dos gentios e a plena inclusão de Israel. O primeiro deles conduz ao segundo e o segundo conduz ao terceiro. A transgressão de Israel, em outras palavras, iniciou um processo que, em última instância, conduzirá de volta à restauração de Israel. Esse é o primeiro de cinco lugares nessa curta passagem no qual Paulo explica o propósito e o futuro de Israel em termos de três estágios. Douglas Moo apresenta um útil sumário:

  • vv. 11-12: “transgressão de Israel” – “salvação para os gentios” – “sua plenitude”
  • v. 15: “sua rejeição” – “reconciliação ao mundo” – “seu restabelecimento”
  • vv. 17-23: “ramos naturais quebrados” – “ramos de oliveira brava enxertados” – “ramos naturais” enxertados de volta
  • vv. 25-26: “endurecimento a Israel” – “plenitude dos gentios” – “todo o Israel será salvo”
  • vv. 30-31: desobediência de Israel – misericórdia aos gentios – misericórdia a Israel
A repetida ocorrência desse processo de “três estágios” reforça a ideia de Paulo aguarda uma futura restauração de Israel. A condição presente de Israel é descrita como de “fracasso” e “rejeição”. Paulo caracteriza a futura condição de Israel em termos de “plenitude” e “restabelecimento”. Israel não está simultaneamente na condição de “fracasso” e “plenitude” nem de “rejeição” e “restabelecimento”. A “plenitude” se seguirá ao “fracasso”. O “restabelecimento” se seguirá à “rejeição”.

Paulo antecipa um problema em potencial nos versículos 13-24. Os crentes gentios, por haverem aprendido que eles eram agora o povo de Deus, poderiam facilmente se confundir e achar que isso era motivo para se vangloriarem contra os judeus. Nesses versículos, Paulo os adverte contra tal arrogância. Em 11.16-24, Paulo explica o desenvolvimento da história redentiva e o lugar de Israel nele por meio da analogia da oliveira que discutimos acima. Aqui, novamente, Paulo aponta para três estágios na história redentiva: “ramos naturais quebrados” – “ramos da oliveira brava enxertados” – “ramos naturais” enxertados de volta.

O ensino de Paulo nos versículos 25-27 tem estado no centro do debate a respeito da correta interpretação do capítulo 11. Paulo escreve no versículo 25: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios”. Aqui Paulo ainda está falando diretamente aos gentios (ver v. 13). Ele deseja que eles compreendam um “mistério”. Nesse contexto, o mistério envolve a inversão das expectativas judaicas quanto à sequência dos eventos do final dos tempos. O “mistério” é que a restauração de Israel se segue à salvação dos gentios.

No versículo 26, Paulo continua a sentença iniciada no versículo 25: “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades”. O principal debate aqui diz respeito ao significado de “todo o Israel”. Charles Cranfield lista as quatro principais visões que têm sido propostas: (1) todos os eleitos, tanto judeus como gentios; (2) todos os eleitos da nação de Israel; (3) toda a nação de Israel, incluindo cada membro em particular; e (4) a nação de Israel como um todo, mas não necessariamente incluindo cada membro em particular. Uma vez que Paulo repetidamente rejeita a salvação de cada indivíduo israelita, nós podemos desconsiderar a opção (3).

João Calvino entendia “todo o Israel” no versículo 26 com o significado de todos os eleitos, tanto judeus como gentios. Paulo de fato usa essa linguagem em outros lugares de seus escritos. O problema em entender “todo o Israel” em 11.26 nesse sentido é o contexto. Ao longo dos versículos 11-25, Paulo consistentemente distinguiu judeus e gentios. Nós também precisamos nos lembrar de que a preocupação de Paulo nesses capítulos é com os seus compatriotas segundo a carne (9.1-5). A sua oração nesse contexto é pela salvação do Israel descrente (10.1). Em Romanos 11.26, Paulo está revelando que a oração de 10.1 será respondida uma vez que a plenitude dos gentios haja entrado.

Outros teólogos reformados, tais como O. Palmer Robertson e Herman Ridderbos, sustentaram que “todo o Israel” se refere a todos os eleitos da nação de Israel no decorrer da presente era. Assim como a visão que compreende “todo o Israel” como a igreja, há verdade nessa interpretação. Os judeus que estão sendo salvos na presente era não são, em nada, diferentes dos judeus que serão salvos no futuro. O problema dessa interpretação, como da anterior, é que ela conflita com o contexto imediato. Como John Murray observa, “apesar de ser verdade que todos os eleitos de Israel, o verdadeiro Israel, serão salvos, esta é uma verdade tão necessária e óbvia, que asseverar tal coisa aqui não teria qualquer relevância particular ao interesse central do apóstolo nesta seção da carta”.[1] Paulo não está angustiado com a salvação do remanescente. Eles já estão salvos. Ele está angustiado com o Israel descrente. É pela salvação desse “Israel” que ele ora (10.1) e é esse Israel o qual ele diz que será salvo no versículo 26.

A interpretação de “todo o Israel” que melhor encaixa no contexto imediato é aquela que compreende “todo o Israel” como a nação de Israel como um todo, mas sem necessariamente incluir cada membro individual do Israel étnico. Paulo consistentemente contrasta os gentios e Israel ao longo desse capítulo e continua a fazê-lo na primeira metade da sentença que estamos examinando (v. 25). Não há razão contextual para assumirmos que Paulo muda o sentido do termo Israel, aqui, no meio da frase. O “Israel” que será salvo (v. 26) é o “Israel” que foi em parte endurecido (v. 25). Esse Israel parcialmente endurecido é distinto dos gentios (v. 25) e é, também, distinto do atual remanescente de crentes judeus, os quais não foram endurecidos (v. 7).


Conclusão

A relação entre Israel e a Igreja no Novo Testamento não é sempre fácil de discernir, mas pode ser compreendida se nos lembrarmos das diferenças entre o Israel nacional e o verdadeiro Israel tanto no Antigo como no Novo Testamentos, bem como se tivermos em mente o que Paulo ensina em Romanos 11. O atual endurecimento de Israel tem um propósito no plano de Deus, mas esse endurecimento não é permanente. A futura restauração da nação de Israel envolverá o seu reenxertar na oliveira verdadeira, o povo único de Deus. A restauração de Israel significará que eles se tornarão parte do “verdadeiro Israel” pela fé em Jesus Cristo, o Messias.


Nota:

  • [1] Texto disponível em: <https://ministeriofiel.com.br/artigos/a-igreja-e-israel-no-novo-testamento>. Acesso em: 24/03/2021.

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