Translate

19 janeiro 2022

O Cinismo e os Crescentes de hoje: o que nos ensina a filosofia defendida por Justino Mártir

O cínico moderno1.

Escrevi de forma breve sobre alguns mártires cristãos2 que viveram e morreram pela sua fé em Cristo. O que eles tinham em comum eram a convicção de sua conversão do pecado e uma espiritualidade moldada pelas Escrituras, a Bíblia Sagrada cristã. Dos mártires que também foram mestres da igreja, os apologistas, podemos acrescentar ainda – como escreve Franklin FERREIRA –, que eles reconheciam sua pequenez em matéria teológica, embora fossem (grandes) pastores, viviam sua fé e serviços voltados para a sociedade, tinham sua cosmovisão cristã ou “… uma visão integral da obra de Deus na criação e restauração de todas as coisas…, além do que “… escreveram e pensaram para a glória de Deus e edificação da igreja…”3.

Dentre estes mártires, Justino Mártir me chamou especial atenção, sobretudo por causa de sua relação com o Cinismo, uma filosofia que serviu como o estopim de suas discordâncias com um filósofo desta corrente chamado Crescente, e que o levou, conjuntamente com seis de seus discípulos, ao martírio, no ano de 165…

O Cinismo se caracteriza pelo “… total desprezo pelos bens materiais e o prazer”, tinha origem no grego “kynismós”, ou “como um cão”. Seus adeptos, os cínicos, deveriam ter uma filosofia moral voltada para este princípio: vida simples. Eram “… identificados por possuírem apenas um manto dobrado como vestimenta, um bastão para auxiliar nas caminhadas e uma sacola para carregar algum donativo. Desde então, o significado de cínico é atribuído às pessoas que não possuem apego às convenções sociais e se sentem superiores por isso4”.

A questão, até mesmo paradoxal, é o fato de que ninguém consegue viver o estilo de vida proposto pelos cínicos sem depender do não-cínico uma vez que até para se obter donativos alguém que não é cínico precisa trabalhar e lhe doar o que lhe é necessário para suas necessidades básicas. Se os cínicos precisam do que o outro ganha, porque ele é considerado num patamar inferior ao dele? Daí, o sentido pejorativo para o cinismo, pois o cínico “… designa um homem agudo e mordaz que não respeita os sentimentos e valores estabelecidos nem as convenções sociais5, enquanto precisa dos outros para sobreviverem.

Qual o principal embate entre Justino Mártir e Crescente? Na verdade, não encontrei qual o ponto filosófico que foi o pomo da discórdia entre Crescente e Justino, mas o certo é que Crescente o convidou para um debate e perdeu, pois Justino conseguiu provar que a “filosofia cristã”, como ele denominava a doutrina e/ou teologia cristã e a defendia, foi superior ao cinismo de Crescente.

Segundo consta nos escritos históricos, Justino teve desavenças com Crescente (ou Crescêncio), um filósofo conhecido como cínico, e em alguns debates Justino o havia repreendido na presença de seus ouvintes. Num desses debates, o filósofo Crescente desafiou Justino acerca do cristianismo e este saiu vencedor, o que induziu Crescente a buscar vingança, acusando seu adversário perante os tribunais6.

Bem, Justino escreveu diversas obras entre as quais o relato de discussão com um rabino judeu chamado Trifon, o “Diálogo com Trifon”, mas precisou defender sua filosofia cristã também em Roma e, desta forma, ele tenha ganhado no argumento, foi derrotado nos tribunais.

O filósofo Crescente era amigo do prefeito Júnio Rústico que aconselhou Justino e seus seis discípulos presentes a negarem sua filosofia cristã, ao que eles se recusaram. Para Justino, disse o prefeito: “a menos que se sujeite…, você será atormentado sem misericórdia”. E foi… Depois de açoitados, Justino Mártir e seus companheiros foram decapitados.

Qual a lição deste episódio para nossos dias, sobretudo no Brasil? É que a filosofia cristã de Justino é a mesma que de alguma medida se faz presente na nossa sociedade e é defendida pela maioria dos brasileiros, que ficou conhecida como “direita conservadora”. Por outro lado, o politicamente correto, dos chamados “esquerdistas”, quer sobrepor às verdades desta maioria, somada às ideias de “democracia” (sem “demo”, apenas com “cracia”. Ou cleptocracia?) de alguns ilimunistros de nossa corte máxima, juízes, desembargadores, procuradores, políticos de oposição, imprensa, artistas etc., ou seja, uma tremenda corja que está impondo suas “verdades” e querendo que a maioria as engula. A exemplo do Crescente da época de Justino Mártir que o entregou ao amigo prefeito, os Crescentes de hoje perdem nas argumentações, mas estão ganhando nos tribunais, pois têm “amigos” nos tribunais que pensam da mesma forma e têm via de regra a certeza da sua decisão favorável. Uma vitória seguida de outra e por todo o Brasil, dos canalhas sobre os conservadores. E embora temos hoje um Presidente que defenda os princípios da filosofia de Justino Mártir, o conceito degenerado de laicismo, democracia, direitos da minoria sobre a maioria, ideias dos biografados, dos engomadinhos defensores da “ciênssia", dos não-negacionistas, dos sofisticados do teatro das tesouras etc., é deturpado na mente e bocas de “veludos”, de “sapões”, de “xandões”, de “amigos de meu pai”, apenas para citar alguns grandões, enquanto a maioria conservadora vai sendo derrotada. E o Presidente não faz nada? Pelo sistema ou establishment que existe hoje no Brasil, incluindo o meio jurídico e a formação dos Três Poderes da República, o caminho para os conservadores parece não ter saída. E se estes saem pacificamente às ruas, logo aparece um adjetivo para qualificá-los: os antidemocráticos. E se são antidemocráticos, então precisam ser parados seja pela censura nas redes sociais, nos processos sem provas, prisões arbitrárias e, quem sabe, até mesmo pelo uso da violência. Além disso, os milhares ou milhões de “antidemocráticos” que foram às ruas em apoio ao presidente no dia 7 de setembro de 2021, foram adjetivados também por certo iluministro7 de milicianos, terroristas, traficantes, fascistas, racistas, supremacistas, misóginos e demônios das sombras. É mole!

Tendo em vista este quadro, os defensores da filosofia de Justino devem se calar? Não, jamais! Mas saibamos que por esta defesa, Justino se tornou o Mártir… Quem se atreve a seguir seu exemplo? Tenhamos em mente também que no Brasil há muitos Crescentes amigos do prefeito, do deputado, do senador, do juiz, do iluministro…, menos do presidente, só se forem como cínicos hipócritas tentando ocultar a verdadeira face.

Veja o vídeo a seguir:




Notas / Referências bibliográficas:

  • 3 FERREIRA, Franklin. Servos de Deus: espiritualidade e teologia na história da igreja. São Paulo: Editora Fiel, 2014. Pág. 25.
  • 4 MENEZES, Pedro. Cinismo. Disponível em:  <https://www.todamateria.com.br/cinismo/>. Acesso em: 17/01/2022.
  • 5 Veja: O que é Cinismo. Disponível em: <https://www.significados.com.br/cinismo/>. Acesso em> 17/01/2022.
  • 6 In: XAVIER, Erico Tadeu. Justino Mártir: um filósofo em defesa da fé cristã. Pág. 17. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/ultimoandar/article/view/21517/15766>. Acesso em 7/01/2022.

14 janeiro 2022

Justino, o Mártir

Justino[1]

Meu propósito não é lisonjear-vos (...) mas requerer que julgueis os cristãos segundo o justo processo de investigação[2]

Depois de uma longa peregrinação intelectual, o filósofo Justino chegou à conclusão de que o cristianismo era ‘a verdadeira filosofia’. À defesa dessa fé dedicou sua pena. E, quando essa defesa foi insuficiente, selou seu testemunho com o sangue do martírio[3].

O imperador Marco Aurélio (161-180) foi um dos mais cultos do Império Romano. Por este motivo, esperava-se que sob seu governo os cristãos gozassem de um período de relativa paz. Mas não foi o que aconteceu. Já vimos os casos dos martírios de Felicitas e seus sete filhos e de Blandina de Lion, apenas para citar alguns. Agora, veremos o caso do martírio de Justino, um dos maiores mestres – apologistas – do Cristianismo ocorridos durante seu governo. Sobre seu trabalho como apologista, além de outros, veja o que escreve Justo González[4] escreve no capítulo VII de seu livro A Era dos mártires.

Flávio Justino, também conhecido como Justino, o Mártir[5], nasceu em Neápolis, em Samaria, de pais gentios. Quando jovem, ele cuidadosamente estudou as diferentes seitas filosóficas; mas não encontrando a satisfação que seu coração ansiava, ele foi levado a ouvir o evangelho. Nisto ele descobriu, através da bênção de Deus, um perfeito descanso para sua alma, e cada desejo de seu coração integralmente cumprido. Ele se tornou um cristão sincero e um celebrado escritor em defesa do cristianismo.

Bem no início do reinado de Aurélio, Justino era um homem marcado. Acusações foram feitas contra ele por um homem chamado Crescente, um filósofo da seita dos cínicos. Ele foi preso com seis de seus companheiros, e todos foram levados perante o prefeito. Eles foram requisitados a sacrificar aos deuses. ‘Ninguém’, respondeu Justino, ‘cujo entendimento é são, vai abandonar a verdadeira religião por causa do erro e impiedade.’ ‘A menos que se sujeite’, disse o prefeito, ‘você será atormentado sem misericórdia.’ ‘Não desejamos nada mais, sinceramente’, ele respondeu, "além de suportar torturas por nosso Senhor Jesus Cristo’. O restante concordou, e disseram: ‘Somos cristãos, e não podemos sacrificar aos ídolos.’ O governador então pronunciou a sentença: ‘Quanto a esses que se recusam a sacrificar aos deuses, e a obedecer os decretos imperiais, que sejam primeiro açoitados, e depois decapitados, de acordo com as leis.’ Os mártires se alegraram, e louvaram a Deus, e sendo levados de volta à prisão, foram açoitados, e depois decapitados. Isto aconteceu em Roma, por volta do ano 165. Assim dormiu em Jesus um dos primeiros ‘Pais’, e ganhou o título glorioso de ‘Mártir’, que geralmente acompanha seu nome. Seus escritos têm sido cuidadosamente examinados por muitos, e lhes são atribuídos grande importância.

Ainda mais sobre a morte de Justino e seus companheiros, diz González[6]:

“... no ano 163, Justino e seis de seus discípulos foram levados diante do prefeito Júnio Rústico, que havia sido um dos mestres de filosofia do imperador. Neste caso, como em tantos outros, o juiz tratou de convencer aos cristãos acerca da tolice de sua fé. Mas Justino respondeu que, depois de haver estudado toda classe de doutrinas, havia chegado à conclusão de que a cristã era a verdadeira, e que, portanto, não estava disposto a abandoná-la. Quando, como era costume, o juiz os ameaçou de morte, eles responderam que seu mais ardente desejo era sofrer por amor de Jesus Cristo, e que, matando-os, o juiz lhes faria um grande favor. Diante de tal resposta, o prefeito ordenou que fossem levados ao lugar do suplício, onde primeiro os açoitaram e logo foram decapitados.

Observe que enquanto Miller fala que o martírio de Justino e seus companheiros ocorreu em 165, González menciona o ano de 163. É possível que Justino e seis de seus discípulos tenham se apresentado ao prefeito em 163 mas as mortes dos mesmos tenham ocorrido dois anos depois, em 165.     

Veja também o vídeo de Edgar de Oliveira, in:


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] Imagem meramente ilustrativa, disponível em: <https://bibliotecadopregador.com.br/justino-martir-convertido-do-paganismo/ >. Acesso em: 12/01/2022. 
  • [2] GONZÁLEZ, Justo L. A Era dos mártires, pág. 79. Disponível em: <https://alcidesamorim.blogspot.com/2020/05/a-era-dos-martires-vii-defesa-da-fe.html>. Acesso em: 12/01/2022.
  • [3] GONZÁLEZ, Justo L. Idem, Nota 2, pág. 90. Disponível em: <https://alcidesamorim.blogspot.com/2020/05/a-era-dos-martires-vii-defesa-da-fe.html>. Acesso em: 12/01/2022. 
  • [4] GONZÁLEZ, Justo L. Idem, Nota 2, pág. 79 a 94. Acesso em: 12/01/2022.
  • [5] Texto a seguir, copiado e adaptado de: MILLER, Andrew. A História da Igreja. Pág. 177. Também disponível em: <http://a-historia-da-igreja.blogspot.com/2016/02/o-martirio-de-justino-chamado-o-martir.html>. Acesso em: 12/01/2022.
  • [6] GONZÁLEZ. Nota 2. Pág. 75. Acesso em: 12/01/2022.

Revolução dos Bichos: características gerais

  Por Alcides Barbosa de Amorim Porco Major [1] O livro Revolução dos Bichos (1945), do indiano George Orwell, nascido durante o domínio b...