Blandina de Lion
Blandina de Lion [2]
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“Blandina foi torturada em público de diversas maneiras. Primeiro a acoitaram; depois a fizeram ser mordida por feras; em seguida fizeram-na assentar-se em um assento de ferro quente; e ainda a encerram em uma rede e fizeram com que um touro bravio a chifrasse. Como em meio de tais tormentos Blandina seguia firme em sua fé, finalmente as autoridades ordenaram que fosse degolada”. [1]
Blandina [3], uma escrava, se distinguiu do resto dos mártires pela variedade de torturas que suportou. Sua senhora, que também sofreu o martírio, temia que a fé de sua serva pudesse ser deixada de lado sob tais provações. Mas isto não aconteceu, que o Senhor seja louvado! Firme como rocha, mas pacífica e despretensiosa, ela suportou os mais excruciantes sofrimentos. Seus carrascos lhe pressionavam a negar a Cristo e a confessar que as reuniões privadas dos cristãos serviam apenas para suas práticas perversas, e que então eles deixariam de torturá-la. Mas não! Sua única resposta foi: "Sou uma cristã, e não há perversidade entre nós." O flagelo, a roda, a cadeira de ferro quente e as feras selvagens tinham perdido seu terror para ela. Seu coração estava fixado em Cristo, e Ele a manteve em espírito perto de Si. Seu caráter foi completamente formado, não por sua condição social, é claro – que era a mais degradada naqueles tempos – mas por sua fé no Senhor Jesus Cristo, através do poder do Espírito Santo que habitava em si.
Dia após dia ela era levada como um
espetáculo público de sofrimento. Sendo uma mulher e uma escrava, os pagãos
esperavam forçá-la a negar a Cristo, e a confessar que os cristãos eram
culpados dos crimes denunciados contra eles. Mas foi tudo em vão. "Eu sou uma cristã, e não há perversidade
entre nós", era sua resposta calma e invariável. Sua constância exauriu
a inventiva crueldade de seus algozes. Eles estavam surpresos por vê-la viver
através da temível sucessão de seus sofrimentos. Mas em suas maiores agonias, ela
encontrou força e alívio ao olhar para Jesus e testemunhar por Ele. "Blandina foi dotada de tanta coragem",
diz a carta da igreja de Lion, escrita a mil e setecentos anos atrás, "que aqueles que sucessivamente a torturavam
de dia e de noite ficaram muito desgastados de cansaço, e se deram por vencidos
e exaustos de todos os seus aparatos de tortura, e se espantaram de vê-la ainda
respirando enquanto seu corpo estava dilacerado e exposto."
Antes
de narrarmos as cenas finais de seus sofrimentos, devemos notar o que parece
para nós ser o segredo de sua grande força e constância. Sem dúvidas o Senhor a
estava sustendo de maneira marcante como uma testemunha para Ele, e como um
testemunho para todas as eras do poder do cristianismo sobre a mente humana,
comparado a todas as religiões que já existiram sobre a terra. Ainda assim,
poderíamos dizer, particularmente, que sua humildade e temor piedoso eram as
claras indicações do seu poder contra o inimigo, e de sua inabalável fidelidade
a Cristo. Ela estava desenvolvendo sua própria salvação – libertação das
dificuldades do caminho – por um profundo senso de sua própria fraqueza
consciente, indicada por "medo e tremor".
Em seu caminho de volta do anfiteatro para a
prisão, em companhia de seus companheiros de sofrimento, eles foram rodeados
por seus amigos entristecidos quando tiveram uma oportunidade, e em simpatia e
amor se dirigiram a eles como "mártires por Cristo". Mas a isso eles
instantaneamente responderam, dizendo: "Não somos dignos de tal honra. A luta ainda não acabou, e o digno nome de
Mártir pertence apropriadamente a Ele
somente, que é verdadeira e fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos, o
Príncipe da vida, ou, ao menos, apenas àqueles cujo testemunho Cristo selou
pela sua constância até o fim. Somos apenas pobres e humildes confessores."
Em lágrimas eles rogaram para que seus
irmãos orassem por eles para que pudessem ser firmes e verdadeiros até o fim.
Assim a fraqueza deles era sua força, pois os levava a apoiarem-se no Poderoso.
E é assim sempre, e sempre foi, tanto em pequenas quanto em grandes provações.
Mas uma nova tristeza os aguardava em seu retorno à prisão. Eles encontraram
alguns que tinham desistido pelo medo natural, e que tinham negado que eram cristãos.
Todavia, nada ganharam por causa disso, pois Satanás jamais os iria libertar.
Sob uma acusação de outros crimes, eles foram mantidos na prisão. Com esses
fracos, Blandina e os outros oravam com muitas lágrimas, para que pudessem ser
restaurados e fortalecidos. O Senhor respondeu suas orações, de modo que,
quando levados novamente para uma examinação mais profunda, eles firmemente confessaram sua fé em
Cristo, e assim foram condenados à morte e receberam a coroa do martírio.
Segundo os homens, nomes mais nobres do que o
de Blandina desapareceram na cena ensanguentada, e nomes honrados também tinham
testemunhado com grande coragem, como foi o caso de Vétio, Potino, Santus,
Naturus e Atálius. Mas o último dia de sua provação tinha chegado, e a última dor que ela sentiria, e a última
lágrima que ela derramaria. Ela foi levada para seu exame final com um
jovem de quinze anos, chamado Pôntico. Eles foram obrigados a jurar pelos
deuses; eles firmemente recusaram, mas estavam calmos e imóveis. A multidão estava irritada com a magnânima
paciência deles. Todo o repertório de barbaridades lhes foi infligido.
Pôntico, embora animado e fortalecido pelas orações de sua irmã em Cristo, logo sucumbiu sob as torturas, e adormeceu
em Jesus.
E agora vinha a nobre e abençoada Blandina,
como a igreja a intitulara. Como uma mãe que precisava confortar e encorajar
seus filhos, ela foi mantida até o último dia dos jogos. Seus filhos haviam
partido antes dela, e ela estava agora ansiando por seguir após eles. Eles
tinham aderido ao nobre exército de mártires acima, e estavam descansando em Jesus, como descansam guerreiros cansados, no pacífico
paraíso de Deus. Após ter suportado açoites, sentaram-na em uma cadeira de
ferro quente, e então ela foi amarrada em uma rede e jogada a um touro; e tendo
sido atingida algumas vezes pelo animal, um soldado mergulhou uma lança em seu
lado. Sem dúvida ela já estava morta muito antes da lança tê-la atingido, mas
nisto ela teve a honra de ser como seu Senhor e Mestre. Brilhante certamente
será a coroa, em meio às muitas coroas no céu, da constante, humilde, paciente
e perseverante Blandina.
Mas a raiva feroz e selvagem dos pagãos,
instigados por Satanás, ainda não tinha alcançado seu limite. Eles começaram
uma nova guerra contra os corpos mortos dos santos. O sangue deles ainda não os
tinha saciado. Eles queriam suas cinzas. Assim os corpos mutilados dos mártires
foram coletados e queimados, e lançados no rio Ródano com o fogo que os
consumia, para que nenhuma partícula fosse deixada para poluir a terra. Mas a
raiva, embora feroz, finalmente se esgotaria: e a natureza, embora selvagem,
ficaria cansada de derramamento de sangue, e assim muitos cristãos sobreviveram
a essa terrível perseguição.
Temos, portanto, entrado em detalhes, mais do
que o usual, ao falar das perseguições sob o reinado de Marco Aurélio. Até
então elas são um cumprimento, cremos, dos solenes e proféticos avisos da carta
à Esmirna, e também, de modo marcante, da graça do Senhor prometida. Os sofredores foram cheios e animados por
Seu próprio Espírito. "Até mesmo
seus perseguidores", diz Neander, "nunca foram mencionados por eles
com ressentimento; mas eles oravam a Deus para que fossem perdoados aqueles que
os tinham sujeitado a tais cruéis sofrimentos. Eles deixaram um legado para
seus irmãos, não de conflito e guerra, mas de paz e alegria, unanimidade e amor."
Estás em casa finalmente, cada poste do caminho passado,
Tendes apressado alcançar ao alvo antes de mim;E ó, as minhas lágrimas caem grossas e rápidoComo as esperanças que tinham florescido sobre ti.Os meus lábios recusam dizer, Adeus,Porque nada pode separar nossa vida interligada;Bem cedo tendes ido com Cristo habitar,Onde ambos para sempre estaremos...
Fonte:
MILLER,
Andrew. “Church History" (História da Igreja). Tradução de Helio Henrique
L. C. Monte-Alto. Páginas 197 a 201.Disponível em: <file:///C:/Users/Sr%20Alcides/Documents/Alcides%20-%202016/História%20&%20Teologia%20da%20Igreja%20Cristã/Historia%20da%20Igreja%20-%20Andrew%20Miller.pdf>. Acesso em 16/12/2016.
Notas:
Glória a Deus!
ResponderExcluirOs filhos de Deus são dirigidos pelo Espírito Santo para vencer o sofrimento e a morte...