Translate

19 fevereiro 2020

Cultura e Pecado


vimos que Adão foi colocado no Éden com o propósito de ser o mordomo de Deus. Mas o homem falhou nesta sua tarefa de cuidar do jardim ao comer do fruto proibido. Esta falha é o “errar ou desviar-se do alvo”, ou seja, aquilo que biblicamente é conhecida como pecado. Mas o homem, como um ser formado à imagem e semelhança de Deus continuou criando cultura com muita habilidade, embora sua criação também tornou-se parcialmente  falha, isto é, a cultura ou as culturas que seguem a partir de então tomaram rumos diferentes do originalmente proposto que era o de servir aos propósitos de Deus...
1.    A queda do homem: algumas considerações
“Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu. Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, para que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente, o SENHOR Deus, por isso, o lançou fora, do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden, e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gn 3.21-24).      
O capítulo três de Gênesis trata da queda do casal Adão e Eva e de sua expulsão do jardim. Justo L. GONZÁLEZ destaca alguns pontos baseados neste capítulo, sobre os quais queremos fazer menção aqui. O primeiro deles é que mesmo antes da expulsão do casal do jardim Deus lhes fez vestimentas de pele (3.21) em sinal de sua compaixão. O casal foi tirado do jardim, mas com o selo ou marca da compaixão de seu criador.
O segundo ponto a considerar é que a expulsão de Adão e Eva do jardim não foi, necessariamente, um ato de maldição ao casal e sim de compaixão. A transgressão foi cometida ainda no jardim e a expulsão do mesmo ocorreu para que ele não tomasse da árvore da vida e vivesse eternamente (3.22). O viver eternamente naquele estado pressupunha ficar também eternamente privado da esperança de redenção. A árvore, cujas folhas são “para a cura dos povos” (Ap 22.2-3), aparecerá novamente no futuro como prova da redenção do homem através de Cristo.
O terceiro ponto a destacar é o fato de a queda cooperar para a sujeição entre os seres humanos, situação que tem permeado todas as culturas a partir de então. A criação de mulher, uma varoa (Gn 2.18) foi para que esta tornasse auxiliadora ou adjutora do homem. E esta tarefa – ajudar ou auxiliar – não tinha relação com o servilismo ou submissão que surgiu depois disto. A mulher foi criada para estar ao lado do homem: “... como diante dele” (Gn 2.18-ARC). Mas a partir da queda, Adão dá o nome de Eva (a mãe de todos os seres vivos) à sua mulher (Gn 3.20) e sobre ela passa também a exercer seu governo. Portanto, a ideia de uns exercerem domínio sobre outros começa logo após a queda do homem, segue por toda a história e está presente em todas as culturas.
O quarto ponto a destacar ainda em relação à queda do homem em Genesis 3 é a “maldição da terra” (Gn 3.17-19). A partir disto, o cultivo (palavra similar à cultura) da terra passou a ser um grande desafio para o homem. Cultivar a terra, a partir da queda do homem, significava lutar constantemente contra elementos da própria natureza que dificultava a própria existência da vida humana.
Mas, apesar de tudo, isso não significa que o fato de haver cultura é mau em si mesmo, nem que as culturas são más em si mesmas. Quer dizer simplesmente que as culturas, como toda realidade humana, foram distorcidas pelo pecado e que, portanto, como toda realidade humana, se acham carentes de redenção (GONZÁLEZ: 2011, p. 65-66).
2.    O selo do pecado nas culturas
“Uma vez que o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e bondade. Pelo fato de o homem ter caído, toda a sua cultura (usos e costumes) está manchada pelo pecado e parte dela é de inspiração demoníaca” (Pacto de Lausanne, § 10).
Por que o mundo está deste jeito? É a pergunta que fazemos hoje. Sabemos pela revelação bíblica que a resposta está na origem do pecado cometido por Adão e a partir dele todos seus descendentes também pecaram (Rm 5.12). Ou seja, as culturas já foram sendo criadas com a marca ou selo do pecado. E este selo é percebido nas práticas internas das culturas, em suas organizações, na forma como justificam a opressão e a injustiça e até na maneira como uma cultura se impõe sobre outras. “Assim como, por causa do pecado, o ser humano vê o outro ser humano como objeto de exploração e vê a terra como inimiga renitente da qual tem de extrair o sustento, da mesma maneira, também por causa do pecado, cada cultura vê as demais como parte de um ambiente hostil e, portanto, como adversário que se deve eliminar ou absorver” (Ibidem: p. 69-70).
O etnocentrismo, conceito em que um indivíduo vê o outro a partir de sua própria cultura, mas ao mesmo tempo o julga por considerá-lo como parte de uma cultura “inferior”, é um das consequências do pecado que permeia todas as culturas. O outro, ao ser visto como adversário precisa ser vencido, assim como também a sua cultura. Isto demonstra o elemento de egocentrismo e de auto-adoração existente no âmago de toda cultura. Na verdade, até o conceito de pecado varia de uma cultura para outra. E o julgamento que alguém faz das ações consideradas certas ou erradas por parte de indivíduos de outras culturas também varia. O que é completamente natural em uma cultura pode ser visto como errado em outra. E assim, a forma de definir ou distinguir as culturas é marcada por limites culturais. “Toda cultura é uma realidade de limites imprecisos, e o modo como esses limites são definidos tem muita relação com o pecado” (Ibidem: p. 73). Mas, por serem estes limites, imprecisos, não se pode definir de modo objetivo e cientifico a que cultura uma pessoa pertence.
O Rev. Paulo SIMÕES, em seu artigo “O pecado e seus efeitos na cultura”, afirma que “... apesar da queda, o ser humano não se tornou algo inferior ao próprio homem, ou seja, não perdeu sua humanidade, não se tornou um animal ou um diabo. Continuou sendo um ser espiritual dotado de corpo, continuou emotivo, bípede, mamífero e dependente da relação entre homem e mulher para perpetuar a espécie”. Só que se tornou alienado e depravado. Seu relacionamento com Deus tornou-se causa de vergonha e estranho até para si mesmo.
A cultura perdeu seu verdadeiro fim depois da queda do homem, que era o amor e o serviço a Deus. E o pecador é incapaz de distinguir entre beleza falsa e beleza verdadeira. Hoje há a demasiada valorização da arte e até “... uma substituição de Deus pela arte. A arte se torna a religião, e o produto desses novos sacerdotes, algo sagrado” (SIMÕES).
Além da arte, a tecnologia de modo geral, procura também ocupar o papel de substituto de Deus na sociedade. Como exemplos, Simões cita os construtores da Torre de Babel (Gn 11.1-9) e Nabucodonosor (Dn 4). Suas tecnologias serviram para a glorificação de si mesmos, ou seja, de quem as criaram. Estas e outras são tecnologias que não buscam a glória de Deus, mas a do homem. É neste sentido que González (Op. Cit.) interpreta as palavras da serpente em Gênesis 3.5, “sereis deuses”, como a tentativa de fazer Adão e Eva crerem que não eram “imagem e semelhança de Deus”, conforme Deus mesmo tinha dito (Gn 1.26). Portanto, através das artes e das tecnologias, os homens sem Deus procuram pôr em prática as palavras da serpente: “sereis deuses”. Assim, a cultura que pode ser boa e bela, mas por ser carregada do selo do pecado torna-se instrumento deste e coopera para o distanciamento do Criador...
Concluímos, então, que o homem, como ser racional, que não perdeu sua humanidade nem suas faculdades, por causa do pecado, sua criação, a cultura, precisa ser influenciada pelo padrão justo e correto, a Palavra de Deus, que é a base para que a humanidade reconheça os caminhos e a direção a seguir: sua volta ao Criador através de Cristo, o Segundo Adão que não conheceu pecado nem seus efeitos na cultura.
Referências bibliográficas:
GONZÁLEZ, Justo L. Cultura & Evangelho: o lugar da cultura no plano de Deus. São Paulo: Hagnos, 2011.
O EVANGELHO e a Cultura. Série Lausanne e Visão Mundial. São Paulo: ABU Editora, 1985.
SIMÕES, Pr. Paulo. O pecado e seus efeitos na cultura. Disponível em: <http://pastorpaulosimoes.blogspot.com.br/2015/10/o-pecado-e-seus-efeitos-na-cultura.html>. Acesso em 14/11/2017.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Este artigo foi útil para você? Deixe sua opinião nos comentários. Responderei assim que possível...
Obrigado, pela visita.
Abraço!

Campo 14 – bebês mortos a pauladas, fome e execuções: a vida em um campo de concentração norte-coreano

P or J ones R ossi  [ 1 ] Uma aula no Campo 14   Os  professores do Campo 14 eram guardas uniformizados:  tratados por Shin no desenho acima...