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24 fevereiro 2020

Inácio de Antioquia, o portador de Deus

Inácio de Antioquia

“Sou trigo de Deus, e os dentes das feras hão de me moer, para que possa ser oferecido como pão limpo de Cristo” (Inácio de Antioquia) [1].

Inácio de Antioquia, nasceu por volta do ano 30 ou 35 e passou para a história com o codinome  “portador de Deus”, com base em informações da tradição de que ele fora aquele menino posto por Jesus no meio dos discípulos que o rodeavam, querendo saber quem era maior no Reino dos céus, conforme registrado em Mateus 18.1-3 e Lucas 18.15-17 ).  Inácio tornou-se o segundo bispo de Antioquia quando foi preso e martirizado no ano 107, em Roma, que era governada na época, pelo imperador Trajano (98-117). E esta cidade se encontrava em festejos por causa da vitória do imperador sobre os dácios [2], e como parte das comemorações havia uma ordem para se oferecer um grande sacrifício aos deuses. Este ritual foi imposto por um decreto imperial que incluía também os cristãos. O preço da desobediência era a morte.
Inácio já estava bem idoso naquele ano (107), com cerca de 72 a 77 anos. Mesmo assim, “… foi enviado à capital para que sua morte contribuísse com os espetáculos projetados. (GONZÁLEZ: 1995. p. 68).
Durante sua longa viagem para Roma, o bispo de Antioquia escreveu 7 cartas. São elas, cartas: aos Efésios (InEf), Magnésia (InMag), de Trales (InTral), Romanos (InRom), Filadélfia (InFld), Esmirna (InEsm) e Policarpo (InPol). Provavelmente, estas cartas tenham sido escritas por um amanuense, também cristão, em Esmirna, onde Inácio esteve durante uma pausa da viagem. No entanto, segundo González, de algum modo, Inácio havia recebido notícias de que alguns cristãos de Roma planejavam fazer gestões para livrá-lo da morte. Mas Inácio não vê tal projeto com bons olhos. Ele já estava pronto para selar seu testemunho com seu sangue, e qualquer gestão que os romanos pudessem fazer seria, para ele, um empecilho […] e portanto a única coisa que quer que os romanos peçam para ele é, não a liberdade, mas força para enfrentar a toda prova, ‘para não somente me chamarem cristão, mas que também me comporte como tal’” (Ibidem: p. 68).
Nesta mesma linha de raciocínio segue o historiador Andrew MILLER. Segundo ele, Inácio estava preocupado com a igreja em Antioquia e por isso desejou falar pessoalmente com Trajano. “Seu grande objetivo era prevenir, se possível, a perseguição ameaçada. Com este objetivo em vista, ele apresentou ao imperador o verdadeiro caráter e condição dos cristãos, e se ofereceu a si mesmo para sofrer no lugar deles” (MILLER: 2016, p 181).Inácio foi sentenciado e lançado às feras selvagens para diversão do povo no último dia do festival romano e “… logo levado ao anfiteatro, onde sofreu, de acordo com sua sentença, à vista dos espectadores reunidos. E então, o cansado peregrino encontrou o descanso das fadigas de sua longa viagem no bendito repouso do paraíso de Deus.” (Ibidem: p. 181). Se a tradição acerca daquela criança de Mateus 18 estiver certa, Inácio tornou-se um símbolo perfeito de um cidadão do Reino de Deus, dentre os “… quais o mundo não era digno…” (Hb 11.38).O martírio de Inácio de Antioquia serviu de inspiração para muitos cristãos, muitos dos quais também desejaram receber “uma coroa de mártir”, por amor ao evangelho.

A importância do bispo para a igreja, segundo Inácio

Nosso objetivo, aqui, é apenas fazer uma reflexão acerca da fé de Inácio em Jesus, que se tornou, como ele mesmo queria, o “trigo de Deus”, através de sua morte como mártir. Porém suas preocupações com as várias (ao que parece) facções que havia na igreja de Antioquia levou-o a escrever suas 7 cartas (e possivelmente outras) para exortar os cristãos acerca da verdadeira fé. Mas o conteúdo destas cartas tem servido para muita discussão e (aparente embasamento) para a sucessão apostólica, defendida pela Igreja Católica. O certo é que, segundo ele, “… nada [se pode] realizar sem o bispo, mas também submeter-vos ao presbitério, como aos apóstolos de Jesus Cristo, nossa esperança, no qual nos encontramos em toda a nossa conduta” (InTral. In: As cartas de Inácio de Antioquia).
O cargo eclesiástico de bispo (ancião, presbítero) que aparece na Bíblia em Tito 1.7, Filipenses 1.1 e em outros textos, no começo do segundo século passa a ganhar muito destaque a partir de documentos como as cartas de Inácio, Clemente e outros. Mas sobre isto falaremos em outro momento. Por ora, acho importante destacar, as últimas palavras de Inácio de Antioquia que demonstravam sua convicção de que como “trigo de Deus”, a ser moído pelas feras, estava sendo “oferecido como pão limpo de Cristo”.


Referências bibliográficas:
  • COMUNIDADE WESLEYANA. As cartas de Inácio de Antioquia. Artigo publicado em 29/11/2010. Disponível em: <http://comunidadewesleyana.blogspot.com.br/2010/11/as-cartas-de-inacio-de-antioquia.html>. Acesso em 30/11/2016.
  • § GONZALEZ, Justo L. E até os confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo, Vol. 1, A era dos mártires. São Paulo: Vida Nova, 1995.
  • MILLER, Andrew. História da Igreja, vol.1, 2016. Disponível em PDF: <file:///C:/Users/Sr%20Alcides/Documents/Alcides%20-%202016/História%20&%20Teologia%20da%20Igreja%20Cristã/Historia%20da%20Igreja%20-%20Andrew%20Miller.pdf>. Acesso em 29/11/2016.

Notas:

  • [1] Apud GONZÁLEZ, Justo. Op. Cit., p. 68.
  • [2] “Dácia era o nome dado à região habitada pelos dácios (ou getas, como eram conhecidos pelos antigos gregos), um ramo dos trácios que vivia a norte dos Bálcãs. [Na época de Trajano], os romanos “… acabaram por conquistá-los [os dácios], e assimilá-los, linguística e culturalmente.” In: <https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A1cia#A_conquista_romana>. Acesso em: 27/11/2016.
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