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9 de maio de 2025

Você já está salvo (a)?

 Por: Alcides Amorim

“E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para ser salvo? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (Atos 16.30,31).

O naufrágio do Titanic (Wikipedia)

Ouça o conteúdo: ...

No contexto dos versos bíblicos acima, os missionários Paulo e Silas estavam presos em Filipos, uma das cidades da Macedônia, por pregarem o Evangelho. E perto da meia-noite, enquanto ambos oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam, sobreveio à prisão um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as prisões de todos. O carcereiro assustado, vendo abertas as portas da prisão, tirou a espada, e quis matar-se, cuidando que os presos já tinham fugido. Mas Paulo pede que ele não lhe fizesse nenhum mal, pois ninguém tinha escapado. “... todos aqui estamos”, disse Paulo. O carcereiro, “todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas” (v. 29), e pergunta o que fazer para ser salvo (v. 30). A resposta de Paulo e Silas ao carcereiro foi: “... crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (v. 31).

Então podemos perguntar: e o que é a salvação? Quem é que salva as pessoas e do que as pessoas são salvas? Em princípio, a salvação que o carcereiro e sua família buscavam era um livramento da pena do Estado romano caso os presos tivessem fugido e também pelo fato de prender um cidadão romano (Paulo) sem averiguar antes as consequências desta atitude. Mas os missionários partem deste ponto e vão mais além, falando da salvação eterna (v. 32) a ele e a todos os que estavam em sua casa. Ao serem batizados (v. 33), o carcereiro e os membros de sua família já tinham entendido o que era arrependimento dos pecados, confissão e entrega ao Salvador. Desta forma, ele e a sua família creu e obteve a salvação espiritual e eterna agora como parte da Igreja de Cristo. Neste caso, o carcereiro foi salvo tanto da situação presente e terrena quanto da pena eterna dos seus pecados na vida pós-morte.

Você já está salvo ou salva? Esta é uma pergunta recorrente dos evangelistas cristãos às pessoas que ouvem suas pregações. E também foi feita pelo pastor John Harper um pouco antes de sua morte. Ouvi sobre ele no último domingo, 5 de maio de 2025, na celebração das 8 horas, em minha igreja, Igreja da Cidade de Pindamonhangaba, pelo Pr David Tiburcio que citou, durante sua mensagem, como aquele pregador e pastor  morreu. Isto me levou a pesquisar um pouco mais sobre o mesmo.

John Harper nasceu em 29 de maio de 1872, em Houston, Escócia, e sua morte aconteceu em 15 de abril de 1912, no Oceano Atlântico, tendo ele apenas 39 anos. Aquele pastor batista começou a pregar aos 18 anos e quando faleceu já era viúvo e tinha uma filha de seis anos.

Convidado para pregar por várias semanas em Chicago, em Illinois, nos Estados Unidos, na Igreja Moody, Harper, sua filha Annie Jessie, e sua irmã, Jessie W. Leitch estavam naquele famoso navio Titanic. Quando o navio colidiu com um iceberg, sua irmã e sua filha foram colocadas em um bote salva-vidas e sobreviveram, mas Harper ficou para trás com o objetivo de cumprir sua última missão: perder sua vida para salvar outras.

Diz o Portal Guiame (aqui[1]:

Pastor John Harper e o Titanic

No livro “The Titanic's Last Hero” (“O Último Herói do Titanic”), publicado em 2012 por Moody Adams, foi registrado o testemunho do último homem evangelizado pelo pastor.

Nos cinquenta minutos finais, George Henry Cavell [2], que estava apoiado numa prancha, se aproximou de John Harper. Harper, que estava se debatendo na água, gritou: ‘Você é salvo?’ Ele respondeu: ‘Não’. Harper gritou as palavras da Bíblia: ‘Creia no Senhor Jesus Cristo e será salvo’. Antes de responder, o homem foi puxado para dentro do mar.

Minutos mais tarde, a corrente trouxe George de volta e eles ficaram à vista um do outro. Mais uma vez, Harper gritou: "Você é salvo?" Novamente, ele respondeu: "Não". Harper repetiu as palavras de Atos 16:31: "Creia no Senhor Jesus Cristo e você será salvo".

Cansado e sem forças, Harper escorregou no mar e morreu afogado. O homem que ele evangelizou depositou sua fé em Jesus Cristo e, mais tarde, foi resgatado pelos botes salva-vidas. Na província de Ontário, no Canadá, George Henry testemunhou que foi o último convertido de John Harper.

O pregador Harper testemunhou a mensagem para várias pessoas no mar antes de morrer. Em seu artigo [3] A última conversão de John Harper, por exemplo, Dr.  Erwin W. Lutzer faz referência ao último convertido de John Harper, mas ele não cita o nome, mas parece tratar-se do mesmo personagem relatado acima: George Henry Cavell. Lutzer fala também de uma pessoa que ficou com o colete salva-vidas de Harper que parece ser outra pessoa, além de Cavell. “Um relatório diz que Harper, sabendo que não poderia sobreviver por muito tempo na água gelada, tirou o colete salva-vidas e jogou-o para outra pessoa com as palavras, ‘Você precisa mais disso do que eu!’ Momentos depois, Harper desapareceu debaixo d'água...”.

Bem, John Harper foi salvo sem se salvar. Explico: ele não salvou sua vida terrena no naufrágio do Titanic, mas salvou sua vida espiritual (alma/espírito) da eternidade sem Cristo. Mas Jesus fala da salvação do corpo todo (cf. Mateus 5.29-30) também. Mas isto se dará com a ressurreição final dos mortos, quando, inclusive, o mar dará os seus mortos que nele houverem (Apocalipse 20.13).

 Jesus disse que veio à Terra para que todos tenham vida e a tenham com abundância (João 10.10), embora Jesus mesmo morreu! Seus apóstolos também! Mas ressuscitou! E “ ... tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele” (Romanos 6.9). A morte física é destino de (quase) todos [4]. Mas os que morrem fisicamente em Cristo, mesmo sendo num naufrágio, seu espírito será salvo; e continuam vivos, aliás, a verdadeira vida começa após a sua morte física e a vida eterna também. E esta questão vai além da razão e é assunto da própria filosofia. Um filósofo que também morreu jovem, com apenas 39 anos – a exemplo de John Harper –, chamado Blaise Pascal, propôs que “apostemos” no assunto da crença em Deus e na eternidade. Apostar que Deus existe importa numa modesta entrega da nossa razão, mas optar pela não-existência divina é arriscar a perda da vida e felicidade eternas. Óbvio que como filósofo e racionalista, Pascal também questiona que caso Deus não existisse (mas ele cria) o valor da aposta (a nossa razão) é mínimo comparado ao prêmio que pode ser ganho na eternidade.

Alexandre Robles afirma que a impressão que ele tem é que este mundo é um Titanic em naufrágio. Os botes que existem são negociados pelos políticos corruptos que lutam para salvar sua pele; os miseráveis estão no mais baixo pavimento lutando para emergir e salvar a própria vida; a elite está bem servida etc., enquanto a “... religião está tocando violinos, discutindo teologias caducas e promovendo cultos alienantes, porque não sabe o que fazer diante do iminente trágico e na esperança de fazer o fundo musical do evento, neste caso mórbido[5].

Em suma, podemos afirmar que assim como no Titanic, no mundo, em se tratando de vida terrena e vida eterna, há apenas duas classes de pessoas: salvas e perdidas. Se você não tem certeza de que lado está, escolha JESUS. “Creia no Senhor Jesus e será salvo ou salva”.

Solus Christus! A Ele, Soli Deo Gloria!!!

Sugiro também o vídeo de Diego Urbano:



Notas / Referências bibliográficas: 

  • [2] Veja em: https://www.encyclopedia-titanica.org/titanic-survivor/george-henry-cavell.html o depoimento de George Henry Cavell, anos após o naufrágio. Segundo esta fonte, Cavell era funcionário (bombeiro?) da companhia que administrava o Titanic... Ele nasceu em Hampshire, Inglaterra, em 4 de dezembro de 1889 e morreu em Winchester, Hampshire, em 21 de julho de 1966. Mas o texto não cita nada da experiência de conversão de Cavell. Acesso em: 07/05/2025. 
  • [3] LUTZER, Dr. Erwin W. A última conversão de John Harper. Disponível em: https://www.moodymedia.org/articles/sharing-gift-christmas-one-minute-you-die/. Acesso em: 07/05/2025.
  • [4] Digo “quase todos” pois quando acontecer o arrebatamento de parte da Igreja por ocasião da volta de Cristo, os que estiverem preparados naquele dia serão transformados sem passar pela morte e encontrarão os demais crentes que já morreram e com o Mestre Jesus nos ares (1 Tessalonicenses 4.17).

 





15 de novembro de 2024

Tempo e tempos (5): Dia do Senhor (Domingo) - Apocalipse 1.10

 Por: Alcides Amorim

Já vimos aqui que a palavra hebraica para dia é yom (יוֹם) no seu sentido literal e de tempo ou período percorrido como entendemos: dia de 24 horas. Aqui, destaquei o dia de descanso ou de adoração utilizado pelos cristãos: “Hemera ou Iméra tou Kyríou” (Dia do Senhor ou o Domingo), baseados nos comentários de Wood. [1] e de BEASLEY-MURRAY (Nota 4 abaixo).

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Essa expressão [Dia do Senhor] é encontrada apenas uma vez nas Escrituras como indicação do primeiro dia da semana. Em Ap 1:10, João desvenda que a visão do Apocalipse lhe foi dada quando foi arrebatado 'no espirito, no dia do Senhor’. Essa é a primeira ocorrência que temos, na literatura cristã, da expressão “hê kyriaké hemera”. A construção adjetival sugere que se tratava de uma designação formal sobre o dia de adoração da Igreja. Como tal certamente aparece no início do segundo século (Inácio, Epístola aos Magnesianos, i. 67) [2].

Pouco apolo pode ser aduzido em favor da teoria que diz que esse termo se refere ao dia da Páscoa, exceto, naturalmente, no sentido que cada dia do Senhor é uma recaptulação pascal. Porém, deve ser observado que eruditos de tanta reputação como Wettstein, Deissmann, e Hort, entre outros, preferem interpretar o versículo como indicação que João foi transportado, em seu êxtase espiritual, até o grande dia do próprio juízo (cf Ap 6:17; 16:14). Lightfoot acredita que existem ‘razões muito boas, não até mesmo conclusivas’ em favor dessa posição (The Apostolic Fathers, II, secção I, parte II, pág. 129. A opinião da maioria, entretanto, se inclina a sentir, juntamente com Swete, que tal interpretação ao contexto imediato e contrário ao uso linguístico (a Septuaginta sempre emprega a expressão he hemera tou kyriou para o profético ‘dia do Senhor’: kyriakos não aparece nunca). Seria razoavelmente seguro, portanto, concluir que, assim como a localização real da visão de João é registrada no versículo, semelhantemente a ocasião real também é registrada no versículo 10.

Mesmo que pudéssemos aceitar uma data tardia para o livro de Apocalipse (c. de de 96 D. C.), não seria necessário supor, juntamente com Harnack, que a expressão he kyriake hemera não estava em uso antes do término do primeiro século de nossa era. É possível que essa expressão tenha surgido tão cedo quanto 57 D. C., quando Paulo escreveu a epístola de 1 Coríntios. Em 11:20 desse livro o apóstolo fala em kyriakon deipnon ('ceia do Senhor'). É interessante que a versão pesita diz 'dia do Senhor' nesse versículo. Porém dificilmente parece que o termo estivesse então em uso corrente, pois, mais adiante naquela mesma epístola, Paulo diz kata mian sabbatou, (no primeiro dia da semana' (16:2).

Deissmann lançou mais alguma luz sobre o título ao mostrar que na Ásia Menor e no Egito, até mesmo antes da era Cristã, o primeiro dia de cada mês era chamado de dia do Imperador ou Sebastē. Isso, eventualmente, pode ter sido transferido para um dia qualquer da semana, provavelmente a quinta-feira (dies Iovis). 'Se essas conclusões são válidas', comenta R. H. Charles, 'então poderemos entender quão naturalmente o termo "Dia do Senhor" teve início; pois assim como o primeiro dia de cada mês, ou como certo dia de cada semana era chamado de "Dia do Imperador", semelhantemente seria natural que os crentes dessem nome ao primeiro dia de cada semana, associado como estava à ressurreição do Senhor e ao costume dos crentes de se reunirem para adorar, chamando-o de "Dia do Senhor". Talvez tenha surgido primeiramente em círculos apocalípticos, quando uma atitude hostil para com o império foi adotada pelo Cristianismo' (R. H. Charles, The Revelation of St. John, 1920, I, pág. 23; cf BS, págs. 218 e segs.).

'Senhor, nessa passagem, claramente significa Cristo, e não Deus Pai. Trata-se do dia de Cristo. Pertence-Lhe por causa de Sua ressurreição, quando foi 'poderosamente demonstrado filho de Deus' (Rm 1:4). Mc Arthur certamente tem razão ao afirmar que esse título, afinal de contas, se deriva da Soberania de Jesus Cristo, Soberania essa que se tornou manifesta na ressurreição do 'primeiro dia da semana' (Mc 16:2; vd A. A. Mc Arthur, The Evolution of the Christian Year, 1953, pág. 21). A adoração cristã é essencialmente uma anamnesis (lembrança) do acontecimento da Páscoa, que revelou o triunfo do propósito redentor de Deus. Isso explica o tom prevalente de alegria e louvor. O primeiro dia era igualmente apropriado, visto que relembrava o dia inicial da criação, quando Deus criou a luz, bem assim o fato que o Pentecoste Cristão caiu no domingo. Além disso, é bem possível que a expectativa dos crentes primitivos fosse que o retorno do Senhor se verificasse em Seu próprio dia.

A mais antiga evidência relacionada com a observância do primeiro dia da semana, por parte dos cristãos, aparece em 1 Co 16:1,2, ainda que não haja ali referência explícita a alguma reunião realmente levada a efeito. At 20:7 [3] é passagem mais específica e provavelmente reflete o uso continuado do calendário judaico por parte dos crentes, conforme o qual o dia do Senhor teria início ao pôr do sol do dia de sábado. Alford vê na prontidão dos gentios em aceitar este cálculo judaico 'a maior prova de todas que o dia foi assim observada' (H. Alford, The New Testament for English Readers, p. 788). Por outro lado, não há no Novo Testamento qualquer indicação duma controvérsia sabatista. O dia do Senhor, que de fato cumpriu todos os propósitos beneficentes de Deus na instituição do sábado para a humanidade, era observado 'em novidade de espírito e não na caducidade da letra' (Rm 7:6).

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Resumindo, conforme diz Murray [4], o Dia do Senhor não deve ser entendido no sentido escatológico, como pensam alguns, “… como se João tivesse sido transportado para viver naquele dia, mas ‘no dia consagrado ao Senhor’, uma frase que se usava já no segundo século referindo-se ao domingo. O termo ‘o dia do Senhor’, como Deissmann [5] tem mostrado, é provavelmente a substituição desafiadora dos cristãos ao ‘dia do Imperador’, que era celebrado ao menos mensalmente na Ásia Menor, se não semanalmente. Indicava originalmente o dia da elevação de Faraó ao trono do Egito, ou seu dia natalício; a ideia foi apropriada pelos imperadores romanos. Como memorial do dia da ressurreição de Cristo, e assim, da sua exaltação à soberania, o título ‘o dia do Senhor’ é especialmente apropriado” (destaques meus).

Veja também o vídeo do Portal CACP, a seguir, sob o título “O que significa a expressão ‘O Dia do Senhor’?”, do Pr. Natanael Rinaldi:


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] WOOD, A. S. Dia do Senhor (Domingo). Apud: DOUGLAS, J. D. (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia, Volume I. São Paulo: Vida Nova, 1979, Pág. 417/8.

  • [2“… Portanto, não precisamos mais manter o sábado, como fazem os judeus, ou alegrar-se pelos dias de ociosidade, pois “aquele que não trabalha, não deve comer”. Também foi dito pelos [santos] oráculos: ‘É pelo suor da tua face que comerás o teu pão’. Mas deixe todo aquele entre vós que ainda mantém o sábado por motivo espiritual, alegrando-se na meditação da Lei e não no descanso do corpo, admirando a obra de Deus e não comendo coisas preparadas no dia anterior, não fazendo uso de bebidas mornas ou andando um certo limite prescrito, não deleitando-se por dançar e aplaudir, e outras coisas sem sentido. Porém, após a observância do sábado, deve todo amigo de Cristo observar o Dia do Senhor como festa, o dia da ressurreição, a rainha e comandante de todos os dias [da semana]. Foi sobre isto que o profeta declarou: 'Para encerrar, o oitavo dia' [Foi nesse dia] que a nossa vida renasceu e a vitória sobre a morte foi obtida em Cristo…” (“Epístola aos Magnésios”.(Inácio, Bispo de Antioquia, 67 – 110 d.C., Parte IV, 9). Disponível em: <Inácio de Antioquia / Epístola aos magnesios>. Acesso em 13/11/2024.

  • [3E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite” (Versão A.C.F.).

  • [4BEASLEY-MURRAY, George Raymond. Apocalipse. In: O Novo Comentário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1983, Comentário sobre Apocalipse 1.10.

  • [5Gustav Adolf Deissmann (1866-1937): “teólogo protestante alemão, melhor conhecido por sua pioneira obra sobre a língua grega utilizada no Novo Testamento, que ele demonstrou ser o koiné, ou a língua comum utilizada no mundo helênico daquele tempo…”. Mais em: <Wikipedia – Deissmann>. Acesso em: 14/11/2024.

30 de setembro de 2024

Tempo e tempos (2): As dispensações

 Por: Alcides Amorim  

Mapa das dispensações [1]

Numa palavra inicial, quero destacar que inseri este assunto no tema dos textos escatológicos, pois entendo que o estudo das dispensações envolve toda a Bíblia. E os estudos relativos às promessas de Deus a Israel, à Igreja e, principalmente a sétima dispensação, são assuntos apocalípticos. Outra observação inicial é se podemos confiar neste método de estudo: o dispensacionalismo? Na verdade, o dispensacionalismo é apenas um método de interpretação e não um caminho para a salvação. E suas principais características são uma interpretação literal das Escrituras, a crença de que haverá o Arrebatamento da Igreja antes de um período de sete anos chamado Grande Tribulação, que depois disto, Jesus voltará com seus anjos e todos que foram arrebatados com Ele, que haverá um período de mil anos literalmente em que Jesus governará sobre na Terra, na separação entre Israel e Igreja etc. Da mesma forma que Deus concentra sua atenção na igreja nesta era, sua agente de promoção de Seu Reino neste período da Graça, Ele novamente, no futuro, concentrará Sua atenção em Israel (Romanos 9-11) [2].

Para nosso popósito, usamos como base para o estudo das dispensações, aliás, estudo aceito pela maioria dos evangélicos, as Notas da Bíblia do Dr. C. I. Scofield. No texto que segue, expus o conteúdo das notas explicativas de cada dispensação e suas referências bíblicas.

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Introdução

Domínio, conforme está em Gn 1.26, é uma unidade, e o propósito de Deus é um só. O homem criado à imagem de Deus (vs. 26-27) foi colocado como soberano sobre a terra (vs. 28-20), coroado com glória e honra (Sl 8.5-8), mas sujeito a Deus, seu Criador (Gn 2.15-17). A intenção divina era e é, que o homem tivesse comunhão com Deus, em obediência. Veio o pecado, a essência do qual é à rebeldia contra a vontade de Deus, e o homem separou-se de Deus (Gn 3.8-10) e perdeu a soberania sobre a terra (Gn 3.17-19). O alvo de Deus é restaurar o homem pecador à Sua semelhança, comunhão e domínio (Rm 8.29; Ap 21.3; 20.6; 22.5). "Agora, porém, ainda não vemos todas as cousas a ele sujeitas (humanidade), vemos, todavia, aquele (Jesus)... coroado de glória e de honra" em antecipação de muitos filhos participando de Sua comunhão e domínio (Hb 2.8-10; Rm 8.17-19). Isto está de acordo com a primeira promessa de redenção (Gn 3.15). Enquanto isto, esperamos com paciente certeza a vitória completa de Deus sobre a terra (Rm 8.19-25; 1 Co 15.24-28; Ap 11.15-18). Quanto à realização do propósito de Deus na redenção total, veja nota sobre Dispensação em 1:28 [a seguir].

Uma dispensação é um período de tempo no qual o homem é testado na sua obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus. Três conceitos importantes estão implícitos nesta definição:

  • um depósito de revelação divina quanto à vontade de Deus, incorporando o que Deus exige quanto à sua conduta;

  • a mordomia do homem desta revelação divina, na qual ele é responsável de obedecer; e

  • um período de tempo, geralmente chamado de “século”, durante o qual esta revelação divina prevalece testando a obediência do homem a Deus.

As dispensações são revelações progressivas e associadas dos procedimentos de Deus para com o homem, às vezes relacionados com toda a raça e, em outras, a um povo em particular, Israel. Estas diferentes dispensações não são modos separados de salvação. Durante cada uma delas o homem é reconciliado com Deus de uma única maneira, isto é, pela graça de Deus mediante a obra de Cristo que foi realizada na cruz e vindicada em Sua ressurreição, Antes da cruz, o homem era salvo em perspectiva do sacrifício expiador de Cristo, crendo na revelação que lhe fora dada até então. Desde a cruz o homem tem sido salvo crendo no Senhor Jesus Cristo, no qual a revelação e a redenção foram consumadas.

Da parte do homem a contínua exigência é a obediência à revelação de Deus. Esta obediência é uma mordomia de fé. Embora a revelação divina se desdobre progressivamente, o depósito da verdade nos períodos de tempo anteriores não foi posto de lado, antes, é cumulativo. Assim, a consciência (responsabilidade moral) é uma verdade permanente na vida humana (Rm 2.15; 9.1: 2Co. 1.12; 4.2), embora não continue sendo uma dispensação. Semelhantemente, os salvos desta presente dispensação estão “não sob a lei” como uma prova específica da obediência à revelação divina (Gl 5.18; comp. Gl 2.16; 3.11), mas a lei permanece parte integral das Sagradas Escrituras que, para os remidos, são proveitosas para "a educação na justiça" (2Tm 3.16-17; comp. Rm 15.4).

O propósito de cada dispensação, portanto, é colocar o homem sob uma específica regra de conduta, mas tal mordomia não é uma condição de salvação. Em cada uma das dispensações passadas, o homem não regenerado fracassou, e ele tem fracassado nesta presente dispensação e fracassará no futuro. Mas a salvação tem sido e continuará sendo dispensada pela graça de Deus mediante a fé.

As sete dispensações [3] distinguem-se da seguinte maneira:

  • Inocência (Gn 1.28);
  • Consciência ou Responsabilidade Moral (Gn 3.7);
  • Governo Humano (Gn 8.15);
  • Promessa (Gn 12.1);
  • Lei (Êx 19.1);]
  • Igreja ou Graça (At 2.1);
  • Reino (Ap 20.4).


Primeira Dispensação: Inocência

E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra(Gn 1.28) [4].

O homem foi criado em inocência, colocado em um ambiente perfeito, sujeito a uma prova simples, e advertido das consequências da desobediência. Ele não foi compelido a pecar, mas, tentado por Satanás, preferiu desobedecer a Deus. A mulher foi enganada, o homem transgrediu deliberadamente (1Tm 2.14). A mordomia da Inocência terminou na sentença da expulsão do Éden (Gn 3.24).


Segunda Dispensação: Consciência ou Responsabilidade Moral

Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.7 Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si(Gn 3.6-7).


O homem pecou (3.6-7), a primeira promessa de redenção estava para ser feita (3:15), e nossos primeiros pais seriam expulsos do Éden (3.22-24). O pecado do homem foi uma rebeldia contra uma ordem específica de Deus (2.16-17) e marcou uma transição do conhecimento teórico do bem e do mal para o conhecimento experimental (3.5-7,22). O homem pecou entrando no reino da experiência moral pela porta errada, quando poderia tê-lo feito fazendo o que era certo. Assim o homem tornou-se igual a Deus, através de uma experiência pessoal da diferença entre o bem e o mal, mas também diferente de Deus, passando por esta experiência, no escolher o mal e não o bem, Assim ele foi colocado por Deus sob a mordomia da responsabilidade moral, ficando responsável de praticar todo o bem conhecido, abster-se de todo o mal conhecido e aproximar-se de Deus por meio do sacrifício sangrento aqui instituído, em perspectiva à obra consumada de Cristo. O resultado é apresentado na Aliança Adâmica (Gn 3.14-21). O homem falhou no teste que lhe foi apresentado nesta dispensação (veja Gn 6.5), como nas outras. Embora, como teste específico, este período de tempo tenha terminado com o dilúvio, o homem continuou em sua responsabilidade moral conforme Deus acrescentou mais revelação referentes a Si mesmo e à Sua vontade nos períodos subsequentes (por exemplo, Atos 24.14-16; Rm 2.15; 2Co 4.2).


Terceira Dispensação: Governo Humano

Então, disse Deus a Noé:...” (Gn 8.15).

Esta dispensação começou quando Noé e sua família saíram da arca. Quando Noé entrou numa nova situação, Deus (na Aliança Noética) sujeitou a humanidade a um novo teste. Antes disso, nenhum homem tinha o direito de tirar a vida de outro homem (comp. Gn 4.10-11, 14-15, 23-24). Nesta nova dispensação, embora a responsabilidade moral direta do homem para com Deus continuasse ("Dai… a Deus o que é Deus", Mt 22.21), Deus delegou-lhe determinadas áreas de Sua autoridade, nas quais ele tinha de obedecer a Deus através de submissão ao seu próximo ("Dai, pois, a César o que é de César", Mt 22.21). Portanto Deus instituiu um relacionamento corporativo de homem para homem no governo humano.

A mais alta função do governo é proteger a vida humana, da qual deriva a responsabilidade da pena capital. O homem não deve vingar o homicídio individualmente, mas, na qualidade de grupo corporativo, ele deve salvaguardar a santidade da vida humana como um dom de Deus, que não pode ser exterminado, exceto quando Deus o permite. "Os poderes constituídos foram ordenados por Deus", e resistir-lhes é resistir a Deus. Enquanto, na dispensação precedente, as restrições feitas ao homem eram internas (Gn 6.3), o Espírito de Deus operando através da responsabilidade moral, agora uma nova restrição externa foi acrescentada, isto é, o poder do governo civil.

O homem fracassou em governar com justiça. Que ambos, judeus e gentios, tem governado para si mesmos, não para Deus, é a triste verdade. Este fracasso foi visto de um modo geral, na confusão de Babel (Gn 11.9): no fracasso de Israel, no período da teocracia, que terminou com o cativeiro na Babilônia (2Cr 36.15-21), e no fracasso das nações, no “tempo dos gentios” (Dn 2.31-45). O governo humano vai finalmente ser sobrepujado pelo reinado glorioso de nosso Senhor Jesus Cristo, cujo direito de reinar é incontestável (Is 9.6-7 Jr 23.5-6; 33.17; Ez 21.27; Lc 1.30-33); Ap 11.15-18; 19.16: 20.4-6). Como uma prova específica da obediência, a dispensação do Governo Humano foi seguida, pela da Promessa, quando Deus chamou Abrão como Seu instrumento de bênção para a humanidade. Contudo, a responsabilidade do homem pelo governo não acabou, mas continuará até que Cristo estabeleça o Seu reino.


Quarta Dispensação: Promessa

Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!” (Gn 12.1-2).


Esta dispensação estendeu-se da chamada de Abrão até a concessão da lei no Sinai (Êx 19.3 e segs.). Sua mordomia baseava-se sobre a aliança de Deus com Abrão, citada pela primeira vez aqui, Gn 12.1-3, e confirmada e ampliada em Gn 13.14-17; 15.1-7; 17.1-8, 15-19; 22.16-18; 26.2-5,24; 28.13-15; 31.13; 35.9-12.

  1. as provisões específicas que afetavam o próprio Abrão (Gn 15.15), seu filho e neto, Isaque e Jacó (Gn 26.1-5; 28.10-16) sob cuja bênção individual dependia a obediência individual (Gn 12.1;comp. 22.18; 26.5).
  1. Deus fez uma promessa incondicional de bênçãos através da semente de Abrão: a) para a nação de Israel herdar um território específico para sempre (Gn 12.2; 15.18-21); b) para a Igreja em Cristo (Gl 3.16, 28-29); e c) para as nações gentias (Gn 12.3).
  1. Havia uma promessa de bênçãos para aqueles indivíduos e nações que abençoassem os descendentes de Abrião, e uma maldição sobre aqueles que perseguissem os judeus (Gn 12.3; Mt 25.31-46). Consequentemente esta dispensação tem diversas aplicações. Para os gentios daquele período, a aplicação direta é pequena e diferente do teste implícito em Gn 12.3 e ilustrada pela bênção ou juízo de Deus sobre os indivíduos (Faraó, Gn 12.17; Abimeleque, Gn 20.3,17, etc.), ou nações (por exemplo, o Egito, Gn 47 a 50; Êx 1 a 15) que trataram bem ou mal Abrão e seus descendentes.

Observe:

No prosseguimento desta mordomia da verdade através dos séculos, os crentes da Igreja são convocados a confiar em Deus como Abrão confiou (Rm 4.11,16, 23-25; Gl 3.6-9), e assim receber as bênçãos da aliança que inaugurou a dispensação da Promessa.

As promessas de Deus a Abrão e sua semente certamente não terminaram no Sinai com a concessão da lei (Gl 3.17). Tanto o Velho como o Novo Testamento estão cheios de promessas pós-sináiticas referentes a Israel e à terra que será a possessão etema de Israel (por exemplo, Ex 32.13; 33.1-3; Lv 23.10; 25.2; 26.6; Dt 6.1-23; 8.1-18; Js 1.2,11; 24.13; At 7.17; Rm 9.4). Mas como teste específico da mordomia de Israel para com a verdade divina, a dispensação da Promessa foi suplantada, embora não anulada, pela lei que foi dada no Sinai (Ex 19.3 e segs.).


Quinta Dispensação: Lei

No terceiro mês da saída dos filhos de Israel da terra do Egito, no primeiro dia desse mês, vieram ao deserto do Sinai” (Êx 19.1).

Esta dispensação começa com a concessão da lei no Sinal e terminou como período de tempo com a morte sacrificial de Cristo, que cumpriu todas as suas provisões e tipos. Na dispensação anterior, Abraão, Isaque e Jacó, como também as multidões de outros indivíduos, falharam nos testes da fé e obediência que eram da responsabilidade do homem (por exemplo, Gn 16.1-4; 26.6-10, 27.1-25). O Egito também falhou em atender a advertência de Deus (Gn 12.3) e foi julgado. Não obstante Deus providenciou um libertador Moisés), um sacrifício (o cordeiro pascal) e o poder milagroso para tirar os israelitas do Egito (as pragas do Egito; livramento no Mar Vermelho).

Os israelitas, como resultado de suas transgressões (Gl 3.19), foram agora colocados sob a disciplina precisa da lei. A lei ensina:

  1. a santidade espantosa de Deus (Ex 19.10-25);

  2. a horrível hediondez do pecado (Rm 7.13; 1Tm 1.8-10);

  3. a necessidade da obediência (Jr 7.23-24);

  4. a universalidade do fracasso humano (Rm 3.19-20); e a maravilha da graça de Deus em providenciar um caminho até Ele através do sacrifício típico, antevendo um Salvador que viria a ser o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29), conforme "o testemunho da lei" (Rm 3.21).

A lei não alterou as provisões nem revogou a promessa de Deus dada na Aliança Abraâmica. Não foi concedida como um modo de vida (isto é, um meio de justificação, At 15.10-11; GI 2.16,21; 3.3-9,14,17,21,24-25), mas uma regra de vida para um povo já dentro da aliança de Abraão e coberto pelo sangue do sacrifício, isto é, do cordeiro pascal, etc. Um dos seus propósitos foi o de esclarecer a pureza e santidade que deveria caracterizar a vida de um povo, cuja lei seria ao mesmo tempo a lei de Deus (Ex 19.5-6).

Daí, a função da lei em relação a Israel foi de restrição disciplinar e corretiva, como aquela exercida sobre os filhos gregos e romanos pelo escravo ou tutor de confiança da casa (Gl 3.24 traduzido para "aio") para manter Israel sob controle para o seu próprio bem (Dt 6.24):

  1. Αté que Cristo viesse (Cristo é realmente o nosso Tutor, pois a graça que nos salva também nos ensina, Gl 3.24; Tt 2.11-12); e
  2. até que a ocasião designada pelo Pai para os herdeiros (filhos da promessa) serem removidos da condição de menoridade legal para os privilégios de herdeiros que atingiram a maioridade (Gl 4.1-3). Isto Deus fez enviando o Seu Filho, e agora, os crentes estão na posição de filhos na casa do Pai (Gl 3.26; 4.4-7).

Mas Israel interpretou mal o propósito da lei (1Tm 1.8-10), buscando a justiça através de boas obras e ordenanças cerimoniais (At 15.1; Rm 9.31-10.3), e rejeitou o seu próprio Messias (Jo 1.10-11). A história de Israel no deserto, na terra e dispersos entre as nações, tem sido um registro longo de transgressão da lei.


Sexta Dispensação: Igreja ou graça

Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;” (At 2.1).

Uma nova era foi anunciada por nosso Senhor Jesus Cristo em Mt 12.47 a 13.52. A Igreja foi claramente profetizada por Ele em Mt 16.18 (comp. Mt 18.15-19), comprada pelo derramamento do Seu sangue no Calvário (Rm 3.24-25; 1Co 6.20; 1Pe 1.18-19), e constituída como Igreja depois de Sua ressurreição e ascensão no Pentecostes quando, de acordo com a Sua promessa (At 1.5), os crentes foram pela primeira vez batizados individualmente com o Espírito Santo em um organismo espiritual unificado, semelhante a um corpo do qual Cristo é a Cabeça (1Co 12.12-13; Cl 2.19). Por causa da ênfase dada ao Espírito Santo, esta dispensação também tem sido chamada "dispensação do Espírito".

O ponto de prova desta dispensação é o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, a mensagem das boas novas sobre a Sua morte e ressurreição (Jo 19.30; At 4.12; 1Co 15.3-5, 2Co 5.21 etc.). A contínua e cumulativa revelação das dispensações anteriores combina com esta revelação mais completa para enfatizar a total iniquidade e perdição do homem, e a suficiência da obra historicamente completa de Cristo para salvar, pela graça, mediante a fé, a todos os que vem a Deus por Ele (Jo 14.6; At 10.43; 13.38-39; Rm 3.21-26; Ef 2.8-9; 1Tm 4.10; Hb 10.12-14; 11.6). Quando aqueles indivíduos salvos que compõem a verdadeira Igreja de Cristo cumprem as ordens do seu Senhor de pregar o Evangelho até os confins da terra (Mc 16.15; Lc 24.46-48; At 1.8), Deus está formando, durante esta dispensação, "um povo para o seu nome" (At 15.14) dentre os judeus e os gentios, chamado de "a Igreja" e portanto especialmente distinto dos judeus e gentios como tais (1Co 10.32; Gl 3.27-28; Ef 2.11-18; 3.5-6).


O Senhor Jesus advertiu que durante todo o período, enquanto a Igreja estiver sendo formada pelo Espírito Santo, muitos rejeitarão o Seu Evangelho e muitos outros pretenderão crer nEle e se tornarão uma fonte de corrupção espiritual e impedimento para o Seu propósito nesta dispensação, na igreja professa. Estes produzirão a apostasia, particularmente nos últimos dias (Mt 13.24-30, 36-40,47-49; 2Ts 2.5-8; 1Tm 4.1-2; 2Tm 3.1; 4.3-4; 2Pe 2. 1-2; 1Jo 2.18-20).
A Dispensação da Igreja chegará ao fim através de uma série de acontecimentos profetizados, o principal dos quais será:

1) A trasladação da verdadeira Igreja da terra para encontrar o Senhor nos ares em um momento conhecido por Deus mas não revelado aos homens, e sempre mantido diante dos crentes como uma esperança iminente e feliz, encorajando-os no serviço do amor e na santidade de vida. Este acontecimento geralmente é chamado de "arrebatamento" (veja 1Ts 4.17). 

2) Os juízos da septuagésima semana de Daniel, chamados de "a tribulação" (veja Ap 714) que cairão sobre a humanidade em geral, mas incluirão a parte não salva da igreja professa, que terá apostatado e por isso será deixada para trás sobre a terra, quando a verdadeira Igreja for trasladada para o céu. Esta forma final da Igreja apóstata está descrita em Ap 17 como "a meretriz que primeiro vai "montar" o poder político ("besta"), apenas para ser derrotada e absorvi da por esse poder (comp. Ap. 18:2, nota). E 

3) a volta do Senhor Jesus do céu à terra em poder e glória, trazendo com Ele a Sua Igreja, para estabelecer o Seu reino milenial de justiça e paz (veja Ap 19.11 e 17).


Sétima Dispensação: Reino

Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 20.4).

Esta é a última das dispensações ordenadas que condicionam a vida humana na terra. É o Reino da Aliança feita a Davi (2Sm 7.8-17..., Zc 12.8..., Lc 1.31-33; 1Co 15.24...). O Filho maior de Davi, o Senhor Jesus Cristo, reinará sobre a terra como Rei dos reis e Senhor dos senhores por 1.000 anos, associando consigo mesmo naquele Reino, os Seus santos de todas as dispensações (Ap 3.21; 5.9-10; 11.15-18; 15.3-4; 19.16; 20.4,6).

A Dispensação do Reino une dentro de si mesmo e debaixo de Cristo as várias "épocas" mencionadas na Escritura:

  • 1) O período de opressão e desgoverno termina quando Cristo estabelece o Seu reino (Is 11.3-4).
  • 2) O período de testemunho e paciência divina termina em julgamento (Mt 25.31-46; At 17.30-31; Ap 20.7-15). 
  • 3) O período de luta termina em repouso e recompensa (2Ts 1.6-7). 
  • 4) O período de sofrimento termina em glória (Rm 8.17-18).
  • 5) O período da cegueira e castigo de Israel termina em restauração e conversão (Ez 39.25-29; Rm 11.25-27).
  • 6) O tempo dos gentios termina no desmoronamento da imagem e no estabelecimento do reino dos céus (Dn 2.34-35; Ap 19.15-21). E
  • 7) O período da escravidão da criação termina em livramento e manifestação dos filhos de Deus (Gn 3.17; Is 11.6-8; Rm 8.19-21).

No final dos mil anos, Satanás é solto por um pequeno período e instiga uma rebelião final que é sumariamente abafada pelo Senhor. Cristo lança Satanás no lago de fogo para ser eternamente atormentado, derrota o último inimigo a morte e então entrega o reino ao Pai (veja 1 Co 15.24…)


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Veja também o comentário feito no vídeo a seguir:



Notas / Referências bibliográficas:


  • [1] Mapa das dispensações. Imagem ilustrativa. Disponível em: <https://pt.linkedin.com/pulse/7-dispensa%C3%A7%C3%B5es-b%C3%ADblicas-alexander-guedes-de-souza>. Acesso em: 23/09/2024.
  • [2] Sobre a interpretação dispensacionalista das Escrituras, veja também: O que é o Dispensacionalismo?...In: <https://www.gotquestions.org/Portugues/dispensacionalismo.html>. Acesso em: 23/09/2024.
  • [3] SCOFIELD, Dr. C. I. Referências e Anotações. In: A Bíblia Sagrada. São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil: 1987. Texto e abreviaturas das referências adaptados.
  • [4] As referências bíblicas que servem de introdução a cada dispensação são da versão ARA (Almeida Revista e Atualizada). Mas para efeito de praticidade, utilizei as do Portal Bíblia Online: <https://www.bibliaonline.com.br/ara>.



















































































































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10 de julho de 2024

Empirismo: algumas considerações filosófico-teológicas

Por: Alcides Amorim


Já escrevi alguns posts sobre o racionalismo, corrente de pensamento que se desenvolveu na Europa continental, e fiz algumas observações filosófico-teológicas sobre os principais racionalistas: Descartes, Spinoza, Leibniz e Pascal. Agora, queremos escrever um pouco também sobre o empirismo, movimento que se desenvolveu na Grã-Bretanha (Reno Unido): Locke (Inglês), Berkeley (irlandês) e Hume (escocês).

O que diferenciava racionalistas e empiristas, eram as ideias inatas, defendidas pelos primeiros. Para os racionalistas, as ideias inatas são aquelas que são os verdadeiros atributos da mente humana, que foram dadas à mente por Deus. Sendo assim essas ideias "puras” são conhecidas a prori por todos os seres humanos e, portanto, são cridas por todos. Elas eram de importância decisiva para os racionalistas, de modo que usualmente se sustinha que essas ideias eram a condição prévia para a aprendizagem de fatos adicionais. Os empiristas, ao contrário, argumentavam que o conteúdo das ideias chamadas inatas na verdade era aprendido através da experiência das pessoas, embora elas talvez tenham refletido pouco sobre isso. Dessa maneira, aprendemos vastas quantidades de conhecimento através da nossa família, educação e sociedade, que surge bem cedo na vida e que não pode ser contado como inato.

Em especial, os empiristas do século XVIII preocupavam-se principalmente com os problemas do conhecimento. Em contraste com os racionalistas que procuravam erigir sistemas filosóficos por meio de raciocinar com base em verdades alegadamente evidentes em si mesmas, os empiristas ressaltavam o papel que a experiência desempenhava no conhecimento. Argumentavam que não temos ideia alguma senão aquelas que derivam da experiência que vem a nós através dos sentidos. Declarações (a não ser aquelas da lógica pura) somente podem ser conhecidas como sendo verdadeiras ou falsas por meio de testá-las na experiência.

Teologicamente falando, podemos afirmar que os racionalistas não eram agnósticos, céticos ou ateus, embora não alinhado com o verdadeiro ensino das Escrituras. Mas dos empiristas pode-se dizer o mesmo? Vejamos:

Bem, Colin Brown [1] entende que não “… seria correto estigmatizar o movimento como sendo inflexivelmente agnóstico”. Hume era um cético, enquanto Locke era um homem de fé sincera e Berkeley era um bispo anglicano. “Mesmo assim, pensa-se geralmente que o movimento fez uma contribuição considerável ao avanço geral do agnosticismo moderno...”, Na verdade, aplicar o método experimental mesmo em matéria de fé, não necessariamente torna a pessoa um agnóstico ou ateu. Entendemos que é possível ser empirista e cristão ao mesmo tempo.

Teologicamente, porém, é necessário fazer algumas ponderações entre empirismo e fé cristã. David A. Rausch [2] afirma que o problema radical com qualquer forma de empirismo é o do relacionamento entre qualquer exposição concernente à experiência e os dados fatuais ou empíricos. Envolve o relacionamento entre experiências e os “significados” pelos quais as experiências podem ser conceptualizadas, articuladas e comunicadas. Visto poder haver uma variedade de interpretações daquilo que se constitui uma experiência, qualquer apelo à experiência como o único árbitro do significado e da relevância é problemático. Semelhante apelo depende totalmente de qual interpretação da experiência a pessoa aplica. Este problema destacou-se especialmente quando os positivistas lógicos procuravam construir uma abordagem unificada para todas as áreas do conhecimento e da ciência. Esta tentativa fracassou, porque os positivistas lógicos não conseguiram impedir que as interpretações teóricas entrassem na sua linguagem de "observação".

O empirismo tem sido aplicado à teologia de várias maneiras. Hume acreditava que se devia estudar a religião de modo científico, porque nada havia de único e sem igual na experiência religiosa. Friedrich Schleiermacher, por outro lado, acreditava que a experiência religiosa era sem igual, e cria que a teologia somente poderia fornecer símbolos para descrever a grande diversidade de experiências religiosas do homem. Cada homem, portanto, precisa ter uma descrição particular dos seus sentimentos, uma teologia individual. Algumas pessoas sugeririam que Schleiermacher é a fonte de todas as teorias da "experiência religiosa" que estão em voga hoje. Os teólogos liberais do fim do século XIX e do início do século XX aplicaram à religião o método científico, procurando reconstruir a fé cristã de acordo com as conclusões "modernas" da ciência. Por isso, um modo cristão apropriado de compreender o mundo e o seu progresso exigiria o método empírico. Este desejo de harmonizar a fé cristã com o método empírico da ciência não é meramente um fenômeno liberal moderno, mas também pode ser achado nas teologias naturais do século XVIII de escritores conservadores, tais como William Paley e Bispo Butler. Alguns conservadores modernos, tais como John Warwick Montgomery, têm continuado esta tendência.

Para concluir, deixo o vídeo (veja este link) do Pr. Anderson Porto, que refuta biblicamente o empirismo. Este nega a fé ao defender que todo o “conhecimento resulta da experiência, das sensações, dos sentidos…”. Neste sentido, Tomé, apóstolo de Cristo, era também um empirista, pois só acreditava no que via e no que suas mãos tocassem. Mas a fé vai além da experiência, daquilo que é palpável…

E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram (João 20.26-29).



Notas / Referências bibliográficas:

  • [1BROWN, Colin. Filosofia e Fé Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1985, pág. 44.

  • [2] RAUSCH, David A. Empirismo, Teologia Empírica. In: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. II. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág. 20 e 21.