Por Alcides Amorim
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Já vimos em alguns posts a relação (pró ou
contra) entre a posição de alguns filósofos e a da Bíblia. Marx, que
defendeu que vivemos em um mundo onde tudo é material, não havendo o
sobrenatural, abolindo as noções espirituais e o transcendente é um exemplo de posição
que faz oposição a Deus, por ser contrário a qualquer crença e/ou objeto de fé.
Enquanto outros como Descartes, Berkeley, Locke, Pascal e outros, são exemplos de pensadores
racionais, mas que também tinham fé.
Onde entra o solipsismo neste contexto? No
ponto em que, diferentemente dos filósofos que embora racionais eram também
crentes num Ser sobrenatural (Deus) o solipsismo, embora seja fruto de reflexões
filosóficas, entra em choque tanto com o racionalismo quanto com a fé
cristão/bíblica.
Vimos que Descartes, ao duvidar de tudo no Discurso do Método e nas Meditações, chega à certeza do próprio pensamento — “Cogito,
ergo sum” (“Penso, logo existo”). Descartes, aparentemente parte do solipsismo,
através de sua dúvida radical “cogito – penso”, mas ele não para aí. Ele usa
essa certeza como ponto de partida para reconstruir o conhecimento e provar: a
existência de Deus e a existência do mundo externo, garantida pela veracidade
divina, enquanto o solipsismo fica apenas com o “Cogito. O solipsista não
aceita nenhuma prova da existência de Deus nem do mundo, ficando preso apenas
ao próprio pensamento.
Bem, Ministério Got Questions [2] afirma que o solipsismo é a crença de que é incerta a existência de qualquer
coisa que não seja a própria mente. Isso pode envolver desde o ceticismo em
relação aos sentidos e às experiências da pessoa até a crença de que qualquer
coisa fora da mente é inexistente. Como acontece com qualquer visão filosófica
abstrata, ela tem milhares de variedades e aplicações diferentes. Versões
variadas de solipsismo têm sido aplicadas a visões de mundo cristãs, ateístas e
panteístas, e a tudo o que está entre elas.
De um ponto de vista direto, a Bíblia não
sugere nada parecido com o solipsismo. Diz-se que Deus criou (Gênesis
1:1; João 1:1-3), e diz-se que essa criação mudou (Gênesis 1:2-3) e mudará
novamente (Apocalipse 21:1-2). Essa realidade é descrita como tendo partes
diferentes e distintas (Gênesis 1:4-7). Da mesma forma, os seres humanos são
chamados a responder às nossas experiências como um meio de realizar a vontade
de Deus (Romanos 1:20; Mateus 11:21-23). Uma pessoa que defende pontos de
vista solipsistas precisa interpretar essas ideias de uma forma altamente
metafórica, o que não é natural para o texto. Essa visão da realidade ou das
Escrituras tampouco é sugerida nos escritos dos primeiros Pais da Igreja.
Além disso, o solipsismo deve ser diferenciado
do ceticismo geral e da verificação de fatos. A Bíblia incentiva um ceticismo
cauteloso (Atos 17:11), especialmente com relação a ideias espirituais (1 João
4:1). A simples consciência de que somos falíveis e de que precisamos verificar
novamente nossas experiências não é solipsismo. O verdadeiro solipsismo, de
fato, não pode ser conectado às nossas experiências de forma alguma.
O solipsismo corrói qualquer lógica ou
evidência que possa apoiar a realidade da experiência. Se nossas experiências
são artificiais, imaginárias ou falsas, então qualquer experiência que possa
nos levar a acreditar no solipsismo pode fazer parte da ilusão e, portanto, não
ser confiável. Ao mesmo tempo, qualquer experiência que possa nos levar a
duvidar do solipsismo pode ser descartada pelo mesmo motivo. Como resultado, o
solipsismo não é provado nem contradito por nenhuma experiência possível – o que
significa que o solipsismo como filosofia é praticamente sem sentido. A ideia é
tanto infalsificável quanto inverificável. Verdadeira ou falsa, não podemos
conhecê-la ou refutá-la e, portanto, não podemos tomar nenhuma decisão
significativa sobre ela.
Esse é um dos motivos pelos quais o solipsismo
e os argumentos que o implicam são geralmente considerados becos sem saída em
discussões filosóficas. Ou seja, a introdução do solipsismo torna a conversa
sem sentido. Assim que alguém argumenta que nossas experiências – em um nível
fundamental – não são confiáveis, ficamos incapazes de saber qualquer coisa.
Isso não é apenas contrário à forma como vivenciamos a vida, mas também torna
toda a razão e experiência inúteis. O solipsismo se enquadra na categoria de
ideias que são interessantes, mas nas quais não vale a pena se aprofundar (Colossenses
2:8; Tito 3:9).
Para algumas pessoas, o solipsismo é
preocupante porque é um conceito difícil de abandonar. Se não se pode confiar
em nossos próprios sentidos e experiências, o que isso significa para nossos
relacionamentos, nossa ciência ou nossa religião? A solução para essa angústia
é perceber como o solipsismo é impraticável. Ou seja, a crença no solipsismo
não pode ser vivida de forma significativa. Tampouco pode ser provada ou
refutada por quaisquer experiências ou evidências possíveis. Para se libertar
da preocupação com o solipsismo, é preciso perceber que se trata de uma
abstração pura, sem aplicação prática...
Uma metáfora simples para o fato de estar preso
a um pensamento solipsista é a música infantil "The Song That Never
Ends" (A Canção Que Nunca Acaba), cuja letra é a seguinte:
Essa é a música que nunca termina. / Sim,
ela continua e continua, meus amigos. / Algumas pessoas começaram a cantá-la
sem saber o que era. / E continuarão a cantá-la para sempre, só porque...
(repetir do início ad nauseam).
Se você aceitar a afirmação da música (de que
precisa continuar cantando), ficará preso no ciclo para sempre, como diz a
música. Mas se alguém perguntar por que você está sempre cantando, a única
razão que você pode dar é: "porque a música diz isso"! A solução é
perceber que, além da música em si, não há absolutamente nenhum motivo para
continuar cantando. Você não foi obrigado a começar e não é obrigado a
continuar - a menos que decida arbitrariamente que deve obedecer à música por
algum motivo.
O solipsismo funciona da mesma forma em nossa
mente. Se quiséssemos, poderíamos considerar tudo o que vivenciamos como fruto
de nossa imaginação, inclusive todos os sinais em contrário. Mas teríamos que
fazer o mesmo com todos os sinais que apontassem para o solipsismo em primeiro
lugar. E, de qualquer forma, não temos motivos tangíveis para pensar que isso é
verdade. Como na canção infantil, é bem possível que fiquemos presos à ideia,
mas não há absolutamente nada que sugira que façamos isso, a não ser a própria
ideia.
Em suma, um resumo feito, via Chat Gpt [3],
comparando o solipsismo com a fé cristã apresenta:
Questão Solipsismo Fé Cristã
Portanto, diferentemente da música infantil citada acima que propõe ficarmos presos à ideia, a fé cristã supera o solipsismo ao transformar a interioridade em porta de acesso ao divino (Deus), não em prisão do sujeito. Veja, também, para concluir, este vídeo do Brendo Silva, sobre o assunto:
Notas / Referências bibliográficas:
- [1] “Solipsismo e Fé Cristã: dois caminhos do eu: À esquerda, vemos o solipsismo: um ‘eu’ fechado em si mesmo, isolado, cercado por muros invisíveis. Para o solipsista, apenas sua própria mente é real – o mundo e os outros podem ser apenas projeções da consciência. É uma solidão metafísica: o universo reduzido ao ‘eu penso’. À direita, À direita, a fé cristã: um ‘eu’ aberto, confiante, que se volta a Deus e ao mundo. A cruz e a Terra simbolizam a comunhão – Deus é o fundamento da realidade, e cada pessoa é chamada ao amor e à relação” (Imagem e legenda ilustrativas sugeridas e feitas pelo ChatGpt. In: https://chatgpt.com/c/69092191-8fb4-8332-95ab-2b0e60eaf2de. Acesso em: 06/11/2025.
- [2] O que é o solipsismo? Disponível em: In: https://www.gotquestions.org/Portugues/solipsismo.html. Acesso em: 06/11/2025
- [3] O que é o solipsismo? In: https://chatgpt.com/c/69092191-8fb4-8332-95ab-2b0e60eaf2de. Acesso em: 06/11/2025.
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