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02 setembro 2024

Evangélicos liberais, fundamentalistas e conservadores

Por: Alcides Amorim

Eu sou cristão desde pequeno, católico até março de 1980 e protestante a partir de então. Já em março daquele ano (1980), quando comecei minha nova vida espiritual, sabia que entre os chamados evangélicos ou crentes, ou ainda protestantes..., há vários segmentos teológicos e/ou ideológicos: tradicionais, pentecostais e neopentecostais (este último estava no começo na época). Mas há também outras divisões, entre os quais podemos afirmar que incluem parte dos três grupos acima citados, que são – em resumo – os liberais, os fundamentalistas e os conservadores.

igreja – Assembleia de Deus – da qual passei a fazer parte, em 1980, é fundamentalista. Lembro-me de que numa sala de aula de Teologia, acho que em 1981, um dos nossos professores disse aos alunos – maioria assembleianos – presentes, mais ou menos estas palavras que ficaram gravadas em minha mente: somos protestantes (porque somos herdeiros da Reforma); dispensacionalistas (porque acreditamos que Deus trata com o homem por períodos de tempo, abrangendo alianças e provas), pré-tribulacionistas (pois acreditamos que a Igreja será arrebatada antes da Grande Tribulação) e pré-milenistas (porque acreditamos que Jesus virá à Terra antes de um período de mil anos – literalmente – para governar). Pretendemos estudar rapidamente cada um destes dogmas, mas por ora, quero apenas destacar as três linhas ideológicas que envolvem a comunidade evangélica como um todo, destacando também, o papel dos conservadores na política brasileira.

1. Evangélicos liberais

Por muito tempo, depois da Reforma e Contrarreforma do século XVI, até o século XIX, havia duas grandes divisões no Cristianismo ocidental: católicos e protestantes. Estes últimos foram os que mais se ramificaram (subdividiram) em várias igrejas e impactaram cultural e politicamente a sociedade europeia e estadunidense.

O liberalismo, também chamado de “modernismo”, corresponde à grande mudança no pensamento teológico, alcançando seu ápi’ce principalmente entre meados do século XIX e a primeira guerra mundial. “Os desafios intelectuais que o século XIX apresentou ao cristianismo foram enormes, e tanto o protestantismo como o catolicismo viram-se obrigados a lhes responder(GONZÁLEZ [1]). O liberalismo teológico foi uma tentativa de resposta a estes desafios, procurando adaptar as ideias religiosas cristãs à cultura e formas de pensar da época. Uma vez que o mundo não era mais o mesmo dos tempos da Bíblia e dos credos, era preciso repensar a fé e transmiti-la em termos que possam ser compreendidos hoje. A Revolução Industrial, que afetou não só a economia, mas também todos os aspectos da vida; o Evolucionismo de Darwin, que levou os cristãos, senão a se tornarem ateus, pelo menos a pensarem num Deus imanente que edificou o universo lentamente e pôs em descrédito a narrativa do Gênesis; o processo científico em geral foi aplicado à teologia e à crítica bíblica e pôs em cheque os dogmas cristãos... Como enfatizei nesta minha monografia, [2neste período, as correntes do pensamento liberal, foram notáveis

em todos os aspectos da vida, como migrações, principalmente rurais, rompimento dos laços de família, crescente individualismo e egocentrismo (o tema do ‘eu’) que passou a ocupar a literatura da época. O olhar para o futuro, sob a ideia do progresso, contrariava a forma de pesquisa que adotava até então. Até pouco antes, a opinião mais comum era de que as ideias eram certas quanto mais antigas fossem. Agora, muitos dos intelectuais que enfatizavam o ‘futuro’, motivado pelo progresso, em detrimento do passado, vão pôr em dúvida o que se tem dito até então, em matéria de ‘verdades’ histórica e religiosa. E neste sentido, a ‘Teoria da Evolução, de Darwin, é uma expressão dessa confiança no progresso’. Progresso este, teorizado por Augusto Comte, fundador da Sociologia Moderna, que seguia as etapas da ‘… ‘teológica’ à ‘metafísica’, e desta à ‘científica’. (...) No campo religioso, estes estudos, aplicados à Bíblia, produziram fortes abalos e extensos debates”. E nos Estados Unidos, a teoria de Darwin e outras também de relevância defesa do progresso, repercutiram em forma de ‘teologia liberal’ que tentava ‘… harmonizar o cristianismo com a modernidade, caso contrário, a fé cristã se tornaria uma religião irrelevante e sem sentido nos tempos modernos’. Apesar de não ter sido um ‘movimento monolítico’ o liberalismo foi considerado uma ameaça à fé cristã, e exigiu uma resposta da ‘ala conservadora’ de reação ‘antiliberal’, que defendia os ‘fundamentos da fé’ (Nota 2: item 5.2).

E para destacar os principais ensinos do liberalismo quero aproveitar também parte de uma das fontes utilizadas em minha monografia, o texto de Osiel Lourenço de Carvalho [3]:

  • “A aceitação das teorias das ciências da natureza como a teoria da evolução de Charles Darwin.
  • O uso da alta e baixa crítica na interpretação da Bíblia.
  • O reconhecimento da influência de povos vizinhos de Israel na constituição da religião judaica.
  • A ênfase em Deus como amor, em lugar de sua figura de juiz da humanidade.
  • A presença, em cada pessoa, de uma centelha divina, proporcionando uma visão otimista quanto à sua identidade e futuro.
  • A teoria da revelação progressiva, com a influência dos fatores naturais, econômicos e políticos.
  • Jesus mais que um salvador da humanidade, é exemplo de plenitude das potencialidades humanas.
  • A Bíblia é um testemunho da experiência religiosa de Israel e da igreja em seus primeiros anos.
  • As doutrinas e dogmas das igrejas devem ser substituídos pela experiência religiosa de cada indivíduo.”

Como Pierard [4] afirma, “… a Primeira Guerra Mundial esmagou o otimismo inebriante que era o seu patrimônio principal, enquanto os conservadores contra-atacavam…” e “… já na década de 1960, a maioria dos liberais tinha abandonado o otimismo humanista, o imanentismo cultural progressivo e o sonho de um reino terrestre, sem, contudo, ceder terreno quanto à sua interpretação não-literal da Bíblia.” O certo é que a corrente protestante liberal não morreu e continua dividindo espaços com fundamentalistas e conservadores nos dias atuais. 

Sobre este assunto, veja também: O que é teologia liberal.


2. Evangélicos fundamentalistas

Como vimos acima, o fundamentalismo ganhou força após a primeira guerra mundial. Mas, como teoria ou linha ideológica/teológica, remonta até 1886, quando foi fundado o Moody Bibble Institute pelo evangelista norte-americano D. L. Moody, em Chicago, com o objetivo de combater a alta crítica e o avanço do liberalismo. Além deste seminário, já havia também, desde 1812, o Seminário Teológico de Princeton, de Nova Jérsei (EUA). Segundo o Portal Got Questions [5], “… 97 líderes de igrejas conservadoras de todo o mundo ocidental foram comissionados a escrever 12 volumes sobre os princípios básicos da fé cristã. Eles então publicaram esses escritos e distribuíram mais de 300.000 cópias gratuitamente para ministros e outros envolvidos na liderança da igreja. Os livros foram intitulados Os Fundamentos, e ainda existem hoje como um conjunto de dois volumes.”

Destacaram-se na formalização do Fundamentalismo, final do século XIX e início do século XX, alguns líderes cristãos, como John Nelson Darby, Dwight L. Moody, BB Warfield, Billy Sunday e outros, que estavam preocupados com o fato de que os valores morais estavam sendo corroídos pelo Modernismo ou liberalismo. Esta crença, segundo eles, estava centrada no homem e não em Deus. Seus adeptos, além da influência do Modernismo, era preciso lutar também contra o movimento alemão de alta crítica, o qual buscou negar a inerrância das Escrituras.

O Fundamentalismo é construído em cinco princípios da fé cristã, embora haja muito mais para o movimento do que a adesão a estes princípios [6]:

  • A Bíblia é literalmente verdadeira. Associada a este princípio é a crença de que a Bíblia é infalível, isto é, sem erro e livre de contradições.
  • O nascimento virginal e a divindade de Cristo. Os fundamentalistas acreditam que Jesus nasceu da Virgem Maria, foi concebido pelo Espírito Santo e era e é o Filho de Deus, plenamente humano e divino.
  • A expiação substitutiva de Jesus Cristo na cruz. O Fundamentalismo ensina que a salvação é obtida somente através da graça de Deus e a fé humana na crucificação de Cristo para os pecados da humanidade.
  • A ressurreição corporal de Jesus. No terceiro dia após a sua crucificação, Jesus ressuscitou dos mortos e agora está assentado à direita de Deus Pai.
  • A autenticidade dos milagres de Jesus como registrados nas Escrituras e a literal e pré-milenar segunda vinda de Cristo à Terra.

Diferentemente dos liberais, os fundamentalistas ensinam também, que os primeiros cinco livros da Bíblia foram escritos por Moisés; que a Igreja será arrebatada antes da tribulação do fim dos tempos e a maioria deles também é dispensacionalista (assunto do qual falaremos em outro momento).

Entendo que o fundamentalismo abrange tanto tradicionais quanto os pentecostais e neopentecostais. O fundamentalista exerce certa militância de sua religiosidade e se vê como guardião da verdade, normalmente excluindo a interpretação bíblica dos outros e gerando atritos com os mesmos, isto é, com outros segmentos religiosos.

O Fundamentalismo foi uma resposta radical para a época que nasceu, uma vez que o mundo estava adotando o Modernismo, Liberalismo e o Darwinismo, e a própria igreja estava sendo invadida por falsos mestres. Ele foi uma reação contra a perda do ensino bíblico, mas depois, começou a se fragmentar e se reorientar. “O grupo mais proeminente e vocal nos EUA [por exemplo] tem sido a Direita Cristã. Este grupo de autodenominados fundamentalistas tem sido mais envolvido em movimentos políticos que a maioria dos outros grupos religiosos. Na década de 1990, grupos como a Coalizão Cristã e Conselho de Pesquisa da Família têm influenciado a política e questões culturais. Hoje, o Fundamentalismo vive em vários grupos evangélicos, como a Convenção Batista do Sul. Juntos, esses grupos afirmam ter mais de 30 milhões de seguidores” (Idem). E como dissemos aqui, o fundamentalismo norte-americano chegou ao Brasil, no início do século XIX, como parte do “Destino Manifesto” protestante que se transformou no modelo do “Protestantismo de Missão”. Aqui, este modelo de protestantismo vai se firmar através de um “fundamentalismo” anticatólico e de muita pouca aproximação com a cultura brasileira, dificultando, desta forma, uma aproximação com pessoas de outros credos, mediante o diálogo sadio e amigável com estes grupos.

Os fundamentos são princípios de defesa do verdadeiro cristianismo, mas sua ênfase na inerrância da Bíblia, inclusive de sua escrita (letra-por-letra) fazem com que seus defensores, os fundamentalistas, sejam vistos como extremistas radicais, pessoas que, inclusive, idolatram a Bíblia. E assim, são criticados tanto por cristãos protestantes liberais, católicos e não-cristãos. Na verdade, os fundamentalistas têm uma característica evidente: “A convicção de que possuem o conhecimento absoluto da verdade, da qual se tornaram guardiões divinamente ordenados” (Lloyd Geering. In: Movimento Batistas por princípios – ver Nota 7). Teólogos conservadores como Alister McGrath afirmam que o movimento fundamentalista prejudicou a teologia acadêmica e o consequente debate com os liberais. Além disso, para ele, “… o surgimento do fundamentalismo causou impacto sobre o compromisso evangélico com a erudição em geral”. E no seu “… afã de se identificarem como detentores da verdade e paladinos da defesa do cristianismo, prejudicaram a integralização entre evangélicos e universidades” (Idem). O contraponto entre o radicalismo fundamentalista e a frouxidão (ou descuido com a pureza do verdadeiro Evangelho) do liberalismo pode ser visto, portanto, com a posição do conservadorismo, do qual falaremos a seguir...


3. Evangélicos conservadores

Voltando ao que falei no início, sobre a Igreja Assembleia de Deus, como sendo fundamentalista, alguns anos depois, esta posição já havia mudado bastante, e, num outro momento, lembro-me de que outro professor de teologia disse que esta igreja é literalista – interpreta a Bíblia de forma literal –, mas não fundamentalista. Eu fui membro daquela Assembleia em São Paulo, por 37 anos (há várias assembleias e cada uma com peculiaridades próprias), mas na verdade, sempre me considerei um “batisbleiano” (mistura de batista com assembleiano), portanto um fundamentalista por princípio, até certo ponto, mas convivi muito bem com outros que pensavam diferente. Em 2016, ao fazer um curso de pós numa faculdade batista, e ouvindo sobre muitas ressalvas e até críticas sobre o fundamentalismo – e isto num seminário tido como fundamentalista! –, resolvi estudar um pouco mais sobre o assunto, e escrevi o trabalho citado acima: “Fundamentalismo Protestante: dificuldades de interação e diálogo com a cultura brasileira”. Porém, embora eu reconheça esta dificuldade de interação com a cultura, vejo que o fundamentalismo defende pontos que são inegociáveis por serem verdades absolutas da Palavra de Deus. Por exemplo, mencionamos os cinco pontos de fé fundamentalista: a infalibilidade e inerência das Escrituras, a divindade de Cristo e seu nascimento virginal, a remissão dos pecados da humanidade pela crucificação de Jesus, a ressurreição corpórea de Jesus como um fato histórico e a volta iminente de Jesus à Terra. Eu acrescentaria também os cinco solas da Reforma: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Fide, Sola Gratia e Soli Deo Gloria. Estas são defesas também de conservadores. Ah, hoje, morando em Pindamonhangaba/SP e membro da Igreja da Cidade, com princípios batistas, continuo nesta mistura teológica de fundamentalismo com conservadorismo. Há alguma diferença? Para responder a esta pergunta, quero utilizar, na sequência, parte de um texto de um portal batista, bem sugestivo, a propósito: “Movimento Batistas por Princípios”, que afirma que:

embora fundamentalistas e conservadores tenham a mesma percepção quanto à ‘defesa’ da doutrina, há modos diferentes de entender como essa postura apologética é conduzida. Com os primeiros (fundamentalistas), o diálogo é quase nulo; com os segundos (conservadores), é possível dialogar porque estes já se deram conta há algum tempo que as coisas mudaram e o mundo não é mais como antigamente… o conceito ‘fundamentalismo’ é um termo que surgiu no contexto religioso protestante nos EUA, mas que já ultrapassou o âmbito protestante estadunidense há muito tempo, principalmente depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. O termo ficou popularizado e hoje pode ser visto sendo empregado não apenas no contexto religioso… Os conservadores passaram a se desvincular dos fundamentalistas por entender que a reflexão precisava acontecer e o recrudescimento a partir de posturas ferrenhamente antagônicas não contribuía para o debate com os liberais e, como consequência, com a sociedade. O que demonstra, que os conservadores procuraram o diálogo enquanto os fundamentalistas continuaram a se verem como os ‘únicos’ detentores de uma verdade que não abria para questionamentos… [7]

Bem, voltando à questão da “inerrância” ou “interpretação” da Bíblia Sagrada, vimos que os fundamentalistas afirmam de maneira peremptória sua inerrância, mas os conservadores preferem, ao invés disso, falar de sua “infalibilidade” “… em questões de doutrina e fé” (Júlio Zabatiero: Idem, Nota 7), considerando o contexto em que o texto foi escrito… Interessante que temos, dentre alguns teólogos bem conhecidos, aqueles que se identifica(ra)m como conservadores e não fundamentalistas, como: Billy Graham, John Stott, Isaltino Gomes Coelho Filho, Ebenézer Soares Ferreira, Irland Pereira de Azevedo etc. E os que são fundamentalistas sem serem conservadores, segundo o artigo a que estamos fazendo referência, são os que não aceitam “a diversidade” do modo de ser Batista. O éthos dos Batistas é ser conservador mas entende como a diversidade (ambos os lados são aceitos) é inerente ao seu sistema denominacional.

Conservadores e liberais na política

O conservadorismo se estendeu para fora do âmbito religioso e alcançou a política. De 2016 para cá, tornou-se muito comum ouvirmos falar de “direita conservadora” aqui no Brasil. O que isto quer dizer? Um pequeno livro do influencer evangélico Luiz Camargo, “Breve manual do cristão conservador” [8] trata de forma bem objetiva deste assunto. Itens que ele aborda como relação do conservadorismo com a direita do Brasil, liberais x conservadores, a Verdade, globalismo, aborto e outros, demonstram a influência do conservadorismo na política brasileira. Aliás, este conceito vai além do grupo dos evangélicos chegando inclusive a católicos, espíritas e até não-religiosos. Mas o que unem estas pessoas ou grupos? Um resumo pode ser:

  • O conservadorismo implica em preservar valores, costumes e tradições da cultura judaico-cristã. Portanto, se alguém é antissemitista, e anticristão, por exemplo, não pode ser considerado um conservador, ao passo que na sociedade, alguém que mesmo não sendo evangélico ou cristão, mas aceita os valores cristãos como moral, ética etc., conseguem conviver muito bem como conservadores. Percebo isto na lista de contatos (ou seguidores) nas redes sociais de grandes influenciadores (de direita conservadora) da internet, por exemplo.
  • Mesmo no aspecto político, os conservadores são contrários ao aborto, mudança de sexo, legalização das drogas, defendem a família tradicional (pai, mãe e filhos), a liberdade (de imprensa, expressão, comércio etc. – com base no livre-arbítrio das pessoas), a pouca intervenção do Estado na economia e na vida das pessoas, são pró-Israel (semitistas), defendem o Estado laico (não o laicismo) etc.

  • Como partidos considerados de esquerda não aceitam os valores dos conservadores, estes são considerados de direita no espectro político.

Então só existem conservadores de direita? Entendo que não há compatibilização entre os princípios que os conservadores defendem com os defendidos pela esquerda. É comum ouvirmos também de “liberais na economia e conservadores nos costumes”. Liberalismo, neste caso, é diferente do que vimos no sentido teológico acima. E o liberalismo, no sentido econômico, é comum também para conservadores. O certo é que, em geral, os conservadores buscam um governo que seja “… pautado pela prudência, por isso tem como premissa a preservação dos valores morais, religiosos e patrióticos tradicionais da civilização ocidental, que foram estabelecidos não por governos ou pensadores na tentativa de chegar a um objetivo previamente arquitetado, mas pelas relações livres dos indivíduos livres ao longo da história. [9]” Ao contrário da esquerda, o conservador não é revolucionário. Na verdade, é exatamente por meio da revolução que os membros da esquerda tentam destruir todo o alicerce da cultura ocidental preservado pelos conservadores através da história.

Evangélico e protestante são palavras sinônimas correspondentes a um mesmo segmento, mas subdividido, de cristãos não-católicos, que abrangem tradicionais, pentecostais e neopentecostais. Os liberais ainda estão presentes hoje, a maioria defendendo pautas da esquerda, presente em grande número dentro das igrejas, principalmente entre os evangélicos tradicionais e católicos. Mas no campo político, liberalismo não tem necessariamente relação com temas teológicos e morais. O conceito está restrito ao mercado. Muitos políticos liberais são ateus e até amoralistas. É comum, por exemplo, liberais defendendo aborto, drogas, pautas LGBT…, condenando Israel e assim por diante. Estes são, via de regra, bem-aceitos no campo político e nas instituições educacionais, já os fundamentalistas/conservadores – nesse caso, tratados como se fossem apenas um grupo, que pensam igualmente e defendem as mesmas pautas – são muitos criticados, vistos como radicais, retrógrados, terraplanistas, fascistas, extremistas, ultradireitistas, anticiência e às vezes tratados como cidadãos com menos direitos do que os demais. Conservadores são vistos como sinônimos de fundamentalistas, colocados num mesmo balaio, mas nos últimos anos, sua presença tem sido notória no campo político.

É sabido que no Brasil, a maioria é conservadora: não só de evangélicos, mas também de católicos e até outros grupos não-religiosos. Mas há algo preocupante, a meu ver, quando pesquisa como esta do Datafolha [10] aponta, por exemplo, que enquanto o número de “… evangélicos que se identifica com a direita, é proporcionalmente maior que o da média brasileira”, mas, por outro lado, entre os próprios evangélicos “...o número de evangélicos de direita é equivalente aos de esquerda”. Não quero aqui defender nem condenar nenhum dos lados, embora vejo que há uma certa tendência do cristão, ao escolher o lado da esquerda, absorver também suas pautas e viver uma espécie de “Evangelho Segundo Marx”, “Teologia da Libertação” etc. E, por este motivo, escolher governantes que também pensam e agem assim.

Para concluir, quero sugerir o vídeo abaixo, de Luiz Camargo, explicando a diferença, no campo político, entre conservadores e liberais.


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] GONZÁLEZ, Justo. Uma história ilustrada do Cristianismo: a era dos novos horizontes. São Paulo: Vida Nova, 2009. Apud: AMORIM, Nota 2.
  • [3] CARVALHO, Osiel Lourenço de. Fundamentalismo Protestante. In: SOUZA, Sandra Duarte (Org.). Fundamentalismos religiosos contemporâneos. São Paulo: Fonte Editorial: 2013, pág.52 e 53.
  • [4] PIERARD, R. V. Liberalismo Teológico. In: ELWELL, Walter. A. (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1988 (1ª Ed.), Pág. 428 e 429.
  • [6] Idem (texto adaptado).
  • [8] CAMARGO, Luiz. Breve manual do cristão conservador. Campinas/SP: Vide Editorial, 2022.
  • [9] Idem, pág. 23.
  • [10Datafolha: número de evangélicos de direita é equivalente aos de esquerda. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/pesquisa-eleitoral/noticia/2022/06/07/datafolha-numero-de-evangelicos-de-direita-e-equivalente-aos-de-esquerda.ghtml>. Acesso em: 28/08/2024.

26 agosto 2024

O Protoevangelho: breve análise de Gênesis 3.15

Por: Alcides Amorim


A primeira profecia: O Protoevangelium! [1] 


A palavra “salvação”, do grego σωτηρία (soteria), tem um significado bastante amplo como cura, remédio, recuperação, redenção, bem estar… No sentido especificamente espiritual, baseado, sobretudo no conceito neotestamentário, significa a libertação ou redenção do homem do poder do pecado, por intermédio da fé em Cristo, e o seu descanso eterno após a morte. A salvação também tem um tríplice aspecto temporal: passado, presente e futuro. É em relação ao aspecto passado, no chamado protoevangelho, descrito em Gênesis 3.15, isto é, a primeira vez que surge a ideia de evangelho e, consequentemente, a primeira promessa de salvação feita por Deus ao homem, é que queremos destacar neste breve artigo.

1. O pecado do homem e a promessa de redenção

Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15) [2]

As palavras ditas por Deus (Elohim) no texto em referência são em consequências do que ocorreu nos versículos anteriores. O casal Adão e Eva resolveu desobedecer a Deus, comendo do fruto da árvore que estava no meio do jardim (Gn 3.3), dando assim início ao pecado no mundo. Obviamente, que há muita objeção quanto à existência literal deste casal, mas não há como rejeitar sua historicidade, principalmente, porque documentos antigos tratam deste assunto, sobretudo entre os mesopotâmicos, região onde, segundo a Bíblia, ficava o referido jardim e consequentemente aconteceu o fato descrito no referido texto. Afirmamos isto por causa da descrição geográfica do Jardim do Éden em Gn 2.10-14. Dois rios, o Tigre e o Eufrates são mencionados neste texto e tornaram-se a base da região que veio a ser chamada de “Mesopotâmia” (entre rios), onde se desenvolveram as primeiras civilizações.

Além disso, os autores do Novo Testamento aceitaram a historicidade literal de Adão e Eva. O apóstolo Paulo, por exemplo, chama o ato de desobediência do casal de pecado e afirma que este entrou no mundo a partir desse momento. “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens” (Rm 5.12). A morte (física e espiritual) foi a grande e triste consequência deste ato. Também aceita o relato de Gênesis 3 como literal ao afirmar que “…primeiro, foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1Tm 2.13-14).

“Não há nenhuma dúvida que os autores do Novo Testamento aceitaram a historicidade literal de Adão e Eva. A origem da raça humana é necessariamente assunto de revelação da parte de Deus, visto que nenhum registro escrito poderia remontar a uma época anterior à invenção da escrita [3]”.

O selo de ‘Adão e Eva’ foi descoberto na Mesopotâmia pelo arqueólogo George Smith, do Museu Britânico, e datado de 2200 a 2100 A.C.. A cena retratada no selo sugeria-lhe a história bíblica da tentação de Adão e Eva. Um homem e uma mulher estão sentados ao pé de uma árvore. Uma serpente está atrás damulher. [4]

Mas o casal recebeu de Deus a primeira promessa de redenção. Antes, porém, haveria uma grande batalha entre a mulher, mãe da raça humana, e a serpente, personificação de Satanás. Esta batalha seria o resultado da inimizade posta por Deus entre ambos. Como resultado, a mulher teria o calcanhar ferido pela serpente, enquanto esta teria a cabeça ferida (esmagada) pela mulher.

2. Uma exegese de Gênesis 3.15: como a serpente teve sua cabeça esmagada?

E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna” (Jo 3.14-15).

A luta entre a mulher e a serpente, bem como o seu resultado, tem que ser analisada à luz da história da redenção da humanidade, cuja promessa começa em Gênesis 3.15. E esta resposta encontra-se no decorrer das Escrituras, sobretudo no Novo Testamento.

A partir da sentença dada ao casal, este foi lançado fora do jardim (Gn 3.20) e seguiu-se, a partir da mulher, Eva, “… mãe de todos os seres humanos” (Gn 3.20), toda a história da raça humana e também a promessa de redenção através da “semente” (descendência) de Eva, até que vindo "… a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4), para “… destruir as obras do diabo” (1Jo 3.9), ilustrado na figura da serpente do jardim. Digno de nota é também a figura de outra “serpente” (curadora, salvadora) levantada no deserto (Nm 21.9), e que é relembrada por Jesus em João 3.14-15, como tendo tido, nEle o seu cumprimento. Aquela serpente do deserto aponta para aquele que esmagaria a cabeça da antiga e má serpente, descrita em Gênesis 3.15. Jesus foi ferido no “calcanhar”, simbolizado pela cruz. Mas, por meio de sua morte, “aquele que não conheceu pecado [mas] o fez pecado por nós” (2Co 5.21), consumou toda a sua obra (Jo 19.30), julgou o mundo e expulsou o seu príncipe, o Diabo e Satanás (Jo 12.31; 16.11). Portanto, a vitória de Cristo sobre o Diabo, a “antiga serpente” (Ap 20.2) se deu por meio de sua morte e ressurreição dos mortos.

Mas seu significado vai além disto. No vídeo abaixo, o bispo Ildo Mello descreve a mensagem do protoevangelho como sendo o início do plano de redenção, a partir do qual flui todo o resto da Bíblia, ou seja, o Primeiro Adão caiu, mas o Segundo Adão, Jesus Cristo (1Co 15.45), foi o vitorioso (Jo 16.33). E destaca uma sequência desta vitória da seguinte forma: Natal (o nascimento do descendente da mulher); Páscoa (ferimento de seu calcanhar) e sua Segunda-Vinda (triunfo final sobre o Maligno).

3. Maria é a Segunda Eva, conforme Apocalipse 12?

“… o dragão se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascesse. Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. E o filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono” (Ap 12. 4-5).

O que diz a teologia católica sobre a mulher de Gn 3.15 e Ap 21? Na nota de rodapé de minha bíblia católica [5] traz o seguinte comentário sobre Gênesis 3.15: Esta: trata-se da posteridade da mulher, da qual Jesus Cristo é o mais eminente representante. – Estes vers. Contém o gérmen da promessa messiânica...E na nota de Apocalipse 12.1 encontramos: "Uma mulher: esta mãe mística é a Cidade de Deus, a Jerusalém celeste. A sinagoga, em sua madureza [sic] espiritual, dá-se a luz a Cristo e em seguida a Igreja dá à luz os cristãos. Os seus traços adaptam-se também a Nossa Senhora, à Virgem Maria: nas dores de sua ‘compaixão’ ela dá à luz os irmãos de Jesus que formam, unidos com ele Cristo total”.

Estes comentários referentes aos textos descritos acima, em se tratando de Cristo, não estão muito diferentes da teologia protestante reformada. Jesus Cristo é de fato o mais “eminente representante da linhagem da mulher” (Gn 3.15), e este veio dos judeus, o que parece indicar a expressão “sinagoga”, na nota de Ap 12.1. Jesus constitui sua Igreja e esta dá à luz aos cristãos. Estes, por sua vez, por sua fidelidade a Cristo, terão a grande promessa de brevemente, o Deus de paz, esmagar a Satanás debaixo dos seus pés (Rm 16.20). Portanto, a mulher de Apocalipse 12 é o povo de Deus, tanto do Antigo Testamento, Israel, quanto do Novo Testamento, a Igreja.

E Maria, a mulher que deu à luz a seu filho Jesus? A teologia católica vê Maria numa posição especial em relação a ambos os textos (Gn 3.15 e Ap 12). Exemplo disto são as diversas imagens de Maria [6] pisando a cabeça da serpente. Obviamente, Maria teve papel especial nestas profecias, como instrumento de Deus, ao ser escolhida para ser a mãe terrena de seu Filho Jesus, mas jamais, segundo a Bíblia, ela pode ser vista nesta posição em que a Igreja Católica a coloca. Por exemplo, no comentário de Ap 21, aparece a referência à Maria  que “dá à luz os irmãos de Jesus que formam, unidos com ele Cristo total”. Isso significa dizer que Maria, além de mãe de Jesus, foi também mão do Cristo, o Verbo de Deus, e mãe da Igreja. O que podemos afirmar é que Maria também esmagou e trinfou sobre Satanás por ser parte da Igreja, que como um todo, há de “… julgar os próprios anjos…” (1Co 6.3). Mas isto por causa dos méritos de Cristo. “Porque, como, pela desobediência de um só homem [Adão], muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só [Jesus Cristo], muitos se tornarão justos” (Rm 5.19).

Veja a seguir a explanação do bispo metodista Ildo Mello, de O “Protoevangelium”, em:



Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37).

Soli Deo Gloria!



Notas / Referências bibliográficas:

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Veja também:

16 agosto 2024

Da guerrilha à abertura

Por
DEL PRIORI, Mary e VENANCIO, Renato


O governo nascido do golpe de 1964 foi definido certa vez como o “Estado Novo da UDN”. Essa definição tem sua razão de ser. Durante duas décadas, políticos udenistas – representantes de parcelas importantes das elites empresariais e agrárias – dificilmente chegam a conseguir apoio de mais de 30% do eleitorado brasileiro. Entretanto, através da ditadura militar, puderam implementar várias de suas propostas em matéria de política econômica, como a diminuição do valor real dos salários e a ampla abertura da economia aos investimentos estrangeiros.

A aliança entre udenistas e militares tem ainda outras repercussões. Apesar de oportunistas e golpistas, os partidários da UDN são admiradores de democracias liberais. Tal posicionamento impede a adoção de um modelo fascista no Brasil. Mesmo nos momentos de maior intolerância, a ditadura militar, por meio da rotatividade dos presidentes, evita o caudilhismo, não deixando também de reconhecer a legalidade da oposição parlamentar. A extinção dos partidos tradicionais, em 1965, é acompanhada da criação de duas novas agremiações: Arena (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Este último representa boa parte dos grupos que lutam pelo retorno à normalidade democrática.

A direção central do Partido Comunista Brasileiro (PCB), logo após o Golpe Militar, dá início à autocrítica diante do esquerdismo e condena a resistência armada. Todavia, tal postura não foi unânime, fazendo com que dirigentes abandonassem o partido, como nos casos de Carlos Marighella (indo para a Aliança Nacional Libertadora – ANL) e Apolônio de Carvalho (indo para o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário – PCBR). Critica-se, então, o que se denominava etapismo, uma estratégia que prega a revolução por etapas, cabendo ao PCB apoiar a burguesia no processo de constituição de uma sociedade liberal, antifeudal e anti-imperialista, deixando para um futuro distante a luta pela implantação do socialismo. Para os dissidentes, a estratégia do PCB facilitava a implantação da ditadura, pois subordinava o movimento operário aos acordos de cúpula com as lideranças populistas. Avalia-se que a burguesia depende de sua associação com a agricultura de exportação e com o capitalismo internacional, não havendo por parte do empresariado qualquer inclinação pela ruptura com as classes dominantes. O populismo radical de Goulart representa, quando muito, aspirações de segmentos minoritários e mais atrasados da burguesia nacional.

A ausência de resistência ao Golpe Militar faz esse tipo de interpretação ganhar adeptos. Entre 1965 e 1967, amplia-se o número de dissidências atingindo até organizações formadas anos antes. Várias delas tinham raízes internacionais e não eram um fenômeno particularmente novo. No Brasil, desde os anos 1930, movimentos trotskistas dão origem a partidos rivais do PCB, como a Liga Comunista Internacionalista ou o Partido Operário Leninista. Com o surgimento de novos países comunistas, que, às vezes, não aceitam as mudanças de rumo da política soviética, as dissidências proliferam. No início dos anos 1960, além do PCB e do Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT), havia o Partido Comunista do Brasil (PC do B) – primeiro de inspiração chinesa e depois albanesa –, a Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (Polop) e, por fim, a Ação Popular (AP), moderada, pelo menos em sua fase inicial, e vinculada ao que veio a ser conhecido como catolicismo progressista.

Nesses grupos nascem propostas de luta armada. Há, sem dúvida, inúmeros matizes entre uma tendência política e outra. No entanto, a perspectiva de uma revolução iminente parece ser um traço comum às diversas siglas. Paradoxalmente, esse engajamento radical mantém vínculos com algumas ideias do desprezado PCB e do nacionalismo desenvolvimentista. Generaliza-se, por exemplo, a noção de que o capitalismo brasileiro entrara em uma fase de estagnação. A não realização das reformas de base é responsável por isso. Acreditava-se que as classes dominantes dependiam de um governo ditatorial para continuar existindo, sendo em vão a luta pelo retorno à democracia.

A novidade do período é que os grupos revolucionários recém-formados recrutam militantes predominantemente na classe média. Havia ainda, em partidos que aderiam à luta armada, o predomínio de estudantes e professores universitários. Esses segmentos, segundo os processos da justiça militar, respondem por 80% do Movimento de Libertação Popular (Molipo), 55% do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e 53% do Comando de Libertação Nacional (Colina), para mencionarmos apenas alguns exemplos.

Outro dado importante é a predominância de menores de 25 anos nos diversos agrupamentos revolucionários. O aparecimento de numerosos jovens, não necessariamente pobres ou miseráveis, dispostos a lutar contra os poderes constituídos não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. De certa maneira, isso traduz certas mudanças que ocorriam na juventude em escala mundial. Durante a maior parte do século XX, o ensino universitário foi acessível a um grupo extremamente reduzido; nos anos 1960, porém, essa situação começa a se modificar. O caso brasileiro é típico: entre 1948 e 1968, o número de estudantes universitários passa de 34 mil para 258 mil; no mesmo período em que a população brasileira dobra, o número de jovens que frequentavam universidades aumenta oito vezes. O crescimento desse segmento torna-o cada vez mais capaz de influenciar politicamente a sociedade.

Tão importante quanto essa mudança é a alteração do quadro político mundial. A partir dos anos 1940, o mundo é sacudido por revoluções nacionalistas na Ásia e na África. O impossível parecia ocorrer: países pobres do Terceiro Mundo conseguem vencer antigos colonizadores europeus. Coroando essas transformações, em 1959, um pequeno grupo de guerrilheiros faz uma revolução em Cuba, enfrentando a oposição do tradicional partido comunista local e dos Estados Unidos, que na época desfruta o título de maior potência econômica e militar do mundo.

Mais ainda: a revolução é um fenômeno da alta cultura. Entre seus partidários estão refinados romancistas, filósofos e artistas europeus e norte-americanos. No Brasil, algumas das produções culturais extraordinariamente bem-sucedidas – como o cinema de Glauber Rocha, a música de João Gilberto e o teatro de Augusto Boal – revelam o lado positivo da ruptura radical com o passado. Mesmo nos meios nacionalistas – como é o caso dos intelectuais vinculados ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), criado em 1955 – respira-se o ar da utopia. A identidade nacional é vista como a ruptura com o passado e não como a sua recuperação, conforme almejavam os românticos do século XIX.

Ao longo dos anos 1960, tal visão é difundida por meio do cinema, teatro e jornalismo, assim como por palestras e debates promovidos pelos Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC-UNE). A valorização desse novo nacionalismo também representa uma resposta à forte influência cultural norte-americana, interpretada como uma ameaça à identidade nacional, pois, ao contrário da europeização do século precedente, não se restringe a grupos de elites, destinando-se ao conjunto da população.

Vista a partir de hoje, a luta armada parece algo politicamente ingênuo ou até incompreensível, mas, na época, é fortemente marcada pelo sentimento nacional e de justiça social, em um mundo onde revoluções que pareciam impossíveis estavam ocorrendo. Como, porém, se organiza essa luta? Em primeiro lugar, é necessário lembrar que defender a revolução imediata nem sempre implica pegar em armas. Os agrupamentos de esquerda que assim agiram, geralmente adotaram os princípios do foquismo, teoria elaborada a partir do exemplo da revolução cubana, em que um pequeno grupo guerrilheiro inicia um processo revolucionário no campo.

Para tanto, primeiramente, são necessários recursos financeiros. Em 1967, inicia-se uma série de roubos a bancos por parte dos grupos guerrilheiros, processo que se arrasta até o início dos anos 1970 e resulta em cerca de trezentos assaltos (ou, como se dizia na época, desapropriações revolucionárias), com a arrecadação de mais de 2 milhões de dólares. Na prática, a guerrilha – salvo no caso do Araguaia – não se estende ao campo. À medida que o sistema repressivo realiza prisões, o emprego sistemático da tortura faz com que mais e mais revolucionários sejam capturados. Em 1969, a própria dinâmica do movimento guerrilheiro é alterada, passando a ter como objetivo resgatar os companheiros das masmorras militares. Os assaltos a bancos vão dando lugar a sequestros – dentre os quais os dos embaixadores norte-americano, alemão e suíço no Brasil –, cujos resgates são a libertação de prisioneiros políticos.

Alegando a ameaça comunista e acentuando uma tendência de endurecimento, que vinha desde o ano anterior – com a eleição do general Costa e Silva em 25 de maio de 1966 –, o governo militar se torna cada vez mais ditatorial. Nesse contexto é fortalecida a doutrina de segurança nacional, que torna prioridade entre as forças armadas a luta contra a ameaça interna, e não mais a defesa contra inimigos estrangeiros. Assiste-se também à ampliação das redes de espionagem e de repressão. Paralelamente ao Serviço Nacional de Informações (SNI), criado em 1964, atuam agora outras organizações, como o Centro de Informações da Marinha (Cenimar), a Operação Bandeirantes (Oban) e o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), somente para citarmos algumas siglas.

Até a oposição legal deixa de ser aceita. A Frente Ampla composta por Carlos Lacerda e João Goulart, que defende bandeiras democráticas, como eleições diretas, anistia e nova Constituição, é proibida em 1968. A recessão e o declínio do poder de compra dos salários fazem, por sua vez, com que o movimento sindical renasça. Greves envolvendo milhares de operários ocorrem em Minas Gerais e São Paulo. No mesmo período, manifestações estudantis cruzam o país, culminando com a Passeata dos 100 mil em 26 de agosto de 1968. A resposta dos militares: maior endurecimento do regime. Em 13 de dezembro é assinado o AI-5: com ele, o presidente da República passa a poder, a bel-prazer, fechar desde Câmaras de Vereadores até o próprio Congresso Nacional, nomear interventores para qualquer cargo executivo, cassar os direitos políticos de qualquer cidadão e também suspender o recurso ao habeas corpus.

Mas se 1968 é o ano do auge repressivo da ditadura, é também o da retomada do crescimento econômico. O modelo econômico adotado rende finalmente seus frutos e o Brasil, até 1973, apresenta taxas bastante elevadas de desenvolvimento industrial, superando mesmo os 10% ao ano. Fala-se em milagre econômico, mas um milagre que, alguns anos mais tarde, cobraria seu preço.

O aumento dos investimentos das multinacionais, como se previa desde os anos 1950, não é acompanhado pelo crescimento do setor de insumos industriais e de energia, e o resultado disso é a necessidade de importar esses produtos e petróleo. A economia brasileira entra aí em um labirinto de endividamento.

O milagre econômico também amplia, em relação aos padrões da economia brasileira da época, o mercado de produtos industriais de custo elevado, como os automóveis. Tal decisão gera um quadro perverso, no qual a concentração de renda torna-se necessária para garantir o funcionamento do sistema econômico. Bem ou mal, porém, a ditadura conta com algum grau de aprovação popular. No início dos anos 1970, embalados pela vitória da Arena, partido de sustentação do governo, os militares empenham-se em campanha de legitimação do novo regime. O general Emílio Garrastazu Médici, presidente empossado em outubro de 1969, lança a campanha “Brasil, grande potência” e também, com a abertura da Transamazônica, tenta reviver a euforia da época da construção de Brasília.

Em 1974, as consequências mundiais do aumento do custo do petróleo, associadas à política irresponsável de endividamento externo, lançam a economia brasileira novamente em crise. Nessa época, os antigos grupos vinculados à ala legalista das forças armadas – na época definida como castellista, numa alusão ao marechal Castello Branco – recuperam o terreno perdido. A eleição, no referido ano, do general Ernesto Geisel é considerada um marco dessa transição. O novo presidente defende desde o primeiro dia de posse uma abertura política “lenta, segura e gradual”. Para tanto, enfrenta os grupos da linha-dura, altera os comandos militares e procura lentamente subordinar ao Ministério da Justiça os aparelhos repressivos militares, que haviam saído do controle.

Desde 1972, os movimentos armados urbanos não existem mais. A guerrilha, que sobreviveu apenas no Araguaia, foi destroçada em 1974. Os vários tentáculos repressivos passam a perseguir grupos que não participaram desse tipo de enfrentamento, como foi o caso dos militantes do PCB e de membros da Igreja. Por intermédio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a subjugação dos organismos repressivos ganha apoio da sociedade civil.

O processo de abertura, como prevê Geisel, não é linear. Expressivos segmentos militares agrupados em torno do general Sílvio Frota fazem oposição ao presidente, contando inclusive com o apoio de parte, igualmente expressiva, da Arena. A eles, Geisel eventualmente cede, endurecendo o regime, principalmente após o desempenho eleitoral do MDB nas eleições de 1974. Dois anos mais tarde é aprovada a denominada Lei Falcão, em alusão ao nome do ministro da Justiça da época. Através dessa lei ficam proibidos, em programas eleitorais televisivos, o debate e a exposição oral de propostas e críticas ao regime. Mais ainda: em 1977, reformas legais criam meios de a Arena manter presença majoritária no Congresso, apesar das derrotas eleitorais. Amplia-se a representação parlamentar do Norte e do Nordeste e institui-se a indicação de senadores pelo próprio governo, popularmente chamados de “senadores biônicos”.

Por meio dessa delicada engenharia política, Geisel garante a própria sucessão. O novo escolhido é o general João Baptista de Oliveira Figueiredo, empossado em 1979. Nessa eleição concorre o general Euler Bentes Monteiro, apoiado pelo MDB e segmentos importantes do empresariado brasileiro. Nem os mais beneficiados defendem a ditadura, cujo fim não demoraria muito a ocorrer.

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Veja também:


Fonte / Referência bibliográfica:

  • DEL PRIORI, Mary e VENANCIO, RenatoUma breve história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010. Cap. 31, pág. 204 a 248.

12 agosto 2024

Infalibilidade: católicos x protestantes

Por: Alcides Amorim

Raio atinge a basílica de São Pedro, no Vaticano [1]


Infalibilidade [2] é o estado de ser isento de erro. Em inglês, “infalível” aparece na AV (“Authorized Version”) em At 1.3 com referência à ressurreição de Cristo. Todavia, não há palavra correspondente no grego, sendo omitida nas versões posteriores.

O fato de que a revelação de Deus em Jesus Cristo é infalível, no sentido geral de fornecer à humanidade o caminho infalível da salvação, é aceito por todos os cristãos, mas o lugar exato da infalibilidade é uma questão de controvérsia. Três principais linhas de pensamento podem ser discernidas, as quais correspondem a três divisões principais da cristandade. A Igreja Ortodoxa Oriental acredita que os concílios gerais da Igreja são guiados pelo Espírito Santo, de modo que não erram; a Igreja Romana acredita que o papa é pessoalmente preservado do erro por Deus; e o pensamento protestante depende da suficiência da Escritura Sagrada como guia da auto-revelação de Deus. Podemos inter-relacionar estas três teorias da seguinte maneira: os cristãos de todas as tradições atribuem às Sagradas Escrituras um lugar sem igual na determinação do evangelho, e existe um extenso corpo de fé em comum que delas é derivado. Esta fé em comum é escrita e definida ainda mais pelos concílios realizados nos primeiros séculos, dos quais pelo menos quatro recebem aprovação universal. A Igreja Ortodoxa continua a depender de concílios, a Igreja Latina finalmente chegou a definir o papado como o lugar exato da infalibilidade, ao passo que os protestantes confiam nas Escrituras como derradeira fonte de autoridade. Atenção especial deve ser dada à doutrina da infalibilidade papal e à doutrina protestante da suficiência e supremacia das Escrituras.

1. Infalibilidade do papa

A doutrina da infalibilidade do papa foi definida pela Igreja Católica Romana no ano de 1870. Declara que o papa é capacitado por Deus a expressar infalivelmente o que a Igreja deve crer, quanto às questões de fé e moral, quando fala na sua capacidade oficial de “vigário de Cristo na terra” ou ex cathedra [3].

Por trás deste dogma estão três pressuposições discutidas por outros cristãos:

  • (1) que Cristo instituiu o cargo de “vigário” para Sua Igreja na terra;

  • (2) que este cargo é exercido pelo bispo de Roma; e

  • (3) que o vigário de Cristo é infalível nas suas declarações sobre fé e moral.

Os fundamentos nos quais a Igreja de Roma baseia estas pressuposições podem ser resumidos da seguinte maneira:
  • (1) A declaração de nosso Senhor a Pedro registrado em Mt 16.18: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”, subentende que Cristo fez de Pedro o cabeça da igreja ou o seu “vigário na terra”.

  • (2) Pedro foi bispo em Roma e, por isso, constituiu esta sé no bispado supremo sobre a terra, transmitindo aos seus sucessores a prerrogativa de ser o vigário de Cristo.

  • (3) O vigário de Cristo deve ser infalível pela própria natureza do caso.

Os três argumentos são necessários à doutrina da infalibilidade papal, e revelam uma falibilidade que torna impossível às Igrejas Ortodoxa e Protestante aceitá-los.

Recentemente, as atitudes católico-romanas diante da infalibilidade papal mudaram um pouco como resposta ao diálogo ecumênico, à investigação histórica e, mais recentemente, ao livro de Hans Küng [4]. O desafio de Küng, provocado pela regra papal sobre os anticoncepcionais, deu origem a um debate vasto e ainda sem solução dentro do catolicismo. Küng argumentou que o cargo didático do papa (magisterium), na realidade, tinha tomado muitas decisões oficiais contraditórias e errôneas no decurso dos séculos, e que os católicos devem, portanto, somente falar de uma “indefectibilidade da Igreja”, posição esta de semelhança marcante àquela de alguns protestantes, conforme têm indicado muitos católicos. O debate tem forçado todos os católicos a definirem com maior clareza exatamente aquilo que a infalibilidade papal envolve, de modo que possam cortar muitas ideias exageradas sobre ela; e muitos católicos progressistas têm procurado incluir bispos, teólogos e até mesmo a igreja inteira na sua ideia de uma tradição de fé verdadeira, infalivelmente preservada. Enquanto isso, os historiadores têm demonstrado que a indefectibilidade da igreja era o conceito reconhecido no Ocidente até cerca de 1200, quando, então, foi lentamente substituído pela infalibilidade da igreja e, finalmente, pela infalibilidade do papado, posição esta proposta pela primeira vez em cerca de 1300, mas calorosamente debatida nas escolas e nunca sancionada oficialmente senão em 1870.

2. Infalibilidade das Escrituras

Quando nos voltamos ao pensamento protestante ou evangélico no tocante a esta questão, descobrimos que, quando a palavra é usada, a infalibilidade é atribuída às Escrituras do AT e do NT, como o registro profético e apostólico. Assim acontece no quádruplo sentido:

  • (1) de que a Palavra de Deus infalivelmente atinge o seu propósito;

  • (2) de que nos dá testemunho fidedigno da revelação salvífica e da redenção divina em Cristo;

  • (3) de que ela nos fornece uma norma autorizada de fé e conduta; e

  • (4) de que através dela fala o Espírito de Deus infalível que a deu.

Em anos recentes, a concentração sobre as questões históricas e científicas, e a suspeita da infalibilidade dogmática alegada pelo papa, têm levado a críticas severas de todo o conceito, mesmo quando é aplicado à Bíblia; e deve ser concedido que o próprio termo não é bíblico e não desempenha um papel de muita importância na própria teologia da Reforma. Mesmo assim, nos sentidos indicados, está bem adaptado para ressaltar autoridade e autenticidade das Escrituras. A Igreja aceita e preserva a Palavra infalível como o verdadeiro padrão da sua apostolicidade; porque a própria Palavra, isto é, a Sagrada Escritura, deve sua infalibilidade, não a qualquer qualidade intrínseca ou independente, mas ao assunto e Autor divinos, a quem o termo “infalibilidade” pode ser apropriadamente aplicado.

Ironicamente, os ataques contra a infalibilidade bíblica, que durante mais de um século vinham principalmente dos protestantes liberais, vieram nesta última década [anos 90] da parte de conservadores, que argumentam que somente “inerrância” (outra palavra não achada nas Escrituras) protege adequadamente a total veracidade e fidedignidade da Bíblia. Os evangélicos dos grupos principais, portanto, especialmente aqueles que aceitam alguns dos métodos e conclusões do estudo moderno das Escrituras, são forçados a defender o conceito tradicional da infalibilidade da Bíblia contra os liberais [veja item 3], como base necessária para receber a revelação divina, colocando-as contra conservadores como base adequada.

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3. Infalibilidade e inerrância das Escrituras [5]

Como protestante conservador, quero destacar a resposta bíblica (neste item 3) que complementa nosso ponto de vista sobre a infalibilidade e inerrância das Escrituras...

A palavra infalível significa "incapaz de erro". Se algo é infalível, ele nunca está errado e é, portanto, absolutamente confiável. Da mesma forma, a palavra inerrante, também aplicada à Escritura, significa "livre de erro". Simplificando, a Bíblia nunca falha.

A Bíblia afirma ser infalível em 2Pedro 1.19: “Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas.” Pedro continua com uma descrição de como a Escritura passou a existir: "Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo" (2Pedro 1.20-21).

Além disso, vemos a infalibilidade implícita em 2Timóteo 3.16-17: "Toda a Escritura é inspirada por Deus" e tem o efeito de produzir um servo de Deus que seja "apto e plenamente preparado para toda boa obra." O fato de que Deus “inspirou” a Escritura garante que a Bíblia é infalível, pois Deus não pode inspirar um erro. O fato de que a Bíblia equipa servos de Deus "plenamente" para o serviço mostra que ela nos guia à verdade, não ao erro.

Se Deus é infalível, então assim será a Sua Palavra. A doutrina da infalibilidade da Escritura é baseada em uma compreensão da perfeição do caráter de Deus. A Palavra de Deus é "perfeita, e revigora a alma" (Salmo 19.7), porque o próprio Deus é perfeito. Teologicamente, Deus está intimamente associado com a Sua Palavra; o Senhor Jesus é chamado de "a Palavra" (João 1.14).

É importante salientar que a doutrina da infalibilidade diz respeito apenas aos documentos originais. Erros de tradução, de impressão e de datilografia são erros humanos óbvios e são, na maioria das vezes, facilmente localizados. No entanto, o que os escritores bíblicos escreveram originalmente era completamente livre de erro ou omissão, já que o Espírito supervisionou a sua tarefa. Deus é verdadeiro e perfeitamente confiável (João 14.6; 17.3), assim como a Sua Palavra (João 17.17).

A Bíblia afirma perfeição completa (em oposição a uma parcial) no Salmo 12:6, Salmo 19.7, Provérbios 30.5 e em muitos outros lugares. É factual do início ao fim e, de fato, nos julga (em vez de vice-versa): "Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração" (Hebreus 4.12).

A Bíblia é a única fonte objetiva de tudo o que Deus nos deu sobre Ele e Seu plano para a humanidade. Como a infalível Palavra de Deus, a Bíblia é inerrante, autoritária, confiável e suficiente para atender às nossas necessidades.

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A infalibilidade papal, sobretudo a de Jorge Mario Bergoglio, atual Papa Francisco, está sendo questionada? Além do raio citado acima, houve outro em Buenos Aires, terra de Bergoglio, ocorrida no dia de seu aniversário. Veja o vídeo e as explicações a seguir:




Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] O raio que atingiu a cúpula da Basílica de São Pedro, no Vaticano ocorreu em 11 de fevereiro de 2013, horas depois de o Papa Bento XVI anunciar sua renúncia em uma reunião de cardeais. No portal católico Sapientiae Christianae, o artigo sob tema Os tradicionalistas, a infalibilidade e o papa, é encabeçado com esta foto, simbolizando a quebra da infalibilidade do papa, e introduzido pela frase: “Os próprios homens que aparentam possuir autoridade na Igreja ensinam erros e impõem leis nocivas. Como reconciliar isso com a infalibilidade?”. Disponível em: <https://sapientiaechristianae.org/2022/11/21/os-tradicionalistas-a-infalibilidade-e-o-papa/>. Acesso em: 07/08/2024. Veja também o vídeo no final do artigo.

  • [2] PROCTOR, W.C.G. e ENGEN, J. Van. Infalibilidade. In: ELWELL, Walter. A. (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. II. São Paulo. Vida Nova, 1990, p. 329 a 331 (texto adaptado).

  • [3] "A expressão [e x cathedra] significa ‘do trono’ e é usada para descrever certas declarações ou pronunciamentos feitos pelo papa em suas atribuições na terra como cabeça da igreja e vigário de Cristo. Tais declarações são aceitas pelos católicos romanos como infalíveis. No entanto, não há nenhum critério infalível mediante o qual seja possível determinar quando uma declaração realmente é ex-cathedra. Nem todas as declarações papais são consideradas dentro desta categoria especifica” (TOON, P. Ex Cathedra. In: ELWELL, Walter. A. (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. II. São Paulo. Vida Nova, 1990, p.130).

  • [4] Hans Küng (1928 – 2021) foi um teólogo suíço, filósofo, professor de teologia. Muito polêmico, mesmo assim, entre 1962 e 1965, trabalhou como perito para o o Concílio Vaticano II. No final da década de 1960, Küng iniciou uma reflexão rejeitando o dogma da Infalibilidade Papal, publicada no livro Infallible? An Inquiry ("Infalibilidade? Um inquérito") em 18 de janeiro de 1970. Em consequência disso, em 18 de dezembro de 1979 foi revogada a sua licença pela Igreja Católica Apostólica Romana de oficialmente ensinar teologia em nome dela, mas permaneceu como sacerdote e professor, a partir de 1979, de teologia ecumênica, em Tubinga até a sua aposentadoria em 1996. Mais em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_K%C3%BCng>. Acesso em: 07/08/2024.