Neste post, quero destacar o princípio protestante Soli Deo Gloria – Somente a Deus, a glória. Os outros princípios, chamados Solas (Somente) são: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia e Sola Fide.
Conforme diz o apóstolo Paulo, em 1Co 10.31, quer comamos ou bebamos ou ainda façamos qualquer outra coisa, precisamos fazer tudo para a glória de Deus. Este é um princípio que destoa em muito o entendimento de adoração do protestante do da Igreja Católica. “Soli Deo gloria enfatiza a glória de Deus como o objetivo da vida. Em vez de nos esforçarmos para agradar os líderes da igreja, manter uma lista de regras ou guardar nossos próprios interesses, nosso objetivo é glorificar o Senhor" (In: Quais são os cinco – GotQuestions).
Os cultos e nossas vidas perderam o significado, porque não estão centrados em Deus.
No Catecismo de Genebra diz que “Deus nos criou e nos colocou na terra para ser glorificado em nós. E, certamente, é correto que dediquemos nossa vida à sua glória, já que Ele é o princípio dela”.
O Deus que os cristãos adoram:
- é cheio de graça, majestade, santidade e soberania.
- se revela nas Escrituras: única fonte de revelação;
- é o Deus trino, que se revela como Pai, Filho e Espírito Santo: revelação trinitária;
Deus é o Senhor criador de todas as coisas, o todo-poderoso, que sustenta e governa toda a criação.
O Pai perdoa pecadores por meio do sacrifício de seu único Filho na cruz e envia seu Espírito Santo para santificar a igreja.
A glória de Deus:
- majestade e brilho que acompanham a revelação da Palavra e do poder de Deus;
- refere-se à suprema beleza do Deus trino.
Por que Deus busca a Sua glória? Porque Deus é Deus. Há um único Deus e tudo redunda em Sua glória (Ef 1.12-14) e Jo 17.1-5 Cada pessoa que compõe a Trindade busca a glória do outro.
A glória de Deus: tema central da Sua Palavra. Tudo foi criado para louvor de Sua glória.
O Senhor Deus confundiu as pretensões idolátricas e religiosas na torre de Babel – para sua glória.
Deus se manteve fiel à aliança – para sua glória.
O povo da aliança foi sustentando durante a escravidão no Egito durante 400 anos – para sua glória.
Com braço forte, com sinais e prodígios, o povo foi retirado do Egito – para sua glória…
Somos salvos para dar glória a Deus. E quando vivemos para a glória de Deus estamos imitando o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Alegria, prazer e contentamento: experiências que os salvos que vivem para a glória de Deus, podem ter na presença de Deus.
Alguns textos bíblicos que falam sobre a glória de Deus:
“Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos, ele é o Rei da Glória” (Sl 24.7-10).
“Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade. Porque dirão os gentios: Onde está o seu Deus? Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou” (Sl 115.1-3).
“Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória” (Ef 1.12-14).
“Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti; Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17.1-5).
“Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Is 45.5-7).
“Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.
Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a autoestima e a autorrealização se tornem opções alternativas ao evangelho.” (A Declaração de Cambridge, Tese 5).
A
palavra “salvação”, do grego σωτηρία (soteria), tem um
significado bastante amplo como cura, remédio, recuperação,
redenção, bem estar… No sentido especificamente espiritual,
baseado, sobretudo no conceito neotestamentário, significa a
libertação ou redenção do homem do poder do pecado, por
intermédio da fé em Cristo, e o seu descanso eterno após a morte.
A salvação também tem um tríplice aspecto temporal: passado,
presente e futuro. É em relação ao aspecto passado, no chamado
protoevangelho, descrito em Gênesis 3.15, isto é, a primeira vez
que surge a ideia de evangelho e, consequentemente, a primeira
promessa de salvação feita por Deus ao homem, é que queremos
destacar neste breve artigo.
1.
O pecado do homem e a promessa de redenção
“Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu
descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar” (Gn 3.15) [2]
As
palavras ditas por Deus (Elohim) no texto em referência são em
consequências do que ocorreu nos versículos anteriores. O casal
Adão e Eva resolveu desobedecer a Deus, comendo do fruto da árvore
que estava no meio do jardim (Gn 3.3), dando assim início ao pecado
no mundo. Obviamente, que há muita objeção quanto à existência
literal deste casal, mas não há como rejeitar sua historicidade,
principalmente, porque documentos antigos tratam deste assunto,
sobretudo entre os mesopotâmicos, região onde, segundo a Bíblia,
ficava o referido jardim e consequentemente aconteceu o fato descrito
no referido texto. Afirmamos isto por causa da descrição geográfica
do Jardim do Éden em Gn 2.10-14. Dois rios, o Tigre e o Eufrates são
mencionados neste texto e tornaram-se a base da região que veio a
ser chamada de “Mesopotâmia” (entre rios), onde se desenvolveram
as primeiras civilizações.
Além disso, os autores do Novo Testamento aceitaram a historicidade literal de Adão e Eva. O apóstolo Paulo, por exemplo, chama o ato de desobediência do casal de pecado e afirma que este entrou no mundo a partir desse momento. “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens” (Rm 5.12). A morte (física e espiritual) foi a grande e triste consequência deste ato. Também aceita o relato de Gênesis 3 como literal ao afirmar que “…primeiro, foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1Tm 2.13-14).
“Não há nenhuma dúvida que os autores do Novo Testamento aceitaram a historicidade literal de Adão e Eva. A origem da raça humana é necessariamente assunto de revelação da parte de Deus, visto que nenhum registro escrito poderia remontar a uma época anterior à invenção da escrita [3]”.
O selo de ‘Adão e Eva’ foi descoberto na Mesopotâmia pelo arqueólogo George Smith, do Museu Britânico, e datado de 2200 a 2100 A.C.. A cena retratada no selo sugeria-lhe a história bíblica da tentação de Adão e Eva. Um homem e uma mulher estão sentados ao pé de uma árvore. Uma serpente está atrás damulher. [4]
Mas
o casal recebeu de Deus a primeira promessa de redenção. Antes,
porém, haveria uma grande batalha entre a mulher, mãe da raça
humana, e a serpente, personificação de Satanás. Esta batalha
seria o resultado da inimizade posta por Deus entre ambos. Como
resultado, a mulher teria o calcanhar ferido pela serpente, enquanto
esta teria a cabeça ferida (esmagada) pela mulher.
2.
Uma exegese de Gênesis 3.15: como a serpente teve sua cabeça
esmagada?
“E
do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa
que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê
tenha a vida eterna” (Jo 3.14-15).
A
luta entre a mulher e a serpente, bem como o seu resultado, tem que
ser analisada à luz da história da redenção da humanidade, cuja
promessa começa em Gênesis 3.15. E esta resposta encontra-se no
decorrer das Escrituras, sobretudo no Novo Testamento.
A
partir da sentença dada ao casal, este foi lançado fora do jardim
(Gn 3.20) e seguiu-se, a partir da mulher, Eva, “… mãe
de todos os seres humanos”
(Gn 3.20), toda a história da raça humana e também a promessa de
redenção através da “semente” (descendência) de Eva, até que
vindo "… a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei”
(Gl 4.4), para “… destruir as obras do diabo” (1Jo 3.9),
ilustrado na figura da serpente do jardim. Digno de nota é também a
figura de outra “serpente” (curadora, salvadora) levantada no
deserto (Nm 21.9), e que é relembrada por Jesus em João 3.14-15,
como tendo tido, nEle o seu cumprimento. Aquela serpente do deserto
aponta para aquele que esmagaria a cabeça da antiga e má serpente,
descrita em Gênesis 3.15. Jesus foi ferido no “calcanhar”,
simbolizado pela cruz. Mas, por meio de sua morte, “aquele
que não conheceu pecado [mas]
o
fez pecado por nós”
(2Co 5.21), consumou toda a sua obra (Jo 19.30), julgou o mundo e
expulsou o seu príncipe, o Diabo e Satanás (Jo 12.31; 16.11).
Portanto, a vitória de Cristo sobre o Diabo, a “antiga serpente”
(Ap 20.2) se deu por meio de sua morte e ressurreição dos mortos.
Mas
seu significado vai além disto. No vídeo abaixo, o bispo Ildo Mello
descreve a mensagem do protoevangelho como sendo o início do plano
de redenção, a partir do qual flui todo o resto da Bíblia, ou
seja, o Primeiro Adão caiu, mas o Segundo Adão, Jesus Cristo (1Co
15.45), foi o vitorioso (Jo 16.33). E destaca uma sequência desta
vitória da seguinte forma: Natal (o nascimento do descendente da
mulher); Páscoa (ferimento de seu calcanhar) e sua Segunda-Vinda
(triunfo final sobre o Maligno).
3.
Maria é a Segunda Eva, conforme Apocalipse 12?
“… o
dragão se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a
fim de lhe devorar o filho quando nascesse. Nasceu-lhe, pois, um
filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro.
E o filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono” (Ap 12. 4-5).
O
que diz a teologia católica sobre a mulher de Gn 3.15 e Ap 21? Na
nota de rodapé de minha bíblia católica [5] traz
o seguinte comentário sobre Gênesis 3.15: ”Esta: trata-se da posteridade da mulher, da qual Jesus Cristo é o mais eminente representante. – Estes vers. Contém o gérmen da promessa messiânica..." E na nota de Apocalipse 12.1 encontramos: "Uma mulher: esta mãe mística é a Cidade de Deus, a Jerusalém celeste. A sinagoga, em sua madureza [sic] espiritual, dá-se a luz a Cristo e em seguida a Igreja dá à luz os cristãos. Os seus traços adaptam-se também a Nossa Senhora, à Virgem Maria: nas dores de sua ‘compaixão’ ela dá à luz os irmãos de Jesus que formam, unidos com ele Cristo total”.
Estes
comentários referentes aos textos descritos acima, em se tratando de
Cristo, não estão muito diferentes da teologia protestante
reformada. Jesus Cristo é de fato o mais “eminente representante
da linhagem da mulher” (Gn 3.15), e este veio dos judeus, o que
parece indicar a expressão “sinagoga”, na nota de Ap 12.1. Jesus
constitui sua Igreja e esta dá à luz aos cristãos. Estes, por sua
vez, por sua fidelidade a Cristo, terão a grande promessa de
brevemente, o Deus de paz, esmagar a Satanás debaixo dos seus pés
(Rm 16.20). Portanto, a mulher de Apocalipse 12 é o povo de Deus,
tanto do Antigo Testamento, Israel, quanto do Novo Testamento, a
Igreja.
E
Maria, a mulher que deu à luz a seu filho Jesus? A teologia católica
vê Maria numa posição especial em relação a ambos os textos (Gn
3.15 e Ap 12). Exemplo disto são as diversas imagens de Maria [6]pisando
a cabeça da serpente. Obviamente, Maria teve papel especial nestas
profecias, como instrumento de Deus, ao ser escolhida para ser a mãe
terrena de seu Filho Jesus, mas jamais, segundo a Bíblia, ela pode
ser vista nesta posição em que a Igreja Católica a coloca. Por
exemplo, no comentário de Ap 21, aparece a referência à Maria que
“dá à luz os irmãos de Jesus que formam, unidos com ele Cristo
total”. Isso significa dizer que Maria, além de mãe de Jesus, foi
também mão do Cristo, o Verbo de Deus, e mãe da Igreja. O que
podemos afirmar é que Maria também esmagou e trinfou sobre Satanás
por ser parte da Igreja, que como um todo, há de “… julgar os
próprios anjos…” (1Co 6.3). Mas isto por causa dos méritos de
Cristo. “Porque,
como, pela desobediência de um só homem [Adão], muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência
de um só [Jesus
Cristo], muitos se tornarão justos”
(Rm 5.19).
Veja
a seguir a explanação do bispo metodista Ildo Mello, de O
“Protoevangelium”, em:
“Em
todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio
daquele que nos amou” (Rm 8.37).
[6]Por
exemplo, A
gravura de “Mary and Eve”.
In:
<http://resistenciaprotestante.blogspot.com.br/2015/12/uma-analise-teologica-da-gravura-mary.html>.
Acesso em: 04/10/2017.
“E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é
necessário que eu faça para ser salvo? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus
Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (Atos 16.30,31).
O naufrágio do Titanic
(Wikipedia)
Ouça o conteúdo: ...
No
contexto dos versos bíblicos acima, os missionários Paulo e Silas estavam
presos em Filipos, uma das cidades da Macedônia, por pregarem o Evangelho. E
perto da meia-noite, enquanto ambos oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros
presos os escutavam, sobreveio à prisão um tão grande terremoto, que os
alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram
soltas as prisões de todos. O carcereiro assustado, vendo abertas as portas da
prisão, tirou a espada, e quis matar-se, cuidando que os presos já tinham
fugido. Mas Paulo pede que ele não lhe fizesse nenhum mal, pois ninguém tinha
escapado. “... todos aqui estamos”, disse Paulo. O carcereiro, “todo
trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas” (v. 29), e pergunta o que fazer
para ser salvo (v. 30). A resposta de Paulo e Silas ao carcereiro foi: “... crê
no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (v. 31).
Então
podemos perguntar: e o que é a salvação? Quem é que salva as pessoas e do que
as pessoas são salvas? Em princípio, a salvação que o carcereiro e sua família
buscavam era um livramento da pena do Estado romano caso os presos tivessem
fugido e também pelo fato de prender um cidadão romano (Paulo) sem averiguar
antes as consequências desta atitude. Mas os missionários partem deste ponto e
vão mais além, falando da salvação eterna (v. 32) a ele e a todos os que
estavam em sua casa. Ao serem batizados (v. 33), o carcereiro e os membros de
sua família já tinham entendido o que era arrependimento dos pecados, confissão
e entrega ao Salvador. Desta forma, ele e a sua família creu e obteve a
salvação espiritual e eterna agora como parte da Igreja de Cristo. Neste caso,
o carcereiro foi salvo tanto da situação presente e terrena quanto da pena
eterna dos seus pecados na vida pós-morte.
Você
já está salvo ou salva? Esta é uma pergunta recorrente dos evangelistas
cristãos às pessoas que ouvem suas pregações. E também foi feita pelo pastor JohnHarper um pouco antes de sua morte. Ouvi
sobre ele no último domingo, 5 de maio de 2025, na celebração das 8 horas, em
minha igreja, Igreja da Cidade de Pindamonhangaba, pelo
Pr
David Tiburcio que citou, durante sua mensagem, como aquele pregador
e pastor morreu. Isto me levou a
pesquisar um pouco mais sobre o mesmo.
John
Harper nasceu em 29 de maio de 1872, em Houston, Escócia, e sua morte aconteceu
em 15 de abril de 1912, no Oceano Atlântico, tendo ele apenas 39 anos. Aquele
pastor batista começou a pregar aos 18 anos e quando faleceu já era viúvo e
tinha uma filha de seis anos.
Convidado
para pregar por várias semanas em Chicago, em Illinois, nos Estados Unidos, na
Igreja Moody, Harper, sua filha Annie Jessie, e sua irmã, Jessie W. Leitch
estavam naquele famoso navio Titanic.
Quando o navio colidiu com um iceberg, sua irmã e sua filha foram colocadas
em um bote salva-vidas e sobreviveram, mas Harper ficou para trás com o objetivo de cumprir sua última
missão: perder sua vida para salvar outras.
No livro “The Titanic's Last Hero” (“O Último
Herói do Titanic”), publicado em 2012 por Moody Adams, foi registrado o
testemunho do último homem evangelizado pelo pastor.
Nos cinquenta minutos finais, George Henry Cavell [2], que
estava apoiado numa prancha, se aproximou de John Harper. Harper, que estava se
debatendo na água, gritou: ‘Você é salvo?’ Ele respondeu: ‘Não’. Harper gritou
as palavras da Bíblia: ‘Creia no Senhor Jesus Cristo e será salvo’. Antes de
responder, o homem foi puxado para dentro do mar.
Minutos mais tarde, a
corrente trouxe George de volta e eles ficaram à vista um do outro. Mais uma
vez, Harper gritou: "Você é salvo?" Novamente, ele respondeu:
"Não". Harper repetiu as palavras de Atos 16:31: "Creia no
Senhor Jesus Cristo e você será salvo".
Cansado e sem forças, Harper escorregou no
mar e morreu afogado. O homem que ele evangelizou depositou sua fé em Jesus
Cristo e, mais tarde, foi resgatado pelos botes salva-vidas. Na província de
Ontário, no Canadá, George Henry testemunhou que foi o último convertido de
John Harper.
O pregador Harper testemunhou a mensagem para
várias pessoas no mar antes de morrer. Em seu artigo [3]A última conversão de John Harper, por exemplo, Dr. Erwin W. Lutzer faz referência ao último convertido de
John Harper, mas ele não cita o nome, mas parece tratar-se do mesmo personagem relatado
acima: George Henry Cavell. Lutzer fala também de uma pessoa que ficou com o colete
salva-vidas de Harper que parece ser outra pessoa, além de Cavell. “Um
relatório diz que Harper, sabendo que não poderia sobreviver por muito tempo na
água gelada, tirou o colete salva-vidas e jogou-o para outra pessoa com as
palavras, ‘Você precisa mais disso do que eu!’ Momentos depois, Harper
desapareceu debaixo d'água...”.
Bem, JohnHarper foi salvo sem se
salvar. Explico: ele não salvou sua vida terrena no naufrágio do Titanic, mas
salvou sua vida espiritual (alma/espírito) da eternidade sem Cristo. Mas Jesus
fala da salvação do corpo todo (cf. Mateus 5.29-30) também. Mas isto se dará com
a ressurreição final dos mortos, quando, inclusive, o mar dará os seus
mortos que nele houverem (Apocalipse 20.13).
Jesus disse que veio à Terra para que todos
tenham vida e a tenham com abundância (João 10.10), embora Jesus mesmo morreu!
Seus apóstolos também! Mas ressuscitou! E “ ... tendo sido Cristo
ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre
ele” (Romanos 6.9). A morte física é destino de (quase) todos [4]. Mas
os que morrem fisicamente em Cristo, mesmo sendo num naufrágio, seu espírito
será salvo; e continuam vivos, aliás, a verdadeira vida começa após a sua morte
física e a vida eterna também. E esta questão vai além da razão e é assunto da própria filosofia. Um filósofo que também morreu jovem, com apenas 39 anos – a exemplo
de John Harper –, chamado Blaise Pascal, propôs que “apostemos” no
assunto da crença em Deus e na eternidade. Apostar que Deus existe importa numa
modesta entrega da nossa razão, mas optar pela não-existência divina é arriscar
a perda da vida e felicidade eternas. Óbvio que como filósofo e racionalista,
Pascal também questiona que caso Deus não existisse (mas ele cria) o valor da
aposta (a nossa razão) é mínimo comparado ao prêmio que pode ser ganho na
eternidade.
Alexandre
Robles afirma que a impressão que ele tem é que este mundo é um Titanic em naufrágio. Os botes que existem
são negociados pelos políticos corruptos que lutam para salvar sua pele; os
miseráveis estão no mais baixo pavimento lutando para emergir e salvar a
própria vida; a elite está bem servida etc., enquanto a “... religião está
tocando violinos, discutindo teologias caducas e promovendo cultos alienantes,
porque não sabe o que fazer diante do iminente trágico e na esperança de fazer
o fundo musical do evento, neste caso mórbido”[5].
Em
suma, podemos afirmar que assim como no Titanic, no mundo, em se tratando de
vida terrena e vida eterna, há apenas duas classes de pessoas: salvas e
perdidas. Se você não tem certeza de que lado está, escolha JESUS. “Creia no
Senhor Jesus e será salvo ou salva”.
[2] Veja em: https://www.encyclopedia-titanica.org/titanic-survivor/george-henry-cavell.html
o depoimento de George Henry Cavell, anos após o naufrágio. Segundo
esta fonte, Cavell era funcionário (bombeiro?) da companhia que administrava o
Titanic... Ele nasceu em Hampshire, Inglaterra, em 4 de dezembro de 1889 e morreu
em Winchester, Hampshire, em 21 de julho de 1966. Mas o texto não cita nada da
experiência de conversão de Cavell. Acesso em: 07/05/2025.
[3] LUTZER, Dr. Erwin W. A
última conversão de John Harper. Disponível em:
https://www.moodymedia.org/articles/sharing-gift-christmas-one-minute-you-die/.
Acesso em: 07/05/2025.
[4] Digo “quase todos”
pois quando acontecer o arrebatamento de parte da Igreja por ocasião da volta
de Cristo, os que estiverem preparados naquele dia serão transformados sem
passar pela morte e encontrarão os demais crentes que já morreram e com o
Mestre Jesus nos ares (1 Tessalonicenses 4.17).
“.. e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm 3.15-17).
A Reforma Protestante foi um movimento reformista ocorrido no seio da igreja cristã no século XVI, iniciado por Martinho Lutero, em 1517.
Os fundamentos da Reforma são baseados nos chamados cinco solas: Sola Scriptura (Somente as Escrituras), Solus Christus (Somente Cristo), Sola Gratia (Somente a Graça), Sola Fide (Somente a Fé) e Soli Deo Gloria (Somente a Deus, Glória). Neste post, quero destacar o primeiro Sola, isto é, O Sola Scriptura.
Alguns destaques:
A
Escritura é o fundamento da fé cristã.
A
própria Escritura dá testemunho de si mesma:
“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Tm 16,17).
“E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2 Pe 3.15,16).
Pedro sugere que os escritos de Paulo são também Escrituras…
“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20,21).
As
Escrituras são “inerrantes, infalíveis e confiáveis”, mas
numa linguagem coloquial (do dia-a-dia e de homens simples)…
As
Escrituras são suficientes para o que precisamos em relação à
salvação, vida eterna e viver para a glória de Deus.
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores” (Ef 4.11).
O fundamento da igreja é a mensagem defendida pelo apostolado, e os evangelistas, pastores e doutores levam esta mensagem que é o fundamento dos apóstolos…
Escritura
e o Espírito Santo caminham lado a lado. Os escritores sagrados
eram inspirados e os pregadores são iluminados.
Uma
igreja reformada precisa priorizar as Escrituras. Estas precisam ser
lidas na igreja.
O
verdadeiro sermão tem que ser uma exposição do texto sagrado. O
pregador não é a voz de Deus, e sim a Bíblia, pois “… a
fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.”
(Rm 10.17).
A
questão hermenêutica: método histórico-gramatical, a melhor
interpretação do texto bíblico. Buscar os textos originais, o
contexto histórico, bons dicionários, teologias sistemáticas…
O
cristão deve buscar a Escritura amando-a, sem desconfiança…
Devemos
ver a Bíblia como continuidade: o Novo Testamento é continuação
do Antigo Testamento e compõe nossas Escrituras.
Cristo
é o centro das Escrituras, Estas, segundo Lutero é “manjedoura”
onde Cristo está assentado…
“Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.
Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação”.
A Reforma Protestante foi um movimento reformista ocorrido no seio da igreja cristã no século XVI, iniciado por Martinho Lutero, em 1517. E durante este movimento foram popularizados entre os primeiros reformadores os cinco princípios basilares da fé cristã reformista ou protestante, chamados solas. A palavra sola é a palavra latina para “somente”: Sola Scriptura (Somente as Escrituras); Solus Christus (Somente Cristo), Sola Gratia (Somente a Graça), Sola Fide (Somente a Fé) e Soli Deo Gloria (Somente a Deus, Glória).
Já falamos sobre o primeiro Sola, o sola Scriptura e neste post quero enfatizar o Solus Christus e destacar [1] alguns pontos deste princípio:
Quando a igreja abandona o primeiro artigo, a Sola Scriptura, consequentemente acabará abandonando também os outros pontos ou artigos de fé, os outros “solas”.
A cruz perdeu seu significado na atualidade. Em pesquisa de 1995, apenas 44% identificaram a cruz como símbolo da fé cristã. Mas a cruz é o ponto central da narrativa bíblica e deve ser também da fé cristã.
Segundo Lutero, “a igreja medieval seguia a escada da glória e não a escada da cruz”. Para Lutero, as “imagens de Babel” (Gênesis 11.1-9) representava a igreja medieval, e a escada de “Betel” (Gênesis 28.10-20) representava a descida de Deus até o homem.
E a cruz foi o ponto central desta busca ao homem por parte de Deus.
Franklin (Nota 1) destaca 3 escadas que estão presentes ainda hoje:
=> a escada da especulação, exemplificada pela Teologia Liberal;
=> a escada das boas obras, exemplificada pela prática da igreja medieval e pelo moralismo de algumas igrejas fundamentalistas;
=> a escada do misticismo, exemplificada por crentes que tentam chegar a Deus pelo seu próprio esforço, como portadores de “dons” especiais…
A teologia da cruz:
Somente conhecemos a Deus na cruz. Deus é conhecido não na força, mas na fraqueza.
Deus é conhecido e adorado somente na cruz.
Usando uma linguagem militar, Paulo enfatiza que o Cristo crucificado no madeiro venceu o Diabo.
O “teólogo” que não ensina a teologia da cruz não deve ser respeitado como tal; a teologia de Lutero é centrada na cruz.
Precisamos pensar:
na relação da cruz com a salvação (Rm 3.24-26);
na cruz como meio de redenção por Jesus Cristo pela graça;
na relação da cruz e a igreja; após a 2ª Guerra Mundial, a igreja colocou Jesus e a cruz para fora;
que o critério da pregação é apontar para o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo…
Conclusão:
“Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.
Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.”
(A Declaração de Cambridge, 2ª Tese).
Nota:
[1] Destaques do estudo do Professor e Pastor Franklin Ferreira, disponibilizado no You Tube. Link abaixo.
Eu sou cristão desde pequeno, católico até março de 1980 e protestante a partir de então. Já em março daquele ano (1980), quando comecei minha nova vida espiritual, sabia que entre os chamados evangélicos ou crentes, ou ainda protestantes..., há vários segmentos teológicos e/ou ideológicos: tradicionais, pentecostais e neopentecostais (este último estava no começo na época). Mas há também outras divisões, entre os quais podemos afirmar que incluem parte dos três grupos acima citados, que são – em resumo – os liberais, os fundamentalistas e os conservadores.
A igreja – Assembleia de Deus – da qual passei a fazer parte, em 1980, é fundamentalista. Lembro-me de que numa sala de aula de Teologia, acho que em 1981, um dos nossos professores disse aos alunos – maioria assembleianos – presentes, mais ou menos estas palavras que ficaram gravadas em minha mente: somos protestantes (porque somos herdeiros da Reforma); dispensacionalistas (porque acreditamos que Deus trata com o homem por períodos de tempo, abrangendo alianças e provas), pré-tribulacionistas (pois acreditamos que a Igreja será arrebatada antes da Grande Tribulação) e pré-milenistas (porque acreditamos que Jesus virá à Terra antes de um período de mil anos – literalmente – para governar). Pretendemos estudar rapidamente cada um destes dogmas, mas por ora, quero apenas destacar as três linhas ideológicas que envolvem a comunidade evangélica como um todo, destacando também, o papel dos conservadores na política brasileira.
1.
Evangélicos liberais
Por muito tempo, depois da Reforma e Contrarreforma do século XVI, até o século XIX, havia duas grandes divisões no Cristianismo ocidental: católicos e protestantes. Estes últimos foram os que mais se ramificaram (subdividiram) em várias igrejas e impactaram cultural e politicamente a sociedade europeia e estadunidense.
O
liberalismo, também chamado de
“modernismo”, corresponde à grande mudança no pensamento
teológico, alcançando
seu ápi’ce principalmente
entre
meados do
século XIX e
a primeira guerra mundial. “Os
desafios intelectuais que o século XIX apresentou ao cristianismo
foram enormes, e tanto o protestantismo como o catolicismo viram-se
obrigados a lhes responder”
(GONZÁLEZ [1]).
O
liberalismo teológico foi uma tentativa de resposta a estes
desafios, procurandoadaptar
as ideias religiosas cristãs à cultura
e formas de pensar da época. Uma vez que o mundo não era mais o
mesmo dos tempos da Bíblia e dos credos, era
preciso repensar a fé e transmiti-la em termos que possam ser
compreendidos hoje. A
Revolução Industrial, que afetou não só a economia, mas também
todos os aspectos da vida; o Evolucionismo
de Darwin, quelevou
os cristãos, senão
a se tornarem ateus, pelo menos a pensarem
num Deus imanente que edificou o universo lentamente e pôs em
descrédito a narrativa do Gênesis; o processo científico em geral
foi aplicado à teologia e à crítica bíblica e pôs em cheque os
dogmas cristãos...
Como
enfatizei nesta
minha monografia, [2] neste
período, as
correntes
do pensamento liberal, foram
notáveis
em todos os aspectos da vida, como migrações, principalmente rurais, rompimento dos laços de família, crescente individualismo e egocentrismo (o tema do ‘eu’) que passou a ocupar a literatura da época. O olhar para o futuro, sob a ideia do progresso, contrariava a forma de pesquisa que adotava até então. Até pouco antes, a opinião mais comum era de que as ideias eram certas quanto mais antigas fossem. Agora, muitos dos intelectuais que enfatizavam o ‘futuro’, motivado pelo progresso, em detrimento do passado, vão pôr em dúvida o que se tem dito até então, em matéria de ‘verdades’ histórica e religiosa. E neste sentido, a ‘Teoria da Evolução, de Darwin, é uma expressão dessa confiança no progresso’. Progresso este, teorizado por Augusto Comte, fundador da Sociologia Moderna, que seguia as etapas da ‘… ‘teológica’ à ‘metafísica’, e desta à ‘científica’. (...) No campo religioso, estes estudos, aplicados à Bíblia, produziram fortes abalos e extensos debates”. E nos Estados Unidos, a teoria de Darwin e outras também de relevância defesa do progresso, repercutiram em forma de ‘teologia liberal’ que tentava ‘… harmonizar o cristianismo com a modernidade, caso contrário, a fé cristã se tornaria uma religião irrelevante e sem sentido nos tempos modernos’. Apesar de não ter sido um ‘movimento monolítico’ o liberalismo foi considerado uma ameaça à fé cristã, e exigiu uma resposta da ‘ala conservadora’ de reação ‘antiliberal’, que defendia os ‘fundamentos da fé’ (Nota 2: item 5.2).
E para destacar os principais ensinos do liberalismo quero aproveitar também parte de uma das fontes utilizadas em minha monografia, o texto de Osiel Lourenço de Carvalho [3]:
“A aceitação das teorias das ciências da natureza como a teoria da evolução de Charles Darwin.
O uso da alta e baixa crítica na interpretação da Bíblia.
O reconhecimento da influência de povos vizinhos de Israel na constituição da religião judaica.
A ênfase em Deus como amor, em lugar de sua figura de juiz da humanidade.
A presença, em cada pessoa, de uma centelha divina, proporcionando uma visão otimista quanto à sua identidade e futuro.
A teoria da revelação progressiva, com a influência dos fatores naturais, econômicos e políticos.
Jesus mais que um salvador da humanidade, é exemplo de plenitude das potencialidades humanas.
A Bíblia é um testemunho da experiência religiosa de Israel e da igreja em seus primeiros anos.
As doutrinas e dogmas das igrejas devem ser substituídos pela experiência religiosa de cada indivíduo.”
Como Pierard [4] afirma, “… a Primeira Guerra Mundial esmagou o otimismo inebriante que era o seu patrimônio principal, enquanto os conservadores contra-atacavam…” e “… já na década de 1960, a maioria dos liberais tinha abandonado o otimismo humanista, o imanentismo cultural progressivo e o sonho de um reino terrestre, sem, contudo, ceder terreno quanto à sua interpretação não-literal da Bíblia.” O certo é que a corrente protestante liberal não morreu e continua dividindo espaços com fundamentalistas e conservadores nos dias atuais.
Como vimos acima, o fundamentalismo ganhou força após a primeira guerra mundial. Mas, como teoria ou linha ideológica/teológica, remonta até 1886, quando foi fundado o Moody Bibble Institute pelo evangelista norte-americano D. L. Moody, em Chicago, com o objetivo de combater a alta crítica e o avanço do liberalismo. Além deste seminário, já havia também, desde 1812, o Seminário Teológico de Princeton, de Nova Jérsei (EUA). Segundo o Portal Got Questions [5], “… 97 líderes de igrejas conservadoras de todo o mundo ocidental foram comissionados a escrever 12 volumes sobre os princípios básicos da fé cristã. Eles então publicaram esses escritos e distribuíram mais de 300.000 cópias gratuitamente para ministros e outros envolvidos na liderança da igreja. Os livros foram intitulados Os Fundamentos, e ainda existem hoje como um conjunto de dois volumes.”
Destacaram-se na formalização do Fundamentalismo, final do século XIX e início do século XX, alguns líderes cristãos, como John Nelson Darby, Dwight L. Moody, BB Warfield, Billy Sunday e outros, que estavam preocupados com o fato de que os valores morais estavam sendo corroídos pelo Modernismo ou liberalismo. Esta crença, segundo eles, estava centrada no homem e não em Deus. Seus adeptos, além da influência do Modernismo, era preciso lutar também contra o movimento alemão de alta crítica, o qual buscou negar a inerrância das Escrituras.
O Fundamentalismo é construído em cinco princípios da fé cristã, embora haja muito mais para o movimento do que a adesão a estes princípios [6]:
A
Bíblia é literalmente verdadeira. Associada a este princípio é a
crença de que a Bíblia é infalível, isto é, sem erro e livre de
contradições.
O
nascimento virginal e a divindade de Cristo. Os fundamentalistas
acreditam que Jesus nasceu da Virgem Maria, foi concebido pelo
Espírito Santo e era e é o Filho de Deus, plenamente humano e
divino.
A
expiação substitutiva de Jesus Cristo na cruz. O Fundamentalismo
ensina que a salvação é obtida somente através da graça de Deus
e a fé humana na crucificação de Cristo para os pecados da
humanidade.
A
ressurreição corporal de Jesus. No terceiro dia após a sua
crucificação, Jesus ressuscitou dos mortos e agora está assentado
à direita de Deus Pai.
A
autenticidade dos milagres de Jesus como registrados nas Escrituras
e a literal e pré-milenar segunda vinda de Cristo à Terra.
Diferentemente dos liberais, os fundamentalistas ensinam também, que os primeiros cinco livros da Bíblia foram escritos por Moisés; que a Igreja será arrebatada antes da tribulação do fim dos tempos e a maioria deles também é dispensacionalista (assunto do qual falaremos em outro momento).
Entendo que o fundamentalismo abrange tanto tradicionais quanto os pentecostais e neopentecostais. O fundamentalista exerce certa militância de sua religiosidade e se vê como guardião da verdade, normalmente excluindo a interpretação bíblica dos outros e gerando atritos com os mesmos, isto é, com outros segmentos religiosos.
O Fundamentalismo foi uma resposta radical para a época que nasceu, uma vez que o mundo estava adotando o Modernismo, Liberalismo e o Darwinismo, e a própria igreja estava sendo invadida por falsos mestres. Ele foi uma reação contra a perda do ensino bíblico, mas depois, começou a se fragmentar e se reorientar. “O grupo mais proeminente e vocal nos EUA [por exemplo] tem sido a Direita Cristã. Este grupo de autodenominados fundamentalistas tem sido mais envolvido em movimentos políticos que a maioria dos outros grupos religiosos. Na década de 1990, grupos como a Coalizão Cristã e Conselho de Pesquisa da Família têm influenciado a política e questões culturais. Hoje, o Fundamentalismo vive em vários grupos evangélicos, como a Convenção Batista do Sul. Juntos, esses grupos afirmam ter mais de 30 milhões de seguidores” (Idem). E como dissemos aqui, o fundamentalismo norte-americano chegou ao Brasil, no início do século XIX, como parte do “Destino Manifesto” protestante que se transformou no modelo do “Protestantismo de Missão”. Aqui, este modelo de protestantismo vai se firmar através de um “fundamentalismo” anticatólico e de muita pouca aproximação com a cultura brasileira, dificultando, desta forma, uma aproximação com pessoas de outros credos, mediante o diálogo sadio e amigável com estes grupos.
Os fundamentos são princípios de defesa do verdadeiro cristianismo, mas sua ênfase na inerrância da Bíblia, inclusive de sua escrita (letra-por-letra) fazem com que seus defensores, os fundamentalistas, sejam vistos como extremistas radicais, pessoas que, inclusive, idolatram a Bíblia. E assim, são criticados tanto por cristãos protestantes liberais, católicos e não-cristãos. Na verdade, os fundamentalistas têm uma característica evidente: “A convicção de que possuem o conhecimento absoluto da verdade, da qual se tornaram guardiões divinamente ordenados” (Lloyd Geering. In: Movimento Batistas por princípios – ver Nota 7). Teólogos conservadores como Alister McGrath afirmam que o movimento fundamentalista prejudicou a teologia acadêmica e o consequente debate com os liberais. Além disso, para ele, “… o surgimento do fundamentalismo causou impacto sobre o compromisso evangélico com a erudição em geral”. E no seu “… afã de se identificarem como detentores da verdade e paladinos da defesa do cristianismo, prejudicaram a integralização entre evangélicos e universidades” (Idem). O contraponto entre o radicalismo fundamentalista e a frouxidão (ou descuido com a pureza do verdadeiro Evangelho) do liberalismo pode ser visto, portanto, com a posição do conservadorismo, do qual falaremos a seguir...
3.
Evangélicos
conservadores
Voltando ao que falei no início, sobre a Igreja Assembleia de Deus, como sendo fundamentalista, alguns anos depois, esta posição já havia mudado bastante, e, num outro momento, lembro-me de que outro professor de teologia disse que esta igreja é literalista – interpreta a Bíblia de forma literal –, mas não fundamentalista. Eu fui membro daquela Assembleia em São Paulo, por 37 anos (há várias assembleias e cada uma com peculiaridades próprias), mas na verdade, sempre me considerei um “batisbleiano” (mistura de batista com assembleiano), portanto um fundamentalista por princípio, até certo ponto, mas convivi muito bem com outros que pensavam diferente. Em 2016, ao fazer um curso de pós numa faculdade batista, e ouvindo sobre muitas ressalvas e até críticas sobre o fundamentalismo – e isto num seminário tido como fundamentalista! –, resolvi estudar um pouco mais sobre o assunto, e escrevi o trabalho citado acima: “Fundamentalismo Protestante: dificuldades de interação e diálogo com a cultura brasileira”. Porém, embora eu reconheça esta dificuldade de interação com a cultura, vejo que o fundamentalismo defende pontos que são inegociáveis por serem verdades absolutas da Palavra de Deus. Por exemplo, mencionamos os cinco pontos de fé fundamentalista: a infalibilidade e inerência das Escrituras, a divindade de Cristo e seu nascimento virginal, a remissão dos pecados da humanidade pela crucificação de Jesus, a ressurreição corpórea de Jesus como um fato histórico e a volta iminente de Jesus à Terra. Eu acrescentaria também os cinco solas da Reforma: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Fide, Sola Gratia e Soli Deo Gloria. Estas são defesas também de conservadores. Ah, hoje, morando em Pindamonhangaba/SP e membro da Igreja da Cidade, com princípios batistas, continuo nesta mistura teológica de fundamentalismo com conservadorismo. Há alguma diferença? Para responder a esta pergunta, quero utilizar, na sequência, parte de um texto de um portal batista, bem sugestivo, a propósito: “Movimento Batistas por Princípios”, que afirma que:
embora fundamentalistas e conservadores tenham a mesma percepção quanto à ‘defesa’ da doutrina, há modos diferentes de entender como essa postura apologética é conduzida. Com os primeiros (fundamentalistas), o diálogo é quase nulo; com os segundos (conservadores), é possível dialogar porque estes já se deram conta há algum tempo que as coisas mudaram e o mundo não é mais como antigamente… o conceito ‘fundamentalismo’ é um termo que surgiu no contexto religioso protestante nos EUA, mas que já ultrapassou o âmbito protestante estadunidense há muito tempo, principalmente depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. O termo ficou popularizado e hoje pode ser visto sendo empregado não apenas no contexto religioso… Os conservadores passaram a se desvincular dos fundamentalistas por entender que a reflexão precisava acontecer e o recrudescimento a partir de posturas ferrenhamente antagônicas não contribuía para o debate com os liberais e, como consequência, com a sociedade. O que demonstra, que os conservadores procuraram o diálogo enquanto os fundamentalistas continuaram a se verem como os ‘únicos’ detentores de uma verdade que não abria para questionamentos… [7]
Bem, voltando à questão da “inerrância” ou “interpretação” da Bíblia Sagrada, vimos que os fundamentalistas afirmam de maneira peremptória sua inerrância, mas os conservadores preferem, ao invés disso, falar de sua “infalibilidade” “… em questões de doutrina e fé” (Júlio Zabatiero: Idem, Nota 7), considerando o contexto em que o texto foi escrito… Interessante que temos, dentre alguns teólogos bem conhecidos, aqueles que se identifica(ra)m como conservadores e não fundamentalistas, como: Billy Graham, John Stott, Isaltino Gomes Coelho Filho, Ebenézer Soares Ferreira, Irland Pereira de Azevedo etc. E os que são fundamentalistas sem serem conservadores, segundo o artigo a que estamos fazendo referência, são os que não aceitam “a diversidade” do modo de ser Batista. O éthos dos Batistas é ser conservador mas entende como a diversidade (ambos os lados são aceitos) é inerente ao seu sistema denominacional.
Conservadores
e liberais na política
O conservadorismo se estendeu para fora do âmbito religioso e alcançou a política. De 2016 para cá, tornou-se muito comum ouvirmos falar de “direita conservadora” aqui no Brasil. O que isto quer dizer? Um pequeno livro do influencer evangélico Luiz Camargo, “Breve manual do cristão conservador” [8] trata de forma bem objetiva deste assunto. Itens que ele aborda como relação do conservadorismo com a direita do Brasil, liberais x conservadores, a Verdade, globalismo, aborto e outros, demonstram a influência do conservadorismo na política brasileira. Aliás, este conceito vai além do grupo dos evangélicos chegando inclusive a católicos, espíritas e até não-religiosos. Mas o que unem estas pessoas ou grupos? Um resumo pode ser:
O conservadorismo implica em preservar valores, costumes e tradições da cultura judaico-cristã. Portanto, se alguém é antissemitista, e anticristão, por exemplo, não pode ser considerado um conservador, ao passo que na sociedade, alguém que mesmo não sendo evangélico ou cristão, mas aceita os valores cristãos como moral, ética etc., conseguem conviver muito bem como conservadores. Percebo isto na lista de contatos (ou seguidores) nas redes sociais de grandes influenciadores (de direita conservadora) da internet, por exemplo.
Mesmo no aspecto político, os conservadores são contrários ao aborto, mudança de sexo, legalização das drogas, defendem a família tradicional (pai, mãe e filhos), a liberdade (de imprensa, expressão, comércio etc. – com base no livre-arbítrio das pessoas), a pouca intervenção do Estado na economia e na vida das pessoas, são pró-Israel (semitistas), defendem o Estado laico (não o laicismo) etc.
Como partidos considerados de esquerda não aceitam os valores dos conservadores, estes são considerados de direita no espectro político.
Então só existem conservadores de direita? Entendo que não há compatibilização entre os princípios que os conservadores defendem com os defendidos pela esquerda. É comum ouvirmos também de “liberais na economia e conservadores nos costumes”. Liberalismo, neste caso, é diferente do que vimos no sentido teológico acima. E o liberalismo, no sentido econômico, é comum também para conservadores. O certo é que, em geral, os conservadores buscam um governo que seja “… pautado pela prudência, por isso tem como premissa a preservação dos valores morais, religiosos e patrióticos tradicionais da civilização ocidental, que foram estabelecidos não por governos ou pensadores na tentativa de chegar a um objetivo previamente arquitetado, mas pelas relações livres dos indivíduos livres ao longo da história. [9]” Ao contrário da esquerda, o conservador não é revolucionário. Na verdade, é exatamente por meio da revolução que os membros da esquerda tentam destruir todo o alicerce da cultura ocidental preservado pelos conservadores através da história.
Evangélico e protestante são palavras sinônimas correspondentes a um mesmo segmento, mas subdividido, de cristãos não-católicos, que abrangem tradicionais, pentecostais e neopentecostais. Os liberais ainda estão presentes hoje, a maioria defendendo pautas da esquerda, presente em grande número dentro das igrejas, principalmente entre os evangélicos tradicionais e católicos. Mas no campo político, liberalismo não tem necessariamente relação com temas teológicos e morais. O conceito está restrito ao mercado. Muitos políticos liberais são ateus e até amoralistas. É comum, por exemplo, liberais defendendo aborto, drogas, pautas LGBT…, condenando Israel e assim por diante. Estes são, via de regra, bem-aceitos no campo político e nas instituições educacionais, já os fundamentalistas/conservadores – nesse caso, tratados como se fossem apenas um grupo, que pensam igualmente e defendem as mesmas pautas – são muitos criticados, vistos como radicais, retrógrados, terraplanistas, fascistas, extremistas, ultradireitistas, anticiência e às vezes tratados como cidadãos com menos direitos do que os demais. Conservadores são vistos como sinônimos de fundamentalistas, colocados num mesmo balaio, mas nos últimos anos, sua presença tem sido notória no campo político.
É sabido que no Brasil, a maioria é conservadora: não só de evangélicos, mas também de católicos e até outros grupos não-religiosos. Mas há algo preocupante, a meu ver, quando pesquisa como esta do Datafolha [10] aponta, por exemplo, que enquanto o número de “… evangélicos que se identifica com a direita, é proporcionalmente maior que o da média brasileira”, mas, por outro lado, entre os próprios evangélicos “...o número de evangélicos de direita é equivalente aos de esquerda”. Não quero aqui defender nem condenar nenhum dos lados, embora vejo que há uma certa tendência do cristão, ao escolher o lado da esquerda, absorver também suas pautas e viver uma espécie de “Evangelho Segundo Marx”, “Teologia da Libertação” etc. E, por este motivo, escolher governantes que também pensam e agem assim.
Para concluir, quero sugerir o vídeo abaixo, de Luiz Camargo, explicando a diferença, no campo político, entre conservadores e liberais.
Notas / Referências bibliográficas:
[1] GONZÁLEZ, Justo. Uma história ilustrada do Cristianismo: a era dos novos horizontes. São Paulo: Vida Nova, 2009. Apud: AMORIM, Nota 2.
[3] CARVALHO, Osiel Lourenço de. Fundamentalismo Protestante. In: SOUZA, Sandra Duarte (Org.). Fundamentalismos religiosos contemporâneos. São Paulo: Fonte Editorial: 2013, pág.52 e 53.
[4] PIERARD, R. V. Liberalismo Teológico. In: ELWELL, Walter. A. (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1988 (1ª Ed.), Pág. 428 e 429.
[8] CAMARGO, Luiz. Breve manual do cristão conservador. Campinas/SP: Vide Editorial, 2022.
[9] Idem, pág. 23.
[10] Datafolha: número de evangélicos de direita é equivalente aos de esquerda. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/pesquisa-eleitoral/noticia/2022/06/07/datafolha-numero-de-evangelicos-de-direita-e-equivalente-aos-de-esquerda.ghtml>. Acesso em: 28/08/2024.