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21 setembro 2023

Soli Deo Gloria: A vida centrada em Deus

Soli Deo Gloria: A vida centrada em Deus



Neste post, quero destacar o princípio protestante Soli Deo Gloria – Somente a Deus, a glória. Os outros princípios, chamados Solas (Somente) são: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola GratiaSola Fide.

Conforme diz o apóstolo Paulo, em 1Co 10.31, quer comamos ou bebamos ou ainda façamos qualquer outra coisa, precisamos fazer tudo para a glória de Deus. Este é um princípio que destoa em muito o entendimento de adoração do protestante do da Igreja Católica. “Soli Deo gloria enfatiza a glória de Deus como o objetivo da vida. Em vez de nos esforçarmos para agradar os líderes da igreja, manter uma lista de regras ou guardar nossos próprios interesses, nosso objetivo é glorificar o Senhor" (In: Quais são os cinco – GotQuestions).

Quero destacar alguns pontos do estudo Soli Deo Gloria: A vida centrada em Deus, do Pastor Franklin Ferreira, disponibilizado no You Tube:

  • Os cultos e nossas vidas perderam o significado, porque não estão centrados em Deus.

  • No Catecismo de Genebra diz que “Deus nos criou e nos colocou na terra para ser glorificado em nós. E, certamente, é correto que dediquemos nossa vida à sua glória, já que Ele é o princípio dela”.

  • O Deus que os cristãos adoram:

- é cheio de graça, majestade, santidade e soberania.

- se revela nas Escrituras: única fonte de revelação;

é o Deus trino, que se revela como Pai, Filho e Espírito Santo: revelação trinitária;

  • Deus é o Senhor criador de todas as coisas, o todo-poderoso, que sustenta e governa toda a criação.
  • O Pai perdoa pecadores por meio do sacrifício de seu único Filho na cruz e envia seu Espírito Santo para santificar a igreja.
  • A glória de Deus:

- majestade e brilho que acompanham a revelação da Palavra e do poder de Deus;

- refere-se à suprema beleza do Deus trino.

  • Por que Deus busca a Sua glória? Porque Deus é Deus. Há um único Deus e tudo redunda em Sua glória (Ef 1.12-14) e Jo 17.1-5 Cada pessoa que compõe a Trindade busca a glória do outro.

  • A glória de Deus: tema central da Sua Palavra. Tudo foi criado para louvor de Sua glória.

  • O Senhor Deus confundiu as pretensões idolátricas e religiosas na torre de Babel – para sua glória.

  • Deus se manteve fiel à aliança – para sua glória.

  • O povo da aliança foi sustentando durante a escravidão no Egito durante 400 anos – para sua glória.

  • Com braço forte, com sinais e prodígios, o povo foi retirado do Egito – para sua glória…

  • Somos salvos para dar glória a Deus. E quando vivemos para a glória de Deus estamos imitando o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

  • Alegria, prazer e contentamento: experiências que os salvos que vivem para a glória de Deus, podem ter na presença de Deus.


Alguns textos bíblicos que falam sobre a glória de Deus:

  • “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos, ele é o Rei da Glória” (Sl 24.7-10).
  • “Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade. Porque dirão os gentios: Onde está o seu Deus? Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou” (Sl 115.1-3).
  • “Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória” (Ef 1.12-14).
  • “Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti; Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17.1-5).
  • “Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Is 45.5-7).

Veja também:


Conclusão

“Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a autoestima e a autorrealização se tornem opções alternativas ao evangelho.” (A Declaração de Cambridge, Tese 5).


Fonte:


Veja o vídeo a seguir:




17 setembro 2023

Sola Fide: aliada da graça na justificação

Sola Fide: aliada da graça na justificação

Por: Alcides Barbosa de Amorim



Continuando o estudo sobre os cinco Solas – verdades fundamentais da Reforma Protestante –, depois de já termos destacado o Sola Scriptura, o Solus Christus e o Sola Gratia, quero destacar também neste post a fé (Sola Fide, Somente a Fé), virtude divina e espiritual, aliada da graça no plano salvífico (justificação) do ser humano.

O Pastor e Professor, Franklin Ferreira, em sua explanação sobre o assunto1, destaca:

  • Conforme Romanos 4, Abraão, Moisés e Davi foram declarados justos pela fé somente.
  • A fé é o reconhecimento de que não temos mérito para barganhar com Deus.
  • Fé é crer e confiar em Jesus. A fé não é o fundamento da justificação e sim, a graça. Não importa o tamanho da fé do crente, importa a fé, mesmo pequena.
  • Hebreus 11 e 12 tratam de gente como a gente, mesmo sendo chamados de heróis. Jesus foi o autor da fé daqueles heróis.

O Pastor Franklin cita a Confissão de Augsburg, um dos principais documentos sobre da fé protestante... Mas quero destacar também o artigo Sola Fide2, do Dr. J. V. Fesko, que segue a mesma linha do Pastor Franklin, e cita também outros documentos. Por exemplo, o Catecismo de Westminster, citado por ele, define Justificação como “… um ato da livre graça de Deus, através da qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos diante de si, somente pela justiça de Cristo a nós imputada e recebida pela fé somente”. Este princípio entra em choque com a posição da Igreja Católica que defende desde do Concílio de Trento, em 1547, “… (1) que os pecadores são justificados pelo seu batismo, (2) que a justificação é pela fé em Cristo e pelas boas obras de uma pessoa, (3) que os pecadores não são justificados unicamente pela justiça imputada de Jesus Cristo, e (4) que uma pessoa pode perder sua posição de justificação”. Ou seja, para a Igreja Católica, o Solus Fide é uma heresia protestante e recebe o anátema da mesma quem assim pensa ou pratica.

Entretanto, seguindo a posição protestante e nosso entendimento do que fala as Escrituras sobre a fé e sua relação com a justificação, afirmamos, como conclusão, que O único meio pelo qual a perfeita obra de Cristo é recebida é pela fé somente – Sola Fide.

Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê [que tem fé]; primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé (Rm 1.16,17). 

Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5.1).

Sugiro a leitura do meu artigo: O depósito da fé: cânon, sucessão apostólica, tradição e outras considerações, publicado aqui em fevereiro de 2022.

Veja também o vídeo de Paulo Won abaixo:

 

Notas / Referências:



14 setembro 2023

Sola Gratia: o favor imerecido de Deus

Sola Gratia: o favor imerecido de Deus

Por: Alcides Barbosa de Amorim



A Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero, em 1517, Reforma Protestante foi um movimento reformista ocorrido no seio da igreja cristã no século XVI, iniciado por Martinho Lutero, em 1517, deixou-nos como legado os cinco princípios, chamados Solas. Já vimos um pouco sobre o Sola Scriptura e o  Solus Christus. Desta feita, destacaremos o Sola Gratia (Somente a Graça).

Diferentemente do que pensa o clero católico que condiciona a salvação do homem, além da graça também às suas boas obras, os reformadores entenderam que a salvação do homem é inteiramente condicionada à ação da graça de Deus, ou seja, só a graça através da regeneração unicamente promovida pelo Espírito Santo, em conjunto com a obra redentora de Jesus Cristo é o meio de salvação por meio da fé (fide). Como disse Paulo em Efésios 2.8-9: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”. A palavra traduzida como graça no Novo Testamento vem da palavra grega charis, o que significa "favor, bênção ou bondade”. Como somos pecadores e, por isto mesmo, não merecedores da salvação, Deus escolhe, mediante sua Graça, nos abençoar ao invés de nos amaldiçoar como o nosso pecado merece. A Graça é a sua benevolência ou favor imerecido em favor do homem.

Alguns destaques do estudo do Pastor Franklin Ferreira (Fonte abaixo) sobre o assunto, disponível no You Tube:

  • A mensagem de salvação está escassa hoje em dia. Muitas mensagens, via de regra, são calcadas no poder do homem. A mensagem é o produto e os crentes, os consumidores.
  • O fundamento da nossa salvação é a graça. A graça é livre e é conferida – como uma dádiva – ao crente.
  • Deus mesmo se entregou em favor do homem. Somos declarados homens e mulheres retos e justos pela graça de Deus em Cristo.
  • Os textos de Romanos 5.2-21 e 1Corintios 15 resume toda a história da humanidade em duas pessoas: Adão e Cristo. Cristo, o segundo Adão, efetuou uma nova criação.
  • Jesus é o Filho Amado, mas no calvário, ele assume a ira de Deus. E ele não se tornou pecador, apenas satisfez as exigências do Pai.
  • A justificação não é gradual, e sim completa.

(A Declaração de Cambridge, Tese 3)

Importante distinguir entre o que é a graça comum (geral, universal) e a graça especial (salvífica, regeneradora). A Graça comum é assim chamada porque toda a humanidade a recebe em comum. Seus benefícios são experimentados pela totalidade da raça humana, sem discriminação entre uma pessoa e outra. Já a graça especial, da qual nos ocupamos aqui, é aquela pela qual Deus redime, santifica e glorifica Seu Povo. Ao contrário da graça comum, que é dada universalmente, a graça especial é outorgada somente àqueles que Deus elege à vida eterna, mediante a fé em ação do cristão.

Conclusão:

“Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual. 

Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.”


Fontes sugeridas:

  • HUGHES, P. Edgcumbe. Graça. In: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. II. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág. 216 a 220.


Veja também o vídeo de Paulo Won a seguir:


11 setembro 2023

Solus Christus: A Centralidade da Cruz de Cristo

Solus Christus: A Centralidade da Cruz de Cristo

Por Alcides Barbosa de Amorim



A Reforma Protestante foi um movimento reformista ocorrido no seio da igreja cristã no século XVI, iniciado por Martinho Lutero, em 1517. E durante este movimento foram popularizados entre os primeiros reformadores os cinco princípios basilares da fé cristã reformista ou protestante, chamados solas. A palavra sola é a palavra latina para “somente”: Sola Scriptura (Somente as Escrituras); Solus Christus (Somente Cristo), Sola Gratia (Somente a Graça), Sola Fide (Somente a Fé) e Soli Deo Gloria (Somente a Deus, Glória).

Já falamos sobre o primeiro Sola, o sola Scriptura e neste post quero enfatizar o Solus Christus e destacar [1] alguns pontos deste princípio:

  • Quando a igreja abandona o primeiro artigo, a Sola Scriptura, consequentemente acabará abandonando também os outros pontos ou artigos de fé, os outros “solas”.
  • A cruz perdeu seu significado na atualidade. Em pesquisa de 1995, apenas 44% identificaram a cruz como símbolo da fé cristã. Mas a cruz é o ponto central da narrativa bíblica e deve ser também da fé cristã.

  • Segundo Lutero, “a igreja medieval seguia a escada da glória e não a escada da cruz”. Para Lutero, as “imagens de Babel” (Gênesis 11.1-9) representava a igreja medieval, e a escada de “Betel” (Gênesis 28.10-20) representava a descida de Deus até o homem.

  • E a cruz foi o ponto central desta busca ao homem por parte de Deus.

Franklin (Nota 1) destaca 3 escadas que estão presentes ainda hoje:

  • => a escada da especulação, exemplificada pela Teologia Liberal;

  • => a escada das boas obras, exemplificada pela prática da igreja medieval e pelo moralismo de algumas igrejas fundamentalistas;

  • => a escada do misticismo, exemplificada por crentes que tentam chegar a Deus pelo seu próprio esforço, como portadores de “dons” especiais…

A teologia da cruz:

  • Somente conhecemos a Deus na cruz. Deus é conhecido não na força, mas na fraqueza.
  • Deus é conhecido e adorado somente na cruz.
  • Usando uma linguagem militar, Paulo enfatiza que o Cristo crucificado no madeiro venceu o Diabo.
  • O “teólogo” que não ensina a teologia da cruz não deve ser respeitado como tal; a teologia de Lutero é centrada na cruz.

Precisamos pensar:

  • na relação da cruz com a salvação (Rm 3.24-26);
  • na cruz como meio de redenção por Jesus Cristo pela graça;
  • na relação da cruz e a igreja; após a 2ª Guerra Mundial, a igreja colocou Jesus e a cruz para fora;
  • que o critério da pregação é apontar para o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo…


Conclusão:

“Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai. 

Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.”

(A Declaração de Cambridge, 2ª Tese).

 

Nota:

  • [1] Destaques do estudo do Professor e Pastor Franklin Ferreira, disponibilizado no You Tube. Link abaixo.


Fontes sugeridas:

  • FERREIRA, Franklin. Solus Christus: A Centralidade da Cruz de Cristo. In: <https://www.youtube.com/watch?v=xj6AtVp5eHg>. Acesso em: 07/09/2023.


Agora, veja o vídeo de Paulo Won, Solus Christus:

07 setembro 2023

Sola Scriptura: o fundamento da fé

Sola Scriptura: o fundamento da fé

Por Alcides Barbosa de  Amorim


 

“.. e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm 3.15-17).


A Reforma Protestante foi um movimento reformista ocorrido no seio da igreja cristã no século XVI, iniciado por Martinho Lutero, em 1517.

Os fundamentos da Reforma são baseados nos chamados cinco solas: Sola Scriptura (Somente as Escrituras), Solus Christus (Somente Cristo), Sola Gratia (Somente a Graça), Sola Fide (Somente a Fé) e Soli Deo Gloria (Somente a Deus, Glória). Neste post, quero destacar o primeiro Sola, isto é, O Sola Scriptura.

Alguns destaques:

  • A Escritura é o fundamento da fé cristã.

  • A própria Escritura dá testemunho de si mesma:

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Tm 16,17).

“E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2 Pe 3.15,16).
  • Pedro sugere que os escritos de Paulo são também Escrituras…
“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20,21).
  • As Escrituras são “inerrantes, infalíveis e confiáveis”, mas numa linguagem coloquial (do dia-a-dia e de homens simples)…

  • As Escrituras são suficientes para o que precisamos em relação à salvação, vida eterna e viver para a glória de Deus.

“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores” (Ef 4.11).

          • O fundamento da igreja é a mensagem defendida pelo apostolado, e os evangelistas, pastores e doutores levam esta mensagem que é o fundamento dos apóstolos…

  • Escritura e o Espírito Santo caminham lado a lado. Os escritores sagrados eram inspirados e os pregadores são iluminados.

  • Uma igreja reformada precisa priorizar as Escrituras. Estas precisam ser lidas na igreja.

  • O verdadeiro sermão tem que ser uma exposição do texto sagrado. O pregador não é a voz de Deus, e sim a Bíblia, pois “… a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” (Rm 10.17).

  • A questão hermenêutica: método histórico-gramatical, a melhor interpretação do texto bíblico. Buscar os textos originais, o contexto histórico, bons dicionários, teologias sistemáticas…

  • O cristão deve buscar a Escritura amando-a, sem desconfiança…

  • Devemos ver a Bíblia como continuidade: o Novo Testamento é continuação do Antigo Testamento e compõe nossas Escrituras.

  • Cristo é o centro das Escrituras, Estas, segundo Lutero é “manjedoura” onde Cristo está assentado…


“Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.

Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação”. 
(A Declaração de Cambridge, 1ª Tese).


Fontes sugeridas: 


Veja também o vídeo de Paulo Won a seguir:



28 agosto 2023

Evangelicalismo

Evangelicalismo

Por Richard V. Pierard


"O evangelicalismo, evangelismo ou cristianismo evangélico é um movimento cristão protestante surgido no século XVII, depois da Reforma Protestante, tornando-se uma vertente organizada com o surgimento, dos metodistas entre os anglicanos, dos puritanos entre os calvinistas e Igrejas Reformadas, ambos na Inglaterra e dos pietistas entre os luteranos na Alemanha e Escandinávia. O movimento tornou-se ainda mais significativo nos Estados Unidos da América durante o Grande Despertamento dos séculos XVIII e XIX, onde conseguiu muito mais membros do que na Europa. O movimento continua a atrair adeptos em nível mundial no século XXI, especialmente no mundo em desenvolvimento. É um movimento que reúne vários submovimentos, sendo os principais Anabatismo, Igreja Batista e Pentecostalismo..."

(Wikipédia: texto e imagem)


Veja o texto completo de Richard Pierard em PDF, acessando o link a seguir:


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Evangelicalismo

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21 agosto 2023

1930: Revoluções e Golpes

1930: Revoluções e Golpes

Por
DEL PRIORI, Mary e VENANCIO, Renato

Para os leitores de jornais da época, o golpe que depôs Washington Luís e consequentemente impediu a posse de seu sucessor, Júlio Prestes, pareceu um típico confronto entre chefes políticos da República Velha. Muitos achavam que o novo governo não duraria, pelo fato de a sustentação política da Revolução de 1930 ser bastante frágil. O movimento, como se sabe, havia desafiado o domínio de poderosas oligarquias, a começar pela paulista, formada por influentes fazendeiros e industriais, organizados em torno do Partido Republicano Paulista.

Para enfrentar tal coligação de interesses, Vargas articulou em torno de si vários grupos que, desde o início da década de 1920, vinham dando mostra de descontentamento contra o domínio oligárquico. A história política brasileira de 1930 a 1954 passa então a ser marcada por uma série de alianças, rupturas, aproximações e perseguições entre o novo presidente e diversos segmentos da sociedade; para melhor compreendermos tais artimanhas, voltemos ao calor dos acontecimentos.

Como vimos, em 3 de outubro de 1930 começa a revolução. Os primeiros levantes têm como base os estados em que melhor se implantara a Aliança Liberal. Assim, nas primeiras 24 horas da rebelião, Rio Grande do Sul e Paraíba foram dominados. Nos dias seguintes, o mesmo ocorreu no Ceará, Pernambuco, Minas Gerais e Paraná. Como é possível tão rápido sucesso? Ora, paralelamente aos bandos de jagunços dos grupos dissidentes, os oposicionistas contavam com o fundamental apoio dos militares descontentes. Os políticos da Aliança Liberal, com habilidade, selam um pacto com os jovens oficiais do Exército. Para os tenentistas, a revolução parece atender a certas expectativas: ela combate a política oligárquica, através de um governo centralizador, além de garantir a muitas vezes negada anistia aos militares que participaram das revoltas ocorridas entre 1922 e 1927.

Duas semanas após o início do movimento, foi submetida parte do território paulista, e a revolução avança em direção ao Rio de Janeiro. A situação é totalmente favorável aos revoltosos; e, em 24 de outubro, a cúpula do Exército depõe o presidente Washington Luís. Os generais dão um golpe dentro do golpe – ou, para utilizarmos a terminologia da época, fazem uma contrarrevolução dentro da revolução –, contendo o ímpeto transformador dos tenentistas. Após pôr abaixo o velho governo, começam as negociações para a transição do poder. Apesar da resistência de alguns generais, em 3 de novembro de 1930, toma posse o novo dirigente.

A partir dessa data tem início a presidência de Getúlio Vargas, que parecia destinada a durar pouco. Desde os primeiros dias, o novo presidente enfrenta forte oposição paulista, e as queixas são compartilhadas pelo tradicional PRP e pelo Partido Democrático (PD). Este último foi um elemento ativo da Aliança Liberal. Segundo os democratas paulistas, a finalidade do governo provisório era garantir reformas políticas através da convocação de uma Assembleia Constituinte.

Apoiado nos velhos tenentistas e nos novos generais, Getúlio Vargas dá a entender que tal convocação abria caminho para o retorno das oligarquias ao poder. Descontentando ainda mais o PD, Vargas escolhe um membro das fileiras tenentistas como interventor de São Paulo. O PD faz novas tentativas, mas essas seguidamente fracassam, levando os políticos paulistas que haviam apoiado a revolução a fazer alianças com os membros do PRP, formando a Frente Única Paulista (FUP). Estes últimos também se aproximam de grupos políticos do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, descontentes com os rumos do governo provisório. Diante da pressão política, Getúlio recua, convocando uma Assembleia Constituinte. No entanto, o texto da convocação é ambíguo, pois condena os que sonham com “a volta automática ao passado” e dá a entender que Vargas imporia um governo centralizador. Em julho de 1932, os paulistas mostram do que são capazes para defender uma Constituinte liberal: pegam em armas contra o governo. Por pouco – ou seja, em razão do recuo de gaúchos e mineiros – Vargas não é deposto.

A denominada Revolta Constitucionalista, embora derrotada, alcança parte importante de seus objetivos. Além da confirmação da convocação da Assembleia Constituinte, os paulistas influenciaram a escolha do interventor local, Armando de Salles Oliveira. O mérito de Getúlio foi o de ter conseguido permanecer no poder. Mas a situação o fragilizava. Na ausência de um partido político de alcance nacional que o apoiasse, foi necessário fazer concessões às oligarquias, como aconteceu por ocasião da escolha do interventor paulista. O presidente teve de aceitar uma Constituição de cunho liberal, que em muito restringia a ação do Poder Executivo. De certa maneira, Getúlio pagava o preço por fazer uma revolução política, mas não econômica ou social.

É nesse contexto que o futuro ditador se aproxima mais e mais do Exército. A instituição, além de abrangência nacional, tem poder de fogo contra as oligarquias, como fica demonstrado em 1930 e 1932. No entanto, as forças armadas continuam divididas. Uma parcela dos antigos tenentes está integrada ao governo provisório, outra parte permanece na oposição, radicalizando-se. Exemplo disso foi Luís Carlos Prestes. No ano em que termina a revolta tenentista que levava seu nome – Coluna Prestes –, o Partido Comunista do Brasil começa a contatá-lo. Tal agremiação, nascida em 1922, era, em grande parte, resultado do impacto político da Revolução Russa, quando, pela primeira vez, o comunismo deixa de ser uma utopia distante, ou uma experiência isolada – como foi a Comuna de Paris, de 1871 –, para se transformar em uma forma de governo de um país de dimensões continentais.

O leitor atual dificilmente imagina o quanto essa transformação influencia a opinião política dos antigos defensores da causa operária. Entre 1917 e 1922, assiste-se à progressiva conversão de um grande número de anarquistas e socialistas brasileiros às concepções comunistas. Essa aproximação tem como contrapartida a adoção de diretrizes da política internacional soviética, deixando pouca autonomia para a elaboração de uma ação que leve em conta as especificidades locais. Em 1928, uma aproximação política com as camadas médias da sociedade é abandonada em troca da intransigência política. A posição favorável à via militar da revolução comunista, em detrimento da participação parlamentar, cresce.

Nesse contexto, a dissidência radical tenentista é vista como aliada potencial do PCB, que para isso cria em 1929 o Comitê Militar Revolucionário. Apesar desses esforços, Prestes recusa-se inicialmente a se filiar ao partido. Ao longo do ano de 1930, porém, sua posição política se modifica a ponto de rumar para o exílio em Moscou, de onde retorna como membro do PCB, em 1934. Junto a ele ingressam no partido importantes lideranças do antigo movimento tenentista, como Agildo Barata e Gregório Bezerra, além de uma massa silenciosa que permanece nos quartéis e que é protagonista do Levante Comunista de 1935.

Entre 1928 e 1935 observa-se, portanto, o surgimento, no interior do PCB, de uma esquerda de origem militar. Nesse último ano, comunistas brasileiros, acompanhando a tendência internacional do movimento, implementam uma política de frente popular, que, no Brasil, recebe a designação de Aliança Nacional Libertadora (ANL). Trata-se não só de uma aproximação com os grupos socialistas e nacionalistas e contrários ao nazifascismo, como também uma defesa das camadas populares diante da crise econômica de 1929. Na França, por exemplo, tal movimento chega ao poder em 1936, sendo responsável pela implementação de medidas de grande impacto, como a adoção da semana de quarenta horas ou a obrigatoriedade de férias remuneradas. Contudo, como em outras partes do mundo, a política frentista da ANL apresenta desde o início um forte desequilíbrio a favor dos comunistas. Assim, a ANL, embora também composta por forças políticas moderadas, tem como presidente de honra Luís Carlos Prestes. O PCB, por sua vez, assume posturas cada vez mais radicais contra Getúlio Vargas, abrindo caminho para o fechamento, em julho de 1935, de nossa primeira experiência de front populaire. Extinta a ANL, os comunistas, uma vez mais, avaliam mal a correlação de forças e partem para o confronto com o governo federal. Em novembro de 1935, no melhor estilo das revoltas tenentistas, os quartéis se levantam contra Getúlio Vargas. Em Natal, Recife e Rio de Janeiro, os conflitos acabam resultando em mortes de oficiais e soldados.

Com oportunismo, Getúlio Vargas explora o novo momento político. A quartelada serve de pretexto para perseguição não só de comunistas como também de grupos que não pertenciam à ANL, mas faziam oposição ao governo; entre eles havia anarquistas, sindicalistas independentes e até políticos liberais. Mais importante ainda: a revolta consolida a aliança entre o presidente e as forças armadas. A partir da denominada Intentona Comunista – definição que faz alusão à noção de plano louco ou insano, conforme registram os dicionários – é intensificada a mística corporativa do Exército. Os comunistas passam a ser vistos como inimigos viscerais; enquanto isso, nas fileiras do Exército, há um escrupuloso expurgo: cerca de 1.100 oficiais e praças são expulsos em razão de posições políticas. Ao mesmo tempo em que essa depuração ocorre, os efetivos militares, em 1936, aumentam para cerca de 80 mil homens, superando em muito os 47 mil oficiais e soldados existentes em 1930.

Apoiado nas forças armadas, Vargas abre caminho para decretar o Estado Novo. Em 1937, faz veicular pela imprensa o Plano Cohen, suposta conspiração comunista, justificativa para o golpe. Tal plano, sabidamente falso, de autoria de grupos de extrema direita, prevê, por exemplo, o desrespeito sistemático à honra e aos sentimentos mais íntimos da mulher brasileira, ou seja, o estupro generalizado.

Sob a alegação de que uma nova intentona era tramada, Getúlio revoga a Constituição. O golpe, porém, contraria importantes interesses políticos, que levam, anos mais tarde, ao colapso o Estado Novo. Eram previstas eleições presidenciais em 1938. No momento em que Getúlio impõe seu governo ditatorial, três candidatos haviam sido lançados: Armando de Salles Oliveira, congregando facções políticas paulistas e gaúchas, assim como segmentos de oligarquias baianas e pernambucanas; José Américo de Almeida, representando grupos políticos de Minas Gerais, Paraíba e Pernambuco, além de facções oligárquicas de São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul; e Plínio Salgado, chefe da Ação Integralista Brasileira, versão nacional do fascismo europeu.

Os dois primeiros candidatos articulam protestos na Bahia, em Pernambuco e no Rio Grande do Sul, chegando neste último a haver resistência armada, que é, entretanto, rapidamente sufocada. O governador local ruma ao exílio, e o candidato integralista se aproxima politicamente do ditador, o que não causa surpresa, uma vez que vários aspectos do Estado Novo lembram as formas de governo nazifascista. A tônica antissemita é uma delas. O Plano Cohen, por exemplo, é definido como uma conspiração judaico-comunista, reproduzindo ideias comuns aos integralistas. Mais importante que a retórica racista são os objetivos práticos do golpe. Prevê-se, por exemplo, o fechamento do Congresso, a extinção dos partidos políticos e a criação de um sistema centralizado de poder. Em outras palavras, é a ditadura contra as oligarquias, a ditadura contra os comunistas, a ditadura contra os democratas liberais. Contudo, a tentativa de aproximação do chefe integralista com o ditador não só falhou como também não impediu o fechamento da Ação Integralista Brasileira. Tal determinação levou os integralistas a implementar, em 1938, uma nova tentativa de golpe contra Getúlio. Seu fracasso permite ao ditador novos expurgos nas forças armadas, excluindo agora segmentos tenentistas que caminharam para o radicalismo de direita. Dessa forma, entre 1937 e 1945, Getúlio Vargas, com a capa institucional que lembra governos fascistas europeus, torna-se um chefe militar de escala nacional. Para compreendermos seu declínio e o posterior retorno ao poder em 1950, precisamos investigar o surgimento de dois novos segmentos políticos: os trabalhadores e os empresários, duas faces de um Brasil cada vez mais urbano.


Veja também:


Fonte / Referência bibliográfica:

  • DEL PRIORI Mary e VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010 - Texto copiado na íntegra (e com adaptações) Pag. 180 a 184, Capítulo 27
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16 agosto 2023

Semitismo, Antissemitismo e Xenofobia

Semitismo, Antissemitismo e Xenofobia

Por Alcides Barbosa de Amorim


Bandeira de Israel sendo queimada

O antissemitismo é um problema gravíssimo que envolve a todos nós porque o início da verdadeira democracia não se deu em Paris ou até mesmo na Atenas clássica, como alegam os manuais de política, e sim naquilo que o teólogo Os Guinness chama em 'A Carta Magna da Liberdade' (lançado no Brasil pela Edições Vida Nova) de “a Revolução do Sinai”, quando Moisés recebeu a revelação de que há somente um único Deus e que o povo hebreu se tornou nada mais, nada menos que o representante de toda a humanidade…” (Martim V. Cunha) [1]

Neste post queremos destacar as expressões propostas no título acima, pois estão interligados entre si e têm relação com a história de Israel e sua luta no mundo atual. Também destacaremos, posteriormente, o movimento sionista, a formação e o estado atual – físico e político – de Israel.

1. Semitismo X Antissemitismo

De acordo com Gênesis 10, Noé teve três filhos: Sem, Cão e Jafé (v. 1). A partir destes, formou-se a tabela das nações, sendo Sem, o “… ancestral das nações a Leste (Oriente) da terra de Canaã” (Wikipedia). Em Gênesis 10,21 encontramos: “E a Sem nasceram filhos, e ele é o pai de todos os filhos de Éber, o irmão mais velho de Jafé [2]”. Neste e outros versículos como 11.14-17, aparece o nome de Éber do qual nasceu o termo o gentílico 'ibhri ou 'hebreu', usado na Bíblia como patronímico [3] para Abraão e seus descendentes. No Antigo Testamento, a designação 'ibhri serve para ligar a revelação abraâmica à promessa do pacto estabelecido com Sem. Trata-se, então, da ligação entre Israel e o semitismo (alusivo a Sem, um dos filhos de Noé) e o pacto entre Yahweh (o Deus de Israel) e seu povo: Israel. Portanto, o termo antissemitismo tem relação com o preconceito contra os judeus, principalmente, mas também contra árabes, etíopes ou assírios.

Nos parágrafos a seguir, em relação a esta primeira parte, vejamos o que M. R. Wilson [4] diz sobre o antissemitismo:

Wilhelm Marr (1819-1904)

O termo foi introduzido em 1879 por Wilhelm Marr [5], um agitador político alemão. Naquela época, designava campanhas anti-judaicas na Europa. Em pouco tempo, antes da era cristã.

A melhor descrição da história do antissemitismo é “longa e dolorosa". Entre os judeus os fatos trágicos do antissemitismo são bem conhecidos, porque eles ocupam uma porção preponderante na história judaica. Hoje, após mais de dois mil anos, esse mal que parece estar em todos os lugares, continua a existir. Por isso, a sensibilidade diante das artimanhas dos supostos antissemitas nunca está longe da consciência coletiva do judaísmo mundial. Nos círculos cristãos, no entanto, a história do antissemitismo – frequentemente sórdida e auto acusadora – geralmente permanece sem ser contada. Aparentemente, isto acontece porque a história da igreja tem quase a mesma duração da história do antissemitismo – se não nos atos abertos dos cristãos, certamente a tem no silêncio culposo deles.

No mundo antigo, o primeiro exemplo importante do antissemitismo ocorre durante o reinado de Antíoco IV Epifânio (175-153 a.C.). A tentativa deste governante selêucida de helenizar os judeus dos seus dias recebeu forte oposição. Os judeus eram monoteístas e, portanto, na sua maior parte, separados dos seus vizinhos gentios. Os gentios consideravam o descanso sabático como preguiça congênita, e a fidelidade às leis dietéticas como superstição grosseira. O ataque de Antíoco contra a religião judaica resultou na profanação do templo. Um porco foi sacrificado no altar, e o seu sangue aspergido nos rolos judaicos. Os governantes sírios consideravam que os judeus eram errantes nômades, um povo sem residência fixa, digno de destruição. Os judeus achavam nojenta a idolatria do mundo grego e, posteriormente, debaixo do império romano, rejeitaram a adoração ao imperador. Assim sendo, os judeus eram vistos como os grandes dissidentes do mundo mediterrâneo. Para os pagãos, vieram a ser personae non gratae, vitimas da discriminação e do desprezo.

A destruição do templo em 70 d.C. marcou uma dispersão dos judeus em larga es- cala. No século II, o imperador romano Adriano (117-138) promulgou decretos que proibiam a prática do judaísmo. Cerca deste tempo, o grande Rabino Akibá foi torturado à morte pelos romanos por meio da remoção da carne do seu corpo com pentes de ferro.

Em 321, Constantino fez do cristianismo a religião oficial do estado romano. Os judeus foram proibidos de fazer convertidos, de servir no exército, e de deter qualquer cargo elevado. Vários séculos mais tarde, sob o governo de Justiniano, os judeus foram impedidos de celebrar a Páscoa judaica antes da Páscoa cristã.

As raízes do antissemitismo teológico derivam de certos ensinos que surgiram nos primeiros séculos cristãos. A revolta judaica de 66-70 d.C. resultou em morte, exílio ou escravidão de milhares de judeus. A igreja gentia, em rápida expansão, pensava que tamanha adversidade era castigo divino, prova da rejeição dos judeus por Deus. Paulatinamente, a igreja considerava que estava tomando o lugar do judaísmo, que era uma fé "morta" e "legalista". A igreja agora estava triunfante acima da sinagoga, tornando-se o novo Israel de Deus, herdeira das promessas da aliança. Mas os judeus, como povo, ainda sofriam sob o jugo romano. Não conseguiram entender a redenção messiânica em termos de um servo sofredor, recusavam-se a crer que Deus tinha rejeitado para sempre o Seu povo escolhido.

Os escritos de vários pais da igreja refletem uma denúncia teológica dirigida contra os judeus. João Crisóstomo, o "boca de ouro", é um exemplo notável Ensinava que “a sinagoga é um prostíbulo e um teatro, … um covil de animais impuros... Nunca um judeu orou a Deus. São todos possessos pelo diabo".

Na Idade Média, os judeus, em grande medida, eram excluídos da cultura cristã medieval. Procuravam evitar as pressões sociais, econômicas e eclesiásticas, habitando por trás de muros de guetos. Era-lhes permitido, no entanto, a prática da usura. Isto levou os cristãos a acusá-los de serem um povo de párias. Os judeus foram obrigados a usar um chapéu distintivo ou uma emenda costurada nas suas roupas. Eram acusados de ter um cheiro distintivo, em contraste com o "odor de santidade". Os judeus também eram caluniados como sendo os assassinos de Cristo; os que profanavam a hóstia, responsáveis pela morte de criancinhas cristãs, causadores da disseminação da peste negra, envenenadores de poços, que mamavam em porcas. A Primeira Cruzada (1096) resultou em numerosos suicídios em massa pelos judeus que procuravam evitar o batismo forçado. Perto do fim da Idade Média, os judeus se tornaram errantes, sem lar. Foram expulsos da Inglaterra em 1290, da França em 1306, e de cidades da Espanha, Alemanha e Áustria, nos anos seguintes.

A inquisição espanhola e a expulsão de 1492 resultou na tortura de milhares de pessoas, queimadas à estaca, ou convertidas à força. Na Alemanha, uma geração mais tarde, Lutero publicou uma série de panfletos vitriólicos, atacando os judeus. A respeito dos judeus, escreveu: "Expulsemo-los do país para todo o sempre".

Por volta do início da era moderna, ocorreu uma revolta sangrenta contra os cossacos na Polônia (1648-58). Apanhados no meio do conflito, cerca de meio milhão de judeus foram mortos. Em outros países europeus naquele tempo, os judeus continuavam a ser perseguidos ou, na melhor das hipóteses, vistos com suspeita ou desprezo.

Na última parte do século XIX, a maior população judaica no mundo (seis milhões de pessoas) estava na Rússia czarista. Ali, os judeus passaram por uma série de massacres ferozes que deixaram um saldo de milhares de mortos. Outros, reunindo-se com judeus de vários países europeus, fugiram para a América do Norte. Lá esperavam achar um lugar que, segundo uma descrição anterior feita por George Washington, oferecia "nenhuma sanção ao preconceito, nenhuma assistência à perseguição". Entre 1880 e 1910 mais de dois milhões de judeus imigraram para os Estados Unidos, passando pela cidade de Nova Iorque. Durante este período, o famoso Escândalo Dreyfus [6], na França (1894), chamou a atenção do mundo para o problema do antissemitismo.

Arraigado no solo da Alemanha, o holocausto do século XX destaca-se como um evento sem paralelo. A propaganda nazista declarava que a raça humana devia ser "puri- ficada" e livrada dos judeus. A "solução final" ao "problema" judaico consistia em campos de concentração, câmaras de gás e crematórios. Entre 1933, quando Hitler subiu ao poder, e o fim da Segunda Guerra Mundial, cerca de seis milhões de vidas foram destruídas. Hoje, em Jerusalém, a Yad Vashem (o nome é tirado de Is 56.5) existe como memorial às vítimas do holocausto e como instituição para pesquisas e documentação.

No presente, o antissemitismo persiste em todos os lugares onde se acham judeus. Os judeus da Rússia e da França têm sido especialmente oprimidos. Nos países europeus e nos Estados Unidos, incidentes antissemíticos recentes têm incluído profanação de sinagogas, inclusive com bombas, de pedras tumulares, dizeres malévolos nas paredes, panfletos nazistas e estereótipos grotescos de judeus, na imprensa. Em outras ocasiões, encontra-se a chamada variedade "distinta" do antissemitismo, isto é, a discriminação e/ou a antipatia revelada contra os judeus nos campos social, educacional e econômico. A Liga de Antidifamação e outras agências judaicas continuam a fazer progresso lento, porém firme, na busca de entendimento entre povos de raças e religiões diferentes.

2. Xenofobia: o mundo contra Israel

Vimos no item acima que os judeus foram vítimas do ódio e preconceito em várias ocasiões desde o Período Inter-bíblico – entre o Antigo e o Novo Testamentos –, durante o domínio romano, na Idade Média, Moderna e até entre cristãos. Depois do texto do autor Wilson (Op. Cit.), anos 80 até hoje, muitos outros exemplos de casos de antissemitismo poderiam ser citados. Por exemplo, o relatório da CONIB (Confederação Israelita do Brasil), de março de 2023, “... apurou casos de antissemitismo classificados em três frentes: antissemitismo entendido como racismo; nazismo e, por fim, negação/banalização do Holocausto” [7]. Os resultados da apuração são alarmantes e demonstram como o antissemitismo continua muito forte e atuante no Brasil.

Por que será que o mundo tem tanto ódio dos judeus (Israel)? Podemos considerar [8], como resumo, as razões a seguir:

  • Teoria Racial – os judeus são odiados porque são uma raça inferior.

  • Teoria Econômica – os judeus são odiados porque possuem muita riqueza e poder.

  • Teoria dos Estrangeiros – os judeus são odiados porque são diferentes de todos os outros.

  • Teoria do Bode Expiatório – os judeus são odiados porque são a causa de todos os problemas do mundo.

  • Teoria do Deicídio – os judeus são odiados porque mataram Jesus Cristo.

  • Teoria do Povo Escolhido – os judeus são odiados porque arrogantemente declaram que são os “escolhidos de Deus”.

Existe alguma verdade nessas teorias?

  • Em relação à teoria racial, a verdade é que os judeus não são uma raça. Qualquer pessoa no mundo de qualquer credo, cor ou raça pode se tornar um judeu.

  • A teoria econômica que cita que os judeus são ricos não é confiável. A história tem mostrado que, durante os séculos 17 – 20, especialmente na Polônia e na Rússia, os judeus eram desesperadamente pobres e tinham pouca, se alguma, influência em sistemas empresariais ou políticos.

  • Quanto à teoria dos estrangeiros, durante o século 18, os judeus tentaram desesperadamente se assimilar com o resto da Europa. Eles esperavam que a assimilação causaria o desaparecimento do antissemitismo. No entanto, foram odiados ainda mais por aqueles que afirmavam que os judeus contaminariam a sua raça com genes inferiores. Isso foi verdade especialmente na Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial.

  • Quanto à teoria do bode expiatório, o fato é que os judeus têm sempre sido odiados, o que os torna um alvo muito conveniente.

  • Quanto à ideia de deicídio, a Bíblia deixa claro que os romanos foram os que realmente mataram Jesus, embora os judeus tenham sido cúmplices. Não foi até algumas centenas de anos depois que os judeus foram citados como os assassinos de Jesus. É de se perguntar por que os romanos não são os odiados. O próprio Jesus perdoou os judeus (Lucas 23:34). Até o Vaticano absolveu os judeus da morte de Jesus em 1963. No entanto, nenhuma declaração tem diminuído o antissemitismo.

  • Quanto à sua pretensão de serem o "povo escolhido de Deus", os judeus na Alemanha rejeitaram a sua posição de "escolhidos" durante a última parte do século 19 para melhor assimilarem a cultura alemã. No entanto, sofreram o Holocausto. Hoje, alguns cristãos e muçulmanos afirmam ser o "povo escolhido" de Deus, no entanto, em grande parte, o mundo os tolera e ainda odeia os judeus.

Isso nos leva à verdadeira razão pela qual o mundo odeia os judeus. O apóstolo Paulo nos diz: "Porque eu mesmo desejaria ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; os quais são israelitas, de quem é a adoção, e a glória, e os pactos, e a promulgação da lei, e o culto, e as promessas; de quem são os patriarcas; e de quem descende o Cristo segundo a carne, o qual é sobre todas as coisas, Deus bendito eternamente. Amém" (Romanos 9:3-5). A verdade é que o mundo odeia os judeus porque o mundo odeia a Deus. Os judeus eram o primogênito de Deus, o Seu povo escolhido (Deuteronômio 14:2). Através dos patriarcas judeus, dos profetas e do templo, Deus usou os judeus para trazer a Sua Palavra, a lei e a moral para um mundo de pecado. Ele enviou o Seu filho, Jesus, o Cristo, em um corpo judeu para redimir o mundo do pecado. Satanás, o príncipe da terra (João 14:30, Efésios 2:2), envenenou as mentes dos homens com o seu ódio pelos judeus. Veja Apocalipse 12 para uma representação alegórica do ódio de Satanás (o dragão) pela nação judaica (a mulher).

Satanás tem tentado exterminar os judeus através dos babilônios, persas, assírios, egípcios, hititas e os nazistas. Entretanto, ele tem falhado toda vez. Deus ainda tem um plano para Israel. Romanos 11:26 nos diz que um dia todo o Israel será salvo, e isso não pode acontecer se Israel não existir mais. Portanto, Deus vai preservar os judeus para o futuro, assim como Ele tem preservado a sua remanescente ao longo da história, até que Seu plano final venha a acontecer. Nada pode frustrar o plano de Deus para Israel e para o povo judeu.

Quero sugerir também o vídeo a seguir:


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] CUNHA, Martim Vasques. Como começou a relação sombria entre a esquerda e o antissemitismo. Imagem e texto – disponíveis em <Gazeta do Povo, 30/01/2023>.

  • [3Patronímico “… (do grego πατρωνυμικός, πατήρ "pai" e ὄνομα, "nome") é um nome ou apelido de família (sobrenome) cuja origem encontra-se no nome do pai ou de um ascendente masculino. O uso do patronímico foi um procedimento muito comum em todas as comunidades humanas para distinguir um indivíduo dentro de seu grupo, no qual havia inúmeras pessoas com o mesmo prenome ("nome de batismo" ou "nome próprio")…” (Wikipedia).
  • [4] Marvin R. Wilson: Professor de Estudos Bíblicos. Gordon College, Wheaton, Illinois, EUA. O texto a seguir – Parte I: Antissemitismo –, na íntegra e com adaptações0 –, é uma contribuição à Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Apud. WILSON, M. R. Antissemitismo. In: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. I. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág. 86 a 88.
  • [5Wilhelm Marr: “Conhecido como o pai do anti-semitismo moderno, Wilhelm Marr liderou a luta para derrubar a emancipação judaica na Alemanha… Era luterano (não judeu, como às vezes se afirmava), filho de uma famosa personalidade do teatro. Ele entrou na política como um revolucionário democrático que favoreceu a emancipação de todos os grupos oprimidos, incluindo os judeus. Envolveu-se com exilados de esquerda na Suíça, mas foi expulso do país em 1843… Voltou para a Alemanha, juntando-se à revolução de 1848 em Hamburgo. Ele ficou amargurado com o fracasso da revolução em democratizar a Alemanha e com sua própria sorte política em rápido declínio. Ele partiu por uma década para viver na América do Norte e Central. Quando ele voltou para Hamburgo, seus pontos de vista haviam mudado radicalmente e ele voltou seu veneno contra os judeus…”. Veja mais em: <https://www.jewishvirtuallibrary.org/wilhelm-marr>. Acesso em 15/08/2023.
  • [6] “O caso Dreyfus foi um equívoco do judiciário francês culminando em um escândalo político, ocorrido na última década do século XIX. O oficial de artilharia do exército francês, de origem judaica, Alfred Dreyfus, foi acusado de vender segredos militares a um adido alemão, já que o pano de fundo se trata da Guerra Francos-Prussiana. Sua condenação pautou-se em documentos falsos e o escritor Emile Zola, redigiu uma carta aberta ao presidente francês, publicada no jornal parisiense L’Aurore, acusando o exército de ter condenado um inocente de maneira falsa e deliberada… Sete anos depois, em 12 de julho de 1906, as três câmaras da Alta Corte de Apelação, novamente reunidas, anularam o veredito de Rennes. Opinou que não existia prova alguma contra o condenado e que, na verdade, ele fora condenado ‘por engano e injustamente’...” (SILVA, Cintia Rufino Franco. O caso Dreyfus, Émile Zola e a imprensa. Disponível em: <https://revistacontemporaneos.com.br/n11/dossie/Dossie4-dreifus.pdf>. Acesso em: 16/08/2023.

Campo 14 – bebês mortos a pauladas, fome e execuções: a vida em um campo de concentração norte-coreano

P or J ones R ossi  [ 1 ] Uma aula no Campo 14   Os  professores do Campo 14 eram guardas uniformizados:  tratados por Shin no desenho acima...