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9 de maio de 2025

Você já está salvo (a)?

 Por: Alcides Amorim

“E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para ser salvo? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (Atos 16.30,31).

O naufrágio do Titanic (Wikipedia)

Ouça o conteúdo: ...

No contexto dos versos bíblicos acima, os missionários Paulo e Silas estavam presos em Filipos, uma das cidades da Macedônia, por pregarem o Evangelho. E perto da meia-noite, enquanto ambos oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam, sobreveio à prisão um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as prisões de todos. O carcereiro assustado, vendo abertas as portas da prisão, tirou a espada, e quis matar-se, cuidando que os presos já tinham fugido. Mas Paulo pede que ele não lhe fizesse nenhum mal, pois ninguém tinha escapado. “... todos aqui estamos”, disse Paulo. O carcereiro, “todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas” (v. 29), e pergunta o que fazer para ser salvo (v. 30). A resposta de Paulo e Silas ao carcereiro foi: “... crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (v. 31).

Então podemos perguntar: e o que é a salvação? Quem é que salva as pessoas e do que as pessoas são salvas? Em princípio, a salvação que o carcereiro e sua família buscavam era um livramento da pena do Estado romano caso os presos tivessem fugido e também pelo fato de prender um cidadão romano (Paulo) sem averiguar antes as consequências desta atitude. Mas os missionários partem deste ponto e vão mais além, falando da salvação eterna (v. 32) a ele e a todos os que estavam em sua casa. Ao serem batizados (v. 33), o carcereiro e os membros de sua família já tinham entendido o que era arrependimento dos pecados, confissão e entrega ao Salvador. Desta forma, ele e a sua família creu e obteve a salvação espiritual e eterna agora como parte da Igreja de Cristo. Neste caso, o carcereiro foi salvo tanto da situação presente e terrena quanto da pena eterna dos seus pecados na vida pós-morte.

Você já está salvo ou salva? Esta é uma pergunta recorrente dos evangelistas cristãos às pessoas que ouvem suas pregações. E também foi feita pelo pastor John Harper um pouco antes de sua morte. Ouvi sobre ele no último domingo, 5 de maio de 2025, na celebração das 8 horas, em minha igreja, Igreja da Cidade de Pindamonhangaba, pelo Pr David Tiburcio que citou, durante sua mensagem, como aquele pregador e pastor  morreu. Isto me levou a pesquisar um pouco mais sobre o mesmo.

John Harper nasceu em 29 de maio de 1872, em Houston, Escócia, e sua morte aconteceu em 15 de abril de 1912, no Oceano Atlântico, tendo ele apenas 39 anos. Aquele pastor batista começou a pregar aos 18 anos e quando faleceu já era viúvo e tinha uma filha de seis anos.

Convidado para pregar por várias semanas em Chicago, em Illinois, nos Estados Unidos, na Igreja Moody, Harper, sua filha Annie Jessie, e sua irmã, Jessie W. Leitch estavam naquele famoso navio Titanic. Quando o navio colidiu com um iceberg, sua irmã e sua filha foram colocadas em um bote salva-vidas e sobreviveram, mas Harper ficou para trás com o objetivo de cumprir sua última missão: perder sua vida para salvar outras.

Diz o Portal Guiame (aqui[1]:

Pastor John Harper e o Titanic

No livro “The Titanic's Last Hero” (“O Último Herói do Titanic”), publicado em 2012 por Moody Adams, foi registrado o testemunho do último homem evangelizado pelo pastor.

Nos cinquenta minutos finais, George Henry Cavell [2], que estava apoiado numa prancha, se aproximou de John Harper. Harper, que estava se debatendo na água, gritou: ‘Você é salvo?’ Ele respondeu: ‘Não’. Harper gritou as palavras da Bíblia: ‘Creia no Senhor Jesus Cristo e será salvo’. Antes de responder, o homem foi puxado para dentro do mar.

Minutos mais tarde, a corrente trouxe George de volta e eles ficaram à vista um do outro. Mais uma vez, Harper gritou: "Você é salvo?" Novamente, ele respondeu: "Não". Harper repetiu as palavras de Atos 16:31: "Creia no Senhor Jesus Cristo e você será salvo".

Cansado e sem forças, Harper escorregou no mar e morreu afogado. O homem que ele evangelizou depositou sua fé em Jesus Cristo e, mais tarde, foi resgatado pelos botes salva-vidas. Na província de Ontário, no Canadá, George Henry testemunhou que foi o último convertido de John Harper.

O pregador Harper testemunhou a mensagem para várias pessoas no mar antes de morrer. Em seu artigo [3] A última conversão de John Harper, por exemplo, Dr.  Erwin W. Lutzer faz referência ao último convertido de John Harper, mas ele não cita o nome, mas parece tratar-se do mesmo personagem relatado acima: George Henry Cavell. Lutzer fala também de uma pessoa que ficou com o colete salva-vidas de Harper que parece ser outra pessoa, além de Cavell. “Um relatório diz que Harper, sabendo que não poderia sobreviver por muito tempo na água gelada, tirou o colete salva-vidas e jogou-o para outra pessoa com as palavras, ‘Você precisa mais disso do que eu!’ Momentos depois, Harper desapareceu debaixo d'água...”.

Bem, John Harper foi salvo sem se salvar. Explico: ele não salvou sua vida terrena no naufrágio do Titanic, mas salvou sua vida espiritual (alma/espírito) da eternidade sem Cristo. Mas Jesus fala da salvação do corpo todo (cf. Mateus 5.29-30) também. Mas isto se dará com a ressurreição final dos mortos, quando, inclusive, o mar dará os seus mortos que nele houverem (Apocalipse 20.13).

 Jesus disse que veio à Terra para que todos tenham vida e a tenham com abundância (João 10.10), embora Jesus mesmo morreu! Seus apóstolos também! Mas ressuscitou! E “ ... tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele” (Romanos 6.9). A morte física é destino de (quase) todos [4]. Mas os que morrem fisicamente em Cristo, mesmo sendo num naufrágio, seu espírito será salvo; e continuam vivos, aliás, a verdadeira vida começa após a sua morte física e a vida eterna também. E esta questão vai além da razão e é assunto da própria filosofia. Um filósofo que também morreu jovem, com apenas 39 anos – a exemplo de John Harper –, chamado Blaise Pascal, propôs que “apostemos” no assunto da crença em Deus e na eternidade. Apostar que Deus existe importa numa modesta entrega da nossa razão, mas optar pela não-existência divina é arriscar a perda da vida e felicidade eternas. Óbvio que como filósofo e racionalista, Pascal também questiona que caso Deus não existisse (mas ele cria) o valor da aposta (a nossa razão) é mínimo comparado ao prêmio que pode ser ganho na eternidade.

Alexandre Robles afirma que a impressão que ele tem é que este mundo é um Titanic em naufrágio. Os botes que existem são negociados pelos políticos corruptos que lutam para salvar sua pele; os miseráveis estão no mais baixo pavimento lutando para emergir e salvar a própria vida; a elite está bem servida etc., enquanto a “... religião está tocando violinos, discutindo teologias caducas e promovendo cultos alienantes, porque não sabe o que fazer diante do iminente trágico e na esperança de fazer o fundo musical do evento, neste caso mórbido[5].

Em suma, podemos afirmar que assim como no Titanic, no mundo, em se tratando de vida terrena e vida eterna, há apenas duas classes de pessoas: salvas e perdidas. Se você não tem certeza de que lado está, escolha JESUS. “Creia no Senhor Jesus e será salvo ou salva”.

Solus Christus! A Ele, Soli Deo Gloria!!!

Sugiro também o vídeo de Diego Urbano:



Notas / Referências bibliográficas: 

  • [2] Veja em: https://www.encyclopedia-titanica.org/titanic-survivor/george-henry-cavell.html o depoimento de George Henry Cavell, anos após o naufrágio. Segundo esta fonte, Cavell era funcionário (bombeiro?) da companhia que administrava o Titanic... Ele nasceu em Hampshire, Inglaterra, em 4 de dezembro de 1889 e morreu em Winchester, Hampshire, em 21 de julho de 1966. Mas o texto não cita nada da experiência de conversão de Cavell. Acesso em: 07/05/2025. 
  • [3] LUTZER, Dr. Erwin W. A última conversão de John Harper. Disponível em: https://www.moodymedia.org/articles/sharing-gift-christmas-one-minute-you-die/. Acesso em: 07/05/2025.
  • [4] Digo “quase todos” pois quando acontecer o arrebatamento de parte da Igreja por ocasião da volta de Cristo, os que estiverem preparados naquele dia serão transformados sem passar pela morte e encontrarão os demais crentes que já morreram e com o Mestre Jesus nos ares (1 Tessalonicenses 4.17).

 





29 de abril de 2025

O que diz a Bíblia sobre o papa e o papado?

Por: GotQuestions [1]


Brasão do Papado e do Vaticano [2]

O ensinamento da Igreja Católica Romana sobre o papa (“papa” significa “pai”) é baseado em e envolve os seguintes ensinamentos romanos católicos:

1) Cristo fez de Pedro o líder dos apóstolos e da igreja (Mateus 16:18-19). Em dar a Pedro as “chaves do reino”, Cristo não apenas fez dele líder, mas também fez dele infalível quando agindo ou falando como representante de Cristo na terra (falando de sua cadeira de autoridade, ou ex cathedra). Esta capacidade de agir no interesse da igreja de forma infalível quando falando “ex cathedra” foi passada de Pedro para seus sucessores, dando desta forma à Igreja um infalível guia na terra. O propósito do papado é guiar a Igreja sem cometer erros.

2) Mais tarde, Pedro se tornou o primeiro Bispo de Roma. Como tal, ele exercia a autoridade sobre todos os bispos e líderes da igreja. O ensinamento de que o Bispo de Roma está acima de todos os bispos em autoridade é conhecido como a “supremacia” do Bispo de Roma.

3) Pedro passou adiante a sua autoridade apostólica ao próximo Bispo de Roma, juntamente com os outros apóstolos que passaram adiante a sua autoridade apostólica aos bispos por eles ordenados. Estes novos bispos, por sua vez, passaram adiante a sua autoridade apostólica àqueles bispos que eles mais tarde ordenaram e assim por diante. Esta “passagem da autoridade apostólica” é conhecida como “sucessão apostólica”.

4) Baseados na alegação católica romana de uma corrente contínua de bispos romanos, os católicos romanos ensinam que a Igreja Católica Romana é a verdadeira igreja, e que todas as igrejas que não aceitam a supremacia do papa têm se desviado dela, a igreja única e verdadeira.

Depois de termos rapidamente visto alguns dos ensinamentos da Igreja Católica Romana a respeito do papado, a questão é se estes ensinamentos estão em concordância com as Escrituras. A Igreja Católica Romana vê o papado e a autoridade infalível da “Igreja mãe” como sendo necessários para guiar a Igreja, e usa isto como raciocínio lógico para justificar a provisão de Deus neste assunto. No entanto, ao examinar as Escrituras, podemos achar o seguinte:

1) Apesar de Pedro ter sido central na primeira expansão do evangelho (parte do significado por trás de Mateus 16:18-19), o ensinamento das Escrituras, tomado em contexto, em nenhum lugar declara que ele estivesse em autoridade sobre os outros apóstolos ou acima da Igreja (veja Atos 15:1-23; Gálatas 2:1-14; I Pedro 5:1-5). Nem é jamais ensinado que o Bispo de Roma deveria ter supremacia sobre a Igreja. Ao invés, há apenas uma referência nas Escrituras de Pedro escrevendo da “Babilônia”, um nome às vezes usado para se referir a Roma, encontrado em I Pedro 5:13. Em grande parte por causa disso e do aumento histórico da influência do Bispo de Roma (devido ao apoio de Constantino e dos imperadores romanos que o sucederam), vem o ensinamento da Igreja Católica Romana da supremacia do Bispo de Roma. Entretanto, as Escrituras mostram que a autoridade de Pedro era compartilhada pelos outros apóstolos (Efésios 2:19-20), e que a autoridade de “ligar e desligar” a ele atribuída era, da mesma forma, dividida pelas igrejas locais, não apenas seus líderes (veja Mateus 18:15-19; I Coríntios 5:1-13; II Coríntios 13:10; Tito 2:15; 3:10-11).

2) Em nenhum lugar as Escrituras afirmam que, para manter a igreja livre de erro, a autoridade dos apóstolos foi passada aos que eles ordenaram (sucessão apostólica). A sucessão apostólica é uma “leitura forçada” destes versículos que a Igreja Católica Romana usa para apoiar esta doutrina (II Timóteo 2:2; 4:2-5; Tito 1:5; 2:1; 2:15; I Timóteo 5:19-22). O que as Escrituras REALMENTE ENSINAM é que falsos ensinamentos se levantariam, vindo até do meio dos líderes da igreja, e que os cristãos deveriam comparar os ensinamentos destes líderes com as Escrituras, que são a única coisa que a Bíblia cita como infalíveis. A Bíblia não ensina que os apóstolos eram infalíveis, a não ser quando o que escreveram foi incorporado às Escrituras. Paulo, conversando com os líderes da igreja na grande cidade de Éfeso, menciona a vinda de falsos mestres. Paulo NÃO os recomenda aos “apóstolos ou aqueles a quem seria passada sua autoridade”, mas a “Deus e à palavra da sua graça...” (Atos 20:28-32).

Mais uma vez, a Bíblia ensina que as Escrituras devem ser usadas como a medida padrão para determinar a verdade do engano. Em Gálatas 1:8-9, Paulo afirma que não é QUEM ensina, mas O QUE está sendo ensinado que deve ser usado para diferenciar a verdade do engano. Apesar da Igreja Católica Romana continuar a lançar a maldição “anátema” àqueles que rejeitam a autoridade do papa, as Escrituras reservam tal maldição àqueles que ensinarem um evangelho diferente (Gálatas 1:8-9).

3) Apesar da Igreja Católica Romana ver a sucessão apostólica como logicamente necessária para que Deus, de forma livre de erros, guie a Sua Igreja, as Escrituras afirmam que Deus providenciou por [para] Sua igreja através de:

(a) As Escrituras Infalíveis (Atos 20:32; II Timóteo 3:15-17; Mateus 5:18; João 10:35; Atos 17:10-12; Isaías 8:20; 40:8; etc.). Nota: Pedro fala dos escritos de Paulo na mesma categoria de outra Escritura (II Pedro 3:16),

(b) O eterno sumo sacerdócio de Cristo no céu (Hebreus 7:22-28),

(c) A provisão do Espírito Santo, que guiou os apóstolos à verdade depois da morte de Cristo (João 16:12-14), que dá dons aos crentes para a obra do ministério, incluindo o ensino (Romanos 12:3-8; Efésios 4:11-16), e que usa a Palavra escrita como a Sua principal ferramenta (Hebreus 4:12; Efésios 6:17).

Apesar de ter havido homens bons e honrados (humanamente falando) que serviram como papas da Igreja Católica Romana, incluindo o Papa João Paulo II, o Papa Bento XVI e o Papa Francisco I, os ensinamentos da Igreja Católica Romana sobre a autoridade do papa devem ser rejeitados porque não estão de acordo com os ensinamentos da igreja original, a nós divulgados no Novo Testamento. Esta comparação do ensinamento de qualquer igreja é essencial, sob o risco de deixarmos de ter os ensinamentos do Novo Testamento a respeito do evangelho, não apenas correndo o risco de deixarmos de ter vida eterna no céu, mas, sem saber, levarmos outros ao caminho errado (Gálatas 1:8-9).

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Veja também:


Nota:

  • [2] Por que o símbolo pontifício é representado por duas chaves cruzadas? Disponível em: https://www.a12.com/redacaoa12/duvidas-religiosas/por-que-o-simbolo-pontificio-e-representado-por-duas-chaves-cruzadas. Acesso em: 29/04/2025.

23 de abril de 2025

Bispos e Papas (16): Urbano I

 

Bispo Urbano I [1]

O próximo bispo de nossa lista (bispos e papas romanos), que queremos destacar aqui é o Bispo Urbano.

Relembrando os bispos destacados até aqui, seguindo a ordem proposta por Eusébio de Cesareia, em História Eclesiástica (HE) [2]:

· 01) Bispo Lino - 67 a 76.
· 02) Bispo Anacleto - 76 a 88.
· 03) Bispo Clemente de Roma - 88 a 97.
· 04) Bispo Evaristo - 97 a 105.
· 05) Bispo Alexandre I - 106(?) a 116 (?).
· 06) Bispo Sixto I - 115(?) a 129(?).
· 07) Bispo Telésforo - 125(?) a 138.
· 08) Bispo Higino - 138 a 142.
· 09) Bispo Pio - 142 a 155(?).
· 10) Bispo Aniceto - 154(?) a 166.
· 11) Bispo Sotero - 166 a 174/5.
· 12) Bispo Eleutero - 175 e 189.
· 13) Bispo Vitor I - 189 a 199 (Wikipedia).
· 14) Bispo Zeferino (199 a 217).
· 15) Calisto Primeiro (217 a 222).

Lembrando que esta lista não é a mesma da Igreja Católica, uma vez que a tradição católica considera o apóstolo Pedro como tendo sido o primeiro bispo romano e, por isso, o primeiro papa da igreja e, como se vê acima, Eusébio e muitos outros cristãos consideram Lino o primeiro bispo romano e não o apóstolo Pedro.

Afirma Eusébio que o bispo Zeferino foi sucedido por Calisto, e este por Urbano (HE, 6, XXI). E que “... Urbano, que fora bispo de Roma por oito anos, foi sucedido por Ponciano” (HE, 6, XXIII).

Como os outros casos, as informações que temos do Bispo ou papa Urbano são de fontes católicas. Considerando estas fontes (a), b) e c))[3], descritas nas considerações bibliográficas abaixo, temos o seguinte resumo:

  • O bispo ou papa Urbano I nasceu em Roma, viveu entre 175 e 230 e exerceu seu bispado por 8 anos, entre 222 e 230.
  • Seu bispado/pontificado ocorreu num período de tolerância (222-235) do imperador Alexandre Severo, portanto, num momento de relativa paz para os cristãos. Embora a religião do Império Romano fosse o paganismo e a perseguição e o massacre ao cristianismo fosse intenso naquela época, Alexandre Severo permitiu certa liberdade de culto e tolerou razoavelmente o convício entre as crenças. 
  • Determinou que as esmolas e os legados ofertados à Igreja fossem aplicados exclusivamente em duas direções: sustento/conversão dos pobres e culto divino. 
  • Estabeleceu pioneiramente o uso de ouro, prata e pedras preciosas em patenas, cálices e vasos sagrados e que o sacramento da Confirmação fosse ministrado, após o Batismo, pelas mãos de um bispo. E também benzeu alguns artefatos deste material para a paróquia de Roma. “Era o início da riqueza que marcaria tão notoriamente a história da Igreja Católica” (Infoescola). 
  • Organizou a Igreja de Roma em 25 unidades eclesiásticas, as paróquias de Roma e consentiu que a Igreja adquirisse bens. 
  • Interveio nas disputas sobre o cisma de Hipólito de Roma e ordenou que o patrimônio da igreja doado pelos fiéis não pudesse ser usado, em hipótese alguma, para outros fins a não ser para o sustento dos próprios missionários. 
  • Foi vítima de calúnia e perseguido pelo prefeito Almáquio, de Roma, sob o império de Alexandre Severo. 
  • Foi responsável por inúmeras conversões, inclusive, de pessoas de alta classe social, dentre os quais Valeriano, esposo de Santa Cecília, convertida e martirizada, e de Tibúrcio, seu irmão.
A hagiografia apresenta geralmente como martirizados em seu tempo Santa Cecília e companheiros. Entretanto, parece que o bispo Urbano, de que se fala o martirológio, não era este papa, mas, sim, algum homônimo seu, dos tempos de Marco Aurélio ou Cômodo (161-192). In: Wikipedia.
  • Urbano, com a aplicação da benção a artefatos religiosos da paróquia de Roma, dava o início da riqueza que marcaria tão notoriamente a história da Igreja Católica. 
  • Embora o catolicismo já desse sinais de sua preocupação com a riqueza no final do século II, o papa não deixou de pensar nos desvalidos. Mesmo cultuando os objetos de valor, Urbano I determinou que as esmolas ofertadas à Igreja fossem empregadas exclusivamente em duas frentes, o culto divino e os desvalidos. Ou seja, a Igreja demonstrava já seu perfil dúbio que oscila entre riqueza e pobreza.

Ao que parece, Urbano não tenha morrido como mártir. Ele faleceu no ano 230, com 55 anos de idade, sendo sucedido por Ponciano.


Notas/Referências bibliográficas:

  • [1] Imagem (adaptada) e meramente ilustrativa. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Urbano_I>. Acesso em: 22/04/2025.
  • [2] CESAREIA, Eusébio. História Eclesiástica: os primeiros quatro anos da Igreja Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

  • [3] Papa Urbano I:

7 de abril de 2025

Nova República (5): Fernando Collor de Mello

Fernando Affonso Collor de Mello [1]

Ouça o artigo:             (via Clipchamp/Dropbox) ...


O último período da História do Brasil que ficou conhecido como Nova República (1985 até o momento), teve como primeiro presidente José Sarney. Este propôs uma nova Constituição para o país, a qual foi votada e promulgada em 5 de outubro de 1988. Um dos pilares da Constituição, no campo político, é a realização de “eleições diretas e universais com dois turnos”. Nesse sentido, após o fim do mandato de Sarney e das disputas eleitorais da época, surgiria o segundo Presidente da República, mas o primeiro eleito diretamente pelos cidadãos brasileiros.

As eleições diretas para presidente foram realizadas em outubro de 1889, sendo vencedor o candidato alagoano Fernando Collor de Mello, que derrotou Luís Inácio Lula da Silva, candidato do Partido dos Trabalhadores.

1. Governo Collor

Collor [2] assumiu no dia 15 de março de 1990. Havia grande expectativa em relação à sua posse, pois foi o primeiro presidente eleito diretamente pelo voto popular em quase trinta anos. A expectativa era grande sobretudo em relação às medidas econômicas que seriam tomadas pelo novo governo, devido à gravidade da situação do país, que se caracterizava por uma inflação extremamente elevada.

Por isso, as atenções se concentraram no plano econômico do novo presidente, que foi anunciado em parte no dia da posse e definido na sua totalidade no dia seguinte.

A principal medida econômica, tomada no primeiro dia do governo Collor, foi o bloqueio de grande parte do dinheiro que as pessoas e as empresas tinham nos bancos, em conta corrente, em cadernetas de poupança e em outras formas de aplicação; o objetivo dessa medida era diminuir o volume de dinheiro em poder das pessoas e, assim, conter a inflação.

A moeda voltou a ser o cruzeiro.

Além do objetivo de conter a inflação, faziam parte do plano econômico de Collor;

  • privatização de empresas estatais; 
  • fechamento de órgãos do governo e venda de carros, casas e apartamentos de propriedade do governo;

  • abertura da economia ao capital externo e às importações de produtos estrangeiros;

  • demissão de funcionários públicos.
  • Em 2016, a ex-presidente Dilma Rousseff também foi afastada da presidência acusada de improbidade administrativa e Collor de Mello participou da votação como senador.
  • PC Farias seria encontrado morto em Alagoas com a namorada em 23 de junho de 1996 e até hoje as circunstâncias do crime não foram esclarecidas.
  • A ex-primeira-dama Rosane Collor de Mello voltou à mídia para contar sua vida com o ex-presidente e exigir um aumento da pensão.

O movimento dos Caras Pintadas mobilizou
estudantes de todo país

Chefiado pela ministra Zélia Cardoso de Mello, o Ministério da Economia passou a ser o principal ponto de atenções do novo governo, diante da necessidade que se colocava de eliminar a inflação. Graças ao choque, a inflação baixou a níveis inferiores a 10% nos primeiros meses da nova administração.

Nenhum outro setor da vida nacional recebeu tanta atenção do governo Collor, que se concentrou, nos primeiros meses, no combate à inflação.

Apesar de todas as iniciativas, no entanto, a situação do país continuou difícil, sobretudo porque a principal consequência da política econômica de Collor foi a recessão, com queda dos salários e aumento do desemprego. Diante do fracasso de sua política, Zélia Cardoso de Mello abandonou o governo em maio de 1991, sendo substituída por Marcílio Marques Moreira.

No final de 1991, além de grave recessão, com diminuição da atividade econômica e com desemprego generalizado, a inflação voltava a elevar-se para níveis de 20% ao mês e continuou a subir durante o ano de 1992.

2.    Impeachment e renúncia

De maneira geral, Collor não cumpriu suas promessas de campanha, pois ele prometeu acabar com a inflação, que, depois de alguns meses, voltou com bastante força; havia prometido governar para os “descamisados” e “pés-descalços”, mas não houve redistribuição de renda; jurou acabar com os “marajás” (funcionários públicos com altos salários e que pouco trabalhavam) e colocar os corruptos na cadeia, mas ele mesmo passou a usufruir de vantagens de uma rede de corrupção; comprometeu-se a pagar dignamente os aposentados, mas negou-lhes os reajustes devidos, levando-os às ruas, em passeatas e outras manifestações públicas, para exigir o respeito aos seus direitos. 

Aos poucos, porém, foram aparecendo na imprensa informações sobre casos de corrupção que se multiplicavam em quase todos os setores do governo: no Ministério da Saúde, foram comprados bicicletas, mochilas e guarda-chuvas em quantidades desnecessárias e a preços acima dos de mercado; em outros ministérios, eram contratadas para fazer obras públicas, sem licitação, empreiteiras que haviam contribuído com dinheiro para a campanha do presidente; a publicidade oficial era encaminhada às agências que haviam feito a propaganda eleitoral de Collor; houve denúncias de desvio de dinheiro da Legião Brasileira de Assistência (LBA), presidida por Rosane Collor, esposa do presidente. 

As denúncias se avolumavam, envolvendo o nome do tesoureiro da campanha presidencial, o empresário alagoano Paulo César Farias [3], o PC. No início de 1992 o próprio irmão do presidente, Pedro Collor, denunciou e confirmou a existência do esquema de corrupção generalizada que tomava conta do governo.

O Congresso Nacional formou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias do irmão do presidente. Inicialmente, os trabalhos da CPI andaram muito devagar, pois era difícil conseguir provas. Mas, a partir do depoimento de Eriberto França, motorista de Ana Acioli, secretária de Collor, o vasto esquema de corrupção, envolvendo centenas de milhões de dólares, começou a ser conhecido: grandes empresas, para obter favores do governo, pagavam milhares de dólares às empresas de Paulo César Farias. Este, por meio de contas bancárias fantasmas, com nomes fictícios, encaminhava parte do dinheiro à conta de Ana Acioli, que o utilizava para pagar as despesas particulares de Collor – como a reforma de sua casa – e de seus familiares e amigos. Houve também denúncias de envio de milhões de dólares ao exterior, carregados por aviões particulares de PC.

Milhares de pessoas, especialmente estudantes – que ficaram conhecidos como caras-pintadas, por pintarem o rosto com as cores da bandeira nacional –, começaram a ir às ruas em grandes manifestações, exigindo o afastamento do presidente. “Fora, Collor” era o grito dos manifestantes.

No dia 29 de setembro de 1992, com base no relatório da CPI, a Câmara dos Deputados, por grande maioria de votos, autorizou o Senado a processar e julgar o presidente. De acordo com a Constituição, Collor foi afastado por 180 dias; Itamar Franco, vice-presidente, assumiu interinamente a Presidência.

Três meses depois, no dia 29 de dezembro, ao ter início o julgamento do Senado, percebendo que seria derrotado, Collor renunciou ao seu mandato de presidente da República. No mesmo dia, Itamar Franco foi empossado como presidente efetivo do Brasil.

Apesar da renúncia, o Senado continuou o julgamento de Collor e suspendeu seus direitos políticos por oito anos.

Mais tarde, em 1995, Collor foi considerado inocente pelo Superior Tribunal Federal (STF). Livrou-se das acusações de corrupção passiva junto ao “Esquema PC”, falsidade ideológica e crime de peculato (utilização de cargos públicos para o desvio de verbas).

Após o Impeachment, Collor e a primeira-dama Rosane, mudam-se para Miami, nos Estados Unidos. A presidência seria assumida pelo seu vice, Itamar Franco, em 02 de outubro de 1992.

Por fim, o governo de Collor foi muito conturbado, marcado por diversos escândalos de corrupção, o que culminou na sua deposição.

Três curiosidades escritas por Juliana Bezerra (aqui, vide R. B.):

Notas:

  • [1] Fernando Collor. Foto disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Collor>. Acesso em: 04/04/2025

  • [2] PILETTI (Vide Referências Bibliográficas). Texto adaptado.

  • [3] Paulo César Farias foi tesoureiro e coordenador da campanha de Fernando Collor de Mello. Ele não possuía um cargo público formal no governo Collor, mas atuava como principal conselheiro do presidente. Veja o documentário feito sobre ele pela Brasil Paralelo, destacando “O que aconteceu com PC Farias? Quem assassinou PC Farias? Descoberta de farsas; Fortuna de PC Farias e o esquema PC; Conclusão do caso PC Farias...” em: <https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/quem-matou-pc-farias>. Acesso em: 04/04/2025.

Referências bibliográficas:

BEZERRA, Juliana. Fernando Collor. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/fernando-collor/>. Acesso em: 04/04/2025.

PILETTINelson & PILETTIClaudino. História: EJA (Educação de Jovens e Adultos), 4º Ciclo. São Paulo: Ática, 2003 (Texto didático adaptado).

31 de março de 2025

Bispos e Papas (15): Calisto Primeiro

 

Bispo Calisto I [1]

Continuando nossa lista dos bispos e papas romanos, quero destacar aqui o bispo Calisto, que na História Eclesiástica (HE)[2] de Eusébio de Cesareia, aparece como o número 15 da lista. Depois de Zeferino  servir a Igreja por 18 anos, “... foi sucedido no episcopado por Calisto...” (HE, 6, XXI).

Como os outros casos, as informações que temos são de fontes católicas. Conforme esta fonte, por exemplo, Calisto era romano de Trastevere e filho de escravos. Trata-o como como um “administrador pouco habilidoso” que deu grande desfalque ao imperador Cômodo e, por isso, teve que fugir, mas foi capturado em Óstia (cidade próxima de Roma) e condenado a girar a roda de um moinho. Depois foi deportado para as minas da Sardenha. Aqui, encontramos também que “... ele foi preso por ter brigado em uma sinagoga, quando tentou emprestar dinheiro ou receber débitos de alguns judeus’.

Calisto teve o apoio do papa [bispo] Vítor que, para ajudá-lo a desviar da tentação, fixou-lhe um ordenado. Depois, o sucessor do bispo Vitor, Zeferino, foi igualmente generoso com ele e ordenou-o diácono, confiando-lhe a guarda do cemitério cristão na via Ápia Antiga. Calisto sucedeu a Zeferino em Roma, mas seu pontificado atraiu as inimizades de uma ala da comunidade cristã de Roma que acusou o processo de sua escolha de heresia. Como era esperado, Calisto teve muitos opositores, incluindo um antipapa – Hipólito de Roma –. Por conta disto, muitas informações sobre ele são distorcidas. O motivo da discórdia com Hipólito de Roma “... fora a questão trinitária e a absolvição concedida por Calisto aos pecadores de adultério, homicídio e apostasia, absolvição que antes só era dada uma vez na vida e após uma dura penitência pública, enquanto os reincidentes eram excluídos da comunhão eclesial...” (Idem).

Calisto morreu numa revolta popular contra os cristãos e foi lançado a um poço. Mais tarde, deram-lhe sepultura honorífica no Cemitério de Calepódio, na Via Aurélia, junto do lugar do seu martírio.

A Cripta de São Calisto: 

Uma das metas obrigatórias para os peregrinos e turistas que se dirigem à Roma são as catacumbas. Particularmente célebres e frequentadas são as de São Calisto, definidas pelo Papa João XXIII “as mais respeitáveis e as mais célebres de Roma”. Numa área de mais de 120.000 m², com quatro andares sobrepostos, foi calculado que lá existem não menos de 20 quilômetros de corredores... Essa obra colossal fixa para sempre a memória de São Calisto, que cuidou de sua realização, primeiro como diácono do Papa Zeferino, e depois como o próprio Papa. Mas além das dimensões, este lugar é precioso pelo grande número e pela importância dos mártires que ali foram sepultados, e particularmente célebres são a cripta de Santa Cecília e a contígua à dos papas, na qual foram sepultados o Papa Ponciano Antero, Fabiano entre outros... O túmulo dele está colocado bem no meio da Roma antiga, na basílica de Santa Maria in Trastevere, que, construída por determinação do Papa Júlio, na metade do século IV, foi intitulada também de São Calisto. Essa obra colossal fixa para sempre a memória de São Calisto, que cuidou de sua realização, primeiro como diácono do Papa Zeferino, e depois como o próprio Papa. Mas além das dimensões, este lugar é precioso pelo grande número e pela importância dos mártires que ali foram sepultados, e particularmente célebres são a cripta de Santa Cecília e a contígua à dos papas, na qual foram sepultados o Papa Ponciano Antero, Fabiano entre outros... O túmulo dele está colocado bem no meio da Roma antiga, na basílica de Santa Maria in Trastevere, que, construída por determinação do Papa Júlio, na metade do século IV, foi intitulada também de São Calisto (Canção Nova).

Referências bibliográficas:

CANÇÃO NOVA. São Calisto I, Papa criador do cemitério da Via Ápia. Disponível em: https://santo.cancaonova.com/santo/sao-calisto-i-papa-criador-do-cemiterio-da-via-apia/. Acesso em: 27/03/2025.

WIKIPEDIA. Papa Calisto I. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Calisto_I>. Acesso em: 27/03/2025.


Notas:

  •  [1] Imagem (adaptada) e meramente ilustrativa. Disponível em: <https://santo.cancaonova.com/santo/sao-calisto-i-papa-criador-do-cemiterio-da-via-apia/>. Acesso em: 27/03/2025.
  •  [2CESAREIA, Eusébio. História Eclesiástica: os primeiros quatro anos da Igreja Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

26 de março de 2025

Cristianismo e Socialismo: como compatibilizar?

 

Bandeira do Socialismo Cristão [1]


Ouça o artigo: 000 (via Clipchamp/Dropbox)...


O socialismo é uma corrente política e um sistema socioeconômico no qual a produção e a distribuição dos produtos é planejada com vistas a atender, pelo menos na teoria, as necessidades básicas da população. O socialismo pode ser dividido em três segmentos: utópico, cujos pensadores como Charles Fourrier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858), foram assim chamados porque a maioria de seus planos era irrealizável (utópico); científico, atribuído a Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895) que consideravam sua doutrina científica por terem chegado a ela através de análises críticas do desenvolvimento das sociedades humanas; e cristão, cujo precursor foi o sacerdote francês Robert Lamennais (1782 – 1854). Mas o principal personagem desta linha que queremos destacar é Henri Saint Simon, o qual destacaremos abaixo. 


1. Saint-Simon e o socialismo cristão [2]


O reformador social Henri de Saint-Simon (1760-1825) foi um pensador e teórico social francês. Também conhecido como socialista utópico, foi ele quem tentou aplicar os princípios sociais do cristianismo, criando o conceito “socialismo cristão”. Ele predisse uma era muito mais industrializada na qual os problemas sociais seriam resolvidos pela ciência e tecnologia. Foi só mais tarde que ele introduziu uma nota religiosa. Seu Nouveau Christianisme ("Novo Cristianismo") publicado no ano da sua morte, sustentava que a religião devia "guiar a comunidade em direção ao alvo sublime de melhorar tão rapidamente quanto possível as condições de vida da classe mais pobre". Tendo visto aquilo que a França sofreu, primeiramente sob a Revolução com toda a sua ferocidade, e depois sob o governo de Napoleão, conclamou todos os governantes da Europa a se unirem visando a supressão da guerra, e a voltarem para aquele cristianismo verdadeiro que se preocupa com a situação miserável dos pobres. As opiniões de Saint-Simon eram frequentemente desordenadas e imprecisas, mas passaram a influenciar uma combinação improvável de pensadores que incluíam Thomas Carlyle, John Stuart Mill, Heinrich Heine, Auguste Comte, Friedrich Engels e Walter Rauschenbusch, e posteriormente foram ecoadas nas obras dos teólogos norte-americanos mais recentes, tais como Paull Tillich e Reinhold Niebuhr.

Além de exercer um impacto na França, o socialismo cristão era uma força real em muitos outros países europeus, e fomentava a organizações de grupos, sustentando que o operário e o lavrador tinham direito à justiça social e econômica, e que estas eram áreas nas quais os cristãos deviam ser ativos. Na Alemanha, desviou-se tristemente para o antissemitismo que resultou na condenação imperial em 1894. Cinco anos antes, a Sociedade dos Socialistas Cristãos tinha sido formada nos Estados Unidos, mas a ideia estava presente desde 1849, quando Henry James, Sr. expôs princípios semelhantes.

O termo "socialismo cristão" foi popularizado na Inglaterra nos meados do século XIX quando, depois do fracasso do movimento cartista, um grupo de anglicanos procurou obter a aplicação dos princípios cristãos na organização da indústria. Seus líderes foram J. M. F. Ludlow (que fora educado na França), J. F. D. Maurice e Charles Kingsley. Eles ajudaram a financiar sociedades cooperativas, deram início a associações para vários ofícios, e em 1854 fundaram a Faculdade dos Trabalhadores em Londres, tendo Maurice como presidente. As novelas de Maurice, especialmente Yest (“Levedura”) e Alto Locke (publicadas em 1850), desempenharam um papel considerável num movimento que, no entanto, nunca cativou a igreja inglesa, e que logo entrou em declínio. Nem por isso deixou de legar à posteridade princípios e práticas que beneficiaram uma ampla gama de interesses sociais, inclusive cooperativas, institutos educacionais para operários e sindicatos trabalhistas.


2. Como um cristão deve encarar o socialismo?[3]


O socialismo é um sistema social no qual a propriedade, os recursos naturais e os meios de produção são de propriedade e controlados pelo estado, em vez de indivíduos ou empresas privadas. Uma crença básica do socialismo é que a sociedade como um todo deve compartilhar todos os bens produzidos, pois todos vivem em cooperação uns com os outros. Várias teorias do socialismo foram apresentadas desde os tempos antigos, incluindo uma forma de socialismo cristão.

O filósofo mais proeminente a argumentar a favor do socialismo foi Karl Marx, que ensinou que o fator motriz por trás de toda a história humana é a economia. Marx nasceu de pais judeus alemães em 1818 e recebeu seu doutorado aos 23 anos. Ele então embarcou em uma missão para provar que a identidade humana está ligada ao trabalho de uma pessoa e que os sistemas econômicos controlam totalmente uma pessoa. Argumentando que a humanidade sobrevive pelo trabalho, Marx acreditava que as comunidades humanas são criadas pela divisão do trabalho.

Marx viu a Revolução Industrial como uma mudança no estilo de vida básico da humanidade, porque, na mente de Marx, aqueles que trabalhavam livremente para si mesmos agora eram forçados pela economia a trabalhar em fábricas. Isso, Marx sentiu, tirou sua dignidade e identidade, e agora eles foram reduzidos a meros escravos controlados por um poderoso capataz. Essa perspectiva fez da economia do capitalismo o inimigo natural da marca de socialismo de Marx.

O socialismo busca acabar com a propriedade privada. Karl Marx supôs que o capitalismo enfatiza a propriedade privada e, portanto, reduziu a propriedade a poucos privilegiados. Duas "comunidades" separadas surgiram na mente de Marx: os empresários, ou a burguesia; e a classe trabalhadora, ou o proletariado. De acordo com Marx, a burguesia usa e explora o proletariado com o resultado de que o ganho de uma pessoa é a perda de outra. Além disso, Marx acreditava que os empresários influenciam os legisladores para garantir que seus interesses sejam defendidos em vez da perda de dignidade e direitos dos trabalhadores. Por fim, Marx sentiu que a religião é o "ópio das massas", que os ricos usam para manipular a classe trabalhadora; o proletariado recebe a promessa de recompensas no céu um dia se continuar trabalhando diligentemente onde Deus os colocou (subservientes à burguesia).

No socialismo que Marx imaginou, o povo possui tudo coletivamente, e todos trabalham para o bem comum da humanidade. O objetivo de Marx era acabar com a propriedade privada por meio da propriedade estatal de todos os meios de produção econômica. Uma vez que a propriedade privada fosse abolida, Marx sentiu que a identidade de uma pessoa seria elevada e o muro que o capitalismo supostamente construiu entre os proprietários e a classe trabalhadora seria quebrado. Todos se valorizariam e trabalhariam juntos para um propósito compartilhado. O governo não seria mais necessário, pois as pessoas se tornariam menos egoístas.

Há pelo menos quatro erros no pensamento de Marx, revelando algumas falhas no socialismo. Primeiro, sua afirmação de que o ganho de outra [uma] pessoa deve vir às custas de outra pessoa é um mito; a estrutura do capitalismo deixa muito espaço para todos elevarem seu padrão de vida por meio da inovação e da competição. É perfeitamente viável que várias partes compitam e se saiam bem em um mercado de consumidores que querem seus bens e serviços.

Segundo, Marx estava errado em sua crença socialista de que o valor de um produto é baseado na quantidade de trabalho que é colocado nele. A qualidade de um bem ou serviço simplesmente não pode ser determinada pela quantidade de esforço que um trabalhador despende. Por exemplo, um mestre carpinteiro pode fazer uma peça de mobiliário mais rápida e lindamente do que um artesão não qualificado e, portanto, seu trabalho será muito mais valorizado (e corretamente) em um sistema econômico como o capitalismo.

Terceiro, a teoria do socialismo de Marx necessita de um governo livre de corrupção e nega a possibilidade de elitismo dentro de suas fileiras. Se a história mostrou alguma coisa, é que o poder corrompe a humanidade caída, e o poder absoluto corrompe absolutamente. As pessoas não se tornam naturalmente menos egoístas. Uma nação ou governo pode matar a ideia de Deus, mas alguém tomará o lugar de Deus naquele governo. Esse alguém é, na maioria das vezes, um indivíduo ou grupo que começa a governar a população e busca manter sua posição privilegiada a todo custo. É por isso que o socialismo levou a ditaduras com tanta frequência na história mundial.

Quarto e mais importante, o socialismo está errado ao ensinar que a identidade de uma pessoa está ligada ao trabalho que ela faz. Embora a sociedade secular certamente promova essa crença, a Bíblia diz que todos têm o mesmo valor porque todos são criados à imagem do Deus eterno. O verdadeiro valor humano intrínseco está na criação de nós por Deus.

Marx estava certo ao dizer que a economia é o catalisador que impulsiona a história humana? Não, o que dirige a história humana é o Criador do universo que controla tudo, incluindo a ascensão e queda de cada nação. Deus também controla quem é colocado no comando de cada nação: “O Altíssimo governa o reino dos homens, e o concede a quem quer, e constitui sobre ele o mais humilde dos homens” (Daniel 4.17). Além disso, é Deus quem dá a uma pessoa habilidade no trabalho e a riqueza que vem dele, não o governo: “Aqui está o que vi ser bom e apropriado: comer, beber e divertir-se em todo o seu trabalho em que se esforça debaixo do sol durante os poucos anos de sua vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua recompensa. Além disso, quanto a todo homem a quem Deus deu riquezas e bens, também lhe deu poder para comer delas, e receber a sua recompensa, e alegrar-se no seu trabalho; este é o dom de Deus” (Eclesiastes 5.18-19).

O socialismo, apesar de toda sua popularidade em alguns círculos, não é um modelo bíblico para a sociedade. Em oposição ao socialismo, a Bíblia promove a ideia de propriedade privada e emite comandos para respeitá-la: comandos como “Não furtarás” (Deuteronômio 5.19) não têm sentido sem propriedade privada. Ao contrário do que vemos em experimentos fracassados ​​no socialismo, a Bíblia honra o trabalho e ensina que os indivíduos são responsáveis ​​por se sustentarem: “Quem não quer trabalhar não coma” (2Tessalonicenses 3.10). A redistribuição de riqueza fundamental para o socialismo destrói a responsabilidade e a ética bíblica do trabalho. A parábola de Jesus em Mateus 25.14-30 ensina claramente nossa responsabilidade de servir a Deus com nossos recursos (privados).


Notas:

  •  [2] DOUGLAS, J. D. Socialismo Cristão (Texto na íntegra, adaptado). Ver R. B.
  •  [3] GOT QUESTIONS. Socialismo-Christian (Texto na íntegra, adaptado). Ver R. B.

Referências bibliográficas:

  • DOUGLAS, J. D. Socialismo Cristão. In: ELLWELL, Walter A (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. III. São Paulo: Vida Nova, 1990. Pg. 410.