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1 de junho de 2022

O Cristianismo no Império Romano: de sua origem ao Edito de Milão (Resumo)

O Cristianismo, estudado no contexto da história de Roma, é um dos elementos importantes de sua cultura e que representa um dos maiores legados para a humanidade.

Jesus, o “Cordeiro que tira o pecado do mundo” e
morreu na cruz como malfeitor. [1]


O Cristianismo foi fundado por Jesus de Nazaré, que ficou conhecido como Jesus Cristo, nascido na Palestina, uma das províncias romanas, e durante o governo de Otávio Augusto.

Origem

Na Palestina, os judeus viviam a expectativa da chegada – à terra – de um Messias ou Cristo, que os salvaria, principalmente, do jugo romano. Esta salvação, porém, enquanto para muitos judeus, estava restrita ao aspecto puramente material, para outros, porém, significava a redenção dos seus pecados (desobediência do homem a Deus) e promessa de uma vida eterna com Deus.

Nascido de uma família pobre e filho “adotivo” de José, o Carpinteiro, Jesus é batizado por João Batista – que segundo as Escrituras Judaicas viera preparar o povo para sua chegada –, com quase trinta anos, quando então inicia seu ministério.
Logo no início de sua missão, Jesus escolhe alguns homens para serem seus seguidores ou discípulos. Depois, ele consagra doze destes discípulos, que se tornam apóstolos, os quais lhe acompanham até sua crucificação, morte e ressurreição, exceto um deles, Judas Iscariotes, que o traiu e se suicidou antes.

“A morte por crucificação foi inventada pelos persas entre 539 e 533 a.C. Os romanos, porém, a popularizaram. Ela era utilizada para punir escravos rebeldes, criminosos violentos e subversivos políticos... As pessoas crucificadas não eram enterradas. Seus corpos eram deixados para serem consumidos pelos urubus. Jesus Cristo foi uma exceção. Seu sepultamento ocorreu graças à influência de José de Arimateia, um rico judeu simpatizante que negociou com Pilatos, o governador" [2].

Veja que Jesus Cristo foi condenado como um malfeitor. Mas, apesar de sua morte horrenda, o fato mais importante para todos os cristãos é que Ele foi ressuscitado. E, segundo informa os registros sagrados, um dos requisitos para ser, por exemplo, sucessor de Judas Iscariotes, isto é, um apóstolo em seu lugar, era: ter sido testemunha da morte e ressurreição de Jesus.


Livro Sagrado

Jesus não deixou registros escritos. Seus atos, milagres e ensinamentos foram registrados, posteriormente, por seus discípulos. Desta forma, surgiu a Bíblia Sagrada Cristã, composta:

  • Do Antigo Testamento ou Torá (Livro Sagrados dos hebreus) [3].

  • Evangelhos (4), que são Mateus, Marcos, Lucas e João que tratam da vida e obra de Jesus.

  • Atos dos Apóstolos (1), que trata dos primeiros anos da Igreja Cristã.

  • Epístolas (21), que foram escritas por apóstolos (a maioria de Paulo) e outros discípulos, e que formalizam as doutrinas cristãs.

  • Apocalipse (1), livro que trata de profecias relativas, em sua maior parte, aos assuntos dos últimos tempos.

Perseguições

Conforme o Cristianismo foi crescendo e ganhando adeptos entre as classes pobres de Roma, sobrevieram as perseguições, promovidas, principalmente, pelos imperadores. Os motivos destas perseguições foram, entre outras:

  • os cristãos não aceitavam a divindade dos imperadores: jamais os cristãos colocariam César acima de Cristo. Por isto, foram considerados “ateus” pelo Estado romano.

  • os cristãos foram considerados perigosos e desleais ao Estado romano:

  • reuniões secretas dos cristãos (a portas fechadas);

  • o repúdio dos cristãos de “cultuar” o Estado tornava-os “traidores” e passíveis de perseguições;

  • os imperadores achavam que os cristãos formavam uma sociedade secreta que tramavam ações políticas contra o Estado;

  • a sociedade cristã foi vista como anarquista e sacrílega por Roma;

  • O crescimento do número de adeptos, principalmente entre os plebeus e escravos:

  • a despeito da repressão, o Cristianismo aumentava cada vez mais;

  • os cristãos foram vistos como a pior classe de revolucionários, destruidores dos fundamentos da civilização.

"O primeiro caso documentado de perseguição aos cristãos pelo Império Romano direciona-se a Nero. Em 64, houve o grande incêndio de Roma, destruindo grandes partes da cidade e devastando economicamente a população romana. Nero, cuja sanidade já há muito tempo havia sido posta em questão, era o suspeito de ter intencionalmente ateado fogo. (...) Ao associar os cristãos ao terrível incêndio, Nero aumentou ainda mais a suspeita pública já existente e, pode-se dizer, exacerbou as hostilidades contra eles por todo o Império Romano. As formas de execução utilizadas pelos romanos incluíam crucificação e lançamento de cristãos para serem devorados por leões e outras feras selvagens"

Cristãos sendo usados como tochas humanas, na perseguição
sob Nero. Obra de Henryk Siemiradzki (1843-1902) [4].


O Edito de Milão e o fim das perseguições

Na verdade, quando falamos de “fim” das perseguições aos cristãos, queremos nos referir apenas às perseguições formais e legais (institucionais), previstas nas leis romanas. Mas, de fato, os cristãos nunca deixaram de ser perseguidos, senão, de forma física, com torturas, corpos incendiados, crucificações, corpos jogados às feras etc., mas no aspecto moral, espiritual, processos de toda ordem, calúnias e outros meios. No decorrer da história cristã, encontramos diversos momentos de perseguições e até guerras, contra os cristãos e, em diversos momentos, até grupos cristãos contra outros grupos cristãos e estes contra muçulmanos e assim por diante.

A perseguição aos cristãos continuou durante os séculos II e III e só terminou com o imperador Constantino, que governou Roma no século IV. Neste momento, o Império já estava em decadência e o poder imperial enfraquecido. Além disso, as perseguições tiveram efeito contrário ao esperado pelos imperadores, pois quanto o Cristianismo era perseguido, mais pessoas se convertiam, buscando alívio para seus sofrimentos e esperança de vida eterna, nas pregações cristãs.

Constantino percebeu que não adiantava perseguir cristãos, mesmo porque – segundo reconheceu – o Deus deles era bastante forte e que ouvia suas orações. “Sem dúvida percebeu também que se o Cristianismo fosse ajudado e se tornasse bastante forte, seria um poderoso elemento para a unificação de todos os povos do império. (Constantino) teve simpatia pessoal pelo Cristianismo, mas nunca demonstrou em sua conduta qualquer influência da moral cristã.” [5].

Em 313, Constantino baixou o Edito de Milão, que punha fim às perseguições religiosas e dava liberdade de culto aos cristãos. A partir de então, O Cristianismo ganhou um impulso ainda maior no território romano. Depois veremos como o Cristianismo tornou Religião Oficial do Império, através do imperador Teodósio, em 390…

Veja também:



Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] O Cordeiro e a Cruz, símbolos do Cristianismo. Imagem disponivel em: <http://somentedeusgloria.blogspot.com.br/2011/12/jesus-o-cordeiro-maravilhoso_18.html>. Acesso em  17/08/2013.
  • [2] Guia dos Curiosos. Disponível em: <http://www.guiadoscuriosos.com.br/categorias/1301/1/crucificacao.html>. Acesso em 17/08/2013.  Veja também um documento interessante, sobre a crucificação, produzido pelo Discovery Channel, em: <http://www.youtube.com/watch?v=uB9MqLl4yws>. Acesso em 17/08/2013.
  • [3] O Antigo Testamento da Bíblia Sagrada Cristã: Há duas versões do Antigo Testamento na Bíblia Sagrada. Uma versão utilizada pelos católicos e uma parte dos protestantes, que contém 46 livros e acréscimos no livro de Daniel e Ester, e um versão utilizada pela maioria dos protestantes, que contém 39 livros. O Novo Testamento é igual para ambos: católicos e protestantes.
  • [4] Perseguição aos cristãos: texto e imagem. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Persegui%C3%A7%C3%A3o_aos_crist%C3%A3os#Persegui.C3.A7.C3.A3o_sob_o_Imp.C3.A9rio_Romano>. Acesso em 17/08/2013.
  • [5] NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã, 6ª ed. São Paulo: Casa Ed. Presbite-riana, 1985. p. 42/43.

30 de maio de 2022

A centralização dos reinos ibéricos: Portugal e Espanha

Já vimos acerca da centralização do poder nas monarquias europeias sobre os reinos da França e da Inglaterra. Neste post, veremos como se deram as centralizações monárquicas em Portugal e Espanha.

1 - Portugal:



Portugal [1] foi um dos primeiros países da Europa a consolidar um governo forte, centralizado na pessoa do rei. A formação da Monarquia portuguesa iniciou-se nas lutas dos cristãos pela expulsão dos árabes islâmicos que, desde o século VIII, ocupavam a península Ibérica. Essas lutas ficaram conhecidas como guerras de Reconquista.

Durante o domínio árabe, os reinos cristãos ficaram restritos ao norte da península – como Navarra. A partir do século XI, pouco a pouco eles conseguiram ampliar seu território. Foram fundados, então, vários reinos, entre os quais Aragão, Leão, Castela. Com isso, os árabes começaram a recuar em direção ao litoral sul. 

Durante as guerras de Reconquista, destacou-se o nobre francês Henrique de Borgonha. Como recompensa, ele recebeu do rei de Leão e Castela, Afonso VI, a mão de sua filha e terras que constituíram o condado Portucalense [2].

O filho e herdeiro de Henrique de Borgonha, Afonso Henriques, proclamou-se então rei de Portugal em 1139, rompendo os laços com Leão e Castela. Tinha início, assim, a dinastia de Borgonha. Afonso Henriques, o conquistador, estendeu seus domínios para o sul, até o rio Tejo, e fez de Lisboa sua capital. 

Em 1383, com a morte do ultimo rei (sem herdeiros diretos) da dinastia de Borgonha, D. Fernando, o Formoso, a Coroa portuguesa ficou ameaçada de ser anexada pelo soberano de Castela, parente do rei morto. A burguesia, por sua vez, temia ver seus interesses comerciais prejudicados pelos nobres castelhanos.

Para evitar a perda da independência, os portugueses aclamaram D. João, meio-irmão do rei morto, novo rei. João, mestre da cidade de Avis, venceu a disputa e assumiu o trono em 1385. O apoio financeiro da burguesia foi decisivo nessa vitória. Assim, durante toda a dinastia de Avis, os reis favoreceram e apoiaram as atividades burguesas.


2 - Espanha:


A formação da Monarquia espanhola [3] também esteve ligada às guerras de Reconquista da península Ibérica. Vimos que durante esse processo, diversos reinos foram constituídos. Em 1469, o casamento de Fernando (herdeiro do trono de Aragão) com Isabel (irmã do rei de Leão e Castela) uniu três reinos. Era o primeiro passo para a formação da Espanha.

Em 1492, os exércitos de Fernando e Isabel apoderaram-se de Granada e expulsaram os árabes da península Ibérica, consolidando a monarquia.

No século XVI, com Carlos I, a Monarquia de Castela, atual Espanha, fortaleceu-se ainda mais.

A revolta dos camponeses

Além das guerras internas e externas e dos interesses da burguesia, outro movimento contribuiu para o fortalecimento do poder dos reis: as revoltas camponesas.

Essas revoltas eram consequência da fome, da miséria e da exploração dos camponeses. Assustados com as rebeliões, os senhores feudais aceitavam a autoridade do rei, que, fortalecido, podia organizar exércitos para reprimir os numerosos movimentos de contestação.

Na França, as principais rebeliões ganharam o nome de jacqueries. Isso em virtude da expressão “Jacques Bonhomme”, designação desdenhosa usada pelos nobres para referir-se a qualquer camponês (algo como Zé Ninguém). Na Inglaterra, os rebeldes foram liderados por um camponês artesão chamado Wat Tyler e por um padre de nome John Ball.

Os camponeses na França e Inglaterra lutavam por melhores condições de vida. Não suportando mais as pesadas taxas exigidas pelos nobres, eles invadiam os castelos e saqueavam os depósitos de alimento.

As revoltas não duraram muito tempo, pois foram reprimidas com violência pelos exércitos ligados ao rei. Mesmo assim, contribuíram para mostrar a capacidade de organização e de luta dos camponeses.

Veja também:

Veja ainda o vídeo:



Notas / Referências bibliográficas:

  • [2]  A Dinastia de Borgonha, ou como também é chamada, Afonsina (em razão do elevado número de soberanos com o nome de Afonso) foi a primeira dinastia do Reino de Portugal. D. Afonso Henriques... foi fundador da Nação e da dinastia borgonhesa”. In: <http://www.laifi.com/laifi.php?id_laifi=2935&idC=55821#>. Acesso em: 30/05/2022.
  • [3]  Texto copiado na íntegra de: A Monarquia Espanhola. In: Só História. Virtuous Tecnologia da Informação, 2009-2022. Disponível em: <http://www.sohistoria.com.br/ef2/centralizacaopoder/p4.php>. Acesso em: 30/05/2022.

28 de maio de 2022

A Guerra dos Cem anos

Como vimos, durante o processo de centralização do poder nas monarquias europeias e a sua consequente consolidação do absolutismo, dois reinos, a França e a Inglaterra, estiveram envolvidos numa série de conflitos que vieram a se chmar Guerra dos Cem Anos.

No sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: a Batalha de La Rochelle, Batalha de Azincourt, Batalha de Patay e Joana d'Arc no cerco de Orléans1.

Guilherme, o Conquistador, ao dominar a Inglaterra, acabou ligando-a aos franceses, já que ele era vassalo do rei da França.

No início do século XIV, o rei Eduardo III da Inglaterra manifestou a intenção de ocupar o trono francês, do qual se julgava herdeiro. Ao mesmo tempo, desejava dominar a região de Flandres (atuais Bélgica e Holanda), grande produtora de tecidos.

Essas ambições acabaram provocando o começo desta série de conflitos2 entre a Inglaterra e a França: a Guerra dos Cem Anos. Ela tem esse nome porque, com pequenas interrupções, prolongou-se por mais de um século: de 1337 a 1453. O início do conflito é marcado pela invasão do território francês pelos exércitos da Inglaterra.

Os ingleses venceram as batalhas iniciais, apoderando-se de grande parte do território francês. Mas essas vitórias intensificaram a união e a resistência da população francesa. O principal símbolo dessa união foi Joana d’Arc, uma jovem camponesa que obteve vitórias contra os exércitos ingleses, reanimando os franceses.

Assustados com a jovem camponesa, os ingleses conseguiram aprisioná-la. Julgada por heresia, foi condenada à morte numa fogueira. Mas isso não impediu que os franceses retomassem os territórios perdidos e expulsassem os ingleses.

Veja um resumo sobre a Guerra dos Cem Anos feita por Carlos César HIGA3:

    • "A Guerra dos Cem Anos foi uma série de conflitos envolvendo França e Inglaterra, entre 1337 e 1453.
    • Os ingleses se aproveitaram do vácuo de poder na França para invadir seu território e controlar o comércio de Flandres.
    • As guerras civis nos dois reinos interferiram no andamento da Guerra dos Cem Anos.
    • A camponesa francesa Joana d’Arc teve participação fundamental na vitória francesa contra os invasores ingleses durante o último período da guerra.
    • Após mais de cem anos de conflitos, as monarquias inglesa e francesa se fortaleceram, despertando sentimento nacional e patriótico".

Portanto, o desfecho da Guerra dos Cem Anos contribuiu para estabelecer os limites territoriais tanto da França vitoriosa quanto da Inglaterra derrotada, além de ter suscitado nos dois lados a formação de um importante sentimento nacional, além de colaborar para o surgimento de sua monarquia nacional e absolutista.



Notas:

  • 1 Imagens disponíveis em: <dishttps://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Cem_Anos>. Acessoem: 28/05/2022.


27 de maio de 2022

A Monarquia inglesa

Sobre a centralização do poder nas monarquias europeias e a sua consequente consolidação do absolutismo, já vimos sobre a monarquia francesa, e neste capítulo (post), veremos como este processo ocorreu na Inglaterra.

A Torre de Londres foi, durante a Idade Média, o
 centro do poder real na Inglaterra. À medida que
 o Parlamento foi conquistando seus poderes, ela
teve sua importância diminuída [1].

Nas Ilhas Britânicas1, em meados do século XI, havia quatro reinos: Escócia, País de Gales e Irlanda, formados pelos celtas, e Inglaterra, formada por povos anglo-saxões.

Em 1066, o duque Guilherme, da Normandia (região do norte da França), invadiu e conquistou a Inglaterra.

Guilherme, o Conquistador, como ficou conhecido, era vassalo do rei francês. Ele dividiu a Inglaterra em condados, para os quais nomeou um funcionário a fim de representá-lo. Esse funcionário (xerife) tinha autoridade sobre todos os habitantes, fossem eles senhores ou camponeses. Com isso, Guilherme acabou fortalecendo seu poder.

Em 1154, um nobre francês, Henrique Plantageneta, parente de Guilherme, herdou a Coroa do Reino da Inglaterra, passando a chamar-se Henrique II (1154 – 1189). Nesse período ocorreu de fato a centralização do poder na Inglaterra.

Henrique II foi sucedido por seu filho, Ricardo Coração de Leão (1189 – 1199). Dos dez anos de seu governo, Ricardo ausentou-se da Inglaterra por nove anos, liderando a Terceira Cruzada e lutando no continente europeu para manter seus domínios na França. Essa longa ausência causou o enfraquecimento da autoridade real e o fortalecimento dos senhores feudais.

No reinado de João Sem-Terra (1199 – 1216), irmão de Ricardo, o enfraquecimento da autoridade real foi ainda maior. Após ser derrotado em conflitos com a França e com o papado, João Sem-Terra foi obrigado, pela nobreza inglesa, a assinar um documento chamado Magna Carta (1215). Por esse documento, a autoridade do rei da Inglaterra ficava bastante limitada. Ele não podia, por exemplo, aumentar os impostos sem prévia autorização dos nobres. A Magna Carta estabelecia que o rei só podia criar impostos depois de ouvir o Grande Conselho, formado por bispos, condes e barões.

Henrique III (1216 – 1272), filho e sucessor de João Sem-Terra, além da oposição da nobreza, enfrentou forte oposição popular. Um nobre, Simon de Montfort, liderou uma revolta da aristocracia e, para conseguir a adesão popular, convocou um Grande Parlamento em 1265, do qual participavam, além da nobreza e do clero, representantes da burguesia.

No reinado de Eduardo I (1272 – 1307), oficializou-se a existência do Parlamento. Durante os reinados de Eduardo II e de Eduardo III, o poder do Parlamento continuou a se fortalecer. Em 1350, o Parlamento foi dividido em duas câmaras: a Câmara dos Lordes, formada pelo clero e pelos nobres, e a Câmara dos Comuns, formada pelos cavaleiros e pelos burgueses.

Como podemos ver, na Inglaterra o rei teve seu poder restringido pela Magna Carta e pelo Parlamento. Mas isso não significou ameaça à unidade territorial ou um poder central enfraquecido, muito pelo contrário. Comandada pelo rei, conforme os limites impostos pelo Parlamento, a Inglaterra se tornaria um dos países mais poderosos da Europa, a partir do século XVI. Até hoje, a Inglaterra é uma monarquia parlamentarista.

Veja também:


Notas / Referência bibliográfica:

A monarquia francesa

Já destacamos no artigo a centralização nas monarquias europeias, que a partir da Baixa Idade Média, a partir do século XI, em algumas regiões da Europa, as monarquias feudais iriam servir de base para a formação de governos centralizados, como a França, a Inglaterra e a Espanha. Neste artigo, vamos ver como isto se deu na França.

Voltando na história francesa, uns séculos antes da Baixa Idade Média, vimos que em 843, o Império Carolíngio foi dividido em três reinos, que, por sua vez, já estavam subdivididos em feudos governados por duques, marqueses e condes. Os reis eram suseranos, que dependiam dos nobres locais para a obtenção de soldados e rendimentos. E em 987 (séc. X), com a subida ao trono de Hugo Capeto, um desses reinos, o da França, passou a ser governado pela dinastia dos capetíngios. sendo Filipe Augusto , um descendente desta dinastia, considerado o primeiro rei a iniciar o processo de consolidação da Monarquia francesa.

Durante o reinado de Felipe Augusto (1180–1223), as cidades começaram a ser libertadas do domínio dos senhores feudais, o que favoreceu a consolidação da burguesia. Apoiado por ela, Filipe impôs sua autoridade aos nobres. Durante seu governo, Paris passou a ser a capital do Reino da França.

Posteriormente, durante o governo de Luís IX (1226–1270). Ele criou uma moeda única, cuja aceitação se tornou obrigatória em todo o território do reino. Contribuiu, assim, para o comércio, facilitando a circulação das mercadorias.

A Batalha de Bouvines, 27 de julho de 1214, pintada por Horace Vernet em 1827. A vitória francesa sobre a Inglaterra e o Sacro Império Romano-Germânico marcou o início do declínio Imperial [1].

Durante o reinado de Filipe IV (1285–1314), mais conhecido como Filipe, o Belo, os mercadores e banqueiros estrangeiros chegaram a ser expulsos da França para evitar a saída de dinheiro, o que fortaleceu ainda mais a burguesia francesa e o próprio rei.

Seu governo entrou em conflito com a Igreja, porque queria cobrar impostos do clero. Com a morte do papa Bonifácio VIII, foi escolhido para substituí-lo o francês Clemente V. Em 1309, Filipe, o Belo, pressionou-o para que transferisse o papado de Roma para a cidade francesa de Avignon (sudeste da França). Assim, a Igreja ficou sob o controle do rei francês. A sede da Igreja só voltaria para Roma em 1377.

A Monarquia francesa consolidou-se nos séculos XIV e XV, durante a Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Aliás, esse conflito seria importante também para a Inglaterra consolidar seu poder central, como veremos logo adiante.

Veja também:


Veja ainda o vídeo a seguir:


Nota / Referências bibliográficas:

[1] Imagem disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_da_Fran%C3%A7a>. Acesso em: 26/05/2022.

25 de maio de 2022

A centralização do poder nas monarquias europeias


Quando falamos em Europa, dificilmente imaginamos o continente europeu sem os países como França, Inglaterra, Portugal ou Espanha, não é mesmo? Esses países começaram a se consolidar a partir da Baixa Idade Média, paralelamente ao desenvolvimento do comércio e das cidades.

Até então, nos diversos reinos formados pela Europa com a desagregação do Império Romano do ocidente, os reis exerciam, principalmente, funções militares e políticas. Sem cumprir atividades administrativas, o rei tinha seus poderes limitados pela ação da nobreza feudal, que, por serem os senhores da terra, controlava de fato o poder. Essa organização do poder é chamada monarquia feudal e sua principal característica era a fragmentação do poder.

A partir do século XI, em algumas regiões da Europa, as monarquias feudais iriam servir de base para a formação de governos centralizados: é o caso da França, da Inglaterra e de Castela (atual Espanha).

Os reis começaram então a concentrar grandes poderes, em parte por causa do apoio e do dinheiro recebido dos burgueses. Ao longo de algum tempo, a aproximação entre o rei e a burguesia colocariam fim à fragmentação do poder. Entretanto, isso não significou a exclusão da nobreza feudal do poder. Ela se manteve ligada ao rei e usufruindo da sua política.

Além dos reis, ganharam importância nesse processo os burgueses, que se tornaram o grupo social de maior poder político e, sobretudo, econômico.

A formação das monarquias

Durante quase toda a Idade Média não existiam paises como os que conhecemos hoje. Assim, morar em Londres ou em paris não significava morar na Inglaterra ou na França. As pessoas sentiam-se ligadas apenas a uma cidade, a um feudo ou a um reino.

O processo de formação de monarquias com poder centralizado na Europa iniciou-se no século XI e consolidou-se entre os séculos XIV e XVI. Ao final de alguns séculos, esse processo daria origem a muitos dos paises atuais da Europa, como França, Portugal e Espanha. Entretanto, ele não ocorreu ao mesmo tempo e da mesma maneira em todos os lugares do continente. Em regiões como a península Itálica e o norte da Europa nem chegaria a se consolidar.

Quase sempre estiveram envolvidos nesse processo de centralização do poder os mesmos grupos sociais: os reis, a burguesia e os nobres feudais. Cada um desses grupos era movido por interesses próprios. Muitas vezes, esses interesses eram convergentes; outras vezes, radicalmente opostos.

Para a burguesia, novo grupo social se formava, a descentralização política do feudalismo era inconveniente. Isso porque submetia os burgueses  aos impostos cobrados pelos senhores e dificultava a atividade comercial pela ausência de moeda comum e de pesos e medidas padronizados.

Burguesia: Retrato do casamento  de Jan van Eyck, pintor de Bruges. Esta imagem retrata o comerciante Giovani Arnolfini, no dia do seu casamento.

Essas circunstâncias acabaram aproximando os burgueses dos reis, interessados em concentrar o poder em suas mãos. Nessa aliança, a burguesia contribuía com o dinheiro e o rei, com medidas políticas que favoreciam o comércio. O dinheiro da burguesia facilitava aos reis a organização de um exército para impor sua autoridade à nobreza feudal.

Essa mesma nobreza feudal, por sua vez, encontrava-se enfraquecida pelos gastos com as Cruzadas e tinha necessidade de um apoio forte, até mesmo para se defender das revoltas camponesas, que se intensificavam. Procurou esse apoio nos reis, apesar de muitas vezes se sentir prejudicada com a política da realeza em favor da burguesia, que colocava fim a vários dos privilégios feudais. Dividido entre a burguesia e a nobreza feudal, o rei serviu como uma espécie de mediador entre os interesses dos dois grupos.

Ao final de um longo período, esse processo acabou possibilitando a formação de um poder centralizado e a consolidação de uma unidade territorial. Com isso, formar-se-iam em diversas regiões da Europa monarquias com poder centralizado, nas quais os reis detinham grande parte do poder.

Assim, a monarquia foi forma de governo sob a qual se organizou a Europa entre o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.

Destacaremos a seguir, o processo de formação de algumas monarquias europeias desse período.

Veja também:

Referência bibliográfica:

A centralização do poder nas monarquias europeias. In: Só História. Virtuous Tecnologia da Informação, 2009-2022. Disponível em: <A centralização do poder nas monarquias europeias - Só História (sohistoria.com.br)>. Acesso em: 25/05/2002.

24 de maio de 2022

Tratado de Tordesilhas

Assinatura do Tratado de Tordesilhas 1

Com descobertas de terras no decurso das grandes navegações por Portugal e Espanha, as disputas entre ambos os reinos acirram-se em 1492, com a chegada à América pelo navegador genovês Cristóvão Colombo, a serviço da Coroa espanhola.

Imaginando ter alcançado as Índias, a Espanha queria garantir o monopólio de sua exploração. Por seu lado, os portugueses desejavam assegurar as rotas marítimas ao sul do Atlântico e, segundo alguns historiadores, a posse das terras que já supunha existir à oeste do oceano.

Após a descoberta de Colombo, os espanhóis pedem a intervenção do papa, que promulga a Bula Intercoetera, em 1493, a qual reconhecia ao reino de Castela o domínio sobre todas as terras que se encontrassem à oeste de um meridiano localizado a 100 léguas a oeste das ilhas de Açores e Cabo Verde. Mas esta decisão desagrada Portugal, que ameaça entrar em guerra. Depois de duras negociações, o Tratado de Tordesilhas é assinado.

O Tratado de Tordesilhas, acordo assinado por Portugal e Espanha, em 1494, na cidade espanhola de mesmo nome, e segundo o mesmo, terras e mares encontrados ou por encontrar (desde que não pertencentes a nenhum rei cristão) seriam divididos entre Espanha e Portugal. O meridiano que passa a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde foi tomado como linha divisória. As terras localizadas a leste pertenciam a Portugal. As restantes seriam da Espanha.

Veja no mapa a seguir, as divisões propostas pelos dois tratados:


Para os portugueses, o tratado era altamente positivo, pois lhes assegurava a posse do litoral atlântico da África, região que já vinham explorando. A Espanha acabaria impondo seu domínio a grande parte do continente americano e sobre os povos que o habitavam. Com os metais preciosos encontrados no novo continente, tornar-se-ia a nação mais rica da Europa. Por isso na história espanhola o século XVI ficou conhecido como ‘o século de ouro’.

Com a chegada dos portugueses à América, em 1500, uma das primeiras medidas tomadas foi analisar o limite entre suas terras e as da Espanha. Verificou-se que a tal linha imaginária (meridiano) passaria na altura das atuais cidades de Belém (PA) e Laguna (SC). Portanto, o Brasil, segundo o tratado, que vigorou até 1750, já foi parte de Portugal (leste) e da Espanha (oeste), como se percebe no mapa acima.

Veja também:

         Veja aind no vídeo abaixo, um resumo dos tratados, incluindo o Tratado de Tordesilhas:



Referência bibliográfica:

  • 1 O Tratado de Tordesilhas. Texto (adaptado) e Mapa disponíveis em: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/navegacoes/p3.php>. Acessso em: 24/05/2022.