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3 de setembro de 2025

A Escatologia de Hipólito e o Fundamentalismo Protestante

 Por: Alcides Amorim

Hipólito de Roma[1]

Sobre o comentário acerca das setenta semanas de Daniel, feito pelo Dr. C. I. Scofield [2], ele cita dois Pais da Igreja, Irineu e Hipólito, cuja escatologia se assemelhava à dos fundamentalistas. Sobre o primeiro já falamos aqui e aqui e, sobre Hipólito, veja o conteúdo abaixo.

1.    Quem era Hipólito [3]

Hipólito de Roma (c. de 170-c. de 236) foi um presbítero de língua grega na igreja em Roma que liderou um cisma contra o Bispo Calixto. Ele e um bispo posterior de Roma, Ponciano, foram exilados para a Sardenha durante a perseguição feita pelo imperador Maximino (235) Ponciano e Hipólito aparentemente foram reconciliados antes de morrerem na Sardenha, e vieram a ser considerados mártires.

Hipólito escreveu vários documentos importantes. A Refutação de todas as Heresias (as vezes chamada Philosophoumena) trata principalmente das seitas gnósticas, fazendo seus erros remontarem à filosofia. A Tradição Apostólica é a fonte mais completa no tocante aos costumes organizacionais e litúrgicos da Igreja ante-niceana [4] – e abrange o batismo, a eucaristia, a ordenação e a festa do amor ágape). O Comentário de Daniel é o mais antigo da Igreja Ortodoxa; expõe uma escatologia quillasta [5]. Contra Noeto opõe-se a uma antiga forma de modalismo. Uma estátua de Hipólito, presumivelmente preparada durante sua vida, traz uma inscrição que alista seus escritos e registra uma tabela de cálculo da data da Páscoa.

As opiniões de Hipólito foram aguçadas por sua controvérsia com Calixto. Além de suas diferenças pessoais (Calixto era um ex-escravo com pouca educação formal, Hipólto, uma pessoa livre com muita cultura) e da rivalidade pelo episcopado, os dois homens discordavam doutrinariamente no tocante a duas considerações importantes. Hipólito defendia a cristologia do Logos e fazia tanta distinção entre o Pai e Cristo, que Calixto o chamava de "diteísta"; Calixto e seu antecessor, Zeferino, enfatizavam a união divina, de tal maneira que Hipólito não via diferença entre as opiniões deles e o modalismo de Sabélio. Hipólito adotava um conceito rigorista da disciplina eclesiástica, e negava a reconciliação com a igreja àqueles que eram culpados dos pecados mais graves, deixando nas mãos de Deus o perdão; Calixto adotava um conceito mais lasso, e estava disposto a conceder o perdão da igreja, especialmente nos casos de pecados sexuais.

2.    Sua escatologia

§  A última semana de Daniel (9.27) / o Anticristo.

A exemplo de Irineu de Lyon, Hipólito de Roma também interpretou as setenta semanas de Daniel (Dn 9.24-27) como um período literal de 490 anos, conectando a última semana (70ª) diretamente com a vinda do Anticristo e os acontecimentos finais da história a exemplo também dos dispensacionalistas. A primeira metade da última semana era um período de aparente paz e aliança feita pelo Anticristo, enquanto a segunda metade, um período de extrema perseguição, abolição do sacrifício, “abominação da desolação” e domínio do Anticristo sobre o mundo. Esta fase é explicada e conectada também pelos períodos de tempos mencionados em Daniel e Apocalipse: 1260 dias (Ap 11.3; 12.6), 42 meses (Ap 11.2; 13.5) e tempo, tempos e metade de um tempo (Dn 12.7; Ap 12.14). Após este período de tribulação, Cristo intervirá e instaurará seu Reino definitivo.

§  Arrebatamento da Igreja / Milênio:

Sobre o arrebatamento, Hipólito não o via como um evento secreto como fazem os dispensacionalistas. Para ele, a igreja passará pela perseguição do Anticristo, especialmente durante os últimos 3 anos e meio da semana de Daniel. Espera-se que os fiéis sejam perseverantes e aguardem a manifestação gloriosa de Cristo no final da última semana. Na verdade, a ordem dos eventos do final dos tempos para Hipólito será:  Aparecimento do Anticristo (Dn 7.25; 9.27; 11.36; Ap 13); Perseguição dos santos: a Igreja sofreria durante o reinado de 3 anos e meio; Segunda vinda de Cristo: Cristo destruiria o Anticristo e instauraria o reino. Ressurreição/arrebatamento: ocorre na manifestação de Cristo, quando os justos são reunidos a Ele (1Ts 4.16-17). Mas, como Irineu e os dispensacionalistas modernos, Hipólito também cria em um reinado terreno (literal) de Cristo por mil anos.

Numa tabela criada pelo ChatGPT [6], relacionando Hipólito e dispensacionalistas, em relação ao tempo do fim temos:  

Evento

Hipólito de Roma

Dispensacionalismo

a)  Última semana de Daniel (Dn 9.27)

§ É futura e se refere ao governo do Anticristo. Dividida em duas metades de 3 anos e meio: paz aparente (1a);

§ Perseguição da Igreja (2a).

§ Idem.

b)   Anticristo

§ Figura real, governará 3 anos e meio, abolirá o sacrifício, instaurará a abominação da desolação e perseguirá os santos.

§ Também é figura real, dominará durante a Tribulação e fará pacto com Israel.

c)   Destino da Igreja durante a tribulação

§ A Igreja permanece na terra e sofre perseguição do Anticristo. Não há livramento antecipado.

§ Igreja é arrebatada antes da Tribulação (pré-tribulacionismo).

§ Alguns grupos aceitam arrebatamento no meio ou no fim da tribulação.

d)  Arrebatamento / Ressurreição (1Ts 4.16-17)

§ Acontece junto com a segunda vinda de Cristo, após a tribulação. É público e glorioso.

§ O arrebatamento é secreto e anterior à tribulação (pré-tribulacionismo clássico). Depois, ocorre uma segunda vinda visível de Cristo.

e) Milênio (Ap 20.4-6)

§ Literal: Cristo reinará 1.000 anos na terra após derrotar o Anticristo.

§ Também literal: Cristo reinará por 1.000 anos após a Tribulação.

f)   Israel e Igreja

§ Não faz distinção rígida: judeus e gentios em Cristo é perseguido pelo Anticristo e depois participa do Reino.

§ Forte distinção: Israel e Igreja têm destinos diferentes. A Tribulação é voltada a Israel; a Igreja já terá sido arrebatada.

g)  Sequência final

§ Anticristo Tribulação Segunda Vinda de Cristo Arrebatamento/Ressurreição Milênio Juízo final Eternidade.

§ Arrebatamento (antes da tribulação) 7 anos de Tribulação (Israel no centro) Segunda Vinda visível Milênio Juízo final Eternidade.

Para concluir, percebemos as ideias de Hipólito convergiam com as de dispensacionalistas, principalmente na crença da vinda de Anticristo real, uma última semana de Daniel futura e um milênio literal. A diferença crucial está no fato de que Hipólito coloca o arrebatamento apenas no fim da tribulação, enquanto o dispensacionalismo (clássico) defende que a Igreja não estará na tribulação, pois será retirada antes. Podemos afirmar, portanto, que Hipólito é um pós-tribulacionista milenarista, enquanto para o dispensacionalismo a ideia mais difundida é o pré-tribulacionista milenarista.

Resumo no vídeo a seguir:


Notas:

  •  [2] Cyrus Ingerson Scofield (1843–1921): “... foi um influente ministro americano. Sua Bíblia de Referência Scofield , repleta de anotações úteis sobre o texto, foi publicada em 1909 e se tornou o padrão para uma geração de cristãos fundamentalistas e popularizou a teologia dispensacionalista...”. Veja mais aqui, aqui e também aqui.  

  •  [3] FERGUSON, Everett. Hipólito. In: ELWELL, Walter. A. (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1988 (1ª Ed.), pág. 251-252.

  •  [4] Isto é, A Tradição Apostólica de Hipólito foi uma das fontes teológicas que serviram de base para o Concílio de Niceia, o primeiro dos concílios ecuménicos, ocorrido no ano 325.

  •  [5] Quiliasta: aquele que defende a crença num "Reino Milenar" literal onde Cristo reinará na Terra após a sua segunda vinda, com base em interpretações de passagens bíblicas como Apocalipse 20.1-6 e outras.

  •  [6] Para montagem deste quadro, o ChatGpt usou como base Exposição sobre Daniel de Hipólito.

26 de agosto de 2025

A Escatologia de Irineu e o Fundamentalismo Protestante

Por: Alcides Amorim


Há alguma similaridade entre o ensino escatológico de Irineu de Lyon (Leão) e o dos protestantes fundamentalistas? Esta pergunta tem relação com o texto sobre as setenta semanas do profeta Daniel (9) e os comentários do Dr. C. I. Scofield [1] sobre o assunto. Scofield foi um pastor protestante fundamentalista que escreveu suas ricas anotações de sua Bíblia de Referências. Nelas, ele ensina a visão escatológica futurista e dispensacionalista e, ao comentar Daniel 9.24, ele afirma que “... a interpretação que atribui a última das semanas ao fim dos tempos é dos Pais da Igreja”. E, como exemplo, ele cita Irineu e Hipólito. Resolvi, então, ver o pensamento de Irineu sobre isto, que resumiremos abaixo, e em outro momento pretendo falar sobre a posição de Hipólito.

1.    Sobre a teologia de Irineu

No tocante à vida de Irineu já falamos um pouco neste artigo. Ele era natural da Ásia Menor – provavelmente de Esmirna – onde nasceu por volta do ano de 130 e morreu em 202. Durante toda sua vida, Irineu foi um admirador fervente de seu mestre, e em seus escritos se refere repetidamente aos ensinos do mesmo, isto é, um "ancião" – o presbítero – cujo nome não menciona, mas que parece ser mesmo o bispo Policarpo. Este, que fora discípulo do apóstolo João, morreu por volta de do ano 100. Seu discípulo Policarpo, que serviu a Cristo 86 anos, talvez tenha morrido com mais de 90 anos, em 155. E Irineu, discípulo deste último, continuou sua obra. Veja que Irineu absorveu toda a tradição cristã que o aproximava aos apóstolos. Em todo caso, por razões que desconhecemos, Irineu se transladou da Ásia Memor para Lyon, no que hoje é França.

Os pontos centrais da teologia de Irineu era:

·  a unidade da apostólica transmitida pela sucessão episcopal e base para o combate às heresias;

· Cristo como Recapitulação (Anakephalaiosis), a ideia de que Cristo recapitula em si toda a história humana. Adão trouxe a queda, Cristo, o novo Adão, refaz o caminho, obedecendo onde Adão desobedeceu (cf. Rm 5.12-21; 1Co 15.22,45) e enfatiza salvação como uma restauração e renovação da humanidade em Cristo.

·  Encarnação como parte do plano de salvação: Para Irineu, a encarnação já fazia parte do propósito eterno de Deus, não apenas uma resposta ao pecado.

·  Combate à heresia gnóstica: Irineu rejeitou a ideia gnóstica de um Deus superior ao Criador; afirmou que o Deus do Antigo Testamento é o mesmo do Novo e que a criação é boa, e a redenção acontece dentro da história, não pela fuga dela.

·  Escatologia: Irineu esperava um reino futuro de Cristo na terra (inclinação milenarista, comum nos primeiros séculos); e via a história em termos de “planos” (dispensações) ou “economias” de Deus, conduzindo ao cumprimento em Cristo. Sobre este ponto falaremos mais abaixo.

Irineu é considerado pela Igreja Católica um dos grandes Padres apostólicos e apologistas; considerado em 2022, pelo Papa Francisco, “Doutor da Unidade”, por sua ênfase na unidade da fé e da Igreja contra divisões. A sua teologia da sucessão apostólica é valorizada pela Igreja Católica como base do episcopado e do magistério, assunto que também destacamos aqui.

Mas é sobre sua escatologia que queremos destacar a seguir sobretudo considerando os pontos similares com o fundamentalismo protestante.

2.    Escatologia: Irineu x Fundamentalistas

Perguntei ao Chatgpt que embora a Igreja Católica considere Irineu como “Doutor da Igreja”, pelo menos a sua escatologia diverge da doutrina católica. A Resposta da I. A. Chatgpt foi: “Sua avaliação está correta: Irineu é Doutor da Igreja, mas sua escatologia não coincide plenamente com a visão católica posterior”. E esta divergência se dá, principalmente a partir de Agostinho de Hipona, do século IV em diante. “Agostinho ensinou que o milênio de Ap 20 não é literal, mas espiritual... corresponde ao período atual da Igreja entre a primeira e a segunda vinda de Cristo... Essa interpretação se tornou a dominante (o chamado amilenarismo agostiniano)”. Mas, voltando a Irineu[2], vejamos o que ele diz sobre:

a)   Dispensações

Como já definimos aqui “... uma dispensação é um período de tempo no qual o homem é testado na sua obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus. Três conceitos importantes estão implícitos nesta definição: um depósito de revelação divina quanto à vontade de Deus, incorporando o que Deus exige quanto à sua conduta; a mordomia do homem desta revelação divina, na qual ele é responsável de obedecer; e um período de tempo, geralmente chamado de “século”, durante o qual esta revelação divina prevalece testando a obediência do homem a Deus[3]”.

Irineu não fala diretamente sobre dispensações, mas deixa claro que Deus implementou um plano para resgatar e restaurar a humanidade e a criação, revertendo os efeitos do pecado. Ele chama este plano de "recapitulação" (p. ex.: pág. 65) e é uma forma de a Igreja interpretar a história da salvação em diferentes "economias" ou etapas do plano de Deus. E também destaca sobre “... aquelas coisas que foram preditas pelo Criador igualmente por meio de todos os profetas Cristo cumpriu no final, ministrando à vontade de Seu Pai e completando suas dispensações [destaque meu] com relação à raça humana[4].

b)   As Setenta Semanas de Daniel

Assim como os fundamentalistas (veja aqui), Irineu interpretava as setenta semanas de Daniel  (Dn 9.24-27) como um período histórico de 490 anos literais. A última semana (7 anos) seria o tempo da tribulação, que ele vinculava com eventos que precederiam a volta de Jesus. Portanto, trata-se de um evento escatológico futuro. Ele dividia a última semana em duas partes de três anos e meio (como fazem os dispensacionalistas).   O “príncipe que há de vir” (v. 26) é o Anticristo, um governante que que fará uma aliança por uma semana (7 anos), mas na metade da semana (após 3 anos e meio) romperá o pacto, cessará o sacrifício e instaurará a abominação da desolação. Resumindo: Irineu vê a última semana como ainda não cumprida em sua totalidade, projetada para o fim da história, ligada ao governo do Anticristo.

c)   Arrebatamento da Igreja / Segunda vinda de Cristo / grande tribulação

Irineu (pág. 98) relaciona arrebatamento como a ressurreição dos mortos: “... assim também devemos esperar o tempo da nossa ressurreição, prescrito por Deus e predito pelos profetas, e assim, ressuscitando, sermos arrebatados, todos aqueles que o Senhor considerar dignos deste [privilégio]...”. também cita (Pág. 16 e 17) Enoque e Elias como exemplo de pessoas arrebatadas ou trasladadas. O arrebatamento deles apontava “... assim por antecipação a transladação dos justos”. Quando esta transladação acontecerá? Diferentemente dos fundamentalistas protestantes, que acreditam que Jesus voltará antes da grande tribulação, Irineu cria que a Igreja seria “arrebatada” (1Ts 4.17), mas no fim da última semana, na manifestação de Cristo, não antes. E também não falava de um “arrebatamento secreto” durante a tribulação. Sua visão era mais próxima do que hoje chamamos de pós-tribulacionismo milenarista: a Igreja sofre perseguição, Cristo volta, ocorre o arrebatamento/ressurreição, derrota do Anticristo e início do milênio.

d)   Milênio

O ensino de Irineu sobre o milênio coincide com a posição dos fundamentalistas. Ele ensinava um milênio literal (quiliasmo), terrestre e futuro, que ocorrerá após a volta de Cristo. Sua posição foi abandonada pela Igreja Católica a partir do século IV, como já vimos.

Com a ajuda do chatGpt, elaborei um quadro abaixo da escatologia de Irineu por ordem dos acontecimentos:

1)  Aparecimento do Anticristo

- Surge no fim da história como o “príncipe que há de vir” (Dn 9.27).

- Governa por 3 anos e meio (Dn 7.25; Ap 13.5).

- Rompe a aliança, cessa o sacrifício e instala a abominação da desolação (Dn 9.27; Mt 24.15).

- Persegue duramente os santos (Ap 13.7).

2)  Grande Tribulação da Igreja

- A Igreja não é retirada antes da tribulação, mas chamada a perseverar.

- Irineu entendia o sofrimento como prova final dos fiéis (Ap 13; Dn 12.7).

3)  Segunda Vinda de Cristo

- Cristo vem em glória, derrota o Anticristo (2Ts 2.8; Ap 19.20).

- Os justos são arrebatados / ressuscitados para encontrar o Senhor (1Ts 4.16-17).

- Esse encontro marca o início do reinado milenar.

4)  Milênio literal (1.000 anos)

- Cristo reinará na terra, em Jerusalém restaurada (Ap 20.4-6).

- A criação será renovada (Is 11; 65.17-25).

- Haverá abundância e paz, cumprimento das promessas a Israel.

- Os justos reinarão com Cristo.

5)  Ressurreição final e Juízo universal

- Após os 1.000 anos, Satanás será solto e derrotado (Ap 20.7-10).

- Ocorre a segunda ressurreição: ímpios ressuscitam para o juízo.

- Cristo julga todos (Ap 20.11-15).

6)  Eternidade: Novo céu e nova terra

- Consumação definitiva da criação (Ap 21–22).

- A humanidade restaurada em Cristo habita com Deus para sempre.

Bem, sobre a escatologia dos dispensacionalistas/conservadores, estamos postando os assuntos aqui à medida que conseguimos elaborá-los. Mas quero concluir destacando alguns pontos de aproximação dela com a de Irineu.

Irineu não faz distinção entre Israel e a Igreja ao tratar o fim dos tempos, não ensina sobre um arrebatamento secreto, mas defende uma leitura futurista de Daniel e Apocalipse; entende ser a última semana de Daniel um acontecimento ainda futuro, culminando na revelação do Anticristo; divide esse período em duas metades de 3 anos e meio, conectando com Ap 11–13; afirma que o “príncipe que há de vir” (Dn 9.26-27) é o Anticristo, que perseguirá os santos; e acreditava num reino milenar terreno de Cristo após sua vinda.

Portanto, Irineu e o dispensacionalismo compartilham elementos importantes: leitura futurista de Daniel, expectativa de um Anticristo histórico e defesa de um milênio literal. Contudo, separam-se no ponto crucial do arrebatamento da Igreja. Enquanto o dispensacionalismo vê a Igreja retirada antes da tribulação, Irineu acreditava que os cristãos enfrentariam o Anticristo, sendo arrebatados somente na segunda vinda de Cristo. Assim, sua escatologia está mais próxima de um pós-tribulacionismo milenarista do que da visão pré-tribulacionista moderna.

Veja o resumo do artigo no vídeo a seguir:





Notas / Referências bibliográficas:

  • [1Cyrus Ingerson Scofield (1843–1921): “... foi um influente ministro americano. Sua Bíblia de Referência Scofield , repleta de anotações úteis sobre o texto, foi publicada em 1909 e se tornou o padrão para uma geração de cristãos fundamentalistas e popularizou a teologia dispensacionalista...”. Veja mais aqui, aqui e também aqui
  • [2IRINEU... Contras as Heresias, Livro V, Cap. 25 a 30.
  • [3SCOFIELD, Dr. C. I. Rota de Gênesis 1.28. In: A Bíblia Sagrada. São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil: 1987. Texto e abreviaturas das referências adaptados.
  • [4IRINEU de Lyon. Contra as Heresias: Livro 5, p. 83 e 84), Edição do Kindle.

 


17 de dezembro de 2024

Ciro, o persa... e outros

Por: Alcides Barbosa de Amorim

O rei Ciro, ao qual nos referimos aqui, também chamado de Ciro II e Ciro, o Grande, foi responsável pela formação do Império Persa e a efetivação de uma política de expansão territorial, consolidando um dos maiores impérios da Antiguidade. E também foi um instrumento de Deus em favor de Israel, chamado inclusive por Deus de “meu pastor” e meu “ungido”.

Ciro, o grande, com o seu cilindro [1]

1.  Ciro e o Império Persa

O planalto do Irã, região montanhosa e desértica, situado à leste do Crescente Fértil [2], entre a Mesopotâmia e a Índia, foi povoado pelos medos e pelos persas. A princípio, os persas eram dominados pelos medos. Essa situação se inverteria por volta de 559 a.C., pois nessa época, sob o comando de Ciro, os persas dominaram os medos e passaram a controlar a região.

Com Ciro, os persas se estenderam por um largo território e conquistaram vários reinos como Babilônia, Egito, Reinos da Lídia, Fenícia, Síria, Palestina e regiões gregas da Ásia Menor. Ciro governou entre 559 e 530 a.C.

Ciro era descendente de Teispes, neto de Ciro I e filho de certo Acaemênio Cambises. Dentre suas virtudes destacamos o fato de que ele respeitava os costumes e religiões dos povos conquistados e defendia os direitos humanos. Por conta disto Ciro gozava de elevada reputação também entre os judeus.

Ciro era da Dinastia Aquemênida e depois dele, segue a lista de reis desta dinastia [3]: Cambises II (530-522 a.C.); Esmérdis (522 a.C.); Dario I, o Grande (522-486 a.C.); Xerxes I (486-465 a.C.); Artaxerxes I (465-424 a.C.) etc., até a conquista do Reino por Alexandre, o Grande (336-323 a.C.). Para nosso propósito, no entanto, queremos destacar apenas a pessoa de Ciro, o Grande, e como ele chegou à Babilônia, em 539 a.C., pondo fim à hegemonia babilônica, como – teologicamente falando – um instrumento de Deus para a realização de sua vontade naquele momento histórico, sobretudo em favor de Israel.

2.  Ciro e a conquista de Babilônia

Em Isaías 44.28 se lê: “Que digo de Ciro: É meu pastor, e cumprirá tudo o que me apraz, dizendo também a Jerusalém: Tu serás edificada; e ao templo: Tu serás fundado”. Ligando os textos bíblicos com a história, sabemos que aqui foi a primeira vez que Ciro é mencionado pelo nome. E o nome Ciro foi profetizado por Isaías cerca de mais de 150 anos antes de ele nascer, pois Isaías profetizou entre 740 e 701 a.C. e Ciro, o persa, reinou entre 559 e 530 a.C.

Deus governa sobre toda a terra usando pessoas como instrumentos para cumprirem seus propósitos. No texto de Isaías 44.24 até 45.25, o instrumento que Deus usou foi Ciro, chamando-o, inclusive de “meu pastor” (44.28) e “ungido” (45.1). Com esse último título (ungido), por exemplo, Ciro é, em determinado sentido, considerado o precursor gentio, ou tipo do Messias: Jesus Cristo. W. Fitch [4] destaca que “... Flavo Josefo (Antiguidades [5], 11:1, seção 2) registra que mostraram a Ciro esta profecia quando ele entrou na Babilônia, resolvendo logo o monarca dar-lhe cumprimento...”. Sabe-se que Isaías faleceu provavelmente em 701 a.C., e em seu trabalho sobre o assunto Gabriel Girotto Lauter afirma que “... isso faz com que muitos tenham dificuldade em crer que se trata de uma profecia genuína, mas defendem que essa porção do livro tenha sido escrita no período em que os fatos aconteceram...[6]”. Mas, como sabemos pelas Escrituras, Deus anuncia o “fim” desde o “princípio” e “... desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam...” (Is 46.10).

Considera-se que a expressão “Que diz a profundeza: ‘seca-te’” (Is 44.27) seja um ardil de que Ciro se serviu para conquistar Babilônia. Nabonido era o rei na época e foi o último governante da Babilônia. “Por artes de engenharia, [Ciro] desviou as águas do Eufrates do seu curso através da cidade, e fez com que os seus soldados entrassem nela pelo leito seco do rio” (Fitch, Nota 4). Isto ocorreu em 539 a.C. Mas, segundo ainda Lauter, “... as tropas de Ciro sitiaram a cidade e seu general entrou nela sem precisar lutar. O povo da Babilônia recebeu Ciro como libertador e não como conquistador...” (Idem, Nota 6). Heródoto, segundo Fitch, informa ainda que “... as portas de Babilônia eram em número de cem. Todas elas se abrirão [abriram] de par em par, revelando tesouros ocultos, escondidos nas caves e lugares secretos da cidade[7]. Bem, podemos resumir o que diz a Bíblia acerca de Ciro, assim, conforme os cinco primeiros versos do capítulo 45 de Isaías:

  • Deus escolheu Ciro como seu agente para cumprir sua divina vontade. E ai dos que se opusessem ao seu governo!
  • Deus o ungiria como rei, iria à sua frente e aplanaria as montanhas.
  • Deus arrebentaria portões de bronze e quebraria trancas de ferro.
  • Deus lhe daria tesouros escondidos e riquezas guardadas em lugares secretos.
  • Ciro cumpriria a vontade do Deus de Israel mesmo não conhecendo-O.

Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão. Eu irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos tortuosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro. Dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome. Por amor de meu servo Jacó, e de Israel, meu eleito, eu te chamei pelo teu nome, pus o teu sobrenome, ainda que não me conhecesses. Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças...” (Is 45.1-5).

3.    O decreto de Ciro e o fim do cativeiro

Importante destacar que o Soberano Deus usa reis e outras importantes personalidades como Lhe apraz, seja para castigar ou abençoar o seu povo. Por exemplo, Deus usou também outro rei, este último, porém, com caráter e postura muito diferentes de Ciro, há uns 70 anos antes, por volta de 607 a.C., que foi Nabucodonosor, chamando-o “meu servo” (Jr 27.6), para castigar seu povo, levando-o cativo para a Babilônia. “E toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; e estas nações servirão ao rei de babilônia setenta anos” (Jr 25.11), disse o Senhor. Mas “... no ano primeiro de Dario [8], filho de Assuero, da linhagem dos medos, o qual foi constituído rei sobre o reino dos caldeus” (Dn 9.1), Daniel entendera pela leitura dos escritos de Jeremias (Dn 9.2), que o cativeiro estava chegando ao fim. E se pôs a orar ao seu Deus. A resposta vinda a ele pelo anjo Gabriel (Dn 9.21) fala da “... ordem para restaurar e para edificar Jerusalém...” (v. 25) até do surgimento do “... príncipe, que há de vir...” (v. 26), assunto do qual já falamos aqui.

Sabemos que a ordem de saída trata-se do edito de Ciro, assinado em 538 a.C., que põe fim ao cativeiro babilônico. Isto significa que Ciro tomou esta decisão um ano após ter conquistado o Império Babilônico. Veja 2Cr 36.22,23; Ed 1.2; 5.13; 6.3. Ciro também devolveu os vasos pertencentes ao templo (Ed 1.7) e proveu fundos para a obra de reabilitação de Judá (Ed 3.7).

O texto do decreto de Ciro tal como foi descrito em Esdras 1.1-4, “... poderia sugerir que Ciro cria em Jeová. No entanto, sabemos pelas inscrições do próprio Ciro que ele também atribuiu as suas vitórias ao deus babilônico Marduc. É provável que Ciro sentisse respeito por vários deuses em geral e redigisse os seus decretos a todas as nações. Provavelmente pediu a qualquer dirigente judaico (quem sabe se Daniel) para redigir o decreto de forma que este fosse aceitável para os judeus[9]. Ciro era benquisto por todos os seus governados, mas não alguém que se convertera ao Deus dos judeus. Mesmo assim, Deus o usou pois como Ele diz: “Eu fiz a terra, o homem, e os animais que estão sobre a face da terra, com o meu grande poder, e com o meu braço estendido, e a dou a quem é reto aos meus olhos” (Jr 27.5); “... o Altíssimo domina sobre os reinos dos homens e os dá a quem quer" (Dn 4.32). Aliás, a referência de Daniel 4.32, é uma continuação da explicação de Daniel a respeito do sonho que Nabuconosor teve, que dizia respeito à queda da “grande Babilônia”, assim considerada pelo rei. "A sentença sobre Nabucodonosor cumpriu-se imediatamente. Ele foi expulso do meio dos homens e passou a comer capim como os bois. Seu corpo molhou-se com o orvalho do céu, até que os seus cabelos e pelos cresceram como as penas de uma águia, e as suas unhas como as garras de uma ave” (Dn 4.33). O Império Persa também chegou ao fim, em 330 a.C. através do grande rei Alexandre da Macedônia. Veja: “Agora, pois, vou dar-lhe a conhecer a verdade: Outros três reis aparecerão na Pérsia, e depois virá um quarto rei, que será bem mais rico do que todos os outros. Quando ele tiver conquistado o poder com sua riqueza, instigará todos contra o reino da Grécia. Então surgirá um rei guerreiro, que governará com grande poder e fará o que quiser” (Dn 11.2-3). O rei guerreiro (poderoso) mencionado no verso 3 trata-se de Alexandre, o Grande. Mas o fim deste também já estava previsto: “Depois que ele [Alexandre] surgir, o seu império se desfará e será repartido para os quatro ventos do céu. Não passará para os seus descendentes, e o império não será poderoso como antes, pois será desarraigado e dado a outros” (v. 4). E assim, temos uma sucessão de reinos e governantes até a volta do”... REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16).

4.  Existem “Ciros” nos dias atuais?

Como dissemos acima, Deus usou no passado e ainda usa – no presente –, pessoas para exercerem determinadas tarefas segundo a sua vontade no mundo, sejam elas pessoas honestas, religiosas ou não. Normalmente – podemos afirmar – que Deus interfere na história quando determinados fatos têm relação direta com Israel. Devemos lembrar que segundo a Bíblia, quem não é judeu ou israelita é chamado de “gentio”[10(ou estrangeiro), e embora a graça de Deus abranja toda a humanidade [11], há uma aliança dEle específica com seu povo: Israel. De modo que todos que aceitam crer e servir a Deus, tornando-se parte da Igreja de Cristo, têm que ter em mente que o Deus em quem eles creem como cristãos é antes de tudo o Deus de Israel. Portanto, o Deus dos cristãos é o mesmo Deus dos judeus. Não é concebível ser cristão e antissemita, por exemplo. A propósito, veja este meu artigo sobre o assunto: Semitismo, antissemitismo e xenofobia.

Seguindo este raciocínio, podemos dizer que outros “Ciros” (figurativamente e talvez de menor importância) foram e estão sendo usados hoje através da história, para o bem de Israel e de sua Igreja, assim como outros “Nabucodonosores”, “Faraós” ou “Herodes”..., mas para o castigo e/ou disciplina do seu povo. Interferência na história e negócios dos homens é um dos meios como Deus como “Senhor da História”. A tolerância dos pecados homens tem um tempo determinado por Deus. Assim, podemos dizer que Deus interviu em alguns momentos da história modificando seu rumo e permitiu em outros momentos as ações de governantes – inclusive tiranos – para um julgamento posterior. Diversas passagens bíblicas como Ezequiel 38 e 39, Zacarias 12 e 14, Apocalipse 14 etc., tratam do juízo de Deus no futuro, de nações rebeldes e inimigas de Israel. Disse Deus: “Por meu intermédio os reis governam, e as autoridades exercem a justiça; também por meu intermédio governam os nobres, todos os juízes da terra” (Pv 8.15,16 – NVI).

Bem, sobre o holocausto, por exemplo, será que Hitler foi usado ou teve permissão de Deus para praticar aqueles horrores que ele fez aos judeus, matando cerca de seis milhões deles? Ele se gabava, por exemplo, de ter sido escolhido por Deus para castigar os judeus. Aliás, veja aqui, qual foi também a posição cristã católica (mais especificamente, do Papa Pio XII)  e protestante (principalmente de Dietrich Bonhoeffer) sobre as atitudes de Hitler durante a segunda guerra mundial.

Em linhas gerais, como nos Estados Modernos não há reis com poderes absolutos (ou não deveriam ter) e sim democráticos, que dependem da escolha dos seus líderes pelos cidadãos de seus respectivos países, entendo – como um cristão conservador – que para errarmos menos, devemos votar em nossos representantes, seja do Poder Legislativo, mas principalmente do Executivo, que, em linhas gerais, sejam pró-Israel; defensores da cultura judaico-cristã – não se trata de defesa do etnocentrismo ocidental ou do cristianismo apenas –, conservadores que reconhecem os fundamentos do Cristianismo e da Bíblia como alicerce da civilização ocidental; defensores de princípios como honestidade, família tradicional (pai, mãe, filhos), liberdade de comércio, de imprensa e de crença (seja ela qual for); que sejam defensores do Estado laico e não laicismo... Além disso, por princípio, os conservadores são contrários ao Comunismo e defensores do Capitalismo. Como já falamos aquio conservadorismo implica em preservar valores, costumes e tradições da cultura judaico-cristã. Portanto, se alguém é antissemitista, e anticristão, por exemplo, não pode ser considerado um conservador, ao passo que na sociedade, alguém que mesmo não sendo ... cristão, mas aceita os valores cristãos como moral, ética etc., conseguem conviver muito bem com os conservadores...”.

Votando então à questão de que se existem “Ciros” nos dias atuais, podemos afirmar que governantes que consideram os princípios acima sine qua non em sua administração podem ser um Ciro moderno. E acrescento que os que assim o fazem presenciam prosperidade econômica e social em seus países, com as devidas proporções, obviamente, porque na sociedade, aqueles que não aceitam tal postura lutam (e muito) contra suas aplicações das medidas que defendem.

Um exemplo de líder político conservador que até certo ponto, pode se assemelhar a um “Ciro” moderno é Donald Trump nos EUA. Uma matéria do Portal Vox [12], publicada em março de 2018, trazia o título: A história bíblica que a direita cristã usa para defender Trump. A história bíblica é exatamente a de Ciro, o persa. Segundo a matéria, há até uma moeda mostrando Trump e Ciro lado a lado. O apelo e o desejo da direita estadunidense de ver Trump presidente do seu país (agora, novamente eleito), significa que esta (grande) parcela da sociedade norte-americana goza dos mesmos princípios que Trump. Acho que estas pessoas não esperam um Trump santo, mas um líder que defende os princípios descritos acima: judaico-cristãos e base da civilização ocidental. Mas o que mais leva em conta na comparação de Trump com Ciro é o fato de ambos defenderem Israel. A maioria dos que apoiam e votam em Trump, portanto conservadores, é cristã. E estes cristãos entendem que a bênção de Abraão está sobre os que apoiam os filhos de Abraão: “E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3).

De 2016 para cá, passei a observar o perfil de outro líder político brasileiro: Jair Bolsonaro. Na época, eu ainda achava que PSDB, por exemplo, era partido de direita. Mas quando percebi que Bolsonaro não era bem quisto nem pela extrema esquerda e nem pelos psdbistas passei a questionar o porquê daquele deputado federa na época ser tão perseguido. Mais adiante, em setembro de 2018, quando levou uma facada acabei descobrindo que quem eu achava ser de direita, na verdade era apenas uma oposição faz-de-conta da extrema-esquerda. Foi nesta época que conheci a expressão de Olavo de Carvalho: “o teatro das tesouras”. A defesa da crença em Deus, de apoio a Israel, da família tradicional etc., foram os temas que mostram a grande diferença entre os verdadeiros conservadores e os demais. Jair Bolsonaro está sempre cercado de apoiadores e conta com grande popularidade dos conservadores, cristãos, em sua maioria. E mesmo inelegível (no momento, pelo menos – dezembro de 2024) [13] e mesmo depois de tanta perseguição que sofreu durante o seu governo (2019-2022), ainda mantém seu slogan: “Deus, Pátria, Família e Liberdade”. Portanto, embora odiado pela esquerda ele é recompensado pelo apreço da maioria dos cristãos por conta desta sua defesa dos mesmos princípios conservadores, mas que – podemos afirmar – seus princípios servem para todos. O país de Jair Bolsonaro é muito diferente do de Trump, e não teria a mesma relevância. Quando o Presidente dos EUA fala ou toma alguma medida, esta tem repercussão internacional. A mesma atitude de Jair Bolsonaro não teria o mesmo efeito, mas seu país e parte do mundo seriam beneficiados como já foi entre 2019 e 2022, em meio a um turbilhão de críticas de opositores, pandemia, justiça trabalhando contra e assim por diante. Por que ele não foi reeleito em 2022? Bem, este é assunto do qual não podemos falar hoje no Brasil. Outros líderes conservadores, como Javier Milei, na Argentina, Nayib Bukele em El-Salvador, Giorgia Meloni na Itália e outros seguem no mesmo caminho.

Concluindo, o governo de Ciro, o persa, é visto como um governo ideal. Deus usou sua pessoa e outros como seus instrumentos e também abençoa os que têm os princípios conservadores como norteadores de suas administrações. Mas embora, mesmo sendo cidadãos que votamos para escolher nossos representantes, não podemos nos esquecer de que Deus governam as nações. E ao que espiritualmente observo, Deus está permitindo nosso país passar pelo que está passando: Judiciário aliado a um Executivo de extrema-esquerda, portanto contrário aos princípios conservadores. Diz a Palavra de Deus: “Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas” (Rm 13.1). Por meu intermédio os reis governam, e as autoridades exercem a justiça; também por meu intermédio governam os nobres, todos os juízes da terra” (Pv 8.15,16). “Na verdade, as nações são como a gota que sobra do balde; para ele [o Senhor] são como o pó que resta na balança; para ele as ilhas não passam de um grão de areia” (Is 40.15). Que as Nações atuais tenham ou não seus Ciros, o certo é que:

“Já refulge a glória eterna de Jesus, o Rei dos reis

Breve os reinos deste mundo seguirão as Suas leis

Os sinais da Sua vinda mais se mostram cada vez

Vencendo vem Jesus...

(...)

E, por fim entronizado, as nações irá julgar

Todos, grandes e pequenos, o Juiz hão de encarar

E os remidos, triunfantes, lá no Céu irão cantar

Venceu o Rei Jesus!!!”

(in: Cantor Cristão: 112) [14].



Notas / Referências bibliográficas
:

  • [2] O Crescente Fértil “... corresponde a uma região do Oriente Médio, com aproximadamente 500 mil km2 de extensão. Está localizada entre a Jordânia, Líbano, Síria, Egito, Israel, Palestina, Irã, Iraque e parte da Turquia. Abriga grandes rios tal qual o Nilo, Tigre, Eufrates e Jordão. Todos eles tornaram a agricultura o principal meio de subsistência das primeiras grandes civilizações da antiguidade oriental... O ‘Crescente Fértil’ ou ‘Meia Lua Fértil’ recebe esse nome uma vez que a região, se olhada no mapa, possui a forma de uma lua em estágio crescente...”. In: <https://www.todamateria.com.br/crescente-fertil/>. Acesso em: 06/12/2024.
  • [4] FITCH, W. Isaías. Apud: SHEDD, Russel P., Editor. O Novo Comentário da Bíblia, Vol. I. São Paulo: Vida Nova, 1963 (1ª ed.)., pág. 724.
  • [5] FLÁVIO JOSEFO foi um escritor e historiador judeu do século I d.C. Dentre suas obras está Antiguidades Judaicas (AJ). As Antiguidades dos Judeus detalham a história do povo judeu desde a narrativa da criação (Gênesis no Antigo Testamento) a época da escrita de Josefo (Novo Testamento e depois).
  • [6] LAUTER. Gabriel Girotto. Um estudo das profecias sobre Ciro presentes no livro do profeta Isaías. Disponível em:  <https://revista.batistapioneira.edu.br/index.php/ensaios/article/view/102/141>. Acesso em: 09/12/2024.
  • [7] In: FITCH, Nota 4, pág. 724.
  • [8] Dario I, o Grande (522-486 a.C.), foi o quarto rei da Dinastia Aquemênida. Como o Decreto de Ciro, dando oportunidade para os judeus voltarem para sua terra foi assinado em 538 a.C., entende-se que esta oração de Daniel ocorreu cerca de pelo menos uns trinta anos depois. E muita gente ainda não tinha voltado para Israel nesta época.
  • [9] WRIGHT, J. Stafford. Esdras. Apud: SHEDD, Russel P., Editor. O Novo Comentário da Bíblia, Vol. I. São Paulo: Vida Nova, 1963 (1ª ed.)., pág. 431.
  • [10] Os hebreus, povo escolhido por Deus, através de Abraão, com o tempo teve seu Estado, chamado Reino de Israel. Depois de Salomão, houve uma divisão do reino em Israel, formado por dez tribos do Norte, e Judá, formado por duas tribos do Sul. São as tribos do Sul que foram levadas por Nabucodonosor para a Babilônia. Depois disto, o adjetivo judeu (de Judá) passou também a ser sinônimo de hebreu e israelita. O profeta Daniel fala que depois da 69ª semana (Dn 9.25-26 = 7 semanas + 62 semanas) o Messias (Jesus) seria cortado (morto). Jesus veio para todos: judeus e não-judeus, estes chamados de gentios. De judeus e gentios, Jesus, que “... de ambos os povos [judeus e gentios] fez um...” (Ef 2.14) formou sua Igreja. Portanto, os povos bíblicos são: judeus (povo escolhido), gentios (não-judeus) e igreja (judeus e gentios que receberam Cristo como seu Senhor e Salvador). Veja também a nota seguinte.
  • [11] Jesus “... veio para o que era seu [Israel], e os seus [maioria dos israelitas] não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam [Igreja], deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (Jo 1.11-12).
  • [13] Enquanto escrevo isto – 14 de dezembro de 2024 –, ouço a notícia da prisão do ex-Chefe do Estado-Maior do Exército do Governo Bolsonaro (2019-2022). Por isso, acho que o caminho para a prisão do líder maior dos conservadores brasileiros, Jair Bolsonaro está aberto e a ditadura do Judiciário já está instalada no Brasil.
  • [14] Louvor "Vencendo Vem Jesus", apresentado pelo local da Igreja Memorial Batista/Brasília. In: <https://www.youtube.com/watch?v=uPn7eHATdS0>. Acesso em: 16/12/2024.