Sobre
o conceito de ética, já vimos brevemente: Ética x moral; Ética bíblica; Ceticismo e ética; Ética situacional... Sobre este último,
vimos como Fletcher analisa a ética do ponto-de-vista da “lei do amor”. A ética
situacional de Joseph Fletcher defende que a única lei moral absoluta é
o amor (ágape), e que as decisões morais devem ser tomadas com base
nas circunstâncias de cada situação, e não em regras fixas. O amor,
entendido como uma ação sacrificial e não apenas como sentimento, guia a
escolha do que é melhor para a situação em questão, justificando o uso de
qualquer meio se o fim for amoroso... Mas, a Bíblia realmente ensina a ética
situacional? Vejamos a seguir o que diz o Ministério Got
Questions [2] sobre isto.
A ética situacional é uma visão
particular da ética moral que sustenta que a moralidade de um ato é determinada
por seu contexto. A ética situacional afirma que se há um certo e errado, ele é
simplesmente determinado pelo resultado desejado da situação. A
ética situacional é diferente do relativismo moral porque o relativismo moral
afirma que não há certo ou errado. A ética situacional desenvolve um código de
ética no qual atender às necessidades de cada situação determina o que é certo
ou errado.
De capa a capa, a Bíblia é verdadeira,
consistente e aplicável. A Bíblia ensina, admoesta ou até mesmo inclina-se a
defender a ética situacional? A resposta curta é "não". Vamos
considerar três princípios: 1) Deus é o criador e sustentador. 2) Toda a
Palavra de Deus é verdadeira, até mesmo as partes de que não gostamos ou
entendemos. 3) O certo e o errado são determinados e definidos por quem Deus é.
1. Deus é o criador e sustentador
A ética situacional afirma que a moralidade é
determinada pelo ambiente ou circunstância. A Palavra de Deus diz que a
moralidade é determinada pela soberania de Deus, pois Ele é o criador e
sustentador. Isso não é uma questão de semântica, mas de fato. Ainda que Deus
desse um comando para um grupo de pessoas e o proibisse a um outro grupo, a
determinação de que é certo ou errado, ético ou não, não se baseia na situação,
mas sim no comando de Deus. Deus tem a autoridade para governar o certo e o
errado. Romanos 3:4 diz: "Antes seja Deus verdadeiro, e todo
homem mentiroso."
2. Toda a Palavra de Deus é verdadeira
Sugerir que a Bíblia defende a ética
situacional seria implicar que ela contém erros. Isso não é possível. Não é
possível por causa do número 1, Deus é o criador e sustentador.
3. O certo e o errado são definidos por quem
Deus é
O amor é a natureza de Deus. Ele define o que
o amor é, não pelo que faz, mas simplesmente por quem é. A Bíblia diz:
"Deus é amor" (1 João 4:16). O amor é desinteressado e atencioso com
os outros, nunca procura a sua própria glória ou prazer (1 Coríntios 13).
Portanto, em virtude de quem é Deus, a Bíblia, sendo dada por Deus e sendo
completamente verdadeira, não pode conter um sistema de ética que desafiaria a
natureza de Deus. A ética situacional encontra o certo e o errado para agradar
a maioria ou uma única pessoa por egoísmo. O amor é o oposto. O amor procura
incentivar e encorajar outras pessoas.
Dois problemas fundamentais com a ética
situacional são a realidade de uma verdade absoluta e o conceito de amor real.
A Bíblia ensina a verdade absoluta, a qual ensina que o certo e o
errado são pré-determinados por um Deus Santo. E o amor – a definição de Deus
do amor verdadeiro, honesto e real – não deixa espaço para motivações egoístas
ou impuras. Mesmo se alguém dissesse que a situação exige abnegação, ainda é
uma determinação humana e não divina. As razões de um ser humano para
determinar o que é melhor sem o amor verdadeiro são fundacionalmente[3] egoístas.
Então o que acontece quando as coisas parecem
certas, mas Deus diz que são erradas? Temos de confiar na soberania de Deus e
confiar "que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Romanos 8:28).
Se nós pertencemos a Cristo, Deus nos deu o Seu Espírito (João 16), e por meio
dEle temos uma compreensão do que é certo e errado. Através dEle, somos
convencidos, incentivados e orientados para a justiça. Um desejo sincero de
conhecer a verdade de um assunto, juntamente com a busca de Deus, será
recompensado com a resposta de Deus. "Bem-aventurados os que têm fome e
sede de justiça porque eles serão fartos" (Mateus 5:6).
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Vejamos
mais estes textos [4] / comentários:
“Ora, o homem natural não compreende as coisas do
Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque
elas se discernem espiritualmente. Mas o
que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem
conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de
Cristo” (1Co 2.14-16).
“Examinai tudo. Retende o bem” (1Ts 5.21)
“E vós tendes a unção do Santo, e sabeis todas as
coisas... E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes
necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as
coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele
permanecereis” (1Jo 2.20,27).
Comentando
sobre 1Co 2.14 (Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de
Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente), o Dr. C. I. Scofield [5] destaca: “Paulo
divide os homens em três classes:
1) psuchikos, significando dos sentidos,
sensuais (Tg 3.15; Jd 19), naturais, isto é, o homem adâmico, não
renovado pelo novo nascimento (Jo 3.3,5);
2) pneumatikos, significando espirituais,
isto é, o homem renovado cheio do Espírito e andando no Espírito em comunhão
com Deus (Ef 5.18-20); e
3) sarkikos, significando carnais,
isto é, o homem renovado que, andando ‘segundo a carne’, permanece uma
criancinha em Cristo (I Co 3.1-4). O homem natural pode ser culto, educado,
eloquente, fascinante, mas o conteúdo espiritual das Escrituras lhe é absolutamente
oculto; e o cristão carnal só consegue entender as verdades mais simples, ‘o
leite’ (1 Co 3.2)”.
São os espirituais que conseguem "julgar todas as coisas" em uma situação complexa que requer discernimento fora do comum e que pode gerar consequências dependendo das escolhas a serem tomadas. Ao decidirem fazer a escolha correta segundo os princípios divinos podem pagar um preço por esta escolha. Essa capacidade de escolha da verdade permite aos seguidores espirituais avaliar a veracidade de ensinamentos e distinguir entre o certo e o errado, mas não se opõe ao mandamento de não julgar de forma hipócrita ou condenatória, especialmente em questões pessoais. E, por falar em escolhas arriscadas, veja o exemplo da aparente “mentira” de Raabe no vídeo a seguir, de Leandro Quadros:
Notas / Referências bibliográficas:
- [1] Imagem meramente ilustrativa feita através do Chat Gpt, em 17/10/2025.
- [2] A Bíblia ensina a ética situacional? Disponível em: https://www.gotquestions.org/Portugues/etica-situacional.html. Acesso em: 18/10/2025 (Texto adaptado).
- [3] Fundacionalismo: “... uma vertente da epistemologia que afirma que só podemos ter certeza de algo se, em algum ponto da linha, pudermos rastreá-lo até uma verdade indubitável e irrefutável. Essa verdade servirá como base a partir da qual todos os nossos outros conhecimentos e crenças poderão ser construídos e justificados...” (In: Expresso existencial). Veja também: Coerentismo e fundacionalismo.
- [4] Textos da versão ACF (Almeida Corrigida Fiel), disponível em: https://www.bibliaonline.com.br. Acesso em: 18/10/2025.
- [5] SCOFIELD, C. I. Nota sobre 1Co 2.14. In: Bíblia Sagrada (ARA). São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil: 1987.
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