“Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos. E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações. E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador” (Dn 9.24-27 – ACF).
O profeta Daniel, cujo significado é “Deus é meu juiz”, foi levado ainda jovem à Babilônia, na primeira deportação de Nabucodonosor, em 604 a.C., no reinado de Jeoaquim, rei de Judá (Dn 1.1).
Profeticamente, o prazo para os judeus ficarem na Babilônia seria de setenta anos (Jr 25.11 e Dn 9.2). E, no capítulo 9, enquanto Daniel orava e analisava as profecias de Jeremias – setenta anos de cativeiro –, o anjo Gabriel apareceu para ele e revelou o que está sintetizado no verso 24: fim da transgressão e dos pecados, expiação da iniquidade, aplicação da justiça eterna, selo da visão e da profecia e unção dos santos. A explicação destes objetivos está nos versículos seguintes (vs. 25 a 27): as setenta semanas.
1.Nosso Calendário x Calendário Bíblico
Para melhor entendermos as datas mencionadas no texto de Daniel, é importante destacarmos os conceitos de calendário, tanto o “universal”, o Calendário Cristão ou Gregoriano, quanto o Calendário Bíblico.
O nosso calendário, o Gregoriano, considera um ano médio de 365,25 dias: um ciclo de 3 anos de 365 dias e um de 366, chamado ano bissexto. Mas mesmo assim, este formato que estava em vigor desde Júlio Cesar, apresentava uma diferença de 3 dias a cada 400 anos. Para resolver o problema, o Papa GregórioXIII, seguindo um conselho de sábios, propôs em 1582, a supressão de 3 anos bissextos de 400 em 400 anos. Desta forma, passou-se a considerar um dia a mais a cada 4 anos e ao final de 400 anos desconsidera-se este dia. Por exemplo, o ano 2000 deveria ter sido bissexto por ser múltiplo de 4 anos, mas não foi, por causa do acordo feito em 1582, pois era final de uma série de 400 anos[1].
E o CalendárioBíblico (Hebraico)[2]? Este calendário, que é lunar, considera meses de 30 e de 29 dias, tendo algumas variações em relação ao nosso calendário. Mas para efeito de aproximações (datas arredondadas), consideramos o ano bíblico de 360 dias ou 12 meses de 30 dias. Entendemos que é nesse sentido (aproximado) que as expressões “1.260 dias” ou “42meses” de Apocalipse 12.6 e 13.5, respectivamente, por exemplo, equivalem a 3 anos e meio. Ex.: 1.260 / 360 = 3,5 anos; ou 42 / 12 = 3.5 anos, respectivamente, repito. Veja ainda as expressões “...tempo, dois tempos e metade dum tempo” (Dn. 7:25), também correspondendo a 3,5 anos ou 1260 dias.
Mas estudiosos dispensacionalistas ou fundamentalistas como o Dr. C. I. SCOFIELD[3], por exemplo, considera que as 70 semanas de Daniel são semanasdeanos:
As ‘setenta semanas’ da profecia são semanas de anos, uma importante medida de tempo sabática do calendário judeu. A transgressão da ordem de se guardar o ano inteiro trouxe o juízo do cativeiro babilônico e determinou sua duração de setenta anos. Comp. Lv. 25:1-22; 26:33-35; IICr. 36:19-21; Dn. 9:2. Compare também Gn. 29:26-28 quanto ao uso de ‘semana’ indicando sete anos.
Assim entendido, consideramos a profecia sobre as “setenta semanas de Daniel” como sendo 490 anos, divididos desta forma:
·70 x 7 = 490 anos ou um total de 176.400 dias;
·Entendem-se que 69 semanas (anos) já se cumpriram (69 x 7 = 483 anos);
·Falta o cumprimento da última semana, isto é, 7 anos ou 84 meses ou ainda 2.520 dias).
Vejamos cada período descrito no texto de Daniel em destaque.
2.Tempo de restauração, e edificação de Jerusalém: 7 semanas ou 49 anos
“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém... haverá sete semanas” (v. 25)
Estas “sete semanas”, mencionadas no verso 25, correspondem ao período entre a ordem para a saída do povo do cativeiro babilônico, ocorrida em 445 a.C., no vigésimo ano do rei Artaxerxes (Neemias 2)[4] e o fim da reconstrução da cidade de Jerusalém (Ne 6.15-16), correspondendo assim a sete semanas ou 49 anos.
Segundo o texto bíblico, as ruas e o muro da cidade seriam reedificados, “... masemtemposangustiosos” (v. 25). O livro de Neemias relata esta dificuldade enfrentada pelo povo. Neemias encontrou adversários como Sambalate (Ne 4.1) e Tobias (Ne 4.3) entre outros, que os forçavam a trabalhar armados, pois a qualquer momento podiam ser atacados. “E disse eu [Neemias] aos nobres, aos magistrados e ao restante do povo: Grande e extensa é a obra, e nós estamos apartados do muro, longe uns dos outros. No lugar onde ouvirdes o som da buzina, ali vos ajuntareis conosco; o nosso Deus pelejará por nós. Assim trabalhávamos na obra; e metade deles tinha as lanças desde a subida da alva até ao sair das estrelas. Também naquele tempo disse ao povo: Cada um com o seu servo fique em Jerusalém, para que à noite nos sirvam de guarda, e de dia na obra” (Ne 4.19-22).
Apesar das perseguições, diz Neemias, “... acabou-se, pois, o muro aos vinte e cinco do mês de Elul [agosto/setembro]; em cinquenta e dois dias” (Ne 6.15), prosseguindo a partir daí com as atividades relacionadas à cidade e ao templo, pondo fim às primeiras sete semanas (49 anos), mencionadas em Daniel 9.25.
3.Da edificação de Jerusalém à morte do Messias: 62 semanas ou 434 anos
“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos” (Dn 9.25).
Dividimos Daniel 9.25 em duas partes. A primeira, a qual já comentamos, referente a um período de 7 semanas (ou 49 anos), e esta segunda parte, um período de 62 semanas ou 434 anos, que vai da reconstrução da cidade de Jerusalém até à morte do Ungido ou Messias. “... isto é, alguém que é ao mesmo tempo ungido e também príncipe, ou, em outras palavras, alguém que é sacerdote e príncipe. Existe apenas Um para Quem podem aplicar-se essas palavras, a saber. Jesus, que é o Cristo.”[5]
A expressão “serácortadooMessias” (Dn 9.26) subtende a morte de Jesus:
Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido (Is 53.8).
E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jo 19.30).
Quando isto aconteceu? Isto é, quando Jesus morreu? SCOFIELD fala da morte de Cristo como tendo ocorrido em 29 A.D. (d.C.). E, com a morte de Cristo – a morte do Ungido (Dn 9.26), cf. a versão NVI –, entendemos que ocorreu o final da 69ª semana de Daniel, ou seja, 483 anos, desde que foi proferida a profecia. Mas pode referir-se também até o ano 70, com a queda de Jerusalém, pois entendemos que a frase “... o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário” (v. 26), esteja ligada ao final da 69ª semana.
Sobre a data da morte de Jesus, em 29 d.C., há outras fontes que indicam esta ou outra data próxima, 29 ou 30, como o Ministério Got Questions[6], por exemplo, que afirma:
Uma série de fatores nos permite identificar o ano da morte de Jesus. Sabemos que João Batista iniciou o seu ministério em 26 d.C., com base na nota histórica em Lucas 3:1. Jesus provavelmente começou o seu ministério logo após João ter começado o dele. Jesus então ministrou pelos próximos três anos e meio, aproximadamente. Assim, o fim de seu ministério teria sido c. 29-30 AD... Há argumentos acadêmicos que apoiam as duas datas [entre 30 e 33 AD, e entre 29 e 30 AD]... A data anterior (30 AD) parece estar mais de acordo com o que se deduz sobre o início do ministério de Jesus em Lucas 3:1[7].
4.A 70ª Semana – 7 anos: o príncipe que há de vir
“... e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações. E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador” (Dn 9.26.27).
Até aqui entende-se o cumprimento de 483 anos, até à morte de Cristo. Observe que o “Messias” ou “Ungido’, nos versos 25 e 26, refere-se ao “Príncipe” – com P (maiúsculo) – e ainda no verso 26, aparece também outro “príncipe’ – com p (minúsculo). E o povo ligado a este (príncipe), diz o verso 26, “... destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações”. Veja também: “Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso. E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27.24,25). Esta profecia, relacionada à destruição de Jerusalém por Roma, ocorreu no ano 70.
O dia 30 de agosto do ano 70 d.C. marcou o fim do cerco romano a Jerusalém. O evento foi um dos mais sangrentos da primeira guerra judaico-romana. Durante o conflito, o exército de Roma, comandado pelo futuro imperador Tito, cercou e conquistou a cidade, que era controlada por facções rebeldes da Judéia desde o ano 66 d.C.[8]
E depois disto – destruição de Jerusalém –, entendem os estudiosos, que há um hiato – um longo parêntese – entre a destruição de Jerusalém e a aliança (acordo) que o príncipe fará com muitos por uma semana – a última (70ª), conforme o verso 27. Neste hiato acontecem guerras e assolações.
Este futuro príncipe tem relação com o “pequeno chifre”, referido em Daniel 7.8. Bem, este pequeno chifre surge dentre outros dez chifres de um “... quarto animal,terrível, espantoso...” (verso 7). Este animal “terrível e espantoso” refere-se ao Império Romano que teve seu fim em 476 d.C. Mas
o ex-Império Romano (o reino de ferro de 2:33-35, 40-44; 7:7) terá dez chifres (isto é, reis, Ap. 17:12), correspondentes aos dez artelhos da imagem. Considerando esta visão dos dez reis, Daniel vê que entre eles levantam-se um ‘outro pequeno’ chifre (rei?) que subjuga três dos dez reis de maneira tão completa que a identidade separada dos seus reinos é destruída. Sete reis dos dez são deixados, e o ‘outro pequeno’ chifre que é ‘um príncipe, que há de vir’, de 9:26, a ‘abominação’ de 12:11 e Mt. 24:15. E a ‘besta do mar’ de Ap. 13.1-10. Ele será o chefe do quarto império mundial restaurado (Besta, veja Ap. 19:20...)[9].
Assim como Scofield, outros também acreditam (interpretam) que o antigo Império Romano será restaurado, uma vez que as características do “príncipe” ou “Anticristo” ..., ao qual Daniel se refere, tem relação com os romanos, como vimos acima. “O ‘príncipe que há de vir’ é uma referência ao Anticristo, o qual, ao que parece, terá alguma ligação com Roma, já que foram os romanos que destruíram Jerusalém[10]”. Os adventistas afirmam categoricamente que sobre o Anticristo, trata-se de um papa, por causa de sua ligação com Roma até no nome da Igreja: Católica Romana. Não sendo esta hipótese, não dá como descartar alguma outra instituição, organização, bloco de países etc. que tenha a ligação com o “povo do príncipe, que há de vir”, e que já veio, e já sabemos que foram: os romanos.
Vale destacar também que este hiato, repito, é chamado de “tempodosgentios”. Quando falava sobre a destruição de Jerusalém, Jesus disse também, em relação aos judeus: “E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem” (Lc 21.24). A IgrejaCristã é a assembleia ou corpo de Cristo, formada por judeus e gentios (aqueles que não são judeus), sendo que estes últimos – a maioria dos crentes –, correspondem àqueles que receberam, e continuam recebendo, Jesus, conforme João 1.11,12: “Veio [o Verbo/Jesus] para o que era seu [Israel], e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam [gentios], deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome”.
Portanto, durante o período entre a sexagésima nona e a septuagésima semana deve intervir todo o período da Igreja apresentado no N.T. A interpretação que atribui a última das setenta semanas ao fim dos tempos é dos Pais da Igreja. Quando esta septuagésima semana era mencionada durante os dois séculos e meio da Igreja Cristã, quase sempre era atribuída ao fim dos tempos. Irineu coloca o aparecimento do Anticristo ao fim dos tempos na última semana; na verdade, ele assegura que o período da tirania do Anticristo vai durar exatamente meia semana ou três anos e seis meses. Assim da mesma maneira, Hipólito declara que Daniel ‘indica o aparecimento dos sete anos que serão os últimos tempos’[11].
O tempo dos gentios, que tem seu início, na verdade, com o começo do cativeiro de Judá, por Nabucodonosor, funde-se com o da Igreja, portanto, é um período que não é contado como dentro das 70 semanas, pois não correspondem ao “teu povo e a tua santa cidade”, ou seja, a Israel e à Jerusalém. Há consenso também entre os estudiosos de visão dispensacional e pré-milenista que o arrebatamento da Igreja mencionado em 1 Tessalonicenses 4:13-18, aconteça antes que a 70ª semana comece[12], mas este é assunto para um próximo artigo (estudo). O certo é que a profecia de Daniel é para o “teupovo” (v. 24), isto é, o povo de Daniel, Israel, repito, e “com muitos” de seu povo – acreditamos que nem todos aceitarão –, o príncipe ou Anticristo fará uma aliança por 7 anos, sendo que na metade da semana, 3 anos e meio (v. 27); ou 1260 dias (Ap 12.6); ou ainda 42 meses (Ap 13,5), ele romperá o acordo “... e terá começo uma feroz perseguição que se prolongará pelos 3 ½ anos restantes do sete [última semana ou 7 anos], quando Cristo então retornará em companhia de Seus santos a fim de reinar por mil anos”[13].
O final do versículo 24 de Daniel 9 diz: “... para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos Santos”. Estas promessas finais das Setenta Semana de Daniel ocorrerão com a presença do Messias entre “teu povo” e na “tua santa cidade”, portanto, é a revelação de Jesus, na sua segunda vinda, para salvar o Israel remanescente (Is 10.22; 11.9; Rm 9.27), ao qual Zacarias diz corresponder à “terceira parte”, e que será provada como a prata. Este remanescente, a terceira parte, “... invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo, e ela dirá: O SENHOR é meu Deus” (Zc 13.9).
Zacarias 14 é o desfecho da história de Israel que ajuda a entender o final da profecia a Daniel: ajuntamento das nações – Armagedom (v. 2 – Copara com Ap 16.13-16; 19.17); o livramento de Israel entre as nações (v. 3); a volta de Jesus ao Monte das Oliveiras, acompanhado de mudanças físicas na terra, na região de Israel – abertura do Monte das Oliveiras e aparecimento de um rio (vs. 4-8) e, por fim, o estabelecimento do reino e a benção total da terra (v. 9-21):
E o Senhor será rei sobre toda a terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o seu nome... e não haverá mais destruição, porque Jerusalém habitará segura (Zc 14.9-11).
Notas:
O calendário gregoriano, que usamos no Ocidente, é o resultado de uma adaptação do calendário juliano (romano), ocorrida em 1582, ordenada pelo pala Gregório XIII, no sentido de “... ajustar o ano civil, o do calendário, ao ano solar (...) Para adequar a data da Páscoa com o equinócio de primavera no Hemisfério Norte, o papa Gregório XIII ordenou que o dia seguinte a 4 de outubro de 1582 passasse a ser o dia 15 de outubro. Um salto de 11 dias! Para diminuir a defasagem, os dias bissextos não ocorreriam nos anos centenários (terminados em 00), a não ser que fossem divisíveis de forma exata por 400”. Disponível em: <https://escolakids.uol.com.br/historia/historia-do-calendario.htm>. Acesso em: 19/05/2020.
SCOFIELD, C. I. Notas de Daniel 9.24-27. In: Bíblia Sagrada (ARA). São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil: 1987.
Considereiaqui o DecretodeArtaxerxes, mas outros consideram o DecretodeCiro, mencionado em Ed 6.3: “No primeiro ano do rei Ciro, este baixou o seguinte decreto: A casa de Deus, em Jerusalém, se reedificará para lugar em que se ofereçam sacrifícios, e seus fundamentos serão firmes; a sua altura de sessenta côvados, e a sua largura de sessenta côvados”. Este decreto é datado de volta do ano 536 a.C.
SHEDD, Dr. Russel P. (Editor). O Novo Comentário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova: 1983 (Reimpressão), pág. 829.
Got Questions Ministries, um ministério que “busca glorificar o Senhor Jesus Cristo disponibilizando respostas bíblicas, apropriadas e rápidas a perguntas relacionadas à espiritualidade através do ambiente da internet”.
Há alguma similaridade entre o ensino
escatológico de Irineu de Lyon (Leão) e o dos protestantes fundamentalistas?
Esta pergunta tem relação com o texto sobre as setenta semanas do profeta
Daniel (9) e os comentários do Dr. C. I. Scofield [1] sobre o assunto. Scofield
foi um pastor protestante fundamentalista que escreveu suas ricas anotações de
sua Bíblia de Referências. Nelas, ele ensina a visão escatológica
futurista e dispensacionalista e, ao comentar Daniel 9.24, ele afirma
que “... a interpretação que atribui a última das semanas ao fim dos tempos
é dos Pais da Igreja”. E, como exemplo, ele cita Irineu e Hipólito.
Resolvi, então, ver o pensamento de Irineu sobre isto, que resumiremos abaixo, e
em outro momento pretendo falar sobre a posição de Hipólito.
1.Sobre
a teologia de Irineu
No tocante à vida de Irineu já falamos um pouco
neste
artigo. Ele era natural da Ásia Menor – provavelmente de Esmirna
– onde nasceu por volta do ano de 130 e morreu em 202. Durante toda sua vida,
Irineu foi um admirador fervente de seu mestre, e em seus escritos se refere
repetidamente aos ensinos do mesmo, isto é, um "ancião" – o
presbítero – cujo nome não menciona, mas que parece ser mesmo o bispo Policarpo.
Este, que fora discípulo do apóstolo
João,
morreu por volta de do ano 100. Seu discípulo Policarpo, que serviu a Cristo 86
anos, talvez tenha morrido com mais de 90 anos, em 155. E Irineu, discípulo deste
último, continuou sua obra. Veja que Irineu absorveu toda a tradição cristã que
o aproximava aos apóstolos. Em todo caso, por razões que desconhecemos, Irineu
se transladou da Ásia Memor para Lyon, no que hoje é França.
Os pontos centrais da teologia de Irineu
era:
· a unidadedaféapostólica
transmitida pela sucessão episcopal e base para o combate às heresias;
· Cristo como Recapitulação (Anakephalaiosis),
a ideia de que Cristo recapitula em si toda a história humana. Adão
trouxe a queda, Cristo, o novo Adão, refaz o caminho, obedecendo onde Adão
desobedeceu (cf. Rm 5.12-21; 1Co 15.22,45) e enfatiza salvação como uma restauração
e renovação da humanidade em Cristo.
· Encarnação comopartedoplanodesalvação: Para Irineu, a
encarnação já fazia parte do propósito eterno de Deus, não apenas uma resposta
ao pecado.
· Combateà heresia gnóstica: Irineu
rejeitou a ideia gnóstica de um Deus superior ao Criador; afirmou que o Deus do
Antigo Testamento é o mesmo do Novo e que a criação é boa, e a redenção
acontece dentro da história, não pela fuga dela.
· Escatologia:
Irineu esperava um reino futuro de Cristo na terra (inclinação
milenarista, comum nos primeiros séculos); e via a história em termos de
“planos” (dispensações) ou “economias” de Deus, conduzindo ao cumprimento em
Cristo. Sobre este ponto falaremos mais abaixo.
Irineu é considerado pela Igreja Católica um
dos grandes Padres apostólicos e apologistas; considerado em 2022, pelo Papa
Francisco, “Doutor
da Unidade”, por sua ênfase na unidade da fé e da Igreja contra
divisões. A sua teologia da sucessão
apostólica é valorizada pela Igreja Católica como base do episcopado
e do magistério, assunto que também destacamos aqui.
Mas é sobre sua escatologia que queremos
destacar a seguir sobretudo considerando os pontos similares com o
fundamentalismo protestante.
2.Escatologia:
Irineu x Fundamentalistas
Perguntei ao Chatgpt que
embora a Igreja Católica considere Irineu como “Doutor da Igreja”, pelo menos a
sua escatologia diverge da doutrina católica. A Resposta da I. A. Chatgpt foi:
“Sua avaliação está correta: Irineu é Doutor da Igreja, mas sua escatologia
não coincide plenamente com a visão católica posterior”. E esta divergência
se dá, principalmente a partir de Agostinho
de Hipona, do século IV em diante. “Agostinho ensinou que o milênio
de Ap 20 não é literal, mas espiritual... corresponde ao período atual da
Igreja entre a primeira e a segunda vinda de Cristo... Essa interpretação se
tornou a dominante (o chamado amilenarismo agostiniano)”. Mas,
voltando a Irineu[2],
vejamos o que ele diz sobre:
a)Dispensações
Como já definimos aqui “... uma dispensação é
um período de tempo no qual o homem é testado na sua obediência a alguma
revelação específica da vontade de Deus. Três conceitos importantes estão
implícitos nesta definição: um depósito de revelação divina quanto à vontade de
Deus, incorporando o que Deus exige quanto à sua conduta; a mordomia do homem
desta revelação divina, na qual ele é responsável de obedecer; e um
período de tempo, geralmente chamado de “século”, durante o qual esta revelação
divina prevalece testando a obediência do homem a Deus[3]”.
Irineu não fala diretamente
sobre dispensações, mas deixa claro que Deus implementou um plano para resgatar
e restaurar a humanidade e a criação, revertendo os efeitos do pecado. Ele
chama este plano de "recapitulação" (p. ex.: pág. 65) e é uma
forma de a Igreja interpretar a história da salvação em diferentes "economias"
ou etapas do plano de Deus. E também destaca sobre “... aquelas coisas que
foram preditas pelo Criador igualmente por meio de todos os profetas Cristo
cumpriu no final, ministrando à vontade de Seu Pai e completando suas dispensações[destaque meu] com relação à raça humana”[4].
b)As
Setenta Semanas de Daniel
Assim como os fundamentalistas (veja
aqui),
Irineu interpretava as setenta semanas de Daniel (Dn 9.24-27) como um período histórico de
490 anos literais. A última semana (7 anos) seria o tempo da tribulação, que
ele vinculava com eventos que precederiam a volta de Jesus. Portanto, trata-se
de um evento escatológico futuro. Ele dividia a última semana em duas partes de
três anos e meio (como fazem os dispensacionalistas).O
“príncipe que há de vir” (v. 26) é o Anticristo, um governante que que fará
uma aliança por uma semana (7 anos), mas na metade da semana (após 3 anos e
meio) romperá o pacto, cessará o sacrifício e instaurará a abominação da
desolação. Resumindo: Irineu vê a última semana como ainda não cumprida em sua
totalidade, projetada para o fim da história, ligada ao governo do Anticristo.
c)Arrebatamento
da Igreja / Segunda vinda de Cristo / grande tribulação
Irineu (pág. 98) relaciona arrebatamento como a
ressurreição dos mortos: “... assim também devemos esperar o tempo da nossa
ressurreição, prescrito por Deus e predito pelos profetas, e assim,
ressuscitando, sermos arrebatados, todos aqueles que o Senhor considerar
dignos deste [privilégio]...”. também cita (Pág. 16 e 17) Enoque e Elias
como exemplo de pessoas arrebatadas ou trasladadas. O arrebatamento deles
apontava “... assim por antecipação a transladação dos justos”. Quando
esta transladação acontecerá? Diferentemente dos fundamentalistas protestantes,
que acreditam que Jesus voltará antes da grande tribulação, Irineu cria que a
Igreja seria “arrebatada” (1Ts 4.17), mas no fim da última semana, na
manifestação de Cristo, não antes. E também não falava de um “arrebatamento
secreto” durante a tribulação. Sua visão era mais próxima do que hoje chamamos
de pós-tribulacionismo milenarista: a Igreja sofre perseguição, Cristo
volta, ocorre o arrebatamento/ressurreição, derrota do Anticristo e início do
milênio.
d)Milênio
O ensino de Irineu sobre o milênio coincide com
a posição dos fundamentalistas. Ele ensinava um milênio literal(quiliasmo),
terrestre e futuro, que ocorrerá após a volta de Cristo. Sua posição foi
abandonada pela Igreja Católica a partir do século IV, como já vimos.
Com a ajuda do chatGpt, elaborei um quadro
abaixo da escatologia de Irineu por ordem dos acontecimentos:
1)Aparecimento
do Anticristo
- Surge
no fim da história como o “príncipe que há de vir” (Dn 9.27).
- Governa
por 3 anos e meio (Dn 7.25; Ap 13.5).
- Rompe
a aliança, cessa o sacrifício e instala a abominação da desolação (Dn 9.27; Mt
24.15).
- Persegue
duramente os santos (Ap 13.7).
2)Grande
Tribulação da Igreja
- A
Igreja não é retirada antes da tribulação, mas chamada a perseverar.
- Irineu
entendia o sofrimento como prova final dos fiéis (Ap 13; Dn 12.7).
3)Segunda
Vinda de Cristo
- Cristo
vem em glória, derrota o Anticristo (2Ts 2.8; Ap 19.20).
- Os
justos são arrebatados / ressuscitados para encontrar o Senhor (1Ts 4.16-17).
- Esse
encontro marca o início do reinado milenar.
4) Milênio
literal (1.000 anos)
- Cristo
reinará na terra, em Jerusalém restaurada (Ap 20.4-6).
- A
criação será renovada (Is 11; 65.17-25).
- Haverá
abundância e paz, cumprimento das promessas a Israel.
- Os
justos reinarão com Cristo.
5)Ressurreição
final e Juízo universal
- Após
os 1.000 anos, Satanás será solto e derrotado (Ap 20.7-10).
- Ocorre
a segunda ressurreição: ímpios ressuscitam para o juízo.
- Cristo
julga todos (Ap 20.11-15).
6) Eternidade:
Novo céu e nova terra
- Consumação
definitiva da criação (Ap 21–22).
- A
humanidade restaurada em Cristo habita com Deus para sempre.
Bem, sobre a escatologia dos dispensacionalistas/conservadores,
estamos postando os assuntos aqui à
medida que conseguimos elaborá-los. Mas quero concluir destacando alguns pontos
de aproximação dela com a de Irineu.
Irineu
não faz distinção entre Israel e a Igreja ao tratar o fim dos tempos, não
ensina sobre um arrebatamento secreto, mas defende uma leitura futurista de
Daniel e Apocalipse; entende ser a última semana de Daniel um acontecimento
ainda futuro, culminando na revelação do Anticristo; divide esse período em
duas metades de 3 anos e meio, conectando com Ap 11–13; afirma que o “príncipe
que há de vir” (Dn 9.26-27) é o Anticristo, que perseguirá os santos; e
acreditava num reino milenar terreno de Cristo após sua vinda.
Portanto, Irineu e o
dispensacionalismo compartilham elementos importantes: leitura futurista de
Daniel, expectativa de um Anticristo histórico e defesa de um milênio literal.
Contudo, separam-se no ponto crucial do arrebatamento da Igreja. Enquanto o
dispensacionalismo vê a Igreja retirada antes da tribulação, Irineu acreditava
que os cristãos enfrentariam o Anticristo, sendo arrebatados somente na segunda
vinda de Cristo. Assim, sua escatologia está mais próxima de um
pós-tribulacionismo milenarista do que da visão pré-tribulacionista moderna.
Veja o resumo do artigo no vídeo a seguir:
Notas / Referências bibliográficas:
[1] CyrusIngersonScofield (1843–1921): “... foi um influente ministro americano.
Sua Bíblia de Referência Scofield , repleta de anotações úteis sobre
o texto, foi publicada em 1909 e se tornou o padrão para uma geração de
cristãos fundamentalistas e popularizou a teologia dispensacionalista...”.
Veja mais aqui, aqui e também aqui.
[2] IRINEU... Contras
as Heresias, Livro V, Cap. 25 a 30.
[3] SCOFIELD, Dr. C.
I. Rota de Gênesis 1.28. In: A Bíblia Sagrada. São Paulo: Imprensa
Batista Regular do Brasil: 1987. Texto e abreviaturas das referências
adaptados.
[4] IRINEU de Lyon. ContraasHeresias: Livro 5, p. 83 e 84), Edição do Kindle.
Sobre o comentário acerca das setenta semanas de Daniel, feito pelo Dr.
C. I. Scofield [2],
ele cita dois Pais da Igreja, Irineu e Hipólito, cuja escatologia
se assemelhava à dos fundamentalistas. Sobre o primeiro já falamos aqui e aqui e, sobre Hipólito, veja o conteúdo
abaixo.
1.Quem
era Hipólito[3]
HipólitodeRoma (c. de
170-c. de 236) foi um presbítero de língua grega na igreja em Roma que liderou
um cisma contra o Bispo
Calixto. Ele e um bispo posterior de Roma, Ponciano, foram
exilados para a Sardenha durante a perseguição feita pelo imperador Maximino
(235) Ponciano e
Hipólito aparentemente foram reconciliados antes de morrerem na Sardenha, e
vieram a ser considerados mártires.
Hipólito escreveu vários documentos
importantes. A Refutação de todas as Heresias (as vezes chamada Philosophoumena)
trata principalmente das seitas gnósticas, fazendo seus erros remontarem à
filosofia. ATradiçãoApostólica é a fonte mais completa
no tocante aos costumes organizacionais e litúrgicos da Igreja ante-niceana [4] – e abrange o batismo, a
eucaristia, a ordenação e a festa do amor ágape). O Comentário de Danielé o mais antigo da Igreja Ortodoxa; expõe uma escatologia quillasta [5]. ContraNoeto
opõe-se a uma antiga forma de modalismo. Uma estátua de Hipólito,
presumivelmente preparada durante sua vida, traz uma inscrição que alista seus
escritos e registra uma tabela de cálculo da data da Páscoa.
As opiniões de Hipólito foram aguçadas por sua
controvérsia com Calixto. Além de suas diferenças pessoais (Calixto era um
ex-escravo com pouca educação formal, Hipólto, uma pessoa livre com muita
cultura) e da rivalidade pelo episcopado, os dois homens discordavam
doutrinariamente no tocante a duas considerações importantes. Hipólito defendia
a cristologia do Logos e fazia tanta distinção entre o Pai e Cristo, que Calixto
o chamava de "diteísta"; Calixto e seu antecessor, Zeferino,
enfatizavam a união divina, de tal maneira que Hipólito não via diferença entre
as opiniões deles e o modalismo de Sabélio. Hipólito adotava um conceito
rigorista da disciplina eclesiástica, e negava a reconciliação com a igreja
àqueles que eram culpados dos pecados mais graves, deixando nas mãos de Deus o
perdão; Calixto adotava um conceito mais lasso, e estava disposto a conceder o
perdão da igreja, especialmente nos casos de pecados sexuais.
2.Sua
escatologia
§A
última semana de Daniel (9.27) / o Anticristo.
A exemplo de Irineu de Lyon, Hipólito
de Roma também interpretou as setenta semanas de Daniel (Dn 9.24-27) como um
período literal de 490 anos, conectando a última semana (70ª) diretamente com a
vinda do Anticristo e os acontecimentos finais da história a exemplo também dos
dispensacionalistas. A primeira metade da última semana era um período de
aparente paz e aliança feita pelo Anticristo, enquanto a segunda metade, um
período de extrema perseguição, abolição do sacrifício, “abominação da
desolação” e domínio do Anticristo sobre o mundo. Esta fase é explicada e
conectada também pelos períodos de tempos mencionados em Daniel e Apocalipse: 1260
dias (Ap 11.3; 12.6), 42 meses (Ap 11.2; 13.5) e tempo, tempos e metade de um
tempo (Dn 12.7; Ap 12.14). Após este período de tribulação, Cristo intervirá e
instaurará seu Reino definitivo.
§Arrebatamento
da Igreja / Milênio:
Sobre o arrebatamento,
Hipólito não o via como um evento secreto
como fazem os dispensacionalistas. Para ele, a igreja passará pela perseguição
do Anticristo, especialmente durante os últimos 3 anos e meio da semana de
Daniel. Espera-se que os fiéis sejam perseverantes e aguardem a manifestação
gloriosa de Cristo no final da última semana. Na verdade, a ordem dos eventos
do final dos tempos para Hipólito será:Aparecimento
do Anticristo (Dn 7.25; 9.27; 11.36; Ap 13); Perseguição dos santos:
a Igreja sofreria durante o reinado de 3 anos e meio; Segunda vinda de
Cristo: Cristo destruiria o Anticristo e instauraria o reino. Ressurreição/arrebatamento:
ocorre na manifestação de Cristo, quando os justos são reunidos a Ele (1Ts
4.16-17). Mas, como Irineu e os dispensacionalistas modernos, Hipólito também
cria em um reinado terreno (literal) de Cristo por mil anos.
Numa tabela
criada pelo ChatGPT[6], relacionando Hipólito e dispensacionalistas,
em relação ao tempo do fim temos:
Evento
Hipólito de Roma
Dispensacionalismo
a)Última semana de Daniel (Dn 9.27)
§É futura e se refere ao governo do Anticristo. Dividida em duas
metades de 3 anos e meio: paz aparente (1a);
§Perseguição da Igreja (2a).
§Idem.
b)Anticristo
§Figura real, governará 3 anos e meio, abolirá o sacrifício, instaurará
a abominação da desolação e perseguirá os santos.
§Também é figura real, dominará durante a Tribulação e fará pacto com
Israel.
c)Destino da Igreja durante a
tribulação
§A Igrejapermanece na terra e sofre
perseguição do Anticristo. Não há livramento antecipado.
§Igreja é arrebatada
antes da Tribulação (pré-tribulacionismo).
§Alguns grupos aceitam arrebatamento no meio
ou no fim da tribulação.
d)Arrebatamento / Ressurreição (1Ts 4.16-17)
§Acontece junto com a segunda vinda de Cristo, após a tribulação. É
público e glorioso.
§O arrebatamento é secreto e anterior à tribulação (pré-tribulacionismo
clássico). Depois, ocorre uma segunda vinda visível de Cristo.
e)Milênio (Ap 20.4-6)
§Literal: Cristo reinará 1.000 anos na terra após
derrotar o Anticristo.
§Também literal: Cristo reinará por 1.000 anos após a
Tribulação.
f)Israel e Igreja
§Não faz distinção rígida: judeus e gentios em Cristo é perseguido peloAnticristo e depois participa do Reino.
§Forte distinção: Israel e Igreja têm
destinos diferentes. A Tribulação é voltada a Israel; a Igreja já terá sido
arrebatada.
g)Sequência final
§Anticristo → Tribulação → Segunda Vinda de Cristo →
Arrebatamento/Ressurreição → Milênio → Juízo final → Eternidade.
§Arrebatamento (antes da tribulação) → 7 anos de
Tribulação (Israel no centro) → Segunda Vinda
visível → Milênio → Juízo final → Eternidade.
Para concluir, percebemos as ideias de Hipólito
convergiam com as de dispensacionalistas, principalmente na crença da vinda de Anticristo
real, uma última semana de Daniel futura e um milênio literal. A diferença
crucial está no fato de que Hipólito coloca o arrebatamento apenas no fim da
tribulação, enquanto o dispensacionalismo (clássico) defende que a Igreja não
estará na tribulação, pois será retirada antes. Podemos afirmar, portanto, que Hipólito
é um pós-tribulacionista milenarista, enquanto para o dispensacionalismo a
ideia mais difundida é o pré-tribulacionista milenarista.
Resumo no vídeo a seguir:
Notas:
[1] Imagem ilustrativa,
criado pela I. A. do ChatGpt. In: Hipólito
de Roma.
[2]CyrusIngersonScofield (1843–1921): “... foi um influente ministro americano.
Sua Bíblia de Referência Scofield , repleta de anotações úteis sobre
o texto, foi publicada em 1909 e se tornou o padrão para uma geração de
cristãos fundamentalistas e popularizou a teologia dispensacionalista...”.
Veja mais aqui, aqui e tambémaqui.
[3] FERGUSON, Everett. Hipólito. In: ELWELL, Walter. A. (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol.
II. São Paulo: Vida Nova, 1988 (1ª Ed.), pág. 251-252.
[4] Isto é, ATradiçãoApostólica de Hipólito foi uma das fontes
teológicas que serviram de base para o Concílio de Niceia, o primeiro dos
concílios ecuménicos, ocorrido no ano 325.
[5]Quiliasta:
aquele que defende a crença num "Reino Milenar" literal onde Cristo
reinará na Terra após a sua segunda vinda, com base em interpretações de
passagens bíblicas como Apocalipse 20.1-6 e outras.
[6] Para montagem deste
quadro, o ChatGpt usou como base Exposição sobre Daniel de Hipólito.