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11 fevereiro 2024

A Aposta de Pascal: da razão à fé em Deus

Por: Alcides Amorim


O Racionalismo, corrente filosófica que argumenta ser a razão a única forma para se chegar ao verdadeiro conhecimento é normalmente atribuído ao filósofo francês René Descartes (1596-1650), que é considerado também o fundador da filosofia moderna. Mas esta ideia de chegar ao verdadeiro conhecimento choca-se muitas vezes com a teologia e a fé. Foi na tentativa de aliar a razão com a fé que outro filósofo – também francês –, chamado Blaise Pascal (1623-1662) [1], desenvolve a apologética famosa exposta em sua principal obra Pensées (Pensamentos sobre a Religião e Alguns Outros Assuntos).

Segundo Richard V. Pierard, Pascal foi uma das maiores figuras na história intelectual do Ocidente, embora tenha vivido muito pouco: 39 anos. Foi criado por seu pai viúvo, um brilhante advogado e oficial cívico; tornou-se pensador, cientista e matemático; usando o método experimental, criou o primeiro calculador mecânico, pesquisas básicas sobre vácuos e hidráulica, a formulação da teoria da probabilidade e a formação dos alicerces para o cálculo diferencial e integral, entre outras contribuições.

Em 1646 Pascal passou por uma "conversão" para um ensino austero de renúncia do mundo e de submissão a Deus, conforme propunham os discípulos de Jean du Vergier. O resultado foi uma cessação temporária das suas labutas intelectuais, mas logo deixou o grupo. Em 1654 experimentou uma "segunda conversão", muito mais significativa, à doutrina Jansenista [2] em Port Royal, e aceitou fervorosamente a fé cristă, como se vê em suas obras posteriores, as Cartas Provinciais (1657) e sua obra publicada postumamente Pensées.

Nos seus escritos religiosos, Pascal era mais um apologista do que um pensador sistemático. Ao argumentar a favor da existência de Deus, não era um fideísta completo, pois achava possível demonstrar aos descrentes que a religião não era contrária à razão, mas rejeitava provas metafísicas como as de Descartes por serem insuficientes para levar alguém ao Deus vivo. Na verdade, argumentava psicologicamente [3], acreditando que o coração era a chave. Deus podia ser percebido pela intuição do coração, mas não pela razão. Tratava-se de combinar o conhecimento, o sentimento e a vontade, e de estabelecer um relacionamento místico vivificante com Cristo. Quando Pascal apresenta seu argumento da aposta, a probabilidade nos obriga a correr o risco da fé em Deus. Além disso, ele via a condição humana como de "grandeza e miséria". Rejeitando o pelagianismo jesuíta, Pascal aceitou a reafirmação jansenista do conceito agostiniano do pecado original. Disse que o homem possui uma condição moral e religiosa especial que o eleva muito acima dos animais, mas ele é controlado pelo pecado e necessita desesperadamente da graça especial de Deus a fim de ser salvo. Embora ele achasse que "o coração tem razões que a própria razão desconhece", não deixou de sustentar que as Escrituras, que se validam a si mesmas, as profecias, a existência dos judeus, os milagres e o testemunho da história, todos servem para autenticar o cristianismo.

Sobre a Aposta de Pascal deve ser considerado, conforme Rodrigo Silva, que pelo fato de sua doença que o levou à morte ainda muito jovem, este deixou muitos trabalhos ainda rascunhados, tanto que a Pensées foi uma obra póstuma e, possivelmente em elaboração, sem a conclusão do próprio autor. Em seu estudo, Rodrigo Silva mostra como as percepções de Pascal era parte de uma conclusão matemática daquele filósofo, um dos mais célebres da história. Portanto, embora Pascal é visto como controverso teologicamente – veja, por exemplo aqui –, é inegável que ele era um homem de fé, além de um filósofo. Fé e razão andando juntas.

Para Pascal, continua Pierard, ‘Ou Deus existe, ou Ele não existe’, e propõe que apostemos no assunto. Apostar que Ele existe importa numa modesta entrega da nossa razão, mas optar pela não-existência divina è arriscar a perda da vida e felicidade eternas. O valor da aposta (a nossa razão) é mínimo comparado ao prêmio que pode ser ganho. Se aquele que apostou em Deus tiver razão, ganhará tudo, mas nada perderá se sua escolha se revelar errada. Ja que foi demonstrado que esta aposta é razoável, pode-se avançar, agora, do ámbito do provável para a ação prática de se colocar a fé em Deus.

Deus existe ou Deus não existe [4]


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1R. V. PIERARD, Doutor da Universidade de Iowa. Professor de História na Universidade Estadual de Indiana, Terre Haute, Indiana, EUA… (E mais aqui). Dois breves estudos, “A Aposta de Pascal” e “Blaise Pascal”, utilizados como fontes aqui, são contribuições de Pierard à Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. I (Pág. 101 e 102) e Vol. III (Pág. 100) respectivamente. São Paulo: Vida Nova: 1988. (Texto adaptado).

  • [2O Jansenismo foi um movimento de muito rigor moral e dogmático, além de disciplinar e que assumiu também contornos políticos, ocorrido no seio da Igreja Católica nos séculos XVII e XVIII e cujas teorias foram consideradas controversas pela própria igreja. O Jansenismo foi fundado Na Bélgica por Cornélio Jansénio e difundido na França por Jean du Vergier. Foi neste meio de ensino austero de renúncia do mundo e submissão a Deus, que Pascal conviveu num primeiro momento e que provocou uma cessação temporária das suas labutas intelectuais, passando depois (em 1654) por outra experiência que ficou conhecida como uma ‘segunda conversão’. 

  • [3] … e principalmente matematicamente, na opinião de Rodrigo Silva, confrme o  vídeo abaixo.

  • [4Esquema ilustrativo anexo ao estudo de Rodrigo Silva, Aposta de Pascal. Acesso em: 09/02/2024.



Se o link não abrir, acesse: A Aposta de Pascal, com Rodrigo Silva..


27 janeiro 2024

A teologia da morte de Deus

Por: Alcides Amorim

Sátira da Criação [1]


Pensei na imagem acima por citar o filósofo Nietzsche o qual aventou a ideia estúpida de que “Deus está morto”. Mas resolvi descrever um pouco o assunto, aproveitando as contribuições de S. N._Gundry [2], com seu texto “Teologia da morte de Deus”, itens 1 e 2 abaixo, a resposta bíblica sobre o assunto, do portal Gotquestions.org e adição do vídeo de Jonas Madureira abaixo.


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Conhecida também como a teologia radical, essa teologia floresceu em meados da década de 1960. Como movimento teológico nunca atraiu muitos seguidores, não chegou a uma expressão unificada e saiu de cena de modo tão rápido e dramático quanto surgiu. Há até mesmo uma falta de concordância quanto à identidade dos seus representantes principais. Alguns identificam dois deles, e outros, três ou quatro. Embora fosse pequeno, o movimento atraiu atenção por ter sido um sintoma espetacular da falência da teologia moderna, e por ter sido um fenômeno jornalístico. A própria declaração: "Deus está morto” foi feita sob medida para ser explorada jornalisticamente. Os representantes do movimento usaram artigos de revistas, livretos e meios de comunicação eletrônicos com eficácia.

1. Sua História

Esse movimento deu expressão a uma ideia que tinha sido incipiente na filosofia e na teologia ocidentais por algum tempo a sugestão de que, na melhor das hipóteses, a realidade de um Deus transcendente não poderia ser conhecida e, na pior delas, não existia mesmo. O filósofo Kant o o teólogo Ritschi negaram que alguém pudesse ter um conhecimento teorético [3] da existência de Deus. Hume e os empiristas, para todos os fins práticos, restringiam o conhecimento e a realidade ao mundo material conforme ele é percebido pelos cinco sentidos. Posto que não era possível averiguar de modo empírico a existência de Deus, dizia-se que a cosmovisão bíblica era mitológica e inaceitável à mente moderna. Os filósofos existencialistas ateus tais como Nietzsche, desesperavam-se até mesmo da possibilidade de empreender uma busca de Deus; foi o próprio Nietzsche quem cunhou a frase "Deus está morto” quase um século antes dos teólogos da morte de Deus.

Os teólogos dos meados do século XX, não associados com o movimento, também contribuíram para o contexto em que emergiu a teologia da morte de Deus. Rudolf Bultmann considerava mitológicos todos os elementos do mundo sobrenaturalista e teísta, e propôs que as Escrituras fossem demitizadas de modo que pudessem falar a sua mensagem à pessoa moderna. Paul Tillich, um anti-sobrenaturalista declarado, disse que a única declaração não-simbólica que se podería dizer a respeito de Deus era que Ele é a própria existência. Ele está além da essência e da existência; por isso, argumentar que Deus existe é negá-lo. É mais apropriado dizer que Deus não existe. Na melhor das hipóteses, Tillich era um panteista, mas seu pensamento chega à beira do ateísmo, Dietrich Bonhoeffer (quer tenha sido entendido corretamente, quer não) também contribuiu para formar o ambiente para essa opinião com algumas declarações fragmentárias porém atormentadoras conservadas em Letters and Papers from Prison ("Cartas e Papéis da Prisão"). Ele escreveu sobre o mundo e a humanidade "chegando à maioridade", do "cristianismo sem religião", do "mundo sem Deus", do livrar-se do "Deus das lacunas" e progredir tão bem como antes. Nem sempre há certeza quanto à intenção de Bonhoeffer, mas se não conseguiu fazer mais nada, pelo menos forneceu um vocabulário que os teólogos radicais posteriores podiam explorar.

Torna-se claro, portanto, que por mais assustadora que a ideia da morte de Deus tenha sido ao ser proclamada em meados da década de 1960, não representava um afastamento tão radical de ideias e vocábulos filosóficos e teológicos recentes quanto talvez parecesse superficialmente.

2. Sua Natureza

Que era, exatamente, a teologia da morte de Deus? As respostas são tão variadas quanto as pessoas que proclamaram o falecimento de Deus. Desde Nietzsche, os teólogos tinham ocasionalmente usado a frase "Deus está morto” para expressar o fato de que, para um número cada vez maior de pessoas na era moderna Deus parece ser irreal. Mas a ideia da morte de Deus começou a receber um destaque especial em 1957, quando Gabriel Vahanian publicou um livro chamado God Is Dead ("Deus Está Morto"). Vahanian não ofereceu nenhuma expressão sistemática da teologia da morte de Deus. Ao invés disso, analisou aqueles elementos históricos que contribuíram para a aceitação do ateísmo pelas massas, mais como modo de vida do que como uma teoria. O próprio Vahanian não acreditava que Deus estava morto. Mas insistia para que houvesse uma forma de cristianismo que reconhecesse a perda contemporânea de Deus e exercesse a sua influência através daquilo que sobrara. Outros proponentes da morte de Deus avaliaram da mesma forma a situação de Deus na cultura contemporânea, mas tiraram conclusões diferentes.

Thomas J. J. Altizer acreditava que Deus realmente tinha morrido. Mas Alizer frequentemente falava em linguagem exagerada e dialética, ocasionalmente com fortes sugestões do misticismo oriental. Às vezes é difícil saber exatamente o que Alize pretendia quando usava antíteses dialéticas tais como “Deus está morto, graças a Deus!” Mas parece que o verdadeiro sentido da crença de Altizer de que Deus morrera deva ser achado na sua crença na imanência de Deus. Dizer que Deus morreu é dizer que Ele deixou de existir como um ser transcendente e sobrenatural. Na verdade, Ele Se tornou plenamente imanente no mundo. O resultado é uma identidade essencial entre o humano e o divino. Deus morreu em Cristo nesse sentido, e o processo tem continuado repetidas vezes desde então. Altizer alega que a igreja tentou dar a Deus uma nova vida e colocá-lo de volta no céu mediante as suas doutrinas da ressurreição e da ascensão. Mas agora, as doutrinas tradicionais a respeito de Deus e de Cristo devem ser repudiadas porque o homem descobriu, depois de dezenove séculos, que Deus não existe. Os cristãos devem agora mesmo desejar a morte de Deus, mediante a qual o transcendente se torna imanente.

Para William Hamilton, a morte de Deus descreve o evento que muitos têm experimentado ao longo destes últimos cem anos. Já não aceitam a realidade de Deus nem a relevância da linguagem a respeito dele. As explicações não-teístas foram substituídas pelas teístas. Essa tendência é irreversível, e todos devem conformar-se com a morte histórico-cultural de Deus. A morte de Deus deve ser afirmada e o mundo secular deve ser aceito por ser intelectualmente normativo e eticamente bom. De fato, Hamilton era otimista a respeito do mundo, porque era otimista a respeito daquilo que a humanidade poderia fazer e estava fazendo para solucionar os seus problemas.

Paul van Buren é geralmente associado à teologia da morte de Deus, embora ele pessoalmente tenha negado essa ligação. Mas sua negação parece hipócrita tendo-se em consideração o seu livro: The Secular Meaning of the Gospel ("O Sentido Secular do Evangelho") e seu artigo "Christian Education Post Mortem Dei". Naquele, aceita o empirismo e a posição de Bultmann no sentido de a cosmovisão da Biblia ser mitológica e insustentável para as pessoas modernas. Neste, propõe uma abordagem à educação cristã que não pressuponha a existência de Deus, mas que "Deus morreu" e "já Se foi".

Van Buren ocupava-se com os aspectos linguísticos da existência e da morte de Deus. Aceitava a premissa da filosofia analítica empírica de que o verdadeiro conhecimento e significado podem ser transmitidos somente por linguagem empiricamente averiguável. Esse é o princípio fundamental dos secularistas modernos, e a única opção viável nesta era. Se apenas a linguagem empiricamente averiguável é relevante, logo, toda a linguagem que se refira à realidade de Deus, ou a tome por certa, não tem significado, posto que não se pode averiguar a existência de Deus por nenhum dos cinco sentidos. O teísmo, a fé em Deus, não somente é intelectualmente insustentável, como também é destituído de significado. Em The Secular Meaning of the Gospel, van Buren procura reinterpretar a fé cristă sem fazer referência a Deus. Procura-se em vão no livro inteiro até mesmo um mínimo indício de que van Buren seja outra coisa senão um secularista que procura traduzir os valores éticos cristão segundo aquele mesmo jogo de linguagem. Hå uma mudança notável, porém, no livro posterior de van Buren: Discerning the Way ("Discernindo o Caminho"). Em retrospecto, fica claro que não houve uma só teologia da morte de Deus, mas várias teologias da morte de Deus. A verdadeira relevância delas foi que as teologias modernas, ao abrirem mão dos elementos essenciais da fé em Deus sustentada pelos cristãos, chegaram, logicamente, a coisas que são verdadeiras antiteologias. Quando as teologias da morte de Deus desapareceram do cenário, permaneceu o compromisso com o secularismo e ele se manifestou em outras formas de teologia secular no fim da década de 1960 e na década de 1970.

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Resposta bíblica: “Se Deus está morto, então [4]…”

O termo técnico para o ensino de que "Deus está morto" é a teotanatologia, um composto de três partes do grego: theos (deus) + thanatos (morte) + logia (palavra). O poeta e filósofo alemão Friedrich Nietzsche é mais famoso por fazer a declaração "Deus está morto" no século XIX. Nietzsche, influenciado pela filosofia grega e pela teoria da evolução, escreveu: "Deus está morto. Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos?... A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele?" (Nietzsche, A Gaia Ciência, 125).

Nietzsche tinha o propósito de abolir a moralidade "tradicional" — o Cristianismo, em particular — porque, em sua mente, representava uma tentativa de líderes religiosos egoístas para controlar as massas fracas e irrefletidas. Nietzsche acreditava que a "ideia" de Deus não era mais necessária; de fato, Deus era irrelevante porque o homem estava evoluindo ao ponto de poder criar uma "grande moralidade" mais profunda e satisfatória.

A filosofia de que "Deus está morto" de Nietzsche tem sido utilizada para avançar as teorias do existencialismo, niilismo e socialismo. Teólogos radicais como Thomas J. J. Altizer e Paul van Buren defenderam a ideia de que "Deus está morto" nos anos 60 e 70.

A crença de que Deus está morto e que a religião é irrelevante leva naturalmente às seguintes ideias:

1) Se Deus está morto, não há valores absolutos morais e nenhum padrão universal ao qual todos os homens devam se conformar.

2) Se Deus está morto, não há propósito ou ordem racional na vida.

3) Se Deus está morto, qualquer design encontrado no universo é enxergado por homens que estão desesperados para encontrar o significado na vida.

4) Se Deus está morto, o homem é independente e totalmente livre para criar seus próprios valores.

5) Se Deus está morto, o mundo "real" (ao contrário de um céu e um inferno) é a única preocupação do homem.

A ideia de que "Deus está morto" é essencialmente um desafio à autoridade de Deus sobre nossas vidas. A noção de que podemos criar com segurança nossas próprias regras foi a mentira que a serpente disse a Eva: "... vocês serão como deuses" (Gênesis 3:5). Pedro nos adverte que "... também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição" (2 Pedro 2:1).

O argumento "Deus está morto" geralmente é apresentado como uma filosofia racional e capacitadora para artistas e intelectuais. No entanto, a Escritura o chama de tolo. "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus…" (Salmo 14:1). Ironicamente, aqueles que se apegam à filosofia "Deus está morto" descobrirão o erro fatal nessa filosofia quando eles mesmos estiverem mortos.

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Bem, Friedrich Nietzsche era ateu? Há muita discussão sobre o assunto. Mas se não ateu, era no mínimo, um niilista, alguém que rejeita e é cético quanto ao valor e propósito da vida e da existência, não aceita os valores tradicionais nem a verdade absoluta. O estrago de quem pensa assim e é influenciado, discutido, seguido... nos meios acadêmicos é muito grande. Os itens 1 a 5 do texto da resposta bíblica acima demonstra bem isto. Veja mais sobre isto no vídeo, link a seguir...


Notas:

  • [2] Stanley Norman Gundry “… um teólogo evangélico americano, professor de seminário, editor e autor. Ele atuou como editor da série Zondervan ‘Counterpoints’, que apresenta várias visões sobre uma variedade de tópicos teológicos...”(Wikipedia). O texto em referência – Teologia da morte de Deus – é uma contribuição de Gundry para: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. III. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág. 486 a 489 (Texto adaptado).

  • [3] Teorético traduz a ideia de que teoricamente não se pode conhecer a Deus. O conhecimento humano não basta para se conhecer a Deus.

19 novembro 2023

Bispos e Papas (3): Clemente de Roma

Bispos e Papas (3): Clemente de Roma

Por: Alcides Amorim

Clemente de Roma [1]

Prosseguindo o estudo dos bispos [2] romanos listados por Eusébio de Cesareia, no seu livro História Eclesiástica [3], e dos papas, queremos destacar neste post a pessoa do bispo Clemente, também chamado de Clemente I e de Clemente de Roma.

O nome de Clemente aparece na Bíblia (Fp 4.3) como um dos cooperadores de Paulo, “… cujos nomes estão no livro da vida”. Eusébio [4] apresenta-o como sucessor de Anacleto. Afirma ainda sobre uma Epístola de Clemente que ainda sobrevivia em sua época (século IV), uma epístola genuína que foi escrita de Roma à igreja de Corinto. Ao que parece, a Carta de Clemente serviu como base e orientação para o enfrentamento do gnosticismo [5]  e do marcionismo [6], heresias danosas à nascente Igreja Cristã. Quem muito usufruiu do conteúdo da Carta de Clemente, ao que Eusébio nos faz crer, foi Hegésipo, um judeu-cristão, cronista e muito atuante na defesa da fé cristã no início do século II. Por ter convivido e ter sido cooperador do apóstolo Paulo, o Bispo Clemente é conhecido como um dos pais apostólicos [7], mas não deve ser confundido com Clemente de Alexandria, um dos Mestres da Igreja, que viveu no final do século II e início do século III. O Pastor de Hermas possivelmente conhecia Bispo Clemente e, portanto, estava familiarizado com a igreja de Roma. Fontes católicas, por exemplo, o site da Editora Paulus, afirmam que a Carta do “Papa” Clemente a Corinto foi o “… primeiro documento papal (protótipo de todas as cartas encíclicas que seriam escritas no decurso dos séculos) afirma a autoridade do sucessor de são Pedro, bispo de Roma, sobre outras igrejas de origem apostólica. A carta, escrita entre os anos de 93 e 97, enquanto estava ainda com vida o apóstolo são João, é dirigida à Igreja de Corinto, dividida por um cisma interno, porque um grupo de fiéis contestava a autoridade dos presbíteros.”

Segundo o site acima o “Papa” Clemente exerceu seu pontificado entre ano 88 ao 97 [8]. E este foi o Papa Clemente I, por terem tidos vários outros Clementes que também foram bispos ou papas.

O contexto político da época do Bispo Clemente foi de muita opressão dos romanos aos judeus e cristãos. Acompanhou certamente, antes de ser bispo, a destruição de Jerusalém (ano 70), a segunda perseguição aos cristãos no governo de Domiciano etc. Foi preso na época de Trajano e por isso, preocupado com a liderança espiritual dos cristãos, renunciou o seu pontificado em favor do Bispo Evaristo, do qual falaremos num outro post.

O que a Wikipédia informa sobre a morte de Clemente é que por ele converter muitos presos ao Cristianismo, foi, por isso, no ano 100, “… atirado ao mar com uma pedra amarrada ao pescoço… Seu corpo foi recuperado das águas e sepultado em Quersoneso, na Crimeia, de onde, mais tarde, por ordem de Nicolau I, seu corpo foi levado a Roma” (Idem). O site Franciscanos afirma que sua morte se deu em 23 de novembro do ano 101 e que seu corpo foi levado para Roma no ano 869.

Veja também:

Para saber mais do Bispo Clemente, sugiro o vídeo Clemente de Roma, do Professor Rogério de Sousa. Atente, também para as Notas abaixo



Notas / Referências bibliográficas:

  • [3] Na versão publicada pela CPAD em 1995, nas páginas 409/410, a editora fez uma lista de 29 bispos de Roma citados por Eusébio, e Clemente é o número 3 da lista...

  • [4] CESAREIA, Eusébio de. História Eclesiástica: os primeiros quatro séculos da Igreja Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

  • [5] Gnosticismo: “Influenciado por filósofos como Platão, o Gnosticismo é baseado em duas premissas falsas. Primeiro, essa teoria sustenta um dualismo em relação ao espírito e à matéria. Os gnósticos acreditam que a matéria seja essencialmente perversa e que o espírito seja bom. Como resultado dessa pressuposição, os gnósticos acreditam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não tem valor algum porque a vida verdadeira existe no reino espiritual apenas. Segundo, os gnósticos acreditam que possuem um conhecimento elevado, uma ‘verdade superior’, conhecida apenas por poucos. O Gnosticismo se origina da palavra grega gnosis, a qual significa ‘saber’, pois os gnósticos acreditam que possuem um conhecimento mais elevado, não da Bíblia, mas um conhecimento adquirido por algum plano místico e superior de existência. Os gnósticos se enxergam como uma classe privilegiada e mais elevada sobre todas as outras devido ao seu conhecimento superior e mais profundo de Deus….”. In: <Gnosticismo Cristão? | GotQuestions>. Acesso em: 17/11/2023.

  • [6] Marcionismo: doutrina pregada por Márciom (ou Marcião), que “… combinando elementos contrários ao mundo material e ao judaísmo”. Márciom pensava que este mundo era mau, e que seu criador devia ser um deus, se não mau, pelo menos ignorante. Em lugar de inventar toda uma série de seres espirituais, ao estilo dos gnósticos, o que Márcio propôs era muito mais simples. Segundo ele, o Deus do novo Testamento e Pai de Jesus Cristo não é o mesmo Jeová do Antigo Testamento. Há um Deus supremo, que é o Pai de Jesus Cristo, e um ser inferior, que é Jeová. Foi Jeová que fez este mundo... Mas Jeová, seja por ignorância ou por maldade, fez este mundo, e nele colocou a humanidade... Jeová é um deus ciumento e arbitrário, que escolhe um povo acima dos demais, e que está constantemente conferindo a conta de quem o desobedece para tomar vingança…” In: <O depósito da fé: cânon, sucessão apostólica, tradição e outras considerações>. Acesso em: 17/11/2023.

  • [7] Pais apostólicos: “Os Padres Apostólicos eram um grupo de líderes e autores cristãos primitivos que viveram logo após os apóstolos. Seus escritos são tipicamente datados entre 80-180 d.C. Acredita-se que a maioria dos Padres Apostólicos conheceu os apóstolos pessoalmente ou estava ligada a eles de alguma forma… Clemente foi provavelmente o segundo, terceiro ou quarto bispo de Roma, e pode ter conhecido alguns dos apóstolos. Hermas possivelmente conhecia Clemente e, portanto, estava familiarizado com a igreja de Roma”. In: <Padres Apostólicos… GotQuestions>. Acesso em: 17/11/2023.



13 novembro 2023

A Primeira Guerra Mundial e o Cristianismo

A Primeira Guerra Mundial e o Cristianismo

Por Alcides Barbosa de Amorim




Sobre a Primeira Guerra Mundial já destacamos seus aspectos políticos, sociais e econômicos. Neste post, queremos destacar a relação entre os cristãos e a guerra, além de suas posições frente ao conflito e seu contexto, e a pessoa de Karl Barth, um dos ícones do protestantismo na época.

Primeiramente, queremos destacar brevemente a posição católica. Na época, entre 1914 e 1922), o papa era o italiano Giacomo della Chiesa, que se tornou Bento XV (ou Benedito XV), o qual conviveu com a efervescência política italiana anticatólica e anticlerical desde os tempos de faculdade. No entanto, em relação à Primeira Grande Guerra, Bento XV “… fez um discurso sobre a posição da Igreja e os seus deveres, enfatizando a necessidade de ter uma postura neutral e promover a paz e acudir aos deslocados e feridos. Fez diversas tentativas, infrutíferas, para negociar a paz, tendo o Vaticano sido excluído das negociações de paz no final da guerra…” [2] Obviamente, a proposta de paz do papa Bento XV não teve êxito porque os beligerantes não quiseram. Ideias e propostas da igreja não lhes eram bem-vindas.

Por outro lado, teólogos protestantes como o arcebispo luterano sueco Nathan Söderblom (1866-1931), o teólogo liberal e historiador alemão Adolf_von_Harnack (1851-1930) e principalmente o teólogo reformado suíço, considerado o maior teólogo do século XX, Karl_Barth (1886-1968), também apelaram para a obtenção da paz através da comunhão cristã. Estes também cumpriram sua tarefa de oferecer respostas cristãs para o mundo da época, embora não foram ouvidos pelos interessados em fazer a guerra, tanto que não demorou muito para aparecer outra, a segunda grande guerra, também com proporções mundiais. Na capa do seu livro A Era Inconclusa, Volume 10, o historiador cristão Justo L. González afirma: “A ciência multiplicou-se como nunca, e o século XX assistiu a duas guerras mundiais. A Igreja cresceu e buscou dar respostas aos desafios”. Segundo ele, as convulsões sociopolíticas da primeira metade do século XX da Europa [2], berço de grande parte da filosofia no século XIX, sonhara com uma nova era para a humanidade e buscava conseguir liderar o bem do mundo no século seguinte (XX). E nesta onda ilusória o protestantismo europeu estivera bem mais envolvido do que o catolicismo. Assim, “… quando as duas guerras mundiais e seus desdobramentos desmentiram os sonhos do século XIX, o liberalismo protestante sofreu um abalo profundo” (Idem, pág. 65).

O mundo da época, principalmente a Europa, precisava de uma resposta teológica. E a mais significativa ao meu ver foi a obra de Karl Barth, o livro A carta aos romanos, publicado em 1919. Nesta obra, Barth insiste na necessidade do retorno à exegese fiel e reage contra o subjetivismo religioso que aprendera com muitos de seus professores. O Liberalismo do século XIX tão ensinado, crido e aceito por Barth, enfatizava o progresso do homem e a reforma do mundo. Mas, como questiona também este site cristão [3], “… se esse homem era tão avançado, por que promoveu uma guerra mundial? Se suas descobertas na tecnologia e na ciência eram tão eficazes, por que apontou suas armas para seus semelhantes?” O otimismo nos rumos da ciência, seus avanços e possibilidades fez muitos acreditarem num “paraíso na terra”, enquanto questionavam os elementos sobrenaturais da Bíblia, seus milagres e o plano de redenção. Por isso, no aspecto espiritual, Karl Barth encontrou sentido para sua vida e sociedade na Epístola aos Romanos. Sua obra foi chamada “uma granada no terreno da teologia liberal”, ao mostrar o Deus soberano e transcendente ali descrito. Deus precisava se revelar ao homem, e ele faz isso por intermédio de Jesus Cristo. A reafirmação de doutrina por Barth e as discussões que se seguiram tornaram-se a base da neo-ortodoxia protestante.

Bem, num “… mundo que enfrentou duas enormes guerras, as ideias de Barth levaram uma igreja indecisa de volta aos temas do pecado e da soberania de Deus…” (Idem), mas não ofereceu a resposta completa ao mundo de então. Um exemplo disto é que “… ele não aceitava a infalibilidade ou a inerrância das Escrituras” (Idem), tema tão caro para os conservadores que defendem a chamado Sola Scriptura. Mas o melhor de sua mensagem é que numa época em que muitos haviam se voltado para o mundo em busca de esperança, ele pedia que todos olhassem para Cristo.

Enquanto escrevo isto, estou presenciando o mundo quase todo contra Israel e em vias de uma possível terceira guerra mundial, mas o Cristo – o Messias judeu e Salvador do homem pecador – pregado por Barth e outros líderes cristãos, continua sendo a resposta para o mundo. Este, cuja filosofia ou cosmovisão contrasta com a do reino de Deus.

Sugiro, para finalizar, o vídeo a seguir, de Moisés Brasil Maciel, que destaca a pessoa de Karl Barth, como um dos ícones da fé protestante não só durante a primeira, como também durante a segunda grande guerra.




Notas / Referências bibliográficas:

  • [2] GONZÁLEZ, Justo L. E até aos confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo: a era inconclusa – Vol. 10. São Paulo: Vida Nova, 1995, pág. 065 a 080. In: <O Protestantismo na Europa>. Acesso em: 07/11/2023.

25 outubro 2023

Humanismo Secular

Humanismo Secular

Por David W. Gill

Secularismo [1]


Na epístola de 2Coríntios (4.4) encontramos a expressão “deus deste século”, uma referência que sabemos, pelo contexto, tratar-se de um deus (com “d” minúsculo) capaz de cegar o entendimento das pessoas neste momento ou nesta forma de existência atual. Em Tito, Paulo afirma também que este “presente século” é cercado de impiedade, concupiscências mundanas etc., vícios que devemos renunciá-los(2.12). É neste sentido que gostaria de refletir sobre dois termos “secularização” e “laicização”, palavras similares que destacaremos em duas postagens.

Nesta, quero fazer uso quase na íntegra e com algumas notas adicionais, do texto de David W. Gill [2], e, no final, insiro para nossa reflexão o vídeo "Desafios para o Jovem Cristão em uma sociedade secularizada".

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Humanismo secular é o modo de vida e de pensamento que é seguido sem referência a Deus ou à religião. A raiz latina saeculum referia-se a uma geração ou a uma era. "Secular" velo a significar "pertencente a esta era, mundana" [3]. Em termos gerais, o secularismo envolve uma afirmação das realidades imanentes deste mundo, lado a lado com uma negação ou exclusão das realidades transcendentes do outro mundo. É uma cosmovisão e um estilo de vida que se inclina para o profano mais do que para o sagrado, o natural mais do que o sobrenatural. O secularismo é uma abordagem não-religiosa da vida individual e social.

Historicamente, "secularização" referia-se primeiramente ao processo de transferir os bens da jurisdição eclesiástica para o estado ou outra autoridade não-eclesiástica. Nesse sentido institucional, "secularização ainda significa a redução da autoridade religiosa formal (e.g., na educação). A secularização institucional tem sido alimentada pelo colapso de um cristianismo unificado desde a reforma [4], por um lado, e pela racionalização [5] cada vez maior da sociedade e da cultura desde o Iluminismo até à sociedade tecnológica moderna, por outro. Alguns analistas preferem o termo “laicização” [assunto que abordaremos num outro momento] para descrever essa secularização institucional da sociedade, ou seja, a substituição do controle religioso oficial pela autoridade não-eclesiástica.

Uma segunda maneira de se entender "secularização está ligada a uma mudança nos modos de pensar e viver, para longe de Deus e em direção a este mundo. O humanismo renascentista [6], o racionalismo iluminista [7], o poder e a influência cada vez maiores da ciência, o colapso das estruturas tradicionais (e.g., da família, da igreja, da vizinhança), a teorização da sociedade e a competição oferecida pelo nacionalismo, o evolucionismo e o marxismo, todos têm contribuído para aquilo que Max Weber chamou de “desencantamento” do mundo moderno.

Embora as secularizações institucional e ideológica tenham avançado simultaneamente no decurso destes últimos séculos, o relacionamento entre as duas não é causalmente exato nem necessário. Sendo assim, até mesmo num ambiente medieval, constantiniano, formalmente religioso no seu caráter, os homens e mulheres não estavam imunes a terem sua vida, seu pensamento e sua obra moldados por considerações seculares deste mundo. Da mesma forma, numa sociedade institucionalmente secularizada (laicizada) é possível aos indivíduos e grupos viverem, pensarem e trabalharem de modos que são motivados e orientados por Deus e por considerações religiosas.

A secularização, portanto, é um fato histórico, e tem seus prós e contras. O secularismo, no entanto, como uma filosofia abrangente da vida, expressa um entusiasmo sem reservas pelo processo da secularização em todas as esferas da vida. O secularismo carrega uma falha fatal pelo seu conceito reducionista da realidade, que nega e exclui Deus e o sobrenatural numa fixação míope naquilo que é imanente e natural. Na discussão contemporânea, o secularismo e o humanismo são frequentemente vistos como uma só dupla que forma o humanismo secular – uma abordagem da vida e da sociedade que glorifica a criatura e rejeita o Criador. O secularismo, como tal, constitui-se num rival do cristianismo.

Os teólogos e filósofos cristãos têm se engalfinhado com o significado e o impacto da secularização. Friedrich Schleiermacher [8] foi o primeiro teólogo que procurou fazer uma formulação radical do cristianismo em termos dos temas humanistas e racionalistas da Renascença e do Iluminismo. Embora seus esforços tenham sido brilhantes e extremamente influentes no desenvolvimento da teologia, os seus críticos fizeram a acusação de que Schleiermacher, ao invés de salvar o cristianismo, traiu aspectos cruciais da fé ao redefinir a religião em termos de sentimentos de dependência humana.

Nenhuma discussão contemporânea do cristianismo e do secularismo pode deixar de lidar com as Cartas e Papéis da Prisão escritas por Dietrich Bonhoeffer. Primeiramente pelo fato de a obra ser fragmentária e incompleta, os conceitos de Bonhoeffer tais como o “mundanismo cristão”, o “homem que ficou maior de idade”, e a necessidade de uma “interpretação não-religiosa da terminologia bíblica” têm sido sujeitados a debates calorosos quanto ao seu significado e às suas implicações. Friedrich Gogatten (The Reality of Faith – “A Realidade da Fé” – 1959), Paul van Buren (The Secular Meaning of the Gospel – “O significado Secular do Evangelho” – 1963), Harvey Cox (A Cidade do Homem – 1965), Ronald Gregor Smith (Secular Christianity – "O Cristianismo Secular – 1966), e os teólogos da “morte de Deus" são exemplos daqueles que seguiram o único rumo possível ao reformular o cristianismo em termos de um mundo secular, Kenneth Hamilton (Life in One's Stride – "Levando a Vida – 1968) nega que esta seja a melhor maneira de interpretar Bonhoeffer, e argumenta que aquele teólogo alemão nunca vacilou na sua convicção básica e ortodoxa.

Embora as discussões entre os teólogos durante as décadas de 1950 e de 1960 tendessem a focalizar a adaptação da teologia cristã à secularização, as décadas de 1970 e de 1980 testemunharam uma nova resistência vigorosa ao secularismo em muitos ambientes. Jacques Ellul (The New Demons – "Os Novos Demônios – 1975 foi uma das muitas vozes que argumentaram que o secularismo por si só era uma forma de religião, e que era antagonista tanto do cristianismo quanto do humanismo cristão verdadeiro. Francis A. Schaeffer (How Should We Then Live? – "Como, pois, Devemos Viver? – 1976) e outros fundamentalistas e evangélicos conservadores atacaram o humanismo secular como o grande inimigo contemporâneo da fé cristã.

Da perspectiva da teologia bíblica cristã, o secularismo é culpado porque "mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador” (Rm 1.25). Tendo excluído o Deus transcendente como o absoluto e o objeto da adoração, o secularista inexoravelmente torna o mundo do homem e da natura absoluto, e objeto da adoração. Em termos bíblicos, o Deus sobrenatural criou o mundo e sustenta a sua existência. Este mundo (o saeculum) tem valor porque Deus o criou, continua a preservá-lo, e age para redimi-lo. Embora Deus seja Senhor da história e do universo, Ele não pode ser identificado com um ou outro (o panteísmo). Homens e mulheres existem em liberdade e responsabilidade diante de Deus e para o mundo. Mordomia e parceria definem o relacionamento que o homem tem com Deus e o mundo.

O caráter sacro e teocrático do Israel antigo é modificado com a vinda de Cristo. Com a obra de Cristo, a cidade e a nação são secularizadas (dessacralizadas), e a Igreja, como templo do Espirito Santo, agora é sacralizada. O relacionamento entre a Igreja e a sociedade ao redor não é definido em termos de uma missão no sentido de dessacralizar a sociedade pela imposição de um governo eclesiástico sobre ela. O relacionamento é de serviço e testemunho, de proclamação e cura, tudo com amor. Nesse sentido, pois, a secularização da sociedade é uma vocação cristã. Isto quer que a sociedade não deve ser considerada divina ou absoluta, mas uma coisa histórica e relativa. Somente Deus é sagrado e absoluto de modo final. Reestabelecer a natureza sagrada de Deus, no entanto, importará em atribuir a este mundo seu valor correto e relativo.

É claro que a distinção entre o sagrado e o secular não é um abismo que não possa ser ligado. Da mesma maneira que Deus fala e age no saeculum, os cristãos devem falar e agir de modo criador e redentor. Isto importa em não abandonar o mundo secular ao secularismo. Em todas as circunstâncias, a vida cristã no mundo secular deve ser vivida sob o senhorio de Jesus Cristo e em obediência à vontade de Deus e não à vontade do mundo. E em situações tais como as que existem nos Estador Unidos onde o povo em geral pode votar e é convidado a dar sua opinião na política, na educação pública, nos serviços sociais e assim por diante, os cristãos podem ser operantes para garantir que a Palavra de Deus seja ouvida e tenha seu devido lugar entre as muitas outras vozes que constituirão a totalidade heterogênea. Insistir que a Palavra de Deus deva ser imposta a todos sem exceção é cair de novo no autoritarismo antibíblico. Deixar de articular a Palavra de Deus no saeculum, no entanto, é ceder diante de um secularismo que, ao excluir o Criador, somente poderá levar à morte.

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Notas / Destaques:

  • [2David W. Gill: “PhD na Universidade do Sul da Califórnia. Deão e Professor Adjunto de Ética Cristã, New College Berkeley, Califórnia, EUA”. O texto Secular, Humanismo Secular, a seguir, é uma contribuição à Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, (Vide Referência bibliográfica).

  • [3Século ou geração (cf 2Co 4.4) estão relacionados à este geração mundana e a frase "deus deste mundo" (ou "deus deste século") “… indica que Satanás é a maior influência sobre os ideais, opiniões, metas, desejos e pontos de vista da maioria das pessoas. Sua influência também abrange filosofias, educação e comércio mundiais. Os pensamentos, ideias, especulações e falsas religiões do mundo estão sob o seu controle e surgiram a partir de suas mentiras e enganos…” (in: <Como Satanás é o deus deste mundo…?>. Acesso em: 24/10/2023.

  • [4Um dos pontos doutrinários por Lutero, o principal reformador protestante é o livre exma de Bíblia. Este princípio trouxe pontos positivos, mas também o risco de uma série de interpretações errôneas acerca de alguns dogmas ou doutrinas do cristianismo. O sola scriptura, por exemplo, foi e é motivo de críticas por parte da Igreja Católica aos protestantes, além da sociedade intelectual secularizada.

  • [5O pai do racionalismo é René Descartes, que com seu slogan “penso, logo existo” tentou incutir na mente das pessoas a ideia de tudo analisar pela busca da razão. A Igreja Católica chega até proibir alguns de seus livros, em especial Meditações metafísicas, por adentrar em assuntos teológicos que contrariavam os ensinamentos da Igreja. Parte de um texto que li há mais de 40 anos atrás, de Colin Brown, diz: “… Num dos seus momentos mais especulativos, o Arcebispo William Temple certa vez foi tentado a perguntar a si mesmo qual foi o momento mais desastroso na história da Europa. A resposta que lhe ocorreu foi: o dia em que Descartes se encerrou na sua estufa [quando escreveu sua principal obra ‘Discurso do método’]. Ao dizer isto, Temple não estava pensando tanto no conceito que Descartes tinha de Deus, mas, sim, na tendência à qual deu início no pensamento europeu…” (BROWN, Colin. São Paulo: Vida Nova, 1985, pág. 39/40.

  • [6] Ênfase no papel do homem como personagem central da arte, literatura, ciência etc., que o racionalismo, mais à frente, dá continuidade...

  • [7] “Embora a descrença na existência de Deus seja percebida no mundo em todas as épocas, o ateísmo se tornou mais evidente a partir do nascimento do iluminismo, movimento que contribui para a elevação da ciência e consequente enfraquecimento da religião.” (In: <Ateísmo moderno>. Acesso em:25/10/2023.

  • [8Nos campos Filosófico-Teológicos, Schleiermacher é chamado de “pai do liberalismo”. “À luz de seus pressupostos filosóficos fundamentais, bem como dos reflexos desses mesmos pressupostos sobre sua teologia, pode-se vislumbrar as bases do liberalismo que, desenvolvendo-se desde os tempos do Iluminismo, passou a representar uma forte ameaça contra a ortodoxia até os nossos dias…”.In: <O Tríplice Fundamento Filosófico da Teologia de Schleiermacher/>. Acesso em: 25/10/2023.


Fonte:

  • GILL, David. W. Secular, Humanismo Secular. São Paulo. In: In: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. III. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág. 364 a 366 (Texto adaptado).
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Veja também o vídeo a seguir:


21 outubro 2023

Bispos e Papas: (2) Anacleto

 

Bispos e Papas: (2) Anacleto

Por: Alcides Barbosa de Amorim

Bispo Anacleto [1]

Prosseguindo nossa tarefa de breves estudos acerca dos bispos e/ou papas, quero destacar neste post a pessoa de Anacleto, também chamado de Cleto ou Anencleto. Consideraremos o primeiro nome, Anacleto, para todos os efeitos.

Como já dissemos no post O Bispo Lino, consideraremos o papado a partir de Leão I (440-461). Antes disso, ficamos apenas com o título de bispos romanos àqueles “papas”, tidos pela Igreja Católica como sucessores de Pedro.

Sobre Anacleto, encontramos na História Eclesiástica de Eusébio que “depois que Vespasiano reinou cerca de dez anos, foi sucedido por seu filho Tito”1, e que no “segundo ano de seu reinado, Lino, bispo da igreja de Roma, que se mantivera no ofício por cerca de doze anos, transferiu-o a Anencleto…” (Idem). No capítulo XIV, Eusébio afirma que Anacleto foi bispo de Roma “durante doze anos”.

Vale destacar que no primeiro século do cristianismo, que também é o de Anacleto, não havia padrão uniforme de organização eclesiástica. “Algumas Igrejas eram governadas por grupos de presbíteros ou bispos, auxiliados pelos diáconos”2. Estes bispos eram pastores que dirigiam cada qual a sua igreja e não várias, como ocorre no século II. Em meados do deste século (II), “… começou a surgir uma organização que depois veio a ser conhecida como Igreja Católica. O termo ‘católica’ quer dizer universal. Esta foi uma federação ou associação de igrejas que eram ligadas por um acordo formal, com três aspectos…” (Idem, pág. 47): 1) unidade espiritual e também exterior, numa só forma forma de governo centralizada na pessoa de um bispo; 2) adoção de um só credo, substancialmente o Credo dos Apóstolos; e 3) adoção de uma só coleção de livros do Novo Testamento. 

Como Anacleto viveu ainda no primeiro século antes da padronização ou “catolização” eclesiástica, entendemos que ele era um líder sem a importância ou destaque que a Igreja Católica lhe atribui. As informações a seguir3 sobre sua pessoa são encontradas em bibliografia católica. Segundo informado, por exemplo, pela Arquidiocese de São Paulo, sobre Anacleto:

  • seus dados biográficos se embaralharam ao serem transcritos século após século;

  • teve sua vida contada como se ele "fosse dois": papa Anacleto e papa Cleto;

  • governou entre os anos 76 e 88;

  • nasceu em Roma e, durante o seu pontificado, o imperador Domiciano desencadeou a segunda perseguição contra os cristãos;

  • mandou construir uma memória, isto é, um pequeno templo na tumba de São Pedro;

  • morreu mártir no ano 88 e foi sepultado ao lado de São Pedro, sendo substituído por Clemente I (88-97)…

Bem, não se sabe a data do nascimento de Anacleto, mas de sua morte, ocorrida em 92, e que foi bispo entre parte nos anos 70 e 80, é possível – ou não – que ele tenha conhecido o apóstolo Pedro, Paulo, João e outros, no entanto não temos registros sobre isto nem seu nome aparece nos escritos bíblicos. Ele entra na lista dos papas inserida no Liber Pontificalis, uma obra publicada por volta de 536, que trata sobre uma biografia dos “papas” de Pedro até Estêvão V, no século XV4. Mas sua posição de bispo, como representante direto de Deus e da Igreja como vai dizer Inácio de Antioquia, vai aparecer provavelmente um pouco depois de sua morte. Segundo Inácio “..., pois é evidente que temos de respeitar o bispo da mesma maneira como respeitamos o próprio Senhor"5, posição que ocupa o início do clericalismo e da sucessão apostólica que tem início em meados do século seguinte.

Veja também:


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] CESAREIA, Eusébio de. História Eclesiástica: os primeiros quatro séculos da Igreja Cristã, (Livro 3, Cap. XIII).

  • [2] NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2000, pag. 46/47.

14 outubro 2023

Sionismo e sionismo cristão

 Sionismo e sionismo cristão

Por Alcides B. de Amorim



Sobre a relação da Igreja e a sociedade mundial com Israel, já destacamos aqui algumas postagens, como: A Igreja e Israel no Novo Testamento; Semitismo, Antissemitismo e Xenofobia; As Setenta Semanas de Daniel… e agora destaco o que é sionismo e porque a maioria dos cristãos o defende. E para tanto, quero utilizar os textos quase na íntegra de D. A. Rausch [1], um resumo de Fritz May e o vídeo de Marcos Granconato.

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1. O que é sionismo


Este termo [sionismo] refere-se à filosofia da restauração do povo judeu a "Sião”, que no começo da história judaica era identificado com Jerusalém. Depois de os romanos expulsarem os judeus de Jerusalém em 135 d.C., essa ideia de "Sião" nunca se separou completamente do pensamento judaico, e as orações dos judeus (tanto individuais como coletivas) enfatizavam o desejo de voltarem à sua pátria. O judeu religioso sonhava com um período final de derradeira libertação da sua dispersão entre as nações e de uma volta à Terra Prometida. Um pequeno número de judeus sempre tinha permanecido na Palestina, e os números foram aumentados pelos refugiados da Inquisição Espanhola em 1492. Apesar disso, para muitos judeus, a noção de uma volta física para a Palestina parecia um sonho ilusório e até mesmo impossível.

Durante o século XIX, a ascensão da literatura hebraica, do nacionalismo judaico, e, principalmente, de um novo surto de anti-semitismo, estimulou grupo como Hoveve Zion (“Amantes de Sião") a levantarem recursos financeiros para os judeus que se estabeleciam na Palestina. Os pogroms na Rússia czarista depois de 1881 tiveram como resultado milhares de refugiados tomados pelo pânico, que perceberam que a Palestina seria seu melhor lugar de refúgio. As colonias agrícolas eram patrocinadas, também, por benfeitores como o Barão Edmond de Rothschild.

O sionismo pré-moderno enfatizava um tema religioso e uma colonização pacifica do território. Com a publicação de Der Juden-staat ("O Estado Judaico") por Theodor-Herzl em 1896, no entanto, nasceu o sionismo politico e, com ele, o conceito moderno do sionismo. Abriu-se uma nova era na história Judaica quando Herzl, um jornalista austríaco, deixou a defesa da assimilação Judaica adotando a crença de que o anti-semitismo seria inevitável enquanto a maioria do povo judaico vivesse fora da sua pátria. Ele expunha esforços políticos, econômicos e técnicos que, segundo acreditava, eram necessários para criar um Estado judaico que funcionasse. O primeiro Congresso Sonista reuniu-se em 1897, e mais de duzentos delegados do mundo inteiro adotaram o Programa de Basileia. Esse programa ressaltava que o sionismo queria criar uma pátria legalizada na Palestina para o povo judeu, e que promoveria a colonização, criaria organizações mundiais para unir os judeus, fortaleceria a consciência nacional judaica e obteria o consentimento dos governos do mundo.

O pensamento de Herzl era puramente secular; na realidade, ele era agnóstico. A maioria dos seus seguidores, no entanto, eram judeus ortodoxos, do sudeste da Europa, e embora Herzl se opusesse a transformar o sionismo numa sociedade cultural, religiosa ou de colonização gradativa, fez concessões a seus defensores. Essa aliança frágil indica as muitas facetas do sionismo durante o século XX. Para Herzl, o alvo principal do sionismo era obter uma carta magna politica que concedesse aos judeus os direitos de soberania na sua pátria. Pouco depois da sua morte em 1904, aproximadamente setenta mil judeus já tinham se estabelecido na Palestina. Uma maioria (pelo menos 60 por cento) habitavam nas cidades. O sionismo foi transformado num movimento de massa e poder politico durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1917, os britânicos promulgaram a Declaração Balfour [2], que favoreceu o estabelecimento de um lar nacional dos judeus na Palestina.

O sionismo era um movimento minoritário e encontrava oposição mesmo dentro da comunidade judaica. O Judaísmo Reformado dos Estados Unidos, por exemplo, acreditava que os judeus não tinham condições de enfrentar os rigores da Palestina, onde grassavam a fome e a peste. Além disso, alegavam que a Palestina já não era um país judaico, e que os Estados Unidos representavam "Sião". Segundo esses judeus não-sionistas, o sionismo estava lesando a harmonia do judaísmo e apenas servia para provocar a inimizade dos russos. Somente o horror do assassinato em massa de cem mil judeus por unidades do exército russo entre 1919 e 1921, e, finalmente, o horror do holocausto nazista durante a Segunda Guerra Mundial, quando foram exterminados seis milhões de judeus, reuniu os sionistas e os não-sionistas no apoio à Palestina como uma república judaica – um porto seguro para os perseguidos e os desabrigados. Em novembro de 1947, um plano de dividir a região para criar um estado judaico, endossado tanto pelos Estados Unidos como pela União Soviética, foi adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas. O Estado de Israel foi formalmente reconhecido 14 de maio de 1948, quando terminou o domínio britânico. À medida que o novo Estado se fortalecia, a definição do sionismo, e aquilo que deve ser seus alvos propósitos atuais, têm sido debatidos calorosamente dentro da própria Organiza Sionista Mundial. A partir de 1968, a ênfase da aliyah (a migração pessoal para Israel) tem sido entendido por muitos como um alvo final, ainda que controvertido.

O sionismo tem sido ajudado nos séculos XIX e XX pelos "sionistas cristãos”. Por causa da sua escatologia pré-milenista, os evangélicos fundamentalistas têm dado apoio especial ao retorno do povo judaico a Israel, e ao próprio Israel no século XX.

2. Sionismo Cristão

Os cristãos têm desempenhado um papel importante no apoio ao retorno do povo judeu a "Sião". Dentro da tradição milenista, a convicção de que s judeus voltariam à Palestina veio a ser um dogma importante. À medida que pré-milenismo foi conquistando terreno durante o século XIX, formando o coração do movimento fundamentalista antigo, os adeptos não somente acreditavam que o povo Judeu voltaria, como também se pronunciavam abertamente a favor do direto de os judeus serem reconduzidos à sua pátria original. Até mesmo antes de Der Judenstaat de Theodor Herzl, o evangélico fundamenta-lista William E._Blackstone [3] propunha o reestabelecimento de um Estado Judaico e circulou uma petição conclamando os Estados Unidos a devolverem a terra da Palestina ao povo judeu. A Petição de Blackstone de 1891 foi assinada por 413 líderes cristãos e judeus de destaque, e foi distribuída às principais nações do mundo através do Departamento do Estado. Durante a Primeira Guerra Mundial, Blackstone persuadiu o Presidente Woodrow Wilson a fazer mais uma petição, e em 1918 foi convidado a falar diante de uma concentração sionista em Los Angeles.

Outros cristãos, tais como William H. Hechler, amigo intimo de Herzl, trabalhavam diligentemente para promover o sionismo político como a solução final para a questão judaica. Hechler tentava encorajar chefes de estados (inclusive o sultão turco que controlava a Palestina) a apoiarem as propostas de Herzl, e acompanhou Herzi à Palestina em 1898 para um encontro com o kaiser. O apoio de tais sionistas cristãos em muitos países influenciou a ação politica, e mesmo a Declaração Balfour de 1917 foi o resultado de atividade religiosa e não apenas politica. Os sionistas cristãos, como indivíduos, provinham de uma ampla gama de tradições teológicas. Até mesmo o protestantismo liberal, que historicamente se opunha ao sionismo, contribuiu com clérigos através de organizações como o Concilio Cristão para a Palestina durante a Segunda Guerra Mundial.

Ainda assim, são os evangélicos fundamentalistas que, por causa da sua escatologia pré-milenista, têm dado mais apoio à restauração do povo judeu à terra de Israel, e à própria nação de Israel no século XX. Na sua revista Our Hope ("Nossa Esperança"), Arno C. Gaebelein defendia, desde 1894 até 1945, não somente o retorno do povo judeu à Palestina, como também que eles tinham um direito inerente de posse aquela terra. Quando Israel tornou-se um Estado em 1948, os cristãos que enfatizavam as profecias consideravam que se tratava de um milagre de Deus. Na década de 1960 o protestantismo liberal fazia apelos a favor da "internacionalização" da cidade de Jerusalém, mas o evangélico fundamentalista declarava que a Bíblia a dava ao povo judeu. Depois da Guerra de Seis Dias em 1967, a Concilio Nacional de Igrejas condenou o fato de Israel ter anexado a Cidade Velha de Jerusalém. Por outro lado, os evangélicos fundamentalistas regozijavam-se e insistiam que Deus tinha feito com que o povo Judaico saísse vencedor, a despeito da opressão e dos obstáculos impostos pelo mundo.

Em 30 de outubro de 1977, Billy Graham deu destaque a décadas de apoio a Israel, ao fazer uma preleção diante da reunião do Conselho Executivo Nacional do Comitê Judaico Norte-Americano, quando conclamou os Estados Unidos a se rededicar à existência e à segurança de Israel. No Congresso Bicentenário da Profecia em Filadélfia no ano anterior, uma proclamação que apoiava Israel tinha sido assinada por onze evangélicos fundamentalistas de destaque. Recebeu, então, sete mil assinaturas adicionais rapidamente, e foi apresentada ao embaixador do Estado de Israel. Declarações de apoio também tem aparecido em anúncios de páginas inteiras nos jornais – vários no jornal New York Times.

Esse inequívoco sionismo cristão não tem passado sem receber ataques. Tem sido criticado mesmo dentro do evangelicalismo, como uma filosofia politica errônea baseada numa interpretação espúria da Bíblia que declara que a Palestina moderna é o território especial dos judeus. Esses criticos argumentam que o sionismo cristão desconsidera totalmente os direitos do povo árabe palestino, e que os judeus, já há muito tempo, perderam seu direito à Terra Prometida por causa da sua infidelidade.

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O que são sionistas cristãos (destaques)?

“Sionistas cristãos são pessoas:

  • que creem no Senhor Jesus Cristo.
  • que têm raízes espirituais inseparavelmente ligadas com o povo de Israel.
  • que promovem e incentivam a volta do povo judeu a Sião com todos os meios disponíveis (oração, recursos, diálogo).
  • que amam e visitam Jerusalém e a terra de Israel (Sião), para aprofundarem a sua fé e sua relação com Israel.
  • que se empenham pelo direito à existência do povo e da terra de Israel entre o Mediterrâneo e o Jordão e que demonstram amor e solidariedade para com pessoas judias (Is 62.1ss).

Um pouco mais sobre a base do sionismo, em:


Notas:

  • [1David A. Rausch: Professor PhD na Universidade Estadual de Kent. Professor de História Eclesiástica, Universidade de Guelph, Ontário, Canadá. "Ele serviu como presidente do Departamento de História e Ciência Política da Ashland University… e escreveu centenas de artigos e pelo menos trinta e nove livros”. O texto a seguir é uma contribuição à Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã (Vide Referência bibliográfica).

  • [2] Leia mais aqui sobre a Declaração de Balfour, documento “… em que os britânicos comprometeram-se a criar um lar para os judeus - por isso, ele pode ser usado como um marco para o início da formação do Estado de Israel...”.

  • [3] Na Petição de 1891 Blackstone comentou, em relação aos judeus: “Por que não lhes devolver a Palestina? De acordo com a distribuição das nações feita por Deus, a Palestina é a sua terra natal — uma possessão inalienável da qual eles foram expulsos à força. Quando eles a cultivavam, era uma terra extraordinariamente frutífera que sustentava milhões de israelitas; eles diligentemente lavravam as suas encostas e vales. Eram agricultores e produtores, bem como se constituíam numa nação de grande importância comercial — o centro da civilização e da religião [...] Cremos que este é o momento adequado para que todas as nações, principalmente as nações cristãs da Europa, demonstrem benevolência para com Israel. Um milhão de exilados que, devido ao seu terrível sofrimento, imploram, de forma comovente, a nossa compaixão, justiça e humanidade. Restauremos-lhes agora a terra da qual eles tão cruelmente foram despojados pelos nossos ancestrais Romanos". In: <Blackstone e o Sionismo cristão>. Acesso em 12/10/2023.


Referência bibliográfica:

  • RAUSCH, David A. Sionismo / Sionismo Cristão. In: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. III. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág. 400 a 403 (Texto adaptado).

Campo 14 – bebês mortos a pauladas, fome e execuções: a vida em um campo de concentração norte-coreano

P or J ones R ossi  [ 1 ] Uma aula no Campo 14   Os  professores do Campo 14 eram guardas uniformizados:  tratados por Shin no desenho acima...