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14 outubro 2023

Sionismo e sionismo cristão

 Sionismo e sionismo cristão

Por Alcides B. de Amorim



Sobre a relação da Igreja e a sociedade mundial com Israel, já destacamos aqui algumas postagens, como: A Igreja e Israel no Novo Testamento; Semitismo, Antissemitismo e Xenofobia; As Setenta Semanas de Daniel… e agora destaco o que é sionismo e porque a maioria dos cristãos o defende. E para tanto, quero utilizar os textos quase na íntegra de D. A. Rausch [1], um resumo de Fritz May e o vídeo de Marcos Granconato.

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1. O que é sionismo


Este termo [sionismo] refere-se à filosofia da restauração do povo judeu a "Sião”, que no começo da história judaica era identificado com Jerusalém. Depois de os romanos expulsarem os judeus de Jerusalém em 135 d.C., essa ideia de "Sião" nunca se separou completamente do pensamento judaico, e as orações dos judeus (tanto individuais como coletivas) enfatizavam o desejo de voltarem à sua pátria. O judeu religioso sonhava com um período final de derradeira libertação da sua dispersão entre as nações e de uma volta à Terra Prometida. Um pequeno número de judeus sempre tinha permanecido na Palestina, e os números foram aumentados pelos refugiados da Inquisição Espanhola em 1492. Apesar disso, para muitos judeus, a noção de uma volta física para a Palestina parecia um sonho ilusório e até mesmo impossível.

Durante o século XIX, a ascensão da literatura hebraica, do nacionalismo judaico, e, principalmente, de um novo surto de anti-semitismo, estimulou grupo como Hoveve Zion (“Amantes de Sião") a levantarem recursos financeiros para os judeus que se estabeleciam na Palestina. Os pogroms na Rússia czarista depois de 1881 tiveram como resultado milhares de refugiados tomados pelo pânico, que perceberam que a Palestina seria seu melhor lugar de refúgio. As colonias agrícolas eram patrocinadas, também, por benfeitores como o Barão Edmond de Rothschild.

O sionismo pré-moderno enfatizava um tema religioso e uma colonização pacifica do território. Com a publicação de Der Juden-staat ("O Estado Judaico") por Theodor-Herzl em 1896, no entanto, nasceu o sionismo politico e, com ele, o conceito moderno do sionismo. Abriu-se uma nova era na história Judaica quando Herzl, um jornalista austríaco, deixou a defesa da assimilação Judaica adotando a crença de que o anti-semitismo seria inevitável enquanto a maioria do povo judaico vivesse fora da sua pátria. Ele expunha esforços políticos, econômicos e técnicos que, segundo acreditava, eram necessários para criar um Estado judaico que funcionasse. O primeiro Congresso Sonista reuniu-se em 1897, e mais de duzentos delegados do mundo inteiro adotaram o Programa de Basileia. Esse programa ressaltava que o sionismo queria criar uma pátria legalizada na Palestina para o povo judeu, e que promoveria a colonização, criaria organizações mundiais para unir os judeus, fortaleceria a consciência nacional judaica e obteria o consentimento dos governos do mundo.

O pensamento de Herzl era puramente secular; na realidade, ele era agnóstico. A maioria dos seus seguidores, no entanto, eram judeus ortodoxos, do sudeste da Europa, e embora Herzl se opusesse a transformar o sionismo numa sociedade cultural, religiosa ou de colonização gradativa, fez concessões a seus defensores. Essa aliança frágil indica as muitas facetas do sionismo durante o século XX. Para Herzl, o alvo principal do sionismo era obter uma carta magna politica que concedesse aos judeus os direitos de soberania na sua pátria. Pouco depois da sua morte em 1904, aproximadamente setenta mil judeus já tinham se estabelecido na Palestina. Uma maioria (pelo menos 60 por cento) habitavam nas cidades. O sionismo foi transformado num movimento de massa e poder politico durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1917, os britânicos promulgaram a Declaração Balfour [2], que favoreceu o estabelecimento de um lar nacional dos judeus na Palestina.

O sionismo era um movimento minoritário e encontrava oposição mesmo dentro da comunidade judaica. O Judaísmo Reformado dos Estados Unidos, por exemplo, acreditava que os judeus não tinham condições de enfrentar os rigores da Palestina, onde grassavam a fome e a peste. Além disso, alegavam que a Palestina já não era um país judaico, e que os Estados Unidos representavam "Sião". Segundo esses judeus não-sionistas, o sionismo estava lesando a harmonia do judaísmo e apenas servia para provocar a inimizade dos russos. Somente o horror do assassinato em massa de cem mil judeus por unidades do exército russo entre 1919 e 1921, e, finalmente, o horror do holocausto nazista durante a Segunda Guerra Mundial, quando foram exterminados seis milhões de judeus, reuniu os sionistas e os não-sionistas no apoio à Palestina como uma república judaica – um porto seguro para os perseguidos e os desabrigados. Em novembro de 1947, um plano de dividir a região para criar um estado judaico, endossado tanto pelos Estados Unidos como pela União Soviética, foi adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas. O Estado de Israel foi formalmente reconhecido 14 de maio de 1948, quando terminou o domínio britânico. À medida que o novo Estado se fortalecia, a definição do sionismo, e aquilo que deve ser seus alvos propósitos atuais, têm sido debatidos calorosamente dentro da própria Organiza Sionista Mundial. A partir de 1968, a ênfase da aliyah (a migração pessoal para Israel) tem sido entendido por muitos como um alvo final, ainda que controvertido.

O sionismo tem sido ajudado nos séculos XIX e XX pelos "sionistas cristãos”. Por causa da sua escatologia pré-milenista, os evangélicos fundamentalistas têm dado apoio especial ao retorno do povo judaico a Israel, e ao próprio Israel no século XX.

2. Sionismo Cristão

Os cristãos têm desempenhado um papel importante no apoio ao retorno do povo judeu a "Sião". Dentro da tradição milenista, a convicção de que s judeus voltariam à Palestina veio a ser um dogma importante. À medida que pré-milenismo foi conquistando terreno durante o século XIX, formando o coração do movimento fundamentalista antigo, os adeptos não somente acreditavam que o povo Judeu voltaria, como também se pronunciavam abertamente a favor do direto de os judeus serem reconduzidos à sua pátria original. Até mesmo antes de Der Judenstaat de Theodor Herzl, o evangélico fundamenta-lista William E._Blackstone [3] propunha o reestabelecimento de um Estado Judaico e circulou uma petição conclamando os Estados Unidos a devolverem a terra da Palestina ao povo judeu. A Petição de Blackstone de 1891 foi assinada por 413 líderes cristãos e judeus de destaque, e foi distribuída às principais nações do mundo através do Departamento do Estado. Durante a Primeira Guerra Mundial, Blackstone persuadiu o Presidente Woodrow Wilson a fazer mais uma petição, e em 1918 foi convidado a falar diante de uma concentração sionista em Los Angeles.

Outros cristãos, tais como William H. Hechler, amigo intimo de Herzl, trabalhavam diligentemente para promover o sionismo político como a solução final para a questão judaica. Hechler tentava encorajar chefes de estados (inclusive o sultão turco que controlava a Palestina) a apoiarem as propostas de Herzl, e acompanhou Herzi à Palestina em 1898 para um encontro com o kaiser. O apoio de tais sionistas cristãos em muitos países influenciou a ação politica, e mesmo a Declaração Balfour de 1917 foi o resultado de atividade religiosa e não apenas politica. Os sionistas cristãos, como indivíduos, provinham de uma ampla gama de tradições teológicas. Até mesmo o protestantismo liberal, que historicamente se opunha ao sionismo, contribuiu com clérigos através de organizações como o Concilio Cristão para a Palestina durante a Segunda Guerra Mundial.

Ainda assim, são os evangélicos fundamentalistas que, por causa da sua escatologia pré-milenista, têm dado mais apoio à restauração do povo judeu à terra de Israel, e à própria nação de Israel no século XX. Na sua revista Our Hope ("Nossa Esperança"), Arno C. Gaebelein defendia, desde 1894 até 1945, não somente o retorno do povo judeu à Palestina, como também que eles tinham um direito inerente de posse aquela terra. Quando Israel tornou-se um Estado em 1948, os cristãos que enfatizavam as profecias consideravam que se tratava de um milagre de Deus. Na década de 1960 o protestantismo liberal fazia apelos a favor da "internacionalização" da cidade de Jerusalém, mas o evangélico fundamentalista declarava que a Bíblia a dava ao povo judeu. Depois da Guerra de Seis Dias em 1967, a Concilio Nacional de Igrejas condenou o fato de Israel ter anexado a Cidade Velha de Jerusalém. Por outro lado, os evangélicos fundamentalistas regozijavam-se e insistiam que Deus tinha feito com que o povo Judaico saísse vencedor, a despeito da opressão e dos obstáculos impostos pelo mundo.

Em 30 de outubro de 1977, Billy Graham deu destaque a décadas de apoio a Israel, ao fazer uma preleção diante da reunião do Conselho Executivo Nacional do Comitê Judaico Norte-Americano, quando conclamou os Estados Unidos a se rededicar à existência e à segurança de Israel. No Congresso Bicentenário da Profecia em Filadélfia no ano anterior, uma proclamação que apoiava Israel tinha sido assinada por onze evangélicos fundamentalistas de destaque. Recebeu, então, sete mil assinaturas adicionais rapidamente, e foi apresentada ao embaixador do Estado de Israel. Declarações de apoio também tem aparecido em anúncios de páginas inteiras nos jornais – vários no jornal New York Times.

Esse inequívoco sionismo cristão não tem passado sem receber ataques. Tem sido criticado mesmo dentro do evangelicalismo, como uma filosofia politica errônea baseada numa interpretação espúria da Bíblia que declara que a Palestina moderna é o território especial dos judeus. Esses criticos argumentam que o sionismo cristão desconsidera totalmente os direitos do povo árabe palestino, e que os judeus, já há muito tempo, perderam seu direito à Terra Prometida por causa da sua infidelidade.

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O que são sionistas cristãos (destaques)?

“Sionistas cristãos são pessoas:

  • que creem no Senhor Jesus Cristo.
  • que têm raízes espirituais inseparavelmente ligadas com o povo de Israel.
  • que promovem e incentivam a volta do povo judeu a Sião com todos os meios disponíveis (oração, recursos, diálogo).
  • que amam e visitam Jerusalém e a terra de Israel (Sião), para aprofundarem a sua fé e sua relação com Israel.
  • que se empenham pelo direito à existência do povo e da terra de Israel entre o Mediterrâneo e o Jordão e que demonstram amor e solidariedade para com pessoas judias (Is 62.1ss).

Um pouco mais sobre a base do sionismo, em:


Notas:

  • [1David A. Rausch: Professor PhD na Universidade Estadual de Kent. Professor de História Eclesiástica, Universidade de Guelph, Ontário, Canadá. "Ele serviu como presidente do Departamento de História e Ciência Política da Ashland University… e escreveu centenas de artigos e pelo menos trinta e nove livros”. O texto a seguir é uma contribuição à Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã (Vide Referência bibliográfica).

  • [2] Leia mais aqui sobre a Declaração de Balfour, documento “… em que os britânicos comprometeram-se a criar um lar para os judeus - por isso, ele pode ser usado como um marco para o início da formação do Estado de Israel...”.

  • [3] Na Petição de 1891 Blackstone comentou, em relação aos judeus: “Por que não lhes devolver a Palestina? De acordo com a distribuição das nações feita por Deus, a Palestina é a sua terra natal — uma possessão inalienável da qual eles foram expulsos à força. Quando eles a cultivavam, era uma terra extraordinariamente frutífera que sustentava milhões de israelitas; eles diligentemente lavravam as suas encostas e vales. Eram agricultores e produtores, bem como se constituíam numa nação de grande importância comercial — o centro da civilização e da religião [...] Cremos que este é o momento adequado para que todas as nações, principalmente as nações cristãs da Europa, demonstrem benevolência para com Israel. Um milhão de exilados que, devido ao seu terrível sofrimento, imploram, de forma comovente, a nossa compaixão, justiça e humanidade. Restauremos-lhes agora a terra da qual eles tão cruelmente foram despojados pelos nossos ancestrais Romanos". In: <Blackstone e o Sionismo cristão>. Acesso em 12/10/2023.


Referência bibliográfica:

  • RAUSCH, David A. Sionismo / Sionismo Cristão. In: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. III. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág. 400 a 403 (Texto adaptado).

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