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19 janeiro 2022

O Cinismo e os Crescentes de hoje: o que nos ensina a filosofia defendida por Justino Mártir

O cínico moderno1.

Escrevi de forma breve sobre alguns mártires cristãos2 que viveram e morreram pela sua fé em Cristo. O que eles tinham em comum eram a convicção de sua conversão do pecado e uma espiritualidade moldada pelas Escrituras, a Bíblia Sagrada cristã. Dos mártires que também foram mestres da igreja, os apologistas, podemos acrescentar ainda – como escreve Franklin FERREIRA –, que eles reconheciam sua pequenez em matéria teológica, embora fossem (grandes) pastores, viviam sua fé e serviços voltados para a sociedade, tinham sua cosmovisão cristã ou “… uma visão integral da obra de Deus na criação e restauração de todas as coisas…, além do que “… escreveram e pensaram para a glória de Deus e edificação da igreja…”3.

Dentre estes mártires, Justino Mártir me chamou especial atenção, sobretudo por causa de sua relação com o Cinismo, uma filosofia que serviu como o estopim de suas discordâncias com um filósofo desta corrente chamado Crescente, e que o levou, conjuntamente com seis de seus discípulos, ao martírio, no ano de 165…

O Cinismo se caracteriza pelo “… total desprezo pelos bens materiais e o prazer”, tinha origem no grego “kynismós”, ou “como um cão”. Seus adeptos, os cínicos, deveriam ter uma filosofia moral voltada para este princípio: vida simples. Eram “… identificados por possuírem apenas um manto dobrado como vestimenta, um bastão para auxiliar nas caminhadas e uma sacola para carregar algum donativo. Desde então, o significado de cínico é atribuído às pessoas que não possuem apego às convenções sociais e se sentem superiores por isso4”.

A questão, até mesmo paradoxal, é o fato de que ninguém consegue viver o estilo de vida proposto pelos cínicos sem depender do não-cínico uma vez que até para se obter donativos alguém que não é cínico precisa trabalhar e lhe doar o que lhe é necessário para suas necessidades básicas. Se os cínicos precisam do que o outro ganha, porque ele é considerado num patamar inferior ao dele? Daí, o sentido pejorativo para o cinismo, pois o cínico “… designa um homem agudo e mordaz que não respeita os sentimentos e valores estabelecidos nem as convenções sociais5, enquanto precisa dos outros para sobreviverem.

Qual o principal embate entre Justino Mártir e Crescente? Na verdade, não encontrei qual o ponto filosófico que foi o pomo da discórdia entre Crescente e Justino, mas o certo é que Crescente o convidou para um debate e perdeu, pois Justino conseguiu provar que a “filosofia cristã”, como ele denominava a doutrina e/ou teologia cristã e a defendia, foi superior ao cinismo de Crescente.

Segundo consta nos escritos históricos, Justino teve desavenças com Crescente (ou Crescêncio), um filósofo conhecido como cínico, e em alguns debates Justino o havia repreendido na presença de seus ouvintes. Num desses debates, o filósofo Crescente desafiou Justino acerca do cristianismo e este saiu vencedor, o que induziu Crescente a buscar vingança, acusando seu adversário perante os tribunais6.

Bem, Justino escreveu diversas obras entre as quais o relato de discussão com um rabino judeu chamado Trifon, o “Diálogo com Trifon”, mas precisou defender sua filosofia cristã também em Roma e, desta forma, ele tenha ganhado no argumento, foi derrotado nos tribunais.

O filósofo Crescente era amigo do prefeito Júnio Rústico que aconselhou Justino e seus seis discípulos presentes a negarem sua filosofia cristã, ao que eles se recusaram. Para Justino, disse o prefeito: “a menos que se sujeite…, você será atormentado sem misericórdia”. E foi… Depois de açoitados, Justino Mártir e seus companheiros foram decapitados.

Qual a lição deste episódio para nossos dias, sobretudo no Brasil? É que a filosofia cristã de Justino é a mesma que de alguma medida se faz presente na nossa sociedade e é defendida pela maioria dos brasileiros, que ficou conhecida como “direita conservadora”. Por outro lado, o politicamente correto, dos chamados “esquerdistas”, quer sobrepor às verdades desta maioria, somada às ideias de “democracia” (sem “demo”, apenas com “cracia”. Ou cleptocracia?) de alguns ilimunistros de nossa corte máxima, juízes, desembargadores, procuradores, políticos de oposição, imprensa, artistas etc., ou seja, uma tremenda corja que está impondo suas “verdades” e querendo que a maioria as engula. A exemplo do Crescente da época de Justino Mártir que o entregou ao amigo prefeito, os Crescentes de hoje perdem nas argumentações, mas estão ganhando nos tribunais, pois têm “amigos” nos tribunais que pensam da mesma forma e têm via de regra a certeza da sua decisão favorável. Uma vitória seguida de outra e por todo o Brasil, dos canalhas sobre os conservadores. E embora temos hoje um Presidente que defenda os princípios da filosofia de Justino Mártir, o conceito degenerado de laicismo, democracia, direitos da minoria sobre a maioria, ideias dos biografados, dos engomadinhos defensores da “ciênssia", dos não-negacionistas, dos sofisticados do teatro das tesouras etc., é deturpado na mente e bocas de “veludos”, de “sapões”, de “xandões”, de “amigos de meu pai”, apenas para citar alguns grandões, enquanto a maioria conservadora vai sendo derrotada. E o Presidente não faz nada? Pelo sistema ou establishment que existe hoje no Brasil, incluindo o meio jurídico e a formação dos Três Poderes da República, o caminho para os conservadores parece não ter saída. E se estes saem pacificamente às ruas, logo aparece um adjetivo para qualificá-los: os antidemocráticos. E se são antidemocráticos, então precisam ser parados seja pela censura nas redes sociais, nos processos sem provas, prisões arbitrárias e, quem sabe, até mesmo pelo uso da violência. Além disso, os milhares ou milhões de “antidemocráticos” que foram às ruas em apoio ao presidente no dia 7 de setembro de 2021, foram adjetivados também por certo iluministro7 de milicianos, terroristas, traficantes, fascistas, racistas, supremacistas, misóginos e demônios das sombras. É mole!

Tendo em vista este quadro, os defensores da filosofia de Justino devem se calar? Não, jamais! Mas saibamos que por esta defesa, Justino se tornou o Mártir… Quem se atreve a seguir seu exemplo? Tenhamos em mente também que no Brasil há muitos Crescentes amigos do prefeito, do deputado, do senador, do juiz, do iluministro…, menos do presidente, só se forem como cínicos hipócritas tentando ocultar a verdadeira face.

Veja o vídeo a seguir:




Notas / Referências bibliográficas:

  • 3 FERREIRA, Franklin. Servos de Deus: espiritualidade e teologia na história da igreja. São Paulo: Editora Fiel, 2014. Pág. 25.
  • 4 MENEZES, Pedro. Cinismo. Disponível em:  <https://www.todamateria.com.br/cinismo/>. Acesso em: 17/01/2022.
  • 5 Veja: O que é Cinismo. Disponível em: <https://www.significados.com.br/cinismo/>. Acesso em> 17/01/2022.
  • 6 In: XAVIER, Erico Tadeu. Justino Mártir: um filósofo em defesa da fé cristã. Pág. 17. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/ultimoandar/article/view/21517/15766>. Acesso em 7/01/2022.

14 janeiro 2022

Justino, o Mártir

Justino[1]

Meu propósito não é lisonjear-vos (...) mas requerer que julgueis os cristãos segundo o justo processo de investigação[2]

Depois de uma longa peregrinação intelectual, o filósofo Justino chegou à conclusão de que o cristianismo era ‘a verdadeira filosofia’. À defesa dessa fé dedicou sua pena. E, quando essa defesa foi insuficiente, selou seu testemunho com o sangue do martírio[3].

O imperador Marco Aurélio (161-180) foi um dos mais cultos do Império Romano. Por este motivo, esperava-se que sob seu governo os cristãos gozassem de um período de relativa paz. Mas não foi o que aconteceu. Já vimos os casos dos martírios de Felicitas e seus sete filhos e de Blandina de Lion, apenas para citar alguns. Agora, veremos o caso do martírio de Justino, um dos maiores mestres – apologistas – do Cristianismo ocorridos durante seu governo. Sobre seu trabalho como apologista, além de outros, veja o que escreve Justo González[4] escreve no capítulo VII de seu livro A Era dos mártires.

Flávio Justino, também conhecido como Justino, o Mártir[5], nasceu em Neápolis, em Samaria, de pais gentios. Quando jovem, ele cuidadosamente estudou as diferentes seitas filosóficas; mas não encontrando a satisfação que seu coração ansiava, ele foi levado a ouvir o evangelho. Nisto ele descobriu, através da bênção de Deus, um perfeito descanso para sua alma, e cada desejo de seu coração integralmente cumprido. Ele se tornou um cristão sincero e um celebrado escritor em defesa do cristianismo.

Bem no início do reinado de Aurélio, Justino era um homem marcado. Acusações foram feitas contra ele por um homem chamado Crescente, um filósofo da seita dos cínicos. Ele foi preso com seis de seus companheiros, e todos foram levados perante o prefeito. Eles foram requisitados a sacrificar aos deuses. ‘Ninguém’, respondeu Justino, ‘cujo entendimento é são, vai abandonar a verdadeira religião por causa do erro e impiedade.’ ‘A menos que se sujeite’, disse o prefeito, ‘você será atormentado sem misericórdia.’ ‘Não desejamos nada mais, sinceramente’, ele respondeu, "além de suportar torturas por nosso Senhor Jesus Cristo’. O restante concordou, e disseram: ‘Somos cristãos, e não podemos sacrificar aos ídolos.’ O governador então pronunciou a sentença: ‘Quanto a esses que se recusam a sacrificar aos deuses, e a obedecer os decretos imperiais, que sejam primeiro açoitados, e depois decapitados, de acordo com as leis.’ Os mártires se alegraram, e louvaram a Deus, e sendo levados de volta à prisão, foram açoitados, e depois decapitados. Isto aconteceu em Roma, por volta do ano 165. Assim dormiu em Jesus um dos primeiros ‘Pais’, e ganhou o título glorioso de ‘Mártir’, que geralmente acompanha seu nome. Seus escritos têm sido cuidadosamente examinados por muitos, e lhes são atribuídos grande importância.

Ainda mais sobre a morte de Justino e seus companheiros, diz González[6]:

“... no ano 163, Justino e seis de seus discípulos foram levados diante do prefeito Júnio Rústico, que havia sido um dos mestres de filosofia do imperador. Neste caso, como em tantos outros, o juiz tratou de convencer aos cristãos acerca da tolice de sua fé. Mas Justino respondeu que, depois de haver estudado toda classe de doutrinas, havia chegado à conclusão de que a cristã era a verdadeira, e que, portanto, não estava disposto a abandoná-la. Quando, como era costume, o juiz os ameaçou de morte, eles responderam que seu mais ardente desejo era sofrer por amor de Jesus Cristo, e que, matando-os, o juiz lhes faria um grande favor. Diante de tal resposta, o prefeito ordenou que fossem levados ao lugar do suplício, onde primeiro os açoitaram e logo foram decapitados.

Observe que enquanto Miller fala que o martírio de Justino e seus companheiros ocorreu em 165, González menciona o ano de 163. É possível que Justino e seis de seus discípulos tenham se apresentado ao prefeito em 163 mas as mortes dos mesmos tenham ocorrido dois anos depois, em 165.     

Veja também o vídeo de Edgar de Oliveira, in:


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] Imagem meramente ilustrativa, disponível em: <https://bibliotecadopregador.com.br/justino-martir-convertido-do-paganismo/ >. Acesso em: 12/01/2022. 
  • [2] GONZÁLEZ, Justo L. A Era dos mártires, pág. 79. Disponível em: <https://alcidesamorim.blogspot.com/2020/05/a-era-dos-martires-vii-defesa-da-fe.html>. Acesso em: 12/01/2022.
  • [3] GONZÁLEZ, Justo L. Idem, Nota 2, pág. 90. Disponível em: <https://alcidesamorim.blogspot.com/2020/05/a-era-dos-martires-vii-defesa-da-fe.html>. Acesso em: 12/01/2022. 
  • [4] GONZÁLEZ, Justo L. Idem, Nota 2, pág. 79 a 94. Acesso em: 12/01/2022.
  • [5] Texto a seguir, copiado e adaptado de: MILLER, Andrew. A História da Igreja. Pág. 177. Também disponível em: <http://a-historia-da-igreja.blogspot.com/2016/02/o-martirio-de-justino-chamado-o-martir.html>. Acesso em: 12/01/2022.
  • [6] GONZÁLEZ. Nota 2. Pág. 75. Acesso em: 12/01/2022.

17 dezembro 2021

O Apóstolo João

João, filho de Zebedeu [1]

E, passando dali um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes, E logo os chamou. E eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os jornaleiros, foram após ele” (Mc 1.19-20 – Destaque e grifo meus).

Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: O primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu; Simão, o Cananita, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu” (Mt 10.2-4 – Destaque e grifo meus)

No evangelho de João (1.35-42), este de quem falaremos a seguir, encontramos que dois discípulos de João Batista foram enviados por este para ser discípulos de Jesus. Na verdade, ao que parece, por ser o autor do evangelho que leva o seu nome, o apóstolo João destaca André, irmão de Simão Pedro e oculta o outro discípulo, que seria ele mesmo. O site A bíblia.org, faz referência a este fato e destaca que “... esta passagem [Jo 1.35-42] se torna difícil de identificação, porque é omitido o nome do segundo discípulo. Os autores [são ditados dois deles, Juan Mateos-Juan Barreto, 1989 e Bettencourt, 1960] comentando este acontecimento, argumentam que em todo o evangelho de João não aparece seu nome, pois foi ele que escreveu o evangelho e estrategicamente omitiu o nome[2].

O discípulo André, que também se tornou apóstolo, era irmão de Pedro e João era irmão (provavelmente mais novo) de Tiago Maior e, ambos, filhos de Zebedeu (Mc 3.17).

Embora[3] seu pai fosse um pescador, eles aparentemente estavam em boas circunstâncias de acordo com a narrativa do Evangelho. Alguns dos antigos falam da família como sendo rica, e até mesmo de conexão nobre. Porém, tais tradições não são reconciliáveis com os fatos relatados nas Escrituras. Lemos, no entanto, de seus "jornaleiros", e eles podem ter tido mais do que apenas um barco. Quanto a Salomé, sem dúvidas, foi uma daquelas mulheres honradas que serviam ao Senhor com o que tinham. E João tinha sua própria casa (Lucas 8:3João 19:27). A partir desses fatos, podemos inferir, com segurança, que a situação deles era consideravelmente acima da pobreza. Como muitos têm sido extremos ao falar dos apóstolos como pobres e analfabetos, é interessante observar algumas poucas dicas nas escrituras sobres esses assuntos.

Do caráter de Zebedeu nada sabemos. Ele não fez objeções a seus filhos quando o deixaram ao chamado do Messias. Mas não ouvimos mais sobre ele depois disso. Frequentemente encontramos a mãe em companhia dos seus filhos, mas não há menções ao pai. É provável que ele tenha morrido pouco depois do chamado de seus filhos.

O evangelista Marcos, ao enumerar os doze apóstolos (Marcos 3:17), quando menciona Tiago e João, diz que nosso Senhor "pôs o nome de Boanerges, que significa: Filhos do trovão." O que nosso Senhor particularmente pretendeu, com esse título, não é facilmente determinado. Conjecturas têm havido muitas. Alguns supõem que seria porque esses dois irmãos eram da mais furiosa e resoluta disposição, e de um temperamento mais feroz e ardente do que o resto dos apóstolos. Mas não vemos motivo para tal suposição na história narrada nos Evangelhos. Sem dúvida, em uma ou duas ocasiões o zelo deles era intemperado, mas isso foi antes de entenderem o espírito de seu chamado. É mais provável que nosso Senhor os tenha apelidado em profecia ao zelo ardente deles ao proclamar aberta e corajosamente as grandes verdades do evangelho, após tê-lo conhecido plenamente. Estamos certos de que João, em companhia de Pedro nos primeiros capítulos de Atos, demonstrou uma coragem que não temia ameaças, e não era intimidado por nenhuma oposição.

Supõe-se que João era o mais novo de todos os apóstolos e, a julgar por seus escritos, parece ter sido possuído por uma disposição singularmente carinhosa, suave e amável. Ele foi caracterizado como "o discípulo a quem Jesus amava". Em várias ocasiões, ele foi admitido a uma livre e íntima relação com o Senhor (João 13).

"O que distinguia João", diz Neander, "era a união das mais opostas qualidades, como temos muitas vezes observado em grandes instrumentos do avanço do reino de Deus – a união de uma disposição inclinada à silente e profunda meditação, com um ardente zelo, embora não impulsionado a uma grande e diversificada atividade no mundo exterior; não um zelo apaixonado, como supomos que tenha enchido os peitos de Paulo antes de sua conversão. Mas havia também um amor, não suave e flexível, mas um que se agarrava com tudo o que podia, e firmemente retia o objetivo para o qual se dirigia – vigorosamente repelindo qualquer coisa que desonrasse esse objetivo, ou tentasse arrancá-lo de sua posse; tal era sua principal característica."

E a história de João está tão intimamente conectada com as histórias de Pedro e Tiago, as quais já abordamos, que podemos agora ser bastante breves. Esses três nomes raramente são vistos separados na história dos Evangelhos. Mas há uma cena em que João aparece sozinho e que é digna de nota. Ele era o único apóstolo que seguiu Jesus ao lugar de Sua crucificação. E lá ele foi especialmente honrado com o respeito e confiança de seu Mestre. "Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa." (João 19:26-27)

Após a ascensão de Cristo e a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, João se tornou um dos principais apóstolos da circuncisão. Mas seu ministério continua até o final do primeiro século. Com sua morte, a era apostólica naturalmente se encerra.

Há uma tradição muito difundida e geralmente aceita de que João permaneceu na Judeia até depois da morte da virgem Maria. A data do evento é incerta. Mas logo depois ele prosseguiu para a Ásia Menor. Lá ele plantou e cuidou de várias igrejas em diferentes cidades, mas fez de Éfeso seu centro. De lá ele foi banido para a Ilha de Patmos, perto do final do reinado de Domiciano. Ali ele escreveu o livro de Apocalipse (ou Revelação) (Apocalipse 1:9). Em sua libertação do exílio, pela ascensão de Nerva ao trono imperial, João retornou a Éfeso, onde escreveu seu Evangelho e suas Epístolas. Ele morreu por volta do ano 100 d.C., no terceiro ano do imperador Trajano, e com mais ou menos cem anos de idade.

Veja também o vídeo de Marlon Engel, do Portal Estudo na Garagem:


Notas / Referências bibliográficas:

25 novembro 2021

O Apóstolo André


Mattia Preti, The Crucifixion
 of St Andrew, 1651 [1]

No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. (...) Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que ouviram aquilo de João, e o haviam seguido. (...) Este achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo). (Jo 1.29,140,41) (Negrito meu)

O nome André significa, no grego, “viril”, embora, a exemplo de Pedro, seu irmão, pode ser um nome cristão. Era filho de Jonas e provinha de Betsaida, na Galileia, mas morou com seu irmão Pedro em Cafarnaum (Mc 1.29) onde ambos se tornaram pescadores, conforme destaca R. E. Nixon[2].

Sendo [André] discípulo de João Batista (Jo 1:35-40) este lhe mostrou Jesus como o Cordeiro de Deus. Saiu à procura de Simão e o trouxe a Jesus (Jo 1:42). Posteriormente foi chamado a um discipulado integral (Mt 4:18-20. Mc 1:16-18) e se tornou um dos doze apóstolos (Mt 10:2; Mc 3:18; Lc 6:14). Sua fé prática é demonstrada em Jo 6:8,9; 12:21,22. Foi um daqueles que interrogaram acerca do julgamento que sobreviria a Jerusalém (Mc 13:3,4). Ele é mencionado finalmente, em companhia dos outros apóstolos, após a ascensão (At 1.13). É provável que tenha sido crucificado na Acaia... (NIXON, Nota 2).

Na verdade, os historiadores sagrados[3] têm sido muito completos e abundantes ao descrever os atos de Pedro, mas bastante frugais nos relatos sobre seu irmão André. Ele foi criado com Pedro no ramo de seu pai, e continuou em sua ocupação até ser chamado pelo Senhor para ser tornar um ‘pescador de homens’.

André, como outros jovens da Galileia, tinha se tornado um discípulo de João Batista. No entanto, ao ouvir seu mestre falar, pela segunda vez, de Jesus como o Cordeiro de Deus, deixou João para seguir a Jesus. Ele foi, imediatamente após isso, o meio pelo qual seu irmão Pedro foi trazido a seu novo Mestre. Até o momento, ele tinha a honra de ser o primeiro dos apóstolos a apontar para Cristo (João 1). Ele aparece ainda nos capítulos seis e doze de João, e no décimo terceiro de Marcos, mas, além desses poucos e espalhados relatos, as Escrituras não relatam mais nada a respeito dele. Seu nome não aparece nos atos dos Apóstolos, com exceção do primeiro capítulo.

Conjecturas e a tradição têm dito muitas coisas sobre ele, mas devemos considerar apenas fatos razoavelmente estabelecidos. Dizem que ele pregou em Cítia, e que viajou pela Trácia, Macedônia, Tessália, e que sofreu o martírio em Petra, na Acaia. Sua cruz, dizem, era formada de dois pedaços de madeira se cruzando no meio, na forma de X, geralmente conhecida pelo nome de cruz de Santo André. Ele morreu orando e exortando as pessoas à constância e perseverança na fé. O ano em que ele sofreu isso é incerto.

Veja mais sobre o apóstolo André, no vídeo de Marlon Engel abaixo:


Notas / Bibliografia:

Mateus, o publicano

O chamado de Mateus[1]

E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um homem, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu” (Mt 9.9).

Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu” (Mt 10.3).

E, depois disto, saiu, e viu um publicano, chamado Levi, assentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu” (Lc 5.27,18)[2] (destaques / sublinhados meus).

O nome de Mateus aparece em todas as listas dos doze apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Destaquei, nos textos acima, as expressões “alfândega”, “publicano” (escritas pelo próprio autor) e “Levi”, em relação ao apóstolo Mateus, uma vez que estas resumem a identidade deste cobrador de impostos – profissional tido, muitas vezes, como traidor e/ou roubador do povo –, mas nesse caso específico, um escolhido por Jesus para compor seu Colégio Apostólico.

Mateus[3] foi um dos doze apóstolos de Jesus e também autor do Evangelho de Mateus. Ele aparece em todas as listas que relacionam os discípulos de Jesus, sendo elas: Mateus 10:3, Marcos 5:18, Lucas 6:15 e Atos 1:13.

Não encontramos muitas informações biográficas sobre Mateus na Bíblia. Na verdade, além das listas com o nome dos discípulos, o apóstolo Mateus aparece apenas em outros dois episódios em todo o Novo Testamento.

Sobre a escolha do apóstolo Mateus, um dos dois relatos em que o apóstolo Mateus aparece na narrativa bíblica além das listas de apóstolos descreve justamente sua chamada para ser discípulo de Cristo. Uma curiosidade sobre isto é que a escolha do apóstolo Mateus é a única chamada individual de um discípulo registrada nos Evangelhos Sinóticos[4]. O próprio Mateus denomina-se como o publicano, cobrador de taxas e impostos a serviço do Império Romano. Essa classe de trabalhadores era desprezada pelos demais judeus que a reputavam praticamente como traidora de seu próprio povo.

Pelo contexto histórico da época, é possível que Mateus estivesse sob as ordens de Herodes Antipas, o tetrarca da Galileia. Considerando o ofício que desempenhava, o apóstolo Mateus provavelmente era uma das pessoas mais cultas do grupo dos discípulos de Jesus.

 Jesus encontrou Mateus “sentado na coletoria”, ou seja, na alfândega, nas proximidades de Cafarnaum, e lhe ordenou que O seguisse (Mt 9.9). Esse local em que o apóstolo Mateus estava era um dos postos fiscais geralmente estabelecidos em estradas, pontes, canais ou nas margens dos lagos para coletar taxas e impostos. T

Merece destaque também que o nome “Levi” que aparece nos Evangelhos. E, como este nome não é mencionado em nenhuma das listas de discípulos de Jesus é amplamente aceito que Mateus e Levi tenham sido a mesma pessoa. Nos Evangelhos de Marcos (2.14) e Lucas (5.27), lemos que Jesus ordenou que Levi o seguisse, numa descrição muito semelhante ao registro do Evangelho de Mateus 9.9 onde o apóstolo foi convocado.

Entendendo então que Levi e Mateus são as mesmas pessoas, logo somos informados de que ele era filho de Alfeu (Mc 2:14). Sabemos também que Tiago, outro apóstolo de Jesus, também era filho de Alfeu. No entanto, não há informações necessárias para que possamos afirmar que se tratava do mesmo Alfeu e, consequentemente, que Tiago Menor e Mateus foram irmãos.

Ainda sobre sua dupla designação (como Levi e Mateus), existe a chance de que seu nome principal era Levi, mas que depois de se tornar apóstolo de Jesus, ele preferiu ser chamado por outro nome, no caso Mateus, tal como Simão Pedro também o fez.

Após o Pentecostes descrito em Atos dos Apóstolos capítulo 2, a Bíblia não nos fornece mais nenhuma informação sobre o apóstolo Mateus. Algumas tradições, sem qualquer comprovação histórica, sugerem que em algum momento após o Pentecostes Mateus partiu para Etiópia, Macedônia, Síria e outras localidades. Uma dessas tradições defende que o apóstolo Mateus morreu de causas naturais estando ou na Macedônia ou na Etiópia. Por outro lado, tradições gregas e romanas afirmam que o apóstolo sofreu martírio. Quando? Possivelmente, em 72[5]

Bem, a obra maior de Mateus é o Evangelho que leva o seu nome, o Evangelho Segundo Mateus. E apesar de alguns críticos defenderem que o apóstolo não pode ter sido o autor do Evangelho que leva seu nome, a tradição cristã, desde a Igreja Primitiva, atribui ao apóstolo Mateus a autoria do primeiro Evangelho. Na verdade, o que pode ser dito é que nenhum argumento contrário à autoria do apóstolo pode ser sustentado à luz de uma análise profunda da questão.

Veja também, a seguir, o vídeo de Lamartine Posella sobre Mateus:



Notas / Bibliografia:

  •  [1] Imagem meramente ilustrativa. Disponível em: <https://theotoucharis.wixsite.com/theo/single-post/2016/03/10/serm%C3%A3o-o-chamado-de-mateus>. Acesso em 22/11/2021.
  •  [2] Todas as referências bíblicas utilizadas neste post são da versão online Almeida Corrigida Fiel. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>.
  •  [3] O texto a seguir é uma reescrita com adaptações do artigo de Daniel CONEGERO: In: <https://estiloadoracao.com/quem-foi-o-apostolo-mateus/>. Acesso em: 22/11/2021
  •  [4] Evangelhos Sinóticos são aqueles que narram a vida e ministério de Jesus sob uma mesma ótica, mesmo ponto de vista ou visão conjunta. São eles: Mateus, Marcos e Lucas.
  •  [5] Segundo a Wikipedia, In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mateus_(evangelista), Mateus morreu em Hierápolis ou Etiópia, c. de 72.

22 novembro 2021

Tiago Menor

Tiago Menor [1]

Já vimos em artigos anteriores sobre Tiago Maior, que foi apóstolo, juntamente com seu irmão João, e ambos eram filhos de Zebedeu, e Tiago, irmão do Senhor, autor da Epístola que leva o seu nome. E neste breve artigo queremos destacar a pessoa do outro apóstolo Tiago, que era filho de Alfeu.

Este Tiago (Ἰάκωβος, Jacobos em grego antigo) era conhecido também como Tiago Menor. Por que “menor”? Possivelmente, por causa de sua estatura física – mais baixa que a do outro Tiago ou por ser de menos idade. A NVI (Nova Versão Internacional), por exemplo, refere-se a este Tiago como “o mais jovem”, em Marcos 15.40. De qualquer forma, ele pode ter tido ambos os adjetivos: era mais baixo e possivelmente o mais novo dos Tiagos ou dos demais apóstolos.

As referências sobre Tiago, filho de Alfeu são poucas no Novo Testamento. Ele aparece ligado a seu pai (Alfeu) nas listas dos apóstolos, de Mateus 10.2,3, Marcos 3.17,18, Lucas 6.14,15 e Atos 1.13, sempre para diferenciá-lo do outro Tiago, que era filho de Zebedeu e que aparece também nas mesmas listas. E, pela referência de Marcos 15.40, sua mãe se chamava Maria – ... Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José... –. Observa-se que por esta referência de Marcos, Tiago Menor tinha um irmão chamado José, que não deve ser confundido com o outro José, irmão do outro Tiago e de Jesus, conforme vemos na lista dos irmãos de Jesus, relatada pelo mesmo evangelista (Mc 6.3 – “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele”.

Como já dissemos, não há muitas referências acerca de Tiago, filho de Alfeu, no Novo Testamento, embora, obviamente, ele tenha continuado sua missão apostólica depois da ressurreição de Jesus e do Pentecostes, sem que isso ficasse registrado nos textos sagrados.

A posição, defendida por nós aqui, é a mesma defendida por teólogos protestantes [2]. Por parte de católicos, ao contrário, este Tiago ganha uma relevância muito grande, pois é visto como o outro Tiago, conhecido como Tiago, irmão de Jesus  (ou primo de Jesus, segundo os católicos) que foi líder da igreja em Jerusalém e autor da epístola que leva o seu nome. Ou seja, enquanto protestantes destacam três principais Tiagos (o filho de Zebedeu, o filho de Alfeu e o irmão de Jesus), para católicos, estes dois últimos são a mesma pessoa. Já tratei parcialmente destas questões neste artigo, mas para maior aprofundamento do assunto, sugiro estes outros artigos do historiador e teólogo Lucas Banzoli:

·         Refutando objeções de Tiago.

·         Quem é Maria, mãe de Tiago e José?

·         Flávio Josefo é a prova irrefutável de que Tiago era irmão (e não primo) de Jesus!

·         Os irmãos de Jesus eram primos?, etc.

Obviamente, os artigos de Banzoli são voltados, principalmente, para o Tiago, irmão do Senhor, a seus pais (José e Maria) e demais membros da família. Mas para fazer esta separação dos Tiagos (filho de Alfeu e irmão de Jesus), vale a leitura destes e outros artigos, além de vídeos mencionados (links) por ele.

Sobre a morte de Tiago Menor, não sabemos quando a mesma ocorreu, mesmo porque as informações deixadas por Josefo, Clemente, Eusébio etc., atribuídas a Tiago Menor, normalmente são confundidas com as do Tiago, irmão do Senhor. Franklin FERREIRA [3], afirma que “Tiago, o Menor, foi lançado de um pináculo do templo em Jerusalém e depois espancado até morrer”. Quando? Possivelmente, no ano 62 (Wikipedia). 

Bem, no vídeo abaixo, Marlon Engel, faz um bom resumo da vida de Tiago Menor. No mais, o importante saber é que na verdade, a exemplo dos demais apóstolos, afirma Engel, “... a importância dos discípulos não estava nas suas descendências (...). O que fez estes homens importantes foi o Senhor a quem serviram e a mensagem que proclamaram”.



Notas / Bibliografia:

[1] Tiago Menor. Foto meramente ilustrativa. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Santiago_Menor>. Acesso em: 14/05/2020.

[2] Por exemplo, em O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1979 (3ª ed.), Vol. III. Pág. 1608 e 1609.

[3] FERREIRA, Franklin. Servos de Deus: espiritualidade e teologia na história da igreja. SÃO José dos Campo, SP, 2014, Pág. 37.

Campo 14 – bebês mortos a pauladas, fome e execuções: a vida em um campo de concentração norte-coreano

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