Por: Alcides Amorim
Já escrevi alguns posts sobre o racionalismo, corrente de pensamento que se desenvolveu na Europa continental, e fiz algumas observações filosófico-teológicas sobre os principais racionalistas: Descartes, Spinoza, Leibniz e Pascal. Agora, queremos escrever um pouco também sobre o empirismo, movimento que se desenvolveu na Grã-Bretanha (Reno Unido): Locke (Inglês), Berkeley (irlandês) e Hume (escocês).
O que diferenciava racionalistas e empiristas, eram as ideias inatas, defendidas pelos primeiros. Para os racionalistas, as ideias inatas são aquelas que são os verdadeiros atributos da mente humana, que foram dadas à mente por Deus. Sendo assim essas ideias "puras” são conhecidas a prori por todos os seres humanos e, portanto, são cridas por todos. Elas eram de importância decisiva para os racionalistas, de modo que usualmente se sustinha que essas ideias eram a condição prévia para a aprendizagem de fatos adicionais. Os empiristas, ao contrário, argumentavam que o conteúdo das ideias chamadas inatas na verdade era aprendido através da experiência das pessoas, embora elas talvez tenham refletido pouco sobre isso. Dessa maneira, aprendemos vastas quantidades de conhecimento através da nossa família, educação e sociedade, que surge bem cedo na vida e que não pode ser contado como inato.
Em especial, os empiristas do século XVIII preocupavam-se principalmente com os problemas do conhecimento. Em contraste com os racionalistas que procuravam erigir sistemas filosóficos por meio de raciocinar com base em verdades alegadamente evidentes em si mesmas, os empiristas ressaltavam o papel que a experiência desempenhava no conhecimento. Argumentavam que não temos ideia alguma senão aquelas que derivam da experiência que vem a nós através dos sentidos. Declarações (a não ser aquelas da lógica pura) somente podem ser conhecidas como sendo verdadeiras ou falsas por meio de testá-las na experiência.
Teologicamente falando, podemos afirmar que os racionalistas não eram agnósticos, céticos ou ateus, embora não alinhado com o verdadeiro ensino das Escrituras. Mas dos empiristas pode-se dizer o mesmo? Vejamos:
Bem, Colin Brown [1] entende que não “… seria correto estigmatizar o movimento como sendo inflexivelmente agnóstico”. Hume era um cético, enquanto Locke era um homem de fé sincera e Berkeley era um bispo anglicano. “Mesmo assim, pensa-se geralmente que o movimento fez uma contribuição considerável ao avanço geral do agnosticismo moderno...”, Na verdade, aplicar o método experimental mesmo em matéria de fé, não necessariamente torna a pessoa um agnóstico ou ateu. Entendemos que é possível ser empirista e cristão ao mesmo tempo.
Teologicamente, porém, é necessário fazer algumas ponderações entre empirismo e fé cristã. David A. Rausch [2] afirma que o problema radical com qualquer forma de empirismo é o do relacionamento entre qualquer exposição concernente à experiência e os dados fatuais ou empíricos. Envolve o relacionamento entre experiências e os “significados” pelos quais as experiências podem ser conceptualizadas, articuladas e comunicadas. Visto poder haver uma variedade de interpretações daquilo que se constitui uma experiência, qualquer apelo à experiência como o único árbitro do significado e da relevância é problemático. Semelhante apelo depende totalmente de qual interpretação da experiência a pessoa aplica. Este problema destacou-se especialmente quando os positivistas lógicos procuravam construir uma abordagem unificada para todas as áreas do conhecimento e da ciência. Esta tentativa fracassou, porque os positivistas lógicos não conseguiram impedir que as interpretações teóricas entrassem na sua linguagem de "observação".
O empirismo tem sido aplicado à teologia de várias maneiras. Hume acreditava que se devia estudar a religião de modo científico, porque nada havia de único e sem igual na experiência religiosa. Friedrich Schleiermacher, por outro lado, acreditava que a experiência religiosa era sem igual, e cria que a teologia somente poderia fornecer símbolos para descrever a grande diversidade de experiências religiosas do homem. Cada homem, portanto, precisa ter uma descrição particular dos seus sentimentos, uma teologia individual. Algumas pessoas sugeririam que Schleiermacher é a fonte de todas as teorias da "experiência religiosa" que estão em voga hoje. Os teólogos liberais do fim do século XIX e do início do século XX aplicaram à religião o método científico, procurando reconstruir a fé cristã de acordo com as conclusões "modernas" da ciência. Por isso, um modo cristão apropriado de compreender o mundo e o seu progresso exigiria o método empírico. Este desejo de harmonizar a fé cristã com o método empírico da ciência não é meramente um fenômeno liberal moderno, mas também pode ser achado nas teologias naturais do século XVIII de escritores conservadores, tais como William Paley e Bispo Butler. Alguns conservadores modernos, tais como John Warwick Montgomery, têm continuado esta tendência.
Para concluir, deixo o vídeo (veja este link) do Pr. Anderson Porto, que refuta biblicamente o empirismo. Este nega a fé ao defender que todo o “conhecimento resulta da experiência, das sensações, dos sentidos…”. Neste sentido, Tomé, apóstolo de Cristo, era também um empirista, pois só acreditava no que via e no que suas mãos tocassem. Mas a fé vai além da experiência, daquilo que é palpável…
E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram (João 20.26-29).
Notas / Referências bibliográficas:
- [1] BROWN, Colin. Filosofia e Fé Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1985, pág. 44.
- [2] RAUSCH, David A. Empirismo, Teologia Empírica. In: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. II. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág. 20 e 21.