Comprei na livraria do Luiz Camargo (https://bibliotecadoluiz.com.br), além do seu livro "Breve manual do cristão conservador", também o "O Comunismo e a consciência do Ocidente", de Fulton Sheen.
A versão do livro de Fulton Sheen, que comprei, embora tenha sido publicado em 2021 pela Editora Domine, o texto do mesmo foi produzido há mais de 70 anos.
Lendo Fulton Sheen, um bispo católico, acho que já em seu tempo ele pensava "fora da caixinha", isto é, ao contrário de muitos bispos de hoje, inclusive a CNBB e o atual papa, o papa Francisco.
Senti de conhecer um pouco mais sobre o autor e já até destaquei sua concepção acerca do Anticristo, figura relacionada com o regime comunista.
Desta feita, encontrei um pequeno livro (ou caderno?) em dois capítulos, sob o título: "O Comunismo é o ópio do povo!", do qual, neste post, decidi destacar o capítulo II do mesmo.
A
palavra
dialética,
conforme
costuma-se definir no campo da Filosofia, significa
o "caminho entre as ideias" e
“… consiste
em um método de busca pelo conhecimento baseado na arte do diálogo.
É desenvolvida a partir de ideias e conceitos distintos e que tendem
a convergir para um conhecimento seguro” [1].
Este
“conhecimento seguro” só será possível após diversos
diálogos, incluindo os
prós e os contras,
discussões gerais
e
finalmente,
a
chegada a um consenso ou
essência do
saber do objeto ou ideia em questão. Mas
longe de dar um veredito final ao resultado do objeto estudado, adialética
propõe “... um
modo de pensar que, ao privilegiar as contradições da realidade,
permite que o sujeito se compreenda como agente e colaborador do
processo de transformação constante através do qual todas as
coisas existem…”
(KONDER:
1998)[2].
A
dialética, que teve sua origem na Grécia Antiga, ou
com
Zenão
de Eleia
(c. 490-430
a.C.) ou
com Sócrates
(469-399
a.C.), tem
estado a serviço da Filosofia na Antiguidade, Idade Média, Moderna
e Contemporânea.
Para
os objetivos deste post, fixamos
apenas
nos pensamentos de Hegel e Marx. Com
Hegel
(1770-1831), segundo
o qual, a filosofia
veio a ser um tipo de teologia, a
sua dialética também
seguia por este caminho. Hegel percebe
que a realidade restringe as possibilidades dos seres humanos, que se
realizam como uma força da natureza capaz de transformá-la a partir
do trabalho do espírito. Sua
dialética
compunha
detrês
elementos: a
tese,
a antítese
ea
síntese.
A teseé
a afirmação inicial, a proposição que se apresenta; a
antítese
é
a refutação ou negação da tese, considerando
a contraditoriedade
daquilo que foi negado; e
asíntese
é composta a partir da convergência lógica (lógica dialética)
entre a tese e sua antítese. Essa síntese, entretanto, não assume
um papel de conclusão, mas sim como uma nova tese capaz de ser
refutada dando continuidade ao processo dialético…
A
dialética hegeliana enquanto teoria do conhecimento é aprofundada
pelo marxismo. Aqui o conhecimento é totalizante. Karl
Marx(1818-1883)
concorda com Hegel no aspecto do trabalho como força humanizadora.
Entretanto, para ele o trabalho dentro da perspectiva capitalista,
pós-revolução industrial assume um caráter alienante.
Marx
defendeu
que vivemos em um mundo onde tudo é material, não havendo o
sobrenatural.
Assim, são abolidas as noções espirituais e o transcendente. A
sociedade passa a ser explicada apenas em um ciclo de classes
opressoras e oprimidas. Defendendo a materialidade de tudo, os
valores morais também são reduzidos à materialidade, importando
apenas os bens econômicos. Não há respeito à dignidade única de
cada pessoa, sua liberdade, vida e escolhas.
O
comunismo seria um paraíso terrestre, uma sociedade idealizada. Em
prol de um futuro idealizado, sacrifica-se o presente[3].
O
marxismo procura ser científico, tentando
não depender
de uma filosofia. Acontece que não
consegue
escapar
de uma escolha filosófica prévia que por sua vez informa todo seu
desenvolvimento científico posterior. E esta escolha é um ato de fé
que corresponde ao ato de fé daquele que se vira para Cristo, mas
o dogmatismo
marxista não permite outra solução a não ser aquela aventurada
por Marx. Os marxistas fazem uma crítica cerrada àqueles que
aceitam a Bíblia (ou a tradição eclesiástica) como ponto de
partida para sua fé. No entanto, os ideólogos marxistas citam os
escritos de Marx e Engels como se fossem uma revelação divina.
A
critica
de
Marx à
religião como
“começo
de toda
crítica”, e
expressa
na conhecida frase “A
Religião é o Ópio do Povo”, é
uma orientação antirreligiosa
que
o torna, sim,
segundo Fulton
J. Sheen, o
Comunismo no
“ópio do povo”. Marxistas esperam que o povo troque a religião
pelo marxismo através da
revolução cultural.
O Comunismo engana o pobre com a esperança falaz de um paraíso terrestre…
O Comunismo é o ópio do povo porque adormece os pobres prometendo-lhes algo que nunca lhes pode dar, ou seja um paraíso terrestre. Mudando apenas uma palavra numa sentença de Lenine: ‘O Comunismo ensina aqueles que labutam toda a sua vida em pobreza a serem resignados e pacientes neste mundo, e consola-os pelo pensamento de um paraíso terrestre’. Singular espécie de paraíso esse, que é inaugurado pelo morticínio, pelo exílio e pelo confisco; estranha espécie de paraíso esse, que espera estabelecer a fraternidade pregando a luta de classes, e estabelecer a paz praticando a violência. Estranha espécie de paraíso esse que tem de recorrer ao temor e à tirania para impedir que alguém ‘escape’ dele[4].
Portanto,
como vimos aqui,
a ideologia e a dialética marxistas estão intimamente interligadas
ao saber numa autorreflexão hegeliana, embora encaixadas dentro do
esquema materialista.
Infelizmente,
há uma grande quantidade de “cristãos” achando que é possível
ser cristão e comunista ao mesmo tempo. Como
abrimos o post acima, “pode
ser que o comunismo esteja neste mundo hoje porque os cristãos não
foram suficientemente cristãos e as democracias não foram
suficientemente democráticas”,
já
dizia Martin
Luther King.
Em
seu trabalho o
marxismo e a fé cristã,
o escritor J. Sturz divide
o seu estudo em três partes
importantes: os conceitos marxistas (ideologia,
dialética, a história e o homem); Marx e a religião (a irreligião
marxista, evangelho segundo Marx e diálogo marxista-cristão) e
marxismo e teologia. Nosso propósito
aqui, e
em outros posts (esperamos poder
publicar)
é refletir sobre os sub-temas do referido trabalho escrito lá
no
início dos anos 80 e que ainda julgamos relevantes para nossos dias,
obviamente com outros ingredientes complementares. O primeiro deles é
aideologia.
Como
definição de ideologia
podemos citar o que é ditoaqui,
como sendo ela
“… um
termo que possui diferentes significados e duas concepções: a
neutra…
um…
conjunto
de ideias, de pensamentos, de doutrinas
ou
de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo…
e
a
crítica…
que…
pode
ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de
convencimento (persuasão
ou
dissuasão,
mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienandoa
consciência humana”.
Sturz
diz
que os conceitos marxistas ideologia e dialética estão
inter-relacionados e estão ligados ao saber baseados
numa auto-reflexão hegeliana. Mas sobre este último queremos falar
num outro
momento. Como fazia com outros conceitos relacionadas ao saber, Marx
tentava encaixar suas
ideias dentro
do esquema materislista, ou seja, tentava separar as
ideias da
realidade histórico-social.
Para Marx, “… a
classe dominante impõe suas ideias
através da escola, da religião, dos costumes ao ponto de que são
consideradas verdadeiras, universais quanto à humanidade. Esta
classe desenvolveu-se junto com suas ideias
dentro de um modo de produção" [1].
Para
desfazer a ideologia da classe dominante, Marx propõe uma revolução
da classe oprimida contra
a classe opressora. E a nova
classe emergente, depois
de sistematizar suas ideias, diferentes da existente e de acordo com
seus
interesses, precisam
ganhar
o apoio de toda sociedade. Sturz
cita
Marilena Chauí e
destaca que
a
ideologia marxista não
está encarregada de
“tomar o lugar” da prática, nem de “guiar” a prática e nem
tampouco de se “inutilizar enquanto teoria” para valorizar apenas
a prática (Idem,
pág.
210).
Segundo
esta linha de raciocínio marxista, as “… ideologias
podem não ser consideradas visões de mundo… porque grande parte
dos ideólogos propõe transformações sociais ao invés de uma
teoria que tente explicar a realidade”. Ou
seja, Karl Marx entende que ‘Os
filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a
questão, porém, é transformá-lo’” [2].
Mas
será que
o marxismo escapa de ser ou
ter
uma ideologia?, pergunta
Sturz. Na verdade, “… o
marxismo, longe de ser apenas uma análise de fatos concretos,
torna-se bandeira de ideias
para fazer a realidade depender delas. De símbolos estas ideias
se tornaram verdadeiros ídolos…” [3].
Ampliando
este raciocínio, vejamos o estudo da Brasil
Paralelo
sobre o assunto: “Marx
acreditava que a burguesia criava ideias ilusórias, como a religião,
para enganar as outras classes e conseguir dominá-las mais
facilmente. Ele chamava as supostas ideias falsas da burguesia de
ideologia. Contudo, as características das teorias de Marx são semelhantes às da ideologia de Destutt [4],especialmente devido as influências iluministas nas obras de ambos". A
Brasil Paralelo destaca ainda
as
característicasdeumaideologia:
Reducionismo
da realidade: os
ideólogos observam
a realidade a partir do que pensam, fechando-se a tudo o que a
realidade apresenta e que está fora da sua linha de pensamento.
Formação
de um governo extremista: “Uma
vez que a sociedade perfeita pode ser formada, o governo ideológico
se vê no direito de eliminar aqueles que atrapalhem tamanho bem
aparente, já que não existe uma punição além da terrena”.
Rechaço
contra religiões transcendentais: os
ideólogos (marxistas)
acreditam que conseguem gerar uma civilização perfeita na Terra
com seus próprios esforços, ao
contrário da
maioria das que
religiões
acreditam que a vida perfeita está para além deste mundo.
Formação
de uma religião imanentista: para
os comunistas, após viver a doutrina marxista e conseguir a
conversão de um número de pessoas adequado, a revolução seria
feita e o paraíso seria atingido.
Ao
analisarmos as características acima, podemos dizer que os
conservadores (não conservadoristas, pois assim se tornariam também
ideólogos) pensam o contrário disso. Entender o oposto do que é
ideologia pode auxiliar na melhor compreensão de seu conceito
através
da
observação da realidade. Essa observação gera a construção de
teorias e a descoberta de postulados, mas que não esgotam toda a
existência. De
forma coerente, a BP propõe os pensamentos de
Tomás
de Aquino e
de Aristóteles
como
exemplos de ideias antagonistas
das ideologias. Assim,
os
conservadores procuram
entender o conceito mas rejeitam
a qualificação de
conservadorismo como bandeira
ideológica,
evitando
assim, que
seu pensamento venha a
tornar-se num
código rígido e dogmático de pensamento politizado.
E
por
que devemos
rejeitar o marxismo? Por
conta do enfoque
idolátrico que aparece
quando procura tornar um elemento apenas natural em absoluto.
Neste
afã, Marx desenvolve “três
teorias”[5]que se tornam ídolos:
o
materialismo dialético (a evolução humana, relações sociais
determinadas pelas classes e os pensamentos
humanos representam apenas estas classes);
um
otimismo que vê solução de todos os problemas na marcha
histórica; e
um
humanismo religioso que encarrega o homem de sua própria salvação.
Como
os ídolos são espécies de deuses que ocupam o lugar do verdadeiro
Deus, as teorias marxistas tornam seus adeptos em verdadeiros
“crentes” em Marx e suas ideias. Se a ideologia, segundo Marx
“mascara
a realidade social”, e toma o “falso por verdadeiro e o injusto
por justo[6]",
podemos interpretar, à luz Bíblia
e da teologia
cristã, de forma invertida estas palavras,
isto é, afirmarmos o contrário: chamarmos de “treva” o que o
marxismo chama de “luz”; de “falso” o que é entendido como
“verdadeiro”, de “injusto” ao invés de “justo” e assim
por diante.
Embora
o marxismo
não
crê em nenhum elemento sobrenatural (metafísico), seu sistema
tornou-se um verdadeiro dogma no sentido de que suas ideias (teorias,
argumentações…) estejam colocadas acima de qualquer outro modo de
pensar. E entendido sua ideias como verdades, os comunistas/marxistas
tornam-se exclusivistas e não aceitam ser contraditados. É por isso
que Marx defendia a implantação violenta do comunismo, inclusive a
destruição do Cristianismo, esta ou qualquer outra religião é o
“ópio do povo”. Veja o vídeo sugerido abaixo.
Um
paralelo
entre Comunismo
e
Cristianismo [7]sobre
as
várias
situações da vida caracterizam
bem
as diferenças entre ambos:
Comunismo:
para o comunista...
Cristianismo:
para o cristão...
O
homem não é livre, porque a sua iniciativa vem de fora, isto é,
do Partido, que dita não somente o que ele deverá fazer, mas
também o que deverá pensar. Ele é como o leme de um navio, que
vai para onde quer que o dirija o comandante, que é o ditador do
Partido.
O
homem é livre, porque a sua iniciativa vem de dentro, a saber,
da sua alma. Ele pode ser comparado a um capitão de navio, que é
livre de traçar o seu próprio curso e de escolher o seu próprio
porto.
O
homem é um objeto. Um objeto não pode agir, mas é acionado
como um autômato social, e torna-se como o cinzel na mão de um
escultor.
O
homem é um sujeito. Um sujeito pode determinar suas ações,
como o artista pode livremente pintar quaisquer pinturas que
escolher.
Só
há uma espécie de unidade — a unidade político-econômica,
que é realizada não de dentro, por laços espirituais, mas de
fora, pela força, pelo terror e pela propaganda.
Há
duas espécies de unidade: unidade político-econômica, e
unidade orgânico-espiritual, pela qual nós somos membros uns
dos outros no Corpo Místico de Cristo.
O
homem é cidadão de um só mundo, e, desde que o Estado é tudo,
daí se segue que o homem não tem direitos salvo aqueles que o
Estado lhe deu. Por conseguinte, quando o entender, pode o Estado
tirar-lhe esses direitos.
O
homem é um cidadão de dois mundos8,
e, em virtude do segundo, ele possui certos direitos
inalienáveis, tais como a vida, a liberdade e a propriedade, dos
quais nenhum Estado pode privá-lo.
A
personalidade é relacionada ao tempo. O homem é alienado da sua
humanidade no presente, para atingir uma humanidade duvidosa num
paraíso terrestre no futuro. Tal como o expõe Lenine: “Durante
o período da ditadura em que não haveria liberdade, o povo
acostumar-se-ia às novas condições e sentir-se-ia livre numa
sociedade comunista" (O Estado e a Revolução).
O
homem existe não somente no presente, mas também no futuro. A
personalidade é independente do tempo, porque tem um valor
intrínseco em todos os tempos.
O
homem é determinado pela sociedade… e nela perde a sua
identidade como uma gota de água perde a sua identidade num copo
de vinho...
O
homem deve determinar a natureza da sociedade e ser o senhor
desta.
Portando,
quem estuda a Bíblia e à luz desta analisa o marxismo, torna-se
(espera-se) anti-comunista ou evita ser comunista. E mesmo sem a
Bíblia, na opinião de Reagan, como mencionamos na imagem acima, "Os
comunistas são as pessoas que leram Marx e Engels, os
anti-comunistas são aqueles que entenderam."
Sobre
os dogmas
marxistas,
que fazem
desta ideologia “quase” uma verdadeira religião, veja o vídeo
a seguir:
Notas:
[1] In: BROWN, Colin. Filosofia e fé cristã. São Paulo: Vida Nova: 1985, pág. 209.
[2] 000 O que é ideologia. Disponível em: <https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/o-que-e-ideologia>. Acesso em: 23/05/2024.
[3] BROWN: 1985, pág. 210.
[4] Antoine Destutt de Tracy (1754-1836), considerado o “pai” do termo ideologia. Filósofo iluminista francês, cunhou o termo no final do século XVIII para designar aquilo que ele acreditava ser a “ciência das ideias”. Disponível em: <https://www.cafehistoria.com.br/o-pai-do-termo-ideologia/>. Acesso em 24/05/2024.