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03 dezembro 2024

Bispos e Papas (12): Eleutero

Eleutero [1]

Continuando nossa lista de bispos e papas, destacando inicialmente os listados por Eusébio de Cesareia, quero destacar o número 12 de seu livro História Eclesiástica (HE) [2]: Eleutero. Depois de citar a sequência de bispos (HE: 5, VI): Lino, Anacleto, Clemente, Evaristo, Alexandre, Xisto, Telésforo, Higino, Pio, Aniceto e Sotero “... o décimo segundo desde os apóstolos no episcopado agora é Eleutero...”.

Sobre o bispo Eleutero ou Eleutério [3] segundo as fontes listadas abaixo [4], destacamos:

  • Eleutério é mencionado apenas a partir de fontes hagiográficas tardias (século VIII);
  • Era grego e seu nome (em grego) significa “homem livre”; parece indicar que ele era um escravo liberto.
  • Veio a Roma acompanhando do Papa (Bispo) Aniceto e tornou-se seu secretário. Depois, como papa (ou bispo), exerceu seu “papado” (episcopado) entre 175 e 189.
  • Seu episcopado foi marcado pela luta contra movimentos heréticos que chegaram a Roma: gnosticismo, montanismo e marcionismo.
  • Com a perseguição mais amena, no tempo do Cômodo, Eleutério passou a dedicar ao combate às questões heréticas. Emitiu um decreto acabando com a distinção herética entre alimentos puros e impuros. E, através de outro decreto, acredita-se que Eleutério tenha ordenado que o dia da Páscoa fosse comemorado no domingo.
  •  Foi martirizado (em 189) durante uma nova perseguição aos cristãos.

“Segundo a tradição, [Eleutério] recebeu cartas de Lúcio, rei de uma parte da Bretanha, pedindo o envio de missionários para o instruir na fé Católica[5]. Atendeu ao pedido iniciando assim a obra de evangelização, enviando os padres São Damião e São Fugácio para baptizarem o rei Lúcio, sua rainha e grande parte da população. Esta história merece o cepticismo dos historiadores por não ser suportada por relatos concretos. Eleutério resolveu a questão de origem judaica, sobre a distinção entre alimentos puros e impuros, libertando os cristãos de restrições alimentares” (Papa Eleutório / Coração devoto).

Sugiro, para concluir, o vídeo do site católico Altivez Altierez dos Santos Catequese e Teologia Católica, sobre Eleutério:


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] Imagem ilustrativa e adaptada. Disponível em: <https://coracaodevoto.com.br/paginas/papas/13>. Acesso em: 02/12/2024.

  • [2] Na versão publicada pela CPAD em 1995, nas páginas 409/410, a editora fez uma lista de 29 bispos de Roma citados por Eusébio, e Pio é o número 9 da lista...

  • [3] O bispo, chamado por Eusébio de Eleutero é conhecido também como Papa/Santo Eleutério nas fontes católicas consultadas.

  • [5] Entende-se por “fé católica” a aceitação, já no segundo século, após a morte dos apóstolos, de uma unidade doutrinária universal (católica) do Cristianismo. “A organização da Igreja Católica tomou-se necessária em face de um grande perigo. O Gnosticismo lançava confusão nas massas a respeito da verdade cristã. Outro movimento estava também produzindo dissensão: o Montanismo. Os montanistas desejavam uma igreja como a do 1º século, sob a direção do governo direto do Espírito Santo. Sustentavam que as autoridades da Igreja estorvavam a ação do Espírito, e se opunham ao poder sempre crescente que se desenvolvia no ministério. A crença deles a respeito da direção imediata do Espírito levou-os a uma estranha e fanática emissão de sons e palavras. Para preservar a religião cristã de se perder na confusão, foram necessários certos meios de unidade externa. O meio de que lançaram mão foi a organização da Igreja Católica, uma instituição que pretendia possuir autoridade, excluindo do seu seio os que se recusassem a lhe obedecer. Esse fato teve posteriormente resultados funestos, mas foi necessário naquele tempo...” (NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2000, pag. 47/48). Destaques meus...

22 novembro 2024

Tempo e tempos (6): O Dia do Senhor (profético)

Por: Alcides Amorim

"Multidões, multidões no vale da decisão; porque o dia do Senhor está perto, no vale da decisão. O sol e a lua se enegrecerão, e as estrelas retirarão o seu resplendor. E o Senhor bramará de Sião, e de Jerusalém fará ouvir a sua voz; e os céus e a terra tremerão, mas o Senhor será o refúgio do seu povo, e a fortaleza dos filhos de Israel. E vós sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus, que habito em Sião, o meu santo monte; e Jerusalém será santa; estranhos não passarão mais por ela" (Jl 3.14-17) [1].

A frase o dia do Senhor é usada dezenove vezes no Velho Testamento (Is 2.12; 13.6,9; Ez 13.5; 30.3; Jl 1.15; 2.1,11,31; 3.14; Am 5.18,20; Ob 15; Sf 1.7,14; Zc 14.1; Ml 4.5) e quatro vezes no Novo Testamento (At 2.20; 2Ts 2.2; 2Pe 3.10) [2]. E não trata apenas de um período curto de um dia como já vimos – dia de vinte e quatro horas –, mas de um período longo (2Ts 2.2) em que Deus cumprirá seu propósito sobre o mundo e os homens, podendo incluir inclusive, além do arrebatamento da Igreja, também a grande tribulação (Ap 6.17), a vinda do Senhor (1Co 1.8; 5.5; Fp 1.6,10; 2.16) até o Milênio (assuntos do quais falaremos em outros artigos).

Como parte da escatologia bíblica, a expressão dia do Senhor [3] aparece também como “o dia” (Am 5.18...), “naquele dia” (Is 2.11, Lc 21.34…) etc. A primeira menção, cronologicamente falando, do “dia do Senhor” está em Amós 5.18-20 e significa o dia em que o Deus de Israel haveria de intervir a fim de colocar Israel à testa das nações, mas ao mesmo tempo significa julgamento para o mesmo (Is 2.12; Ez 13.5; Jl 1.15; 2.1,11; Sf 1.7,14; Zc 14.1) e para outras nações individualmente como castigo contra suas violências, como por exemplo, a Babilônia (Is 16.6,9); o Egito (Jr 46.10) [4]; Edom (Ob 15); muitas nações (Jl 2.31; 3.14; Ob 15).

O Dia do Senhor é, dessa maneira, a ocasião quando Yahweh intervirá ativamente para punir o pecado, que terá chegado ao seu clímax. Esse castigo poderá vir por meio de uma invasão (Am 5 e 6; Is 13; Ez 13.5), ou através de algum desastre natural, tal como uma invasão de gafanhotos (Jl 1 e 2). Todas as intervenções menores chegarão ao seu apogeu por ocasião da vinda verdadeira do próprio Senhor. Nesse Dia, haverá crentes verdadeiramente arrependidos que são salvos (Jl 2.28-32), enquanto que aqueles que tiverem permanecido inimigos do Senhor, quer judeus quer gentios, serão punidos. Também haverá efeitos físicos por todo o mundo natural (Is 2).

No Novo Testamento, o Dia do Senhor é a segunda vinda de Jesus Cristo. A frase 'dia de nosso Senhor Jesus Cristo', ou equivalente, ocorre em 1Co 1.8; 5.5; Fp 1.6,10; 2.16; 2Ts 2.2. Essa vinda será inesperada (1Ts 5.2; 2Pe 3.10), mas certos sinais devem ocorrer antes de tudo, os quais devem ser discernidos pelos crentes (2Ts 2.2 e seg.). Efeitos físicos sobre o mundo natural acompanharão o Dia do Senhor (2Pe 3.12 e seg.).

Em suma, o Dia do Senhor:

  • Virá como o ladrão de noite (1Ts 5.2);

  • Está longe (2Ts 2.2) e perto (Jl 1.15; Sf 1.7) ao mesmo tempo;

  • Virá de improviso sobre os glutões, bêbados e descuidados em relação à vida espiritual (Lc 21.34);

  • Será dia de trevas e não de luz (Am 5.18-20);

  • Será de queda e humilhação dos arrogantes, soberbos e de exaltação do Senhor dos Exércitos (Is 2.11,12,17).

  • Será de bênção e aprovação para os irrepreensíveis e sinceros (1Co 1.8; Fp 1.10);

  • Será o grande dia da ira do Senhor (Ap 6.17).

  • Será dia de juízo das multidões e de refúgio para Israel (Jl 3.14-17)...

Por fim,

"Breve vem o grande dia / Em que lutas findarão / Todos males, agonias / Deste mundo cessarão. 

Cessará no céu o pranto / Pois não haverá mais dor / E ouvir-se-á o canto / Dos remidos do Senhor. 

Oh, que gozo estar com Cristo / Escutando a sua voz / Eu almejo hoje isto / E segui-lo sempre após... 

Se Jesus Cristo é meu guia / O caminho hei de trilhar / Quem assim em Deus confia / Lá no céu há de chegar..." (Harpa Cristã, Hino 371).

Veja mais no vídeo (cf. nota 2) a seguir:


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] Todas as referências bíblicas utilizadas neste artigo são da versão ACF – Almeida Corrigida Fiel. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>.

  • Texto adaptado de:
  • [3] WRIGHT, J. S. Dia do Senhor. Apud: DOUGLAS, J. D. (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia, Vol. I. São Paulo: Vida Nova, 1979, pág. 416/7.

  • [4] Veja também este artigo: Profecias em cumprimento: rio Eufrates secando e egípcios contra egípcios. In: <https://institutoparacleto.org/2012/07/06/profecias-em-cumprimento-rio-eufrates-secando-e-egipcios-contra-egipcios/>. Acesso em 21/11/2024 .


15 novembro 2024

Tempo e tempos (5): Dia do Senhor (Domingo) - Apocalipse 1.10

 Por: Alcides Amorim

Já vimos aqui que a palavra hebraica para dia é yom (יוֹם) no seu sentido literal e de tempo ou período percorrido como entendemos: dia de 24 horas. Aqui, destaquei o dia de descanso ou de adoração utilizado pelos cristãos: “Hemera ou Iméra tou Kyríou” (Dia do Senhor ou o Domingo), baseados nos comentários de Wood. [1] e de BEASLEY-MURRAY (Nota 4 abaixo).

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Essa expressão [Dia do Senhor] é encontrada apenas uma vez nas Escrituras como indicação do primeiro dia da semana. Em Ap 1:10, João desvenda que a visão do Apocalipse lhe foi dada quando foi arrebatado 'no espirito, no dia do Senhor’. Essa é a primeira ocorrência que temos, na literatura cristã, da expressão “hê kyriaké hemera”. A construção adjetival sugere que se tratava de uma designação formal sobre o dia de adoração da Igreja. Como tal certamente aparece no início do segundo século (Inácio, Epístola aos Magnesianos, i. 67) [2].

Pouco apolo pode ser aduzido em favor da teoria que diz que esse termo se refere ao dia da Páscoa, exceto, naturalmente, no sentido que cada dia do Senhor é uma recaptulação pascal. Porém, deve ser observado que eruditos de tanta reputação como Wettstein, Deissmann, e Hort, entre outros, preferem interpretar o versículo como indicação que João foi transportado, em seu êxtase espiritual, até o grande dia do próprio juízo (cf Ap 6:17; 16:14). Lightfoot acredita que existem ‘razões muito boas, não até mesmo conclusivas’ em favor dessa posição (The Apostolic Fathers, II, secção I, parte II, pág. 129. A opinião da maioria, entretanto, se inclina a sentir, juntamente com Swete, que tal interpretação ao contexto imediato e contrário ao uso linguístico (a Septuaginta sempre emprega a expressão he hemera tou kyriou para o profético ‘dia do Senhor’: kyriakos não aparece nunca). Seria razoavelmente seguro, portanto, concluir que, assim como a localização real da visão de João é registrada no versículo, semelhantemente a ocasião real também é registrada no versículo 10.

Mesmo que pudéssemos aceitar uma data tardia para o livro de Apocalipse (c. de de 96 D. C.), não seria necessário supor, juntamente com Harnack, que a expressão he kyriake hemera não estava em uso antes do término do primeiro século de nossa era. É possível que essa expressão tenha surgido tão cedo quanto 57 D. C., quando Paulo escreveu a epístola de 1 Coríntios. Em 11:20 desse livro o apóstolo fala em kyriakon deipnon ('ceia do Senhor'). É interessante que a versão pesita diz 'dia do Senhor' nesse versículo. Porém dificilmente parece que o termo estivesse então em uso corrente, pois, mais adiante naquela mesma epístola, Paulo diz kata mian sabbatou, (no primeiro dia da semana' (16:2).

Deissmann lançou mais alguma luz sobre o título ao mostrar que na Ásia Menor e no Egito, até mesmo antes da era Cristã, o primeiro dia de cada mês era chamado de dia do Imperador ou Sebastē. Isso, eventualmente, pode ter sido transferido para um dia qualquer da semana, provavelmente a quinta-feira (dies Iovis). 'Se essas conclusões são válidas', comenta R. H. Charles, 'então poderemos entender quão naturalmente o termo "Dia do Senhor" teve início; pois assim como o primeiro dia de cada mês, ou como certo dia de cada semana era chamado de "Dia do Imperador", semelhantemente seria natural que os crentes dessem nome ao primeiro dia de cada semana, associado como estava à ressurreição do Senhor e ao costume dos crentes de se reunirem para adorar, chamando-o de "Dia do Senhor". Talvez tenha surgido primeiramente em círculos apocalípticos, quando uma atitude hostil para com o império foi adotada pelo Cristianismo' (R. H. Charles, The Revelation of St. John, 1920, I, pág. 23; cf BS, págs. 218 e segs.).

'Senhor, nessa passagem, claramente significa Cristo, e não Deus Pai. Trata-se do dia de Cristo. Pertence-Lhe por causa de Sua ressurreição, quando foi 'poderosamente demonstrado filho de Deus' (Rm 1:4). Mc Arthur certamente tem razão ao afirmar que esse título, afinal de contas, se deriva da Soberania de Jesus Cristo, Soberania essa que se tornou manifesta na ressurreição do 'primeiro dia da semana' (Mc 16:2; vd A. A. Mc Arthur, The Evolution of the Christian Year, 1953, pág. 21). A adoração cristã é essencialmente uma anamnesis (lembrança) do acontecimento da Páscoa, que revelou o triunfo do propósito redentor de Deus. Isso explica o tom prevalente de alegria e louvor. O primeiro dia era igualmente apropriado, visto que relembrava o dia inicial da criação, quando Deus criou a luz, bem assim o fato que o Pentecoste Cristão caiu no domingo. Além disso, é bem possível que a expectativa dos crentes primitivos fosse que o retorno do Senhor se verificasse em Seu próprio dia.

A mais antiga evidência relacionada com a observância do primeiro dia da semana, por parte dos cristãos, aparece em 1 Co 16:1,2, ainda que não haja ali referência explícita a alguma reunião realmente levada a efeito. At 20:7 [3] é passagem mais específica e provavelmente reflete o uso continuado do calendário judaico por parte dos crentes, conforme o qual o dia do Senhor teria início ao pôr do sol do dia de sábado. Alford vê na prontidão dos gentios em aceitar este cálculo judaico 'a maior prova de todas que o dia foi assim observada' (H. Alford, The New Testament for English Readers, p. 788). Por outro lado, não há no Novo Testamento qualquer indicação duma controvérsia sabatista. O dia do Senhor, que de fato cumpriu todos os propósitos beneficentes de Deus na instituição do sábado para a humanidade, era observado 'em novidade de espírito e não na caducidade da letra' (Rm 7:6).

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Resumindo, conforme diz Murray [4], o Dia do Senhor não deve ser entendido no sentido escatológico, como pensam alguns, “… como se João tivesse sido transportado para viver naquele dia, mas ‘no dia consagrado ao Senhor’, uma frase que se usava já no segundo século referindo-se ao domingo. O termo ‘o dia do Senhor’, como Deissmann [5] tem mostrado, é provavelmente a substituição desafiadora dos cristãos ao ‘dia do Imperador’, que era celebrado ao menos mensalmente na Ásia Menor, se não semanalmente. Indicava originalmente o dia da elevação de Faraó ao trono do Egito, ou seu dia natalício; a ideia foi apropriada pelos imperadores romanos. Como memorial do dia da ressurreição de Cristo, e assim, da sua exaltação à soberania, o título ‘o dia do Senhor’ é especialmente apropriado” (destaques meus).

Veja também o vídeo do Portal CACP, a seguir, sob o título “O que significa a expressão ‘O Dia do Senhor’?”, do Pr. Natanael Rinaldi:


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] WOOD, A. S. Dia do Senhor (Domingo). Apud: DOUGLAS, J. D. (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia, Volume I. São Paulo: Vida Nova, 1979, Pág. 417/8.

  • [2“… Portanto, não precisamos mais manter o sábado, como fazem os judeus, ou alegrar-se pelos dias de ociosidade, pois “aquele que não trabalha, não deve comer”. Também foi dito pelos [santos] oráculos: ‘É pelo suor da tua face que comerás o teu pão’. Mas deixe todo aquele entre vós que ainda mantém o sábado por motivo espiritual, alegrando-se na meditação da Lei e não no descanso do corpo, admirando a obra de Deus e não comendo coisas preparadas no dia anterior, não fazendo uso de bebidas mornas ou andando um certo limite prescrito, não deleitando-se por dançar e aplaudir, e outras coisas sem sentido. Porém, após a observância do sábado, deve todo amigo de Cristo observar o Dia do Senhor como festa, o dia da ressurreição, a rainha e comandante de todos os dias [da semana]. Foi sobre isto que o profeta declarou: 'Para encerrar, o oitavo dia' [Foi nesse dia] que a nossa vida renasceu e a vitória sobre a morte foi obtida em Cristo…” (“Epístola aos Magnésios”.(Inácio, Bispo de Antioquia, 67 – 110 d.C., Parte IV, 9). Disponível em: <Inácio de Antioquia / Epístola aos magnesios>. Acesso em 13/11/2024.

  • [3E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite” (Versão A.C.F.).

  • [4BEASLEY-MURRAY, George Raymond. Apocalipse. In: O Novo Comentário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1983, Comentário sobre Apocalipse 1.10.

  • [5Gustav Adolf Deissmann (1866-1937): “teólogo protestante alemão, melhor conhecido por sua pioneira obra sobre a língua grega utilizada no Novo Testamento, que ele demonstrou ser o koiné, ou a língua comum utilizada no mundo helênico daquele tempo…”. Mais em: <Wikipedia – Deissmann>. Acesso em: 14/11/2024.

07 novembro 2024

Tempo e tempos (4): Dias da criação

PorAlcides Amorim

Continuando nossa reflexão sobre unidades de tempo na Bíblia, no contexto da escatologia – estudo das últimas coisas –, resolvi destacar neste post, dada a profundidade do tema, apenas o conceito de dia no relato da criação.

Em Gênesis 1 encontramos: “... dia primeiro” (v. 5); “… dia segundo” (v. 8); “… dia terceiro” (v. 13); “… dia quarto” (v. 19); “… dia quinto” (v. 23); “... dia sexto” (v. 31)... A palavra hebraica para dia, em todos estes versos é “yom” (יוֹם). O sentido aqui é literal, inclusive yom aparece nos nomes de algumas festas judaicas como “Yom Kipur” (Dia do Perdão); “Yom Yerushalayim” (Dia de Jerusalém); “Yom Teruah” (Dia da Lembrança)…

Gleason L. Archer Jr. fala de três teorias acerca da palavra yom (yõm). Uma delas representa “um dia de vinte e quatro horas” e o relato de toda a criação trata-se de uma “… semana literal na qual Deus completamente restaurou do caos uma criação (registrada em Gn 1:1) que tinha sofrido uma catástrofe (possivelmente na época na qual Satanás e seus anjos foram expulsos da presença de Deus). Apoio para esta interpretação tem sido alegadamente descoberto em Is 45:18 quando se lê que Deus não criou a terra ‘em vão’ ou para ser um caos’… vazia...” [1]. A terra que foi criada, não para ser vazia, “tornou-se”, “veio a ser” vazia (Hb hãyãh) [2], tornou-se um caos, depois da batalha de Satanás e seus anjos. Daí, o relato da criação tratar-se da restauração deste caos (v.1). Archer Jr. não sustenta esta teoria como sendo “verdade absoluta”, apenas a apresenta para o conhecimento do leitor. O que muitos cristãos estudiosos tentam fazer é conciliar um suposto intervalo entre o v.1 e o v. 2 (que veio a ser chamado de “Teoria do Intervalo”) com a antiguidade da terra, defendida pela “ciência”. Ou seja, o Universo (céus e terra) foi criado perfeito (v.1), talvez há bilhões de anos; num tempo indefinido, porém, houve uma rebelião de Satanás (cf. Is 14.12-14; Ez 28.12-15 e Ap 12.7-9), tornando a terra (apenas a terra, não o universo em geral) sem forma e vazia; e houve, a partir do verso 2, uma espécie de “recriação” da terra não tão antiga assim como a ciência afirma [3].

O professor Adauto Lourenço, grande defensor do Criacionismo, explica aqui, [4] de forma bem diferente do que já ouvi até hoje, este episódio da criação: o caos, a queda de Satanás etc. Quero destacar alguns pontos de sua fala:

  • O que ocorre no verso 2 não é uma recriação da terra a partir do caos, mas sim uma criação em processo. Ele entende que o verbo original hãyãh, traduzido como “era”, não se aplica a “tornou-se” como alguns o fazem, afirmando que a terra tornou-se sem forma e vazia por conta da queda de Satanás.

  • A expressão “… muito bom…” (v. 31), aplicada à criação de Deus não condiz em nada com uma terra perfeita e já concluída se Satanás estava nela. Ou seja, se assim fosse, haveria pecado na terra mesmo antes de o homem ter sido criado e posto no Éden.

  • O primeiro dia começa no verso 2 e termina no verso 5; o jardim do Éden só começa no sexto dia, após a criação do homem (2.8).

  • Considerando que o “querubim ungido” (que veio a ser Satanás) estava no “… Éden, jardim de Deus…” (Ez 28.13), portanto no mesmo lugar que estava o homem antes de ambos (o querubim e o casal Adão e Eva) pecarem, foi lá (no Éden) que o querubim, ainda antes de pecar, estava e/ou andava. Veja: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28.15).

  • Há uma diferença de quando “… Lúcifer, filho da alva…” (Is 14.12) pecou e recebeu a sentença de seus atos (as consequências de seu seu pecado), e de quando ele foi/será expulso do céu. Até os dias de Jó, por exemplo, ele ainda tinha acesso à terra e ao céu (Jó 1.6 e 2.1), chegou, inclusive à presença de Deus.

  • Entendido que o Filho da Mulher (Ap 12) é Jesus, será Ele que expulsou ou expulsará para sempre (v. 8 ) o Inimigo. Veja mais esses nomes/adjetivos (v. 9): “grande dragão”, “antiga serpente”, “Diabo”, “Satanás”..., Ele foi/será “… precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele”. No meu entendimento (posso estar enganado), a precipitação do Diabo, o grande dragão, à terra, se dará durante a grande tribulação. E Deus dará escape a Israel por três anos e meio ou “… um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente” (v. 14).

Veja: “mil duzentos e sessenta dias” (Ap 12.6); “um tempo, e tempos, e metade de um tempo” (Ap 12.14) e “quarenta e dois meses” (Ap 13.5) equivalem ao mesmo espaço de tempo: “… metade de uma semana” (Dn 9.27), assunto do qual falamos um pouco aqui e pretendemos falar mais em outro momento.

  • Por esta interpretação, o Diabo não foi lançado na terra entre os versos 1 e 2 de Gn 1, mas sim após a ascensão de Jesus. Ele mesmo anteviu isto antes de sua morte: “… Eu via Satanás, como raio, cair do céu” (Lc 10.18).
Bem, e os seis dias da criação foram dias de 24 horas? A resposta para esta pergunta deixo também com o professor Adauto Lourenço [5]. Ele explica que os seis dias com tardes e manhãs apontam para dias de 24 horas. Reforça este entendimento com o texto de Êxodo 20.11: “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.” Se Deus pediu que seu povo trabalhasse seis dias e descanse no sétimo, obviamente não seriam seis dias longos, de milhões de anos – ou um dia como mil anos, por exemplo – mas no sentido literal. Neste caso, ou eu provo que Êx 20.11 é uma exceção ou admito que trata-se de dias literais. Compare: “E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito” (Gn 2.2). Mas seis dias não são um tempo muito curto para a criação? Pensando como humano, sim, mas devemos lembrar do que a Bíblia diz: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da sua boca… Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu” (Sl 33.6,9). Disse Deus: “Haja…” e “houve...”. Tudo foi feito pela Palavra, “o Verbo”, que estava no princípio com Deus, e sem Ele, o Verbo (JESUS) nada do que foi feito se fez (Veja Jo 1.1-3). Portanto, finalizando, os dias da criação apontam para uma idade jovem da terra, não só porque a Bíblia fala que ela é jovem mas também porque a ciência comprova.

Veja mais em:



"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez" (Jo 1.1-3).

Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] ARCHER Jr. Gleason L. Merece confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 1984 (3a Ed.), pág. 94.
  • [2] O verbo hãyãh traduzido em nossas bíblias como “era” pode ter este sentido de “veio a ser”, “emergiu-se de algo”, “começar a existir” etc.
  • [5] O estudo do professor Adauto Lourenço sobre o assunto está em seu livro Gênesis 1 e 2, publicado pela Editora Fiel. Uma minúscula explicação está no vídeo a seguir: <https://www.youtube.com/watch?v=xeOlXsb0g-0>. Acesso em: 05/11/2024.

28 outubro 2024

Eleições 2024 nos duzentos maiores municípios do Brasil

 Por: Alcides Amorim


Em anexo, resultados das eleições nos 200 maiores municípios do Brasil em 2024 e os 20 veradores mais votados...

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