Mattia Preti, The Crucifixion of St Andrew, 1651 [1]
No dia seguinte João viu a
Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo. (...) Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que
ouviram aquilo de João, e o haviam seguido. (...) Este achou primeiro a
seu irmão Simão, e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo).
(Jo 1.29,140,41) (Negrito meu)
O nome André significa, no grego, “viril”,
embora, a exemplo de Pedro, seu irmão, pode ser um nome cristão. Era filho de
Jonas e provinha de Betsaida, na Galileia, mas morou com seu irmão Pedro em
Cafarnaum (Mc 1.29) onde ambos se tornaram pescadores, conforme destaca R. E.
Nixon[2].
Sendo [André] discípulo
de João Batista (Jo 1:35-40) este lhe mostrou Jesus como o Cordeiro de Deus. Saiu
à procura de Simão e o trouxe a Jesus (Jo 1:42). Posteriormente foi chamado a
um discipulado integral (Mt 4:18-20. Mc 1:16-18) e se tornou um dos doze apóstolos
(Mt 10:2; Mc 3:18; Lc 6:14). Sua fé prática é demonstrada em Jo 6:8,9;
12:21,22. Foi um daqueles que interrogaram acerca do julgamento que sobreviria
a Jerusalém (Mc 13:3,4). Ele é mencionado finalmente, em companhia dos outros apóstolos,
após a ascensão (At 1.13). É provável que tenha sido crucificado na Acaia... (NIXON,
Nota 2).
Na verdade, os historiadores sagrados[3] têm sido muito completos e
abundantes ao descrever os atos de Pedro, mas bastante frugais nos relatos
sobre seu irmão André. Ele foi criado com Pedro no ramo de seu pai, e continuou
em sua ocupação até ser chamado pelo Senhor para ser tornar um ‘pescador de
homens’.
André, como outros jovens da Galileia, tinha se
tornado um discípulo de João Batista. No entanto, ao ouvir seu mestre falar,
pela segunda vez, de Jesus como o Cordeiro de Deus, deixou João para seguir a
Jesus. Ele foi, imediatamente após isso, o meio pelo qual seu irmão Pedro foi
trazido a seu novo Mestre. Até o momento, ele tinha a honra de ser o primeiro
dos apóstolos a apontar para Cristo (João 1). Ele aparece ainda nos capítulos
seis e doze de João, e no décimo terceiro de Marcos, mas, além desses poucos e
espalhados relatos, as Escrituras não relatam mais nada a respeito dele. Seu
nome não aparece nos atos dos Apóstolos, com exceção do primeiro capítulo.
Conjecturas e a tradição têm dito muitas coisas
sobre ele, mas devemos considerar apenas fatos razoavelmente estabelecidos.
Dizem que ele pregou em Cítia, e que viajou pela Trácia, Macedônia, Tessália, e
que sofreu o martírio em Petra, na Acaia. Sua cruz, dizem, era formada de dois
pedaços de madeira se cruzando no meio, na forma de X, geralmente
conhecida pelo nome de cruz de Santo André. Ele morreu orando e exortando as
pessoas à constância e perseverança na fé. O ano em que ele sofreu isso é
incerto.
Veja mais sobre o apóstolo André, no vídeo de
Marlon Engel abaixo:
“E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um
homem, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu” (Mt 9.9).
“Filipe e Bartolomeu; Tomé
e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu”
(Mt 10.3).
“E, depois disto, saiu, e
viu um publicano, chamado Levi, assentado na recebedoria, e disse-lhe:
Segue-me. E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu” (Lc 5.27,18)[2]
(destaques / sublinhados meus).
O nome de Mateus aparece em
todas as listas dos doze apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Destaquei,
nos textos acima, as expressões “alfândega”, “publicano” (escritas pelo próprio
autor) e “Levi”, em relação ao apóstolo Mateus, uma vez que estas resumem a
identidade deste cobrador de impostos – profissional tido, muitas vezes, como
traidor e/ou roubador do povo –, mas nesse caso específico, um escolhido por
Jesus para compor seu Colégio Apostólico.
Mateus[3]foiumdosdozeapóstolosdeJesus etambémautordoEvangelhodeMateus. Ele
aparece em todas as listas que relacionam os discípulos de Jesus, sendo elas:
Mateus 10:3, Marcos 5:18, Lucas 6:15 e Atos 1:13.
Não encontramos muitas informações biográficas sobre
Mateus na Bíblia. Na verdade, além das listas com o nome dos discípulos, o
apóstolo Mateus aparece apenas em outros dois episódios em todo o Novo
Testamento.
Sobre a escolha do apóstolo Mateus, um dos dois
relatos em que o apóstolo Mateus aparece na narrativa bíblica além das listas de
apóstolos descreve justamente sua chamada para ser discípulo de Cristo. Uma
curiosidade sobre isto é que a escolha do apóstolo Mateus é a única chamada individual
de um discípulo registrada nos Evangelhos Sinóticos[4]. O próprio Mateus
denomina-se como o publicano, cobrador de taxas e impostos a
serviço do Império Romano. Essa classe de trabalhadores era desprezada pelos
demais judeus que a reputavam praticamente como traidora de seu próprio povo.
Pelo contexto histórico da época, é possível que Mateus estivesse
sob as ordens de Herodes Antipas, o tetrarca da Galileia.
Considerando o ofício que desempenhava, o apóstolo
Mateus provavelmente era uma das pessoas mais cultas do grupo dos discípulos de
Jesus.
Jesus encontrou
Mateus “sentado na coletoria”,
ou seja, na alfândega, nas proximidades de
Cafarnaum, e lhe ordenou que O seguisse (Mt 9.9). Esse local em que o apóstolo
Mateus estava era um dos postos fiscais geralmente estabelecidos em estradas,
pontes, canais ou nas margens dos lagos para coletar taxas e impostos. T
Merece destaque também que o nome “Levi” que aparece nos Evangelhos. E, como este nome não é
mencionado em nenhuma das listas de discípulos de Jesus é amplamente aceito que
Mateus e Levi tenham sido a mesma pessoa. Nos Evangelhos
de Marcos (2.14) e Lucas (5.27), lemos que Jesus ordenou que Levi o seguisse, numa
descrição muito semelhante ao registro do EvangelhodeMateus 9.9 onde o apóstolo foi convocado.
Entendendo então que Levi e Mateus são as mesmas pessoas, logo somos informados de que ele era filho de Alfeu (Mc
2:14). Sabemos também que Tiago, outro apóstolo de Jesus, também era filho de
Alfeu. No entanto, não há informações necessárias para que possamos afirmar que
se tratava do mesmo Alfeu e, consequentemente, queTiago Menor eMateus foramirmãos.
Ainda sobre sua dupla designação (como Levi e Mateus),
existe a chance de que seu nome principal era Levi, mas que depois de se tornar
apóstolo de Jesus, ele preferiu ser chamado por outro nome, no caso Mateus, tal
como Simão Pedro também o fez.
Após o Pentecostes descrito em Atos dos Apóstolos capítulo
2, a Bíblia não nos fornece mais nenhuma informação sobre o apóstolo Mateus.
Algumas tradições, sem qualquer comprovação histórica, sugerem que em algum
momento após o Pentecostes Mateus partiu para Etiópia, Macedônia, Síria e
outras localidades. Uma dessas tradições defende que o apóstolo Mateus morreu
de causas naturais estando ou na Macedônia ou na Etiópia. Por outro lado,
tradições gregas e romanas afirmam que o apóstolo sofreu martírio. Quando? Possivelmente,
em 72[5]
Bem, a obra maior de Mateus é o Evangelho que leva o seu
nome, o Evangelho
Segundo Mateus. E apesar de alguns críticos defenderem que o apóstolo não pode ter sido
o autor do Evangelho que leva seu nome, a tradição cristã, desde a Igreja
Primitiva, atribuiaoapóstolo Mateus a autoria do primeiro Evangelho. Na
verdade, o que pode ser dito é que nenhum argumento contrário à autoria do
apóstolo pode ser sustentado à luz de uma análise profunda da questão.
Veja também, a seguir, o vídeo de Lamartine Posella sobre
Mateus:
Notas / Bibliografia:
[1] Imagem meramente ilustrativa.
Disponível em:
<https://theotoucharis.wixsite.com/theo/single-post/2016/03/10/serm%C3%A3o-o-chamado-de-mateus>.
Acesso em 22/11/2021.
[2] Todas as referências bíblicas
utilizadas neste post são da versão online Almeida Corrigida Fiel.
Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>.
[3] O texto a seguir é uma reescrita com adaptações
do artigo de Daniel CONEGERO: In: <https://estiloadoracao.com/quem-foi-o-apostolo-mateus/>. Acesso em: 22/11/2021
[4]EvangelhosSinóticos são
aqueles que narram a vida e ministério de Jesus sob uma mesma ótica, mesmo
ponto de vista ou visão conjunta. São eles: Mateus, Marcos e Lucas.
Já vimos em artigos anteriores sobre Tiago
Maior, que foi
apóstolo, juntamente com seu irmão João, e ambos eram filhos de Zebedeu, e Tiago,
irmão do Senhor, autor da Epístola que leva o seu nome.
E neste breve artigo queremos destacar a pessoa do outro apóstolo Tiago,
que era filhodeAlfeu.
Este Tiago (Ἰάκωβος, Jacobos em grego antigo) era conhecido também como TiagoMenor. Por que “menor”? Possivelmente, por causa de sua estatura física
– mais baixa que a do outro Tiago ou por ser de menos idade. A NVI (Nova Versão
Internacional), por exemplo, refere-se a este Tiago como “o
mais jovem”, em Marcos 15.40. De qualquer forma, ele pode ter tido ambos os
adjetivos: era mais baixo e possivelmente o mais novo dos Tiagos ou dos demais
apóstolos.
As referências sobre Tiago, filhodeAlfeu
são poucas no Novo Testamento. Ele aparece ligado a seu pai (Alfeu) nas listas
dos apóstolos, de Mateus 10.2,3, Marcos 3.17,18, Lucas 6.14,15
e Atos 1.13, sempre para diferenciá-lo do outro Tiago, que era filho de Zebedeu
e que aparece também nas mesmas listas. E, pela referência de Marcos 15.40, sua
mãe se chamava Maria – ... Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José... –.
Observa-se que por esta referência de Marcos, Tiago Menor tinha um irmão
chamado José, que não deve ser confundido com o outro José, irmão do outro
Tiago e de Jesus, conforme vemos na lista dos irmãos de Jesus, relatada pelo
mesmo evangelista (Mc 6.3 – “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e
irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas
irmãs? E escandalizavam-se nele”.
Como já dissemos, não há muitas referências
acerca de Tiago, filho de Alfeu, no Novo Testamento, embora, obviamente, ele
tenha continuado sua missão apostólica depois da ressurreição de Jesus e do
Pentecostes, sem que isso ficasse registrado nos textos sagrados.
A posição, defendida por nós aqui, é
a mesma defendida por teólogos protestantes [2].
Por parte de católicos, ao contrário, este Tiago ganha uma relevância muito
grande, pois é visto como o outro Tiago, conhecido como Tiago,
irmão de Jesus(ou primo de Jesus, segundo os católicos) que foi líder da igreja em
Jerusalém e autor da epístola que leva o seu nome. Ou seja, enquanto
protestantes destacam três principais Tiagos (o filho de Zebedeu, o filho de
Alfeu e o irmão de Jesus), para católicos, estes dois últimos são a mesma
pessoa. Já tratei parcialmente destas questões neste
artigo, mas para maior aprofundamento do
assunto, sugiro estes outros artigos do historiador e teólogo Lucas Banzoli:
Obviamente, os artigos de Banzoli são voltados,
principalmente, para o Tiago, irmão do Senhor, a seus pais (José e Maria) e
demais membros da família. Mas para fazer esta separação dos Tiagos (filho de
Alfeu e irmão de Jesus), vale a leitura destes e outros artigos, além de vídeos
mencionados (links) por ele.
Sobre a morte
de Tiago Menor, não sabemos quando a mesma ocorreu, mesmo porque as informações
deixadas por Josefo, Clemente, Eusébio etc., atribuídas a Tiago Menor, normalmente
são confundidas com as do Tiago, irmão do Senhor. Franklin FERREIRA [3], afirma
que “Tiago, o Menor, foi lançado de um pináculo do templo em Jerusalém e
depois espancado até morrer”. Quando? Possivelmente, no ano 62 (Wikipedia).
Bem,
no vídeo abaixo, MarlonEngel, faz um bom resumo da vida de
Tiago Menor. No mais, o importante saber é que na verdade, a exemplo dos demais
apóstolos, afirma Engel, “... a importânciadosdiscípulos não
estava nas suas descendências (...). O que fez estes homens importantes
foi o Senhor a quem serviram e a mensagem que proclamaram”.
A manhã estava
linda. Um sol maravilhoso, o céu, muito azul, encontrava no horizonte com o mar
que parecia um mingau de vidro. E tudo aquilo podia ser mais bonito se a praia
estivesse branquinha, como Deus inventou.
Mas não estava.
Naquele enorme areal não se podia dar um passo sem pisar em algum lixo. Era
lata de cerveja vazia, era copo usado de plástico, era pauzinho de picolé
chupado, era papel de tudo que era cor e feitio. Na beira d’água era mais
triste ainda. Pedaços de pau, manchas pretas de óleo e uma porção de peixinhos
mortos, com a barriga virada para cima.
Os banhistas ainda
não tinham começado a chegar e só os urubus é que andavam no meio daquela
lixarada, fazendo o seu serviço, limpando a praia do que havia de mais sujo e
fedorento.
Mas não demorou
muito e apareceu o primeiro. Era uma mulher, de óculos escuros e chapeuzinho de
palha. Debaixo do braço trazia uma barraca, tipo guarda-chuva e uma toalha. Na
mão, uma sacola, onde levava bronzeador, cigarro, fósforos, lápis e uma
revistinha de palavras cruzadas. Levou um tempão para arrumar aquilo tudo na
areia, sentar e começar a besuntar o corpo com uma coisa visguenta que saía da
garrafinha.
Não muito longe,
uma urubua tinha parado de ciscar na sujeira e ficou olhando para ela perder
tanto tempo, só para acabar sentando e se sujar daquele jeito. A urubua
continuou olhando para tanta esquisitice e uma porção de pensamentos subia e
descia dentro da sua cabecinha cinzenta. Um desses pensamentos era assim:
– “Todos os bichos
que existem neste mundo gostam de se aquecer no sol quando é inverno e faz
frio. Mas num dia de verão danado, como hoje, todos procuram uma sombrinha,
onde é mais fresco. Só mesmo pra procurar comida ou ir pra casa é que qualquer
um, seja de pele, pena ou pelo, é que enfrenta um calorão desses. Mas o bicho
homem é mesmo muito biruta. É o único que se mete debaixo do sol, até ficar com
a pele dolorida de tão queimada, cheia de bolha, sem ter nada de importante
para fazer ali.”
Sacudiu a cabeça
de um lado para outro, tirou com o pé um pedaço de sardinha que ficou entalado
no canto do bico e teve outro pensamento:
– “Não entendo
mesmo o que é que essa gente tem dentro da cabeça. Dizem que nós, os urubus, é
que somos uns bichos diferentes porque gostamos de porcaria. O compadre porco
gosta das mesmas coisas que nós gostamos, mas os homens até fazem criação
deles. E o que esse pessoal vem fazer numa praia imunda como esta se todos são
tão cheios de chiques e não-me-toques, torcendo o nariz por qualquer coisinha…?
Coitados… É capaz até que eles não saibam que essa água do mar, onde eles
adoram tomar banho, é tão suja como a água que sai das privadas das casas
deles. Vai ver é isso mesmo… Vou avisar aquela mulher…
A urubua não tinha
andado nem um metro na direção da banhista e levou com uma garrafa de guaraná
vazia bem no meio do pescoço. E, de quebra, uma porção de: “chô… chô… Vai
embora, bicho nojento. Fora daqui…”
Ela abriu as asas,
deu uma corridinha para pegar impulso e levantou voo. De todos os cantos da
praia, outros urubus também estavam voando porque já eram muitas as barracas
armadas e muitas as pessoas que tinham chegado, arranjando um lugarzinho no
meio daquela lixarada toda.
E como sempre
faziam, depois que comiam pela manhã, iam pousar no telhado do matadouro. Era
ali o ponto de reunião da urubuzada daquele lugar. Ali é que eles batiam papo,
contavam as novidades da família, e davam as dicas de onde podia ser encontrada
comida pro bando todo.
A urubua, depois
que alisou as penas e espreguiçou as duas asas, começou a conversar com o urubu
que estava ao seu lado. E contou como quase-quase teve o pescoço quebrado
aquela manhã, lá na praia. O urubu também lhe contou que estava ciscando
naquela areia negra e oleosa, lá no Entreposto de Pesca, quando, de repente,
olhou de banda e viu que um caixote velho vinha caindo direto em cima dele. Se
não fosse de circo e não soubesse pular numa perna só, aquela hora não estava
ali, contando o susto que levou. Não demorou muito e todos os urubus estavam
falando sobre a mesma coisa: como cada dia a vida ficava mais difícil, como
eram xingados de tudo que era nome feio e como precisavam estar sempre
preparados para não levarem pauladas, garrafadas, pedradas e tudo que era adas
que os homens podiam jogar em cima deles.
Urubu é bicho que
não canta nem faz qualquer barulho. Mas naquela manhã eram tantos, falando ao
mesmo tempo, que o zum-zum era tão forte que quem passasse na rua, olhava pra
cima pra ver o que estava acontecendo.
Aí o Lula, que era
o presidente do Sindicato dos urubus, resolveu falar. Bateu as asas três vezes…
tlec… tlec… tlec… E todos se calaram. Quando aquela porção de bicos estava toda
virada para o lado dele e todos os urubus ficaram quietos, ele falou:
– “Urubuzada,
atenção, por favor! O que todos vocês estão reclamando hoje não é nenhuma
novidade. Venho ouvindo essas queixas há muito tempo e acho que chegou a hora
da gente fazer alguma coisa”.
Todos os urubus
bateram as asas ao mesmo tempo porque esse é o jeito de urubu bater palmas.
– “Silêncio, por
favor!” – disse o Lula. E continuou quando os tlec tlec pararam.
– “Não podemos
continuar sendo humilhados assim. Cada dia que passa a quantidade de lixo que é
fabricado pelos homens vai aumentando. As praias, os rios, os monturos, estão
cada vez mais fedorentos. E somos nós que damos um jeito, catando o dia todo,
dando sumiço nas porcarias mais porcarias. A injustiça deles é tão grande que
dão o nome de porcaria para as maiores sujeiras e nunca se lembraram de
chamar urubuzaria para qualquer coisa, em homenagem ao nosso trabalho, quando
somos nós que fazemos a maior parte do serviço.”
Foi um tal de tlec
tlec em cima do telhado do matadouro que chegou até fazer um ventinho. E o Lula
foi em frente com o seu discurso:
– “Milhares de
companheiros nossos da turma que mora lá no mangue da Baía da Guanabara, foram
engaiolados para a Alemanha para serem estudados pelos cientistas que estão
querendo descobrir a cura do câncer, uma doença que dá neles e nunca dá em nós.
Desde que o mundo é mundo, o nosso trabalho é fazer que o lixo seja menos
lixoso. Antigamente, no tempo em que os urubus ainda podiam escolher as cores
de suas penas, em vez desse uniforme preto que usamos agora, éramos
respeitados. Hoje em dia os homens xingam, maltratam e até matam qualquer urubu
que não seja bastante vivo pra voar para longe, logo que um deles vai chegando
perto. Por tudo isso, pra que eles vejam como somos úteis, acho que devemos
entrar em greve geral. Não vamos mais tocar nos montes de lixo que eles fazem
em volta das suas cidades e na beira de tudo que é praia, rio ou lago. E assim
talvez as coisas mudem. Quem estiver de acordo, levante a asa direita.”
No mesmo instante,
todas as asas direitas que estavam ali, ficaram esticadas para cima. Depois
disso passaram-se dias, semanas e fazia quase um mês que nenhum urubu era visto
voando ou ciscando por onde sempre andaram. Os montes de lixo tinham crescido
uma barbaridade e ninguém aguentava mais o fedor que saía deles. Foi só aí que
os homens entenderam a falta que os urubus faziam. Mas como é que iam fazer
pros urubus voltarem?
Aí tiveram uma ideia.
Se pedissem desculpas e mostrassem que haviam compreendido que, mesmo sendo
feios e desajeitados, eles eram tão importantes como são importantes todos os
bichos que existem neste mundo, eles talvez voltassem pra fazer o que sempre
fizeram.
Reuniões no
Ministério não sei do que, comissões de estudo na Secretaria do não sei que
mais, mesa-redonda do isso-mais-aquilo e finalmente encontraram uma solução.
Eles deviam organizar uma campanha em todo o país para que o povo entendesse
como os urubus deviam ser tratados com respeito, como os urubus eram úteis,
quanto os urubus ajudaram para se conhecer as correntes de ar, chamadas
ascendentes e descendentes. E uma porção de outras coisas desse tipo.
Como nenhum bicho
desse planeta consegue elogiar e puxar saco melhor que o bicho homem, a tal
campanha foi um sucesso. Fizeram até uma musiquinha que tocava no rádio em
todos os intervalos de propaganda.
Vamos todos bater
palmas
Pro nosso amigo
urubu
Pleft… pleft…
É preciso que ele
ouça
Nosso recado do
amor
I love you… I alove you…
Pleft… pleft…
Não é um amor
passageiro
Pra esse grande
lixeiro
Que acaba com o
fedor
Pleft… pleft…
Um cantor muito na
moda, o Gilberto Jiló, inventou a “Dança do urubu”, para aproveitar a onda de um
assunto que andava na boca de toda gente. Ele aparecia no palco vestido de
penas pretas e com uma lata de lixo amarrada na cabeça. Como tudo que ele
cantava era muito admirado por todos os rapazes e moças, por todos os
estudantes universitários, logo apareceram as camisetas com o desenho de um
urubu dizendo: “Help me”.
Na televisão,
depois daquele plic plic que avisa que é hora das pessoas saírem da sala para
irem até o banheiro ou até a cozinha para beber água, aparecia um filmezinho
lindo, sobre a vida dos urubus. Era tão bem-feito que nem dava pra desconfiar
que era sobre urubus. Aparecia um deles voando mais bonito que uma águia e de
um jeito que a sua cor preta virou prateada. Urubu não canta nem em Dia de
Finados, mas vendo aquele filme qualquer um ficava com vontade de ter um urubu
em casa, só pra ouvir uns gorjeios mais bonitos do que sabiá cantando no meio
do mato.
Isso, sem falar
nas reportagens que saíram em tudo que era tipo de revista. E nos cartazes
coloridos, pregados nos muros de todas as cidades, com o retrato de um urubu
sorrindo e segurando uma flauta. Em baixo, em letras bem grandes, a frase:
“Ponha um urubu em sua vida! Ele merece!” Em todas as casas de discos não se
encontravam mais nada que falasse de urubu. Esgotada a música do Gilberto Jiló
e esgotada uma outra, dos tempos em que o almirante era cantor famoso e cantava
um maxixe que dizia assim:
Urubu veio de cima
Com fama de
cantador
Urubu chegou na
festa
Tirou dama e não
dançou
Ora dança urubu
Eu não sinhô
Tira a dama, doutô
Não sou doutô…
Não precisa dizer
que em todas as escolas, os mais famosos urubuzólogos fizeram uma porção de conferências.
E que para completar a série, o governo instituiu o “Dia Nacional do Urubu”.
Quem é que pode
resistir uma badalação dessas, não é mesmo? Aos pouquinhos os urubus foram
voltando. E estão novamente por aí, ciscando o lixo, como fizeram sempre.
Fonte:
LUTZENBERGER, José. A Greve dos urubus.
São Paulo: Brasiliense (?)…
[1]O gaúcho José Antonio Lutzenberger
(1926-2002) “... foi um agrônomo, escritor, filósofo, paisagista e
ambientalista brasileiro que participou ativamente na luta pela preservação
ambiental...” (Wikipédia). A fábula acima
foi parte de uma aula de Sociologia que tive em 1992 e ainda parece atual, pois
o Urubu-Mor ainda está dando suas cartas, enquanto se ouve um bando de tlec...
tlec... tlec... quando ele grasna...
República (do latim res publica = “coisa
pública”), é a forma de governo, cujo chefe do Estado, normalmente o
Presidente, é eleito pelos cidadãos por tempo limitado de acordo com a
Constituição do país. No caso do Brasil, o tempo estipulado pela Constituição
para o mandato do Presidente da República é de quatro anos, podendo ser
reeleito para mais quatro, caso seja a vontade dos eleitores.
A origem
desta forma de governo está na Roma Antiga e foi experimentado, pela primeira
vez, quando os patrícios, classe privilegiada, destronou o último etrusco do
poder, e implantaram este novo regime, instaurando o chamado
Período Republicano que durou entre 509 a 27 a.C.
1.Ideias republicanas no
Brasil Colônia
No
Brasil, que viveu sob a tutela de Portugal por mais de três séculos, a ideia de
implantação do regime republicano já existia desde o final do século XVIII. Com
tendências separatista e regionalizada, podemos perceber essa ideia em
movimentos como a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana (1798) e a
Insurreição Pernambucana de 1817.
A Inconfidência Mineira, que
culminou com a morte de Tiradentes em 1792, foi o primeiro movimento que
manifestou claramente a interação de separação política de Portugal.
Influenciada pelo Liberalismo, o Iluminismo e a Independência dos Estados
Unidos, parte dos inconfidentes, no plano político, “almejava a república”.
A conjuração pretendia eliminar a dominação portuguesa das
Minas Gerais, estabelecendo um país independente. Não havia a intenção de
libertar toda a colônia brasileira, pois naquele momento uma identidade
nacional ainda não havia se formado. A forma de governo escolhida foi o
estabelecimento de uma República, inspirados pelas ideias iluministas da França
e da Independência dos Estados Unidos da América (1776). Ressalve-se que não
havia uma intenção clara de libertar os escravos, já que muitos dos
participantes do movimento eram detentores dessa mão-de-obra[2].
Após a
execução de Tiradentes sobrava o lema da Inconfidência: “Liberdade ainda que
tardia”, expressão que ficou marcada na bandeira de Minas Gerais.
Sobre
a Conjuração Baiana, a
revista Nova Escola (novembro de 2012), por exemplo, em um de seus artigos sob
o título “Aconteceu na França, respingou aqui”, menciona o fato de ela ter tido
grande influência no exemplo da República, implantada na França, como
parte do processo da Revolução. ‘Todos serão iguais, não haverá diferença, só
haverá liberdade, igualdade e fraternidade’. Esta declaração descrita em
panfletos no dia 12 de agosto de 1798, convocava as pessoas à revolução e à
instauração da República Baiana. O movimento revolucionário foi reprimido com
violência e com a execução dos conjurados, mas expressou a popularidade do
movimento.
Em
Pernambuco, a chamada Insurreição
Pernambucana contou com representantes de várias classes.
“Os presos políticos foram libertados, criou-se a bandeira da República
Pernambucana, extinguiram-se os títulos de nobreza e aumentou-se o soldo
militar”. (Costa & Mello, Op. Cit., página 100). As forças
metropolitanas mataram, prenderam e executaram insurretos, mas a Insurreição
deixou implantada as ideias republicanas, as quais se manifestariam, novamente,
em 1824, na chamada Confederação do Equador, movimento que envolveu outras
províncias nordestinas e que também chegaram a implantar uma República, ainda
que tenha durado por pouco tempo.
A Independência Política do Brasil,
ocorrida em 1822, além de não trazer nenhuma mudança significativa das
condições de vida da maioria da população pobre, formada principalmente por
escravos e mestiços, apresentava algumas diferenças entre o que ocorreu no
Brasil e em outros países da antiga América Espanhola. Enquanto lá foi adotada
a república logo em seguida à independência, o Brasil continuou sendo governado
por um monarca (e ainda) membro da família real de sua ex-metrópole. A República
só aconteceria no Brasil em 1889.
2.O
movimento republicano e o fim do Segundo Reinado
Durante o
Império, revoltas como a da Revolução Farroupilha (1835 a 1845), por exemplo,
representaram a tentativa de acabar com a monarquia no Brasil. E após a Guerra
do Paraguai (1864 a 1870), os militares, “vitoriosos” da guerra, voltaram para
o Brasil com ideias abolicionistas, republicanas e com grande prestígio
popular. Faltavam apenas algumas pinceladas para que a República surgisse
totalmente definida. “Não é a república que vem, é o império que vai”, dizia-se
na época.
“A centralização, tal como existe, representa o despotismo,
dá força ao poder pessoal que avassala, estraga e corrompe os caracteres,
perverte e anarquiza os espíritos, comprime a liberdade, constrange o cidadão,
subordina o direito de todos ao arbítrio de um só poder, nulifica de fato a
soberania nacional, mata o estímulo do progresso local, suga a riqueza peculiar
das províncias, constituindo-as satélites obrigadas da Corte – centro
absorvente e compressor que tudo corrompe e tudo concentra em si”[3].
O trecho
do discurso republicano acima demonstra a intenção de descentralizar o poder do
rei e dar mais autonomia às províncias. Na verdade, o que os republicanos
pretendiam era atender às conveniências das camadas dominantes locais,
representados pela ala radical do antigo Partido Liberal. Esse setor – radical
– adota as ideias republicanas e funda no Rio de Janeiro, em 1870, o Partido
Republicano que, pouco a pouco, seria criado também em São Paulo (1873) e em
Minas Gerais (1888).
Os
adeptos do Partido
Republicano dividiram-se em duas facções: uma,
evolucionista, cujo principal líder era Quintino Bocaiuva, era favorável à
implantação da República por meio de eleições, e a outra, revolucionária, cujo
principal líder era Silva Jardim, entendia que somente uma revolução popular
derrubaria a monarquia.
O que
acabou prevalecendo, no entanto, não foi nenhuma das facções acima e, sim, um
golpe tramado pelos militares (uma verdadeira quartelada) e os cafeicultores.
Na manhã do dia 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca e suas
tropas invadiram o Ministério da Guerra, onde os monarquistas estavam
refugiados, destituíram Ouro Preto (último primeiro-ministro, que respondia
pelo imperador, que estava doente). Os monarquistas não reagiram, e assim,
dentro de um gabinete militar, a república foi instaurada. Mais uma vez, assim
como aconteceu em 1822, sem a participação popular.
3.A
consolidação da República: Governo Provisório e Constituição de 1891
Em 15 de
novembro de 1889, foi proclamada oficialmente a república brasileira pelo Marechal
Deodoro da Fonseca, e este assumiu o governo, até que uma nova Constituição foi
votada. Enquanto esta não saia, Deodoro toma algumas medidas, sob a forma de
“Governo Provisório Republicano”.
As principais medidas tomadas pelo
Governo Provisório[4]foram:
§Estabelecimento da
República federativa como regime político, sob a denominação de Estados Unidos
do Brasil.
§As províncias passam a
se chamar estados.
§Absolvição das
Assembleias Provisórias e das Câmaras Municipais.
§Nomeação de novos
governantes para os estados e municípios.
§Criação da bandeira
republicana, com o lema positivista Ordem e Progresso.
§Concessão da cidadania
brasileira aos estrangeiros aqui residentes (a grande naturalização).
§Convocação de uma
Assembleia Constituinte.
§Separação entre Igreja
e Estado, instituição do casamento civil e secularização dos cemitérios;
§Reforma do Código
Penal.
Entre os direitos dos cidadãos, a Constituição – conjunto
de leis que estabelecem os direitos e os deveres dos cidadãos – estabeleceu:
§a igualdade de todos
perante a lei;
§liberdade religiosa e
separação entre o Estado e a Igreja;
§a inviolabilidade do
lar e o sigilo da correspondência (isto é, todos teriam o direito de não ter a
casa invadida nem a correspondência aberta);
§a manutenção da
propriedade particular;
§o livre exercício de
qualquer profissão;
§a liberdade de
associação e de manifestação de pensamento;-o casamento civil;
§o ensino leigo (não
religioso) nas escolas públicas;
Para votar
e ser votado, o cidadão já não precisava ter renda mínima anual. Bastaria ser maior de 21
anos e do sexo masculino, desde que não fosse mendigo, analfabeto, soldado raso
ou membro de ordem religiosa[5].
Durante o Governo Provisório, o ministro
da Fazenda foi Rui Barbosa, que pretendendo tornar o Brasil uma república
capitalista moderna e com muitas indústrias, permitiu a alguns bancos imprimir
e emprestar dinheiro. Com o dinheiro fácil, muita gente começou a pedir
empréstimos e investir na bolsa de valores. Assim, muitas empresas fantasmas foram
criadas só para conseguir investimentos. No fim, veio a crise: a desvalorização
do dinheiro, a desorganização financeira, a falência das empresas, grandes e
pequenas fortunas perdidas etc. Essa crise recebeu o nome de Encilhamento,
devido à semelhança que existia entre a barulheira feita na hora do fechamento
dos negócios na bolsa de valores e na do fechamento das apostas no jóquei
(clube de corridas de cavalos).
Tanto os fazendeiros (que queriam
continuar mandando no país) como as empresas estrangeiras (que queriam
continuar exportando para o Brasil e por isso eram contra a industrialização)
começaram a exigir o afastamento de rui Barbosa e a fazer oposição ao
presidente Deodoro da Fonseca. Este, para tentar se manter no poder, demitiu
Rui Barbosa e colocou em seu lugar um monarquista conservador, o barão de
Lucena, que era contra a política de rui Barbosa e defendia o predomínio da
agricultura sobre a indústria. Agora eram os reformistas e industrialistas que
protestavam.
Diante da forte oposição, o presidente
não teve dúvidas: no dia 3 de novembro de 1891 fechou o congresso e convocou
novas eleições, embora a Constituição não lhe desse poderes para isso. A reação
foi grande. As Forças Armadas não apoiaram o presidente, que, sem outra
alternativa, no dia 23 de novembro declarou aos militares: “Não sou mais o
presidente da República”, sendo sucedido pelo Marechal Floriano Peixoto.
Bandeira do Brasil
A ideia da bandeira atual foi elaborada pelo professor
Raimundo Teixeira Mendes, que contou também com a participação do Dr. Miguel
Lemos e o professor Manuel Pereira Reis e quem realizou a confecção do desenho
foi o pintor Décio Vilares[6].
O Congresso Constituinte começou seus
trabalhos em 15 de novembro de 1890 e, em 24 de fevereiro de 1891, foi
promulgada a segunda Constituição do Brasil e a primeira da República. A nova
Constituição organizou o governo em três poderes autônomos: Poder Executivo,
exercido pelo presidente da República; Poder Legislativo, exercido pelo
Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado) e Poder Judiciário, exercido
pelo Supremo Tribunal Federal.
Veja no vídeo (link abaixo), o Hino da
República do Brasil[7]:
§Letra: Medeiros e
Albuquerque, 1890.
§Composição: Leopoldo Américo
Miguez, 1890.
§Publicação: Diário Oficial, em
21/01/1890.
Para reflexão:
A Proclamação
da República foi um
golpe?
Veja o vídeo (link a seguir) a seguir...
Notas / Referências bibliográficas:
[1] SOUSA, Rainer. A Proclamação da
República. Disponível em:
<http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-proclamacao-republica.htm>.
Acesso em: 07/09/2021.
[3]Trecho do MANIFESTO DOS
REPUBLICANOS. In. COSTA, Luís César Amand & MELLO, Leonel Itaussu A. História
do Brasil. São Paulo: Scipione (?), p. 178.
[4] COTRIM, Gilberto. Saber e Fazer História, 8ª Série (Adaptado).
São Paulo: Saraiva, 2002. P. ?.
[5]
PILETTI, Nelson & Claudino.
História: EJA (Educação de Jovens e
Adultos), Ensino Fundamental, 4º Ciclo (texto adaptado). São
Paulo: Ática, 2003, p. 100.