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8 de dezembro de 2025

Ética Social: breve análise teológica

 Por: David W. Gill

Resumo em áudio:

...

Capa do livro de D. W. Gill [1]

Sobre o assunto ética, já publicamos neste blog: Ética e  moral, Ética bíblica, Ética situacional, além de assuntos correlatos. E continuamos, desta vez, destacando o conceito de Ética social[2], à luz da Bíblia.

Entende-se por ética social o estudo das questões do bem e do mal, do certo e do errado, da obrigação e da proibição, conforme elas surgem num contexto social.

1.    Introdução e Definição

O governo público, a política, as ciências econômicas, a guerra, a pobreza, a educação, o racismo, a ecologia e o crime: estes são exemplos do conteúdo da ética social. A tarefa da ética social pode ser melhor compreendida em contraste com outros campos correlatos. Em contraste com os estudos sociais da História – como era a situação no passado, e a ciência social – o que é a situação, a ética social ocupa-se com aquilo que deve existir – com normas e valores que servem para julgar o passado e o presente. Embora a ética social tenha uma tarefa distinta da história e ciência sociais, ela não pode ser bem-sucedida neste esforço sem uma interação contínua com estes campos correlatos.

Conforme acontece no caso de outros subcampos da ética, a ética social pode ser abordada descritivamente (Qual é o caráter desta moralidade? Desta linguagem ética?) ou prescritivamente (proponho este conjunto de valores, estas normas e princípios, este modo de resolver um dilema ético). Uma distinção adicional deve ser feita entre o discernimento ético e a implementação ética. A ética social inclui a reflexão sobre o problema da análise e o discernimento do bem social, bem como sobre o problema da estratégia e da implementação do bem social. Assim como a teologia dogmática existe para servir a igreja na sua proclamação e adoração, a ética social existe para servir ao mundo por meio de reformas sociais que o conformarão mais estreitamente àquilo que é justo, bom e certo.

É impossível manter uma distinção clara e precisa entre a ética social e a ética pessoal (individual). Todo comportamento individual tem implicações sociais. Toda situação ou problema social tem repercussões individuais. Apesar disso, para propósitos analíticos é útil tratar a ética social como um campo separado, e dirigir a atenção básica aos aspectos éticos dos grupos sociais, das instituições e dos problemas coletivos (raciais, econômicos, políticos etc.). Portanto, em contraste, a ética pessoal focaliza o agente moral individual.

Como no caso da ética pessoal, a ética social dirige sua atenção a dois conjuntos gerais de perguntas (cada um dos quais tem um aspecto de discernimento e de implementação, conforme observado acima). O primeiro tem a ver com a existência (caráter), e o segundo, com o agir (decisão e ação específicas). Embora este último (a reflexão sobre dilemas éticos específicos e imediatos) seja frequentemente uma tarefa urgente para a ética social, o outro tem, no mínimo, importância igual; ou seja, por trás de atos e dilemas específicos existem atitudes, disposições e processos que podem ser justos ou injustos, bons ou maus. Este é o problema do mal corporativo e estruturado. Para a ética social, o bem e o mal não estão localizados meramente em agentes morais individuais nem em decisões e ações específicas: também são atributos de instituições, tradições e disposições e processos sociais.

Somente nestes últimos cem anos é que a ética chegou a ter seu próprio lugar como especialização acadêmica nos departamentos de Filosofia, Teologia, e de estudos religiosos. Para a ética social cristã, no entanto, é essencial reconhecer que o assunto recebeu muita atenção em todas as partes da Bíblia, desde o Gênesis até ao Apocalipse. Assim, também, a maioria dos líderes e mestres da igreja cristã, no decurso destes últimos dois mil anos, tem dado atenção à ética social, ainda que não tenha empregado exatamente este rótulo. Uma ética social cristã contemporânea deve estar arraigada nas Sagradas Escrituras como a Palavra de Deus e ser regida por elas. Deve ser afetada pelo testemunho e pela experiência da igreja no decurso da História. E deve estar em diálogo frutífero com a história e ciência sociais, conforme foi sugerido acima.

2.    Análise e Discernimento

A primeira tarefa da ética social cristã é a análise de estruturas e situações e o discernimento do bem e do mal em relação a estas.

a)    A Revelação e a Observação

A análise ética social cristã avança numa dialética entre a revelação, a Palavra de Deus "de cima", e a observação e experiência, "de baixo. Um realismo social deve sondar abaixo dos problemas da superfície, para chegar a um discernimento correto das forças e problemas fundamentais da nossa sociedade. Qual é o arcabouço e quais são as correntezas principais que jazem imediatamente abaixo da superfície de eventos e dilemas atuais? Ao mesmo tempo, a análise e o discernimento são orientados pela revelação bíblica, pela Palavra de Deus. Desde o relato em Gênesis, quando Deus questionou a Adão, Eva e Caim, até quando Jesus questionou a Pedro e aos discípulos, a ética social está arraigada nesta Palavra de Deus. Deus não somente ilumina, corrige e aprofunda as nossas observações da realidade social, mas Ele também levanta novas questões e problemas que, frequentemente, passam despercebidos, até mesmo pela análise sociológica mais realista. Deste modo, a ética social cristã tem um papel distintivo a desempenhar na sociedade em geral, ao dar expressão às perspectivas divinas reveladas quanto aos negócios humanos.

b)   A Criação

Boa parte da ética social teológica tradicional tem sido formada por apelos a ordens de criação (ou "esferas" ou "mandatos"). As ordens da família e do casamento, da política e do Estado, do trabalho e da economia e, às vezes, até mesmo outras têm sido compreendidas não somente por referência à revelação bíblica, como também ao bom-senso, à razão e à lei natural. Cada ordem ou esfera tem seu próprio propósito distintivo e seu arcabouço ético correspondente. Todas as ordens estão debaixo da derradeira soberania de Deus. Críticos desta posição têm argumentado que (1) vivemos num mundo caído, em que os apelos a uma criação já perdida são mal orientados, e (2) a própria Bíblia, raramente, ou talvez nunca, desenvolve uma "ética da criação".

Quer a ética social esteja fundamentada basicamente sobre ordens da criação, quer não, certos elementos da revelação bíblica sobre a criação continuam a ter importância para a ética social cristã (cf. Gn 1-2). O "bem" ético é definido pela vontade, palavra e obra de Deus. Pretende-se que a humanidade seja uma co-humanidade: uma participação social e alegre de seres humanos diante de Deus ("Não é bom que o homem esteja só"). Um conceito positivo da política e do Estado percebem que estão arraigados na natureza social da humanidade criada, e subentendidos por esta. O casamento é implicitamente monógamo e caracterizado por ser uma parceria diante de Deus. O trabalho é fundamentalmente uma questão de criatividade (à imagem do Criador) e de mordomia (lavrar a terra e subjugá-la).

c)    A Queda

Por mais importante que a doutrina da criação seja para a ética social, a revelação a respeito da Queda é igualmente importante. A Queda (Gn 3) indica que o mal se origina na rebeldia contra Deus e na desobediência ao Seu mandamento. O mal é manifestado na acusação, na divisão e no domínio de um ser humano sobre outro (Adão e Eva, Caim e Abel). A saída de Caim de diante da presença de Deus, a fim de edificar a sua própria cidade e sociedade (Gn 4) e a revelação subsequente a respeito da cidade (Babel/Babilônia, Ninive etc.) completam esta descrição inicial do mal social. Suas características essenciais são orgulho, desobediência a Deus, acusação, divisão. dominação, exploração, violência, bem como cobiça do poder.

Perspectivas posteriores no pensamento hebraico-cristão desenvolveram este conceito da Queda em termos da inimizade dos "principados e potestades" cósmicos contra os propósitos de Deus. Como estruturas de forças sociais, podemos ter um aspecto demoníaco corporativo. O mal não é simplesmente um fenômeno individual, mas também uma questão de corpo e estrutura. À luz deste fato, o Estado (ou o trabalho, ou o dinheiro) é eticamente ambíguo: pode promover uma co-humanidade, que refreia os homens sociais, e pode ser o habitat dos poderes rebeldes. Tanto a história social quanto a ciência social, usando terminologias e métodos de pesquisa diferentes, confirmam a revelação bíblica no tocante ao potencial ambíguo, transpessoal e estrutural do Estado (e de outras instituições sociais).

d)   Lei e Justiça

A ética social cristã, e na verdade toda ética social, frequentemente se centraliza no problema da justiça e da sua institucionalização na lei. O relacionamento entre a lei moral divina revelada e a lei civil positiva foi motivo de reflexão intensiva por Tomás de Aquino, João Calvino e muitos outros pensadores cristãos clássicos. Uma ética social cristã deve ser orientada não só pelo exemplo da teocracia de Israel antigo (em que as associações entre os Dez Mandamentos e o Livro da Aliança e o Código da Santidade são bastante diretas), mas também pelo exemplo de Israel no exílio e no cativeiro (onde o povo do mundo vive numa situação alienada).

De qualquer maneira, a justiça (a retidão e o juízo) é uma das normas éticas mais importantes para a ética social cristã. "Eu sou o Senhor, e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque estas coisas me agrado, diz o Senhor" (Jr 9.24). “O Senhor faz justiça, e juga a todos os oprimidos” (SI 103.6). A justiça bíblica é mais importante do que equidade e igualdade. Revela-se como alguém que entende as justas queixas dos oprimidos. Não se mantenha em tensão com o amor, mas inclui o amor e a misericórdia. Numa era em que a justiça e a lei têm sido reduzidas, em muitos aspectos, a termos quantitativos, técnicos, a ética social cristã deve dar expressão ao conceito bíblico de justiça: qualitativa, de origem divina e de solicitude humana.

e)   O Reino de Deus

Até os éticos sociais das ordens-da-criação mais intransigentes reconhecem que uma nova ordem de redenção toma lugar na sociedade com a vinda de Jesus Cristo e a fundação da Igreja. Esta Igreja é (ou deve ser) o principal exemplar do reino de Deus que permanece em tensão com o reino deste mundo. Segundo os termos de Agostinho, os fatores constituintes mais importantes da história social são a cidade de Deus e a cidade terrestre. A primeira é dinamizada pela charitas, o amor a Deus, e a segunda, por cupiditas, o amor próprio. Para Martinho Lutero, os dois reinos são diferentes entre si neste ponto: O reino de Deus é uma questão de fé no íntimo, ao passo que o reino civil diz respeito aos assuntos exteriores. É natural que, para Agostinho, Lutero e outros, o quadro seja consideravelmente mais complexo do que estes resumos. Não deixa de permanecer, porém, uma distinção na ética social cristã entre a realidade coletiva, que toma Jesus Cristo como seu ponto de partida, e tudo o mais.

É em Jesus Cristo que a palavra de Deus é mais clara e complementa revelada – para a ética social bem como para todas as demais coisas. O ensino social de Jesus é revelado na Sua declaração de "plataforma" (Lc 4.18-21), na Tentação (Mt 4), nas Suas parábolas e discursos, no Sermão do Monte (Mt 5-7), no Seu discurso da despedida (Jo 13-17) e nos eventos da Crucificação e da Ressurreição. Os grandes mandamentos no sentido de amar a Deus e ao próximo, o chamado ao serviço e ao sacrifício sem qualificações, a Regra Áurea, o chamado à simplicidade, para longe da inspiração a Mamom (riquezas), e assim por diante, revelam as dimensões essenciais da ética social de Jesus. A ética cristã social deve refletir não apenas sobre as interpretações tradicionais e majoritárias do significado de Jesus Cristo, do reino de Deus e do mandamento do amor, mas também sobre a interpretação e aplicação deste ensino social pelos franciscanos, anabatistas, quacres e outros que desenvolveram uma ética social baseada em Jesus Cristo.

f)     Escatologia

A ética social cristã é fundamentalmente escatológica na sua natureza; ou seja, inclina-se em direção à chegada futura e completa do juízo e da graça de Deus. Mais do que a criação original, a nova criação é invocada para a orientação ética no NT. O reino de Deus, que está verdadeiramente presente (em parte), será (plenamente) revelado no fim. Jesus Cristo é o novo Adão. O Espirito Santo é o “pagamento inicial” que garante o futuro – não apenas o reflexo da criação original. A história avança em direção à nova Jerusalém, e não regride para uma idade de ouro no Éden. Por estas razões, o Apocalipse tem significado ético-social específico, por revelar o juízo ético final de Deus contra a sociedade humana, em termos da Babilônia (Ap 18) e da nova Jerusalém (Ap 21).

É neste juízo final que os principados e potestades são destronados final e completamente, terminando a obra de Jesus Cristo que, "despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz" (Cl 2.15). Babilónia é a habitação de Satanás, dos principados e das potestades. É condenada por ter permitido que os mercadores da terra se enriquecessem às custas da sua luxúria, pelo seu orgulho e poder, pelos seus maus tratos aos santos, profetas e apóstolos, pelo seu tráfico de corpos e almas dos seres humanos, pela violência e pelo derramamento de sangue. A nova Jerusalém, em contraste, é o lugar onde habita Deus, onde estão eliminados a morte, o luto e a dor, onde ficam satisfeitos os sedentos e os famintos, onde não ocorre nada de vergonhoso nem de doloso, onde as portas da cidade estão abertas a todas as nações. Considerando as diretrizes destacadamente escatológicas da ética social bíblica, a ética cristã leva a sério este cenário apocalíptico final no discernimento daquilo que é socialmente bom ou mau.

 

3.    A Estratégia e a Implementação

A primeira tarefa da ética social cristã, portanto, é a análise e o discernimento do bem e do mal social, fazendo uso da história social da ciência social e, acima de tudo, da ética social bíblica. A segunda tarefa é refletir sobre o relacionamento entre Cristo e a cultura ou seja: entre o mandamento ético de Deus e a situação social. É o problema da estratégia e da implementação.

a)   Perspectivas Tradicionais

A reflexão contemporânea sobre como a convicção cristã (ou religiosa) se relaciona com a sociedade tem sido grandemente influenciada por historiadores e cientistas sociais. Embora Karl Marx, Emile Durkheim e outros também tenham tido influência considerável, esta reflexão deve-se mais aos estudos pioneiros realizados por Max Weber, Ernst Troeltsch e H. Richard Niebuhr. Os estudos de Weber do papel do profetismo e do carisma, sua quádrupla tipologia de relacionamento entre os grupos religiosos e o mundo (o asceticismo do mundo interior e do outro mundo, o misticismo do mundo interior e do outro mundo) e seu estudo clássico, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, continuam a ser um ponto de partida importante para a reflexão sobre os problemas da estratégia e da implementação das preocupações éticas sociais cristãs.

O livro de Troeltsch, The Social Teaching of the Christian Churches ("O Ensino Social das Igrejas Cristãs"), propôs, com ilustrações históricas volumosas, uma tríplice tipologia de igreja, seita e associação mística. H. R. Niebuhr desenvolveu e modificou a tipologia de Troeltsch em cinco categorias que permanecem influentes em muitos debates atuais. "Cristo contra a cultura" é representado pela abordagem sectária, anabatista. "O Cristo da cultura" é representado pela abordagem acomodacionista. "Cristo acima da cultura" é representado por Tomás de Aquino e uma abordagem sintética. "Cristo e a cultura em paradoxo" é representado por Lutero e pela abordagem dualista. "Cristo, o transformador da cultura" é representado por Agostinho e pela abordagem conversionista.

As tipologias sociais científicas e históricas, como as citadas acima, não conseguem tratar as tradições individuais. Nem levam suficientemente em conta o caráter “denominacional” e “leigo” da sociedade contemporânea. Sendo categorias provenientes das divisões do século XVI (ou até mesmo do século XIX), não podem ser diretamente transferidas e aplicadas aos finais do século XX. Apesar disso, a reflexão sobre a estratégia e a implementação contemporâneas são grandemente empobrecidas por não se levar em conta estas perspectivas tradicionais.

a)   A Oração e a Evangelização

Do ponto de vista da ética social bíblica, as atividades de oração e evangelização não devem ser subestimadas como estratégias para a mudança social. Como base desta cosmovisão judaico-cristã está a convicção de que Deus participa da História humana e nela intervém, pelo menos parcialmente, como resposta à oração do povo. Súplicas, orações, intercessões, ações de graça, devem ser feitas por todas as pessoas, inclusive por aqueles que detêm autoridade política (1 Tm 2.1-2). A oração, portanto, é uma atividade política e social de grande importância, entre outras atividades.

Faz, também, parte básica do ponto de vista cristão proclamar o evangelho de Jesus Cristo na esperança de que homens e mulheres venham a conhecê-lO como Salvador, Senhor e Deus. Embora a ética social se preocupe basicamente com o bom e o mau das estruturas coletivas, ela faz parte dos agentes morais individuais que são afetados pela realidade coletiva e institucional. A evangelização, entre outras coisas, leva a efeito a mudança social por meio da transformação daqueles que agem na sociedade, os agentes morais individuais.

b)   Comunidade Alternativa

Longe de se tratar de um afastamento irresponsável e despreocupado quanto ao dever social, a formação de uma comunidade cristã alternativa desempenha um papel importante na implementação da mudança ético-social. Uma comunidade alternativa básica é a igreja (tanto no seu sentido local quanto no seu sentido mais amplo). Negócios, escolas, grupos políticos e outras associações, todos puramente cristãos, são outros meios pelos quais esta estratégia pode ser empregada.

Comunidades cristãs alternativas têm uma relevância quíntupla para a implementação da preocupação social. Em primeiro lugar, a comunidade é um contexto essencial para a deliberação e discernimento morais. Os dons e capacidades individuais dos membros da comunidade combinam-se para discernir as melhores respostas possíveis às questões e dilemas da sociedade contemporânea. Em segundo lugar, a própria existência da comunidade (com sua dedicação total a Jesus Cristo) contribui para a saúde da sociedade ao "abrir" a ordem social. Tendências totalitárias e monistas são restringidas pela existência de comunidades alternativas na sociedade. Em terceiro lugar, a comunidade cristã fornece à sociedade um exemplo de “outra maneira” de lidar com vários problemas sociais (padrões de liderança, atividades de bem-estar e assim por diante). Em quarto lugar, uma comunidade pode funcionar como um laboratório onde diversas formas podem ser testadas, refinadas e demonstradas. Em quinto lugar, a comunidade prepara e assiste indivíduos que saem da comunidade para diversas estruturas e situações na sociedade em geral. É um recurso não só de discernimento, mas também de ação social.

c)    A Participação Institucional

Conforme demonstram Moisés, Daniel, Paulo e outros personagens bíblicos, a participação direta nas estruturas e instituições políticas (e outras) da sociedade é outra estratégia disponível para a implementação da preocupação ético-social. Especialmente nas circunstâncias em que os cristãos (juntamente com outras pessoas) são convidados a exercer uma responsabilidade política e social, é apropriado considerar que a participação institucional é um meio válido de implementar a convicção ética. A política eleitoral, as reformas legislativas, as ativações comerciais e profissionais e a educação pública são exemplos das esferas institucionais onde talvez fosse necessária a participação. As fronteiras de tal participação são estabelecidas por dois critérios. Em primeiro lugar, nenhum cristão está, em caso algum, autorizado a violar o mandamento de Deus: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens" (At 5.29). Em segundo lugar, nenhum grupo ou indivíduo cristão está autorizado, em tempo algum, a impor unilateralmente (coercivamente) os padrões morais do reino de Deus sobre o mundo. Os cristãos devem ser o sal da terra, a luz do mundo e ovelhas entre lobos: têm presença e impacto, mas não por meio de coerção e dominação.

d)   Meios e Fins

A ética social bíblico-cristã, tanto no discernimento quanto na implementação, não aceita a classificação fácil como ética deontológica (fazendo o que é certo sem levar em conta as consequências) ou como ética teleológica (o fim justifica os meios). Em especial, porém, uma abordagem teleológica viola uma mensagem bíblica. Não são justificados nem permissíveis meios malignos, em circunstância alguma (Rm 6). O cristão é chamado a “vencer o mal com o bem” (12.21). Visto que os meios escolhidos afetam o caráter do fim, um bom fim pode ser alcançado somente pelo emprego de bons meios. A justiça será alcançada apenas pelos justos; a paz, por meios pacíficos; a liberdade ou a igualdade, por meios caracterizados pela liberdade e igualdade. A reflexão cristã sobre a estratégia e a implementação do bem que é discernido sempre ressaltará este relacionamento indissolúvel entre meios e fins.

Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] Capa de Word of God in the Ethics of Jacques Ellul, um dos livros de Gill, que foi publicado em 1984. David W. Gill, nascido em 1946 em Omaha, Nebraska, EUA, é um autor, professor e palestrante norte-americano, especializado em ética cristã, ética no local de trabalho e ética organizacional... Veja mais em: <https://www.davidwgill.org/bio?utm_source=chatgpt.com>. Acesso em: 14/11/2025.
  • [2] GILL, David W. Ética Social. In: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. II. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág.  97 a 102 (Texto adaptado).

7 de outubro de 2025

Bispos e Papas (18): Antero

Bispo Antero [1]

O próximo bispo de nossa lista (bispos e papas romanos), que queremos destacar aqui é o Bispo Antero. Na lista de Eusébio de Cesareia, em História Eclesiástica (HE) [2] encontramos: “Depois de Maximino, Gordiano recebeu em sucessão o principado dos romanos, e a Ponciano, que havia exercido o episcopado da igreja de Roma por seis anos, sucedeu Antero, que depois de servir no cargo durante um mês, teve como sucessor Fabiano” (HE, 6, XXIX – Destaques meus).

Veja que Eusébio afirma que Antero teve um episcopado muito curto, de apenas um mês ou pouco um mais. Assim, conforme esta [3] e mais esta [4] e esta outra [5] fontes católicas, o Papa ou Bispo Antero:

§  Exerceu seu episcopado entre “21 de novembro de 235 a 3 de janeiro de 236”.

§  Foi filho de Rômulo e nasceu na Magna Grécia, na região que hoje é a Calábria, de uma família de origens gregas, mas seu nome indica que ele foi um escravo livre.

§  Sua eleição foi marcada pelo enfrentamento da oposição de um sacerdote de nome Nereu de Chipre, que desejava o trono de São Pedro, mas não reuniu adeptos em número suficiente para apoiar as suas pretensões.

§  Pouco se sabe da sua morte, mas provavelmente foi condenado à morte por Maximino Trácio.

§  Ordenou a compilação de documentos canônicos oficiais, recolhidos e conservados na Igreja, em um lugar chamado scrinium. Muitas recompilações foram queimadas por ordem do imperador Diocleciano, mas voltaram a ser redigidas para desaparecerem novamente nos tempos do Papa Honório III (1225).

Segundo o Portal São Francisco (Nota 5) “Antero Promoveu a coleção de Os Atos dos Mártires, uma ordenação das atas concernentes aos mártires da Igreja, determinando que fossem lavradas cópias para serem guardadas nas igrejas. Sua iniciativa irritou o imperador romano Máximiano, um bárbaro da Trácia, que o levou à condenação e execução, tendo seu corpo sido sepultado junto às catacumbas de São Calixto. Sua morte violenta, associada a sua humildade e grande carisma pessoal, resultou em milhares de conversões entre os romanos e gregos pagãos e até entre a guarda pessoal do imperador...”.

Lembrando que nossa lista segue uma ordem diferente da Teologia Católica, uma vez que esta considera o apóstolo Pedro como o primeiro papa.


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] Imagem (adaptada) e meramente ilustrativa. Disponível em: Paróquia de Coreaú (Nota 4). Acesso em: 06/10/2025.

  • [2] CESAREIA, Eusébio. História Eclesiástica: os primeiros quatro anos da Igreja Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

4 de agosto de 2025

Bispos e Papas (17): Ponciano

 Por: Alcides Amorim

Bispo Ponciano [1]

O próximo bispo de nossa lista (bispos e papas romanos), que queremos destacar aqui é o Bispo Ponciano.

Relembrando os bispos destacados até aqui, seguindo a ordem proposta por Eusébio de Cesareia, em História Eclesiástica (HE) [2]:

·        01) Bispo Lino (?)[3].
·        02) Bispo Anacleto (?).
·        03) Bispo Clemente de Roma (?).
·        04) Bispo Evaristo (?).
·        05) Bispo Alexandre I (?).
·        06) Bispo Sixto I (?).
·        07) Bispo Telésforo (?).
·        08) Bispo Higino (?).
·        09) Bispo Pio (?).
·        10) Bispo Aniceto (?).
·        11) Bispo Sotero (?).
·        12) Bispo Eleuterio (175 e 189).
·        13) Bispo Vitor I  (189 a 199).
·        14) Bispo Zeferino (199 a 217).
·        15) Calisto Primeiro (217 a 222).
·        16) Urbano I. (222 a 230).

Lembrando que esta lista não é a mesma da Igreja Católica, uma vez que a tradição católica considera o apóstolo Pedro como tendo sido o primeiro bispo romano e, por isso, o primeiro papa da igreja e, como se vê acima, Eusébio e muitos outros cristãos consideram Lino o primeiro bispo romano e não o apóstolo Pedro. 

Afirma Eusébio que o bispo Zeferino foi sucedido por Calisto, e este por Urbano (HE, 6, XXI). E que “... Urbano, que fora bispo de Roma por oito anos, foi sucedido por Ponciano” (HE, 6, XXIII).

Das informações sobre o 17° bispo de Roma, Ponciano, extraídas destas fontes católicas: (a), (b) e (c[4], descritas nas considerações bibliográficas abaixo, temos o seguinte resumo:

O Bispo ou Papa Ponciano:

  • Exerceu seu bispado/pontificado entre 230 e 235.
  • Nasceu em Roma e foi sucessor de Urbano I; foi eleito durante o cisma iniciado com Calixto I.
  • Pôs fim à heresia de seu grande opositor Hipólito (considerado um antipapa).
  • Ordenou o canto dos Salmos nas igrejas, prescreveu o Confiteor Deo, antes da missa e introduziu a fórmula "Dominus vobiscum".

No início do governo de Maximiniano (235 a 238), este aprisionou Ponciano e o deportou (em 235) para a Sardenha para cumprir trabalhos forçados nas pedreiras. Por isso, ele demitiu-se do pontificado pouco depois de ter chegado à ilha. Sua renúncia tinha o objetivo de não criar dificuldades à Igreja de Roma e permitir à Igreja eleger outro líder que estivesse presente em Roma, sendo eleito o Papa Antero.

Veja mais, sobre o São Ponciano, no vídeo de Altierez dos Santos a seguir:

Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] Imagem (adaptada) e meramente ilustrativa. Disponível em: <https://evangelhoquotidiano.org/PT/display-saint/2d8064c9-691a-4e19-9ffe-3819ad86d250>. Acesso em: 29/07/2025.

  • [2] CESAREIA, Eusébio. História Eclesiástica: os primeiros quatro anos da Igreja Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

  • [3] As datas (ou não) referente aos períodos de governos dos referidos bispos, estão aqui, de acordo com as informações contidas nas Eras (10 volumes) de GONZÁLEZ, Justo L. em sua História Ilustrada do Cristianismo, publicada pela Editora Vida Nova. González entende como datas corretas apenas a partir dos bispos Eleutero ou Eleuterio...

  • [4] Bispo, Papa ou São Ponciano:

a) Disponível em: <https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/papa-ponciano>. Acesso em: 02/08/2025.

b) Disponível em: In: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Ponciano_)>. Acesso em: 02/08/2025. 

c) Disponível em: In: <https://www.youtube.com/watch?v=MJMTydYpick>. Acesso em: 02/08/2025.

24 de junho de 2025

Lições de um jovem despido: paralelos com patriotas tupiniquins

Por: Alcides Amorim


“... E certo jovem o seguia [a Jesus], envolto em um lençol sobre o corpo nu. E os jovens lançaram-lhe a mão. Mas ele, largando o lençol, fugiu deles nu...” (Marcos 14.51-52)

Resumo:

A Igreja Católica e algumas denominações protestantes celebram a quaresma, um período de quarenta dias que começa na Quarta-Feira de Cinzas, voltado para a conversão espiritual e penitência. Durante esse tempo, os cristãos se preparam para a Páscoa por meio da oração, jejum e caridade. Os textos bíblicos usados incluem passagens dos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Após a prisão de Jesus, ocorreu um julgamento em três etapas: primeiro, o julgamento judeu com Anás, Caifás e o Sinédrio; depois, a negação de Pedro e o suicídio de Judas, seguido pelo julgamento romano diante de Pilatos e Herodes. Um aspecto curioso é a menção de um jovem que fugiu nu durante a confusão, considerado por alguns como uma referência ao próprio Marcos, o autor do Quarto Evangelho. Essa figura simboliza a vulnerabilidade frente a um sistema judicial desigual, refletindo o estado de insegurança jurídica enfrentado por seguidores de Jesus naquele contexto.

Ao traçar paralelos com a atual sociedade brasileira, o texto sugere que conservadores são tratados como cidadãos de segunda classe, assim como os seguidores de Jesus. O autor observa que, apesar de um sentimento de maioria conservadora, o sistema parece favorecer uma minoria, resultando em perseguições a indivíduos ligados a ideias conservadoras. Exemplos de prisões e condenações de pessoas ligadas a movimentos conservadores ilustram essa comparação com a vulnerabilidade do jovem do Evangelho. Conclui-se que, assim como aquele jovem, muitos conservadores atualmente sentem-se expostos e desprotegidos, sem respaldo legal em um cenário que parece hostil.

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Veja o artigo completo em:

<Lições de um jovem despido: paralelos com patriotas tupiniquins

12 de junho de 2025

Ceticismo: conceito, dúvida e fé

Por: Alcides Amorim

Um cético confuso [1]

Ouça o conteúdo:
[ ...

Escrevi até aqui dois artigos específicos sobre ética: ética bíblica e ética x moral. E antes de continuar com outros artigos relativos ao assunto achei por bem falar antes sobre os conceitos de ceticismo, dogmatismo e falibalismo. E, como são assuntos longos, resolvi fazer isto em três momentos, começando, na sequência, com o ceticismo. Mas, sempre com uma pitada de apologia teológica e/ou de fé.

1.    Ceticismo: conceito

A palavra ceticismo diz respeito a um estado de um indivíduo que duvida de tudo, que é descrente e/ou tem predisposição constante para a dúvida e incredulidade. Deriva da palavra grega askesis, que significa exercício de reflexão, meditação. Fala de um indivíduo que, ao pé da letra, é uma pessoa pensativa, absorvida em si mesma e, portanto, "ausente" do mundo. Mas o ceticismo é também nome de uma corrente filosófica, cujo fundador foi o filósofo grego Pirro de Élis (360? a 272? a.C.). Ele pregava uma ideia radical, caracterizada, essencialmente, por duvidar de todos os fenômenos que rodeiam o ser humano. Para ele, seria impossível conhecer verdadeiramente qualquer coisa.

Os céticos, seguidores da escola de Pirro, “... admitiam que a realidade existe, mas afirmavam que o ser humano não teria nenhum instrumento para atingir a verdade de qualquer coisa. Em outras palavras, a filosofia deveria ser uma negação do saber, não uma busca” (CHALITA: 2004, pág. 75). Em tese, os céticos desprezam a ideia de valores sociais regendo o comportamento e as relações entre os homens. Aliás, eles defendem que a felicidade pode até ser atingida desde que o indivíduo alcance “... o estado de ataraxia, palavra grega que designa a imperturbabilidade, o estado de paz tal como concebido pelo ceticismo...” (Idem, pág. 75) e em relação com o que Pirro aprendeu do bramanismo.

Bem, se o dogmatismo – como veremos mais adiante –, por exemplo, é a crença absoluta em certas verdades, sem questionamento ou possibilidade de erro, o cético questiona tudo o que lhe é apresentado como verdade e não admite a existência de dogmas, fenômenos religiosos ou metafísicos.

Outro pensador que ficou conhecido também por conta de seu ceticismo foi o humanista francês Michel de Montaigne (1533-1592), em sua obra Ensaios. A frase atribuída a ele, “dizem que filosofar é duvidar”, expressa bem este aspecto do ceticismo, quando manifesta a sua visão de que o conhecimento humano é limitado. No entanto, o ceticismo de Montaigne não é passivo, mas sim ativo, e é usado como ferramenta para questionar e criticar os costumes, saberes e instituições da época e, portanto, seu pensamento servia para atenuar a excessiva confiança que o homem renascentista – contemporâneo seu –, tinha nas capacidades humanas. Em síntese, a obra Ensaios, de Montaigne, se caracteriza pela sua abordagem individual, subjetiva e reflexiva, onde ele explora a diversidade e complexidade do ser humano, relativizando verdades absolutas e questionando dogmas.

A questão é que se for levado ao pé da letra o ceticismo leva-nos a duvidar do próprio ceticismo. “Ao mesmo tempo, não poderíamos emitir nenhuma opinião sobre o ceticismo. Será que é possível negar tudo que está a nossa volta? Se negarmos tudo, negaremos a própria negação e a dúvida que nos fez questionar o objeto. Desta maneira, em algo devemos acreditar, ainda que tenhamos que contestar as verdades que nos rodeiam” (BEZERRA. O.C.).

O ceticismo tem ocupado o pensamento de muitos no meio religioso. No item abaixo, veremos um pouco sobre isto.

2.    O ceticismo na religião x resposta bíblica [2]

O ceticismo religioso não é sinônimo de ateísmo, sendo que céticos podem ter dúvidas sobre a religião sem rejeitá-la completamente. Exemplos históricos de céticos, como os discípulos Natanael (Jo 1.45-47) e Tomé (Jo 20.25), ilustram que esse fenômeno não é novo, mas tem se intensificado atualmente. A cultura contemporânea, marcada pelo Iluminismo, por exemplo, e pela diversidade de influências, tem contribuído para o aumento do ceticismo, especialmente entre os jovens, que consideram as respostas bíblicas simplistas.

Além disso, experiências negativas com práticas religiosas e a hipocrisia de alguns indivíduos têm levado muitos a se afastarem da fé cristã. A dependência do empirismo e a confusão provocada por diversas crenças religiosas também alimentam o ceticismo. No entanto, o ceticismo saudável é importante para questionar doutrinas errôneas e buscar verdade. O diálogo respeitável e humilde é essencial para abordar as dúvidas dos céticos e compartilhar a esperança cristã de maneira construtiva.

Na verdade, o ceticismo religioso de base intelectual, por si só, não é ruim. De fato, o ceticismo saudável é uma coisa boa — devemos ser cautelosos com o ensino falso, e recebemos a seguinte instrução: "... provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (1 Jo 4.1). Aqui, vemos um exemplo de ceticismo no sentido positivo: ter dúvida se algo é bom ou ruim. Uma fé saudável e duradoura incorpora permissão para questionar e buscar respostas. Deus pode resistir ao nosso escrutínio, e a dúvida não tem que equiparar a descrença. Deus nos convida: "Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR" (Is 1.18). O apóstolo Paulo também afirma: “Portai-vos com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai as oportunidades..." (Cl 4.5), quando podemos envolver os céticos no diálogo que conduz à verdade. O apóstolo Pedro também diz: "... antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós" (1Pe 3.15). Ele segue imediatamente esse comando com instruções sobre como envolver o questionador: "... fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo" (1Pe 3.16). A humildade e o respeito são cruciais para lidar com céticos em nossa era pós-moderna.

Mas como um cético pode encarar ou abordar um princípio ético? Como conciliar posições céticas com normas ou deveres legais? Possivelmente, um cético, ao abordar a ética, geralmente adotará uma postura questionadora e, por vezes, incrédula em relação às verdades morais e às suas bases. Em vez de assumir a existência de um código moral universal e objetivo, o cético pode se concentrar em examinar e avaliar as diversas perspectivas e costumes que formam a ética em diferentes contextos. Daí, o desafio de membros do governo (Legislativo), por exemplo, de criar uma ética social – como veremos também em outro momento – que possa ser aplicada a toda a sociedade e que contemple os céticos.

Quero terminar enfatizando a pessoa do Tomé como um cético e questionador. Mas, Jesus soube envolvê-lo no diálogo e confrontá-lo na sua fé. Vejamos:

·   Jo 14.5 – Tomé questiona a Jesus sobre o Caminho para o Pai dito por Ele.

·  Jo 14.6 – Jesus responde, ser Ele o Caminho. Será que Tomé entendeu? Parece que não, mas aceitou, pensou, creu...

·  Jo 20.25 – Conhece o ditado “sou igual a Tomé, tenho que ver para crer”? Pois é, esta frase está baseada nas palavras que ele disse: "Se eu não vir as marcas dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei".

·  Jo 20.27-29 – Jesus aparece aos discípulos, diz a Tomé para ele colocar o seu dedo nas marcas dos pregos e parar de duvidar. Ou seja, Jesus confronta a dúvida ou o ceticismo de Tomé com verdade, a fé e o milagre da ressurreição: o ceticismo de Tomé é revertido em fé, pois ele sabia que Jesus tinha morrido e agora aparece vivo. Veja a resposta de Tomé: “Senhor meu e Deus meu!”. Esta é uma das maiores verdades de um ex-cético que deixou de duvidar e passou a crer. Aceitar a Jesus como o seu Deus (deísmo de Jesus) é um dos dogmas mais importantes do Cristianismo, pois trata-se de Jesus, como o Cristo e uma das pessoas da trindade, a principal doutrina cristã. 

Veja também:

§  Ceticismo, dogmatismo e falibilismo.

§  Ética bíblica.

§  Ética e moral.

§  Ceticismo da religião.

§  O apóstolo Tomé.

Na sequência, veja o vídeo de Jonas Madureira, onde ele faz uma reflexão sobre o ceticismo, e sua relação com a ciência e a fé:

Notas:

  • [1] Um cético confuso. Imagem meramente ilustrativa, feita pela I. A. Grok em: 09/06/2025.

  • [2] Resumo/comentário do artigo “O que é o relativismo ético?“ (O.C.).

Considerações bibliográficas:

BEZERRA, Juliana. Ceticismo. In: Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/ceticismo/. Acesso em: 09/06/2025.

CHALITA, Gabriel; Vivendo a filosofia. São Paulo: Atual, 2004.

GOT QUESTIONS. Ceticismo da religião. Disponível em: https://www.gotquestions.org/Portugues/ceticismo-da-religiao.html. Acesso em: 09/06/2025.