Continuando a lista dos bispos e papas, destacando
inicialmente os listados por Eusébio de Cesareia, ele
descreve a ordem dos bispos até o número 12 de seu livro História Eclesiástica (HE) [2],
que foi Eleutero. Este aparece no final do seu livro 5, capítulo VI: “O
décimo segundo desde os apóstolos no episcopado agora é Eleutero, na mesma
ordem e na mesma doutrina...”. Os demais
bispos citados por ele, não aparecem na ordem numérica.
O próximo
bispo, o número 13 na ordem dos bispos romanos, é Vítor. “No décimo
ano do reinado de Cômodo, Eleutero,
que tinha mantido o episcopado por treze anos, foi sucedido por Vítor...”
(EC, 5, XXII). Na lista de todos os papas da Igreja Católica (p.ex., aqui),
o nome Vítor é acrescido do número I (Vítor I) e corresponde ao 14º papa
da lista, considerando que o Apóstolo Pedro também foi papa, juntamente com os
demais bispos de Roma. Na Lista, há também o Vítor II (1055-1057), que ocupa a
153ª posição.
As informações que transcrevemos sobre Vítor I são
de fontes católicas, por exemplo, nesta [3] e nesta
outra [4].
Vítor I:
Nasceu na atual Tunísia, norte da África. Portanto, o primeiro “papa” africano
Seu pontificado [ou bispado] foi marcado por definições importantes na liturgia da igreja, referentes a (o):
- Idioma: uso do latim
na celebração da missa, ao invés do grego;
- Batismo: uso de
qualquer água no rito batismal;
- Páscoa: celebração no
domingo, dia da ressurreição de Cristo;
- Domingo: dia mais
importante da semana, em lugar do sábado judaico;
As definições litúrgicas acima foram institucionalizadas no primeiro Concílio de Niceia (325).
Vítor I também combateu heresias como o adocionismo [5], que ”... pregava que Jesus Cristo não era filho de Deus, mas um homem puríssimo e superior aos outros, adotado por Ele como seu filho...” (Nota 4).
Eusébio (5, XXIV) afirma que o bispo Vítor recebeu de
Polícrates, líder dos bispos da Ásia, uma carta na qual afirma: “... assim observamos
o dia genuíno, sem pôr nem tirar. Pois na Asia grandes luzes já dormem, as
quais ressuscitarão no dia da manifestação do Senhor, em que Ele virá do céu
com glória e levantará todos os santos... Todoseles [Filipe
e João (apóstolos), Policarpo e outros] eles observam o décimo quarto dia da
páscoa de acordo com o evangelho, não se desviando em nada, antes, seguindo a
regra da fé...”. Eusébio afirma que Vítor tentou excomungar Polícrates e
outros por terem tido essa opinião, mas depois reverteu sua decisão após Irineu e
outros terem intercedido. Observe que aqui percebemos divergências doutrinárias
entre as igrejas da Ásia e as de Roma...
Bem, segundo esta
fonte , Vítor I foi papa entre 189 a 199. E no vídeo, a seguir, veja mais
sobre o Bispo ou papa Vítor I.
“Jesus
respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não
tropeça, porque vê a luz deste mundo” (Jo
11.9) [1].
“Filhinhos,
é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também
agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já
a última hora” (1Jo 2.18).
No
intuito de estudar textos bíblicos que tratam de escatologia –
estudo
das
últimas coisas
–, achei por bem ver um pouco sobre unidades de tempo (hora, dia,
mês, ano etc.), desta feita iniciando pela palavra HORA. Isto é, os
vários sentidos da palavra e, especialmente, a hora,
no sentido escatológico.
Destaco
abaixo, primeiramente a palavra hora
como tempo definido (preciso)
entendida
nos
tempos bíblicos no
sentido
hebraico
e romano. Em seguida, a mesma
palavra
com o sentido escatológico.
1.
Hora como divisão de tempo
Em
seu
sentido mais preciso, uma hora é um doze-avo (1/12) do período em
que o sol aparece. Na
referência acima, João 11.9, Jesus fala de um dia com luz de 12
horas, computadas do nascer até o pôr do sol. A noite, no entanto,
era composta de três vigílias (judaicas) ou quatro vigílias
(romanas), computadas desde o pôr do sol até o nascer do mesmo.
“Visto
que o nascer e o pôr do sol variavam conforme o período do ano, as
horas bíblicas não podem ser traduzidas exatamente conforme as
modernas horas cronométricas; e, seja como for, a ausência de
cronômetros exatos significa que o tempo do dia era indicado em
termos mais gerais do que entre nós”[2].
Os
romanos computavam seu dia civil como período que se iniciava à
meia-noite, enquanto que os judeus reputavam-no como tendo início ao
pôr do sol. Considerando os dois modelos de contagem [3],
temos:
a)
Diaclaro
–
das
6 às 18 horas:
Primeira
hora = 6
a 7
da manhã;
Segunda
hora = 7
a8
da manhã;
Terceira
hora = 8
a 9
da manhã;
Quarta
hora = 9
a 10
da manhã;
Quinta
hora = 10
a 11
da manhã;
Sexta
hora = 11
a 12 Meio
dia;
Sétima
hora = 12
(meio dia) a 1
da tarde;
Oitava
hora = 1a
2
da tarde;
Nona
hora = 2a
3
da tarde;
Décima
hora = 3a
4 da
tarde;
Décima
primeira hora = 4
a 5
da tarde;
Décima
segunda hora = 5
a 6
da tarde, ou
18 horas.
a)
Dia
escuro
(noite)–
das
18
ou 6 da tarde, às
6
horas(manhã
do outro dia):
Em Mateus 14.25 encontramos: “Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, andando por cima do mar”.
Segundo Russell Champlin: “… os romanos dividiam a noite em quatro vigílias, de três horas cada uma, costume esse que evidentemente foi adotado pelos judeus desde os tempos de Pompeu, e que se reflete nas Escrituras do N.T. Essas vigílias começavam, respectivamente, às 18:00 horas, às 21:00 horas, às 24:00 horas e às 3:00 horas” [4]. Considerando o critério romano, portanto, como sendo a noite dividida em quatro vigílias, temos:
Primeira vigília = das 18 às 21 horas;
Segunda vigília = das 21 às 24 horas;
Terceira vigília = das 24 (0 hora) às 3 horas;
Quarta vigília = das 3 às 6 horas.
Então, podemos dizer que Jesus dirigiu-se para seus discípulos, andando por cima do mar, à noite, entre três e seis horas da manhã. E para exemplificar também o dia segundo o critério romano, citando o texto de Mateus 20.1-10, encontramos ali a parábola dos obreiros da vinha ou parábola dos trabalhadores. Considerando apenas o sentido literal da parábola temos os termos: “madrugada” (v. 1), equivalente a algum momento antes das seis horas; “hora terceira” (v. 3), equivalente às nove horas; “hora sexta e nona” (v. 5), equivalentes, respectivamente, às doze e quinze horas; e, finalmente, “hora undécima” (v. 6), equivalente às dezessete horas.
Neste e em outros exemplos, podemos perceber a palavra hora com o sentido de o momento (a hora) de algum acontecimento. Outros exemplos: “… Pai, salva-me desta hora…” (Jo 12.27); “… Simão, dormes? não podes vigiar uma hora?” (Mc 14.37); “E Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona” (At 3.1); “… E naquela mesma hora o seu criado sarou” (Mt 8.13) etc.
2.
Hora no
sentido profético/escatológico
Nas Escrituras vemos também a palavra hora
com o sentido profético, ou
seja, de
algum acontecimento a ser revelado no futuro. Sobre
isto, queria destacar alguns versículos e buscar entender seus
significados escatológicos.
a) Hora
da
volta
de Jesus:
Sobre
a hora
da vinda de Jesus,
encontramo-na
em
várias passagens dos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) e também
em João. Exemplo:
“Vigiai,
pois, porque não sabeis a que
hora
há de vir o vosso Senhor”
(Mt
24.42);
“… daquele
dia e hora
ninguém sabe...”(Mc
13.32);
“… porque
virá o Filho do homem
à hora
que não imaginais…”
(Lc
12.4).
Também
relacionada à ressurreição dos mortos encontramos em João: “…
vem
a hora
em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz…”
(Jo
5.28).
b)
Hora
da
recompensa
dos que
servem
a Jesus:
As várias etapas (da chamada de trabalhadores para a vinha do “Pai de família”) de Mateus 20, se assemelham ao “reino dos céus”, disse Jesus. Isto significa que há trabalhadores que trabalham mais tempo no Reino, outros menos e outros, ainda, muito menos. Mas todos receberão os seus galardões do “Dono da vinha”, tantos os que foram chamados de “madrugada” (v. 1), quantos os que foram chamados na “hora terceira” (v. 3), “hora sexta e nona” (v. 5) e ainda na “hora undécima” (v. 6), todos serão recompensados. Observe
que “horas”,
descritas na parábola, tem o sentido literal (tempo de trabalho) e
pagamento pelo mesmo, e
também profético, podendo
referir-se,
no sentido espiritual, aos
servos de Deus que
serão
recompensados pela
sua atividade no Reino de Deus, o Senhor da Vinha.
Portanto, para
Deus, uns servem desde criança, outros começam à meia idade e,
outros ainda, na velhice ou final da vida. Mas todos são alcançados
pela graça de Deus. “Assim
é a graça de Deus. A sua graça se adapta à necessidade,
juntamente com o seu desígnio de transformar o trabalhador, mas não
de acordo com os méritos do mesmo. Não
obstante, Deus não ignora totalmente o mérito, porque a recompensa
dos galardões será distribuída segundo o trabalho feito… O
‘dono’ não fizera qualquer promessa a estes últimos
trabalhadores, nem mesmo um salário segundo fosse ‘justo’. Não
obstante, receberam o galardão da promessa feito àqueles que haviam
trabalhado longa e arduamente... Ficamos certos, por ensinos como
estes, que o Todo-poderoso usa de benevolência, o que
basta para dar à existência humana uma grande significação...” [5].
Quando (a que hora?) será
a recompensa dos galardões? Será
após a volta
de Jesus: “E,
eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada
um segundo a sua obra”
(Ap 22.12).
c)
Última
hora
e
hora da
tentação
Quero
destacar aqui trêsreferências
que falam da palavra hora
no sentido de fim dos tempos e de
juízo:
“Porque
já é tempo[hora]
que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa
por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao
evangelho de Deus?”
(1Pe
4.17). A
expressão
“kairós”
(o
kairos tou)
é traduzida na versão que estou usando (ACF),
por tempo(o
tempo é chegado) e
em outras versões (como a NVI), por “hora” (é
chegada a hora).
Kairós
(do qual falaremos em outro momento) tem o sentido de tempo certo ou
oportuno. Percebe-se pelo texto que hora ou tempo ali expresso ou
ainda
não chegou apesar da expressão “já é tempo/hora”, ou
o final desta hora (julgamento) ainda também não chegou.
Mas
o certo é que o
julgamento
começa pelo povo de Deus. “Não
era ainda o fim… [e]
se
o julgamento é tão rigoroso para o povo de Deus, sua severidade
para os incrédulos é indescritível (17b, 18; cfr. Luc .23.31).
Mas o cristão tem um segredo que o incrédulo não tem.
Pode
entregar-se às mãos de Deus em inteira confiança, ciente de que
Ele não pode falhar” [6].
“Filhinhos,
é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também
agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é
já a última hora”
(1Jo
2.18).
Alguns
termos são importantes ser destacados neste verso: “últimahora”,
“anticristo”
e “anticristos”
(no plural). Primeiramente, a “última hora” já chegou? João
diz que sim, mas
ainda não terminou.
Como
sabemos disto? Porque Jesus ainda não voltou! Muitos “anticristos”
se referem aos inimigos de Cristo, que representa um grupo (ou parte
da sociedade) com índole anticristã, isto é, que
vive contrária à vontade e modo de pensar de Cristo. Como
eu disse aqui“…
João
reconhece que era esperado um único anticristo, [mas
nesta sua Carta]
ele dirige a sua atenção aos muitos anticristos que já apareceram
negando que Jesus é o Cristo, contrariando, assim, a verdadeira
natureza do Pai e do Filho... Os docetistas contemporâneos[de
João]não
davam crédito à humanidade de Cristo (2Jo 7), alegando que Ele
parecia ter a forma humana. Para João, eles eram a concretização
do espírito do anticristo”.
Anticristo, neste caso, é alguém que “… assalta
a Cristo propondo-se fazer ou
preservar o que Ele fez,
ao passo que O nega”
(Westcott) [7].
Mas,
há também o
anticristo,
um personagem maligno especial que recebe vários nomes da Bíblia,
como "filho
da perdição" (2 Ts 2.3; cf. Jo 17.12); “o
iníquo"
(2 Ts 2.8); a
“besta” (Ap 13) e outros.
“Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap 3.10). Esta palavra de promessa dita por Jesus a respeito da Igreja de Filadélfia, é muitas vezes interpretada pelos dispensacionalistas/pré-tribulacionistas como um livramento dos cristãos fiéis da Grande Tribulação que virá ao mundo. A Igreja de Filadélfia, que representa o último estágio da Igreja Cristã, segundo a interpretação dispensacionalista, é também um exemplo dos cristãos fiéis que serão arrebatados da terra antes deste momento. Este é um assunto que merece um artigo à parte. Por ora, pensando na hora a que se refere o texto, quero apenas dizer que embora se trate de um momento de um determinado acontecimento, a hora, no sentido expresso aqui ainda não chegou. Chegará de forma singular com muita provação para o mundo. Paulo fala deste momento como sendo “… a ira futura” (1Ts 1.10). A ira de Deus virá, mas o povo de Deus será livrado da (ou na?) mesma. Bem, livrado através do Arrebatamento? Veremos sobre isto em outro momento…
Concluindo, até aqui, tentei destacar neste artigo, a palavra hora em dois sentidos: como um momento mais preciso, uma divisão ou parte do dia de doze horas (dia claro) ou parte de uma vigília (dia escuro/noite). Mas também no sentido profético, futurístico, que aponta para a última hora ou a hora em que virão: a grande tribulação; o surgimento de muitos anticristos – além dos que já existiram ou existem – e o Anticristo (principal); a volta do Senhor; a ressurreição dos mortos; o fim do mundo…
Veja também o vídeo de André Sanchez a seguir, sobre a primeira parte do assunto, “como as horas eram contadas na Bíblia”.
Notas / Referências bibliográficas:
[1] As referências bíblicas utilizadas em todo o artigo são da versão A.C.F. - Almeida Corrigida Fiel. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>.
[2] BRUCE, Frederick Fyvie. Hora. Apud: SHEDD, R. P. (Editor). O Novo Dicionário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1979 (3ª ed.), pág. 723.
[3] Veja também o cronograma feito por Jesse de Barros, aqui.
[4] CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo. São Paulo: Hagnos. 2002, Vol. I, pág. 425 (comentário sobre Mt 14.25).
[5] CHAMPLIN (Nota 4): Comentário de Mateus 20.9, pág. 498.
[6] MCNAB, Andrew. In: SHEDD, Russel P. (Editor). O Novo Comentário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1963 (1ª ed.). Comentário sobre IPe 4.17.
[7] In: SHEDD (Nota 7). Comentário sobre 1João 2.18.