No post (artigo) Escatologia, doutrina das últimas coisas, já
destacamos alguns assuntos relativos a este ramo da teologia, como o tempo do fim para Israel, a morte, o estado Intermediário dos mortos e a grande tribulação. Neste,
queremos destacar sobre o Anticristo.
1. Quem é o
Anticristo?
“Ninguém de maneira alguma vos
engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o
homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo
o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no
templo de Deus, querendo parecer Deus” (2Ts 2.3-4)[2].
O apóstolo João é o único autor bíblico que usa
a palavra "anticristo", mas resolvemos usar o texto de Paulo acima
como abertura deste artigo por se tratar do mesmo personagem, classificando-o
como o “... homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e
se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora”. O Anticristo é o arquioponente de Deus e seu Messias, oposição
refletida no prefixo “anti”, que significa contra, mas que também
pode significar “em lugar de” Deus ou de Cristo ou ambos os significados.
Mesmo no Antigo Testamento, embora Cristo ainda não
tivesse sido encarnado (sua primeira vinda à terra), encontramos um pano de
fundo para este “homem do pecado”, que faz oposição a Deus. Queremos destacar
apenas o “Chifre pequeno”, de Daniel 7. Depois da visão do profeta acerca de
quatro animais: o leão (v. 4), que simbolizava a Babilônia, o urso (v. 6), que
simbolizava o império medo-persa, o leopardo, a Grécia, e o animal terrível e
espantoso que tinha dez chifre (v. 7), relacionado ao Império Romano, aparece
dentre os dez chifres deste quarto animal, um “... chifre pequeno, diante do
qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia
olhos, como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas” (v. 8).
Segundo Scofield, a visão deste chifre pequeno trata-se do
fim do domínio mundial gentio.
O ex-império Romano (o reino de ferro de 2:33-35, 40-44; 7:7) terá dez chifres
(isto é, reis, Ap. 17:12), correspondentes aos dez artelhos da imagem.
Considerando esta visão dos dez reis, Daniel vê que entre eles levanta-se um
‘outro pequeno’ chifre (rei) que subjuga três dos dez reis de maneira tão
completa que a identidade separada dos seus reinos é destruída. Sete reis dos
dez são deixados, e o ‘outro pequeno’ chifre que é ‘um príncipe, que há de
vir’, de 9:26, a ‘abominação’ de 12:11 e Mt. 24:15, e a ‘besta do mar’ de Ap.
13:1-10. Ele será o chefe do quarto império mundial restaurado... Alguns
expositores também o igualam ao rei que ‘fará segundo a sua vontade’ de
11:36-45, e ao homem da iniquidade’ de IITs.2:3-8”[3].
Veja que
Scofield, ao comentar sobre o “pequeno chifre”, de Daniel 7.8, relaciona-o com várias
outras referências do próprio livro de Daniel e do Novo Testamento. Pois estes
e outros textos indicam como será o caráter deste “homem do pecado”. Na
referência de Ap 13.20, por exemplo, o Anticristo é chamado de a “besta”; em Dn
9.27, de “assolador”; em Mt 24.15, de “abominável da desolação”; em 2Ts 3.8, de
“iníquo”, além de “filho da perdição”, como já vimos acima. O certo é que o
Anticristo, conforme destaca ainda Scofield, é “... o último e pior tirano
da terra, o cruel instrumento da ira e do ódio de Satanás contra Deus e os
santos judeus. A ele Satanás dará o poder que ele ofereceu a Cristo (Mt.
4:8-9; Ap. 13:4)”[4].
Observe também que Scofield fala deste
personagem como alguém que virá nos últimos dias e será o “último e pior
tirano”, embora outros personagens que serviram de “tipos” (pessoas ou coisas
do passado que prenunciam pessoas ou coisas do futuro) do Anticristo já
viveram antes e depois de Cristo. O próprio João disse que muitos “anticristos”
haviam se levantado (1Jo 2.18,22;
4.3; 2Jo 7). Mas veja que Jesus fala da abominação da desolação “... de
que falou o profeta Daniel” (Mt 24.15), que
estará no lugar santo, apontando para o final dos tempos. Neste caso, os
“anticristos” são aqueles que têm o mesmo espírito do real Anticristo. E quando
este vier, “... firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da
semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá
o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado
sobre o assolador” (Dn 9.27).
Ou seja, embora muitos com o espírito do Anticristo já existiram e/ou
existirão, “... é aceita a crença numa personificação do mal através de um
anticristo escatológico, aquele que estará no mundo no dia da segunda vinda de
Cristo (2Ts 2.8). Hitler, alguns líderes religiosos e outros malfeitores da
história foram apontados como sendo o anticristo. Porém, Jesus não voltou em
suas épocas e o título ficou para outra pessoa”[5].
Resumindo, podemos ver que o Anticristo é
chamado na Bíblia por vários nomes, entre eles[6]:
- O chifre pequeno
(Dn 7.8);
- A Besta (Ap 13.1;
14:9; 15:2; 16:2; 17: 3,11;19:20; 20:10);
- O homem do pecado
e filho da perdição (II Ts 2.3);
- O príncipe que há
de vir e o assolador (Dn. 9.26,27);
- Rei de Feroz
Catadura (Dn 8.23);
- Rei voluntarioso
(Dn 11.36);
- O iníquo (2 Ts
2.8);
- O abominável da
desolação (Mt. 24:15).
2. O governo
do Anticristo
“E a besta que vi era semelhante ao
leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o
dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio... E foi-lhe permitido fazer guerra aos
santos, e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação”
(Ap 13.2-7).
Entendo, como os autores citados nas fontes que
utilizamos aqui, a interpretação sobre o Anticristo, o “homem do
pecado”, sob uma perspectiva futurista e que o mesmo governará durante a grande tribulação, que acreditamos ser a
septuagésima (70ª) semana de Daniel. E quando ele vier, “... firmará
aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o
sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso
até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador”
(Dn 9.27). Acreditamos também que este período se trata da “grande ira”
(Ap 12.12; 1Ts 5.9), a “hora da tentação” (Ap 3.10), a “ira futura” (1Ts 1.10)
etc. E ainda interpretamos a expressão “homem do pecado”, dita por Paulo, de
forma literal. Ou seja, o Anticristo trata-se de um homem, uma
personalidade. Mas não um homem qualquer, ele será um grande líder político,
que terá como sede do seu governo a cidade simbólica de Babilônia. Esta
era, nos dias de João, uma referência à Roma, a cidade que fica entre as sete
colinas. “Aqui o sentido, que tem sabedoria. As sete cabeças são
sete montes, sobre os quais a mulher está assentada... E a mulher que viste é a
grande cidade que reina sobre os reis da terra” (Ap 17.9,8). No sentido escatológico, a Grande Babilônia pode
ter dois significados: “... a Babilônia política (Ap. 17.8-17) e a babilônia
eclesiástica (Ap. 17.1-7,18, 18:1-24). A Babilônia política é o império
confederado da besta, a última forma do domínio mundial gentio. A Babilônia
eclesiástica é todo o Cristianismo apóstata, no qual o Papado sem dúvida será
proeminente; é muito provável que esta união inclua todas as religiões do
mundo... A Babilônia eclesiástica é a ‘grande meretriz’ (Ap. 17:1) e será
destruída pela Babilônia política (Ap. 17:15-18), para que só a besta seja
objeto de culto (IITs. 2:3-4; Ap. 13:15). O poder da Babilônia política será
destruído pela volta do Senhor em glória”[7].
Bem, Lutero e demais reformadores afirmavam categoricamente que a Babilônia
do Apocalipse refere-se à Igreja Católica. Na Confissão de Westminster, por exemplo, destaca
Lucas Banzoli, está explicitada que “... não há outro Cabeça da Igreja senão
o Senhor Jesus Cristo; em sentido algum pode ser o papa de Roma o cabeça dela,
mas ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que se
exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus”[8]. Continua
ainda Banzoli: “Isso se junta ao fato de que a “mulher”, que representa uma
igreja, estava coberta de nomes da blasfêmia (Ap.17:3), representando uma
igreja apóstata, e não uma igreja fiel. Essa apostasia é a prostituição espiritual
que não podemos encontrar em nenhuma igreja do mundo a não ser em uma
que já foi cristã, mas que se desviou ao longo dos séculos. Sim,
Lutero sabia do que estava falando”[9].
Portanto, o que Scofield e os reformadores afirmam ser a Babilônia
eclesiástica, todo o Cristianismo apóstata, tem relação sem dúvida com a Igreja
Católica e o papado.
O Anticristo ou a besta será um grande líder,
um personagem de muita habilidade e cujas “... sabedoria e capacidade terão
elementos sobrenaturais, pois além do poderio bélico, da alta tecnologia e do
poder econômico, o governo do anticristo contará com uma inédita atuação
diabólica”[10].
Veja como ele exercerá seu poder de forma sobrenatural:
- Ele convencerá as
massas com seus discursos inflamados (Ap 13.5);
- A
Bíblia diz que toda a terra se maravilhará após a besta (Ap 13.3);
- Ele
buscará a paz e travará guerras (Dn 9.27; Ap. 6:2);
- Ele
certamente aparecerá com a solução para as diversas crises sociais e econômicas
que até hoje não foram resolvidas e estabelecerá uma falsa paz (I Ts 5.3; Ap
6.2);
- Durante
a Grande Tribulação, o anticristo declarará ser Deus e exigirá adoração, e
perseguirá severamente os que permanecerem leais a Cristo (II Ts 2.4; Ap
11.6,7; 13.7);
-
Mediante o poder satânico, o anticristo fará grandes sinais e maravilhas a fim de propagar o engano
com mais eficiência (II Ts 2.9; Ap 13.3)[11].
Como já vimos, o governo do Anticristo durará
sete (7) anos e terminará com sua destruição, por Jesus, no momento de sua
segunda vinda. O Senhor o “... desfará pelo assopro da sua boca, e [o] aniquilará pelo esplendor da sua vinda” (2 Ts 2.8).
Mas o Anticristo contará com o apoio outros personagens,
chamados no Apocalipse de o Dragão e o Falso Profeta. O Dragão é identificado como a Antiga Serpente (Ap
12.9), ou o próprio Diabo e Satanás. Isto significa que haverá uma luta
espiritual muito forte naqueles dias. A exemplo
da Gn 3.1-7, esta “antiga serpente” seduzirá a raça humana a cometer a segunda
grande apostasia da história: adorá-lo como deus na pessoa do Anticristo. O
outro embusteiro personagem, o Falso Profeta, “... será convincente e
irresistível. Seus milagres e prodígios serão de tal forma grandiosos que até
fogo fará descer do céu (2 Ts 2.9; Ap 13.13). O apóstolo Paulo chama seus
milagres de mentirosos. Ele realizará dois grandes sinais. O primeiro será uma
falsa ressurreição: fará com que o Anticristo, dado como morto num possível
atentado, volte à vida (Ap 13.3). Diante do acontecido, a humanidade exclamará:
‘Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?’ (Ap 13.4)”. Se o primeiro sinal causou admiração e
espanto, o que não diremos do segundo? Ele ordenará aos que habitam na terra
que ergam uma imagem à besta que sobrevivera à ferida mortal. Em seguida, dará
vida à estátua, que se porá a falar (Ap 13.14,15). Com esses prodígios,
convencerá todos a aceitarem a plataforma de governo do Anticristo”[12].
Quem é o Anticristo? Ele já está
no mundo? Não temos respostas para estas perguntas. O que sabemos por ora, é
que há muitos sinais que indicam seu aparecimento em breve. Apenas há uma força
“restringente” que impede seu aparecimento. “E agora vós sabeis o que o
detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado”
(2Ts 2.6). Este “que o detém”, segundo nosso entendimento, é o Espírito Santo.
Com o arrebatamento da Igreja (assunto para outro momento), o seu Advogado ou
Guia (Jo 16.13), “... que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o
conhece” (Jo 14.17), deixará de ser a força restringente e então homem do
pecado será revelado. “... O Espírito Santo continuará uma atividade divina
até o tempo fim, embora não como um restritor do mal através da Igreja”[13].
Portanto, O Anticristo é o representante
máximo de Satanás e sua mais perfeita representação (1Jo 2.18), um homem
maligno que estará à inteira disposição do Diabo, com o intuito de governar o
planeta em seu nome. Mas sua malignidade será maior nos últimos três anos e
meio da 70ª semana de Daniel (Dn 9.27), ou quarenta e dois meses (Ap
13.5), ou ainda mil duzentos e sessenta dias (Ap 11.3). Depois isto, será destruído pelo
“assopro” da boca do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores.
Sugiro a leitura do livro em PDF, Anticristo, por David W. Dyer:
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Veja também o vídeo abaixo:
- [1] Imagem disponível em: <www.chamada.com.br/mensagens/o_anticristo.html>. Acesso em: 30/04/2021.
- [2] Todas as referências bíblicas utilizadas neste artigo são da versão ACF – Almeida Corrigida Fiel. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>. Acesso em: 25/04/2021.
- [3] SCOFIELD, C. I. Nota de Daniel 7.8. In: Bíblia Sagrada (ARA). São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil: 1987.
- [4] Idem, Nota sobre Apocalipse 19.20.
- [5] COELHO FILHO, Isaltino. O Apocalipse de João. Disponível em: <https://www.isaltino.com.br/2007/09/o-apocalipse-de-joao/>. Acesso em: 26/04/2021.
- [6] Conforme resumo destacado por: SANTOS, Luciano. O Governo do Anticristo. Disponível em: <https://www.estudosgospel.com.br/estudo-biblico-apocalipse-escatologia/o-governo-do-anticristo.html>. Acesso em: 29/04/2021.
- [7] SCOFIELD (Op Cit., Nota 3). Nota sobre Apocalipse 18.2.
- [8] In: BANZOLI, Lucas. Quem é a Babilônia do Apocalipse? Disponível em: <http://heresiascatolicas.blogspot.com/2015/01/quem-e-babilonia-do-apocalipse.html>. Acesso em: 29/04/2021.
- [9] Idem.
- [10] SANTOS, Op. Cit. (Nota 6).
- [11] Idem.
- [12] Lição 10: O governo do Anticristo, 03/06/2012. Disponível em: <https://escola-ebd.com.br/licao-10-o-governo-do-anticristo/>. Acesso em: 29/04/2021.
- [13] SCOFIELD (Op. Cit., Nota 2). Nota sobre 2 Ts 2.3ss.
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