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27 junho 2020

Pedro, o apóstolo impulsivo


Pedro, “tu me amas”?[1]

E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros... Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras” (Jo 21.15,18).
Pedro (gr. Pétros ou Pedra) aparece em primeiro lugar na lista dos doze apóstolos (Mt 10.2-4; Mc 3.16-19 e Lc 6.13-16), posição recebida do próprio Senhor. Ele também é chamado na Bíblia de Cefas (aramaico Kefa, que significa “rocha”) e Simão (Jo 1.42). Era irmão do apóstolo André (Mc 1.16) e ambos, filhos de Jonas (Jo 1.42) e moravam em Betsaida, mesma cidade de Filipe, também apóstolo (Jo 1.44). provavelmente seu pai, Jonas, também fosse um pescador como eles (Jo 1.42).
Com base em Marcos 1.30, Pedro era casado, pois o texto fala sobre a “sogra de Simão” e, possivelmente, sua esposa o acompanhava em viagens ministeriais na Igreja Primitiva. Paulo, em 1Co 9.5, diz: “Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?”.
1.  A personalidade do apóstolo Pedro
O apóstolo Pedro foi um típico homem simples, direto e de caráter impulsivo. Mas também possuía aptidão natural para exercer liderança, talvez por ser caloroso, vigoroso e normalmente comunicativo. Em algumas ocasiões, sobretudo no episódio que envolveu a traição de Jesus no Getsêmani, Pedro se mostrou emotivo, sanguíneo e autoconfiante.
Destaquei acima as expressões “impulsivo” e “sanguíneo”, em relação a Pedro, pois lembrei-me do comentário de Tim LaHaye (referência abaixo) acerca da “teoria dos quatro temperamentos”. Em um deles, o sanguíneo, Pedro se encaixa bem:

Pedro é, provavelmente, o personagem mais querido do Novo Testamento. A razão é muito simples. Como é totalmente extrovertido, seus defeitos são visíveis todos. Ele tropeça de modo impetuoso pelas páginas dos Evangelhos, deixando à mostra a carne crua do sanguíneo. Em um momento é amável e alegre; no outro, assusta com suas atitudes...

O sanguíneo é caloroso, amável e simpático. Atrai as pessoas como se fosse um ímã. Tem bom papo, é otimista e despreocupado. É generoso, compassivo, adapta-se ao ambiente e ajusta-se aos sentimentos alheios. Porém, como os outros temperamentos, em seus defeitos. Em geral tem pouca força de vontade; emocionalmente é instável e explosivo, irrequieto e egoísta...

Ele falava mais do que os outros discípulos e conversava com maior frequência com o Senhor. Nenhum discípulo, a não ser Judas Iscariotes, teve reprovação mais severa, e nenhum outro discípulo ousou como ele, repreender o Senhor. Por outro lado, nenhum discípulo testemunhou, como Pedro, tanto respeito e amor por Cristo e nenhum outro recebeu o louvor tão pessoal do Salvador...
Quando André levou a Jesus seu irmão sanguíneo, Simão, este parecia bem longe de se tornar um futuro líder espiritual. Pelo contrário, era apenas um pescador barulhento, profano e genioso, cujo traço mais evidente era a impulsividade. Quando agia, fazia-o ‘de imediato’, como dizem as Escrituras. Quando um diálogo ia cessando, era ele quem o continuava. Falava pelos cotovelos! Era chamado ‘o que fala pelos discípulos’. As palavras: ‘Então disse Pedro’, são introdutórias de mais expressões do que a soma total das falas de todos os outros discípulos (LAHAYE: 2008. Pág. 37..., 38..., 39..., 40...).

Algumas passagens bíblicas mostram um pouco da personalidade de Pedro:

·      Ele normalmente tomava a iniciativa como líder do grupo:
Ø E Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Explica-nos essa parábola” (Mt 15.15).
Ø Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?” (Mt 18.21).
Ø E ele lhes disse: Mas vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, lhe disse: Tu és o Cristo” (Mc 8.29).
Ø E respondeu-lhe Pedro, e disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas. E ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me! E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?” (Mt 14.28-31)...
·      Ele aparece entre os três discípulos mais íntimos de Jesus: Ele, Tiago e João:
Ø E não permitiu que alguém o seguisse, a não ser Pedro, Tiago, e João, irmão de Tiago” (Mc 5.37)
Ø Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte (...) E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias” (Mt 17.1,4).
Ø E foram a um lugar chamado Getsêmani, e disse aos seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu oro. E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, e começou a ter pavor, e a angustiar-se” (Mc 14.32,33).
·      Ele foi o primeiro a confessar que Jesus era o Cristo (Filho do Deus vivo):
Ø Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt 16.15-17). O próprio Jesus atribuiu a resposta de Pedro como uma revelação de Deus que foi dada a ele: “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
·      Recebeu a incumbência de organizar a última ceia em Jerusalém com João:
Ø E [Jesus] mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos” (Lc 22.8).
·      O Pedro que negou a Jesus três vezes... mas se arrependeu:
Ø Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás (...) E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe dissera: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. E, saindo dali, chorou amargamente” (Mt 26.34,75).
2.  Pedro: de seu primeiro sermão à sua morte:
O apóstolo Pedro receber uma visita especial de Cristo após sua ressurreição (Lc 24.34; 1Co 15.4,5) e, renovado, tornou-se o primeiro a pregar na Igreja, ocasião em mais de três mil convertidos (At 2.14,41).
Podemos citar algumas referências ainda relativas ao apóstolo Pedro no Novo Testamento, como:
·      Foi ele quem disse as conhecidas palavras: “Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (Atos 3:6).
·      Dentre outros milagres também se destaca a ressurreição de Dorcas (At 9.36-41); a revelação das mentiras de Ananias e Safira (Atos 5:1-11);
Na época da forte perseguição em Jerusalém após a morte de Estêvão, o apóstolo Pedro também estendeu sua atuação ministerial a outros lugares, como em Samaria em decorrência da grande evangelização de Filipe (um dos evangelistas) ali, nas cidades costeiras de Lidia, Jope e Sarona. É possível que nesse período Tiago, irmão do Senhor então tenha assumido a liderança em Jerusalém.
O apóstolo Pedro também foi o responsável por anunciar as boas novas à família de Cornélio em Cesaréia (At 10.1-45). Na Carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo informa que Pedro também esteve em Antioquia (Gl 2.11). Na verdade é nesse relato que encontramos a referência sobre o conflito entre os apóstolos Paulo e Pedro, quando Pedro agiu dissimuladamente se associando aos cristãos gentios e depois se afastando deles ao temer a pressão do “grupo da circuncisão” que aceitava os gentios na Igreja desde que estes se submetessem ao cerimonial da Lei de Moisés. O comportamento do apóstolo Pedro acabou influenciando até mesmo Barnabé. Então Paulo o repreendeu publicamente pelo comportamento, considerado por ele, como hipocrisia. No entanto, essa situação foi completamente resolvida, e o próprio apóstolo Pedro mais tarde se referiu a Paulo como “nosso amado irmão” (2 Pedro 3:15).
Na Epístola aos Coríntios, também somos informados da divisão que havia em tal igreja. Um dos grupos divididos ali alegava seguir o apóstolo Pedro, enquanto outros diziam ser de Paulo, Apolo e Cristo. Isso indica que provavelmente em algum momento ele esteve pessoalmente visitando aquela igreja.
Como afirma MILLER, no capítulo 10 de Atos os gentios são trazidos à igreja. E agora Pedro, tendo terminado sua missão por essas bandas, retorna a Jerusalém. Após o relato de sua libertação do poder de Herodes no capítulo 12, não temos mais relatos sobre a história do apóstolo da circuncisão em Atos. Como Herodes Agripa, o rei idumeu, tem papel tão proeminente nessa história, pode ser interessante tomar nota sobre ele. Ele professava grande zelo pela lei de Moisés e mantinha um certo respeito para com sua observância externa. Desse modo, ele ficou do lado dos judeus contra os discípulos de Cristo, sob um fingido zelo religioso. Esta era sua política. Era uma figura do rei adversário.
Foi por volta de 44 d.C. que Herodes buscou se insinuar com seus súditos judeus, perseguindo os inofensivos cristãos. Não que houvesse qualquer amor entre Herodes e os judeus, posto que se odiavam de coração; mas aqui eles se uniram, pois ambos odiavam o testemunho celestial. Herodes matou Tago Maior com a espada e lançou Pedro na prisão. Era sua intenção perversa mantê-lo lá até depois da Páscoa, e então, quando uma grande quantidade de judeus de todas as partes estivessem em Jerusalém, fariam um espetáculo público de sua execução. Mas Deus preservou e libertou Seu servo em resposta às orações dos santos.
Após 50 d.C. não temos tantas informações detalhadas sobre o apóstolo Pedro. Considerando suas duas epístolas, sabemos que ele permaneceu ativo na pregação da Palavra de Deus e no pastoreio do rebanho do Senhor até a hora de sua morte (1Pe 5.1,2).
Existe um grande debate se o apóstolo Pedro chegou a fixar residência em Roma ou não. O que é certo é que a igreja em Roma não foi fundada por ele; até porque seria muito improvável que Paulo escrevesse uma epístola àqueles irmãos sem mencioná-lo. Na verdade, não há qualquer base bíblica de que ele tenha sido o primeiro bispo de Roma; nem há indícios de que ele tenha sido líder da igreja na cidade por um período de tempo considerável.
A tradição que afirma tal coisa é bastante questionável.
Apesar disto, é muito provável que ele tenha estado em Roma em algum momento próximo ao final de sua vida, e que tenha escrito suas duas epístolas desta cidade. Em 1 Pedro 5:13 o apóstolo escreve dizendo estar na “Babilônia”. Essa informação tem sido entendida pela maioria dos estudiosos como uma referência à cidade de Roma. A presença de Marcos na ocasião também favorece essa interpretação.
Existe uma tradição muito antiga e uniforme dentro do cristianismo de que o apóstolo Pedro tenha sido martirizado – aos “70 anos de idade”, como afirma Miller –, em Roma, por volta de 68 d.C., assim como aconteceu também com o apóstolo Paulo. Tertualiano (200 d.C.) defendeu tal informação, e Orígenes afirmou que Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, uma informação também presente em alguns livros apócrifos.

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Ainda sobre o apóstolo Pedro, veja também:
·      Pedro e o poder papal, por Bereanos.
·      O papado: breves considerações histórico-teológicas, Por Alcides B. de Amorim .
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Veja também, a seguir, o vídeo de Marlon Engel, disponível em seu portal Estudo na Garagem, sob o título: Apóstolos de Jesus, Episódio 02: Simão Pedro.


Referências bibliográficas:
  • CONEGERO, Daniel. A História do Apóstolo Pedro. Disponível em: <https://estiloadoracao.com/historia-do-apostolo-pedro/>. Acesso em: 24/06/2020.
  • LAHAYE, Tim. Temperamentos transformados. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
  • MILLER, Andrew. A História da Igreja, Vol. 1. São Paulo: Depósito de Literatura Cristã: 2011.
Nota:

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08 outubro 2023

Bispos e Papas: (1) Lino

Bispos e Papas: (1) Lino

Por Alcides Amorim


Bispo Lino [1]


Quero iniciar, com a ajuda de Deus, um trabalho resumido sobre os bispos, que segundo a Igreja Católica tornaram-se papas e seguiremos a falar sobre os demais, se conseguir, até os dias atuais, no momento, o papa Francisco.

Assumo aqui a posição protestante, que afirma ser o primeiro papa, não o apóstolo Pedro, e sim, Leão I (440-461), que “… defendeu explicitamente a autoridade papal, articulando mais plenamente o texto de Mateus 16.18 como fundamento da autoridade dos bispos de Roma como sucessores de Pedro... [1]”, dando início – aliás, continuidade – à ideia de papado [2] A partir daí, a autoridade papal passou a ficar em evidência, sendo que, inclusive “… seu sucessor Gelásio I (492-496) expôs a célebre teoria das duas espadas: dentre os dois poderes legítimos que Deus criou para governar no mundo, o poder espiritual – representado pelo papa – tinha supremacia sobre o poder secular sempre que os dois entravam em conflito…” Essas raízes da supremacia eclesiástica romana foram alimentadas pelas atividades capazes de muitos papas.

O bispo de Roma, considerado agora “bispo dos bispos”, já a partir de Vitor I (189 a 199), reivindica também a posição de “sucessor de Pedro”, com Leão I (440-461). Mas, neste momento, o império já estava dividido e Roma estava preste a cair nas mãos dos “bárbaros”, principalmente os hunos, sob o governo de Átila. Com Leão, chamado também de “Leão I, o Grande”, e os bispos de Roma ou (agora) papas, que lhe sucedem, estes conseguiram manter certa estabilidade em Roma, após sua desintegração pelos bárbaros, e assim prossegue por toda a Idade Média [3].

Quero portanto, destacar até Leão I, os bispos mencionados por Eusébio [4], e depois passaremos a chamar de papas os chefes da Igreja Católica até o momento, se Deus nos permitir.

Iniciaremos pelo bispo Lino.

Eusébio (HE, Livro 3, Cap. II) destaca Lino como o que primeiro presidiu sobre a igreja em Roma, após o martírio de Pedro e Paulo. No capítulo IV (Livro 3), Eusébio afirma: “Quanto a Lino, mencionado em sua segunda Epístola a Timóteo como seu companheiro em Roma, já se declarou ter sido o primeiro depois de Pedro a obter o episcopado de Roma”.

Importante destacar que Eusébio de Cesareia afirma isto já no início do século IV, quando muitos (até possivelmente equivocados) já tinham uma lista feita dos bispos sucessores de Pedro, que posteriormente constaram na listas dos papas pelos teólogos católicos.

Mas nem todos os católicos acreditam assim. No artigo mencionado acima (Nota 3), Hans Kung, teólogo e sacerdote católico, afirma, ao tratar de Pedro como possuidor de uma episcopado monárquico, que “… no entanto, teólogos católicos concedem que não há evidência confiável de que Pedro tenha sido encarregado da Igreja de Roma como chefe supremo ou bispo. Em qualquer caso, o episcopado monárquico foi introduzido em Roma relativamente tarde”. E sobre os bispos de Roma como sucessores de Pedro, incluindo logicamente Lino, foi Leão que “… viu o Bispo de Roma como sucessor de Pedro fundamentado numa carta do Papa Clemente a Tiago, irmão do Senhor, em Jerusalém. De acordo com essa, em seu último testamento Pedro fez de Clemente seu único sucessor legítimo. Mas a carta era uma falsificação do final do segundo século e foi traduzida em latim apenas no final do século IV e o início do V”.

Bem, percebe-se que além de poucas informações sobre Lino, e algumas até questionáveis, ficamos apenas com o contexto histórico e religioso de seus dias.

  • Lino era colaborador e contemporâneo de Pedro, Paulo, Timóteo e de muitos cristãos que possivelmente até chegaram a conviver com Jesus.
  • A única referência que encontramos na Bíblia sobre Lino, não dá um destaque como sendo ele portador de um cargo eclesiástico, como bispo.
  • Quem afirma ter sido Lino, bispo de Roma e sucessor de Pedro, foi Eusébio, porém não encontramos nada de seu trabalho. Alias, até sobre a pessoa de Pedro, como bispo de Roma, há muitos questionamentos.
  • Lino, como primeiro sucessor de Pedro, conforme afirma a maioria (acho) dos teólogos católicos, também é identificado como o segundo Papa pela Igreja Católica.
  • Se procederem as informações da Wikipédia, Lino era italiano, nascido na Toscana e pode ter estado entre os setenta (setenta e dois) discípulos enviados enviados por Jesus (Lc 10). Se Lino era italiano, é quase certo que não fora um dos 70 discípulos de Jesus.
  • O ambiente político para os cristãos era de perseguição, pois os conflitos dos cristãos como o Estado romano já estavam em prática, e Pedro e Paulo acabaram-se sendo martirizados, sob o imperador Nero (54-68), além de os cristãos terem sido culpados pelo incêndio de Roma, em 64. Possivelmente, ele tenha companhado também os governos dos imperadores5 Galba (68-69), Oto (69), Vitélio (69) e Vespasiano (69-79).

Lino está, além da lista dos papas, também entre os mártires e santos da Igreja Católica. Aqui, afirma-se que a morte de Lino pode ter ocorrido em 67, ou 78, ou ainda em 81, decapitado pelo cônsul Saturnino.


Notas / Referências bibliográficas:

  • [2]  Por papado, entende-se ”… a crença na jurisdição universal de um bispo romano infalível, como se defende hoje na apologética católica popular”. Diversos trabalhos sobre o papado e o catolicismo são produzidos por Lucas Banzoli. Veja aqui, por exemplo, a citação de vários historiadores e teólogos católicos que reconhecem que não havia papado na Igreja antiga..
  • [4CESAREIA, Eusébio de. História Eclesiástica: os primeiros quatro séculos da Igreja Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 1999. Nesta versão, produzida pela CPAD, há uma lista dos bispos, citados por Eusébio, página 409-410, na qual me baseei.

06 setembro 2022

Independência & Independências




Por
DEL PRIORI, Mary e VENANCIO, Renato [1]
 

A consolidação da nossa independência, através de D. Pedro I, foi marcada por conflitos em diferentes províncias [2]

Além de alterar o cotidiano carioca, a transferência da Corte portuguesa teve outros efeitos bem mais profundos sobre a Colônia. O preço pago pelo apoio inglês, não só na proteção aos navios que trouxeram a família real, como também no combate às tropas francesas estacionadas em Portugal, era alto. Ele implicou tratados comerciais, nos quais d. João previa a abertura dos portos “às potências que se conserva[ssem] em paz e harmonia com a minha real coroa”, e ainda em tarifas alfandegárias menores para negociantes britânicos. Se isso era desastroso para a economia portuguesa, o mesmo não pode ser dito em relação ao Brasil. Na prática, a nova medida significava a desativação do “exclusivo comercial”, mecanismo através do qual a Metrópole impunha os preços – quase sempre inferiores aos do mercado internacional – aos produtos coloniais. É por essas razões que se costuma afirmar que nossa independência teria ocorrido nesse momento, em 1808, e que 1822 teria representado apenas sua consolidação.
Vejamos o que ocorreu entre essas duas datas.
Vale a pena lembrar que, do ponto de vista político, a vinda da Corte teve um efeito ambíguo. Não se tratava de uma simples visita da rainha, “d. Maria, a louca”, e de d. João, príncipe regente, com seus demais familiares e lacaios. Longe disso, a transmigração implicou a transferência de inúmeros funcionários régios, boa parte deles pertencente à nata da administração e da aristocracia portuguesas. Uma vez instalada, a nova Corte deu origem a uma situação inusitada: o Império colonial português passa a ter duas sedes, uma em Lisboa e outra no Rio de Janeiro. Enquanto a ameaça napoleônica pairou sob o mundo europeu, houve justificativa para tal situação. A partir de 1815, porém, ela deixou de existir. Essa data marca a derrota definitiva de Napoleão e, ao mesmo tempo, o progressivo restabelecimento dos sistemas monárquicos europeus.
Na América, a implantação da Corte tropical coincidiu com a difusão da produção cafeeira em larga escala. Para os servidores do regente não era difícil conseguir a confirmação de sesmarias, transformadas rapidamente em imensas fazendas de café. Isso para não mencionarmos a compra de terra ou então o acesso a ela via casamentos e sociedades com a elite local. Dessa maneira, a Corte que acompanhou a família real foi criando raízes no território brasileiro e formando um poderoso grupo contrário ao retorno de d. João VI. A tensa relação entre essa elite e a que permaneceu em Portugal culminou em 1820, quando tem início a Revolução do Porto. Tratava-se de um movimento liberal, voltado para a convocação de uma Assembleia Constituinte, mas que exigia o retorno imediato do rei. Um ano após sua eclosão, d. João e uma parcela significativa de sua Corte retornavam. No entanto, a dualidade de poder não havia sido extinta: como regente brasileiro ficou d. Pedro e, com ele, segmentos importantes do antigo grupo que havia fugido de Portugal. O alvo da pressão volta-se agora para o regente: em 21 de setembro de 1821, um decreto determina seu retorno imediato, na intenção de evitar o risco do retorno do Rio de Janeiro à condição de sede do Império após a morte de d. João VI. Mas d. Pedro resiste a essas pressões e, a 9 de janeiro de 1822, torna pública sua decisão de permanecer no Brasil. Nesse mesmo mês, a metrópole portuguesa nivela o Rio de Janeiro à condição das demais províncias, gesto a que o regente responde com a expulsão das tropas lusitanas do Rio. As duas cortes, dessa forma, disputam o poder, até que, em 7 de setembro, d. Pedro rompe definitivamente com a antiga pátria-mãe, sagrando-se imperador a 12 de outubro do mesmo ano.
Vista sob esse ângulo, a independência do Brasil pode ser definida como um movimento bastante elitista, quase uma disputa entre aristocratas portugueses. Uma imagem que não deixa de ser interessante, embora incompleta. Para compreendermos a especificidade de nosso processo de independência, é necessário lembrarmos que ele conviveu com outros projetos alternativos, pois, há muito, uma parte da elite colonial aspirava à ruptura com Portugal. Tais propostas de independência, contudo, tinham uma forte marca regional, como fica claro na denominação de duas delas: a Inconfidência Mineira e a Revolução Pernambucana (ocorrida em 1817).
Entre 1820 e 1822, as elites regionais tiveram dúvidas em relação a qual projeto político deveriam seguir. Paradoxalmente, mais do que a “independência” liderada por d. Pedro, o movimento português de 1820 parecia atender ao anseio de autonomia regional. De caráter liberal e constitucional, a Revolução do Porto contou com representantes coloniais, eleitos nas diversas províncias. Essas, por sua vez, passaram a ser beneficiadas pelo direito de eleger suas respectivas juntas governativas. A medida agradava em muito às elites regionais, pois, a partir de então, elas passavam a ter controle sobre o sistema político e as rendas internas das ex-capitanias.
A partir de 1821, a tendência, portanto, era de que a maior parte das classes dominantes coloniais apoiasse o governo português, deixando de obedecer às ordens emitidas pelo Rio de Janeiro. Isso, de fato, ocorreu, mas contou com um importante contraponto: o movimento constitucionalista brasileiro. O sucesso inicial da independência se deve à adesão de várias províncias à convocação da Assembleia Constituinte e Legislativa do Brasil, sugestão acatada pelo regente em 3 de junho de 1822.
A posição de d. Pedro, no entanto, era ambígua. O apoio que dava ao movimento constitucionalista era marcado por ressalvas do tipo: “a Constituição deve ser digna do meu poder”, e assim por diante. Não é de se estranhar, portanto, que, após o 7 de Setembro, as elites regionais ficassem divididas. Apoiar as cortes portuguesas significava submeter-se a um governo liberal, ao passo que acatar ao imperador implicava o risco de retorno ao absolutismo. Além disso, havia divisões nas tropas estacionadas nas diversas províncias, umas fiéis à Corte portuguesa e outras à carioca. Por isso, a independência foi seguida por uma série de guerras. No Norte e Nordeste, o processo de ruptura com Portugal esteve longe de ser tranquilo. Entre março e maio de 1823, Belém registra levantes pró-Lisboa. O mesmo ocorre no Maranhão, Piauí e Ceará, onde os conflitos armados estendem-se de outubro de 1822 a janeiro de 1823. Na Bahia, as lutas desdobram-se por quase um ano. Tais embates não pararam por aí. Na verdade, tiveram desdobramentos bem mais sérios em outras regiões, e punham em xeque a dominação das duas cortes.
A reengenharia política da independência implicava esvaziar a influência das Cortes legislativas portuguesas, criando uma similar nacional. A medida deu certo e foi auxiliada por algumas iniciativas recolonizadoras dos constituintes portugueses. A elas deve em grande parte ser atribuído o sucesso do Grito do Ipiranga, gesto que, se não contasse com o inestimável apoio das elites do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, passaria para a história como mais um berro inconsequente do autoritário d. Pedro. A independência, porém, pregou uma peça nessas elites. Um ano após ser convocada, a Assembleia Constituinte foi dissolvida e, em seu lugar, o imperador designou um pequeno grupo para redigir uma Constituição “digna dele”, ou seja, que lhe garantisse poderes semelhantes aos dos reis absolutistas. Um exemplo disso foi a criação do Poder Moderador, através do qual o monarca reservava para si, entre outras prerrogativas, o direito de nomear senadores, convocar e dissolver assembleias legislativas, sancionar decretos, suspender resoluções dos conselhos provinciais, nomear livremente ministros de Estado, indicar presidentes de província e suspender magistrados.
Não é de se estranhar, portanto, que, lá pelos idos de 1824, parte das elites provinciais encarasse a independência como um retrocesso em relação às conquistas da Revolução do Porto. Tal descontentamento, porém, não significava a luta pela “restauração”, até porque Portugal, por aquela época, também dava uma guinada rumo ao absolutismo. Em vez de voltar a obedecer a Lisboa ou continuar obedecendo ao Rio de Janeiro, a palavra de ordem agora era de independência local e proclamação da República. E é isso que ocorrerá, em Pernambuco, no ano de 1824, quando então é deflagrada a Confederação do Equador, um movimento republicano e de cunho separatista, ou federalista, que contou com a adesão de fazendeiros, homens simples e também de numerosos padres. A rápida difusão da revolta e a violenta repressão que se seguiu dimensionam o grau de descontentamento reinante. Nada mais do que seis províncias apoiam a rebelião contra o despotismo carioca; três delas, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, chegam a fornecer tropas para combater ao lado dos pernambucanos. A repressão, por sua vez, foi violentíssima, deixando com saldo centenas de mortos e dezessete condenados à forca, inclusive clérigos, como Frei Caneca.
Nos anos seguintes, o imperador recua e convoca a primeira Assembleia Legislativa, empossando-a em 1826. O federalismo, almejado pelas elites regionais, continuou, porém, a ser um sonho distante. Para complicar ainda mais o quadro político, d. Pedro, entre 1825 e 1828, enfrenta outro movimento separatista, envolvendo a Província Cisplatina. Essa rebelião, uma vez vitoriosa, dá origem ao Uruguai. A guerra torra grande quantidade de recursos públicos, sendo inclusive uma das causas da falência do Banco do Brasil em 1829. A crise financeira instala-se com o aumento vertiginoso da emissão de moedas para cobrir os gastos públicos, resultando uma inflação igualmente vertiginosa. No Rio de Janeiro, por exemplo, o preço de alimentos básicos da população pobre e dos escravos, como a farinha de mandioca e o charque, dobram em um espaço de poucos anos. O imperador torna-se cada vez mais impopular. Paralelamente a isso, o Exército, ampliado às pressas em razão das lutas contra as tropas portuguesas e grupos separatistas, foge ao controle das autoridades. Compostas em grande parte por mercenários estrangeiros, oriundos das guerras napoleônicas, e homens pobres, muitos deles pardos e negros livres, as forças armadas aliam-se às demais camadas populares nos ataques a comerciantes portugueses. Estes eram odiados por ser considerados responsáveis pela elevação dos preços dos alimentos no meio urbano.
No início da década de 1830, o clima é de guerra civil. Rio de Janeiro, Ceará, Bahia, Pernambuco e Alagoas são palco de levantes armados em que fazendeiros, tropas, pequenos proprietários, índios e escravos se ombreiam, ora contra a centralização do poder, ora como expressão de revolta diante da pobreza e da escravidão. É nesse contexto que d. Pedro I, a 7 de abril de 1831, renuncia ao trono brasileiro. Junto ao medo de ser deposto, havia outro motivo para o gesto: em 1826, com a morte de d. João VI, o imperador tornou-se o virtual sucessor da Coroa portuguesa. Ciente do risco que a ameaça de restauração representava, como munição para movimentos separatistas, d. Pedro renuncia ao trono lusitano em nome da filha, sob o título de d. Maria II. Tal gesto, porém, não é acatado por seu irmão, d. Miguel, lançando Portugal em uma guerra de sucessão dinástica até 1834, na qual, entre os combatentes, estava d. Pedro I – aliás, d. Pedro IV para os portugueses.
Em 1831, a segunda renúncia do imperador buscava apaziguar os ânimos no Brasil. Tal efeito não é difícil de ser compreendido: como herdeiro do trono ficou uma criança – o futuro d. Pedro II –, que nem ao menos havia completado os 5 anos de idade. Na prática, portanto, a abdicação significava a transferência do poder para as elites regionais, tendo em vista que o cargo máximo do governo – inicialmente na forma de regência trina (ou seja, composto por três regentes) e, depois, na forma da escolha de um único regente, como foi Diogo Feijó (1835-37) e Araújo Lima (1837-40) –, passou a ser definido via eleição. A descentralização, porém, ao contrário do imaginado, acentuou ainda mais as tendências separatistas. Como vimos, até o imperador, que desfrutava de uma certa legitimidade decorrente do fato de descender de uma casa reinante europeia e de ter comandado o vitorioso processo de independência, viu seu poder contestado. O que dizer então de um regente? Os grupos dominantes derrotados nas eleições mostravam seu descontentamento através das armas. Por volta de 1835, tais levantes assumiram um perfil claramente separatista. No Pará, uma revolta política lança a província em uma violenta guerra civil, que se estende por cinco anos. A independência local chega a ser decretada, mas os rebeldes, autointitulados cabanos, são violentamente esmagados, deixando como saldo cerca de 30 mil mortos, ou seja, cerca de 20% da população provincial. No extremo sul do país, a Farroupilha tem melhor sorte. A independência do Rio Grande do Sul é alcançada e, durante os anos 1835-45, a então denominada República do Piratini mantém-se separada do Brasil.
Em várias outras províncias, os movimentos separatistas ou federalistas se sucedem, assumindo designações que lembravam o mês de sua ocorrência – Abrilada, Novembrada – ou o nome de seus líderes, como no caso da Sabinada. Vez por outra, porém, tais movimentos fugiam ao controle da elite, tornando-se levantes populares. As chances de esses grupos alimentarem seus projetos de independência eram grandes, pois, nos embates com as tropas oficiais, os fazendeiros armavam os cativos e homens pobres. Além disso, os movimentos separatistas criavam divisões no interior das elites, como era o caso dos liberais exaltados se contrapondo aos grupos que procuravam se alinhar ao governo regencial. Ora, a divisão entre os senhores dava maior eficácia aos movimentos de contestação escravistas, arriscando todo o sistema a sucumbir em razão da luta de classes. Essa possibilidade foi registrada em 1835, quando da descoberta de planos de um levante de escravos muçulmanos em Salvador. Detalhe da Revolta dos Malês: os cativos pretendiam matar todos os brancos e decretar uma monarquia islâmica na Bahia. O Maranhão também apresentou um movimento rebelde com características populares. Iniciada em 1838, entre as elites, essa revolta escapou ao controle delas, passando a ser liderada por um escravo fugido e por um fazedor de balaios (cestos produzidos com talas de palmeiras ou de cipó). A então denominada Balaiada chegou a reunir um exército de 11 mil revoltosos, espalhando terror entre as elites maranhenses e de províncias vizinhas. Nesse contexto de risco de os pobres e escravos assumirem o controle do poder, reproduzindo em grande escala o ocorrido no Haiti em fins do século XVIII, é que se articula entre 1837-40 o retorno dos mecanismos centralizadores do Primeiro Império. O regresso conservador abrirá caminho para a repressão eficaz aos movimentos separatistas e aos levantes de escravos, assim como articulará um projeto nacional que manterá intacto o território brasileiro herdado do período colonial. Contudo, não foram poucos os obstáculos enfrentados por esse projeto. Desde a época da independência, vários testemunhos registraram a ausência de uma identidade nacional brasileira e o desafio de construí-la. Pressentindo as resistências regionais à centralização, o viajante francês SaintHilaire constatou, em 1820, no Rio Grande do Sul: “Nesta capitania até os cães latem de um modo diferente”.



Fonte / Referência bibliográfica:

DEL PRIORI, Mary e VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.


Notas:

  • [1] Texto copiado na íntegra de: DEL PRIORI, Mary e VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010, pp., 117 a 128.

  • [2] Imagem ilustrativa. Disponível em:<https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/as-guerras-independencia-brasil.htm>. Acesso em 06/09/2022.

25 novembro 2021

O Apóstolo André


Mattia Preti, The Crucifixion
 of St Andrew, 1651 [1]

No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. (...) Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que ouviram aquilo de João, e o haviam seguido. (...) Este achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo). (Jo 1.29,140,41) (Negrito meu)

O nome André significa, no grego, “viril”, embora, a exemplo de Pedro, seu irmão, pode ser um nome cristão. Era filho de Jonas e provinha de Betsaida, na Galileia, mas morou com seu irmão Pedro em Cafarnaum (Mc 1.29) onde ambos se tornaram pescadores, conforme destaca R. E. Nixon[2].

Sendo [André] discípulo de João Batista (Jo 1:35-40) este lhe mostrou Jesus como o Cordeiro de Deus. Saiu à procura de Simão e o trouxe a Jesus (Jo 1:42). Posteriormente foi chamado a um discipulado integral (Mt 4:18-20. Mc 1:16-18) e se tornou um dos doze apóstolos (Mt 10:2; Mc 3:18; Lc 6:14). Sua fé prática é demonstrada em Jo 6:8,9; 12:21,22. Foi um daqueles que interrogaram acerca do julgamento que sobreviria a Jerusalém (Mc 13:3,4). Ele é mencionado finalmente, em companhia dos outros apóstolos, após a ascensão (At 1.13). É provável que tenha sido crucificado na Acaia... (NIXON, Nota 2).

Na verdade, os historiadores sagrados[3] têm sido muito completos e abundantes ao descrever os atos de Pedro, mas bastante frugais nos relatos sobre seu irmão André. Ele foi criado com Pedro no ramo de seu pai, e continuou em sua ocupação até ser chamado pelo Senhor para ser tornar um ‘pescador de homens’.

André, como outros jovens da Galileia, tinha se tornado um discípulo de João Batista. No entanto, ao ouvir seu mestre falar, pela segunda vez, de Jesus como o Cordeiro de Deus, deixou João para seguir a Jesus. Ele foi, imediatamente após isso, o meio pelo qual seu irmão Pedro foi trazido a seu novo Mestre. Até o momento, ele tinha a honra de ser o primeiro dos apóstolos a apontar para Cristo (João 1). Ele aparece ainda nos capítulos seis e doze de João, e no décimo terceiro de Marcos, mas, além desses poucos e espalhados relatos, as Escrituras não relatam mais nada a respeito dele. Seu nome não aparece nos atos dos Apóstolos, com exceção do primeiro capítulo.

Conjecturas e a tradição têm dito muitas coisas sobre ele, mas devemos considerar apenas fatos razoavelmente estabelecidos. Dizem que ele pregou em Cítia, e que viajou pela Trácia, Macedônia, Tessália, e que sofreu o martírio em Petra, na Acaia. Sua cruz, dizem, era formada de dois pedaços de madeira se cruzando no meio, na forma de X, geralmente conhecida pelo nome de cruz de Santo André. Ele morreu orando e exortando as pessoas à constância e perseverança na fé. O ano em que ele sofreu isso é incerto.

Veja mais sobre o apóstolo André, no vídeo de Marlon Engel abaixo:


Notas / Bibliografia:

10 setembro 2020

Brasil, rumo à sua Independência

O Grito do Ipiranga, quadro de Pedro Américo[1].

O Brasil, o maior país da América do Sul, torna-se independente depois de quase todos os demais do nosso continente. Queremos considerar aqui os principais fatos que marcam o processo para ele se chegar a um Estado-nação independente [2].

1.  A família real no Brasil

Em novembro de 1806. Napoleão Bonaparte, que governava a França, decretou o chamado Bloqueio Continental, cujo objetivo principal era isolar economicamente a Inglaterra, sufocando suas relações comerciais. Com isso, todas as nações europeias foram impedidas de negociar com ela.

Do ponto de vista prático, a exigência francesa [através do Bloqueio Continental] tinha natureza autoritária e não poderia ser imediatamente seguida pelas várias nações que apoiavam e dependiam, economicamente, das manufaturas inglesas. Uma das situações mais complicadas se dava com o caso de Portugal, nação que servia de porta de entrada para a Europa Continental e dependia largamente dos produtos industrializados britânicos [3].

Brasil, rumo à sua Independência No final de 1807, Portugal era governado pelo príncipe regente D. João, pois sua mãe, a rainha D. Maria I, sofria de problemas mentais. Como Portugal era aliado da Inglaterra, D. João viu-se em difícil situação: se aderisse ao bloqueio continental, os ingleses impediriam as comunicações e o comércio entre Portugal e Brasil, estimulariam a independência da colônia e passariam a comercializar diretamente com o novo Estado.

Para solucionar o impasse, D. João decidiu transferir para o Brasil a sede do governo de Portugal. Com a ajuda dos aliados ingleses, a família real, seus parentes, os principais funcionários do reino, criados e dependentes embarcaram para a colônia. Cerca de 15 mil pessoas viajaram, mal acomodados, em catorze navios carregados de bens pessoais, documentos, bibliotecas, coleções de arte e tudo o que era possível transportar.

Nas proximidades do litoral do Brasil, uma forte tempestade dispersou as embarcações. Algumas, entre elas a de D. João, aportaram em Salvador, em janeiro de 1808. Outras aportaram no Rio de Janeiro. Em março, D. João transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi recebido com grandes festas, preparada pelos funcionários do reino que haviam chegado antes.

A transferência da corte trouxe muitos transtornos à população do Rio de Janeiro por causa das dificuldades para acomodar cerca de 15 mil pessoas.

 Foi dada ordem de despejo aos moradores das melhores residências do Rio de Janeiro, afixando-se nas portas a sigla P. R., que queria dizer Príncipe Regente. A população, revoltada, lia-a de maneira diversa: “Ponha-se na Rua” ou “Prédio Roubado”.

Uma vez instalada, a nova Corte deu origem a uma situação inusitada: o Império colonial português passa a ter duas sedes, uma em Lisboa e outra no Rio de Janeiro. Enquanto a ameaça napoleônica pairou sob o mundo europeu, houve justificativa para tal situação (DEL PRIORE & VENANCIO: 2010, p. 117).

Uma das primeiras medidas que D. João tomou ao chegar ao Brasil foi ordenar a abertura dos portos da colônia a todas as nações amigas. Já que Portugal tinha sido tomado pelos franceses, o Império Português, agora com sede no Brasil, só poderia comercializar com outros povos a partir dos portos brasileiros. E a maior beneficiada com essa medida foi, obviamente, a Inglaterra, que naquela época dominavam o comércio mundial.

Além do comércio livre com o Brasil, os ingleses fizeram ainda uma cobrança pela ajuda que haviam prestado à família real portuguesa: desejavam vantagens comerciais. Em 1810, D. João assinou um tratado que favorecia os ingleses em seu comércio com o Brasil. Enquanto os outros países pagavam ao governo português a taxa de 24% sobre o preço das mercadorias que vendessem aos comerciantes do Brasil, a Inglaterra pagava apenas 15%. Os produtos ingleses podiam assim ser vendidos por preços mais baixos que os de outros países, inclusive os da própria metrópole. Isso prejudicava o desenvolvimento das atividades econômicas na colônia.

Outras medidas econômicas tomada por D. João foram:

  • Cancelamento da lei que proibia a instalação de manufaturas – como a de tecidos – no Brasil, medida que obteve poucos resultados em virtude da concorrência dos produtos ingleses;
  • Construção de estradas;
  • Melhoramento dos portos;
  • Introdução de espécies vegetais, como o chá; 
  • Promoção da vinda de colonos europeus;
  • Instalação de manufaturas.

A produção agrícola voltou a crescer. Ao lado do açúcar e do algodão – principais produtos exportados no início do século XIX – surgiu o café. O novo produto, em poucos anos, passaria a ocupar o primeiro lugar nas exportações brasileiras.

Ano campo cultural, D. João incentivou, entre outras medidas:

  •  A criação de vários cursos no Rio de Janeiro e na Bahia, como os de cirurgia, química, agricultura, desenho técnico etc., tendo como uma de suas principais realizações a fundação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios;
  • Fundação do Museu Nacional, do Observatório Astronômico e da Biblioteca Real;
  • Criação da Imprensa Régia, a primeira gráfica do Brasil;
  • Promoção da vinda ao Brasil da Missão Artística Francesa.

Os artistas franceses, que vieram ao Brasil em 1816 contratados como professores (após a derrota de Napoleão), tiveram considerável importância. Além de dar aulas em vários dos cursos criados por D. João, eles fizeram estudos sobre o Brasil. Dentre os artistas que compunham a missão, destacavam-se os pintores Jean-Baptiste Debret e Nicolas-Antoine Taunay, a quem se deve a pintura de quadros que retratam cenas do dia-a-dia da cidade do Rio de Janeiro. Esses quadros são importantes registros de hábitos e costumes locais do período em que a cidade acolheu a corte portuguesa. Ambos retrataram também acontecimentos da corte, entre outras cenas históricas (PILETTI & PILETTI: 2003, p. 49).

D. João, no campo administrativo, ainda montou um sistema destinado a dotar o Brasil de certa autonomia, criando  três ministérios – Guerra e Estrangeiros, Marinha, Fazenda e Interior; fundou o Banco do Brasil; instalou a Junta Geral do Comércio e instalou a Casa de Suplicação (hoje, Supremo Tribunal), a mais elevada corte de Justiça.

Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves e em 1816, com a morte de sua mãe, a rainha D. Maria, o príncipe regente foi aclamado e coroado rei, com o nome de D. João VI.

2.  A Independência

Depois da partida da família real para o Brasil, em 1807, Portugal passou a ser governado por um conselho de regência presidido pelo marechal inglês Beresford. A guerra com a França durou alguns meses, e as tropas de Napoleão Bonaparte foram obrigadas a se retirar, vencidas por portugueses e ingleses. Beresford assumiu, então, o comando do exército português.

Além do fato de serem governados pelos ingleses, enquanto seu rei estava no Brasil, outros motivos revoltavam os portugueses: eles haviam empobrecido por causa da guerra contra os franceses e seu comércio fora prejudicado pela abertura dos portos brasileiros a outras nações. Somava-se a isso o fato de os principais postos do exército serem ocupados pelos ingleses, de modo que os oficiais portugueses ficavam em segundo plano.

Portugal encontrava-se, portanto, no meio de uma crise política, econômica e militar, que eclodiu na cidade do Porto, em 1820. Daí espalhou-se rapidamente por todo o país. Vitoriosos, os revolucionários implantaram uma junta provisória para governar e, em seguida, convocaram as cortes que seriam eleitas e teriam a função de redigir e aprovar uma Constituição.

A Revolução Liberal do Porto, como essa revolta ficou conhecida, tinha muitas contradições. Ao mesmo tempo em que era contra o absolutismo do rei, era a favor da volta das limitações coloniais para o Brasil. Entre as várias exigências que foram feitas a D. João VI, as principais foram:

  • Retorno imediato do rei para Portugal; 
  • Aprovação da Constituição a ser promulgada em Lisboa;
  • Aprovação da nomeação de doze pessoas indicadas pelos revolucionários para o ministério e para os cargos públicos mais importantes.

Pressionado pelos revoltosos e com medo de perder o trono português, D. João VI aceitou todas as exigências e voltou para Portugal, em abril de 1821.

Ao partir, D. João deixou seu filho, D. Pedro, como príncipe regente do Brasil. Entretanto, a insatisfação dos colonos crescia, principalmente a daqueles que tinham interesses econômicos, como os proprietários rurais, os comerciantes e os consumidores dos centros urbanos. A maioria da população queria a independência.

Do outro lado, as cortes portuguesas tentavam revogar os acordos comerciais com a Inglaterra e, em fins de 1821, exigiram a volta de D. Pedro para Portugal. Assim, aumentava a hostilidade entre brasileiros e portugueses. Contribuía também para o clima de animosidade o fato de militares portugueses ocuparem os principais postos de comando do exército e terem muitos privilégios.

D. Pedro, que era casado com Maria Leopoldina, filha do imperador da Áustria, procurou contornar a situação: diminuiu as despesas do governo, baixou os impostos e igualou militares brasileiros e portugueses.

O retorno de D. Pedro à Europa era rejeitado pelos que apoiavam o Partido Brasileiro. Essas pessoas prepararam um manifesto pedindo a permanência do príncipe regente no Brasil. D. Pedro decidiu ficar e proferiu, em 9 de janeiro de 1822, a famosa frase: “Como é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico”. O episódio ficou conhecido como Dia do Fico.

Em 1822, iniciaram-se as articulações políticas para a eleição de uma Assembleia Constituinte no Brasil. Além desse, outros fatos começaram a mostrar a ruptura cada vez maior do Brasil com Portugal. As tropas portuguesas, por exemplo, passaram a ser consideradas inimigas, e José Bonifácio e Gonçalves Ledo, ministros de governo, enviaram cartas e manifestações às nações amigas.

As cortes portuguesas, insatisfeitas com o rumo dos acontecimentos, enviaram um despacho ao Brasil revogando os decretos do príncipe regente e exigindo seu retorno imediato a Portugal. D. Pedro estava em viagem à província de São Paulo quando recebeu essas notícias. Era o que faltava para que ele proclamasse a independência, promovendo a separação política do Brasil de Portugal.

O fato aconteceu às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, no dia 7 de setembro de 1822. No dia 1º de dezembro do mesmo ano, D. Pedro foi coroado imperador do Brasil, passando a se chamar D. Pedro I.

Vale destacar ainda que ao contrário dos outros países latino-americanos que, ao se tornarem independentes, adotaram imediatamente a República como forma de governo, o Brasil adotou a monarquia, inclusive sendo governado por um membro da família real de sua ex-metrópole, aliás, modelo de governo que segue até 1889.


Referências bibliográficas:

DEL PRIORE, Mary & VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010. Disponível em PDF, in: <https://portalconservador.com/livros/Renato-Venancio-Uma-Breve-Historia-do-Brasil.pdf>.

PILETTI, Nelson & PILETTI, Claudino. História: EJA (Educação de Jovens e Adultos), 4º Ciclo. São Paulo: Ática, 2003.


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Abaixo, link do Hino Nacional Brasileiro:

·      Letra de Joaquim Osório Duque Estrada;

·      Música de Francisco Manuel da Silva.



Notas:


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