Translate

31 março 2022

O Incêndio de Roma

Por que Nero mandou pôr fogo em Roma?[1]

De acordo com os rumores, Nero havia passado boa parte do incêndio no alto da torre de Mecenas, no cume do Palatino, vestido como um atar de teatro, tangendo sua Iira e cantando versos acerca da destruição de Tróia. Logo começou a propalar-se que o imperador, em seus desatinos de poeta louco, havia incendiado a cidade para que o sinistro lhe servisse de inspiração...”[2]

Como [3] nossos dois grandes apóstolos, Pedro e Paulo, sofreram o martírio durante a primeira perseguição imperial, pode ser interessante para muitos de nossos leitores saber algo sobre os elementos particulares que conduziram a esse edito cruel.

Mas aqui, embora relutantemente, devemos trocar a certeza da Palavra de Deus pelos escritos incertos dos homens. Passamos, neste momento, do firme e sólido solo da inspiração para o solo inseguro dos historiadores romanos e da história eclesiástica. No entanto, todos os historiadores, tanto antigos quanto modernos, pagãos e cristãos, concordam quanto aos principais fatos sobre o incêndio em Roma, e sobre a perseguição aos cristãos.

No mês de julho do ano de 64 d.C. um grande incêndio irrompeu no Circo Máximo, e continuou a se espalhar até que deixou em ruínas toda a antiga grandeza da cidade imperial. As chamas se estenderam com grande rapidez, e sendo Roma uma cidade de ruas longas e estreitas, e de montes e vales, e tendo o vento ajudado o fogo a se alastrar, logo se tornou um caos generalizado. Em pouco tempo a cidade inteira parecia envolta em um mar de chamas ardentes.

Tácito, um historiador romano daqueles dias, e considerado um dos mais precisos de sua época, nos conta: “Das quatorze áreas nas quais Roma era dividida, apenas quatro permaneceram inteiras, três foram reduzidas a cinzas, e dos sete restantes 164 Roma e Seus Governantes (64 d.C. – 177 d.C.) restou nada mais que um monte de casas destroçadas em meio às ruínas.” O fogo se alastrou furiosamente por seis dias e sete noites. Palácios, templos, monumentos, as mansões dos ricos e as habitações dos pobres pereceram nesse fogo fatal. Mas isso não era nada comparado aos sofrimentos dos habitantes. As doenças da idade, a fraqueza dos jovens, o desamparo dos doentes, os pavorosos gritos de lamentação das mulheres: tudo se somava à miséria desta cena terrível. Alguns se esforçaram para prover para si mesmos, outros para salvar seus amigos, mas nenhum lugar de segurança podia ser encontrado. Para qual caminho se virar, ou que caminho tomar, ninguém podia dizer. O fogo se alastrava por todos os lados, de modo que um grande número de pessoas caíam prostradas nas ruas, lançando-se a uma morte voluntária, e pereciam nas chamas.

A questão importante, quanto à origem do fogo, era agora discutida em todos os lugares. Quase todos acreditavam que a cidade foi queimada por incendiários, e por ordens do próprio Nero. Era certo que um número de homens foram vistos estendendo as chamas em vez de extingui-las, afirmando ousadamente que eles tinham autoridade para fazê-lo. Foi também geralmente relatado que, enquanto Roma estava em chamas, o desumano monstro Nero permaneceu em uma torre de onde podia assistir o progresso do incêndio, divertindo-se tocando “A Queda de Troia” em sua lira favorita.

Muitos de nossos leitores, sem dúvidas, devem estar se perguntando qual poderia ser o objetivo de Nero ao incendiar a maior parte de Roma. O objetivo, acreditamos, era de poder reconstruir a cidade em uma escala de maior magnificência, para então chamá-la com seu próprio nome. E ele tentou fazer isso imediatamente de maneira grandiosa. Mas tudo o que ele fez não conseguiu restabelecer-lhe o favor popular, ou remover a infame acusação de ter incendiado a cidade. E quando toda a esperança de obter o favor, tanto das pessoas quanto dos deuses, se acabou, ele partiu para o plano de passar a culpa que tinha para outros. Ele sabia bem da impopularidade dos cristãos, tanto com os judeus quanto com os pagãos, para decidir fazer deles seu bode expiatório. Um rumor logo se espalhou de que os incendiários tinham sido descobertos, e que os cristãos eram os criminosos. Muitos foram imediatamente presos para que pudessem ser levados à uma punição à altura, e para satisfazer a indignação popular.

Notas / Referências bibliográficas:

  • [2] Justo L. E até aos confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo: a era dos mártires – Vol. 1. São Paulo: Vida Nova, 1995. P. 54.
  • [3] O texto a seguir é uma transcrição literal (adaptada) de: MILLER, Andrew Miller. A História da Igreja Vol. 1 – Capítulo 1 ao 17. São Paulo: DLC (Depósito de Literatura Cristça), 2011.: Século I ao X, pp. 151-152.


01 março 2022

As últimas coisas, por Myer Pearlman



PEARLMAN, Myer Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2077 (7ª ed.), pp. 229 a 249


Assuntos tratados:

I – A morte

II – O estado intermediário

III – A ressurreição

IV – A vida futura

V – O destino dos justos

VI – O destino dos ímpios

VII – A segunda vinda de Cristo


Estudo em PDF, disponível em:


= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

As últimas coisas, por Myer Pearlman

= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

26 fevereiro 2022

Irineu de Leão

Irineu de Leão1

Irineu de Leão escreveu toda a sua teologia desde uma perspectiva bíblica e pastoral. Através dele podemos descobrir muito do que foi o pensamento teológico de seus mestres, porque Irineu não trata de inovar, mas de expor a fé que recebeu de Policarpo e de seus outros mestres”2.

Irineu era natural da Ásia Menor – provavelmente de Esmirna – onde nasceu por volta do ano de 130 e onde foi também discípulo do bispo Policarpo, acerca de cujo martírio falamos em um capítulo anterior. Durante toda sua vida, Irineu foi um admirador fervente de seu mestre Policarpo, e em seus escritos se refere repetidamente aos ensinos de um "ancião" – o presbítero – cujo nome não menciona, mas que parece ser Policarpo. Em todo caso, por razões que desconhecemos, Irineu se transladou a Leão, no que hoje é França. Ali chegou a ser presbítero da igreja, que o enviou a Roma com uma carta para o bispo dessa cidade. Irineu estava em Roma quando houve uma perseguição em Leão e Viena que já discutimos anteriormente. Nessa perseguição, o bispo Fotino [ou Potínio] entregou sua vida como mártir e, portanto, quando Irineu regressou a Leão ficou encarregado da direção espiritual da igreja, que o elegeu para que fosse seu bispo.
Irineu era antes de tudo um pastor. Seu interesse não estava na especulação filosófica, nem em descobrir recônditos secretos, até então desconhecidos, mas em dirigir a sua grei na sã doutrina e na vida correta. Portanto, seus escritos não intentam elevar-se em altos voos especulativos, mas pretendem simplesmente refutar os hereges e instruir os crentes. Ainda que Irineu compusesse outros escritos, são duas as obras dele que seconservam: "A demonstração da fé apostólica" e "A refutação da falsa gnosis", esta última melhor conhecida como "Contra as Heresias". Na primeira destas obras, Irineu está tratando de instruir sua grei sobre alguns pontos da fé cristã. Na segunda refuta aos gnósticos. Em ambas, Irineu se limita a expor a fé que recebeu de seus mestres, sem tratar de adorná-la com especulações de sua própria lavra. Portanto, muito mais do que qualquer dos outros teólogos que estudaremos aqui, Irineu nos mostra qual era a doutrina comum da igreja até os fins do século segundo.

Irineu é antes de mais nada pastor, desse modo ele mesmo concebe a Deus como um pastor. Deus é um ser amante que cria o mundo e a humanidade, não por necessidade nem por erro – como pretendiam os gnósticos – mas por causa de seu próprio desejo de ter uma criação a qual amar e a qual dirigir, como o pastor dirige o seu rebanho ao redil. À luz desta perspectiva, toda a história aparece como o processo mediante o qual o divino pastor vai dirigindo sua criação em direção à consumação final.

A coroa da criação de Deus é a criatura humana. O ser humano foi criado desde o princípio como um ser livre e, portanto, responsável. Essa liberdade é tal, que mediante ela podemos conformar-nos mais e mais à vontade e à natureza divina, e gozar de uma comunhão sempre crescente com nosso criador. Mas, por outra parte, a criatura humana não foi criada desde um princípio em toda sua perfeição. Como pastor que é, Deus colocou o primeiro casal no paraíso, não em um estado de perfeição, mas "como meninos" (ou "como crianças"). O que isto quer dizer é que Deus tinha o propósito de que o ser humano crescesse de tal modo em comunhão com ele que com o tempo chegasse a estar ainda acima dos anjos.

Os anjos são seres superiores a nós somente provisoriamente. Quando se cumprir na humanidade o propósito divino, os seres humanos estarão acima dos anjos, pois gozaremos de uma comunhão com Deus mais estreita que a deles. A função dos anjos é semelhante à do tutor que dirige os primeiros passos de um príncipe. Ainda por um momento o tutor está acima do príncipe, mas com o tempo será subordinado a ele.

Deus criou então a humanidade "como crianças", para que fossem crescendo e se acostumando à comunhão com ele. Além dos anjos, Deus contava com suas duas "mãos" – o Verbo e o Espírito Santo – para dirigir e instruir a humanidade. Guiados por essas mãos, os seres humanos receberão instrução e crescimento, preparando-se cada vez mais para uma comunhão mais e mais íntima com Deus. Isto é o que Irineu chama de "divinização". O propósito último de Deus é fazer-nos cada vez mais semelhantes a ele. Isto não quer dizer que de algum modo nos dissolveremos na divindade, nem que chegaremos a ser iguais a Deus. Ao contrário, Deus se encontra tão acima de nós que por mais que cresçamos em nossa semelhança a Ele, sempre haverá caminho por andar.

Mas um dos anjos, Satanás, sentiu ciúmes do destino tão elevado que Deus reservava à criatura humana e, portanto, tentou e fez pecarem Adão e Eva Como resultado do pecado, a criatura humana foi expulsa do paraíso, e seu crescimento ficou torcido. Portanto, a história tal como se desenvolveu é resultado do pecado.
Mas, se bem que o conteúdo concreto da história da humanidade é resultado do pecado, o fato de que haja história não o é. Deus sempre teve o propósito de que houvesse história. O paraíso não era senão o ponto de partida nos propósitos de Deus para com a humanidade.

O mesmo se pode dizer com respeito à encarnação de Deus em Jesus Cristo. A encarnação não é o resultado do pecado humano. Ao contrário, desde o princípio Deus tinha o propósito de se unir à humanidade como o fez em Jesus Cristo. De fato, o Verbo encarnado foi o modelo que Deus utilizou ao criar o ser humano segundo sua "imagem e semelhança". Adão e Eva foram criados para que, depois de um processo de crescimento e instrução, chegassem a ser como o Verbo que havia de encarnar. Por causa do pecado, o que sucedeu é que a encarnação tomou outro propósito, e veio a ser também remédio contra o pecado e meio para a derrota de Satanás.

Ainda antes da encarnação, e desde o momento do primeiro pecado, Deus esteve dirigindo a humanidade em direção à uma comunhão mais íntima com ele. Por isso é que Deus "maldiz" à serpente e à terra, enquanto só "castiga" ao homem e à mulher. No momento das maldições, Deus continua levando a cabo seus propósitos redentores.

Nesses propósitos, o povo de Israel cumpre um papel importantíssimo, pois é na história do povo escolhido que as mãos de Deus têm continuado a preparar a humanidade para a comunhão com Deus. Portanto, o Antigo Testamento não é a revelação de um Deus estranho à fé cristã, mas é a história de como Deus continuou os seus propósitos redentores mesmo depois do pecado de Adão e Eva.
Por fim, ao chegar o momento adequado, quando a humanidade tivesse recebido a preparação necessária, o Verbo se encarnou em Jesus Cristo. Jesus é o "segundo Adão" porque em sua vida, morte e ressurreição foi criada uma nova humanidade, e em todas suas ações, Jesus foi corrigindo o mal que fora feito no primeiro pecado. Mas, além disso, Jesus derrotou o maligno, e nos fez possível viver uma nova liberdade. Quem está unido a ele mediante o batismo, a fé e a comunhão participa de sua vitória. Jesus Cristo é literalmente a cabeça da igreja, que é seu corpo. O corpo se nutre mediante a adoração – particularmente a eucaristia – e de tal modo está unido à cabeça que já vai recebendo os benefícios da vitória de Cristo. Em sua ressurreição começou a ressurreição final, da qual todos os que formam parte de seu corpo serão participantes.

Quando chegar a consumação final, e o Reino de Deus se estabelecer, isto não vai querer dizer que a tarefa de Deus como pastor terá terminado. Ao contrário, a humanidade redimida continuará crescendo em comunhão com Deus, e o processo de divinização continuará por toda a eternidade, levando-nos sempre mais perto de Deus.

Em resumo, a teologia de Irineu consiste em uma grandiosa e amplíssima visão da história, de tal modo que os propósitos de Deus vão se cumprindo através dela. Nessa história, o ponto central é a encarnação de Jesus Cristo, não simplesmente porque Ele tenha vindo corrigir a carreira torcida da humanidade, mas também e, sobretudo, porque desde o próprio momento da criação Deus já projetava a encarnação como o ponto culminante de sua obra. O propósito de Deus é unir-se ao ser humano, e isto ocorreu em Jesus Cristo de um modo inigualável.

- - - - - - -

Quando e quando Irineu morreu? González não comenta. Ao que parece ele foi martirizado, provavelmente no ano 202, conforme o vídeo abaixo. Segundo nos informa FERREIRA: “A notícia de que ele sofreu martírio surgiu, pela primeira vez, nas obras de Jerônimo e Gregório de Tours, provavelmente na época em que, após a cidade de Lião ter apoiado o usurpador Clódio Albino e seus partidários na sucessão imperial, o vencedor desta, Sétimo Severo, mandou matar muitos moradores da cidade, nessa situação, a morte de Irineu pode muito bem ter passado despercebida3.

Veja também o vídeo de Edgar de Oliveira, in:



Notas / Referências bibliográficas:


1 Irineu de Leão, Lião ou Lyon. Imagem meramente ilustrativa, disponível em: GONZÁLEZ, Justo L. A Era dos mártires. Op. Cit., Nota 2, p. 111.

2 GONZÁLEZ, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo: a era dos mártires – Vol. 1. São Paulo: Vida Nova, 1995, pp. 110 a 115.

3 FERREIRA, Franklin. Servos de Deus: espiritualidade e teologia na história da igreja. São José dos Campos/SP. Fiel, 2014. p. 42.



19 janeiro 2022

O Cinismo e os Crescentes de hoje: o que nos ensina a filosofia defendida por Justino Mártir

O cínico moderno1.

Escrevi de forma breve sobre alguns mártires cristãos2 que viveram e morreram pela sua fé em Cristo. O que eles tinham em comum eram a convicção de sua conversão do pecado e uma espiritualidade moldada pelas Escrituras, a Bíblia Sagrada cristã. Dos mártires que também foram mestres da igreja, os apologistas, podemos acrescentar ainda – como escreve Franklin FERREIRA –, que eles reconheciam sua pequenez em matéria teológica, embora fossem (grandes) pastores, viviam sua fé e serviços voltados para a sociedade, tinham sua cosmovisão cristã ou “… uma visão integral da obra de Deus na criação e restauração de todas as coisas…, além do que “… escreveram e pensaram para a glória de Deus e edificação da igreja…”3.

Dentre estes mártires, Justino Mártir me chamou especial atenção, sobretudo por causa de sua relação com o Cinismo, uma filosofia que serviu como o estopim de suas discordâncias com um filósofo desta corrente chamado Crescente, e que o levou, conjuntamente com seis de seus discípulos, ao martírio, no ano de 165…

O Cinismo se caracteriza pelo “… total desprezo pelos bens materiais e o prazer”, tinha origem no grego “kynismós”, ou “como um cão”. Seus adeptos, os cínicos, deveriam ter uma filosofia moral voltada para este princípio: vida simples. Eram “… identificados por possuírem apenas um manto dobrado como vestimenta, um bastão para auxiliar nas caminhadas e uma sacola para carregar algum donativo. Desde então, o significado de cínico é atribuído às pessoas que não possuem apego às convenções sociais e se sentem superiores por isso4”.

A questão, até mesmo paradoxal, é o fato de que ninguém consegue viver o estilo de vida proposto pelos cínicos sem depender do não-cínico uma vez que até para se obter donativos alguém que não é cínico precisa trabalhar e lhe doar o que lhe é necessário para suas necessidades básicas. Se os cínicos precisam do que o outro ganha, porque ele é considerado num patamar inferior ao dele? Daí, o sentido pejorativo para o cinismo, pois o cínico “… designa um homem agudo e mordaz que não respeita os sentimentos e valores estabelecidos nem as convenções sociais5, enquanto precisa dos outros para sobreviverem.

Qual o principal embate entre Justino Mártir e Crescente? Na verdade, não encontrei qual o ponto filosófico que foi o pomo da discórdia entre Crescente e Justino, mas o certo é que Crescente o convidou para um debate e perdeu, pois Justino conseguiu provar que a “filosofia cristã”, como ele denominava a doutrina e/ou teologia cristã e a defendia, foi superior ao cinismo de Crescente.

Segundo consta nos escritos históricos, Justino teve desavenças com Crescente (ou Crescêncio), um filósofo conhecido como cínico, e em alguns debates Justino o havia repreendido na presença de seus ouvintes. Num desses debates, o filósofo Crescente desafiou Justino acerca do cristianismo e este saiu vencedor, o que induziu Crescente a buscar vingança, acusando seu adversário perante os tribunais6.

Bem, Justino escreveu diversas obras entre as quais o relato de discussão com um rabino judeu chamado Trifon, o “Diálogo com Trifon”, mas precisou defender sua filosofia cristã também em Roma e, desta forma, ele tenha ganhado no argumento, foi derrotado nos tribunais.

O filósofo Crescente era amigo do prefeito Júnio Rústico que aconselhou Justino e seus seis discípulos presentes a negarem sua filosofia cristã, ao que eles se recusaram. Para Justino, disse o prefeito: “a menos que se sujeite…, você será atormentado sem misericórdia”. E foi… Depois de açoitados, Justino Mártir e seus companheiros foram decapitados.

Qual a lição deste episódio para nossos dias, sobretudo no Brasil? É que a filosofia cristã de Justino é a mesma que de alguma medida se faz presente na nossa sociedade e é defendida pela maioria dos brasileiros, que ficou conhecida como “direita conservadora”. Por outro lado, o politicamente correto, dos chamados “esquerdistas”, quer sobrepor às verdades desta maioria, somada às ideias de “democracia” (sem “demo”, apenas com “cracia”. Ou cleptocracia?) de alguns ilimunistros de nossa corte máxima, juízes, desembargadores, procuradores, políticos de oposição, imprensa, artistas etc., ou seja, uma tremenda corja que está impondo suas “verdades” e querendo que a maioria as engula. A exemplo do Crescente da época de Justino Mártir que o entregou ao amigo prefeito, os Crescentes de hoje perdem nas argumentações, mas estão ganhando nos tribunais, pois têm “amigos” nos tribunais que pensam da mesma forma e têm via de regra a certeza da sua decisão favorável. Uma vitória seguida de outra e por todo o Brasil, dos canalhas sobre os conservadores. E embora temos hoje um Presidente que defenda os princípios da filosofia de Justino Mártir, o conceito degenerado de laicismo, democracia, direitos da minoria sobre a maioria, ideias dos biografados, dos engomadinhos defensores da “ciênssia", dos não-negacionistas, dos sofisticados do teatro das tesouras etc., é deturpado na mente e bocas de “veludos”, de “sapões”, de “xandões”, de “amigos de meu pai”, apenas para citar alguns grandões, enquanto a maioria conservadora vai sendo derrotada. E o Presidente não faz nada? Pelo sistema ou establishment que existe hoje no Brasil, incluindo o meio jurídico e a formação dos Três Poderes da República, o caminho para os conservadores parece não ter saída. E se estes saem pacificamente às ruas, logo aparece um adjetivo para qualificá-los: os antidemocráticos. E se são antidemocráticos, então precisam ser parados seja pela censura nas redes sociais, nos processos sem provas, prisões arbitrárias e, quem sabe, até mesmo pelo uso da violência. Além disso, os milhares ou milhões de “antidemocráticos” que foram às ruas em apoio ao presidente no dia 7 de setembro de 2021, foram adjetivados também por certo iluministro7 de milicianos, terroristas, traficantes, fascistas, racistas, supremacistas, misóginos e demônios das sombras. É mole!

Tendo em vista este quadro, os defensores da filosofia de Justino devem se calar? Não, jamais! Mas saibamos que por esta defesa, Justino se tornou o Mártir… Quem se atreve a seguir seu exemplo? Tenhamos em mente também que no Brasil há muitos Crescentes amigos do prefeito, do deputado, do senador, do juiz, do iluministro…, menos do presidente, só se forem como cínicos hipócritas tentando ocultar a verdadeira face.

Veja o vídeo a seguir:




Notas / Referências bibliográficas:

  • 3 FERREIRA, Franklin. Servos de Deus: espiritualidade e teologia na história da igreja. São Paulo: Editora Fiel, 2014. Pág. 25.
  • 4 MENEZES, Pedro. Cinismo. Disponível em:  <https://www.todamateria.com.br/cinismo/>. Acesso em: 17/01/2022.
  • 5 Veja: O que é Cinismo. Disponível em: <https://www.significados.com.br/cinismo/>. Acesso em> 17/01/2022.
  • 6 In: XAVIER, Erico Tadeu. Justino Mártir: um filósofo em defesa da fé cristã. Pág. 17. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/ultimoandar/article/view/21517/15766>. Acesso em 7/01/2022.

14 janeiro 2022

Justino, o Mártir

Justino[1]

Meu propósito não é lisonjear-vos (...) mas requerer que julgueis os cristãos segundo o justo processo de investigação[2]

Depois de uma longa peregrinação intelectual, o filósofo Justino chegou à conclusão de que o cristianismo era ‘a verdadeira filosofia’. À defesa dessa fé dedicou sua pena. E, quando essa defesa foi insuficiente, selou seu testemunho com o sangue do martírio[3].

O imperador Marco Aurélio (161-180) foi um dos mais cultos do Império Romano. Por este motivo, esperava-se que sob seu governo os cristãos gozassem de um período de relativa paz. Mas não foi o que aconteceu. Já vimos os casos dos martírios de Felicitas e seus sete filhos e de Blandina de Lion, apenas para citar alguns. Agora, veremos o caso do martírio de Justino, um dos maiores mestres – apologistas – do Cristianismo ocorridos durante seu governo. Sobre seu trabalho como apologista, além de outros, veja o que escreve Justo González[4] escreve no capítulo VII de seu livro A Era dos mártires.

Flávio Justino, também conhecido como Justino, o Mártir[5], nasceu em Neápolis, em Samaria, de pais gentios. Quando jovem, ele cuidadosamente estudou as diferentes seitas filosóficas; mas não encontrando a satisfação que seu coração ansiava, ele foi levado a ouvir o evangelho. Nisto ele descobriu, através da bênção de Deus, um perfeito descanso para sua alma, e cada desejo de seu coração integralmente cumprido. Ele se tornou um cristão sincero e um celebrado escritor em defesa do cristianismo.

Bem no início do reinado de Aurélio, Justino era um homem marcado. Acusações foram feitas contra ele por um homem chamado Crescente, um filósofo da seita dos cínicos. Ele foi preso com seis de seus companheiros, e todos foram levados perante o prefeito. Eles foram requisitados a sacrificar aos deuses. ‘Ninguém’, respondeu Justino, ‘cujo entendimento é são, vai abandonar a verdadeira religião por causa do erro e impiedade.’ ‘A menos que se sujeite’, disse o prefeito, ‘você será atormentado sem misericórdia.’ ‘Não desejamos nada mais, sinceramente’, ele respondeu, "além de suportar torturas por nosso Senhor Jesus Cristo’. O restante concordou, e disseram: ‘Somos cristãos, e não podemos sacrificar aos ídolos.’ O governador então pronunciou a sentença: ‘Quanto a esses que se recusam a sacrificar aos deuses, e a obedecer os decretos imperiais, que sejam primeiro açoitados, e depois decapitados, de acordo com as leis.’ Os mártires se alegraram, e louvaram a Deus, e sendo levados de volta à prisão, foram açoitados, e depois decapitados. Isto aconteceu em Roma, por volta do ano 165. Assim dormiu em Jesus um dos primeiros ‘Pais’, e ganhou o título glorioso de ‘Mártir’, que geralmente acompanha seu nome. Seus escritos têm sido cuidadosamente examinados por muitos, e lhes são atribuídos grande importância.

Ainda mais sobre a morte de Justino e seus companheiros, diz González[6]:

“... no ano 163, Justino e seis de seus discípulos foram levados diante do prefeito Júnio Rústico, que havia sido um dos mestres de filosofia do imperador. Neste caso, como em tantos outros, o juiz tratou de convencer aos cristãos acerca da tolice de sua fé. Mas Justino respondeu que, depois de haver estudado toda classe de doutrinas, havia chegado à conclusão de que a cristã era a verdadeira, e que, portanto, não estava disposto a abandoná-la. Quando, como era costume, o juiz os ameaçou de morte, eles responderam que seu mais ardente desejo era sofrer por amor de Jesus Cristo, e que, matando-os, o juiz lhes faria um grande favor. Diante de tal resposta, o prefeito ordenou que fossem levados ao lugar do suplício, onde primeiro os açoitaram e logo foram decapitados.

Observe que enquanto Miller fala que o martírio de Justino e seus companheiros ocorreu em 165, González menciona o ano de 163. É possível que Justino e seis de seus discípulos tenham se apresentado ao prefeito em 163 mas as mortes dos mesmos tenham ocorrido dois anos depois, em 165.     

Veja também o vídeo de Edgar de Oliveira, in:


Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] Imagem meramente ilustrativa, disponível em: <https://bibliotecadopregador.com.br/justino-martir-convertido-do-paganismo/ >. Acesso em: 12/01/2022. 
  • [2] GONZÁLEZ, Justo L. A Era dos mártires, pág. 79. Disponível em: <https://alcidesamorim.blogspot.com/2020/05/a-era-dos-martires-vii-defesa-da-fe.html>. Acesso em: 12/01/2022.
  • [3] GONZÁLEZ, Justo L. Idem, Nota 2, pág. 90. Disponível em: <https://alcidesamorim.blogspot.com/2020/05/a-era-dos-martires-vii-defesa-da-fe.html>. Acesso em: 12/01/2022. 
  • [4] GONZÁLEZ, Justo L. Idem, Nota 2, pág. 79 a 94. Acesso em: 12/01/2022.
  • [5] Texto a seguir, copiado e adaptado de: MILLER, Andrew. A História da Igreja. Pág. 177. Também disponível em: <http://a-historia-da-igreja.blogspot.com/2016/02/o-martirio-de-justino-chamado-o-martir.html>. Acesso em: 12/01/2022.
  • [6] GONZÁLEZ. Nota 2. Pág. 75. Acesso em: 12/01/2022.