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31 de julho de 2023

Breve análise teológica sobre o Anticristo

Por Alcides Barbosa de Amorim


Os futuristas [posição atual da maioria dos evangélicos conservadores]creem que o anticristo introduzirá um período de grande tribulação no fim da história mundial, em conexão com um império poderoso tal qual uma Roma rediviva, e que dominará a política, a religião e o comércio até à vinda de Cristo(HUBBARD). Op. Cit.) [1]

A pregação do Anticristo [2]


Embora o termo "anticristo" ocorra somente nas cartas joaninas, o conceito de um arqui-oponente de Deus e de Seu Messias acha-se nos dois testamentos e nos escritos intertestamentários. A oposição é refletida em anti, que aqui provavelmente significa "contra", e não "em lugar de" embora as duas ideias possam estar presentes: apresentando-se como o Cristo, o anticristo se opõe a Ele.

1. Pano de Fundo Veterotestamentário

Pelo fato de que Cristo ainda não tinha sido plenamente revelado, o AT não oferece nenhum retrato completo do anticristo, mas fornece material para o quadro, nas descrições da oposição a Deus, pessoal ou nacional.

Belial. Certos indivíduos, infames pela sua maldade, são chamados "filhos de [ou homens de] Belial (beliya'al, provavelmente "sem valor", "inútil"), Idolatria (Dt 13.13), sodomia e estupro (Jz 19.22; 20.13), embriaguez (1 Sm 1.16), desconsideração a Deus (1 Sm 2.12), sacrilégio (1 Sm 2.17, 22), desrespeito à autoridade (1 Sm 10.27; 2 Cr 13.7), falta de hospitalidade (1 Sm 25.17, 25), perjúrio (1 Rs 2.10, 13) e maledicência (Pv 6.12: 1627) estão incluídos entre os pecados destes "homens vadios" (2 Cr 13.7), que são evitados pelos bons (SI 101.3).

Inimigos Estrangeiros. A oposição ao reino de Deus é oposição a Ele. A vã conspiração das nações contra o rei ungido por Deus, no Sl 2, pode ser uma prefiguração da ideia do anticristo. De modo semelhante, os cânticos de zombaria contra os soberanos da Babilônia (Is 14) e de Tiro (Ez 28) descrevem de modo vivo a queda calamitosa de monarcas que exercem as prerrogativas divinas. A derrota de Gogue (Ez 39.1-20; Ap 20.7-10) parece ser o clímax da luta infrutífera das nações, no sentido de frustrarem os propósitos de Deus ao atingirem o Seu povo.

O Chifre Pequeno. Esta rebelião é simbolizada pelo chifre pequeno, no livro de Daniel. O capitulo 7, o mais escatológico, parece retratar a derrota do último inimigo de Deus, ao passo que o capitulo 8 descreve Antíoco Epifânio (175-163 a. C.), o soberano estrangeiro mais odiado pelos judeus por causa da sua iniquidade pessoal e da sua perseguição implacável à religião deles.

O retrato deste "rei do norte" (Dn 11), a personificação do mal, tem ajudado de modo significante a formar a figura neotestamentária do anticristo:

  • (1) ele aboliu o holocausto contínuo e estabeleceu no templo a abominação desoladora (Dn 11.31; Mt 24.15; Mc 13.14; Ap 13.14-15);

  • (2) exaltou-se à posição de divindade (Dn 11.36-39; 2 Ts 2.3-4);

  • (3) sua morte irremediavelmente certa prevê a morte do "homem da iniquidade" às mãos de Cristo (Dn 11.45; 2 Ts 2.8; Ap 19.20).

Sejam quais forem os antecedentes dos animais em Daniel (W. Bousset: Antichrist Legend – "Lenda do Anticristo", sustenta que a batalha entre o anticristo e Deus tem sua origem na lenda babilônica da luta entre Marduque e Tiamate), claramente são nações que se opõem a Deus e ao Seu povo. A besta que sobe do mar em Ap 13.1 relembra Dn 7.3,7 e reforça o elo entre a profecia de Daniel e a descrição do anticristo no NT.

2. Desenvolvimento Intertestamentário

Duas ênfases aparecem nos apócrifos e nos pseudepígrafos:

  • (1) Roma toma o lugar da Síria como inimiga nacional, e Pompeu substitui Antíoco IV como epítome da oposição a Deus;
  • (2) Belial (Beliar) é personificado como espírito satânico.

O "iníquo" (2 Ts 2.8) tem sido ligado a Beliar, que a tradição rabínica interpretava como "sem jugo" (beliol), ou seja, aquele que recusa o jugo da lei. Esta associação parece ser reforçada pela tradução feita na LXX de belial por paranomos, "violador da lei" (Dt 13.13 etc.). Apesar disso, embora a descrição de Paulo possa refletir parcialmente a tradição de Beliar, ele faz uma distinção entre Beliar e o iníquo: Beliar é um sinônimo de Satanás (2 Co 6.15), ao passo que há diferenciação entre Satanás e o iníquo (2 Ts 2.9).

3. Desenvolvimento Neotestamentário

Os Evangelhos. As referências ao oponente de Cristo não são numerosas nem especificas. Os discípulos são advertidos de que falsos Cristos procurarão enganar até mesmo os próprios eleitos (Mt 24.24; Mc 13.22). De modo semelhante, Cristo fala daquele que vem no seu próprio nome, a quem os judeus recebem (Jo 5.43). Esta pode ser uma referência sutil ao anticristo ou a quaisquer falsos Messias que se apresentassem ao judaísmo. Até mesmo a menção do abominável da desolação (Mt 24.15; Mc 13.14), que relembra vividamente a profecia de Daniel, é feita com notável reserva. Talvez uma única personalidade esteja em vista, mas seu retrato nem sequer é esboçado.

2 Tessalonicenses. Paulo oferece um quadro mais claro do arqui-inimigo de Cristo, cuja característica mais destacada é o desprezo à lei. Dois homens – "o homem da iniquidade" (preferível a "homem do pecado") e "o iníquo" (2 Ts 2.3, 8-9) – ressaltam esta atitude de anarquia, que relembra Dn 7.25, onde o chifre pequeno procura mudar os tempos e a lei, Além disso, o anticristo faz uma reivindicação exclusiva à divindade (2 Ts 24) em termos que relembram Dn 7.25; 11.36. Paulo não retrata um pseudo-Messias que finge ser o mensageiro de Deus, mas um falso Deus que se opõe de modo malévolo a qualquer outro tipo de religião. Seu modelo pode ter sido o imperador blasfemo, Gaio 037-41 d.C.).

Ele engana a muitos com os seus sinais (2 Ts 2.9-10). Cristo operava milagres pelo poder de Deus, e os judeus os atribuíam a Satanás (Mt 12.24ss.); o anticristo operará milagres pelo poder satânico, e muitos o adorarão como Deus. Um dos nomes do anticristo – "filho da perdição" (2 Ts 2.3; cf. Jo 17.12) – revela o seu destino: Cristo o matará com o sopro da Sua boca e com o brilho da Sua vinda (2 Ts 2,8; Ap 19.15, 20; cf. Is 11.4).

O anticristo é o clímax pessoal de um principio de rebeldia que já está operando secretamente "o mistério da iniquidade" (2 Ts 2.7). Quando for retirada a mão refreadora de Deus, que preserva a lei e a ordem, este espírito de iniquidade satânica será encarnado no "iníquo".

As Cartas Joaninas. Embora João reconhecesse que era esperado um único anticristo, ele dirige a sua atenção aos muitos anticristos que já apareceram negando que Jesus é o Cristo, contrariando, assim, a verdadeira natureza do Pai e do Filho (1 João 2.8, 22:43). Os docetistas contemporâneos não davam crédito à humanidade de Cristo (2 Jo 7), alegando que Ele parecia ter a forma humana. Para João, eles eram a concretização do espírito do anticristo. O modo de ver deles ensinava que o homem era divino à parte de Deus em Cristo, e assim deixaram Deus e o mundo sem união entre si.

Ao invés de contrariar, a explicação de João complementa a de Paulo. Seguindo o exemplo de Daniel, Paulo retrata um único arqui-inimigo, que reivindica o direito exclusivo de receber adoração pessoal. João ressalta os elementos espirituais nestas reivindicações e a mentira espiritual que torna o anticristo aparentemente forte.

O Apocalipse. A besta do Apocalipse (Ap 13), que, quanto ao espírito e aos pormenores, depende de Daniel, combina em si as características de todas as quatro bestas do AT. Além disso, a besta no NT tem uma autoridade que pertence somente ao chifre pequeno da besta de Daniel. Parece que João dá a subentender que a impiedade selvagem da Antíoco será incorporada num reino; a besta, embora tenha algumas características pessoais, é mais do que uma pessoa; suas sete cabeças são sete reis (Ap 17.10-12). A própria besta é um oitavo rei, que vem de um dentre os sete. Este quadro complicado sugere que a besta simboliza o poder mundano, o espirito contrário a Deus, de uma ambição nacionalista (personificada, na profecia de Daniel, em Antíoco, e, nos dias de João, em Roma) que se encarnará num só grande demagogo – o anticristo.

À explicação de Paulo, João acrescenta pelo menos um elemento importante – o falso profeta, uma segunda besta que opera sob a autoridade do anticristo, assim como este obtém a autoridade dele do dragão, Satanás (Ap 13.2, 11-12). Depois de dirigir os empreendimentos políticos e religiosos do anticristo, o falso profeta compartilha da condenação deste na ocasião da vinda de Cristo (Ap 19.20).

4. Interpretação Cristã

Os pais da igreja geralmente acreditavam na existência de um anticristo pessoal. Sua identidade dependia de se o "mistério da iniquidade" era interpretado de modo politico ou religioso. Politicamente, o candidato mais provável era Nero, que, segundo dizia a lenda, reaparecia na forma ressurreta (redivivus) para continuar seu reinado terrível. Esta interpretação, proposta por Crisóstomo e outros, obteve uma posição de destaque neste século, através dos intérpretes preteristas do Apocalipse tais como R. H. Charles e C. A, Scott. Irineu e outros, que afirmavam que o anticristo surgiria de um contexto religioso, fizeram-no remontar à tribo de Dã, com base em Gn 49.17:0 33.22; Jr 8.16 (cf. a omissão de Dã em Ap 7.5ss.).

Os reformadores comparavam o anticristo ao papado, assim como tinham feito alguns teólogos medievais – Gregório I (que ensinava que quem assumisse o titulo de “sacerdote universal" seria precursor do anticristo), Joaquim de Floris e Wycliffe. Lutero Calvino, os tradutores da AV (versão do Rei Tiago) e os autores da Confissão de Fé de Westminster concordavam nesta identificação. Os estudiosos católicos romanos retaliaram, taxando de anticristo os opositores de Roma.

No conceito ideal ou simbólico, o anticristo é uma personificação não temporal do mal, que não se pode identificar com uma só nação, instituição ou individuo. Esta ideia obtém apoio nas cartas de João, e tem valor no fato de enfatizar a natureza constante da guerra entre as múltiplas forças de Satanás e as de Cristo.

Os futuristas (e.g., Zahn, Seiss, Scofield) sustentam que os idealistas deixam de ressaltar suficientemente o clímax desta hostilidade num adversário pessoal. Creem que o anticristo introduzirá um período de grande tribulação no fim da história mundial, em conexão com um império poderoso tal qual uma Roma rediviva, e que dominará a política, a religião e o comércio até à vinda de Cristo.


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Veja também:


Notas:

  • [1David A. Hubbard (1928-1996) "Foi Presidente Emérito e Professor Emérito de Antigo Testamento no Seminário Teológico Fuller. Autor de Joel e Amós - Introdução e Comentário, igualmente publicado pela Vida Nova<https://www.vidanova.com.br/livros/autores/david-a-hubbard>. O texto a seguir é uma contribuição à Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã (O. C.).


Referência bibliográfica:

  • HUBBARD, David A. Anticristo. In: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. I. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág. 81 a 84.



30 de abril de 2021

Anticristo

O Anticristo[1]

No post (artigo) Escatologia, doutrina das últimas coisas, já destacamos alguns assuntos relativos a este ramo da teologia, como o tempo do fim para Israel, a morte, o estado Intermediário dos mortos e a grande tribulação. Neste, queremos destacar sobre o Anticristo.

1.  Quem é o Anticristo?

Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” (2Ts 2.3-4)[2].

O apóstolo João é o único autor bíblico que usa a palavra "anticristo", mas resolvemos usar o texto de Paulo acima como abertura deste artigo por se tratar do mesmo personagem, classificando-o como o “... homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora”. O Anticristo é o arquioponente de Deus e seu Messias, oposição refletida no prefixo “anti”, que significa contra, mas que também pode significar “em lugar de” Deus ou de Cristo ou ambos os significados.

Mesmo no Antigo Testamento, embora Cristo ainda não tivesse sido encarnado (sua primeira vinda à terra), encontramos um pano de fundo para este “homem do pecado”, que faz oposição a Deus. Queremos destacar apenas o “Chifre pequeno”, de Daniel 7. Depois da visão do profeta acerca de quatro animais: o leão (v. 4), que simbolizava a Babilônia, o urso (v. 6), que simbolizava o império medo-persa, o leopardo, a Grécia, e o animal terrível e espantoso que tinha dez chifre (v. 7), relacionado ao Império Romano, aparece dentre os dez chifres deste quarto animal, um “... chifre pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas” (v. 8). Segundo Scofield, a visão deste chifre pequeno trata-se do

fim do domínio mundial gentio. O ex-império Romano (o reino de ferro de 2:33-35, 40-44; 7:7) terá dez chifres (isto é, reis, Ap. 17:12), correspondentes aos dez artelhos da imagem. Considerando esta visão dos dez reis, Daniel vê que entre eles levanta-se um ‘outro pequeno’ chifre (rei) que subjuga três dos dez reis de maneira tão completa que a identidade separada dos seus reinos é destruída. Sete reis dos dez são deixados, e o ‘outro pequeno’ chifre que é ‘um príncipe, que há de vir’, de 9:26, a ‘abominação’ de 12:11 e Mt. 24:15, e a ‘besta do mar’ de Ap. 13:1-10. Ele será o chefe do quarto império mundial restaurado... Alguns expositores também o igualam ao rei que ‘fará segundo a sua vontade’ de 11:36-45, e ao homem da iniquidade’ de IITs.2:3-8”[3].

Veja que Scofield, ao comentar sobre o “pequeno chifre”, de Daniel 7.8, relaciona-o com várias outras referências do próprio livro de Daniel e do Novo Testamento. Pois estes e outros textos indicam como será o caráter deste “homem do pecado”. Na referência de Ap 13.20, por exemplo, o Anticristo é chamado de a “besta”; em Dn 9.27, de “assolador”; em Mt 24.15, de “abominável da desolação”; em 2Ts 3.8, de “iníquo”, além de “filho da perdição”, como já vimos acima. O certo é que o Anticristo, conforme destaca ainda Scofield, é “... o último e pior tirano da terra, o cruel instrumento da ira e do ódio de Satanás contra Deus e os santos judeus. A ele Satanás dará o poder que ele ofereceu a Cristo (Mt. 4:8-9; Ap. 13:4)”[4].

Observe também que Scofield fala deste personagem como alguém que virá nos últimos dias e será o “último e pior tirano”, embora outros personagens que serviram de “tipos” (pessoas ou coisas do passado que prenunciam pessoas ou coisas do futuro) do Anticristo já viveram antes e depois de Cristo. O próprio João disse que muitos “anticristos” haviam se levantado (1Jo 2.18,22; 4.3; 2Jo 7). Mas veja que Jesus fala da abominação da desolação “... de que falou o profeta Daniel” (Mt 24.15), que estará no lugar santo, apontando para o final dos tempos. Neste caso, os “anticristos” são aqueles que têm o mesmo espírito do real Anticristo. E quando este vier, “... firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador” (Dn 9.27).  Ou seja, embora muitos com o espírito do Anticristo já existiram e/ou existirão, “... é aceita a crença numa personificação do mal através de um anticristo escatológico, aquele que estará no mundo no dia da segunda vinda de Cristo (2Ts 2.8). Hitler, alguns líderes religiosos e outros malfeitores da história foram apontados como sendo o anticristo. Porém, Jesus não voltou em suas épocas e o título ficou para outra pessoa[5].

Resumindo, podemos ver que o Anticristo é chamado na Bíblia por vários nomes, entre eles[6]:

- O chifre pequeno (Dn 7.8);

- A Besta (Ap 13.1; 14:9; 15:2; 16:2; 17: 3,11;19:20; 20:10);

- O homem do pecado e filho da perdição (II Ts 2.3);

- O príncipe que há de vir e o assolador (Dn. 9.26,27);

- Rei de Feroz Catadura (Dn 8.23);

- Rei voluntarioso (Dn 11.36);

- O iníquo (2 Ts 2.8);

- O abominável da desolação (Mt. 24:15).

2.  O governo do Anticristo

E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio... E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação” (Ap 13.2-7).

Entendo, como os autores citados nas fontes que utilizamos aqui, a interpretação sobre o Anticristo, o “homem do pecado”, sob uma perspectiva futurista e que o mesmo governará durante a grande tribulação, que acreditamos ser a septuagésima (70ª) semana de Daniel. E quando ele vier, “... firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador” (Dn 9.27). Acreditamos também que este período se trata da “grande ira” (Ap 12.12; 1Ts 5.9), a “hora da tentação” (Ap 3.10), a “ira futura” (1Ts 1.10) etc. E ainda interpretamos a expressão “homem do pecado”, dita por Paulo, de forma literal. Ou seja, o Anticristo trata-se de um homem, uma personalidade. Mas não um homem qualquer, ele será um grande líder político, que terá como sede do seu governo a cidade simbólica de Babilônia. Esta era, nos dias de João, uma referência à Roma, a cidade que fica entre as sete colinas. “Aqui o sentido, que tem sabedoria. As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada... E a mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os reis da terra” (Ap 17.9,8). No sentido escatológico, a Grande Babilônia pode ter dois significados: “... a Babilônia política (Ap. 17.8-17) e a babilônia eclesiástica (Ap. 17.1-7,18, 18:1-24). A Babilônia política é o império confederado da besta, a última forma do domínio mundial gentio. A Babilônia eclesiástica é todo o Cristianismo apóstata, no qual o Papado sem dúvida será proeminente; é muito provável que esta união inclua todas as religiões do mundo... A Babilônia eclesiástica é a ‘grande meretriz’ (Ap. 17:1) e será destruída pela Babilônia política (Ap. 17:15-18), para que só a besta seja objeto de culto (IITs. 2:3-4; Ap. 13:15). O poder da Babilônia política será destruído pela volta do Senhor em glória[7].

Bem, Lutero e demais reformadores afirmavam categoricamente que a Babilônia do Apocalipse refere-se à Igreja Católica. Na Confissão de Westminster, por exemplo, destaca Lucas Banzoli, está explicitada que “... não há outro Cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo; em sentido algum pode ser o papa de Roma o cabeça dela, mas ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus[8]. Continua ainda Banzoli: “Isso se junta ao fato de que a “mulher”, que representa uma igreja, estava coberta de nomes da blasfêmia (Ap.17:3), representando uma igreja apóstata, e não uma igreja fiel. Essa apostasia é a prostituição espiritual que não podemos encontrar em nenhuma igreja do mundo a não ser em uma que já foi cristã, mas que se desviou ao longo dos séculos. Sim, Lutero sabia do que estava falando[9]. Portanto, o que Scofield e os reformadores afirmam ser a Babilônia eclesiástica, todo o Cristianismo apóstata, tem relação sem dúvida com a Igreja Católica e o papado.

O Anticristo ou a besta será um grande líder, um personagem de muita habilidade e cujas “... sabedoria e capacidade terão elementos sobrenaturais, pois além do poderio bélico, da alta tecnologia e do poder econômico, o governo do anticristo contará com uma inédita atuação diabólica[10]. Veja como ele exercerá seu poder de forma sobrenatural:

- Ele convencerá as massas com seus discursos inflamados (Ap 13.5);

- A Bíblia diz que toda a terra se maravilhará após a besta (Ap 13.3);

- Ele buscará a paz e travará guerras (Dn 9.27; Ap. 6:2);

- Ele certamente aparecerá com a solução para as diversas crises sociais e econômicas que até hoje não foram resolvidas e estabelecerá uma falsa paz (I Ts 5.3; Ap 6.2);

- Durante a Grande Tribulação, o anticristo declarará ser Deus e exigirá adoração, e perseguirá severamente os que permanecerem leais a Cristo (II Ts 2.4; Ap 11.6,7; 13.7);

- Mediante o poder satânico, o anticristo fará grandes sinais e maravilhas a fim de propagar o engano com mais eficiência (II Ts 2.9; Ap 13.3)[11].

Como já vimos, o governo do Anticristo durará sete (7) anos e terminará com sua destruição, por Jesus, no momento de sua segunda vinda. O Senhor o “... desfará pelo assopro da sua boca, e [o] aniquilará pelo esplendor da sua vinda” (2 Ts 2.8).

Mas o Anticristo contará com o apoio outros personagens, chamados no Apocalipse de o Dragão e o Falso Profeta. O Dragão é identificado como a Antiga Serpente (Ap 12.9), ou o próprio Diabo e Satanás. Isto significa que haverá uma luta espiritual muito forte naqueles dias. A exemplo da Gn 3.1-7, esta “antiga serpente” seduzirá a raça humana a cometer a segunda grande apostasia da história: adorá-lo como deus na pessoa do Anticristo. O outro embusteiro personagem, o Falso Profeta, “... será convincente e irresistível. Seus milagres e prodígios serão de tal forma grandiosos que até fogo fará descer do céu (2 Ts 2.9; Ap 13.13). O apóstolo Paulo chama seus milagres de mentirosos. Ele realizará dois grandes sinais. O primeiro será uma falsa ressurreição: fará com que o Anticristo, dado como morto num possível atentado, volte à vida (Ap 13.3). Diante do acontecido, a humanidade exclamará: ‘Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?’ (Ap 13.4)”.  Se o primeiro sinal causou admiração e espanto, o que não diremos do segundo? Ele ordenará aos que habitam na terra que ergam uma imagem à besta que sobrevivera à ferida mortal. Em seguida, dará vida à estátua, que se porá a falar (Ap 13.14,15). Com esses prodígios, convencerá todos a aceitarem a plataforma de governo do Anticristo[12].

Quem é o Anticristo? Ele já está no mundo? Não temos respostas para estas perguntas. O que sabemos por ora, é que há muitos sinais que indicam seu aparecimento em breve. Apenas há uma força “restringente” que impede seu aparecimento. “E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado” (2Ts 2.6). Este “que o detém”, segundo nosso entendimento, é o Espírito Santo. Com o arrebatamento da Igreja (assunto para outro momento), o seu Advogado ou Guia (Jo 16.13), “... que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece” (Jo 14.17), deixará de ser a força restringente e então homem do pecado será revelado. “... O Espírito Santo continuará uma atividade divina até o tempo fim, embora não como um restritor do mal através da Igreja”[13].

Portanto, O Anticristo é o representante máximo de Satanás e sua mais perfeita representação (1Jo 2.18), um homem maligno que estará à inteira disposição do Diabo, com o intuito de governar o planeta em seu nome. Mas sua malignidade será maior nos últimos três anos e meio da 70ª semana de Daniel (Dn 9.27), ou quarenta e dois meses (Ap 13.5), ou ainda mil duzentos e sessenta dias (Ap 11.3). Depois isto, será destruído pelo “assopro” da boca do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores.

Sugiro a leitura do livro em PDF, Anticristo, por David W. Dyer:

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Anticristo, por David W. Dyer - Livro em PDF

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Veja também o vídeo abaixo:


Notas / Referências:

  • [1] Imagem disponível em: <www.chamada.com.br/mensagens/o_anticristo.html>. Acesso em: 30/04/2021.
  • [2] Todas as referências bíblicas utilizadas neste artigo são da versão ACF – Almeida Corrigida Fiel. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>. Acesso em: 25/04/2021.
  • [3]  SCOFIELD, C. I. Nota de Daniel 7.8. In: Bíblia Sagrada (ARA). São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil: 1987. 
  • [4] Idem, Nota sobre Apocalipse 19.20.
  • [5] COELHO FILHO, Isaltino. O Apocalipse de João. Disponível em: <https://www.isaltino.com.br/2007/09/o-apocalipse-de-joao/>. Acesso em: 26/04/2021.
  • [6] Conforme resumo destacado por: SANTOS, Luciano. O Governo do Anticristo. Disponível em: <https://www.estudosgospel.com.br/estudo-biblico-apocalipse-escatologia/o-governo-do-anticristo.html>. Acesso em: 29/04/2021.
  • [7] SCOFIELD (Op Cit., Nota 3). Nota sobre Apocalipse 18.2.
  • [8] In: BANZOLI, Lucas. Quem é a Babilônia do Apocalipse? Disponível em: <http://heresiascatolicas.blogspot.com/2015/01/quem-e-babilonia-do-apocalipse.html>. Acesso em: 29/04/2021.
  • [9] Idem.
  • [10] SANTOS, Op. Cit. (Nota 6).
  • [11] Idem.
  • [12] Lição 10: O governo do Anticristo, 03/06/2012. Disponível em: <https://escola-ebd.com.br/licao-10-o-governo-do-anticristo/>. Acesso em: 29/04/2021.
  • [13] SCOFIELD (Op. Cit., Nota 2). Nota sobre 2 Ts 2.3ss.


3 de setembro de 2025

A Escatologia de Hipólito e o Fundamentalismo Protestante

 Por: Alcides Amorim

Hipólito de Roma[1]

Sobre o comentário acerca das setenta semanas de Daniel, feito pelo Dr. C. I. Scofield [2], ele cita dois Pais da Igreja, Irineu e Hipólito, cuja escatologia se assemelhava à dos fundamentalistas. Sobre o primeiro já falamos aqui e aqui e, sobre Hipólito, veja o conteúdo abaixo.

1.    Quem era Hipólito [3]

Hipólito de Roma (c. de 170-c. de 236) foi um presbítero de língua grega na igreja em Roma que liderou um cisma contra o Bispo Calixto. Ele e um bispo posterior de Roma, Ponciano, foram exilados para a Sardenha durante a perseguição feita pelo imperador Maximino (235) Ponciano e Hipólito aparentemente foram reconciliados antes de morrerem na Sardenha, e vieram a ser considerados mártires.

Hipólito escreveu vários documentos importantes. A Refutação de todas as Heresias (as vezes chamada Philosophoumena) trata principalmente das seitas gnósticas, fazendo seus erros remontarem à filosofia. A Tradição Apostólica é a fonte mais completa no tocante aos costumes organizacionais e litúrgicos da Igreja ante-niceana [4] – e abrange o batismo, a eucaristia, a ordenação e a festa do amor ágape). O Comentário de Daniel é o mais antigo da Igreja Ortodoxa; expõe uma escatologia quillasta [5]. Contra Noeto opõe-se a uma antiga forma de modalismo. Uma estátua de Hipólito, presumivelmente preparada durante sua vida, traz uma inscrição que alista seus escritos e registra uma tabela de cálculo da data da Páscoa.

As opiniões de Hipólito foram aguçadas por sua controvérsia com Calixto. Além de suas diferenças pessoais (Calixto era um ex-escravo com pouca educação formal, Hipólto, uma pessoa livre com muita cultura) e da rivalidade pelo episcopado, os dois homens discordavam doutrinariamente no tocante a duas considerações importantes. Hipólito defendia a cristologia do Logos e fazia tanta distinção entre o Pai e Cristo, que Calixto o chamava de "diteísta"; Calixto e seu antecessor, Zeferino, enfatizavam a união divina, de tal maneira que Hipólito não via diferença entre as opiniões deles e o modalismo de Sabélio. Hipólito adotava um conceito rigorista da disciplina eclesiástica, e negava a reconciliação com a igreja àqueles que eram culpados dos pecados mais graves, deixando nas mãos de Deus o perdão; Calixto adotava um conceito mais lasso, e estava disposto a conceder o perdão da igreja, especialmente nos casos de pecados sexuais.

2.    Sua escatologia

§  A última semana de Daniel (9.27) / o Anticristo.

A exemplo de Irineu de Lyon, Hipólito de Roma também interpretou as setenta semanas de Daniel (Dn 9.24-27) como um período literal de 490 anos, conectando a última semana (70ª) diretamente com a vinda do Anticristo e os acontecimentos finais da história a exemplo também dos dispensacionalistas. A primeira metade da última semana era um período de aparente paz e aliança feita pelo Anticristo, enquanto a segunda metade, um período de extrema perseguição, abolição do sacrifício, “abominação da desolação” e domínio do Anticristo sobre o mundo. Esta fase é explicada e conectada também pelos períodos de tempos mencionados em Daniel e Apocalipse: 1260 dias (Ap 11.3; 12.6), 42 meses (Ap 11.2; 13.5) e tempo, tempos e metade de um tempo (Dn 12.7; Ap 12.14). Após este período de tribulação, Cristo intervirá e instaurará seu Reino definitivo.

§  Arrebatamento da Igreja / Milênio:

Sobre o arrebatamento, Hipólito não o via como um evento secreto como fazem os dispensacionalistas. Para ele, a igreja passará pela perseguição do Anticristo, especialmente durante os últimos 3 anos e meio da semana de Daniel. Espera-se que os fiéis sejam perseverantes e aguardem a manifestação gloriosa de Cristo no final da última semana. Na verdade, a ordem dos eventos do final dos tempos para Hipólito será:  Aparecimento do Anticristo (Dn 7.25; 9.27; 11.36; Ap 13); Perseguição dos santos: a Igreja sofreria durante o reinado de 3 anos e meio; Segunda vinda de Cristo: Cristo destruiria o Anticristo e instauraria o reino. Ressurreição/arrebatamento: ocorre na manifestação de Cristo, quando os justos são reunidos a Ele (1Ts 4.16-17). Mas, como Irineu e os dispensacionalistas modernos, Hipólito também cria em um reinado terreno (literal) de Cristo por mil anos.

Numa tabela criada pelo ChatGPT [6], relacionando Hipólito e dispensacionalistas, em relação ao tempo do fim temos:  

Evento

Hipólito de Roma

Dispensacionalismo

a)  Última semana de Daniel (Dn 9.27)

§ É futura e se refere ao governo do Anticristo. Dividida em duas metades de 3 anos e meio: paz aparente (1a);

§ Perseguição da Igreja (2a).

§ Idem.

b)   Anticristo

§ Figura real, governará 3 anos e meio, abolirá o sacrifício, instaurará a abominação da desolação e perseguirá os santos.

§ Também é figura real, dominará durante a Tribulação e fará pacto com Israel.

c)   Destino da Igreja durante a tribulação

§ A Igreja permanece na terra e sofre perseguição do Anticristo. Não há livramento antecipado.

§ Igreja é arrebatada antes da Tribulação (pré-tribulacionismo).

§ Alguns grupos aceitam arrebatamento no meio ou no fim da tribulação.

d)  Arrebatamento / Ressurreição (1Ts 4.16-17)

§ Acontece junto com a segunda vinda de Cristo, após a tribulação. É público e glorioso.

§ O arrebatamento é secreto e anterior à tribulação (pré-tribulacionismo clássico). Depois, ocorre uma segunda vinda visível de Cristo.

e) Milênio (Ap 20.4-6)

§ Literal: Cristo reinará 1.000 anos na terra após derrotar o Anticristo.

§ Também literal: Cristo reinará por 1.000 anos após a Tribulação.

f)   Israel e Igreja

§ Não faz distinção rígida: judeus e gentios em Cristo é perseguido pelo Anticristo e depois participa do Reino.

§ Forte distinção: Israel e Igreja têm destinos diferentes. A Tribulação é voltada a Israel; a Igreja já terá sido arrebatada.

g)  Sequência final

§ Anticristo Tribulação Segunda Vinda de Cristo Arrebatamento/Ressurreição Milênio Juízo final Eternidade.

§ Arrebatamento (antes da tribulação) 7 anos de Tribulação (Israel no centro) Segunda Vinda visível Milênio Juízo final Eternidade.

Para concluir, percebemos as ideias de Hipólito convergiam com as de dispensacionalistas, principalmente na crença da vinda de Anticristo real, uma última semana de Daniel futura e um milênio literal. A diferença crucial está no fato de que Hipólito coloca o arrebatamento apenas no fim da tribulação, enquanto o dispensacionalismo (clássico) defende que a Igreja não estará na tribulação, pois será retirada antes. Podemos afirmar, portanto, que Hipólito é um pós-tribulacionista milenarista, enquanto para o dispensacionalismo a ideia mais difundida é o pré-tribulacionista milenarista.

Resumo no vídeo a seguir:


Notas:

  •  [2] Cyrus Ingerson Scofield (1843–1921): “... foi um influente ministro americano. Sua Bíblia de Referência Scofield , repleta de anotações úteis sobre o texto, foi publicada em 1909 e se tornou o padrão para uma geração de cristãos fundamentalistas e popularizou a teologia dispensacionalista...”. Veja mais aqui, aqui e também aqui.  

  •  [3] FERGUSON, Everett. Hipólito. In: ELWELL, Walter. A. (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1988 (1ª Ed.), pág. 251-252.

  •  [4] Isto é, A Tradição Apostólica de Hipólito foi uma das fontes teológicas que serviram de base para o Concílio de Niceia, o primeiro dos concílios ecuménicos, ocorrido no ano 325.

  •  [5] Quiliasta: aquele que defende a crença num "Reino Milenar" literal onde Cristo reinará na Terra após a sua segunda vinda, com base em interpretações de passagens bíblicas como Apocalipse 20.1-6 e outras.

  •  [6] Para montagem deste quadro, o ChatGpt usou como base Exposição sobre Daniel de Hipólito.