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06 maio 2023

1984 – George Orwell – Parte 1 – Capítulo2: crime de pensamento

Por Alcides Barbosa de Amorim

  

“Ele [Winston] já estava morto, refletiu. Parecia-lhe que só agora, quando tinha começado a formular seus pensamentos, é que ele tinha dado um passo decisivo. As consequências de cada ato estão incluídas no próprio ato. Ele escreveu: Crime de pensamento não implica em morte: crime de pensamento É morte” (ORWELL: 1984. O. C., pág. 61).


Continuando a reflexão sobre o livro 1984 de George Orwell, agora queremos fazer um resumo da parte 1, capítulo 2, e destacar também o vídeo da Gazeta do Povo abaixo.

O capitulo 1 termina com o personagem principal do livro, Winston, assustado porque havia deixado sobre a mesa o diário no qual estava escrito por toda parte a frase FORA GRANDE IRMÃO, enquanto alguém bate à porta de seu apartamento. Mas não era ninguém ligado ao Grande Irmão, ao Partido; era sim, a Sra. Parsons chamando-o de “camarada” e pedindo para ele arrumar a pia de sua cozinha que havia entupido. Ela era esposa de Tom – colega de Winston no Ministério da Verdade –, ambos vizinhos que moravam no mesmo andar do prédio. Ela tinha cerca de trinta anos, embora parecesse muito mais velha.

O marido da Sra. Parsons não estava em casa. E Winston observa que havia entre a bagunça do apartamento um cartaz em tamanho real do Grande Irmão e o habitual cheiro de repolho cozido, típico do prédio inteiro, mas ali ele era atravessado por um cheiro mais agudo de suor. Mas chamar alguém de senhora não era um termo muito utilizado, embora ele a trata assim no decorrer de todo o capítulo. O termo “camarada”, utilizado por ela era sim o costume do partido...

Embora doente e com dificuldade, Winston conserta a pia da Sra. Parsons.

Enquanto isto, aparecem as crianças da Sra. Parsons, um garoto de nove anos e sua irmã de cerca de dois anos mais nova, por trás da mesa e o ameaçava, ele com uma pistola automática de brinquedo, e ela com um fragmento de madeira, ambos fazendo o mesmo gesto e gritando: “mãos ao alto!” Estavam vestidos com o uniforme dos espiões. “‘Você é um traidor!’, gritou o garoto. ‘Você é um criminoso do pensamento! Você é um espião eurasiático! Vou atirar em você, vou vaporizar você, vou mandar você para as minas de sal’’! De repente, ambos estavam pulando em volta dele, gritando ‘Traidor!’ e ‘Criminoso do Pensamento!’”. Winston fica um tanto inquieto e assustado pois “… havia uma espécie de ferocidade calculista no olho do menino, um desejo bastante evidente de bater ou chutar Winston e uma consciência de quase ser grande o suficiente para fazê-lo. Era uma coisa boa que ele não estivesse segurando uma pistola de verdade, pensou Winston” (ORWELL: 1984, pág. 51).

Segundo a mãe das crianças, elas estavam barulhentas por não terem ido ver a execução, isto é, o espetáculo popular no Parque: enforcamento de alguns prisioneiros eurasiáticos, culpados de crimes de guerra, que acontecia cerca de uma vez por mês.

Depois de terminada a tarefa, Winston se despede da Sra. Parsons, mas leva um golpe de estilingue do garoto, mesmo antes de sair, além de ser chamado de “Goldstein”, isto é, sendo comparado ao traidor do partido. E quase todas as crianças de hoje em dia são horríveis, pensa Winston. Eram como espiões 

… sistematicamente transformados em pequenos selvagens ingovernáveis, e nem mesmo isso produzia neles alguma tendência a se rebelar contra a disciplina do Partido. Pelo contrário, eles adoravam o Partido e tudo o que estava ligado a ele… Toda a ferocidade deles era voltada para fora, contra os inimigos do Estado, contra os estrangeiros, traidores, sabotadores, criminosos do pensamento. Era quase normal que as pessoas com mais de trinta anos tivessem medo de seus próprios filhos. E com razão, já que não passava uma semana sem que o jornal The Times publicasse um parágrafo descrevendo como um bisbilhoteiro – a frase que normalmente se usava era ‘herói mirim’ – tinha ouvido alguma observação comprometedora e denunciado seus pais à Polícia do Pensamento (Idem, pág. 54).

Depois disto, Winston lembra de O’Brien, o qual parecia pensar como ele, sem a alienação de que viviam principalmente as crianças de seus dias. Há algum tempo atrás, alguém, que provavelmente, fosse O’Brien, lhe tinham dito – em sonho – sobre falar com ele fora da escuridão, num lugar claro. Por acaso Winston lembra disto e pensa: bem que isto poderia se tornar realidade.

Em casa, Winston ouve pela teletela a notícia de um conflito ocorrido com a Índia e a vitória do Exército de seu governo. Enquanto pensa, o relógio da teletela informa que é hora de ir ao trabalho e Winston até se sente revigorado com este fato.

Bem, sobre o que Winston estava escrevendo em seu diário, sua mensagem para o futuro, o fato de ter um diário escrito, isto já o denunciaria e ele se sentia um homem morto. “Ele já estava morto, refletiu. As consequências de cada ato estão incluídas no próprio ato. Ele escreveu: Crime de pensamento não implica em morte: crime de pensamento É morte” (Idem, pág. 61).

Já que se sentia um homem morto não adiantava nada se esconder. A saída era permanecer vivo o máximo possível. Mas resolveu não esconder o diário. Deixou-o numa gaveta com uma marca - um pouco de poeira com um fio de cabelo - que denunciariam caso alguém o mexesse… 

Winston, um homem que já se considerava morto por causa de sua opinião?

Como dissemos no texto que encabeça este post, Winston pensou isto ao formular e registrar seus pensamentos. Era um caminho sem volta. E qual a consequência ou consequências disto? Quero refletir por um pouco na nossa realidade político-cultural brasileira. Hoje, principalmente no meio acadêmico e outras esferas que são responsáveis por influenciar a sociedade – imprensa, artistas, escolas etc. – as pessoas estão na sua grande maioria tomadas pela ideologia do pensamento único e não admitem ninguém pensar de modo diferente. Querem a todo custo tornar em “não-pessoas” os conservadores. O preço para quem deseja romper com esta realidade é muito alto. Veja, por exemplo, no vídeo abaixo, a entrevista do professor Gabriel Giannattasio, professor da UEL – Universidade de Londrina (PR), com a jornalista Cristina Graeml, onde ele comenta sobre seu “Livro proibido: totalitarismo, intolerância e pensamento único na Universidade” e descreve  “… como se deu a ocupação da esquerda no meio acadêmico universitário e como é a perseguição a professores e alunos que ousam levar pensamentos e autores conservadores para dentro das universidades brasileiras”.

Será que os conservadores se tornarão “não-pessoas”, se considerarão mortos ou terão alguma esperança?


Referências bibliográficas:

  • ORWELL, George. 1984 - George Orwell – Livro em PDF. Disponível por Gazeta do Povo. 1949. In: <1984 - George Orwell>. Pág. 044 a 062.

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