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15 maio 2023

1984 – George Orwell – Parte 1 – Capítulo 3: reescrita da História

Por Alcides Amorim

Saber e não saber, estar consciente da veracidade completa enquanto contava mentiras cuidadosamente construídas…, acreditar que… o Partido era o guardião da democracia..., esquecer o que fosse necessário para esquecer, depois, trazê-lo de volta à memória no momento em que era necessário, e depois, prontamente, esquecê-lo novamente: e acima de tudo, aplicar o mesmo processo ao próprio processo” (ORWELL: 1984. O. C., pág. 76).

Continuando a reflexão acerca do livro 1984 de George Orwell, agora refletindo sobre o capítulo 3 da parte 1, fizemos abaixo um breve resumo escrito e destacamos o vídeo de parte do programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan, de 12 de junho de 2020.

“Winston estava sonhando com sua mãe”. Assim começa o capítulo. Winston afirma que sua mãe desapareceu quando ele tinha por volta de dez ou onze anos e não tinha muitas lembranças de seu pai. Sabia, porém que ambos foram “… tragados por uma das primeiras grandes purgas (sic) dos anos cinquenta” (1984, O.C., pág. 64). Neste sonho, que parece ser lembrança de seu passado, sua mãe e sua irmãzinha – ainda pequena – morrem em um “espaço subterrâneo”, fundo de um poço, por exemplo, ou uma cova muito profunda, diz ele. E afirma ter “… apenas a consciência de que elas deviam morrer para que ele pudesse permanecer vivo, e que isto fazia parte da ordem inevitável das coisas”. Ou seja, “… ele sabia que de alguma forma a vida de sua mãe e de sua irmã havia sido sacrificadas pela sua própria” (Idem, pág. 65). Era um daqueles sonhos muito parecidos com a realidade. Mesmo porque ele se lembra de que a morte de sua mãe, ocorrida há quase trinta anos, foi trágica e ela morreu amando-o. Parece que seu pai morreu antes dela.

Depois do sonho, Winston acordou com a palavra “Shakespeare” em seus lábios, enquanto a teletela apresenta uma voz feminina, um moça fazendo atividades físicas e orientando a todos para fazerem o mesmo. Enquanto ele faz os exercícios e sob o efeito de um ataque de tosses, tenta se lembrar de como foi sua infância. Mas não havia registros da época que lhe parecesse ter sido reais, incluindo nomes dos países, suas geografias/mapas etc. Os relatos foram apagados? Parece ser isto o que aconteceu: novas narrativas e novas interpretações históricas. Ele também não se lembra de nenhuma época em que seu país não estivesse em guerra. Sobre os combates, “… ele ainda tinha lembranças vívidas de alguns. Mas traçar a história de todo o período, dizer quem estava lutando contra quem em um dado momento, teria sido totalmente impossível, já que nenhum registro escrito, e nenhuma palavra falada, jamais fazia menção a qualquer outro alinhamento que não fosse o atual (Idem, pág. 73).” Será que o Partido pôs a mão no passado e afirmou que determinados eventos nunca tenha acontecido? Questiona Winston assustado, considerando isto mais aterrador do que a mera tortura e morte. Houve um controle do passado, e a mentira virou verdade, conforme já afirmava o slogan do Partido: “Quem controla o passado… controla o futuro: quem controla o presente controla o passado”. E este controle da realidade era chamado de “duplopensar”:

Saber e não saber, estar consciente da veracidade completa enquanto contava mentiras cuidadosamente construídas, manter simultaneamente duas opiniões que se anulavam, saber que eram contraditórias e acreditar em ambas, usar lógica contra lógica, repudiar a moralidade enquanto a reclamava para si mesmo, acreditar que a democracia era impossível e que o Partido era o guardião da democracia, esquecer o que fosse necessário para esquecer, depois, trazê-lo de volta à memória no momento em que era necessário, e depois, prontamente, esquecê-lo novamente: e acima de tudo, aplicar o mesmo processo ao próprio processo (Idem, pág. 76).

Como provar alguma coisa que se sabe que ocorreu na história se os registros foram apagados? Ele sabia, por exemplo, da existência de aviões antes do Partido Grande Irmão (anos 60…), em sua infância, mas este afirma que os aviões foram inventados no seu Governo…

O capítulo 3 com Winston pensando sobre a reescrita da História pelo Partido, enquanto é interrompido pela instrutora de educação física…

Para nossa reflexão, quero destacar como a esquerda quer reescrever a História em diversas partes do mundo. No vídeo abaixo, de por exemplo, podemos observar casos específicos no Brasil e nos EUA, de tentativa de reescrever ou anular fatos históricos que eles não concordam. Como afirma a própria legenda/resenha do vídeo, a Esquerda tenta reescrever a história começando “… como uma onda de revisionismo e virou uma onda de obscurantismo. A esquerda tenta reescrever a história destruindo estátuas, monumentos e até barrando filmes como E O Vento Levou...”

Interessante que enquanto reflito nessa questão, deparo-me com uma matéria do Jornal O Globo, de 2017, tratando do mesmo assunto. No texto, o Jornal criticam partidos de esquerda, um bloco formado por PT, PSOL, PCdoB, PDT e outras organizações de esquerda de estarem “sem rumo”, sem “capacidade de formular propostas construtivas para o país”, além de outras situações, partem para a “… perene negativa à História. Na tentativa diária de reescrevê-la, renegam o direito à verdade, conceito que invocaram no campo jurídico para construir uma narrativa do passado sob a ditadura.” A matéria termina afirmando que os esquerdistas apoiaram o autoritarismo de Hugo Chávez e Maduro na Venezuela. E “… sem aprender com os erros, tentam mudar a História.”

Bem, no momento atual, 2023, o grupo Globo também pretende reescrever a História. O que mudou? Bem, um dos motivos para a sua mudança de opinião está sendo o protagonismo dos conservadores que está incomodando demais toda a esquerda brasileira, os órgãos de imprensa, artistas, professores de esquerda (grande maioria) e assim por diante…


Referências bibliográficas:

  • ORWELL, George. 1984 - George Orwell – Livro em PDF. Disponível por Gazeta do Povo. 1949. In: <1984 - George Orwell>. Pág. 063 a 080.

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