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28 abril 2020

Filipe de Betsaida, Apóstolo de Cristo


Filipe (Apóstolo)[1]
No dia seguinte quis Jesus ir à Galiléia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me.
E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José
” (Jo 1.43-45)[2].
Continuando a tarefa de estudos sobre diversas testemunhas de Cristo, que marcaram a história da Igreja, já fiz menção de dois deles, mais ou menos em ordem cronológica de suas mortes, que são o Diácono e Evangelista Estêvão, morto por volta de 34 a 37, e Tiago, filho de Zebedeu, entre 41 e 54 (provavelmente em 44), e agora, queremos destacar abaixo sobre a pessoa de Filipe.
Filipe, um dos apóstolos de Cristo, foi chamado por Jesus, para ocupar o colégio apostólico, um dia após André e Simão e foi usado como instrumento para a escolha também de Natanael.
Filipe morava em Betsaida (casa da pesca, em hebraico), a “... Betsaida da Galileia” (Jo 12.21), uma das seis divisões políticas da Palestina, na época. Ele aparece em 5º lugar nas listas dos apóstolos de Mt 10.2-4, Mc 3.16-19 e Lc 6.13-16. Outras referências sobre Filipe no Novo Testamento, encontramos quando ele questionou a Jesus sobre onde poderia se comprar tanto pão, na ocasião em que foram alimentados quase cinco mil homens (Jo 6.5,7), quando pede a Jesus para ver o Pai (Jo 14.8) e entre os demais apóstolos, após a ressurreição de Jesus (At 1.13).
Obviamente, Filipe continuou fazendo a obra de Cristo como apóstolo depois de Atos 1.13, mas não encontramos mais referências sobre ele no Novo Testamento. Inclusive, há confusão na tradição deste Filipe com o outro Filipe, evangelista, mencionado em Atos, escolhido dentre os sete diáconos (At 1.5). Alguns pensam que a Ásia foi o cenário de seus primeiros labores, e que no final de sua vida ele esteve em Hierápolis, na Frígia, onde sofreu um martírio cruel por enforcamento.
Bem, MILLER informa, sobre a morte de Filipe, apenas que ele sofreu um “martírio cruel”, enquanto outras fontes acrescentam “morte por enforcamento” e ainda outras[3], que Filipe morreu “crucificado e apedrejado” no ano 80.
Referências bibliográficas:
DOUGLAS, J. D. (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1979 (3ª ed.).
MILLER, Andrew. A História da Igreja, Vol. I. São Paulo: Depósito de Literatura Cristã, 2011.


Notas:


[1] Filipe (Apóstolo). Imagem meramente ilustrativa, extraída de: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Filipe_(ap%C3%B3stolo)>. Acesso em: 27/04/2020.
[2] Todas as referências bíblicas utilizadas neste texto são da versão ACF (Almeida e Corrigida Fiel). Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>. Acesso em: 27/04/2020.
[3] (Cf. Nota 1).

27 maio 2022

A monarquia francesa

Já destacamos no artigo a centralização nas monarquias europeias, que a partir da Baixa Idade Média, a partir do século XI, em algumas regiões da Europa, as monarquias feudais iriam servir de base para a formação de governos centralizados, como a França, a Inglaterra e a Espanha. Neste artigo, vamos ver como isto se deu na França.

Voltando na história francesa, uns séculos antes da Baixa Idade Média, vimos que em 843, o Império Carolíngio foi dividido em três reinos, que, por sua vez, já estavam subdivididos em feudos governados por duques, marqueses e condes. Os reis eram suseranos, que dependiam dos nobres locais para a obtenção de soldados e rendimentos. E em 987 (séc. X), com a subida ao trono de Hugo Capeto, um desses reinos, o da França, passou a ser governado pela dinastia dos capetíngios. sendo Filipe Augusto , um descendente desta dinastia, considerado o primeiro rei a iniciar o processo de consolidação da Monarquia francesa.

Durante o reinado de Felipe Augusto (1180–1223), as cidades começaram a ser libertadas do domínio dos senhores feudais, o que favoreceu a consolidação da burguesia. Apoiado por ela, Filipe impôs sua autoridade aos nobres. Durante seu governo, Paris passou a ser a capital do Reino da França.

Posteriormente, durante o governo de Luís IX (1226–1270). Ele criou uma moeda única, cuja aceitação se tornou obrigatória em todo o território do reino. Contribuiu, assim, para o comércio, facilitando a circulação das mercadorias.

A Batalha de Bouvines, 27 de julho de 1214, pintada por Horace Vernet em 1827. A vitória francesa sobre a Inglaterra e o Sacro Império Romano-Germânico marcou o início do declínio Imperial [1].

Durante o reinado de Filipe IV (1285–1314), mais conhecido como Filipe, o Belo, os mercadores e banqueiros estrangeiros chegaram a ser expulsos da França para evitar a saída de dinheiro, o que fortaleceu ainda mais a burguesia francesa e o próprio rei.

Seu governo entrou em conflito com a Igreja, porque queria cobrar impostos do clero. Com a morte do papa Bonifácio VIII, foi escolhido para substituí-lo o francês Clemente V. Em 1309, Filipe, o Belo, pressionou-o para que transferisse o papado de Roma para a cidade francesa de Avignon (sudeste da França). Assim, a Igreja ficou sob o controle do rei francês. A sede da Igreja só voltaria para Roma em 1377.

A Monarquia francesa consolidou-se nos séculos XIV e XV, durante a Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Aliás, esse conflito seria importante também para a Inglaterra consolidar seu poder central, como veremos logo adiante.

Veja também:


Veja ainda o vídeo a seguir:


Nota / Referências bibliográficas:

[1] Imagem disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_da_Fran%C3%A7a>. Acesso em: 26/05/2022.

21 maio 2020

Os dons espirituais

“Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de conhecimento, pelo mesmo Espírito; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de cura, pelo único Espírito; a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas” (1Co 12.8-10).

 

Este é mais um artigo (post) de nossa série de estudos sobre doutrinas bíblicas, e acerca do Espírito Santo, desta feita, destacando os dons espirituais. Do grego, a expressão “pneumatika” ou “dons espirituais” (1Co 12.1), refere-se a coisas pertencentes ao Espírito Santo em relação ao corpo de Cristo, a Igreja.

Mas há um aspecto tríplice no ensino de Paulo em 1Coríntios 12. Ele fala em "charismata" (daí, palavras derivadas como carisma, carismático etc.), ou seja, uma variedade de dons concedidos pelo mesmo Espírito (versos 4 e 7);  "diakonai" (daí palavras como diácono, ministério ou serviço), isto é, variedade de serviços prestados na causa do mesmo Senhor (v. 5) e "energemata" (daí expressões como operações,  realizações, receber energia etc.), significando variedades de poder do mesmo Deus que opera tudo em todos (v. 6). Paulo refere-se a todos esses aspectos como "a manifestação do Espírito", que é dado aos homens para proveito de todos.

Queremos destacar aqui, especificamente, a relação de nove dons que Paulo fala nos versículos (versos 8 a 10): palavra da sabedoria; palavra da ciência;
fé; cura; operação de maravilhas; profecia; discernimento dos espíritos; variedade de línguas e interpretação das línguas. Num outro momento, falaremos sobre os dons ministeriais.

1.  Dons de revelação:

A classificação[1] dos nove dons espirituais referidos acima (1Co 12.8-10) podem ser divididos em três grupos: revelação, elocução e poder. Começaremos pelo primeiro grupo.

a) Palavra de sabedoria (v. 8):

Por esta expressão, palavra de sabedoria (λόγος σοφίας), entende não sabedoria como uma virtude natural das pessoas ou resultado de instrução, mas como o pronunciamento ou a declaração de sabedoria ou erudição como “dom” ou carisma para o atendimento às necessidades particulares da igreja. Trata-se da capacidade sobrenatural para expressar conhecimento nos sentidos supramencionados. Encontramos alguns textos que ajudam a entendermos a palavra de sabedoria como dom do Espírito Santo:

§  At 7.10, conf. Gn 41.28-40 – José, vendido e levado para o Egito, recebeu de Deus graça e sabedoria para interpretar sonhos e dar conselhos sábios ao Faraó.

§  Mt 22.16-22 – Jesus usou uma palavra de sabedoria quando respondeu os adversários que pretendiam surpreendê-Lo, no caso do pagamento do imposto a César (v. 21). 

§  Ap 13.18 e At 17.9 – Aqui refere-se à inteligência demonstrada no esclarecer o significado de algum número ou visão misteriosos.

§  At 6.3 – Sabedoria e prudência em tratar assuntos como a escolha dos diáconos.

§  Cl 4.5 – Sabedoria como habilidade santa no trato com pessoas de fora da igreja.

§  Cl 1.28 – Jeito e discrição em comunicar verdades cristãs.

§  Tg 1.5; 3.13,17 – Sabedoria demonstrada no conhecimento e prática dos requisitos para uma vida piedosa e pura.

§  Lc 12.12; 21.15; Mt 13.54; Mc 6.2 etc. – Sabedoria ou habilidade necessária para uma defesa eficiente da causa de Cristo...

b) Palavra de Conhecimento/Ciência (v. 8):

Por este dom (λογος γνωσεως) entende-se a revelação de fatos não manifestados através de processos naturais, mas que pode ser comprovado cientificamente. Vejamos a seguir alguns exemplos de palavra de conhecimento ou de ciência:

§  1Sm 9.3-20 – Saul procura as ovelhas de seu pai, não as encontra e vai até o profeta (vidente) Samuel. E “um dia antes” (v. 15) Deus revela a Samuel que as ovelhas já tinham sido encontradas.

§  2Re 6.8-12 – Eliseu também teve conhecimento sobrenatural concernente ao local em que estava acampado o exército sírio (v. 12).

§  Jo 1.46-51 – Jesus usou este dom quando afirmou que Natanael estivera debaixo da figueira (v. 48).

§  Jo 4.17-19 – Jesus também usou a ciência quando falou da condição moral e espiritual da mulher samaritana (v. 18).

§  Jo 11.14 – Também quando afirmou que Lázaro estava morto.

§  At 9.10-12 – Ananias é avisado pelo Espírito Santo para ir a Tarso, impor as mãos e curar Saulo que tinha se convertido. A revelação de Deus a Ananias deu a este a certeza de que Saulo agora seria “... um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel” (v. 15).

§  At 10.19 – Pedro é avisado que três homens o procurariam para ir com eles até à casa de Cornélio, em Cesareia, e pregasse o Evangelho ali. Veja que Deus já tinha avisado a Cornélio tanto o nome quanto o endereço onde Pedro estava (vs. 5,6).

Nota – Qual a diferença entre sabedoria e ciência? Não podemos dogmatizar estes conceitos, mas ao que parece, a palavra de sabedoria é uma revelação exclusivamente espiritual que não necessariamente terá explicação científica, ao contrário da palavra de ciência, que embora seja também um dom de revelação, ela pode ser explicada cientificamente depois de seu cumprimento ou acontecimento. Mais um exemplo disto, vemos no caso do jumentinho que os discípulos encontraram “... amarrado, no qual ninguém jamais montou” (Lc 19.30) e ao chegarem lá, os discípulos encontraram-no exatamente como Jesus lhes tinha dito (v. 32).

c) Discernimento de Espíritos (v. 10):

Este dom (διακρισεις πνευματων) para a igreja é uma revelação para que os cristãos consigam discernir espiritualmente uma inspiração falsa de uma verdadeira, uma obra de espíritos enganadores ou demoníacos de uma divina, uma ação proveniente de Deus (sobrenatural/espiritual) de uma estritamente humana ou natural. Esse dom capacita o possuidor para "enxergar" todas as aparências exteriores e conhecer a verdadeira natureza duma inspiração. A operação do dom de discernimento pode ser examinada por duas outras provas: a doutrinária (1Jo 4.1-6) e a prática (Mt 7.15-23). A operação desse dom é ilustrada nas seguintes passagens:

§  Jo 1.47-50 – A resposta de Jesus a Natanael foi ao mesmo tempo uma palavra de ciência e discernimento de espirito ao firmar que Ele, Jesus, era “... um verdadeiro israelita, em quem não há dolo” (v. 47), diferente do que Natanael achava: que não viria “... alguma coisa boa de Nazaré” (v. 46).

§  Jo 2.23-25 – Mesmo que muitos “creram” em Jesus por causa dos sinais que Ele fazia (v. 23), o próprio Jesus discerniu espiritualmente que esta “crença” não era real porque a “... todos conhecia; E não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem” (vs. 24,25).

§  Jo 3.1-3 – Aqui Jesus é chamado Mestre (Rabi) por Nicodemos, mas ele não conhecia verdadeiramente Jesus. E, para conhecê-Lo, precisava “nascer de novo”, como um dos requisitos para ver o “reino de Deus” (v. 3).

§  2Re 5.20-26 – Eliseu discerniu espiritualmente o que Geazi tinha feito: mentido e recebido dinheiro (bens) de Naamã, quando ele mesmo recusara a aceitar a “bênção” oferecida pelo sírio (vs. 15,16).

§  At 5.3 – Pedro discerne espiritualmente que Ananias tinha mentido ao Espírito Santo...

§  At 8.18-24 – Um certo Simão (mago) tenta comprar o poder do Espírito Santo com dinheiro e Pedro afirma com autoridade espiritual que o dinheiro dele era para sua perdição e via que Simão estava “... em fel de amargura, e em laço de iniquidade” (v. 23). Mas Simão se arrepende do que tinha proposto.

§  At 16.16-19 – Aqui Paulo discerne espiritualmente que uma jovem que tinha espírito de adivinhação, embora chamasse ele e Silas (e talvez também Lucas...) de servos do Deus Altíssimo, estava perturbando a obra, e expulsou o espirito diabólico da jovem...

2.  Dons de elocução:

Três dons na lista dos nove, mencionados em 1Coríntios 12 têm relação com a palavra falada. São eles, a profecia, as línguas e a interpretação de línguas.

a) Profecia (v. 10):

A profecia (προφητεια) tem sido definida como “falar na própria língua sob a inteira unção do Espírito”. A profecia bíblica pode ser mediante revelação, na qual o profeta proclama uma mensagem previamente recebida por meio dum sonho, uma visão ou pela Palavra do Senhor. Pode ser também extática, uma expressão de inspiração do momento. Há muitos exemplos bíblicos de todas as formas de profecias. A profecia extática e inspirada pode tomar a forma de exaltação e adoração a Cristo, admoestação exortativa, ou de conforto e encorajamento inspirando os crentes. Mas é importante sabermos que os profetas do Novo Testamento não são “guias” como os do Antigo Testamento que dirigiam a Israel. O propósito do dom de profecia do Novo Testamento é declarado em 1Co 14.3: edificar, exortar e consolar os crentes. Portanto, a inspiração manifestada no dom de profecia não está no mesmo nível da inspiração das Escrituras. A profecia se distingue da pregação comum em que, enquanto a última é geralmente o produto do estudo de revelação existente, a profecia é o resultado da inspiração espiritual espontânea. Não se tenciona suplantar a pregação ou o ensino, senão completá-los com o toque da inspiração.

Alguns exemplos de profecias como dom espiritual:

§  At 15.32 - Judas e Silas, por possuírem este dom eram chamados profetas, os quais exortaram os irmãos...

§  At 21.8-12 – Em Cesareia, quatro filhas de Filipe, o evangelista, e um homem chamado Ágabo eram chamados profetas, e exortavam a Paulo em relação às perseguições pelas quais ele iria passar. Mas observa que Paulo, apesar a exortação, não atende os profetas e sobe a Jerusalém, local das perseguições (v. 13).

§  1Co 14.29 – A profecia pode ser julgada, por não estar no mesmo nível das Escrituras.

§  1Ts 5.19-20 – Embora a profecia possa ser julgada, não pode ser desprezada (v. 20), uma vez que ela indica que o fogo do Espírito está acesso (não extinto).

b) Línguas (v. 10):

Línguas, variedade de línguas (ειδη γλωσσων) ou dom de línguas é o poder de falar sobrenaturalmente em uma ou várias línguas nunca aprendidas por quem fala, sendo essas línguas inteligíveis aos ouvintes e, que por meio do dom igualmente sobrenatural de interpretação, elas são interpretadas, como veremos na sequência. As línguas são manifestações distribuídas pelo Espírito como Lhe apraz (v. 11). Mas os grupos chamados “cessacionistas” não aceitam este (principalmente) e outros dons como sendo atuais. Ou seja, eles acreditam que estes dons cessaram após o primeiro século da Igreja Cristã.

Parece haver duas classes de mensagens em línguas: primeira, louvor em êxtase dirigido a Deus somente (1Co 14.2), em que o crente, em espírito, fala em mistério com Deus; e segunda, uma mensagem definida para a igreja (1Co 14.5). Neste último caso, Paulo aconselha que apenas dois ou três falem em línguas (v. 27) e que haja interpretação. “Se não houver intérprete [aquele que tiver falando línguas], fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus” (v. 28).

c) Interpretação de Línguas (v. 10):

Assim como as línguas são o dom de falar sobrenaturalmente em uma ou várias línguas nunca aprendidas e, no caso coletivo (na igreja) precisa de interpretação, é este dom – o de interpretação de línguas (ερμηνεια γλωσσων) – que torna a mensagem das línguas estranhas em língua comum, conhecia pelo povo congregado. O mesmo Espírito que inspirou o falar em outras línguas, pelo qual as palavras pronunciadas procedem do espírito e não do intelecto, pode inspirar também a sua interpretação. A interpretação é, portanto, inspirada, extática e espontânea. Assim como o falar em língua não é concebido na mente, da mesma maneira, a interpretação emana do espírito antes que do intelecto do homem.

§  1Co 14.5 – Nota-se que as línguas em conjunto com a interpretação tomam o mesmo valor de profecia.

§  1Co 14.22 – Embora tenham o mesmo valor da profecia, as línguas, com as devidas interpretações são um "sinal" para os incrédulos.

3.  Dons de poder:

Mais três dons na lista dos nove, mencionados em 1Coríntios 12 são classificados como “dons de poder” e são eles: fé, operação de milagres e cura.

a) Fé (v. 9):

A fé (πιστις) aqui, diferentemente da fé salvadora (ex. Hb 11.6 e Ef 2.8) ou da fé natural de confiança em Deus, é a fé necessária para a operação dos dons de curar e operação de milagres. É uma "fé especial ou miraculosa", um "dom" ou dotação especial do poder do Espírito que parece ser manifestada por alguns dos servos de Deus em tempos de crise e oportunidades especiais.

§  Mc 11.22 - Possivelmente essa mesma qualidade de fé é o pensamento de nosso Senhor quando disse “Tende a fé de Deus”.

§  Mt 17.20 – Também vemos exemplo desta fé especial quando Jesus diz que é possível dizer ao um monte “vá daqui para lá”, e ele irá, pois nada lhes será impossível.

§  1Re 18.22-39 – Aqui, Elias desafia os profetas de Baal e como resultado, o povo volta-se ao Senhor, o verdadeiro Deus.

§  Hb 11.33 – Daniel usou este dom quando foi lançado na cova dos leões.

§  At 3.1-8 – Também Pedro e João usaram este dom quando curaram o coxo de nascença.

b) Operação de milagres (v. 10):

Literalmente, significa "obras de poder" ou poder para realizar milagres (δύναμη να κάνει θαύματα). Parecido com a fé especial, este dom é tão estupendo que se torna quase inconcebível à mente finita do homem. Entretanto, ele faz parte do ministério sobrenatural do Espírito Santo operado através dos crentes e na história.

Pelo dom da fé é possível operar milagres. Como disse Jesus: “Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai” (Jo 14.12). Este poder foi prometido por Jesus (At 1.8), vivido por Paulo (At 19.11), os apóstolos (At 5.12-15) etc.

Através dos dons da fé e da operação de maravilhas, pessoas, orando a Deus, fizeram maravilhas como: Moisés, que abriu o mar Vermelho (Êx 14.28), Josué, que fez o Sol parar (Js 10.13), Isaías, que fez a luz do sol retroceder dez degraus (Is 38.8) etc.

c) Dons de curar (v. 9):

Dizer que uma pessoa tenha os dons de cura (χαρισματα ίαμάτων) – note-se o plural – talvez refira-se a uma variedade de curas por pessoas especiais que são usadas por Deus duma maneira sobrenatural para dar saúde aos enfermos por meio da oração. Parece ser um dom a usado como “sinal”, de valor especial ao evangelista, para atrair o povo ao Evangelho (At 8.6,7; 28.8-10).

Não se deve entender que quem possui esse dom (ou a pessoa possuída por esse dom) tenha o poder de curar a todos; deve-se dar lugar à soberania de Deus e à atitude e condição espiritual do enfermo. O próprio Cristo foi “limitado” em sua capacidade de operar milagres por causa da incredulidade de povo (Mt 13.58).

A pessoa enferma não depende inteiramente de quem possua o dom. Todos os crentes em geral, e os anciãos da igreja em particular, estão dotados de poder para orar pelos enfermos (Mc 16.18; Tg 5.14).

O propósito dos “dons de curar”, portanto, é libertar os enfermos, curar as pessoas de suas aflições. Contudo, eles têm ainda um propósito mais alto, que é a glória de Deus. Eles – os dons de curar – chamam a atenção para a majestade de Deus pela confirmação de Sua palavra e contribuem para abrir os corações de tal maneira que muitos aceitam o Evangelho da salvação ao ver o milagre de Deus mediante a cura ou curas.

Referências bibliográficas:

BÍBLIA Grega. Modern Greek. Disponível em:<https://www.bibliaonline.com.br/greek/index>. Acesso em 23/09/2019.

BÍBLIA, Nova Versão Internacional (NVI). Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvi/index). Acesso em: 23/09/2019

PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 1978 (7ª ed.).

SOUZA, Estevam Angelo de. O Espírito Santo. Veja Nota 1.



Nota:

[1] Utilizamos aqui, a classificação e orientações seguidas pelo Pastor Estevam Angelo de SOUZA, cujo livro foi utilizado num seminário há mais de 30 anos. Mas como já – dada a idade – não possui mais a capa (brochura) do mesmo, não consegui identificar nem a editora, o local e nem o ano de sua publicação. Utilizei também as explanações feitas por Myer PEARLMANN – Vide Referências Bibliográficas.


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Ainda sobre os nove dons espirituais de 1Coríntios 12, veja o vídeo a seguir, com o Pastor Luciano Subirá:



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Texto em PDF, disponível em:


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28 outubro 2020

A vida de Jesus Cristo


“Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, Até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera; Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando das coisas concernentes ao reino de Deus. E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele, de mim ouvistes (...) Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (At 1.1-4,11).

Continuando nossa série de estudos sobre doutrinas bíblicas e, especificamente, acerca de Jesus, além do post “O Senhor Jesus Cristo, por Myer Pearlman”, escrevemos também sobre Jesus, o Verbo Divino. Neste, destacaremos como o Verbo, tradução do Logos trata-se de Jesus como a Palavra, que criou todas as coisas e, portanto, existe por si mesmo, antes da criação de todas as coisas. Mas este Ser criador foi encarnado e viveu como homem. É sobre esta sua trajetória nesta terra como homem, que era, ao mesmo tempo, o Messias Salvador, que pretendemos enfatizar neste artigo (post). Para isto, queremos usar como base o texto de J. N. GELDENHUYS, conforme referência bibliográfica abaixo.

1.  Historicidade

O fato histórico de Cristo está inexoravelmente estabelecido. As tentativas que têm sido feitas para provar o contrário, durante os últimos duzentos anos, têm falhado inteiramente. Não somente o Novo Testamento inteiro está baseado sobre o Cristo histórico, mas também a elevação e o progresso da Igreja Cristã, e, de fato, o curso da história do mundo durante os últimos dezenove séculos, seriam inexplicáveis à parte do fato histórico do Cristo que viveu, morreu e ressuscitou.

O fato que registros seculares existentes até hoje, pertencentes aos primeiros cem anos depois do ministério de Cristo, contém apenas algumas poucas referências a Ele, é algo perfeitamente natural. O cristianismo foi apenas um dos muitos cultos religiosos que se originaram no Oriente, no mundo romano dos dois primeiros séculos de nossa era, e pouco havia em Cristo que atraísse o interesse dos historiadores pagãos. Somente quando o Cristianismo entrou em conflito com o estado é que se tornou digno de ser mencionado naqueles dias recuados, e os primeiros escritores pagãos a fazerem menção do mesmo, em tal contexto todos mencionam significativamente o nome de Cristo como fundador do Cristianismo.

Excetuando uma passagem duvidosa, e, quando muito, pesadamente interpolada em Josefo, Jesus não é mencionado diretamente nos escritos judaicos não-cristãos referentes àquele período. O motivo disso certamente é a hostilidade e o ressentimento que Sua memória provocava nos líderes judeus de Seu tempo. Entretanto, existem referências indiretas a Ele, nos primeiros escritos rabínicos, que fazem menção razoavelmente reconhecível obre Ele, como um transgressor em Israel, que praticava magia, zombava das palavras dos sábios, fazia o povo desviar-se, e disse que viera para fazer adições à lei, além de ter alterado a Páscoa, e cujos discípulos efetuavam curas de doentes em Seu nome.

Nos primeiros séculos d.C., nem mesmo os mais amargos inimigos do cristianismo tinham qualquer pensamento de negar que Jesus vivera e morrera na Palestina, e que realizou realmente obras maravilhosas, qualquer que fosse a explicação que davam ao poder mediante o qual Ele realizava essas coisas. Nem, nos dias atuais, qualquer historiador objetivo nega o fato histórico de Cristo. Não são os historiadores que brincam com a fantasia do mito-de-Cristo. Não apenas a Sua morte, mas também a Sua ressurreição, devem ser levadas em consideração como os mais bem confirmados fatos históricos que existem.              

2.  Fontes

Quanto aos detalhes essenciais da vida de Cristo, temos que depender inteiramente do Novo Testamento. Conforme já foi dito, não se pode aproveitar muito do estudo da literatura pagã ou judaica das primeiras décadas d.C., e, quando nos volvemos para a literatura cristã extra bíblica, pertencente ao mesmo período, encontramos bem pouco que já não esteja registrado no Novo Testamento. A maioria dos evangelhos apócrifos é tão obviamente produto da imaginação que só nos podem prestar qualquer ajuda, por meio de contraste, para provar o caráter histórico dos Evangelhos canônicos; porém, não adiciona coisa alguma ao nosso conhecimento sobre a vida de nosso Senhor.

Os Evangelhos não são biografias o sentido comum da palavra. Cada um dos quatro evangelistas tinha um propósito específico com seu livro, tendo feito uma seleção apropriada dentre a informação à sua disposição com referência à vida de nosso Senhor. Embora existam muitas diferenças quanto à ênfase, no tocante a certos aspectos de Sua vida, todos os quatro Evangelhos proclamam um só e o mesmo Cristo, como Senhor e Salvador, o perfeito Filho do homem e o Filho unigênito de Deus.

Visto que os Evangelhos não são biografias no sentido ordinário do termo, mas antes, proclamações das boas novas concernentes a Jesus como Salvador e Senhor, não devemos buscar neles um arranjo estritamente cronológico. Por outro lado, o propósito religioso dos evangelistas não os conduziu à negligência do caráter histórico da vida de Jesus. Conforme é declarado tão claramente no prefácio de nosso terceiro Evangelho, os autores sagrados estavam perfeitamente cônscios da urgente necessidade de tornar conhecida a verdade acerca de Jesus Cristo. Para eles e para seus irmãos crentes, a fé em Cristo era questão de vida e morte. Dessa maneira, não podiam permitir que sua fé repousasse sobre fantasias, mitos, ou lendas. Uma fé como a daquelas gerações iniciais de crentes cristãos exigia absoluta lealdade a Cristo – até à morte, se necessário fosse. Tal fé só podia ser edificada em face de fatos certos. Além disso, os escritores dos Evangelhos estiveram num contato tão íntimo e vivo com muitos que haviam ouvido e visto a nosso Senhor, que tiveram oportunidade sem igual de verificar esses fatos. Acresce que os fatos históricos eram conhecidos em primeira mão por tantas pessoas que não podiam arriscar-se a apresentar relatos fictícios.

Embora Lucas tenha incorporado grandes seções de Marcos em seu Evangelho, e que João bem poderia ter conhecido os três primeiros Evangelhos, a verdade é que nossos quatro Evangelhos são essencialmente quatro fontes independentes de informação no tocante à vida de nosso Senhor. Cada um desses relatos frisa certos aspectos de Sua vida e ministério mais que os demais relatos, porém, é sempre essencialmente o mesmo Cristo que encontramos em todos os quatro. Isso é verdade tanto no tocante ao livro de João como aos três Evangelhos sinóticos. O Evangelho de João suplementa os outros e, em resultado de muitos anos de reflexão, e de discernimento mais amadurecido quanto ao significado filosófico e teológico mais profundo da história do Evangelho. João se ocupa mais em ensinar o ensinamento de nosso Senhor no tocante à Sua divina Filiação; porém, até mesmo João não proclama outro Cristo além do Cristo proclamado pelos três primeiros evangelistas.

Em suma, temos nos quatro Evangelhos canônicos, as melhores e mais dignas fontes de informação referente à vida de Jesus Cristo. Embora o restante do Novo Testamento não adicione muito aos detalhes históricos do Evangelho, é importante observar que o livro de Atos, as epístolas e o livro de Apocalipse, estão todos edificados sobre o fato que Jesus viveu, ensinou, sofreu e triunfou conforme os Evangelhos afirmam. Visto que algumas das Epístolas do Novo Testamento foram escritas tão cedo como 50 d.C. (ou talvez um pouco mais cedo ainda) – 1 e 2 Tessalonicenses e Gálatas, e, possivelmente, Tiago – somos assim levados a recuar até não mais de vinte anos depois da data da crucificação de Jesus. Levando em consideração o fato que um dos primeiros escritores neotestamentário, Paulo, foi um figadal perseguidor dos seguidores de Jesus, mas convertido tão cedo como 32 ou 33 d.C., e que a epístola de Tiago foi escrita pelo irmão de Jesus, percebemos quão íntimo era o contato entre o tempo da vida de nosso Senhor sobre a terra (c. de 6/4 a.C. – 30 d.C.) e aquela geração de crentes em cuja vida os primeiros documentos do Novo Testamento foram escritos. O sumário apresentado por Paulo sobre a pregação apostólica, em 1Co 15.1-8, se reveste de grande significação: “irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que ainda perseverais... Antes de tudo vos entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia... E apareceu a Cefas, e, depois, aos doze. Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora, porém alguns já dormem. Depois foi visto por Tiago, mais tarde por todos os apóstolos, e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora do tempo”.

Nessa passagem Paulo não somente proclama essencialmente o mesmo evangelho que o fazem os quatro evangelistas, mas também revela quão íntima era a relação entre a Igreja Cristã Primitiva e os apóstolos e outras testemunhas oculares da vida de nosso Senhor. Dessa maneira, não é surpreendente descobrir que nossos quatro Evangelhos, apesar de toda sua ênfase diferente e da escola variada de detalhes, proclamam o mesmo Cristo que veio buscar e salvar aos perdidos, o Senhor divino a Quem todo poder foi dado, no céu e na terra (Mt 11.27; 28.18; Mc 1.1; 8.29; Lc 1.32,35; 2.11; 9.35; 10.22; Jo 1.1; 10.28 etc.).

Não admira, portanto, que após mais de um século de criticismo agudo e rude, o caráter digno de confiança de nossos quatro Evangelhos canônicos tenha ficado mais firmemente estabelecido que nunca. Uma teoria após outra, e sucessivas escolas de pensamento, que têm lançado dúvidas sobre a fidelidade dos Evangelhos, têm se despedaçado perante a irrefutável historicidade da vida de Jesus que os mesmos historiam. Embora os Evangelhos façam silêncio no tocante a muitos detalhes que naturalmente gostaríamos de saber, os quatro Evangelhos, confirmando-se e suplementando-se entre si, nos fornecem todos os fatos referentes a Jesus Cristo que precisamos saber a fim de que possamos confiar nEle como “Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31).

3.  Sem paralelo

A vida de nosso Senhor não encontra iguais em muitos particulares; um aspecto desse caráter singular é seu cumprimento de profecias específicas feitas centenas de anos antes de Seu nascimento. O próprio Jesus, por exemplo, repetidamente ensinou aos Seus discípulos que Ele, conforme a “tudo quanto está escrito por intermédio dos profetas” haveria de sofrer, morrer e ressuscitar dentre os mortos (cf. Lc 18.31-34). Depois de haver ressuscitado, igualmente, Ele declarou claramente que, em Sua vida, morte e ressurreição, as Escrituras haviam sido cumpridas (Lc 24.25-27,44-48).

Nos discursos de Pedro, de Estevão e de Paulo, registrados no livro de Atos, em praticamente todos os livros do Novo Testamento, a vida, os sofrimentos e a exaltação de Jesus são repetidamente proclamados como o cumprimento das promessas de Deus no Antigo Testamento. Nada existe na história do mundo que se possa comparar com o fato que centenas de anos antes do nascimento de Jesus, muitas coisas a respeito dEle – até mesmo o lugar de Seu nascimento (Mq 5.2) – haviam sido preditos e registrados nas Escrituras do Antigo Testamento. E, em muitos outros aspectos – desde Sua concepção sobrenatural até Sua ascensão ao céu – essa vida é sem paralelo. Somente em Sua vida vemos Deus tornando-se carne. Enquanto que as vidas de todos os outros fundadores de religiões revelam-nos homens que buscaram a verdade e se esforçaram por obter introspecção religiosa, a vida de Jesus Cristo é a única que revela o Deus de amor e justiça, que busca salvar a humanidade caída.

Todas as reivindicações feitas por Jesus referentes à Sua eterna e divina Filiação são confirmadas por Sua vida, morte, ressurreição e ascensão triunfal. Ele não tem igual entre os homens.

4.  Épocas principais

Embora não possamos refazer uma biografia detalhada ou estritamente cronológica de Jesus Cristo, os Evangelhos nos fornecem material suficiente que nos capacita a apontar as épocas mais importantes de Sua vida.

a)  Seu nascimento sobrenatural

Os autores dos Evangelhos tiveram amplas oportunidades para descobrir a verdade a respeito do nascimento de Jesus. À parte do fato que Maria, mãe de Jesus, foi deixada ao encargo do discípulo amado (cf. Jo 19.26,27), devemo-nos relembrar que Tiago, o irmão de Jesus, foi durante muitos anos um dos líderes da Igreja Cristã de Jerusalém. Depois da ressurreição e ascensão de Jesus, Maria e seus filhos ficaram livres de toda dúvida referente à Sua soberania, e passaram a viver em íntima comunhão com seus irmãos na fé, na igreja de Jerusalém (cf. At 1.14). Quando o Evangelista Lucas acompanhou Paulo a Jerusalém, em 56 ou 57 d.C., uma das pessoas a quem visitou foi Tiago, irmão do Senhor (At 21.17,18). Naquele tempo, a julgar pelo prefácio de seu Evangelho, Lucas já estava intensamente interessado nos fatos referentes à vida de Jesus. Se Lucas se encontrou pessoalmente com Maria, não o sabemos; porém, é certo que ele teve acesso a informações referentes ao nascimento de nosso Senhor, que afinal de contas, só poderiam ter sido prestadas pela própria Maria. É basicamente do ponto de vista dela que Lucas relata a história da concepção sobrenatural e do nascimento de Jesus (Lc 1.26-56; 2.1-51). Mateus, por outro lado, conta a mesma história, mas mais do ponto de vista de José. Porém, ambos os Evangelhos concordam que Jesus não era o filho de um pai humano, mas foi concebido pelo poder do Espírito Santo e nasceu como o Filho unigênito de Deus (cf. Lc 1.35; Mt 1.18-24). Em perfeita conformidade com esse fato, João dá início ao seu Evangelho com as palavras: “No princípio era o Verbo, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.1-14).   

b)  Infância, meninice e crescimento até à maturidade

Por Lc 2.40,52 torna-se claro que a vida de Jesus, desde a meninice até a idade adulta ainda jovem foi normal, mas também perfeita. Em Sua vida, o ideal de Deus para uma vida humana perfeita foi cumprido em cada estágio. Embora vivesse num lar humilde com Maria, José, e diversos irmãos e irmãs mais novos, Sua vida em todas as ocasiões estava em completa concordância com a vontade de Deus (Lc 2.52), e desde tenra idade (Lc 2.49) parece que Ele tinha consciência que era o Filho de Deus num sentido todo especial. Por Lc 2.46,47 depreende-se que desde Sua meninice Ele estudara intensamente as Escrituras do Antigo Testamento; e embora José provavelmente tenha falecido cedo e que Jesus tenha sentido necessidade de trabalhar arduamente como carpinteiro, a fim de prover o necessário para Maria e seus irmãos mais novos (Mt 13.55,56), é claro eu Ele dedicava muito tempo à meditação sobre as Escrituras e à oração.

À parte os poucos detalhes dados em relação à meninice de Jesus, e às inferências que podem ser tiradas dos Evangelhos a respeito de Sua vida, que exibem-no a crescer física, mental e espiritualmente até à plena maturidade, o Novo Testamento passa em silêncio aqueles anos de preparação.

c)  Batismo e tentação

Quando Jesus (provavelmente em 27 d.C.) havia atingido o apogeu da vida (cerca de 30 anos de idade, Lc 3.23), partiu da Nazaré e foi batizado por João Batista. Fazendo isso aceitava publicamente Sua tarefa messiânica na qualidade de Filho de Deus e Salvador que, apesar de implacável em Si mesmo, deixou-se revestir pela culpa de Seu povo.

Deus Pai demonstrou Sua aprovação à ação do Seu Filho, ao identificar-se deliberadamente com Seu povo pecaminoso, mediante a descida do Espírito “como pomba, vindo sobre ele” e pela voz do céu, que dizia: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). Essas palavras, que combinam Sl 2.7 com Is 32.1, reconhecem-No como o Messias, mas também indicam que Ele haveria de cumprir Sua chamada messiânica em termos do servo obediente e sofredor do Senhor.

Com essa certeza em Seu coração, Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto da Judeia, onde seria tentado pelo diabo (Mt 4.1). A fim de vindicar a Sua competência para ser o Salvador dos homens, Ele tinha primeiramente de provar Sua total e incondicional obediência ao Seu Pai celeste, bem como Seu poder de vencer o grande enganador. A narrativa da tentação é evidentemente situada em contraste com a história da queda, em Gn 3; dessa maneira, enquanto que Adão e Eva sucumbiram à tentação, a despeito de estarem vivendo nas condições mais favoráveis possíveis, Jesus saiu-se vencedor, ainda que tentado sob as mais difíceis circunstâncias. Depois de quarenta dias de tensão física e espiritual e de privação no deserto, foi assaltado por toda a astúcia concentrada e o poder do tentador, para que pusesse Seu Pai sob teste ou para que rejeitasse a vereda que a voz celestial havia assinalado como a vontade de Seu Pai para com Ele. Jesus, entretanto, resistiu às mais sutis tentações e permaneceu inflexivelmente obediente à vontade de Seu Pai. E assim saiu-se desse conflito espiritual como o leal Filho de Deus e como o Servo Fiel (Mt 4.1-11); Mc 1.12,13; Lc 4.1-13).

d)  Início de Seu ministério público

Tendo triunfado sobre os titânicos assaltos do diabo, Jesus deu início, ativamente, ao primeiro estágio de Seu ministério público, chamando os Seus primeiros discípulos (Jo 2.1-11), realizando milagres (Jo 2.23 e segs.), ensinando a Nicodemos verdades espirituais revolucionárias, e a salvação até mesmo aos desprezados samaritanos (Jo 4.1-42). Esse estágio de Seu ministério fora preparado por João Batista, e atingiu seu clímax quando alguns dos samaritanos confessaram, dizendo “... nós... sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4.42).

e)  Ensino e ministério concentrado na Galileia

O aprisionamento de João Batista foi o sinal para Jesus dar início ao Seu ministério na Galileia, com a proclamação que o tempo determinado chegara, e que o reino de Deus estava próximo (Mc 1.24 e segs.). Quando Sua reivindicação, na sinagoga de Nazaré, de que Ele era Aquele mediante Quem as promessas messiânicas seriam cumpridas, foi rejeitada pela Sua própria cidade adotiva (Lc 4.16 e seg.) Ele fez de Cafarnaum Seu novo quartel. Provavelmente durante mais de um ano Ele então trabalhou e ensinou em Cafarnaum e noutras localidades da Galileia (Mt 4.12-14.13; Mc 1.14-6.34; Lc 4.14-9.11; Jo 4.46-54 etc.), revelando Seu poder divino sobre a natureza (Mc 4.35-41; 6.34-51 etc.), sobre o mundo dos espíritos e demônios (Lc 8.26-39; 9.37-45 etc.), sobre o corpo humano e sobre as enfermidades físicas e espirituais (Mt 8.1-17; 9.1-8 etc.), e até mesmo sobre a vida e a morte (Lc 7.11-17; Mt 8.18-26). Além disso, Ele afirmou possuir autoridade final sobre o destino eterno da humanidade, e, no Sermão da Montanha e noutro ensinos, revelou Sua autoridade sem par de proclamar as leis do reino de Deus (Mt 5.1-7.29 etc.).

Enquanto ao mesmo tempo revela Sua autoridade suprema na qualidade do prometido Cristo, Jesus, durante esse período, também revelou Seu amor e simpatia por amor àqueles que se achavam em apertos físicos e espirituais (Mt 9.1-8,18-22; Lc 8.43-48 etc.). Ele declarou repetidas vezes que viera a fim de buscar e salvar aqueles que estão perdidos, e exerceu a prerrogativa divina de perdoar pecados (Lc 5.20-26; 7.48-50).

Dentre Seu grupo bem maior de seguidores, Ele escolheu doze discípulos especiais (Mt 10.1-4; Lc 6.12-16), aos quais ensinava sistematicamente, treinando-os para serem Seus apóstolos ou enviados.

A autoridade com a qual Ele ensinava aos Seus ouvintes, e Sua recusa de deixar-se intimidar pelos inimigos, entre os governantes judeus e os fariseus, em adição aos Seus muitos milagres de cura e outras manifestações de Seu poder sobre a ordem criada (Lc 4.33-41); Mc 5.1-42 etc.), eram motivos para Jesus tornar-se intensamente popular entre as populações da Galileia (Lc 4.40-42; 5.15,26; 6.17-19). Essa popularidade atingiu seu clímax no milagre da multiplicação dos pães para os 5.000 homens (Mt 14.13-21; Mc 6.30-44; Lc 9.10-17; Jo 6.5-13), e essa prova clara de Seu caráter messiânico fez as massas resolverem coroá-Lo rei (Jo 6.145).

f)   O treinamento dos doze

Depois da recusa de Jesus de ser coroado como um messias terreno (Jo 6.26,27) as multidões e até mesmo muitos dentre Seus discípulos do círculo mais lato, abandonaram-No (Jo 6.66,67). Ele então se retirou para o território pertencente a Tiro, Sidom e Cesareia de Filipe (Mt 15.21; 16.13; Mc 7.31 etc.), porém, em realidade nunca pode escapar da atenção pública. Quando novamente voltou ara as proximidades do mar da Galileia, uma vez mais curou e ajudou a muitos indivíduos em dificuldade, e pela segunda vez alimentou miraculosamente as multidões, visto que tinha compaixão das mesmas (Mt 15.29-39). A seguir, retirando-se novamente dentre as multidões, buscou a solidão em companhia de Seus discípulos, fazendo-lhes a pergunta crucial: “... E vós quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15) Depois que Pedro, falando como porta-voz de todos os apóstolos, havia confessado abertamente “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, Jesus, com grande determinação, começou a preparar os Seus discípulos para o terrível choque que os aguardava em Jerusalém (Mt 6.21-26). Porém, ao mesmo tempo, Ele clara e repetidamente lhes ensinava que alcançaria finalmente a vitória (Mt 16.27,28), e que Seus seguidores, por isso mesmo, não precisavam temer coisa alguma (Lc 12.4-12,32-34).

Sua autorevelação aos Seus discípulos culminou em Sua transfiguração, no monte, quando Seus três mais íntimos seguidores viram-No em Sua divina glória (Mt 17.1-13; Mc 9.2-10; Lc 9.28-36). Visto que Ele veio cumprir tanto a Lei como os Profetas, Moisés (tipificando a lei) e Elias (representante dos profetas) apareceram juntamente com Ele, gloriosamente, antes que finalmente desse início à Sua viagem para Jerusalém, a fim de sofrer a morte visando a salvação dos homens. Uma vez mais a voz de Deus, vinda do céu, declarou que Jesus era o Seu Filho amado, ao qual todos deveriam dar ouvidos (Lc 9.35).           

g)  Antagonismo crescente

Tendo-se revelado aos Seus discípulos, e sendo reconhecido por eles como verdadeiramente o Filho de Deus (Mt 17.1-13; Mc 9.2-10; Lc 9.18-20), Jesus preparou-os em seguida, mais deliberadamente ainda, para a futura tarefa que teriam como membros fundadores de Sua Igreja. Ele lhes ensinou muitas verdades, tanto diretamente como também em forma de parábolas, e continuou a revelar Seu divino poder e autoridade mediante a cura de enfermos (Lc 14.1-6; 17.11-19), restauração da vida aos cegos (Mc 10.46-52), e alívio das mazelas alheias.

A oposição contra Ele, entre os governantes judeus e os líderes religiosos, foi crescendo cada vez mais (Lc 14.1). Todo método e esquema possível foi tentado para apanhá-Lo em alguma armadilha, para interromper Sua contínua influência sobre as massas, e para encontrar um motivo para entregá-Lo às autoridades romanas a fim de que fosse executado (Mt 19.1-3; Lc 11.53,54). Todas as Suas advertências, dirigidas contra os Seus inimigos, e todo o Seu penetrante ensinamento que visava levá-los à mudança de coração, todas as Suas obras de benevolência, curando os enfermos e até mesmo ressuscitando mortos para que voltassem à vida (Jo 11.41-45), tão somente inflamavam mais ainda os fariseus, os escribas, e outros líderes dos judeus, com um ódio ainda mais intenso contra Ele (Jo 11.46-53).

h)  A última semana em Jerusalém

Tendo entrado abertamente em Jerusalém, na qualidade de Messias, em meio à multidão aclamadora (Mc 11.1-10; Jo 12.12-19 etc.), Jesus expulsou os cambistas e traficantes com animais para os sacrifícios, tirando-o a todos do átrio externo do Templo, e assim revelou Sua reivindicação de possuir autoridade messiânica (Lc 19.45,46; Mt 21.12-16). O fim estava agora bem próximo. Jesus, incansavelmente, expunha a hipocrisia dos Seus perseguidores (Mt 23.1-39; Lc 20.45-47), ao ensinar ao átrio do Templo, durante aqueles dias importantíssimos (Mt 21.33-34; 22.1-14; Mc 12.1-12; Lc 20.9-47), e profetizou o que aconteceu ao povo da Judeia, a Jerusalém e ao Templo (Lc 21.20-24 etc.), nos tempos iminentes de desgraça. Advertiu Seus seguidores a respeito dos perigos que os aguardavam (Lc 21.9-19 etc.), predizendo o que esperava o mundo e a Igreja no futuro (Lc 21.25-27), predizendo que a história do mundo culminaria em Seu retorno, em grande majestade, para revelar Seu divino poder sobre todas as forças das trevas e para dar início ao Seu reino eterno (Mt 24.29-31; 25.31-46).

Na véspera de Sua paixão como uma preparação final para os apóstolos para a grande tarefa que os esperava, Jesus lavou os pés dos mesmos (Jo 13.1-11), ensinando-lhes uma lição urgentemente necessária sobre a humildade de uns para com os outros (Jo 13.12-17; Lc 22.24-30), anunciando que Judas haveria de traí-Lo (Mc 14.18-21; Jo 13.21-30), instituindo a Ceia do Senhor (Mt 26.26-29 etc.), e orando em prol de todos os Seus seguidores (Jo 17.1-26).

Então seguiu-se Sua final e completa auto rendição à vontade de Seu Pai no jardim do Getsêmani (Mt 26.39-46 etc.). Tendo tomado sobre Si mesmo a culpa de toda a humanidade caída permitiu-se voluntariamente ser aprisionado, maltratado, falsamente condenado e crucificado. Seu sofrimento sacrificial e expiatório atingiu seu clímax por ocasião da crucificação, quando, no fim de três horas de trevas, Ele clamou em alta voz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46). Ele dissera aos Seus discípulos que não veio a fim de julgar ao mundo, mas antes, para dar Sua vida em resgaste a favor e muitos (Mt 26.28 etc.). Tendo-se oferecido voluntariamente como o Cordeiro e Deus (Jo 1.29; 10.11-18), sua tarefa havia agora terminado. Antes de recomendar Seu espírito às mãos do Seu Pai, anunciou triunfalmente: “Está consumado” (Jo 19.30).

i)   Sepultamento, ressurreição e ascensão 

Depois de Sua morte, não estava mais no poder de Seus inimigos. Seu corpo foi arriado da cruz (Lc 23.50-53) e foi sepultado num túmulo novo, que havia em um jardim nas proximidades do local da crucificação. Sua promessa de ressurgir dentre os mortos logo se cumpriu e, na qualidade de Cristo ressurreto e Senhor eternamente vivo, pessoalmente fez desaparecer os temores e as dúvidas de Seus seguidores (Lc 24.13-49; Jo 20.11-21.22). Durante quarenta dias apareceu-lhes repetidamente abrindo suas mentes para que pudessem entender as Escrituras do Antigo Testamento, e prometendo-lhes enviar o Espírito Santo, o qual haveria de consolá-los, guia-los e dotá-los para agirem como Suas testemunhas – a começar por Jerusalém, e paulatinamente atingindo o mundo inteiro (At 1.8). Tendo-lhes assegurado, uma vez mais, que todo o poder Lhe havia sido conferido, tanto no céu como na terra (Mt 28.18), Cristo os comissionou para que fizessem discípulos dentre todas as nações (Mt 28.19). Depois que prometeu estar com eles para sempre, até o próprio fim do mundo (Mt 28.20), Ele subiu ao céu – com as mãos levantadas, a abençoá-los (Lc 4.50).

Portanto, a vida de Jesus Cristo como Homem entre os homens, sobre este planeta, terminou triunfalmente. A reivindicação apostólica nos provê uma apropriada conclusão para Seu ministério terreno “... a este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.36).

Referência Bibliográfica:

GELDENHUYS, J. N. Vida de Jesus Cristo. In: DOUGLAS, J. D. (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1979, pp. 819 a 824. Texto adaptado.

Campo 14 – bebês mortos a pauladas, fome e execuções: a vida em um campo de concentração norte-coreano

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