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25 de novembro de 2021

Mateus, o publicano

O chamado de Mateus[1]

E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um homem, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu” (Mt 9.9).

Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu” (Mt 10.3).

E, depois disto, saiu, e viu um publicano, chamado Levi, assentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu” (Lc 5.27,18)[2] (destaques / sublinhados meus).

O nome de Mateus aparece em todas as listas dos doze apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Destaquei, nos textos acima, as expressões “alfândega”, “publicano” (escritas pelo próprio autor) e “Levi”, em relação ao apóstolo Mateus, uma vez que estas resumem a identidade deste cobrador de impostos – profissional tido, muitas vezes, como traidor e/ou roubador do povo –, mas nesse caso específico, um escolhido por Jesus para compor seu Colégio Apostólico.

Mateus[3] foi um dos doze apóstolos de Jesus e também autor do Evangelho de Mateus. Ele aparece em todas as listas que relacionam os discípulos de Jesus, sendo elas: Mateus 10:3, Marcos 5:18, Lucas 6:15 e Atos 1:13.

Não encontramos muitas informações biográficas sobre Mateus na Bíblia. Na verdade, além das listas com o nome dos discípulos, o apóstolo Mateus aparece apenas em outros dois episódios em todo o Novo Testamento.

Sobre a escolha do apóstolo Mateus, um dos dois relatos em que o apóstolo Mateus aparece na narrativa bíblica além das listas de apóstolos descreve justamente sua chamada para ser discípulo de Cristo. Uma curiosidade sobre isto é que a escolha do apóstolo Mateus é a única chamada individual de um discípulo registrada nos Evangelhos Sinóticos[4]. O próprio Mateus denomina-se como o publicano, cobrador de taxas e impostos a serviço do Império Romano. Essa classe de trabalhadores era desprezada pelos demais judeus que a reputavam praticamente como traidora de seu próprio povo.

Pelo contexto histórico da época, é possível que Mateus estivesse sob as ordens de Herodes Antipas, o tetrarca da Galileia. Considerando o ofício que desempenhava, o apóstolo Mateus provavelmente era uma das pessoas mais cultas do grupo dos discípulos de Jesus.

 Jesus encontrou Mateus “sentado na coletoria”, ou seja, na alfândega, nas proximidades de Cafarnaum, e lhe ordenou que O seguisse (Mt 9.9). Esse local em que o apóstolo Mateus estava era um dos postos fiscais geralmente estabelecidos em estradas, pontes, canais ou nas margens dos lagos para coletar taxas e impostos. T

Merece destaque também que o nome “Levi” que aparece nos Evangelhos. E, como este nome não é mencionado em nenhuma das listas de discípulos de Jesus é amplamente aceito que Mateus e Levi tenham sido a mesma pessoa. Nos Evangelhos de Marcos (2.14) e Lucas (5.27), lemos que Jesus ordenou que Levi o seguisse, numa descrição muito semelhante ao registro do Evangelho de Mateus 9.9 onde o apóstolo foi convocado.

Entendendo então que Levi e Mateus são as mesmas pessoas, logo somos informados de que ele era filho de Alfeu (Mc 2:14). Sabemos também que Tiago, outro apóstolo de Jesus, também era filho de Alfeu. No entanto, não há informações necessárias para que possamos afirmar que se tratava do mesmo Alfeu e, consequentemente, que Tiago Menor e Mateus foram irmãos.

Ainda sobre sua dupla designação (como Levi e Mateus), existe a chance de que seu nome principal era Levi, mas que depois de se tornar apóstolo de Jesus, ele preferiu ser chamado por outro nome, no caso Mateus, tal como Simão Pedro também o fez.

Após o Pentecostes descrito em Atos dos Apóstolos capítulo 2, a Bíblia não nos fornece mais nenhuma informação sobre o apóstolo Mateus. Algumas tradições, sem qualquer comprovação histórica, sugerem que em algum momento após o Pentecostes Mateus partiu para Etiópia, Macedônia, Síria e outras localidades. Uma dessas tradições defende que o apóstolo Mateus morreu de causas naturais estando ou na Macedônia ou na Etiópia. Por outro lado, tradições gregas e romanas afirmam que o apóstolo sofreu martírio. Quando? Possivelmente, em 72[5]

Bem, a obra maior de Mateus é o Evangelho que leva o seu nome, o Evangelho Segundo Mateus. E apesar de alguns críticos defenderem que o apóstolo não pode ter sido o autor do Evangelho que leva seu nome, a tradição cristã, desde a Igreja Primitiva, atribui ao apóstolo Mateus a autoria do primeiro Evangelho. Na verdade, o que pode ser dito é que nenhum argumento contrário à autoria do apóstolo pode ser sustentado à luz de uma análise profunda da questão.

Veja também, a seguir, o vídeo de Lamartine Posella sobre Mateus:



Notas / Bibliografia:

  •  [1] Imagem meramente ilustrativa. Disponível em: <https://theotoucharis.wixsite.com/theo/single-post/2016/03/10/serm%C3%A3o-o-chamado-de-mateus>. Acesso em 22/11/2021.
  •  [2] Todas as referências bíblicas utilizadas neste post são da versão online Almeida Corrigida Fiel. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>.
  •  [3] O texto a seguir é uma reescrita com adaptações do artigo de Daniel CONEGERO: In: <https://estiloadoracao.com/quem-foi-o-apostolo-mateus/>. Acesso em: 22/11/2021
  •  [4] Evangelhos Sinóticos são aqueles que narram a vida e ministério de Jesus sob uma mesma ótica, mesmo ponto de vista ou visão conjunta. São eles: Mateus, Marcos e Lucas.
  •  [5] Segundo a Wikipedia, In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mateus_(evangelista), Mateus morreu em Hierápolis ou Etiópia, c. de 72.

22 de novembro de 2021

Tiago Menor

Tiago Menor [1]

Já vimos em artigos anteriores sobre Tiago Maior, que foi apóstolo, juntamente com seu irmão João, e ambos eram filhos de Zebedeu, e Tiago, irmão do Senhor, autor da Epístola que leva o seu nome. E neste breve artigo queremos destacar a pessoa do outro apóstolo Tiago, que era filho de Alfeu.

Este Tiago (Ἰάκωβος, Jacobos em grego antigo) era conhecido também como Tiago Menor. Por que “menor”? Possivelmente, por causa de sua estatura física – mais baixa que a do outro Tiago ou por ser de menos idade. A NVI (Nova Versão Internacional), por exemplo, refere-se a este Tiago como “o mais jovem”, em Marcos 15.40. De qualquer forma, ele pode ter tido ambos os adjetivos: era mais baixo e possivelmente o mais novo dos Tiagos ou dos demais apóstolos.

As referências sobre Tiago, filho de Alfeu são poucas no Novo Testamento. Ele aparece ligado a seu pai (Alfeu) nas listas dos apóstolos, de Mateus 10.2,3, Marcos 3.17,18, Lucas 6.14,15 e Atos 1.13, sempre para diferenciá-lo do outro Tiago, que era filho de Zebedeu e que aparece também nas mesmas listas. E, pela referência de Marcos 15.40, sua mãe se chamava Maria – ... Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José... –. Observa-se que por esta referência de Marcos, Tiago Menor tinha um irmão chamado José, que não deve ser confundido com o outro José, irmão do outro Tiago e de Jesus, conforme vemos na lista dos irmãos de Jesus, relatada pelo mesmo evangelista (Mc 6.3 – “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele”.

Como já dissemos, não há muitas referências acerca de Tiago, filho de Alfeu, no Novo Testamento, embora, obviamente, ele tenha continuado sua missão apostólica depois da ressurreição de Jesus e do Pentecostes, sem que isso ficasse registrado nos textos sagrados.

A posição, defendida por nós aqui, é a mesma defendida por teólogos protestantes [2]. Por parte de católicos, ao contrário, este Tiago ganha uma relevância muito grande, pois é visto como o outro Tiago, conhecido como Tiago, irmão de Jesus  (ou primo de Jesus, segundo os católicos) que foi líder da igreja em Jerusalém e autor da epístola que leva o seu nome. Ou seja, enquanto protestantes destacam três principais Tiagos (o filho de Zebedeu, o filho de Alfeu e o irmão de Jesus), para católicos, estes dois últimos são a mesma pessoa. Já tratei parcialmente destas questões neste artigo, mas para maior aprofundamento do assunto, sugiro estes outros artigos do historiador e teólogo Lucas Banzoli:

·         Refutando objeções de Tiago.

·         Quem é Maria, mãe de Tiago e José?

·         Flávio Josefo é a prova irrefutável de que Tiago era irmão (e não primo) de Jesus!

·         Os irmãos de Jesus eram primos?, etc.

Obviamente, os artigos de Banzoli são voltados, principalmente, para o Tiago, irmão do Senhor, a seus pais (José e Maria) e demais membros da família. Mas para fazer esta separação dos Tiagos (filho de Alfeu e irmão de Jesus), vale a leitura destes e outros artigos, além de vídeos mencionados (links) por ele.

Sobre a morte de Tiago Menor, não sabemos quando a mesma ocorreu, mesmo porque as informações deixadas por Josefo, Clemente, Eusébio etc., atribuídas a Tiago Menor, normalmente são confundidas com as do Tiago, irmão do Senhor. Franklin FERREIRA [3], afirma que “Tiago, o Menor, foi lançado de um pináculo do templo em Jerusalém e depois espancado até morrer”. Quando? Possivelmente, no ano 62 (Wikipedia). 

Bem, no vídeo abaixo, Marlon Engel, faz um bom resumo da vida de Tiago Menor. No mais, o importante saber é que na verdade, a exemplo dos demais apóstolos, afirma Engel, “... a importância dos discípulos não estava nas suas descendências (...). O que fez estes homens importantes foi o Senhor a quem serviram e a mensagem que proclamaram”.



Notas / Bibliografia:

[1] Tiago Menor. Foto meramente ilustrativa. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Santiago_Menor>. Acesso em: 14/05/2020.

[2] Por exemplo, em O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1979 (3ª ed.), Vol. III. Pág. 1608 e 1609.

[3] FERREIRA, Franklin. Servos de Deus: espiritualidade e teologia na história da igreja. SÃO José dos Campo, SP, 2014, Pág. 37.

7 de setembro de 2021

A República do Brasil: história e consolidação

Por: Alcides Barbosa de Amorim

Proclamação da República, de Benedito Calixto[1]

República (do latim res publica = “coisa pública”), é a forma de governo, cujo chefe do Estado, normalmente o Presidente, é eleito pelos cidadãos por tempo limitado de acordo com a Constituição do país. No caso do Brasil, o tempo estipulado pela Constituição para o mandato do Presidente da República é de quatro anos, podendo ser reeleito para mais quatro, caso seja a vontade dos eleitores.

A origem desta forma de governo está na Roma Antiga e foi experimentado, pela primeira vez, quando os patrícios, classe privilegiada, destronou o último etrusco do poder, e implantaram este novo regime, instaurando o chamado Período Republicano que durou entre 509 a 27 a.C.

1.    Ideias republicanas no Brasil Colônia

No Brasil, que viveu sob a tutela de Portugal por mais de três séculos, a ideia de implantação do regime republicano já existia desde o final do século XVIII. Com tendências separatista e regionalizada, podemos perceber essa ideia em movimentos como a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana (1798) e a Insurreição Pernambucana de 1817.

Inconfidência Mineira, que culminou com a morte de Tiradentes em 1792, foi o primeiro movimento que manifestou claramente a interação de separação política de Portugal. Influenciada pelo Liberalismo, o Iluminismo e a Independência dos Estados Unidos, parte dos inconfidentes, no plano político, “almejava a república”.

A conjuração pretendia eliminar a dominação portuguesa das Minas Gerais, estabelecendo um país independente. Não havia a intenção de libertar toda a colônia brasileira, pois naquele momento uma identidade nacional ainda não havia se formado. A forma de governo escolhida foi o estabelecimento de uma República, inspirados pelas ideias iluministas da França e da Independência dos Estados Unidos da América (1776). Ressalve-se que não havia uma intenção clara de libertar os escravos, já que muitos dos participantes do movimento eram detentores dessa mão-de-obra[2].

Após a execução de Tiradentes sobrava o lema da Inconfidência: “Liberdade ainda que tardia”, expressão que ficou marcada na bandeira de Minas Gerais.

Sobre a Conjuração Baiana, a revista Nova Escola (novembro de 2012), por exemplo, em um de seus artigos sob o título “Aconteceu na França, respingou aqui”, menciona o fato de ela ter tido grande influência no exemplo da República, implantada na França, como parte do processo da Revolução. ‘Todos serão iguais, não haverá diferença, só haverá liberdade, igualdade e fraternidade’. Esta declaração descrita em panfletos no dia 12 de agosto de 1798, convocava as pessoas à revolução e à instauração da República Baiana. O movimento revolucionário foi reprimido com violência e com a execução dos conjurados, mas expressou a popularidade do movimento.

Em Pernambuco, a chamada Insurreição Pernambucana contou com representantes de várias classes. “Os presos políticos foram libertados, criou-se a bandeira da República Pernambucana, extinguiram-se os títulos de nobreza e aumentou-se o soldo militar”. (Costa & Mello, Op. Cit., página 100). As forças metropolitanas mataram, prenderam e executaram insurretos, mas a Insurreição deixou implantada as ideias republicanas, as quais se manifestariam, novamente, em 1824, na chamada Confederação do Equador, movimento que envolveu outras províncias nordestinas e que também chegaram a implantar uma República, ainda que tenha durado por pouco tempo.

Independência Política do Brasil, ocorrida em 1822, além de não trazer nenhuma mudança significativa das condições de vida da maioria da população pobre, formada principalmente por escravos e mestiços, apresentava algumas diferenças entre o que ocorreu no Brasil e em outros países da antiga América Espanhola. Enquanto lá foi adotada a república logo em seguida à independência, o Brasil continuou sendo governado por um monarca (e ainda) membro da família real de sua ex-metrópole. A República só aconteceria no Brasil em 1889.

2.    O movimento republicano e o fim do Segundo Reinado

Durante o Império, revoltas como a da Revolução Farroupilha (1835 a 1845), por exemplo, representaram a tentativa de acabar com a monarquia no Brasil. E após a Guerra do Paraguai (1864 a 1870), os militares, “vitoriosos” da guerra, voltaram para o Brasil com ideias abolicionistas, republicanas e com grande prestígio popular. Faltavam apenas algumas pinceladas para que a República surgisse totalmente definida. “Não é a república que vem, é o império que vai”, dizia-se na época.

“A centralização, tal como existe, representa o despotismo, dá força ao poder pessoal que avassala, estraga e corrompe os caracteres, perverte e anarquiza os espíritos, comprime a liberdade, constrange o cidadão, subordina o direito de todos ao arbítrio de um só poder, nulifica de fato a soberania nacional, mata o estímulo do progresso local, suga a riqueza peculiar das províncias, constituindo-as satélites obrigadas da Corte – centro absorvente e compressor que tudo corrompe e tudo concentra em si”[3].

O trecho do discurso republicano acima demonstra a intenção de descentralizar o poder do rei e dar mais autonomia às províncias. Na verdade, o que os republicanos pretendiam era atender às conveniências das camadas dominantes locais, representados pela ala radical do antigo Partido Liberal. Esse setor – radical – adota as ideias republicanas e funda no Rio de Janeiro, em 1870, o Partido Republicano que, pouco a pouco, seria criado também em São Paulo (1873) e em Minas Gerais (1888).

Os adeptos do Partido Republicano dividiram-se em duas facções: uma, evolucionista, cujo principal líder era Quintino Bocaiuva, era favorável à implantação da República por meio de eleições, e a outra, revolucionária, cujo principal líder era Silva Jardim, entendia que somente uma revolução popular derrubaria a monarquia.

O que acabou prevalecendo, no entanto, não foi nenhuma das facções acima e, sim, um golpe tramado pelos militares (uma verdadeira quartelada) e os cafeicultores. Na manhã do dia 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca e suas tropas invadiram o Ministério da Guerra, onde os monarquistas estavam refugiados, destituíram Ouro Preto (último primeiro-ministro, que respondia pelo imperador, que estava doente). Os monarquistas não reagiram, e assim, dentro de um gabinete militar, a república foi instaurada. Mais uma vez, assim como aconteceu em 1822, sem a participação popular.

3.    A consolidação da República: Governo Provisório e Constituição de 1891

Em 15 de novembro de 1889, foi proclamada oficialmente a república brasileira pelo Marechal Deodoro da Fonseca, e este assumiu o governo, até que uma nova Constituição foi votada. Enquanto esta não saia, Deodoro toma algumas medidas, sob a forma de “Governo Provisório Republicano”.

As principais medidas tomadas pelo Governo Provisório[4] foram:

§  Estabelecimento da República federativa como regime político, sob a denominação de Estados Unidos do Brasil.

§  As províncias passam a se chamar estados.

§  Absolvição das Assembleias Provisórias e das Câmaras Municipais.

§  Nomeação de novos governantes para os estados e municípios.

§  Criação da bandeira republicana, com o lema positivista Ordem e Progresso.

§  Concessão da cidadania brasileira aos estrangeiros aqui residentes (a grande naturalização).

§  Convocação de uma Assembleia Constituinte.

§  Separação entre Igreja e Estado, instituição do casamento civil e secularização dos cemitérios;

§  Reforma do Código Penal.

Entre os direitos dos cidadãos, a Constituição – conjunto de leis que estabelecem os direitos e os deveres dos cidadãos – estabeleceu:

§  a igualdade de todos perante a lei;

§  liberdade religiosa e separação entre o Estado e a Igreja;

§  a inviolabilidade do lar e o sigilo da correspondência (isto é, todos teriam o direito de não ter a casa invadida nem a correspondência aberta);

§  a manutenção da propriedade particular;

§  o livre exercício de qualquer profissão;

§  a liberdade de associação e de manifestação de pensamento;-o casamento civil;

§  o ensino leigo (não religioso) nas escolas públicas;

Para votar e ser votado, o cidadão já não precisava ter renda mínima anual. Bastaria ser maior de 21 anos e do sexo masculino, desde que não fosse mendigo, analfabeto, soldado raso ou membro de ordem religiosa[5].

Durante o Governo Provisório, o ministro da Fazenda foi Rui Barbosa, que pretendendo tornar o Brasil uma república capitalista moderna e com muitas indústrias, permitiu a alguns bancos imprimir e emprestar dinheiro. Com o dinheiro fácil, muita gente começou a pedir empréstimos e investir na bolsa de valores. Assim, muitas empresas fantasmas foram criadas só para conseguir investimentos. No fim, veio a crise: a desvalorização do dinheiro, a desorganização financeira, a falência das empresas, grandes e pequenas fortunas perdidas etc. Essa crise recebeu o nome de Encilhamento, devido à semelhança que existia entre a barulheira feita na hora do fechamento dos negócios na bolsa de valores e na do fechamento das apostas no jóquei (clube de corridas de cavalos).

Tanto os fazendeiros (que queriam continuar mandando no país) como as empresas estrangeiras (que queriam continuar exportando para o Brasil e por isso eram contra a industrialização) começaram a exigir o afastamento de rui Barbosa e a fazer oposição ao presidente Deodoro da Fonseca. Este, para tentar se manter no poder, demitiu Rui Barbosa e colocou em seu lugar um monarquista conservador, o barão de Lucena, que era contra a política de rui Barbosa e defendia o predomínio da agricultura sobre a indústria. Agora eram os reformistas e industrialistas que protestavam.

Diante da forte oposição, o presidente não teve dúvidas: no dia 3 de novembro de 1891 fechou o congresso e convocou novas eleições, embora a Constituição não lhe desse poderes para isso. A reação foi grande. As Forças Armadas não apoiaram o presidente, que, sem outra alternativa, no dia 23 de novembro declarou aos militares: “Não sou mais o presidente da República”, sendo sucedido pelo Marechal Floriano Peixoto.

 

Bandeira do Brasil

A ideia da bandeira atual foi elaborada pelo professor Raimundo Teixeira Mendes, que contou também com a participação do Dr. Miguel Lemos e o professor Manuel Pereira Reis e quem realizou a confecção do desenho foi o pintor Décio Vilares[6].

O Congresso Constituinte começou seus trabalhos em 15 de novembro de 1890 e, em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a segunda Constituição do Brasil e a primeira da República. A nova Constituição organizou o governo em três poderes autônomos: Poder Executivo, exercido pelo presidente da República; Poder Legislativo, exercido pelo Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado) e Poder Judiciário, exercido pelo Supremo Tribunal Federal.

Veja no vídeo (link abaixo), o Hino da República do Brasil[7]:

§  Letra: Medeiros e Albuquerque, 1890.

§  Composição: Leopoldo Américo Miguez, 1890.

§  Publicação: Diário Oficial, em 21/01/1890.


Para reflexão: 

A Proclamação da República foi um golpe?

Veja o vídeo (link a seguir) a seguir...



Notas / Referências bibliográficas:

  •  [1] SOUSA, Rainer. A Proclamação da República. Disponível em: <http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-proclamacao-republica.htm>. Acesso em: 07/09/2021.
  •  [3] Trecho do MANIFESTO DOS REPUBLICANOS. In. COSTA, Luís César Amand & MELLO, Leonel Itaussu A. História do Brasil. São Paulo: Scipione (?), p. 178.
  •  [4] COTRIM, Gilberto. Saber e Fazer História, 8ª Série (Adaptado). São Paulo: Saraiva, 2002. P. ?.
  •  [5] PILETTI, Nelson & Claudino. História: EJA (Educação de Jovens e Adultos), Ensino Fundamental, 4º Ciclo (texto adaptado). São Paulo: Ática, 2003, p. 100.
  •  [6] BNDEIRA do Brasil. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_do_Brasil>. Acesso em: 07/09/2021.
  •  [7] Hino da Proclamação da República. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Hino_da_Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica>. Acesso em: 07/09/2021.

28 de agosto de 2021

O Apóstolo Tomé

Tomé[1]

Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!
Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20.24-29)[2] – Grifos meus
.

Tomé (em aramaico te`ômã`), foi um dos apóstolos de Jesus, também chamado Dídimo (em grego), que significa “gêmeo”, (Jo 11.16; 20.24; 21.2). Embora seu nome apareça nos quatro Evangelhos do Novo Testamento, os traços sobre sua personalidade aparecem principalmente no quarto: Evangelho de João. Por isso que destaquei na passagem acima a expressão “incrédulo”, atribuída a ele por Jesus, pelo fato de ele descrer de sua ressurreição, e a sua resposta “Senhor meu, e Deus meu”, uma das grandes verdades a respeito da divindade de Jesus, reconhecida por ele em seguida, um (possivelmente) ex-incrédulo, que entendeu rapidamente o pedido de Jesus para mudar de atitude e ser “crente”, depois de ser confrontado com a verdade de que Jesus tinha ressuscitado e que ele podia até tocar em suas feridas provocadas pelas lanças dos seus algozes. Por estes motivos, acho que ele pode também bem ser adjetivado como um apóstolo de personalidade racional e dúbia, uma vez que ele tinha dificuldade de crer em milagres, mas também, uma vez ciente da verdade a que buscava, ele a defendia naturalmente.

Devido ao significado de seu nome, parece evidente que Tomé tenha tido um irmão gêmeo, porém não existe qualquer informação sobre esse irmão ou irmã dele nos Evangelhos. Também é no Evangelho de João – repito – que encontramos as melhores informações sobre quem foi Tomé, visto que nos outros Evangelhos e no livro de Atos ele é meramente mencionado na lista que traz os nomes dos apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6,15 e At 1.13).

Ainda um pouco mais sobre a personalidade de Tomé, percebe-se que ele demonstra pessimismo e uma enorme devoção ao Senhor ao mesmo tempo, por exemplo, quando da ressurreição de Lázaro. Nesta ocasião, Tomé, considerando a ameaçava real de apedrejamento caso Jesus fosse à Judéia, declarou: “...vamos também nós para morrermos com ele” (Jo 11.16b). Embora Tomé demonstre desânimo e pessimismo frente a possibilidade de ser morto, ele declara sua aptidão a morrer – se fosse o caso – juntamente com o seu Senhor. Todavia, esta aparente prontidão de morrer com Jesus não fica demonstrada por Tomé quando Jesus é preso. Naquele momento, ele e os demais apóstolos fugiram. Embora, pelas Escrituras do Antigo Testamento, isto de fato aconteceria para cumprimento da profecia que afirma: “... ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão” (Mc 14.27c) – conforme Zacarias 13.7.

Tomé[3] também demonstrou dúvida acerca do ensino do Senhor Jesus de que os discípulos conheciam o caminho para onde Ele estava indo, ao dizer: Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?” (Jo 14.5). É possível que Tomé, nesse questionamento, estivesse representando o pensamento dos outros discípulos. De qualquer forma, essa frase revela certa fraqueza, mas que é imediatamente confrontada com a conhecida resposta do Senhor Jesus: Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim (Jo 14.6).

Mas Tomé viu o Cristo ressurreto, seu Senhor e seu Deus. Após sua ressurreição, como já vimos, Tomé demonstra incredulidade e depois revela o atributo da onisciência de Jesus, portanto, de um Cristo Deus, o qual tinha visto e ouvido suas demonstrações de incredulidade, oito dias antes. O texto bíblico não esclarece se Tomé tocou ou não nas feridas de Jesus, ou se apenas esse terno convite, respondendo nos mínimos detalhes a sua exigência, já tenha bastado. Em todos os casos, seja qual tenha sido sua reação, ela o conduziu prontamente à sua profunda declaração de fé: “Senhor meu, e Deus meu!” (João 20:28). E sendo Deus, Jesus é reconhecido por Tomé e pelos cristãos, como uma das pessoas da Trindade (cf. Jo 1.1-3).

Tomé também estava presente junto aos discípulos que pescavam num barco no mar da Galileia quando Jesus novamente apareceu a eles (João 21).

Além destes (e outros) relatos bíblicos expostos acima, há muitas especulações e (possíveis) lendas a respeito de Tomé na tradição cristã. Uma dessas “lendas” (ou não) que já destacamos, por exemplo, em outro momento, afirma que Tomé esteve no (que um dia viria a ser) Brasil. Segundo Jorge PINHEIRO[4], pelo menos dois grupos indígenas, o dos Tupinambá e o Tupi-Guarani, faziam menção a um tal “Pai Çumé” (ou Sumé), ou seja, Tomé, um dos apóstolos de Cristo. “... os tupis [por exemplo] acreditavam que Çumé partiu caminhando sobre as águas do Atlântico, mas prometeu voltar um dia para continuar sua obra civilizatória. Quem sabe a profecia se cumpriu e Çumé retornou com a chegada dos jesuítas?”, diz Jorge (PINHEIRO: 2008, p. 104). Há outras “possíveis” referências sobre Tomé também na Bahia, Peru, Bolívia..., e há informações também que Tomé pregou o Evangelho na Índia e Síria.

Sobre sua morte, não é possível afirmar qualquer coisa realmente confiável sobre como ela aconteceu. Segundo Franklin Ferreira, “Tomé foi morto por lanceiros próximo a Madras[5], cidade indiana, no ano 72[6]. É bem possível que haja algum autor gnóstico com o mesmo pseudônimo de Tomé, mas – concordamos com Conegero (NOTA 3) – o que realmente precisamos saber a respeito de Tomé, as informações registradas na Bíblia acerca dele são suficientes. Aquele Tomé, popularmente conhecido como “incrédulo” é também aquele que o Evangelho de João o apresenta como revelador de um dos mais profundos atributos de Jesus Cristo: a sua deidade, expressa na confissão “Senhor meu, e Deus meu!”.

Sugiro vídeo de Lamartine Posella, abaixo, como ampliação deste conteúdo...



Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] Imagem meramente ilustrativa. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A9,_o_Ap%C3%B3stolo>. Acesso em: 28/08/2021.
  • [2] Esta e as demais passagens bíblicas utilizadas neste artigo são da versão protestante ACF – Almeida, Corrida Fiel, disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>. Acesso em: 28/08/2021. 
  • [3] CONEGERO, Daniel. Quem Foi o Apóstolo Tomé? (Texto adaptado). Disponível em: <https://estiloadoracao.com/quem-foi-o-apostolo-tome/>. Acesso em: 28/08/2021. 
  • [4] PINHEIRO, Jorge. Deus é brasileiro: as brasilidades e o reino de Deus. São Paulo: Fonte Editorial, 2008. 
  • [5] FERREIRA, Franklin, O martírio cristão. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/franklin-ferreira/o-martirio-cristao/?#success=true>. Acesso em: 28/08/2021. 
  • [6] Veja NOTA 1.