GONZÁLEZ, Justo L. E até aos confins da Terra: uma história
ilustrada do Cristianismo: a era dos novos horizontes – Vol.
9. São Paulo: Vida Nova, 1988 (1ª ed.), pág. 117 a 127.
“Afirmo que somos a
primeira raça do mundo, e que quanto maior for a parte do mundo que povoemos,
mais se beneficiará a humanidade” (Cecil Rhodes).
“Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fp 1.20-23)[2].
Já estudamos em outro momento, no post escatologia, estudo das últimas coisas, e como parte destas (coisas), vimos também sobre a morte. O que vem após a morte e antes da ressurreição dos mortos é o que chamamos de estado intermediário, assunto deste artigo (post). Portanto, é importante ler antes o assunto anterior (morte) pois este é continuação do mesmo.
A salvação efetuada por Jesus não diz respeito apenas à redenção da alma ou espírito, ou seja, às partes metafísicas do homem. A estrutura do homem é composta de “espírito, e alma, e corpo” (1Ts 5.23). Por isso, acontecerá a ressurreição de toda pessoa, uma vez que a sua estrutura se desligará com a morte física. Mas enquanto isto não acontece, deve ser observado, conforme afirma Myer PEARLMAN[3], que os justos não receberão sua recompensa final nem os ímpios seu castigo final, enquanto não ocorrem as suas respectivas ressurreições. Ambas as classes estão num estado intermediário, aguardando esse evento. Os cristãos falecidos vão estar ‘com o Senhor’, mas não recebem ainda o galardão final.
O estado intermediário dos justos descreve-se como:
um estado de descanso, espera e repouso:
“E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem” (Ap 14.13).
“E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram” (Ap 6.10,11).
um lugar de serviço e de santidade:
“E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra” (Ap 7.14,15) etc.
Em relação ao estado intermediário dos ímpios:
Os ímpios também passam para um estado intermediário, onde aguardam o castigo final, que se realizará depois do juízo do Grande Trono Branco, quando a Morte e o Hades (ou Sheol) serão lançados no lago de fogo.
“E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte” (Ap 20.14).
Mas há opiniões que as consideramos errôneas em relação ao estado atual dos mortos. Queremos destacar duas delas: o purgatório e o sono da alma.
Purgatório: doutrina defendida pela Igreja Católica Romana, que diz respeito ao processo de purificação que os fiéis precisam antes de se tornarem aptos para entrar na presença de Deus.
O dogma do purgatório teve início na Idade Média e foi um dos estopins da Reforma[4]: a venda de indulgências feita pela igreja para abreviar o tempo das almas dos entes queridos que estavam se purgando para entrarem no céu.
Não encontramos respaldo bíblico para fundamentar o dogma do purgatório. Pelo contrário, as Escrituras atribuem ao sangue de Cristo ilimitada eficácia. Não há purificação dos pecados fora do sangue de Cristo. Sofrer no purgatório seria pagar uma conta que Jesus já pagou com sua morte e seu sangue derramado por nós. E só há duas classes de pessoas: salvas (os que aceitam este sacrifício de Cristo) e perdidas (os que rejeitam este sacrifício). E para ambas as classes, depois da morte, segue-se o juízo. “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação” (Hb 9.27-28). E mais: “... todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal” (2Co 5.10).
Sono da alma: defendida por certos grupos, como os Adventistas do Sétimo Dia. Eles creem que a alma permanecerá num estado inconsciente até à ressurreição. Segundo esta crença, a alma fica suspensa “... entre o momento da morte pessoal e o tempo quando nosso corpo será ressuscitado. Quando nosso corpo ressuscitar dos mortos, a alma será despertada para iniciar uma continuidade pessoal e consciente no céu. Embora séculos possam se passar entre a morte e a ressurreição final, a alma ‘adormecida’ não terá consciência da passagem do tempo”[5].
É verdade que a Bíblia descreve a morte como um sono, por exemplo em Lucas 8.52, quando Jesus disse sobre a filha de Jairo, que ela não estava morta, mas dormia: “Ela não está morta, mas dorme”. Mas “esse dormir” é em razão de o crente, ao falecer, perder a consciência para com o mundo cheio de fadiga e sofrimento e acordar num reino de paz e felicidade.
Destaco ainda a diferença entre Queber e Hades ou Sheol, descritos na Bíblia como sendo destinos dos mortos. No Antigo Testamento, referências como Gênesis 50.5; Êxodo 14.11; 2Samuel 3.32; 1Reis 13.30; 2Crônicas 16.14 e outras, a palavra hebraica queber aparece traduzida em nossas versões em português como sepultura, cova ou túmulo, enquanto referências – cf. Pearlman –, como Isaías 14.9-11; Salmo 16.10; Lucas 16.23; 23.43; 2Coríntios 5.8; Filipenses 1.23; Apocalipse 6.9 e outras, onde aparecem as palavras Hades (Hebraico – A.T.) ou Sheol (Grego – N.T.), ambas com o mesmo sentido, têm significados muito diferentes de queber. Ou seja, estas expressões (Hades ou Sheol) ultrapassam o sentido de sepultura, propriamente dito, e referem-se ao “mundo invisível”, dos mortos. Afirma o Pr. João Flávio Martinez[6]: “Observe agora o contraste entre as palavras Sheol (mundo invisível) e Queber (sepultura, cova, túmulo) no A.T.:
Concluímos, então, que o uso da palavra queber prova que ela significa sepultura, túmulo, que acolhe o cadáver, enquanto o Sheol acolhe o espírito do homem”.
Seguindo ainda a opinião de Martinez, que é a da maioria dos protestantes, ele destaca o ANTES e o DEPOIS do calvário. Ele afirma que antes do Calvário, o Sheol-Hades dividia-se em três partes distintas: a primeira parte, o lugar dos justos, chamada Paraíso, Seio de Abraão ou Lugar de consolo (cf. Lc 16.22,25); a segunda, parte dos ímpios, e é denominada lugar de tormento (Lc 16.23) e a terceira, que fica entre a dos justos e a dos ímpios, e é identificada como lugar de trevas, Lugar de prisões eternas, Abismo (Lc 16.22; 2Pe 2.4; Jd. v. 6), local onde Satanás será preso durante o Milênio, e onde se encontra aprisionada uma classe de anjos caídos, a qual não sai desse abismo, senão quando Deus permitir nos dias da Grande Tribulação.
Depois do Calvário, houve uma mudança dentro do mundo dos mortos. Depois da sua morte, Jesus esteve três dias no coração da Terra, isto é, no Paraíso, do qual Ele havia dito ao malfeitor (cf. Lc 23.43). Por esta ocasião, Cristo aproveitou a oportunidade e “pregou (proclamou) aos espíritos em prisão, os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé” (1 Pe. 3.18-20). Depois disso efetuou a grande mudança no Sheol-Hades, “subindo ao alto levou cativo o cativeiro” (Ef 4.8), isto é, trasladou o Paraíso para o terceiro céu, na presença de Deus, debaixo do seu altar (Ap 6.9), separando completamente das partes inferiores onde continuam os ímpios mortos. E isto foi o cumprimento cabal de sua promessa, quando esteve ainda na terra: “... e as portas do inferno (Hades) não prevalecerão contra a minha Igreja” (Mt 16.18). Conclui, Martinez, que somente os justos gozam dessa mudança em esperança pelo dia final quando esse estado temporário se acabará, e viverão para sempre com o Senhor, num corpo espiritual ressurreto.
Em resumo, podemos afirmar que:
O estado do crente depois da morte é diferente e melhor do que o experimentado nesta vida. Mesmo assim, embora tão abençoado, depois da ressurreição final será ainda melhor (Fp 1.23).
Não há outras opções de purificação ou salvação depois desta vida, como purgatório, por exemplo. O sangue de Cristo é suficiente para os que recebem a Cristo como Salvador (Hb 9.22; 10.19; 1Jo 1.7). Nesse sentido, só há duas classes de pessoas: as salvas (os que aceitam este sacrifício de Cristo) e as perdidas (os que rejeitam este sacrifício). E é a aceitação a Ele, nesta vida, é o passaporte para a vida eterna. Depois da morte segue-se o juízo (Hb 9.27).
No estado intermediário iremos experimentar a continuação da existência pessoal e consciente na presença de Cristo.
Hades ou Sheol era o “mundo invisível” dos mortos, mas depois de sua morte, Jesus transportou o salvos, que estava no “Seio de Abraão ou Paraíso (parte superior do Hades/Sheol), para as regiões celestiais ou (possivelmente) “terceiro céu” (2Co 12.2), ou ainda “debaixo do altar” (Ap 6.9).
Em relação à ressurreição e aos destinos do salvos e não-salvos (céu e/ou inferno), pretendemos falar em outro momento. Por ora, sugiro o vídeo do canal Minuto Escatologia, com a participação do Pr. Marcos:
[2] Todas as referências bíblicas aqui utilizadas são da versão protestante ACF – Almeida, Corrigida Fiel.
[3] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: vida, 1978 (7ª ed.), p. 233-4.
[4] Veja mais sobre isto em “Afinal, existe, ou não, purgatório?”, com Augusto Nicodemos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3bdxoP0Rhhw>. Acesso em 18/06/2020.
GONZÁLEZ, Justo L. E até aos confins da Terra: uma história ilustrada do
Cristianismo: a era dos novos horizontes – Vol. 9. São Paulo:
Vida Nova, 1988 (1ª ed.), pág. 106 a 116.
Por GONZÁLEZ, Justo L. E até aos confins da Terra: uma história
ilustrada do Cristianismo: a era dos novos horizontes – Vol.
9. São Paulo: Vida Nova, 1988 (1ª ed.), pág. 090 a 105.
GONZÁLEZ, Justo L. E até aos confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo: a era dos novos horizontes – Vol. 9. São Paulo: Vida Nova, 1988 (1ª ed.), pág. 077 a 089.