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28 abril 2023

1984 – George Orwell – Parte 1 – Capítulo 1: O Grande Irmão

Por Alcides Barbosa de Amorim

Sobre 1984 de George Orwell, já falamos sobre dois assuntos, O Ministério da Verdade e alguns destaques iniciais e introdutórios sobre o livro. Neste post, quero resumir (veja também o resumo feito por Natália Barboni) o capítulo 1 da parte 1, destacando as ideias principais do capítulo.

Era um dia claro e frio de abril e os relógios marcavam treze horas…”. Assim começa o livro 1984, de George Orweel, cujo personagem principal, Winston Smith, que tinha 39 anos de idade, passava pelas portas de vidro das Mansões da Vitória, cujo hall de entrada tinha cheiro de repolho cozido e tapetes velhos de retalhos. Este local ficava a cerca de um quilômetro de distância de seu trabalho, o Ministério da Verdade, em Londres, a terceira cidade mais populosa das províncias da Oceania.

Já no hall do prédio Winston se depara com um imenso cartaz com o rosto enorme de um homem com cerca de 45 anos, que tinha um bigode preto farto e traços acidentalmente bonitos. Apesar de possuir uma úlcera varicosa e ser – talvez por conta disto – muito magro e frágil, Winston sobe as escadas até um apartamento no sétimo andar, vestido com um macacão azul, uniforme oficial do partido. Ao subir, depara, em cada andar, com o pôster com o rosto enorme que encarava quem passasse. A legenda do cartaz dizia: O GRANDE IRMÃO ESTÁ VENDO VOCÊ.

Dentro do apartamento, uma voz doce vinha de uma placa metálica, uma teletela. Esta tinha também o poder de filmar e gravar todo o ambiente. Aliás, até fora do apartamento, nas ruas, Winston Smith, da janela do apartamento, percebe o bigode negro vigiando todos em cada esquina, e na fachada da casa oposta, a legenda: O GRANDE IRMÃO ESTÁ VENDO VOCÊ, além de helicóptero vigiando telhados, a patrulha policial bisbilhotando as janelas das pessoas etc. Para as patrulhas, porém, a única coisa que importava era a Polícia do Pensamento.

Os três slogans do partido, que podiam ser lidos até a partir do prédio – Mansões da Vitória –, mesmo a um quilômetro distante, era: GUERRA É PAZ, LIBERDADE É ESCRAVIDÃO, IGNORÂNCIA É FORÇA.

Os Ministérios eram divididos em quatro casas, sendo cada uma delas a de um dos ministérios. Os quatro Ministérios eram:

  • Ministério da Verdade, que se preocupava com notícias, entretenimento, educação e artes plásticas.
  • Ministério da Paz, que se preocupava com a guerra.
  • Ministério do Amor (o mais assustador) que mantinha a lei e a ordem.
  • Ministério de Abundância, que se ocupava dos assuntos econômicos. 

Winston volta para a sala de estar e senta-se em uma pequena mesa que ficava à esquerda da teletela, de alguma forma, longe do seu alcance visual. E começa a escrever – uma espécie de diário –, porém ele sabe que se fosse detectado, mesmo não sendo aparentemente ilegal, (nada era ilegal, já que não havia mais leis), poderia ser punido com a morte, ou pelo menos com vinte e cinco anos em um campo de trabalho forçado. Mesmo assim, cria coragem e começa pela data: 04 de abril de 1984.

O diário de Winston Smith era para ser deixado para o futuro. Mas surge uma dúvida: com a Novalíngua ou duplopensar, como seria que pessoas no futuro iriam entender? Como poderia se comunicar com o futuro? Era impossível por natureza. Ou o futuro se assemelharia ao presente e, nesse caso, não o ouviria; ou seria diferente e sua situação não faria sentido.

Winston começa a escrever sobre um filme de guerra e para – de escrever – ao sentir dores de cãibras e também não entende porque tinha começado por aquele fluxo de lixo, as atrocidades da guerra. Depois, começar falar no diário sobre acontecimentos da manhã daquele dia no Ministério, por exemplo, num caso em que estava tomando seu lugar em uma das fileiras do meio quando duas pessoas que ele conhecia de vista, mas com quem nunca tinha falado, entraram inesperadamente na sala. Uma delas era uma garota com quem ele cruzava com frequência nos corredores, não sabia nem o nome dela, e não gostava da garota pois suspeitava ser ela uma pessoa perigosa a serviço da Polícia do Pensamento. A outra pessoa era um homem chamado O’Brien, um membro do Partido Interno, de alguma forma indefinível, curiosamente civilizado. Como não o conhecia direito apenas nutria a esperança de que a ortodoxia política de O’Brien não fosse perfeita.

Estavam reunidos no seu trabalho quando um discurso horrível explodiu da grande teletela no final da sala. Foi um barulho que fazia os dentes rangerem e arrepiavam os cabelos na parte de trás do pescoço. Os Dois Minutos de Ódio tinha começado, e o rosto de Emmanuel Goldstein, o Inimigo do Povo, havia piscado na tela. Acontecem assobios, medo e repugnância entre a plateia. Goldstein havia sido uma das figuras principais do Partido, quase no mesmo nível do próprio Grande Irmão, e depois havia se envolvido em atividades contrarrevolucionárias, fora condenado à morte, mas escapado misteriosamente e desaparecido, possivelmente estivera escondido em algum lugar na própria Oceania. Ele tinha um rosto judeu magro, auréola grande e felpuda de cabelos brancos e uma pequena barbicha. E Winston sente uma mistura dolorosa de emoções, pois o ouvira atacando as doutrinas do Partido. Estava abusando do Grande Irmão, denunciando a ditadura do Partido, exigindo o fim imediato da paz com a Eurásia, defendendo a liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade de reunião, liberdade de pensamento…

Winston mistura seu ódio ao da multidão contra Goldstein, ao perceber que para quase todos os presentes o Grande Irmão era de fato o protetor, invencível e destemido. Então os três slogans do Partido se destacaram na tela: GUERRA É PAZ, LIBERDADE É ESCRAVIDÃO, IGNORÂNCIA É FORÇA.

Após o pronunciamento de Goldstein, Wiston percebe, após seus olhos encontrarem o olhar de O’Brien por um breve momento, que este pensa como ele, isto é, ambos pensavam que o Grande Irmão era de fato uma péssima figura. Era como se suas duas mentes tivessem se aberto e os pensamentos fluído de um para o outro, “eu estou com você”, O’Brien parecia ter dito a ele. “Sei exatamente o que você está sentindo. Sei tudo sobre seu escárnio, seu ódio, sua repugnância. Mas não se preocupe, eu estou do seu lado”.

Seus olhos se reorientaram na página. Ele descobriu que enquanto ficou sentado sem fazer nada, ele também estava escrevendo, como se fosse uma ação automática, várias vezes a expressão: FORA GRANDE IRMÃO, FORA GRANDE IRMÃO, FORA GRANDE IRMÃO…, e sente medo! E enquanto isto alguém bate à porta. Quem era? Veremos no próximo capítulo.

Bem, sobre este capítulo, além de destacar o papel dos personagens, quero apenas comentar sobre a figura do Grande Irmão. Nos últimos três anos, pudemos perceber aqui no Brasil um isolamento social com monitoramento, e sobretudo no meu estado, São Paulo, sob o governo de João Dória, houve ameaças, inclusive, de controlar os cidadãos através de dados de telefones celulares. Senti bem de perto como o Estado – o Grande Irmão – quer estar de olho em todas as pessoas. E por isso resolvi adicionar abaixo o vídeo de Alex Carozza, de abril de 2020, que trata do tema.

Mas a fúria do Grande Irmão no Brasil todo hoje (2023), agora sob a figura de um novo governo, que teve a pandemia como um dos carros-chefes – o estopim da narrativa – e o desejo terrível de controlar as redes sociais, inspirado em governos ditatoriais de esquerda, está terrível. Estamos em vias de verem sendo aprovada a PL 2630, que está sendo chamada de “PL da Censura”. E a partir daí, se criará o tal “Ministério da Verdade”. Qual verdade? Aquela que o Estado determinar. Infelizmente, afirma Carozza, quando o “… Estado avança no controle, dificilmente volta atrás. A visão de George Orwell no livro intitulado ‘1984’ se torna finalmente possível pelo avanço das tecnologias modernas. Pense no efeito perigoso de juntar o avanço da tecnologia da informação com governos autoritários mundo afora…”

Só posso concluir lamentando que no Brasil, “o Grande Irmão está de olho em você”, em mim, em nós, sobretudo se o nós forem conservadores, cristãos, brancos, homens… E, se ainda por cima, forem bolsonaristas, aí então o OLHO do Estado estará mais aberto ainda.




Notas/Referências bibliográficas:

  • ORWELL, George. 1984 - George Orwell – Livro em PDF. Disponível por Gazeta do Povo. 1949. In: <1984 - George Orwell>.

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