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07 maio 2022

A grande Fome de Mao: como o comunismo na China matou mais que o holocausto

Por Editora de Ideias, Gazeta do Povo [1]



A Grande Fome na China Comunista (1958-1962 [2]


A ideologia insana de Mao Tsé-tung fez com que 45 milhões de chineses morressem de fome em apenas quatro anos.

Nunca se viu nada parecido na história da humanidade. Na tentativa de implantar à força o comunismo em todos os estratos da população, o líder comunista Mao Tsé-Tung [3] colocou em ação políticas que levaram os chineses a níveis extremos de fome: registros apontam que 45 milhões de pessoas morreram entre 1958 e 1962.

Para o historiador Frank Dikotter, as mortes elevam Mao à posição de maior assassino em massa da história mundial. Dikotter teve acesso a arquivos históricos sobre o regime maoísta logo após serem abertos, em 2006. Os dados encontrados foram a base para o seu livro “A Grande Fome de Mao”, lançado em 2010.

Segundo ele, a tortura, brutalidade e o assassinato sistemático de camponeses chineses é comparável à Segunda Guerra Mundial. Pelo menos 45 milhões de pessoas morreram de fome, espancamentos ou trabalho excessivo na China entre 1958 e 1962 — o número mundial de mortes na Segunda Guerra Mundial é de 55 milhões. “Ele se classifica ao lado dos gulags e do Holocausto como um dos três maiores eventos do século 20”, diz Frank.

Em seu livro, Dikotter conta que houve um “grau impressionante de violência”, catalogado em relatórios do Bureau de Segurança Pública. Os arquivos revelam que os agricultores das comunidades rurais eram vistos pelo Partido Comunista apenas como números para compor a força de trabalho; eram pessoas completamente desumanizadas.

Para aqueles que cometiam qualquer ato de desobediência, por menor que fosse, as punições eram drásticas.

Pessoas que cometessem infrações pequenas, como furtar alguns vegetais, inclusive crianças, eram amarradas e jogadas em uma lagoa. Pais foram obrigados a enterrar seus filhos vivos ou seriam afogados em excrementos e urina, outros foram imolados, ou tiveram o nariz ou a orelha cortados. As pessoas eram forçadas a trabalhar nuas durante o inverno. Em uma aldeia, 80% das pessoas (cerca de 200 mil) foram banidas da cantina oficial porque estavam muito velhos ou doentes para trabalhar.

Uma das medidas do governo maoísta foi a instituição, em 1958, de cantinas comunitárias e proibição de cozinhas individuais nas residências. A justificativa foi que as cozinhas residenciais seriam “símbolos de egoísmo”. Para o regime maoísta, a coletivização agrícola seria um passo fundamental para a construção de uma consciência socialista na China.

A “Comuna do Povo” foi um ponto central para esse objetivo, um sistema que consolidou os agricultores em comunas com uma média de 23.000 membros. Em outubro de 1958, 99,1% dos agricultores chineses foram colocados em comunas.

“Mao acreditava que o campo poderia se erguer se fosse devidamente motivado de forma ideológica e transformado em um centro de produção agrícola e industrial. Então o campo foi reorganizado em grandes comunas populares; propriedades privadas foram apreendidas e as famílias foram separadas para serem mais produtivas. As pessoas trabalharam o tempo todo, até a exaustão”, diz o professor de Estudos Chineses da Universidade Harvard, William C. Kirby.

As já citadas cantinas comunitárias, que ofereciam refeições gratuitas para a população, foram um eixo central das comunas. Um slogan popular ordenava que os chineses “abram os estômagos, comam quanto quiserem e trabalhem duro pelo socialismo”. A cozinha das cantinas era abastecida com os alimentos cultivados pelos agricultores da comuna, que eram obrigados a entregar toda a colheita.

Sem possibilidade de administrar os próprios estoques de comida e sujeitos a uma sucessão de erros e a corrupção dos planejadores centrais do regime, os chineses rapidamente começaram a sofrer com escassez nas cantinas e se encontraram sem alternativas para alimentação.

Em uma cidade na província de Henan, mais de um milhão de pessoas (um oitavo da população) foi morta pela fome em três anos. Em outra comuna próxima, um terço da população (mais de 12 mil pessoas) morreu em nove meses. Em todo o país, oficiais do governo obrigavam agricultores a declararem safras maiores que as reais, torturando ou executando quem indicasse safras realistas.

“As pessoas morriam e a família não enterrava porque ainda podiam receber suas cotas de comida; mantinham os corpos na cama e os cobriam e os cadáveres eram comidos por ratos. As pessoas comiam cadáveres e lutavam pelos corpos. Em Gansu, eles mataram pessoas de fora. As pessoas me disseram que estranhos passavam e os matavam e comiam. E eles comiam seus próprios filhos. Era terrível”, relata Yang Jisheng, autor do livro “Tombstone”, que reconta a história da Grande Fome Chinesa.

“Eu tinha 18 anos na época e só sabia o que o Partido Comunista me dizia. Todos fomos enganados. Eu era muito vermelho, estava em uma equipe de propaganda e acreditava que a morte de meu pai era uma desgraça pessoal. Nunca pensei que fosse problema do governo”, acrescenta.

A promessa de Mao Tsé-Tung para a China era a construção de um paraíso comunista por meio da revolução, coletivização de terras agrícolas e criação de comunas gigantescas rapidamente. Em 1958, ele lançou o “Grande Salto Para Frente”: um plano ambicioso para modernizar a economia chinesa que, assim como acontece com os grandes planos socialistas, se transformou em desastre.

Execução desastrosa, combinada a uma ambição de grandeza do ditador, levaram a China para a ruína: a economia do país não se recuperou até a década de 1970, e a agricultura chinesa nunca se recuperou da destruição daquela época. Antes de Mao, a agricultura chinesa era uma das mais produtivas do mundo, mas as políticas maoístas fizeram os agricultores perderem suas terras para o estado. “Foi em suma, não apenas má política, mas uma política criminosa. Foi um crime contra a humanidade”, afirma Kirby.

O objetivo de Mao era se tornar o imperador mais poderoso da história da China, mas também ficar à frente do movimento comunista internacional — ideia que foi comprada pelo país de forma generalizada. “É um processo histórico muito complicado, porque a China acreditava no maoísmo e adotou esse caminho. Não foi um erro de uma pessoa, mas de muitas pessoas”, diz Yang Jisheng.

Segundo Yang, a fome não foi um desastre como qualquer outro, mas sim resultado de totalitarismo. A análise do autor é contrária à narrativa oficial do governo chinês, que até hoje trata a Grande Fome como um desastre natural e nega o verdadeiro número de mortes. “O problema básico está no sistema. Eles não se atrevem a admitir os problemas do sistema. Isso pode influenciar a legitimidade do Partido Comunista”, conclui.

Mas a fome não foi apenas uma consequência de um regime cruel: ela foi usada como arma para fazer as pessoas trabalharem para o Partido Comunista. E tanto opositores quanto os inaptos ao trabalho foram empurrados para a morte.

Uma pesquisa de Felix Wemheuer, professor de Estudos Modernos da China na Universidade de Colônia, na Alemanha, aponta que no período socialista a fome delineou as relações entre o Estado e a população.

A crise do final da década de 1950 foi diferente de qualquer outra fome anterior que assolou a China: foi maior em extensão, em número de mortes, e consequência direta de políticas do governo maoísta. “Foi resultado de políticas verdadeiramente bizarras destinadas a fazer com que a China ‘saltasse’ para o comunismo de uma só vez”, explica Kirby.

Um estudo do Centro de Pesquisa de Política Econômica (EUA) corrobora a afirmação de Kirby: o levantamento indica que a produção de alimentos na China em 1959 foi quase três vezes maior do que o necessário para evitar a mortalidade por fome. Segundo a pesquisa, as regiões rurais que produziram mais alimentos per capita em 1959 sofreram maior mortalidade por fome, efeito inverso que normalmente acontece durante episódios semelhantes.

Notas:

[1] Texto copiado na íntegra de: As atrocidades do comunismo que você não aprendeu na escola. In: Gazeta do Povo. E-Book, publicado em abril de 2021, pp. 71 a 77.

[2] Imagem disponível em: <https://www.institutoliberal.org.br/blog/grande-fome-na-china-comunista-1958-1962/>. Acesso em: 07/05/2022.

[3] Mao Tsé-Tung (1893 – 1976) era um estadista; filho de fazendeiro; professor na universidade de Beijing, onde toma contato com o marxismo; participou, em 1921, da fundação do Partido Comunista (PCCh), em Xangai, e criou o Exército Popular de Libertação (EPL), braço armado do partido. Em 1935, com a derrota do EPL para o Partido Nacionalista (Kuomintang) de Chiang Kai-shek, lidera a Longa Marchacontra o governo… Em outubro de 1949, Mao proclama a República Popular da China e reorganiza o país nos moldes comunistas. Em 1958 adota o Grande Salto para a Frente, plano de desenvolvimento em tempo recorde, cujo fracasso o faz ser afastado do poder pelo Partido Comunista. Em 1966 recupera o poder ao lançar a Revolução Cultural, política de doutrinação ideológica da população. Com 20 milhões de jovens, forma as Guardas Vermelhas, grupo paramilitar que desencadeia perseguições políticas em escala colossal.ao reata relações diplomáticas com os Estados Unidos (EUA) e promove o ingresso do país na ONU (Organização das Nações Unidas) em 1971. Cinco anos mais tarde, morre em Pequim (Fonte: <https://www.sohistoria.com.br/biografias/tung/ >).

06 maio 2022

Holodomor: a grande fome na Ucrânia

Por Tiago Cordeiro1

Entre 1932 e 1933, um programa desastroso de reorganização da agricultura dos estados soviéticos matou até 12 milhões de habitantes do país. Stalin sabia que a iniciativa era um fracasso gigantesco, mas não se importou.2

Holodomor3

O que acontece com um corpo humano que não recebe alimentos suficientes por muito tempo? Em termos biológicos, bastam três dias para ter início a autofagia (o organismo começa a consumir a si mesmo, primeiro em busca de gordura e depois de proteína) e dez dias para o corpo entrar num modo semelhante ao da hibernação. A temperatura do corpo, a pressão arterial e os batimentos cardíacos despencam.]Se a situação se mantiver, depois de algumas semanas, os órgãos serão reduzidos à metade de seu tamanho original. A pele perde elasticidade e a imunidade cai. A massa muscular (inclusive a cardíaca) desaparece, porque as proteínas que fazem parte de sua formação são quebradas para sustentar outras áreas, em especial o cérebro. A causa mais comum para a morte é colapso cardíaco.
Esse processo prejudica seriamente a saúde de gestantes e seus filhos. Por isso mesmo é tão difícil estimar o tamanho da tragédia que arrasou a Ucrânia entre 1932 e 1933. Alguns especialistas apontam que morreram 2 milhões de pessoas, mas há os historiadores que consideram que foram 12 milhões, quando se leva em conta as crianças que já nasceram desnutridas e com baixa imunidade e morreram depois. As estimativas mais altas levam em consideração, por exemplo, os casos de tifo, cuja incidência aumentou em mais de 20 vezes entre 1929 e 1933.
Para o governo ucraniano, morreram 3,9 milhões de pessoas de fome durante a crise e outras 6,1 milhões de crianças nos anos seguintes. À parte as dificuldades em estimar a quantidade de vítimas, o impacto demográfico foi tão grande que a população do país ficou estacionada em 30 milhões ao longo da década de 1930, antes mesmo de o país começar a fornecer homens para a Segunda Guerra Mundial.

A crise no fornecimento de alimentos marcou a história do país e ganhou um nome, Holodomor, uma expressão bem literal: em ucraniano, significa “matar de fome”. Não foi um episódio acidental: a falta de comida era resultado de uma política agrícola desastrosa conduzida por Josef Stalin. Até quando estava claro que o plano tinha dado errado, o ditador soviético se recusou a recuar. Tampouco aceitou ajuda humanitária dos países vizinhos, que observavam a situação com desespero. Até hoje se debate se Holodomor foi genocídio ou crime contra a humanidade. Mas não há nenhuma dúvida de que esse massacre poderia ter sido evitado.

Dos 60 milhões de hectares de território ucraniano, 42 milhões são adequados para o plantio. Como foi possível que um lugar assim passasse fome?

A Ucrânia é um território precioso, disputado ao longo de toda sua história. Foi um dos primeiros países anexados pela União Soviética, ainda em 1919. E isso acontece porque, entre outros motivos, seu solo é extremamente fértil. Um terço de toda a terra negra do planeta está no país. Dos 60 milhões de hectares de território ucraniano, 42 milhões são adequados para o plantio. Atualmente, o país é referência mundial na produção de grãos e um dos três maiores exportadores de milho do planeta. Como foi possível que um lugar assim passasse fome?

A culpa é da coletivização da agricultura e de uma reorganização da distribuição de alimentos em toda a União Soviética. A partir de 1930, o governo de Stalin (que havia chegado ao poder dois anos antes) iniciou um amplo programa econômico, que previa a coletivização da agricultura, incluindo a alteração dos produtos plantados por outros, e a rápida industrialização e urbanização de uma série de regiões do bloco. “O governo soviético decidiu implantar as unidades agrícolas coletivas e obrigava os proprietários de terra ucranianos a abdicar de suas propriedades. Foi um experimento horrível”, relata o embaixador da Ucrânia no Brasil, Rostyslav Tronenko. “Os fazendeiros se rebelaram. Não entendiam por que deveriam abdicar de suas terras a favor desses empreendimentos ineficazes e pouco realistas”.

Para sustentar esse plano, milhares de pessoas foram forçadas a sair do campo. E grandes fazendeiros acabaram destituídos de seus bens. Precisamente por se rebelarem, eles eram retratados pela propaganda política soviética como inimigos da Revolução, pessoas mesquinhas que escondiam comida enquanto os trabalhadores das indústrias se sacrificavam para construir um novo mundo socialista.

“No começo dos anos 1930 o regime impôs cotas de grãos exorbitantes, muitas vezes confiscando os estoques até as últimas sementes”, informa Irene Mycak, porta-voz do Holodomor Awareness Committee, de Toronto. “O território da Ucrânia foi isolado por unidades armadas para evitar que as pessoas pudessem procurar por comida em regiões vizinhas. O plano de Stalin, em 1932, era exterminar os fazendeiros ucranianos por meio da fome e, assim, quebrar o movimento nacionalista que havia iniciado nos anos 1920 e buscava devolver à Ucrânia o status de Estado independente”.

Essas alterações drásticas e mal planejadas colocaram não só a Ucrânia em crise, mas também outras áreas produtoras de cereais, em especial o Cazaquistão, que perdeu pelo menos 600 mil pessoas. A etnia local precisou de 60 anos para voltar a ser maioria em seu próprio país. Algumas partes da Rússia também foram atingidas, como a vila de Stavropol, no sudoeste da Rússia, onde morreram de fome, entre muitas outras pessoas, duas tias e um tio, além de dezenas de vizinhos, de um menino de dois anos chamado Mikhail Gorbachev.

A fome começou no próprio campo. Ali, a desorganização do plantio e da colheita fez com que muita comida se perdesse, estragada, antes de ser colhida, ou ao longo da cadeia de distribuição. Ou seja: perdeu-se alimento, num momento em que a desordem provocada pela coletivização havia reduzido a produção, de 7,2 milhões de toneladas, em 1931, para 4,3 milhões de toneladas no ano seguinte.

Para piorar o cenário, o programa soviético previa a exportação de grãos para sustentar financeiramente a construção das novas indústrias. Em resultado, enquanto trens carregados de cereais seguiam para longe da Ucrânia, ao longo do inverno de 1932 para 1933 e da primavera de 1933, pessoas caíam na rua e não levantavam mais. Crianças faleciam nos colos dos pais. Mães se prostituíam em troca de comida para os filhos. Pelo menos 2.500 pessoas foram fichadas na polícia, acusadas de cometer canibalismo. Era proibido deixar as áreas onde não havia comida. Também não se podia enterrar seus próprios mortos.

“Essa tragédia poderia ter sido evitada”, afirma Michael Ellman, professor da Universidade de Amsterdã há quatro décadas e especialista na economia da União Soviética. “Mesmo com a coletivização da agricultura, o número de mortes poderia ser menor, não fosse a aposta insistente no programa de industrialização”.

Ou seja, Moscou desmontou a base agrícola dos países-satélites mais produtivos, retirando poder dos fazendeiros experientes, na mesma medida em que forçava uma concentração de população nas cidades, onde rapidamente a falta de alimentos foi sentida. O governo soviético parecia não se importar. “As destilarias gerenciadas pelo estado dentro da Ucrânia continuaram produzindo bebidas alcóolicas para exportação, enquanto as pessoas morriam de fome”, afirma Irene Mycak.

A crise só foi superada quando o programa de reorganização passou por ajustes. Stalin também mandou toneladas de alimentos para reduzir a crise. O incidente, e o próprio termo Holodomor, só começaram a surgir a partir dos anos 1970, pelo esforço de imigrantes ucranianos vivendo no Canadá e nos Estados Unidos. Até bem perto do fim da União Soviética, em 1991, a população dos países membros do bloco comunista não sabia o que havia acontecido.

Foi só em 1987, com Mikhail Gorbachev à frente do governo soviético, que a crise acabou mencionada publicamente por um político ucraniano — no caso, Volodymyr Shcherbytskyi, primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista da Ucrânia. Desde os anos 1990, o governo do país vem buscando o reconhecimento internacional para o que aconteceu.

Atualmente, 16 países caracterizam Holodomor como genocídio — afinal, matou tantas pessoas, ou mais, quantos judeus foram massacrados pela Alemanha de Adolf Hitler. Entre os países favoráveis à tese do genocídio estão Canadá, Austrália, Equador, México, Polônia, Portugal e Vaticano. “Foi genocídio. O regime comunista atacou os ucranianos, como nação”, diz Irene Mycak.

Outro grupo de países concorda com o argumento usado atualmente pelo governo da Rússia: não foi genocídio porque não visou o extermínio étnico. Cidadãos de outros países, vivendo na Ucrânia na época, também foram vitimados. Para quem concorda com essa linha de raciocínio, como os governos de Chile, Espanha e Estados Unidos, foi um ato criminoso, mas não genocídio deliberado. “Não havia a intenção de matar milhões de pessoas”, alega Michael Ellman. “Como Stalin estava em disputa contra os camponeses que se recusavam a entregar a quantidade de comida que o Estado exigia, acredito que ele até queria que essas pessoas fossem mortas, mas isso é muito diferente de organizar uma crise de fornecimento com o objetivo de matar milhões”. O Brasil nunca se manifestou formalmente sobre o assunto.

Enquanto busca reconhecimento internacional, a Ucrânia relembra as vítimas do Holodomor. Todos os anos, no quarto sábado de novembro, celebrações públicas, silenciosas, com velas e feixes de trigo, são realizadas em todo o país. Um minuto de silêncio é respeitado às 16h e não se realizam shows ou apresentações de rua neste dia. É uma data de luto pelos milhões de vidas perdidas para a fome provocada por uma política de estado desastrosa.


Notas:

1 “Tiago Cordeiro é jornalista pós-graduado em Literatura Brasileira. Nascido em Curitiba, foi repórter das revistas Época e Veja, e editor da Aventuras na História. É autor de ‘A Grande Aventuras dos Jesuítas no Brasi’ e ‘Os Primeiros Brasileiros’. Foi indicado ao Prêmio Esso de Criação Gráfica e ganhou medalha de prata no Prêmio Malofiej. Colabora com a Gazeta do Povo desde 2016”. In: <https://www.gazetadopovo.com.br/autor/tiago-cordeiro/>. Acesso em: 06/05/2022.

2 Texto copiado na íntegra e extraído de: As atrocidades do comunismo que você não apendeu na escola. Capítulo 3. Ebook publicado por Gazeta do Povo, pp. 24 a 33.

3 Imagem disponível em: <https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/ 37106/holodomor-holodomor-a-historia-que-nao-e-ensinada-nas-escolas>. Acesso em 06/05/2022.


Archimínia de Meirelles Barreto: seu exemplo e legado na história do protestantismo brasileiro

Por Alcides Barbosa de Amorim

Entre as Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro, título do livro da Professora Rute Salviano Almeida (Anexo), quero destacar a pessoa e o trabalho de Archimínia de Meirelles Barreto, uma brasileira que muito cooperou para a história e defesa do Cristianismo Protestante em seu/nosso país.

Archimínia

Acesse o Artigo em PDF, através do link abaixo:

Archimínia de Meirelles Barreto

21 abril 2022

Colonização e Independência dos E. U. A. (Resumo)


Declaração da Independência, por John Trumbull, 1817–1818.



A colonização da América do Norte ocorreu durante o século XVII, por diversos grupos de ingleses que emigraram para lá por alguns motivos: perseguição religiosa aos puritanos (protestantes ingleses); ideias contrárias ao absolutismo inglês; desemprego nos campos etc.

As datas e os principais eventos são:

  • 1607 – fundação de Jamestown:
Início da colonização inglesa, organizada pela Companhia de Londres. Jamestown foi o núcleo da primeira colônia inglesa, denominada Virgínia; nesta região, foi introduzido o cultivo de tabaco e algodão em grandes propriedades rurais, por meio da exploração do trabalho de escravos africanos e com a produção voltada para exportação.

  • 1620 – chegada do Mayflower:

Navio que trouxe puritanos ingleses que fundaram a colônia de Massachusetts, núcleo inicial do que seria a Nova Inglaterra – grupo de colônias cuja ocupação foi baseada em:

- atividades de agropecuária e manufatura variadas;

- na pequena propriedade familiar e

- no trabalho livre com a produção voltada para o mercado interno.

  • 1756-1763 - Guerra dos Sete Anos:

Conflito militar entre França e seus aliados (Rússia, Áustria, Suécia e Saxônia) e a Inglaterra, aliada à Prússia. Apesar de vitoriosa, a Inglaterra sai da guerra muito endividada e decidida a impor novos impostos aos colonos ingleses.
  • 1764 - Lei do Açúcar:
Imposto adicional sobre o açúcar importado das colônias inglesas no Caribe. O melaço, produzido com o açúcar, era transformado em rum pelos comerciantes da Nova Inglaterra e trocado por escravos na costa da África. Esta atividade ficou conhecida como comércio triangular, e a nova taxa prejudicava os interesses dos colonos, pois aumentava seus custos.
  • 1765 – Lei do Selo:
Determinava que todos os jornais, livros e documentos publicados nas colônias deveriam pagar uma taxa, o que implicava mais despesas para os colonos. Foi revogada em 1766.
  • 1767 – Atos Townsend:
Leis que criavam novas taxas de importações para os colonos sobre produtos como vidro, papel e corantes, o que implicava mais despesas para eles.
  • 1773 – Lei do Chá:
Concedia à Companhia das Índias Orientais o monopólio da venda do produto nas colônias, o que prejudicava os comerciantes locais de chá.
  • 1773 – Festa do Chá de Boston:
Colonos reagiram à Lei do Chá, jogando no mar o carregamento de três navios da Companhia das Índias Orientais.
  • 1774 – Leis Intoleráveis:
Nome dado pelos colonos às leis impostas pelo governo inglês como punição à Festa do Chá; fechamento do Porto de Boston, indenização à Companhia das Índias Orientais e perda da autonomia administrativa da colônia de Massachusetts.
  • 1776 – Declaração de Independência dos Estados Unidos da América:
Documento inspirado nas ideais Iluminismo, declarava a independência das colônias inglesas da América do Norte.
  • 1776-1781 – Guerra de Independência:
Conflito militar entre os colonos, liderados por George Washington, e as tropas inglesas, com vitória dos colonos.
  • 1783 – Tratado de Paris:
Reconhecimento da independência dos Estados Unidos pela Inglaterra.
  • 1787 – Constituição dos Estados Unidos da América:
Documento que estabeleceu as regras para o funcionamento do novo país: república federativa presidencialista, com poderes da União divididos em Executivo, Legislativo e Judiciário. Foi adotado o voto censitário (baseado na renda dos eleitores) e mantida a escravidão para os negros.

 

As Treze Colônias

Documentos contemporâneos geralmente listam as 13 Colônias Norte-Americana do Reino da Grã-Bretanha em ordem geográfica, do Norte ao Sul:

  • As Colônias do Norte ou Nova Inglaterra:
- Província de New Hampshire mais tarde o estado de New Hampshire;
- Província da Baía de Massachusetts mais tarde os estados de Massachusetts e Maine;
- Colônia de Rhode Island mais tarde o estado de Rhode Island;
- Colônia de Connecticut mais tarde o estado de Connecticut;

  • As Colônias Centrais:

- Província de Nova Iorque, mais tarde os estados de Nova Iorque e Vermont; 
- Província de Nova Jérsei mais tarde o estado de Nova Jérsei; 
- Província de Pensilvânia mais tarde o estado de Pensilvânia; 
- Colônia de Delaware mais tarde o estado de Delaware.
  • As Colônias do Sul:

- Província de Maryland mais tarde o estado de Maryland

- Colônia e Domínio da Virgínia mais tarde os estados de Virgínia, Kentucky e Virgínia do Oeste

- Província da Carolina do Norte mais tarde os estados de Carolina do Norte e Tennessee

- Província da Carolina do Sul mais tarde o estado de Carolina do Sul

- Província da Geórgia mais tarde o estado de Geórgia.

Veja o mapa:

In: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Treze_Col%C3%B4nias>.

Veja o artigo específico sobre a Independência dos Estados Unidos em: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/independenciaeua/>.

15 abril 2022

Absolutismo na Europa

A formação das monarquias centralizadas europeias teve origem na Baixa idade Média e consolidou-se na Europa da Idade Moderna nos entre os séculos XVI e XVIII, com o nome de absolutismo, ou seja, a concentração de poder nas mãos de um só governante: o rei ou monarca.

1. Fatores que contribuíram para o absolutismo dos reis

Alguns fatores contribuíram para o fortalecimento dos governos absolutos. Os principais foram:

  • Expansão comercial e marítima – o desenvolvimento do comércio e as Grandes Navegações aumentaram a importância dos reis e fortaleceram a burguesia, que vinha apoiando as ações dos monarcas, pois via na centralização política um meio de expandir seus negócios.

  • Renascimento cultural – este desenvolvimento cultural estimulou e valorizou uma mentalidade que tinha como centro o ser humano. Ao fazer isso, opôs-se aos valores medievais (de ordem religiosa), contribuindo para legitimar a centralização do poder pelos reis por meio de estudos jurídicos que justificavam esse poder.
  • Reforma Protestante – nos locais em que ocorreu, a Reforma tornou possível a passagem de bens da Igreja católica para as mãos dos reis. Na Inglaterra, por exemplo, o rei tornou-se chefe da Igreja, fundando o anglicanismo. Essa redução do poder papal permitiu aos reis não só controlar a Igreja, mas também apropriar-se dos bens eclesiásticos.

Além desses fatores, o Absolutismo contou também com a sustentação ideológica de pensadores que ficaram conhecidos como teóricos absolutistas. Os principais teóricos absolutistas foram:

  • Thomas Hobbes (Inglaterra, 1538-1679), com sua obra Leviatã, também deixou sua contribuição como teórico do absolutismo. Na sua visão, em seu estado de natureza e entregues à própria sorte, os homens devorariam uns aos outros – Ele afirmou que o homem é lobo do próprio homem –. É por isso, então, que, por necessidade, os homens fizeram entre si um contrato social que designou um soberano sobre todos os demais, tidos como súditos. A esse soberano – o rei absolutista, competiria garantir a paz interna e a defesa da nação. 
  • Nicolau Maquiavel (Florença, 1469-1572), autor de O Príncipe, ele discorre sobre vários temas, sempre abordando a maneira como o soberano – chamado de Príncipe – deve agir para manter seu reino. Para ele, o líder deve ser cruel quanto as penas com as pessoas, mas nunca no caráter material: "as pessoas esquecem mais facilmente a morte do pai, do que a perda da herança". A expressão “os fins justificam os meios”, atribuída a Maquiavel, retrata que não importa o que o príncipe (o rei) deve fazer para chegar ao poder, mas estando lá, deve ser bom mesmo parecendo mau.
  • Jacques Bossuet (França, 1627-1704), autor de Política segundo a Sagrada Escritura, foi o teórico responsável por envolver política e religião em sua tese. Ele partiu do pressuposto que o poder real era também o poder divino, pois os monarcas eram representantes de Deus na Terra. Por isso, os reis tinham que possuir controle total da sociedade. Dessa forma, eles não poderiam ser questionados quanto às suas práticas políticas. Assim, o monarca possuía o direito divino de governar e o súdito que se voltasse contra ele estaria questionando as verdades eternas de Deus.

Os teóricos absolutistas defenderam uma forma de governo monarquista em que o poder estava concentrado nas mãos dos reis. Suas teorias foram questionadas a partir da elaboração das teses liberais durante o Iluminismo que reivindicaram governos democráticos e a soberania popular na política.

2. O mercantilismo

No aspecto econômico, a aliança entre burguesia e o rei levou à formulação do Mercantilismo, conjunto de medidas econômicas que se caracterizou por uma forte intervenção do Estado na economia.

Apesar de ter apresentado diferenças de um reino para outro, o mercantilismo caracterizou-se por alguns objetivos comuns. Os principais foram:

- tentativa de importar o mínimo e exportar o máximo possível de produtos, para garantir sempre uma balança comercial favorável;

- retenção de metais no território do reino (metalismo);

- reforçar o poder absolutista do rei.

Para alcançar esses objetivos, os reinos usavam várias estratégias, entre elas:

- desenvolvimento de uma marinha mercante nacional;

- manutenção do maior número possível de colônias para que servissem, por um lado, de fornecedoras de matérias-primas, produtos tropicais comercializáveis e metais preciosos e, por outro, de consumidoras de produtos manufaturados das metrópoles;

- monopólio do comércio das colônias imposto pela metrópole;

- incentivo ao crescimento populacional.

3. O absolutismo na França

O processo de consolidação da Monarquia na França foi impulsionado por Luís IX (1226 – 1270). Mas foi após a Guerra dos Cem Anos (1337 a 1453), que se acelerou o fortalecimento do poder na França com a dinastia ou casa dos Valois, que se estendeu até 1589. Foi durante esta dinastia, no governo de Carlos IX (1560-1574), que aconteceu a chamada Noite de São Bartolomeu [1], em 24 de agosto de 1572.

A Noite de São Bartolomeu foi parte de vários conflitos entre huguenotes (como eram chamados os calvinistas franceses) e católicos. Portanto, foi uma guerra religiosa e política. A família dos Bourbon, descendentes de um tronco da Dinastia Capetíngia, liderava os huguenotes, enquanto a família Guise liderava os católicos. Um dos episódios mais violentos dessa disputa foi o massacre de 24 de agosto de 1572, quando a Catarina de Médici (mãe do rei francês Carlos IX), temendo a influência dos protestantes sobre seu filho, apoiou os católicos no assassinato de milhares de huguenotes. Os horrores daquela noite vitimaram cerca de 2 mil huguenotes, em Paris, e a sangrenta luta se estendeu por vários dias, pelas províncias francesas, chegando a dezenas de milhares. Alguns escritos chegam a falar em 30, 70 ou 100 mil huguenotes mortos.

Em 1589, a dinastia dos Valois foi substituída pelos Bourbon. E o primeiro rei desta dinastia foi Henrique IV (1589-1610). Durante seu governo, teve início a colonização do Canadá, com a fundação de uma colônia sediada em Quebec. Para dar fim aos conflitos de ordem religiosa, estabeleceu a assinatura do Edito de Nantes, 1598, acordo que concedia liberdade de culto aos protestantes.

Após esse governo, o monarca Luís XIII (1610-1643) chegou ao trono delegando amplos poderes ao ministro Richelieu. Com os poderes do Estado em suas mãos, Richelieu tomou medidas que ampliavam os poderes da monarquia sobre os nobres e comerciantes do país. Além disso, colocou a França contra dinastia dos Habsburgo durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648).

O triunfo do governo francês nesse conflito enriqueceu os cofres do Estado e estabeleceu importantes domínios coloniais para os franceses. Dessa forma, o governo de Luís XIV experimentou o ponto máximo do absolutismo na França. Preparado para o cargo desde criança, o rei Luís XIV (1643-1715) sintetizou a supremacia do governo absolutista ao dizer que o Estado era ele mesmo. Com o auxílio do ministro Colbert, esse monarca consolidou o mercantilismo francês estimulando a atividade burguesa. Apesar de promover essas ações em favor do Estado e da burguesia, o governo de Luís XIV também representou as contradições geradas pelo próprio absolutismo.


Luís XIV contratou vários artistas para retratá-lo. Arcos de trinfo foram construidos para homanegeá-los ainda em vida. Encenaram-se peças teatrais, balés e óperas, e jornais e histórias oficiais foram publicados. Com isso, Luís XIV buscou construir uma imagem que contribuísse para o fortalecimento de seu poder. Na imagem, Luís XIV retratado por Hyacinthe Rigard, em 1710.

Luís XIV alimentou o culto à sua imagem, ficando conhecido como “Rei Sol” (o astro ao redor do qual todos orbitam). É atribuída a ele a frase “O Estado sou eu”, que expressa a pretensa grande concentração de poder em suas mãos. Entretanto é preciso ter em conta que a autoridade soberana do monarca não se confundia com o Estado. Era um cargo, e o Estado não morreria com o soberano, tanto que em seu leito de morte, em 1715, também é atribuída a ele a expressão: “Vou, mas o Estado permanecerá sempre”.

Seguindo as ideias de Bossuet, e reforçando as tradições do poder sagrado dos reis Luís XIV apoiava-se na concepção absolutista de que a França deveria ter “um rei, uma lei e uma fé”. Como seguia a religião católica, aos poucos limitou as liberdades concedidas aos protestantes, até finalmente revogar o Edito de Nantes, em 1685. Esse ato restabeleceu a perseguição aos huguenotes.

Mais de 150 mil pessoas deixaram a França, entre funcionários do governo, soldados e burgueses, para se instalar nos países vizinhos. Isso abalou a economia francesa e resultou numa crise que levou a severas críticas ao regime absolutista.

No plano externo, Luís XIV envolveu a nação em diversas guerras com o objetivo de garantir os domínios assegurados por seus antecessores. Sua atuação trouxe poucos frutos e abalou as finanças da França, o que intensificou ainda mais o descontentamento e a oposição ao regime.

No século XVII, a França vivenciou uma grande efervescência cultural. Em parte, ela deveu-se à preocupação de escritores, filósofos e artistas de competirem pela atenção do rei. Com dinheiro do Estado, Luís XIV financiava escritores e criava academias para diversas atividades: arquitetura, pintura, ciências etc. entretanto, muitas obras desse período não representavam os interesses da Coroa, mas faziam críticas a ela.

Criado por decisão de Luís XIV nos arredores de Paris, o Palácio de Versalhes reproduzia no seu conjunto a imagem grandiosa do poder do “Rei Sol”. Transformado em sede da monarquia francesa a partir de 1682, abrigava a família real, milhares de nobres e clérigos, servidos por um exército de milhares de empregados e funcionários.

O sucessor de Luís XIV foi seu neto, Luís XV que teve uma administração marcada pelos enormes gastos com a corte de Versalhes e maior ainda com os conflitos internacionais. Dentre estes conflitos, destaca-se a Guerra dos Sete Anos, a partir de 1756, contra a Inglaterra. Com derrota, a França perdeu grande parte de suas colônias, como a região correspondente hoje ao Canadá.
Com Luís XVI, as dificuldades internas multiplicaram-se e a oposição ao rei intensificou-se, resultando na Revolução de 1789, que levou o monarca à guilhotina e instalou a República.

4. O absolutismo na Inglaterra

A imposição da Magna Carta (1215), pelo Parlamento inglês, limitou o poder real, mas dava muito poder aos nobres sob o controle político na Inglaterra. Mas, depois da Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e a Guerra das Duas Rosas (1455-1485), a nobreza inglesa foi levada ao esgotamento, cedendo lugar ao regime absolutista de Henrique VII, da Dinastia Tudor (1485-1603). Com esta dinastia, a disputa pelo poder esteve relacionada com as influências religiosas sobre os monarcas e as consequências na organização do Estado inglês.

Um dos mais célebres membros dessa dinastia foi Henrique VIII (1509-1547). Este conseguiu sujeitar o parlamento da nobreza ao poder do rei dando as características do absolutismo à monarquia inglesa, além de fundar a Reforma Protestante no país com o Ato de Supremacia, que em 1534 fundou a Igreja Anglicana e tomou as terras da Igreja Católica.

Já no reinado de Elisabeth I, filha de Henrique VIII, o mercantilismo inglês foi fortalecido, consolidando o poderio da marinha inglesa nos mares, principalmente depois da vitória sobre a Invencível Armada, do rei espanhol Felipe II, inaugurando a decadência econômica do reino espanhol. Na área da navegação, Elisabeth I estimulou ainda ações de pirataria, chegando a dar um título de nobreza ao pirata Francis Drake. Além disso, essa dinastia deixou um poder real consolidando e em acordo com o parlamento, garantindo também uma participação política de grupos sociais emergentes e ligados a atividades econômicas comerciais e produtivas distintas da aristocracia rural feudal.

Como Elisabeth I não deixou herdeiros, em 1603 subiu ao trono Jaime I (1603-1625), rei da Escócia e parente de Elisabeth I, dando início à dinastia Stuart. Os governos dos Stuarts foram marcados pelos desentendimentos com o Parlamento e pela perseguição religiosa a católicos e puritanos calvinistas. O segundo e último rei Stuart foi Carlos I (1625-1648), que, após fechar o Parlamento em 1629, em decorrência de disputas sobre a cobrança de impostos, reabriu-o em 1640 para conseguir fundos para guerrear na Escócia. Frente à tentativa dos parlamentares em conter o poder real, Carlos I tentou fechá-lo novamente, o que desencadeou uma guerra civil que lhe custou literalmente a cabeça.

A Guerra Civil ocorrida entre 1640 e 1649, opôs os defensores do rei (Os Cavaleiros) contra os defensores do Parlamento (os Cabeças Redondas), liderados por Oliver Cromwell. Os Cabeças Redondas venceram a guerra quando prenderam Carlos I e o submeterem a julgamento pelo Parlamento, que decidiu por sua decapitação. Essa decisão parlamentar sepultava a ideia de direito divino dos reis. A Guerra Civil instaurou ainda a República, que teria mais tarde Cromwell como ditador, que daria durante seu governo os contornos de potência mundial à Inglaterra, principalmente com a proteção aos comerciantes ingleses dada com os Atos de Navegação em 1650.

Cromwell morreu em 1658, iniciando um período de instabilidade e lutas internas no parlamento que acabaria apenas em 1660 com a volta dos Stuart ao poder. O governo de Carlos II (1660-1685) representava o fim da curta República inglesa e a tentativa de imposição do catolicismo aos súditos. Carlos II tentou reestabelecer o absolutismo na Inglaterra ao buscar se sobrepor ao poder do parlamento. Seu filho, Jaime II, tomou o mesmo caminho de fortalecimento do absolutismo, mas foi impedido em 1688. O parlamento, insatisfeito com o nascimento de um herdeiro católico de Jaime II, fomentou uma revolta contra ele ao propor a Guilherme de Orange a subida ao trono, evento histórico que ficou conhecido como Revolução Gloriosa. Com essa revolução o absolutismo inglês chegou ao fim e o período da Monarquia parlamentar na Inglaterra foi inaugurado.
A Revolução Gloriosa, ocorrida entre 1688 e 1689, que recebeu este nome, porque não houve derramamento de sangue, na passagem do poder a Henrique de Orange. Ela fortaleceu a burguesia propiciando acúmulo de capitais, expansão do comércio em escala mundial e abriu caminho para a Revolução Industrial.


Fontes / Referências:

  • ESPAÇO da História. Palácio de Versalhes. Disponível em: <http://espacodahistoriasempre.blogspot.com.br/p/historia-do-palacio-de-versalhes.html>. Acesso em 17/11/2015.

  • PILETTI, Nelson & Cládino. História: EJA – Educação de Jovens e Adulto – Ensino Fundamental, 3º Ciclo. São Paulo: Ática: 2003, p. 173 a 178 – Texto adaptado.

  • SANTOS, Fabrício Barroso dos. Teóricos do absolutismo europeu. Brasil Escola. Disponível em <http://www.brasilescola.com/historiag/teoricos-absolutismo-europeu.htm>. Acesso em 17 de novembro de 2015.

  • SOUSA, Rainer Gonçalves. Absolutismo Francês; Brasil Escola. Disponível em <http://www.brasilescola.com/historiag/absolutismo-frances.htm>. Acesso em 17 de novembro de 2015.

  • PINTO, Tales Dos Santos. O Absolutismo Inglês; Brasil Escola. Disponível em <http://www.brasilescola.com/historiag/o-absolutismo-ingles.htm>. Acesso em 17 de novembro de 2015.

  • VICENTINO, Cláudio. Projeto Radix: História, 7º ano. São Paulo: Scipione: 2012, p. 180 a 195 (adaptado).


Nota:


02 abril 2022

A História oficial de 1964 e a derrota do comunismo

A História oficial de 1964

Por

Olavo de Carvalho [1]

Se houve na história da América Latina um episódio sui generis, foi a Revolução de Março (ou, se quiserem, o golpe de abril) de 1964. Numa década em que guerrilhas e atentados espoucavam por toda parte, sequestros e bombas eram parte do cotidiano e a ascensão do comunismo parecia irresistível, o maior esquema revolucionário já montado pela esquerda neste continente foi desmantelado da noite para o dia e sem qualquer derramamento de sangue.

O fato é tanto mais inusitado quando se considera que os comunistas estavam fortemente encravados na administração federal, que o presidente da República apoiava ostensivamente a rebelião esquerdista no Exército e que em janeiro daquele ano Luís Carlos Prestes, após relatar à alta liderança soviética o estado de coisas no Brasil, voltara de Moscou com autorização para desencadear – por fim! – a guerra civil no campo. Mais ainda, a extrema direita civil, chefiada pelos governadores Adhemar de Barros, de São Paulo, e Carlos Lacerda, da Guanabara, tinha montado um imenso esquema paramilitar mais ou menos clandestino, que totalizava não menos de 30 mil homens armados de helicópteros, bazucas e metralhadoras e dispostos a opor à ousadia comunista uma reação violenta. Tudo estava, enfim, preparado para um formidável banho de sangue.

Na noite de 31 de março para 1o. de abril, uma mobilização militar meio improvisada bloqueou as ruas, pôs a liderança esquerdista para correr e instaurou um novo regime num país de dimensões continentais – sem que houvesse, na gigantesca operação, mais que duas vítimas: um estudante baleado na perna acidentalmente por um colega e o líder comunista Gregório Bezerra, severamente maltratado por um grupo de soldados no Recife. As lideranças esquerdistas, que até a véspera se gabavam de seu respaldo militar, fugiram em debandada para dentro das embaixadas, enquanto a extrema-direita civil, que acreditava ter chegado sua vez de mandar no país, foi cuidadosamente imobilizada pelo governo militar e acabou por desaparecer do cenário político.

Qualquer pessoa no pleno uso da razão percebe que houve aí um fenômeno estranhíssimo, que requer investigação. No entanto, a bibliografia sobre o período, sendo de natureza predominantemente revanchista e incriminatória, acaba por dissolver a originalidade do episódio numa sopa reducionista onde tudo se resume aos lugares-comuns da “violência” e da “repressão”, incumbidos de caracterizar magicamente uma etapa da história onde o sangue e a maldade apareceram bem menos do que seria normal esperar naquelas circunstâncias

Os trezentos esquerdistas mortos após o endurecimento repressivo com que os militares responderam à reação terrorista da esquerda, em 1968, representam uma taxa de violência bem modesta para um país que ultrapassava a centena de milhões de habitantes, principalmente quando comparada aos 17 mil dissidentes assassinados pelo regime cubano numa população quinze vezes menor. Com mais nitidez ainda, na nossa escala demográfica, os dois mil prisioneiros políticos que chegaram a habitar os nossos cárceres foram rigorosamente um nada, em comparação com os cem mil que abarrotavam as cadeias daquela ilhota do Caribe. E é ridículo supor que, na época, a alternativa ao golpe militar fosse a normalidade democrática. Essa alternativa simplesmente não existia: a revolução destinada a implantar aqui um regime de tipo fidelista com o apoio do governo soviético e da Conferência Tricontinental de Havana já ia bem adiantada. Longe de se caracterizar pela crueldade repressiva, a resposta militar brasileira, seja em comparação com os demais golpes de direita na América Latina seja com a repressão cubana, se destacou pela brandura de sua conduta e por sua habilidade de contornar com o mínimo de violência uma das situações mais explosivas já verificadas na história deste continente.

No entanto, a historiografia oficial – repetida ad nauseam pelos livros didáticos, pela TV e pelos jornais – consagrou uma visão invertida e caricatural dos acontecimentos, enfatizando até à demência os feitos singulares de violência e omitindo sistematicamente os números comparativos que mostrariam – sem abrandar, é claro, a sua feiura moral – a sua perfeita inocuidade histórica.

Por uma coincidência das mais irônicas, foi a própria brandura do governo militar que permitiu a entronização da mentira esquerdista como história oficial. Inutilizada para qualquer ação armada, a esquerda se refugiou nas universidades, nos jornais e no movimento editorial, instalando aí sua principal trincheira. O governo, influenciado pela teoria golberiniana da “panela de pressão”, que afirmava a necessidade de uma válvula de escape para o ressentimento esquerdista, jamais fez o mínimo esforço para desafiar a hegemonia da esquerda nos meios intelectuais, considerados militarmente inofensivos numa época em que o governo ainda não tomara conhecimento da estratégia gramsciana e não imaginava ações esquerdistas senão de natureza inssurrecional, leninista. Deixados à vontade no seu feudo intelectual, os derrotados de 1964 obtiveram assim uma vingança literária, monopolizando a indústria das interpretações do fato consumado. E, quando a ditadura se desfez por mero cansaço, a esquerda, intoxicada de Gramsci, já tinha tomado consciência das vantagens políticas da hegemonia cultural, e apegou-se com redobrada sanha ao seu monopólio do passado histórico. É por isso que a literatura sobre o regime militar, em vez de se tornar mais serena e objetiva com a passagem dos anos, tanto mais assume o tom de polêmica e denúncia quanto mais os fatos se tornam distantes e os personagens desaparecem nas brumas do tempo.

Mais irônico ainda é que o ódio não se atenue nem mesmo hoje em dia, quando a esquerda, levada pelas mudanças do cenário mundial, já vem se transformando rapidamente naquilo mesmo que os militares brasileiros desejavam que ela fosse: uma esquerda social democrática parlamentar, à europeia, desprovida de ambições revolucionárias de estilo cubano. O discurso da esquerda atual coincide, em gênero, número e grau, com o tipo de oposição que, na época, era não somente consentido como incentivado pelos militares, que viam na militância social democrática uma alternativa saudável para a violência revolucionária.

Durante toda a história da esquerda mundial, os comunistas votaram a seus concorrentes, os social democratas, um ódio muito mais profundo do que aos liberais e capitalistas. Mas o tempo deu ao “renegado Kautsky” a vitória sobre a truculência leninista. E, se os nossos militares tudo fizeram justamente para apressar essa vitória, por que continuar a considerá-los fantasmas de um passado tenebroso, em vez de reconhecer neles os precursores de um tempo que é melhor para todos, inclusive para as esquerdas?

Para completar, muita gente na própria esquerda já admitiu não apenas o caráter maligno e suicidário da reação guerrilheira, mas a contribuição positiva do regime militar à consolidação de uma economia voltada predominantemente para o mercado interno – uma condição básica da soberania nacional. Tendo em vista o preço modesto que esta nação pagou, em vidas humanas, para a eliminação daquele mal e a conquista deste bem, não estaria na hora de repensar a Revolução de 1964 e remover a pesada crosta de slogans pejorativos que ainda encobre a sua realidade histórica?


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Veja também o vídeo a seguir [2]: In:




Notas:

  • [2] In: O grande perigo da revolução cultural de Antonio Gramsci. Brasil Paralelo. Acesso em: 16.05.2024.

31 março 2022

O Incêndio de Roma

Por que Nero mandou pôr fogo em Roma?[1]

De acordo com os rumores, Nero havia passado boa parte do incêndio no alto da torre de Mecenas, no cume do Palatino, vestido como um atar de teatro, tangendo sua Iira e cantando versos acerca da destruição de Tróia. Logo começou a propalar-se que o imperador, em seus desatinos de poeta louco, havia incendiado a cidade para que o sinistro lhe servisse de inspiração...”[2]

Como [3] nossos dois grandes apóstolos, Pedro e Paulo, sofreram o martírio durante a primeira perseguição imperial, pode ser interessante para muitos de nossos leitores saber algo sobre os elementos particulares que conduziram a esse edito cruel.

Mas aqui, embora relutantemente, devemos trocar a certeza da Palavra de Deus pelos escritos incertos dos homens. Passamos, neste momento, do firme e sólido solo da inspiração para o solo inseguro dos historiadores romanos e da história eclesiástica. No entanto, todos os historiadores, tanto antigos quanto modernos, pagãos e cristãos, concordam quanto aos principais fatos sobre o incêndio em Roma, e sobre a perseguição aos cristãos.

No mês de julho do ano de 64 d.C. um grande incêndio irrompeu no Circo Máximo, e continuou a se espalhar até que deixou em ruínas toda a antiga grandeza da cidade imperial. As chamas se estenderam com grande rapidez, e sendo Roma uma cidade de ruas longas e estreitas, e de montes e vales, e tendo o vento ajudado o fogo a se alastrar, logo se tornou um caos generalizado. Em pouco tempo a cidade inteira parecia envolta em um mar de chamas ardentes.

Tácito, um historiador romano daqueles dias, e considerado um dos mais precisos de sua época, nos conta: “Das quatorze áreas nas quais Roma era dividida, apenas quatro permaneceram inteiras, três foram reduzidas a cinzas, e dos sete restantes 164 Roma e Seus Governantes (64 d.C. – 177 d.C.) restou nada mais que um monte de casas destroçadas em meio às ruínas.” O fogo se alastrou furiosamente por seis dias e sete noites. Palácios, templos, monumentos, as mansões dos ricos e as habitações dos pobres pereceram nesse fogo fatal. Mas isso não era nada comparado aos sofrimentos dos habitantes. As doenças da idade, a fraqueza dos jovens, o desamparo dos doentes, os pavorosos gritos de lamentação das mulheres: tudo se somava à miséria desta cena terrível. Alguns se esforçaram para prover para si mesmos, outros para salvar seus amigos, mas nenhum lugar de segurança podia ser encontrado. Para qual caminho se virar, ou que caminho tomar, ninguém podia dizer. O fogo se alastrava por todos os lados, de modo que um grande número de pessoas caíam prostradas nas ruas, lançando-se a uma morte voluntária, e pereciam nas chamas.

A questão importante, quanto à origem do fogo, era agora discutida em todos os lugares. Quase todos acreditavam que a cidade foi queimada por incendiários, e por ordens do próprio Nero. Era certo que um número de homens foram vistos estendendo as chamas em vez de extingui-las, afirmando ousadamente que eles tinham autoridade para fazê-lo. Foi também geralmente relatado que, enquanto Roma estava em chamas, o desumano monstro Nero permaneceu em uma torre de onde podia assistir o progresso do incêndio, divertindo-se tocando “A Queda de Troia” em sua lira favorita.

Muitos de nossos leitores, sem dúvidas, devem estar se perguntando qual poderia ser o objetivo de Nero ao incendiar a maior parte de Roma. O objetivo, acreditamos, era de poder reconstruir a cidade em uma escala de maior magnificência, para então chamá-la com seu próprio nome. E ele tentou fazer isso imediatamente de maneira grandiosa. Mas tudo o que ele fez não conseguiu restabelecer-lhe o favor popular, ou remover a infame acusação de ter incendiado a cidade. E quando toda a esperança de obter o favor, tanto das pessoas quanto dos deuses, se acabou, ele partiu para o plano de passar a culpa que tinha para outros. Ele sabia bem da impopularidade dos cristãos, tanto com os judeus quanto com os pagãos, para decidir fazer deles seu bode expiatório. Um rumor logo se espalhou de que os incendiários tinham sido descobertos, e que os cristãos eram os criminosos. Muitos foram imediatamente presos para que pudessem ser levados à uma punição à altura, e para satisfazer a indignação popular.

Notas / Referências bibliográficas:

  • [2] Justo L. E até aos confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo: a era dos mártires – Vol. 1. São Paulo: Vida Nova, 1995. P. 54.
  • [3] O texto a seguir é uma transcrição literal (adaptada) de: MILLER, Andrew Miller. A História da Igreja Vol. 1 – Capítulo 1 ao 17. São Paulo: DLC (Depósito de Literatura Cristça), 2011.: Século I ao X, pp. 151-152.


01 março 2022

As últimas coisas, por Myer Pearlman



PEARLMAN, Myer Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2077 (7ª ed.), pp. 229 a 249


Assuntos tratados:

I – A morte

II – O estado intermediário

III – A ressurreição

IV – A vida futura

V – O destino dos justos

VI – O destino dos ímpios

VII – A segunda vinda de Cristo


Estudo em PDF, disponível em:


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As últimas coisas, por Myer Pearlman

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Campo 14 – bebês mortos a pauladas, fome e execuções: a vida em um campo de concentração norte-coreano

P or J ones R ossi  [ 1 ] Uma aula no Campo 14   Os  professores do Campo 14 eram guardas uniformizados:  tratados por Shin no desenho acima...