"Multidões,
multidões no vale da decisão; porque o
dia do Senhor
está perto, no vale da decisão.
O
sol e a lua se enegrecerão, e as estrelas retirarão o seu
resplendor.E
o Senhor bramará de Sião, e de Jerusalém fará ouvir a sua voz; e
os céus e a terra tremerão,mas
o Senhor será o refúgio do seu povo, e a fortaleza dos filhos de
Israel.E
vós sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus, que habito em Sião, o
meu santo monte; e Jerusalém será santa; estranhos não passarão
mais por ela"(Jl
3.14-17) [1].
A frase o dia do Senhor é usada dezenove vezes no Velho Testamento (Is 2.12; 13.6,9; Ez 13.5; 30.3; Jl 1.15; 2.1,11,31; 3.14; Am 5.18,20; Ob 15; Sf 1.7,14; Zc 14.1; Ml 4.5) e quatro vezes no Novo Testamento (At 2.20; 2Ts 2.2; 2Pe 3.10) [2]. E não trata apenas de um período curto de um dia como já vimos – dia de vinte e quatro horas –, mas de um período longo (2Ts 2.2) em que Deus cumprirá seu propósito sobre o mundo e os homens, podendo incluir inclusive, além do arrebatamento da Igreja, também a grande tribulação (Ap 6.17), a vinda do Senhor (1Co 1.8; 5.5; Fp 1.6,10; 2.16) até o Milênio (assuntos do quais falaremos em outros artigos).
Como parte da escatologia bíblica, a expressão dia do Senhor [3] aparece também como “o dia” (Am 5.18...), “naquele dia” (Is 2.11, Lc 21.34…) etc. A primeira menção, cronologicamente falando, do “dia do Senhor” está em Amós 5.18-20 e significa o dia em que o Deus de Israel haveria de intervir a fim de colocar Israel à testa das nações, mas ao mesmo tempo significa julgamento para o mesmo (Is 2.12; Ez 13.5; Jl 1.15; 2.1,11; Sf 1.7,14; Zc 14.1) e para outras nações individualmente como castigo contra suas violências, como por exemplo, a Babilônia (Is 16.6,9); o Egito (Jr 46.10) [4]; Edom (Ob 15); muitas nações (Jl 2.31; 3.14; Ob 15).
O Dia do Senhor é, dessa maneira, a ocasião quando Yahweh intervirá ativamente para punir o pecado, que terá chegado ao seu clímax. Esse castigo poderá vir por meio de uma invasão (Am 5 e 6; Is 13; Ez 13.5), ou através de algum desastre natural, tal como uma invasão de gafanhotos (Jl 1 e 2). Todas as intervenções menores chegarão ao seu apogeu por ocasião da vinda verdadeira do próprio Senhor. Nesse Dia, haverá crentes verdadeiramente arrependidos que são salvos (Jl 2.28-32), enquanto que aqueles que tiverem permanecido inimigos do Senhor, quer judeus quer gentios, serão punidos. Também haverá efeitos físicos por todo o mundo natural (Is 2).
No Novo Testamento, o Dia do Senhor é a segunda vinda de Jesus Cristo. A frase 'dia de nosso Senhor Jesus Cristo', ou equivalente, ocorre em 1Co 1.8; 5.5; Fp 1.6,10; 2.16; 2Ts 2.2. Essa vinda será inesperada (1Ts 5.2; 2Pe 3.10), mas certos sinais devem ocorrer antes de tudo, os quais devem ser discernidos pelos crentes (2Ts 2.2 e seg.). Efeitos físicos sobre o mundo natural acompanharão o Dia do Senhor (2Pe 3.12 e seg.).
Em suma, o Dia do Senhor:
Virá como o ladrão de noite (1Ts 5.2);
Está longe (2Ts 2.2) e perto (Jl 1.15; Sf 1.7) ao mesmo tempo;
Virá de improviso sobre os glutões, bêbados e descuidados em relação à vida espiritual (Lc 21.34);
Será dia de trevas e não de luz (Am 5.18-20);
Será de queda e humilhação dos arrogantes, soberbos e de exaltação do Senhor dos Exércitos (Is 2.11,12,17).
Será de bênção e aprovação para os irrepreensíveis e sinceros (1Co 1.8; Fp 1.10);
Será o grande dia da ira do Senhor (Ap 6.17).
Será dia de juízo das multidões e de refúgio para Israel (Jl 3.14-17)...
Por fim,
"Breve vem o grande dia / Em que lutas findarão / Todos males, agonias / Deste mundo cessarão.
Cessará no céu o pranto / Pois não haverá mais dor / E ouvir-se-á o canto / Dos remidos do Senhor.
Oh, que gozo estar com Cristo / Escutando a sua voz / Eu almejo hoje isto / E segui-lo sempre após...
Se Jesus Cristo é meu guia / O caminho hei de trilhar / Quem assim em Deus confia / Lá no céu há de chegar..." (Harpa Cristã, Hino 371).
Veja mais no vídeo (cf. nota 2) a seguir:
Notas / Referências bibliográficas:
[1] Todas as referências bíblicas utilizadas neste artigo são da versão ACF – Almeida Corrigida Fiel. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>.
[2] Mais informações sobre o assunto, no vídeo O que é o dia do Senhor dos últimos dias?, do Portal Got Questions Português. In: <https://www.youtube.com/watch?v=P_AYX6ssVLw>. Acesso em: 19/11/2024.
Texto adaptado de:
[3] WRIGHT, J. S. Dia do Senhor. Apud: DOUGLAS, J. D. (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia, Vol. I. São Paulo: Vida Nova, 1979, pág. 416/7.
[4] Veja também este artigo: Profecias em cumprimento: rio Eufrates secando e egípcios contra egípcios. In: <https://institutoparacleto.org/2012/07/06/profecias-em-cumprimento-rio-eufrates-secando-e-egipcios-contra-egipcios/>. Acesso em 21/11/2024 .
Já vimos aqui que a palavra hebraica para dia é yom (יוֹם) no seu sentido literal e de tempo ou período percorrido como entendemos: dia de 24 horas. Aqui, destaquei o dia de descanso ou de adoração utilizado pelos cristãos: “Hemera ou Iméra tou Kyríou” (Dia do Senhor ou o Domingo), baseados nos comentários de Wood. [1] e de BEASLEY-MURRAY (Nota 4 abaixo).
Essa expressão [Dia do Senhor] é encontrada apenas uma vez nas Escrituras como indicação do primeiro dia da semana. Em Ap 1:10, João desvenda que a visão do Apocalipse lhe foi dada quando foi arrebatado 'no espirito, no dia do Senhor’. Essa é a primeira ocorrência que temos, na literatura cristã, da expressão “hê kyriaké hemera”. A construção adjetival sugere que se tratava de uma designação formal sobre o dia de adoração da Igreja. Como tal certamente aparece no início do segundo século (Inácio, Epístola aos Magnesianos, i. 67) [2].
Pouco apolo pode ser aduzido em favor da teoria que diz que esse termo se refere ao dia da Páscoa, exceto, naturalmente, no sentido que cada dia do Senhor é uma recaptulação pascal. Porém, deve ser observado que eruditos de tanta reputação como Wettstein, Deissmann, e Hort, entre outros, preferem interpretar o versículo como indicação que João foi transportado, em seu êxtase espiritual, até o grande dia do próprio juízo (cf Ap 6:17; 16:14). Lightfoot acredita que existem ‘razões muito boas, não até mesmo conclusivas’ em favor dessa posição (The Apostolic Fathers, II, secção I, parte II, pág. 129. A opinião da maioria, entretanto, se inclina a sentir, juntamente com Swete, que tal interpretação ao contexto imediato e contrário ao uso linguístico (a Septuaginta sempre emprega a expressão he hemera tou kyriou para o profético ‘dia do Senhor’: kyriakos não aparece nunca). Seria razoavelmente seguro, portanto, concluir que, assim como a localização real da visão de João é registrada no versículo, semelhantemente a ocasião real também é registrada no versículo 10.
Mesmo que pudéssemos aceitar uma data tardia para o livro de Apocalipse (c. de de 96 D. C.), não seria necessário supor, juntamente com Harnack, que a expressão he kyriake hemera não estava em uso antes do término do primeiro século de nossa era. É possível que essa expressão tenha surgido tão cedo quanto 57 D. C., quando Paulo escreveu a epístola de 1 Coríntios. Em 11:20 desse livro o apóstolo fala em kyriakon deipnon ('ceia do Senhor'). É interessante que a versão pesita diz 'dia do Senhor' nesse versículo. Porém dificilmente parece que o termo estivesse então em uso corrente, pois, mais adiante naquela mesma epístola, Paulo diz kata mian sabbatou, (no primeiro dia da semana' (16:2).
Deissmann lançou mais alguma luz sobre o título ao mostrar que na Ásia Menor e no Egito, até mesmo antes da era Cristã, o primeiro dia de cada mês era chamado de dia do Imperador ou Sebastē. Isso, eventualmente, pode ter sido transferido para um dia qualquer da semana, provavelmente a quinta-feira (dies Iovis). 'Se essas conclusões são válidas', comenta R. H. Charles, 'então poderemos entender quão naturalmente o termo "Dia do Senhor" teve início; pois assim como o primeiro dia de cada mês, ou como certo dia de cada semana era chamado de "Dia do Imperador", semelhantemente seria natural que os crentes dessem nome ao primeiro dia de cada semana, associado como estava à ressurreição do Senhor e ao costume dos crentes de se reunirem para adorar, chamando-o de "Dia do Senhor". Talvez tenha surgido primeiramente em círculos apocalípticos, quando uma atitude hostil para com o império foi adotada pelo Cristianismo' (R. H. Charles, The Revelation of St. John, 1920, I, pág. 23; cf BS, págs. 218 e segs.).
'Senhor, nessa passagem, claramente significa Cristo, e não Deus Pai. Trata-se do dia de Cristo. Pertence-Lhe por causa de Sua ressurreição, quando foi 'poderosamente demonstrado filho de Deus' (Rm 1:4). Mc Arthur certamente tem razão ao afirmar que esse título, afinal de contas, se deriva da Soberania de Jesus Cristo, Soberania essa que se tornou manifesta na ressurreição do 'primeiro dia da semana' (Mc 16:2; vd A. A. Mc Arthur, The Evolution of the Christian Year, 1953, pág. 21). A adoração cristã é essencialmente uma anamnesis (lembrança) do acontecimento da Páscoa, que revelou o triunfo do propósito redentor de Deus. Isso explica o tom prevalente de alegria e louvor. O primeiro dia era igualmente apropriado, visto que relembrava o dia inicial da criação, quando Deus criou a luz, bem assim o fato que o Pentecoste Cristão caiu no domingo. Além disso, é bem possível que a expectativa dos crentes primitivos fosse que o retorno do Senhor se verificasse em Seu próprio dia.
A mais antiga evidência relacionada com a observância do primeiro dia da semana, por parte dos cristãos, aparece em 1 Co 16:1,2, ainda que não haja ali referência explícita a alguma reunião realmente levada a efeito. At 20:7 [3] é passagem mais específica e provavelmente reflete o uso continuado do calendário judaico por parte dos crentes, conforme o qual o dia do Senhor teria início ao pôr do sol do dia de sábado. Alford vê na prontidão dos gentios em aceitar este cálculo judaico 'a maior prova de todas que o dia foi assim observada' (H. Alford, The New Testament for English Readers, p. 788). Por outro lado, não há no Novo Testamento qualquer indicação duma controvérsia sabatista. O dia do Senhor, que de fato cumpriu todos os propósitos beneficentes de Deus na instituição do sábado para a humanidade, era observado 'em novidade de espírito e não na caducidade da letra' (Rm 7:6).
Resumindo, conforme diz Murray [4], o Dia do Senhor não deve ser entendido no sentido escatológico, como pensam alguns, “… como se João tivesse sido transportado para viver naquele dia, mas ‘no dia consagrado ao Senhor’, uma frase que se usava já no segundo século referindo-se ao domingo. O termo ‘o dia do Senhor’, como Deissmann [5] tem mostrado, é provavelmente a substituição desafiadora dos cristãos ao ‘dia do Imperador’, que era celebrado ao menos mensalmente na Ásia Menor, se não semanalmente. Indicava originalmente o dia da elevação de Faraó ao trono do Egito, ou seu dia natalício; a ideia foi apropriada pelos imperadores romanos. Como memorial do dia da ressurreição de Cristo, e assim, da sua exaltação à soberania, o título ‘o dia do Senhor’ é especialmente apropriado” (destaques meus).
Veja também o vídeo do Portal CACP, a seguir, sob o título “O que significa a expressão ‘O Dia do Senhor’?”, do Pr. Natanael Rinaldi:
Notas / Referências bibliográficas:
[1] WOOD, A. S. Dia do Senhor (Domingo). Apud: DOUGLAS, J. D. (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia, Volume I. São Paulo: Vida Nova, 1979, Pág. 417/8.
[2] “… Portanto, não precisamos mais manter o sábado, como fazem os judeus, ou alegrar-se pelos dias de ociosidade, pois “aquele que não trabalha, não deve comer”. Também foi dito pelos [santos] oráculos: ‘É pelo suor da tua face que comerás o teu pão’. Mas deixe todo aquele entre vós que ainda mantém o sábado por motivo espiritual, alegrando-se na meditação da Lei e não no descanso do corpo, admirando a obra de Deus e não comendo coisas preparadas no dia anterior, não fazendo uso de bebidas mornas ou andando um certo limite prescrito, não deleitando-se por dançar e aplaudir, e outras coisas sem sentido. Porém, após a observância do sábado, deve todo amigo de Cristo observar o Dia do Senhor como festa, o dia da ressurreição, a rainha e comandante de todos os dias [da semana]. Foi sobre isto que o profeta declarou: 'Para encerrar, o oitavo dia' [Foi nesse dia] que a nossa vida renasceu e a vitória sobre a morte foi obtida em Cristo…” (“Epístola aos Magnésios”.(Inácio, Bispo de Antioquia, 67 – 110 d.C., Parte IV, 9). Disponível em: <Inácio de Antioquia / Epístola aos magnesios>. Acesso em 13/11/2024.
[3] “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite” (Versão A.C.F.).
[4] BEASLEY-MURRAY, George Raymond. Apocalipse. In: O Novo Comentário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1983, Comentário sobre Apocalipse 1.10.
[5] Gustav Adolf Deissmann (1866-1937): “teólogo protestante alemão, melhor conhecido por sua pioneira obra sobre a língua grega utilizada no Novo Testamento, que ele demonstrou ser o koiné, ou a língua comum utilizada no mundo helênico daquele tempo…”. Mais em: <Wikipedia – Deissmann>. Acesso em: 14/11/2024.
Continuando nossa reflexão sobre unidades de tempo na Bíblia, no contexto da escatologia – estudo das últimas coisas –, resolvi destacar neste post, dada a profundidade do tema, apenas o conceito de dia no relato da criação.
Em Gênesis 1 encontramos: “... dia primeiro” (v. 5); “… dia segundo” (v. 8); “… dia terceiro” (v. 13); “… dia quarto” (v. 19); “… dia quinto” (v. 23); “... dia sexto” (v. 31)... A palavra hebraica para dia, em todos estes versos é “yom” (יוֹם). O sentido aqui é literal, inclusive yom aparece nos nomes de algumas festas judaicas como “Yom Kipur” (Dia do Perdão); “Yom Yerushalayim” (Dia de Jerusalém); “Yom Teruah” (Dia da Lembrança)…
Gleason L. Archer Jr. fala de três teorias acerca da palavra yom (yõm). Uma delas representa “um dia de vinte e quatro horas” e o relato de toda a criação trata-se de uma “… semana literal na qual Deus completamente restaurou do caos uma criação (registrada em Gn 1:1) que tinha sofrido uma catástrofe (possivelmente na época na qual Satanás e seus anjos foram expulsos da presença de Deus). Apoio para esta interpretação tem sido alegadamente descoberto em Is 45:18 quando se lê que Deus não criou a terra ‘em vão’ ou ‘para ser um caos’… vazia...” [1]. A terra que foi criada, não para ser vazia, “tornou-se”, “veio a ser” vazia (Hb hãyãh) [2], tornou-se um caos, depois da batalha de Satanás e seus anjos. Daí, o relato da criação tratar-se da restauração deste caos (v.1). Archer Jr. não sustenta esta teoria como sendo “verdade absoluta”, apenas a apresenta para o conhecimento do leitor. O que muitos cristãos estudiosos tentam fazer é conciliar um suposto intervalo entre o v.1 e o v. 2 (que veio a ser chamado de “Teoria do Intervalo”) com a antiguidade da terra, defendida pela “ciência”. Ou seja, o Universo (céus e terra) foi criado perfeito (v.1), talvez há bilhões de anos; num tempo indefinido, porém, houve uma rebelião de Satanás (cf. Is 14.12-14; Ez 28.12-15 e Ap 12.7-9), tornando a terra (apenas a terra, não o universo em geral) sem forma e vazia; e houve, a partir do verso 2, uma espécie de “recriação” da terra não tão antiga assim como a ciência afirma [3].
O professor Adauto Lourenço, grande defensor do Criacionismo, explica aqui, [4] de forma bem diferente do que já ouvi até hoje, este episódio da criação: o caos, a queda de Satanás etc. Quero destacar alguns pontos de sua fala:
O que ocorre no verso 2 não é uma recriação da terra a partir do caos, mas sim uma criação em processo. Ele entende que o verbo original hãyãh, traduzido como “era”, não se aplica a “tornou-se” como alguns o fazem, afirmando que a terra tornou-se sem forma e vazia por conta da queda de Satanás.
A expressão “… muito bom…” (v. 31), aplicada à criação de Deus não condiz em nada com uma terra perfeita e já concluída se Satanás estava nela. Ou seja, se assim fosse, haveria pecado na terra mesmo antes de o homem ter sido criado e posto no Éden.
O primeiro dia começa no verso 2 e termina no verso 5; o jardim do Éden só começa no sexto dia, após a criação do homem (2.8).
Considerando que o “querubim ungido” (que veio a ser Satanás) estava no “… Éden, jardim de Deus…” (Ez 28.13), portanto no mesmo lugar que estava o homem antes de ambos (o querubim e o casal Adão e Eva) pecarem, foi lá (no Éden) que o querubim, ainda antes de pecar, estava e/ou andava. Veja: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28.15).
Há uma diferença de quando “… Lúcifer, filho da alva…” (Is 14.12) pecou e recebeu a sentença de seus atos (as consequências de seu seu pecado), e de quando ele foi/será expulso do céu. Até os dias de Jó, por exemplo, ele ainda tinha acesso à terra e ao céu (Jó 1.6 e 2.1), chegou, inclusive à presença de Deus.
Entendido que o Filho da Mulher (Ap 12) é Jesus, será Ele que expulsou ou expulsará para sempre (v. 8 ) o Inimigo. Veja mais esses nomes/adjetivos (v. 9): “grande dragão”, “antiga serpente”, “Diabo”, “Satanás”..., Ele foi/será “… precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele”. No meu entendimento (posso estar enganado), a precipitação do Diabo, o grande dragão, à terra, se dará durante a grande tribulação. E Deus dará escape a Israel por três anos e meio ou “… um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente” (v. 14).
Veja: “mil duzentos e sessenta dias” (Ap 12.6); “um tempo, e tempos, e metade de um tempo” (Ap 12.14) e “quarenta e dois meses” (Ap 13.5) equivalem ao mesmo espaço de tempo: “… metade de uma semana” (Dn 9.27), assunto do qual falamos um pouco aqui e pretendemos falar mais em outro momento.
Por esta interpretação, o Diabo não foi lançado na terra entre os versos 1 e 2 de Gn 1, mas sim após a ascensão de Jesus. Ele mesmo anteviu isto antes de sua morte: “… Eu via Satanás, como raio, cair do céu” (Lc 10.18).
Bem, e os seis dias da criação foram dias de 24 horas? A resposta para esta pergunta deixo também com o professor Adauto Lourenço [5]. Ele explica que os seis dias com tardes e manhãs apontam para dias de 24 horas. Reforça este entendimento com o texto de Êxodo 20.11: “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.” Se Deus pediu que seu povo trabalhasse seis dias e descanse no sétimo, obviamente não seriam seis dias longos, de milhões de anos – ou um dia como mil anos, por exemplo – mas no sentido literal. Neste caso, ou eu provo que Êx 20.11 é uma exceção ou admito que trata-se de dias literais. Compare: “E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito” (Gn 2.2). Mas seis dias não são um tempo muito curto para a criação? Pensando como humano, sim, mas devemos lembrar do que a Bíblia diz: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da sua boca… Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu” (Sl 33.6,9). Disse Deus: “Haja…” e “houve...”. Tudo foi feito pela Palavra, “o Verbo”, que estava no princípio com Deus, e sem Ele, o Verbo (JESUS) nada do que foi feito se fez (Veja Jo 1.1-3). Portanto, finalizando, os dias da criação apontam para uma idade jovem da terra, não só porque a Bíblia fala que ela é jovem mas também porque a ciência comprova.
Veja mais em:
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez" (Jo 1.1-3).
Notas / Referências bibliográficas:
[1] ARCHER Jr. Gleason L. Merece confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 1984 (3a Ed.), pág. 94.
[2] O verbo hãyãh traduzido em nossas bíblias como “era” pode ter este sentido de “veio a ser”, “emergiu-se de algo”, “começar a existir” etc.
[5] O estudo do professor Adauto Lourenço sobre o assunto está em seu livro Gênesis 1 e 2, publicado pela Editora Fiel. Uma minúscula explicação está no vídeo a seguir: <https://www.youtube.com/watch?v=xeOlXsb0g-0>. Acesso em: 05/11/2024.
“Jesus
respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não
tropeça, porque vê a luz deste mundo” (Jo
11.9) [1].
“Filhinhos,
é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também
agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já
a última hora” (1Jo 2.18).
No
intuito de estudar textos bíblicos que tratam de escatologia –
estudo
das
últimas coisas
–, achei por bem ver um pouco sobre unidades de tempo (hora, dia,
mês, ano etc.), desta feita iniciando pela palavra HORA. Isto é, os
vários sentidos da palavra e, especialmente, a hora,
no sentido escatológico.
Destaco
abaixo, primeiramente a palavra hora
como tempo definido (preciso)
entendida
nos
tempos bíblicos no
sentido
hebraico
e romano. Em seguida, a mesma
palavra
com o sentido escatológico.
1.
Hora como divisão de tempo
Em
seu
sentido mais preciso, uma hora é um doze-avo (1/12) do período em
que o sol aparece. Na
referência acima, João 11.9, Jesus fala de um dia com luz de 12
horas, computadas do nascer até o pôr do sol. A noite, no entanto,
era composta de três vigílias (judaicas) ou quatro vigílias
(romanas), computadas desde o pôr do sol até o nascer do mesmo.
“Visto
que o nascer e o pôr do sol variavam conforme o período do ano, as
horas bíblicas não podem ser traduzidas exatamente conforme as
modernas horas cronométricas; e, seja como for, a ausência de
cronômetros exatos significa que o tempo do dia era indicado em
termos mais gerais do que entre nós”[2].
Os
romanos computavam seu dia civil como período que se iniciava à
meia-noite, enquanto que os judeus reputavam-no como tendo início ao
pôr do sol. Considerando os dois modelos de contagem [3],
temos:
a)
Diaclaro
–
das
6 às 18 horas:
Primeira
hora = 6
a 7
da manhã;
Segunda
hora = 7
a8
da manhã;
Terceira
hora = 8
a 9
da manhã;
Quarta
hora = 9
a 10
da manhã;
Quinta
hora = 10
a 11
da manhã;
Sexta
hora = 11
a 12 Meio
dia;
Sétima
hora = 12
(meio dia) a 1
da tarde;
Oitava
hora = 1a
2
da tarde;
Nona
hora = 2a
3
da tarde;
Décima
hora = 3a
4 da
tarde;
Décima
primeira hora = 4
a 5
da tarde;
Décima
segunda hora = 5
a 6
da tarde, ou
18 horas.
a)
Dia
escuro
(noite)–
das
18
ou 6 da tarde, às
6
horas(manhã
do outro dia):
Em Mateus 14.25 encontramos: “Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, andando por cima do mar”.
Segundo Russell Champlin: “… os romanos dividiam a noite em quatro vigílias, de três horas cada uma, costume esse que evidentemente foi adotado pelos judeus desde os tempos de Pompeu, e que se reflete nas Escrituras do N.T. Essas vigílias começavam, respectivamente, às 18:00 horas, às 21:00 horas, às 24:00 horas e às 3:00 horas” [4]. Considerando o critério romano, portanto, como sendo a noite dividida em quatro vigílias, temos:
Primeira vigília = das 18 às 21 horas;
Segunda vigília = das 21 às 24 horas;
Terceira vigília = das 24 (0 hora) às 3 horas;
Quarta vigília = das 3 às 6 horas.
Então, podemos dizer que Jesus dirigiu-se para seus discípulos, andando por cima do mar, à noite, entre três e seis horas da manhã. E para exemplificar também o dia segundo o critério romano, citando o texto de Mateus 20.1-10, encontramos ali a parábola dos obreiros da vinha ou parábola dos trabalhadores. Considerando apenas o sentido literal da parábola temos os termos: “madrugada” (v. 1), equivalente a algum momento antes das seis horas; “hora terceira” (v. 3), equivalente às nove horas; “hora sexta e nona” (v. 5), equivalentes, respectivamente, às doze e quinze horas; e, finalmente, “hora undécima” (v. 6), equivalente às dezessete horas.
Neste e em outros exemplos, podemos perceber a palavra hora com o sentido de o momento (a hora) de algum acontecimento. Outros exemplos: “… Pai, salva-me desta hora…” (Jo 12.27); “… Simão, dormes? não podes vigiar uma hora?” (Mc 14.37); “E Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona” (At 3.1); “… E naquela mesma hora o seu criado sarou” (Mt 8.13) etc.
2.
Hora no
sentido profético/escatológico
Nas Escrituras vemos também a palavra hora
com o sentido profético, ou
seja, de
algum acontecimento a ser revelado no futuro. Sobre
isto, queria destacar alguns versículos e buscar entender seus
significados escatológicos.
a) Hora
da
volta
de Jesus:
Sobre
a hora
da vinda de Jesus,
encontramo-na
em
várias passagens dos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) e também
em João. Exemplo:
“Vigiai,
pois, porque não sabeis a que
hora
há de vir o vosso Senhor”
(Mt
24.42);
“… daquele
dia e hora
ninguém sabe...”(Mc
13.32);
“… porque
virá o Filho do homem
à hora
que não imaginais…”
(Lc
12.4).
Também
relacionada à ressurreição dos mortos encontramos em João: “…
vem
a hora
em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz…”
(Jo
5.28).
b)
Hora
da
recompensa
dos que
servem
a Jesus:
As várias etapas (da chamada de trabalhadores para a vinha do “Pai de família”) de Mateus 20, se assemelham ao “reino dos céus”, disse Jesus. Isto significa que há trabalhadores que trabalham mais tempo no Reino, outros menos e outros, ainda, muito menos. Mas todos receberão os seus galardões do “Dono da vinha”, tantos os que foram chamados de “madrugada” (v. 1), quantos os que foram chamados na “hora terceira” (v. 3), “hora sexta e nona” (v. 5) e ainda na “hora undécima” (v. 6), todos serão recompensados. Observe
que “horas”,
descritas na parábola, tem o sentido literal (tempo de trabalho) e
pagamento pelo mesmo, e
também profético, podendo
referir-se,
no sentido espiritual, aos
servos de Deus que
serão
recompensados pela
sua atividade no Reino de Deus, o Senhor da Vinha.
Portanto, para
Deus, uns servem desde criança, outros começam à meia idade e,
outros ainda, na velhice ou final da vida. Mas todos são alcançados
pela graça de Deus. “Assim
é a graça de Deus. A sua graça se adapta à necessidade,
juntamente com o seu desígnio de transformar o trabalhador, mas não
de acordo com os méritos do mesmo. Não
obstante, Deus não ignora totalmente o mérito, porque a recompensa
dos galardões será distribuída segundo o trabalho feito… O
‘dono’ não fizera qualquer promessa a estes últimos
trabalhadores, nem mesmo um salário segundo fosse ‘justo’. Não
obstante, receberam o galardão da promessa feito àqueles que haviam
trabalhado longa e arduamente... Ficamos certos, por ensinos como
estes, que o Todo-poderoso usa de benevolência, o que
basta para dar à existência humana uma grande significação...” [5].
Quando (a que hora?) será
a recompensa dos galardões? Será
após a volta
de Jesus: “E,
eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada
um segundo a sua obra”
(Ap 22.12).
c)
Última
hora
e
hora da
tentação
Quero
destacar aqui trêsreferências
que falam da palavra hora
no sentido de fim dos tempos e de
juízo:
“Porque
já é tempo[hora]
que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa
por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao
evangelho de Deus?”
(1Pe
4.17). A
expressão
“kairós”
(o
kairos tou)
é traduzida na versão que estou usando (ACF),
por tempo(o
tempo é chegado) e
em outras versões (como a NVI), por “hora” (é
chegada a hora).
Kairós
(do qual falaremos em outro momento) tem o sentido de tempo certo ou
oportuno. Percebe-se pelo texto que hora ou tempo ali expresso ou
ainda
não chegou apesar da expressão “já é tempo/hora”, ou
o final desta hora (julgamento) ainda também não chegou.
Mas
o certo é que o
julgamento
começa pelo povo de Deus. “Não
era ainda o fim… [e]
se
o julgamento é tão rigoroso para o povo de Deus, sua severidade
para os incrédulos é indescritível (17b, 18; cfr. Luc .23.31).
Mas o cristão tem um segredo que o incrédulo não tem.
Pode
entregar-se às mãos de Deus em inteira confiança, ciente de que
Ele não pode falhar” [6].
“Filhinhos,
é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também
agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é
já a última hora”
(1Jo
2.18).
Alguns
termos são importantes ser destacados neste verso: “últimahora”,
“anticristo”
e “anticristos”
(no plural). Primeiramente, a “última hora” já chegou? João
diz que sim, mas
ainda não terminou.
Como
sabemos disto? Porque Jesus ainda não voltou! Muitos “anticristos”
se referem aos inimigos de Cristo, que representa um grupo (ou parte
da sociedade) com índole anticristã, isto é, que
vive contrária à vontade e modo de pensar de Cristo. Como
eu disse aqui“…
João
reconhece que era esperado um único anticristo, [mas
nesta sua Carta]
ele dirige a sua atenção aos muitos anticristos que já apareceram
negando que Jesus é o Cristo, contrariando, assim, a verdadeira
natureza do Pai e do Filho... Os docetistas contemporâneos[de
João]não
davam crédito à humanidade de Cristo (2Jo 7), alegando que Ele
parecia ter a forma humana. Para João, eles eram a concretização
do espírito do anticristo”.
Anticristo, neste caso, é alguém que “… assalta
a Cristo propondo-se fazer ou
preservar o que Ele fez,
ao passo que O nega”
(Westcott) [7].
Mas,
há também o
anticristo,
um personagem maligno especial que recebe vários nomes da Bíblia,
como "filho
da perdição" (2 Ts 2.3; cf. Jo 17.12); “o
iníquo"
(2 Ts 2.8); a
“besta” (Ap 13) e outros.
“Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap 3.10). Esta palavra de promessa dita por Jesus a respeito da Igreja de Filadélfia, é muitas vezes interpretada pelos dispensacionalistas/pré-tribulacionistas como um livramento dos cristãos fiéis da Grande Tribulação que virá ao mundo. A Igreja de Filadélfia, que representa o último estágio da Igreja Cristã, segundo a interpretação dispensacionalista, é também um exemplo dos cristãos fiéis que serão arrebatados da terra antes deste momento. Este é um assunto que merece um artigo à parte. Por ora, pensando na hora a que se refere o texto, quero apenas dizer que embora se trate de um momento de um determinado acontecimento, a hora, no sentido expresso aqui ainda não chegou. Chegará de forma singular com muita provação para o mundo. Paulo fala deste momento como sendo “… a ira futura” (1Ts 1.10). A ira de Deus virá, mas o povo de Deus será livrado da (ou na?) mesma. Bem, livrado através do Arrebatamento? Veremos sobre isto em outro momento…
Concluindo, até aqui, tentei destacar neste artigo, a palavra hora em dois sentidos: como um momento mais preciso, uma divisão ou parte do dia de doze horas (dia claro) ou parte de uma vigília (dia escuro/noite). Mas também no sentido profético, futurístico, que aponta para a última hora ou a hora em que virão: a grande tribulação; o surgimento de muitos anticristos – além dos que já existiram ou existem – e o Anticristo (principal); a volta do Senhor; a ressurreição dos mortos; o fim do mundo…
Veja também o vídeo de André Sanchez a seguir, sobre a primeira parte do assunto, “como as horas eram contadas na Bíblia”.
Notas / Referências bibliográficas:
[1] As referências bíblicas utilizadas em todo o artigo são da versão A.C.F. - Almeida Corrigida Fiel. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>.
[2] BRUCE, Frederick Fyvie. Hora. Apud: SHEDD, R. P. (Editor). O Novo Dicionário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1979 (3ª ed.), pág. 723.
[3] Veja também o cronograma feito por Jesse de Barros, aqui.
[4] CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo. São Paulo: Hagnos. 2002, Vol. I, pág. 425 (comentário sobre Mt 14.25).
[5] CHAMPLIN (Nota 4): Comentário de Mateus 20.9, pág. 498.
[6] MCNAB, Andrew. In: SHEDD, Russel P. (Editor). O Novo Comentário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1963 (1ª ed.). Comentário sobre IPe 4.17.
[7] In: SHEDD (Nota 7). Comentário sobre 1João 2.18.