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07 setembro 2021

A República do Brasil: história e consolidação

Por: Alcides Barbosa de Amorim

Proclamação da República, de Benedito Calixto[1]

República (do latim res publica = “coisa pública”), é a forma de governo, cujo chefe do Estado, normalmente o Presidente, é eleito pelos cidadãos por tempo limitado de acordo com a Constituição do país. No caso do Brasil, o tempo estipulado pela Constituição para o mandato do Presidente da República é de quatro anos, podendo ser reeleito para mais quatro, caso seja a vontade dos eleitores.

A origem desta forma de governo está na Roma Antiga e foi experimentado, pela primeira vez, quando os patrícios, classe privilegiada, destronou o último etrusco do poder, e implantaram este novo regime, instaurando o chamado Período Republicano que durou entre 509 a 27 a.C.

1.    Ideias republicanas no Brasil Colônia

No Brasil, que viveu sob a tutela de Portugal por mais de três séculos, a ideia de implantação do regime republicano já existia desde o final do século XVIII. Com tendências separatista e regionalizada, podemos perceber essa ideia em movimentos como a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana (1798) e a Insurreição Pernambucana de 1817.

Inconfidência Mineira, que culminou com a morte de Tiradentes em 1792, foi o primeiro movimento que manifestou claramente a interação de separação política de Portugal. Influenciada pelo Liberalismo, o Iluminismo e a Independência dos Estados Unidos, parte dos inconfidentes, no plano político, “almejava a república”.

A conjuração pretendia eliminar a dominação portuguesa das Minas Gerais, estabelecendo um país independente. Não havia a intenção de libertar toda a colônia brasileira, pois naquele momento uma identidade nacional ainda não havia se formado. A forma de governo escolhida foi o estabelecimento de uma República, inspirados pelas ideias iluministas da França e da Independência dos Estados Unidos da América (1776). Ressalve-se que não havia uma intenção clara de libertar os escravos, já que muitos dos participantes do movimento eram detentores dessa mão-de-obra[2].

Após a execução de Tiradentes sobrava o lema da Inconfidência: “Liberdade ainda que tardia”, expressão que ficou marcada na bandeira de Minas Gerais.

Sobre a Conjuração Baiana, a revista Nova Escola (novembro de 2012), por exemplo, em um de seus artigos sob o título “Aconteceu na França, respingou aqui”, menciona o fato de ela ter tido grande influência no exemplo da República, implantada na França, como parte do processo da Revolução. ‘Todos serão iguais, não haverá diferença, só haverá liberdade, igualdade e fraternidade’. Esta declaração descrita em panfletos no dia 12 de agosto de 1798, convocava as pessoas à revolução e à instauração da República Baiana. O movimento revolucionário foi reprimido com violência e com a execução dos conjurados, mas expressou a popularidade do movimento.

Em Pernambuco, a chamada Insurreição Pernambucana contou com representantes de várias classes. “Os presos políticos foram libertados, criou-se a bandeira da República Pernambucana, extinguiram-se os títulos de nobreza e aumentou-se o soldo militar”. (Costa & Mello, Op. Cit., página 100). As forças metropolitanas mataram, prenderam e executaram insurretos, mas a Insurreição deixou implantada as ideias republicanas, as quais se manifestariam, novamente, em 1824, na chamada Confederação do Equador, movimento que envolveu outras províncias nordestinas e que também chegaram a implantar uma República, ainda que tenha durado por pouco tempo.

Independência Política do Brasil, ocorrida em 1822, além de não trazer nenhuma mudança significativa das condições de vida da maioria da população pobre, formada principalmente por escravos e mestiços, apresentava algumas diferenças entre o que ocorreu no Brasil e em outros países da antiga América Espanhola. Enquanto lá foi adotada a república logo em seguida à independência, o Brasil continuou sendo governado por um monarca (e ainda) membro da família real de sua ex-metrópole. A República só aconteceria no Brasil em 1889.

2.    O movimento republicano e o fim do Segundo Reinado

Durante o Império, revoltas como a da Revolução Farroupilha (1835 a 1845), por exemplo, representaram a tentativa de acabar com a monarquia no Brasil. E após a Guerra do Paraguai (1864 a 1870), os militares, “vitoriosos” da guerra, voltaram para o Brasil com ideias abolicionistas, republicanas e com grande prestígio popular. Faltavam apenas algumas pinceladas para que a República surgisse totalmente definida. “Não é a república que vem, é o império que vai”, dizia-se na época.

“A centralização, tal como existe, representa o despotismo, dá força ao poder pessoal que avassala, estraga e corrompe os caracteres, perverte e anarquiza os espíritos, comprime a liberdade, constrange o cidadão, subordina o direito de todos ao arbítrio de um só poder, nulifica de fato a soberania nacional, mata o estímulo do progresso local, suga a riqueza peculiar das províncias, constituindo-as satélites obrigadas da Corte – centro absorvente e compressor que tudo corrompe e tudo concentra em si”[3].

O trecho do discurso republicano acima demonstra a intenção de descentralizar o poder do rei e dar mais autonomia às províncias. Na verdade, o que os republicanos pretendiam era atender às conveniências das camadas dominantes locais, representados pela ala radical do antigo Partido Liberal. Esse setor – radical – adota as ideias republicanas e funda no Rio de Janeiro, em 1870, o Partido Republicano que, pouco a pouco, seria criado também em São Paulo (1873) e em Minas Gerais (1888).

Os adeptos do Partido Republicano dividiram-se em duas facções: uma, evolucionista, cujo principal líder era Quintino Bocaiuva, era favorável à implantação da República por meio de eleições, e a outra, revolucionária, cujo principal líder era Silva Jardim, entendia que somente uma revolução popular derrubaria a monarquia.

O que acabou prevalecendo, no entanto, não foi nenhuma das facções acima e, sim, um golpe tramado pelos militares (uma verdadeira quartelada) e os cafeicultores. Na manhã do dia 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca e suas tropas invadiram o Ministério da Guerra, onde os monarquistas estavam refugiados, destituíram Ouro Preto (último primeiro-ministro, que respondia pelo imperador, que estava doente). Os monarquistas não reagiram, e assim, dentro de um gabinete militar, a república foi instaurada. Mais uma vez, assim como aconteceu em 1822, sem a participação popular.

3.    A consolidação da República: Governo Provisório e Constituição de 1891

Em 15 de novembro de 1889, foi proclamada oficialmente a república brasileira pelo Marechal Deodoro da Fonseca, e este assumiu o governo, até que uma nova Constituição foi votada. Enquanto esta não saia, Deodoro toma algumas medidas, sob a forma de “Governo Provisório Republicano”.

As principais medidas tomadas pelo Governo Provisório[4] foram:

§  Estabelecimento da República federativa como regime político, sob a denominação de Estados Unidos do Brasil.

§  As províncias passam a se chamar estados.

§  Absolvição das Assembleias Provisórias e das Câmaras Municipais.

§  Nomeação de novos governantes para os estados e municípios.

§  Criação da bandeira republicana, com o lema positivista Ordem e Progresso.

§  Concessão da cidadania brasileira aos estrangeiros aqui residentes (a grande naturalização).

§  Convocação de uma Assembleia Constituinte.

§  Separação entre Igreja e Estado, instituição do casamento civil e secularização dos cemitérios;

§  Reforma do Código Penal.

Entre os direitos dos cidadãos, a Constituição – conjunto de leis que estabelecem os direitos e os deveres dos cidadãos – estabeleceu:

§  a igualdade de todos perante a lei;

§  liberdade religiosa e separação entre o Estado e a Igreja;

§  a inviolabilidade do lar e o sigilo da correspondência (isto é, todos teriam o direito de não ter a casa invadida nem a correspondência aberta);

§  a manutenção da propriedade particular;

§  o livre exercício de qualquer profissão;

§  a liberdade de associação e de manifestação de pensamento;-o casamento civil;

§  o ensino leigo (não religioso) nas escolas públicas;

Para votar e ser votado, o cidadão já não precisava ter renda mínima anual. Bastaria ser maior de 21 anos e do sexo masculino, desde que não fosse mendigo, analfabeto, soldado raso ou membro de ordem religiosa[5].

Durante o Governo Provisório, o ministro da Fazenda foi Rui Barbosa, que pretendendo tornar o Brasil uma república capitalista moderna e com muitas indústrias, permitiu a alguns bancos imprimir e emprestar dinheiro. Com o dinheiro fácil, muita gente começou a pedir empréstimos e investir na bolsa de valores. Assim, muitas empresas fantasmas foram criadas só para conseguir investimentos. No fim, veio a crise: a desvalorização do dinheiro, a desorganização financeira, a falência das empresas, grandes e pequenas fortunas perdidas etc. Essa crise recebeu o nome de Encilhamento, devido à semelhança que existia entre a barulheira feita na hora do fechamento dos negócios na bolsa de valores e na do fechamento das apostas no jóquei (clube de corridas de cavalos).

Tanto os fazendeiros (que queriam continuar mandando no país) como as empresas estrangeiras (que queriam continuar exportando para o Brasil e por isso eram contra a industrialização) começaram a exigir o afastamento de rui Barbosa e a fazer oposição ao presidente Deodoro da Fonseca. Este, para tentar se manter no poder, demitiu Rui Barbosa e colocou em seu lugar um monarquista conservador, o barão de Lucena, que era contra a política de rui Barbosa e defendia o predomínio da agricultura sobre a indústria. Agora eram os reformistas e industrialistas que protestavam.

Diante da forte oposição, o presidente não teve dúvidas: no dia 3 de novembro de 1891 fechou o congresso e convocou novas eleições, embora a Constituição não lhe desse poderes para isso. A reação foi grande. As Forças Armadas não apoiaram o presidente, que, sem outra alternativa, no dia 23 de novembro declarou aos militares: “Não sou mais o presidente da República”, sendo sucedido pelo Marechal Floriano Peixoto.

 

Bandeira do Brasil

A ideia da bandeira atual foi elaborada pelo professor Raimundo Teixeira Mendes, que contou também com a participação do Dr. Miguel Lemos e o professor Manuel Pereira Reis e quem realizou a confecção do desenho foi o pintor Décio Vilares[6].

O Congresso Constituinte começou seus trabalhos em 15 de novembro de 1890 e, em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a segunda Constituição do Brasil e a primeira da República. A nova Constituição organizou o governo em três poderes autônomos: Poder Executivo, exercido pelo presidente da República; Poder Legislativo, exercido pelo Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado) e Poder Judiciário, exercido pelo Supremo Tribunal Federal.

Veja no vídeo (link abaixo), o Hino da República do Brasil[7]:

§  Letra: Medeiros e Albuquerque, 1890.

§  Composição: Leopoldo Américo Miguez, 1890.

§  Publicação: Diário Oficial, em 21/01/1890.


Para reflexão: 

A Proclamação da República foi um golpe?

Veja o vídeo (link a seguir) a seguir...



Notas / Referências bibliográficas:

  •  [1] SOUSA, Rainer. A Proclamação da República. Disponível em: <http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-proclamacao-republica.htm>. Acesso em: 07/09/2021.
  •  [3] Trecho do MANIFESTO DOS REPUBLICANOS. In. COSTA, Luís César Amand & MELLO, Leonel Itaussu A. História do Brasil. São Paulo: Scipione (?), p. 178.
  •  [4] COTRIM, Gilberto. Saber e Fazer História, 8ª Série (Adaptado). São Paulo: Saraiva, 2002. P. ?.
  •  [5] PILETTI, Nelson & Claudino. História: EJA (Educação de Jovens e Adultos), Ensino Fundamental, 4º Ciclo (texto adaptado). São Paulo: Ática, 2003, p. 100.
  •  [6] BNDEIRA do Brasil. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_do_Brasil>. Acesso em: 07/09/2021.
  •  [7] Hino da Proclamação da República. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Hino_da_Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica>. Acesso em: 07/09/2021.

28 agosto 2021

O Apóstolo Tomé

Tomé[1]

Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!
Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20.24-29)[2] – Grifos meus
.

Tomé (em aramaico te`ômã`), foi um dos apóstolos de Jesus, também chamado Dídimo (em grego), que significa “gêmeo”, (Jo 11.16; 20.24; 21.2). Embora seu nome apareça nos quatro Evangelhos do Novo Testamento, os traços sobre sua personalidade aparecem principalmente no quarto: Evangelho de João. Por isso que destaquei na passagem acima a expressão “incrédulo”, atribuída a ele por Jesus, pelo fato de ele descrer de sua ressurreição, e a sua resposta “Senhor meu, e Deus meu”, uma das grandes verdades a respeito da divindade de Jesus, reconhecida por ele em seguida, um (possivelmente) ex-incrédulo, que entendeu rapidamente o pedido de Jesus para mudar de atitude e ser “crente”, depois de ser confrontado com a verdade de que Jesus tinha ressuscitado e que ele podia até tocar em suas feridas provocadas pelas lanças dos seus algozes. Por estes motivos, acho que ele pode também bem ser adjetivado como um apóstolo de personalidade racional e dúbia, uma vez que ele tinha dificuldade de crer em milagres, mas também, uma vez ciente da verdade a que buscava, ele a defendia naturalmente.

Devido ao significado de seu nome, parece evidente que Tomé tenha tido um irmão gêmeo, porém não existe qualquer informação sobre esse irmão ou irmã dele nos Evangelhos. Também é no Evangelho de João – repito – que encontramos as melhores informações sobre quem foi Tomé, visto que nos outros Evangelhos e no livro de Atos ele é meramente mencionado na lista que traz os nomes dos apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6,15 e At 1.13).

Ainda um pouco mais sobre a personalidade de Tomé, percebe-se que ele demonstra pessimismo e uma enorme devoção ao Senhor ao mesmo tempo, por exemplo, quando da ressurreição de Lázaro. Nesta ocasião, Tomé, considerando a ameaçava real de apedrejamento caso Jesus fosse à Judéia, declarou: “...vamos também nós para morrermos com ele” (Jo 11.16b). Embora Tomé demonstre desânimo e pessimismo frente a possibilidade de ser morto, ele declara sua aptidão a morrer – se fosse o caso – juntamente com o seu Senhor. Todavia, esta aparente prontidão de morrer com Jesus não fica demonstrada por Tomé quando Jesus é preso. Naquele momento, ele e os demais apóstolos fugiram. Embora, pelas Escrituras do Antigo Testamento, isto de fato aconteceria para cumprimento da profecia que afirma: “... ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão” (Mc 14.27c) – conforme Zacarias 13.7.

Tomé[3] também demonstrou dúvida acerca do ensino do Senhor Jesus de que os discípulos conheciam o caminho para onde Ele estava indo, ao dizer: Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?” (Jo 14.5). É possível que Tomé, nesse questionamento, estivesse representando o pensamento dos outros discípulos. De qualquer forma, essa frase revela certa fraqueza, mas que é imediatamente confrontada com a conhecida resposta do Senhor Jesus: Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim (Jo 14.6).

Mas Tomé viu o Cristo ressurreto, seu Senhor e seu Deus. Após sua ressurreição, como já vimos, Tomé demonstra incredulidade e depois revela o atributo da onisciência de Jesus, portanto, de um Cristo Deus, o qual tinha visto e ouvido suas demonstrações de incredulidade, oito dias antes. O texto bíblico não esclarece se Tomé tocou ou não nas feridas de Jesus, ou se apenas esse terno convite, respondendo nos mínimos detalhes a sua exigência, já tenha bastado. Em todos os casos, seja qual tenha sido sua reação, ela o conduziu prontamente à sua profunda declaração de fé: “Senhor meu, e Deus meu!” (João 20:28). E sendo Deus, Jesus é reconhecido por Tomé e pelos cristãos, como uma das pessoas da Trindade (cf. Jo 1.1-3).

Tomé também estava presente junto aos discípulos que pescavam num barco no mar da Galileia quando Jesus novamente apareceu a eles (João 21).

Além destes (e outros) relatos bíblicos expostos acima, há muitas especulações e (possíveis) lendas a respeito de Tomé na tradição cristã. Uma dessas “lendas” (ou não) que já destacamos, por exemplo, em outro momento, afirma que Tomé esteve no (que um dia viria a ser) Brasil. Segundo Jorge PINHEIRO[4], pelo menos dois grupos indígenas, o dos Tupinambá e o Tupi-Guarani, faziam menção a um tal “Pai Çumé” (ou Sumé), ou seja, Tomé, um dos apóstolos de Cristo. “... os tupis [por exemplo] acreditavam que Çumé partiu caminhando sobre as águas do Atlântico, mas prometeu voltar um dia para continuar sua obra civilizatória. Quem sabe a profecia se cumpriu e Çumé retornou com a chegada dos jesuítas?”, diz Jorge (PINHEIRO: 2008, p. 104). Há outras “possíveis” referências sobre Tomé também na Bahia, Peru, Bolívia..., e há informações também que Tomé pregou o Evangelho na Índia e Síria.

Sobre sua morte, não é possível afirmar qualquer coisa realmente confiável sobre como ela aconteceu. Segundo Franklin Ferreira, “Tomé foi morto por lanceiros próximo a Madras[5], cidade indiana, no ano 72[6]. É bem possível que haja algum autor gnóstico com o mesmo pseudônimo de Tomé, mas – concordamos com Conegero (NOTA 3) – o que realmente precisamos saber a respeito de Tomé, as informações registradas na Bíblia acerca dele são suficientes. Aquele Tomé, popularmente conhecido como “incrédulo” é também aquele que o Evangelho de João o apresenta como revelador de um dos mais profundos atributos de Jesus Cristo: a sua deidade, expressa na confissão “Senhor meu, e Deus meu!”.

Sugiro vídeo de Lamartine Posella, abaixo, como ampliação deste conteúdo...



Notas / Referências bibliográficas:

  • [1] Imagem meramente ilustrativa. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A9,_o_Ap%C3%B3stolo>. Acesso em: 28/08/2021.
  • [2] Esta e as demais passagens bíblicas utilizadas neste artigo são da versão protestante ACF – Almeida, Corrida Fiel, disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>. Acesso em: 28/08/2021. 
  • [3] CONEGERO, Daniel. Quem Foi o Apóstolo Tomé? (Texto adaptado). Disponível em: <https://estiloadoracao.com/quem-foi-o-apostolo-tome/>. Acesso em: 28/08/2021. 
  • [4] PINHEIRO, Jorge. Deus é brasileiro: as brasilidades e o reino de Deus. São Paulo: Fonte Editorial, 2008. 
  • [5] FERREIRA, Franklin, O martírio cristão. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/franklin-ferreira/o-martirio-cristao/?#success=true>. Acesso em: 28/08/2021. 
  • [6] Veja NOTA 1.


16 agosto 2021

Breve história de Cuba

A República de Cuba, maior ilha do mar do Caribe, está localizada na América Central, com uma área aproximada de 110 km², é dirigida pelo regime socialista e cujos habitantes falam a língua espanhola.

Cuba faz parte da América Latina, pelo fato de, originalmente, seu território ter sido colonizado pelos espanhóis e de pertencer ao conjunto de países também de línguas de origem latina: espanhola (parte da América, conquistada pela Espanha, em 1492) e portuguesa (parte da América, conquistada por Portugal, em 1500).

O domínio espanhol na ilha cubana durou aproximadamente 400 anos, e ali se cultivavam tabaco e cana-de-açúcar, com a utilização de mão-de-obra escrava, primeiramente indígena e depois africana.

Por sua localização e seu formato geográfico (uma ilha comprida, espécie de costa protetora no Caribe), Cuba foi usada, juntamente com Porto Rico, como base militar dos Estados Unidos. Assim, ambos tornaram-se seus protetorados após a Guerra Hispano-Americana, pelo Tratado de Paris, em 1898.  Com a vitória dos Estados Unidos sobre a Espanha, os norte-americanos passaram a controlar a ilha.  Importante destacar que Cuba e Porto Rico não foram anexados aos Estados Unidos. Eles formavam, como define o termo protetorado, territórios autônomos, mas protegidos diplomática ou militarmente contra terceiros, por um Estado mais forte, no caso os Estados Unidos.

Cuba tornou-se independente da Espanha, com a ajuda e interesses dos Estados Unidos, em 1891[1]. E, como parte da recompensa, foi permitida a construção de uma base militar na cidade de Guatánamo, onde permanece até hoje. E convém destacar ainda que até a Guerra Fria, em 1959, Cuba continuou mantendo boas relações com os Estados Unidos. A ruptura ocorreu com o revolucionário Fidel Castro. Este era um hábil advogado, filho de um rico fazendeiro e apresentava-se como defensor de camponeses e outros trabalhadores. Em 1953, numa tentativa de golpe contra o ditador Fulgêncio Batista, que ficou no poder de 1952 a 1959, Fidel Castro é condenado a 15 anos de prisão, mas foi anistiado em 1955, mudando-se então para o México, de onde chefia um grupo, no qual se incluem seu irmão Raúl Castro e Ernesto Che Guevara, com os quais viaja a Cuba de balsa em 1956 para lutar contra o exército de Batista. Após três anos de guerrilha, toma o poder em janeiro de 1959 e desde então governa o país até sua morte em novembro de 2016, ficando Raúl em seu lugar.

O principal companheiro de luta de Fidel, Che Guevara, ocupou diversos cargos no seu governo e viajou o mundo como embaixador do país. Matéria da Revista Superinteressante[2], de 1º de agosto de 2014, afirma: “... Che – nome de nascimento, Ernesto Rafael Guevara de la Serna – teria se envolvido em 144 mortes e teria sido responsável pela prisão irregular de 30 mil pessoas”, mas outras fontes, como o Portal Conservador cita, por exemplo, falam em números bem mais assustadores. “De acordo com O Livro Negro do Comunismo, escrito por estudiosos franceses de esquerda (...), ocorreram 14.000 execuções por fuzilamento em Cuba até o final de década de 1960[3]”. A matéria também dá destaque ao dircurso de Che na ONU, em 9 de dezembro de 1964, quando ele confirma que praticou execuções e esmo assim recebe aplausos entusiasmados de seus idolatrados presentes.

Como durante a Guerra Fria, a Cuba de Fidel alinhou-se ao bloco econômico soviético, tornando-se assim o único país socialista da América, os Estados Unidos rompem relações econômicas e diplomáticas com a mesma e impõe o "el bloqueo", que consiste em uma interdição de caráter econômico, financeiro e comercial imposta pelos EUA ao governo cubano no ano de 1962. Posteriormente, o bloqueio tornou-se lei no começo dos anos 90[4]” e teve a proibição aumentada ainda mais com o presidente Bill Clinton, em 1999.



Fidel e Che na Sierra Maestra (*).

Por ser de espírito mais revolucionário que Fidel, ambos – ao que parece – chegam a se desentender e Che se separa de seu amigo e muda-se para o Congo em 1965, abdicando-se dos próprios cargos que tinha em Cuba[1]. Mas no Congo, sua empreitada revolucionária foi um fracasso e no mesmo ano, volta-se na clandestinidade para Cuba. No ano seguinte (1966), entra disfarçado na Bolívia, onde é executado por uma rajada de fuzil em 1967.

Mas o bloqueio econômico não impede os Estados Unidos de exportarem alimentos para Cuba nem de relacionarem com sua economia. Um texto escrito por Nelson Rodríguez Chartrand[6] e publicado pelo Portal Conservador, destaca que apesar do embargo, os Estados Unidos são o principal exportador de produtos agrícolas para Cuba. Veja a tabela:

Desta forma, destaca Chartrand, “... o fato é que, não apenas os EUA têm estado entre os cinco principais sócios comerciais de Cuba, como também, se não bastasse, têm sido os principais fornecedores de produtos agrícolas para a ilha” (Idem). Por isso, independentemente do nível de culpabilidade dos governantes de ambas as partes, é o povo cubano que está sofrendo as consequências.

Veja, a seguir o vídeo de Zoe Martínez, relatando parte do que é a vida em Cuba.


Notas / Bibliografia:

  •  (*)  Fidel e Che. A amizade que marcou a revolução. Imagem e texto (adaptado) disponíveis em: <dn.pt/mundo/fidel-e-che-a-amizade-que-marcou-a-revolucao-5520980.html>. Acesso em: 14/08/2021
  •  [1] PERCíLIA, Eliene. "Cuba"; Brasil Escola (Texto e imagem adaptados). Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/historia-cuba.htm. Acesso em 15/08/2021.
  •  [2] Quem foi Che Guevara? Cinquenta anos após sua morte, Che ainda é motivo de discussão. Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quem-foi-che-guevara/In: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quem-foi-che-guevara/>. Acesso em: 14/08/2021. 
  •  [3] FONTOVA, Humberto. O verdadeiro Che Guevara. Disponível em: <https://portalconservador.com/o-verdadeiro-che-guevara/>. Acesso em: 14/08/2021. 
  •  [4] ARÚJO, Felipe. Embargo dos Estados Unidos a Cuba. Disponível em: <https://www.infoescola.com/economia/embargo-dos-estados-unidos-a-cuba/>. Acesso em: 16/08/2021. 
  •  [5] Fidel e Che. A amizade que marcou a revolução. Imagem e texto (adaptado) disponíveis em: <dn.pt/mundo/fidel-e-che-a-amizade-que-marcou-a-revolucao-5520980.html>. Acesso em: 14/08/2021. 
  • [6] CHARTRAND, Nelson Rodríguez. A desconhecida história do embargo cubano. Disponível em: <https://portalconservador.com/a-desconhecida-historia-do-embargo-cubano/>. Acesso em: 16/08/2021.

28 junho 2021

Quando vai acontecer a batalha de Gogue e Magogue?

Por Cris Beloni

 (in: <https://www.gospelprime.com.br/quando-vai-acontecer-a-batalha-de-gogue-e-magogue/>.)

Parece que haverá batalhas chamadas de Gogue e Magogue, uma descrita no livro de Ezequiel e outra no Apocalipse. Por ora, quero apenas transcrever literalmente, neste post, o artigo de Cris Beloni, sobre a Batalha profetizada por João, no Apocalipse. Vamos ao texto:

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“Quando terminarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão e sairá para enganar as nações que estão nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a batalha.” (Ap 20.7-8)


Antes de ir ao contexto, já podemos verificar que o próprio texto responde à pergunta: “quando terminarem os mil anos”. Logo, a questão passa a ser outra: quando começa e quando termina esse milênio?

O termo “mil anos” é literal ou simbólico?

É praticamente impossível encontrar unanimidade nessa resposta. Talvez este seja o ponto que traga maior divergência entre os cristãos das mais variadas denominações. Conheça aqui um breve resumo das principais correntes escatológicas sobre o milênio:

Pré-milenismo – dividido entre clássico e histórico, acredita que Jesus voltará antes do milênio. Aqui o milênio é literal e Jesus reinará fisicamente. Esse também foi o pensamento dos pais da Igreja. Algumas denominações diferenciadas pensam assim, como os batistas por exemplo.

Possível sequência dos fatos – depois da segunda vinda de Cristo, começa o tempo conhecido por milênio e ao final do milênio ocorre a batalha de Gogue e Magogue.

Dispensacionalismo – também conhecido como pré-milenismo dispensacionalista, acredita que Jesus voltará em duas fases: antes da Grande Tribulação para o arrebatamento, de forma invisível, e depois de forma visível, no final da GT. Esse é um pensamento mais recente. A maioria dos assembleianos pensa assim e também as igrejas pentecostais e neo-pentecostais.

Possível sequência dos fatos – o arrebatamento da igreja vem primeiro, depois a Grande Tribulação, a segunda volta de Cristo, a batalha de Gogue e Magogue e depois o milênio.

Pós-milenismo – acredita que Jesus só voltará depois do milênio. Esse milênio não é literal, mas um longo período de tempo que foi iniciado com a primeira vinda de Cristo. Nessa visão, a volta Dele depende da pregação do Evangelho a nível universal, através do avanço missionário. Há uma visão muito otimista nessa crença, de que mundo será melhor progressivamente, enquanto a humanidade vai sendo evangelizada. 

Mas essa posição praticamente não existe mais. Conforme o pastor Luiz Sayão, existiu no século 19, em alguns contextos americanos. Em português, temos acesso a essa interpretação através do livro Teologia Sistemática, de Charles Hodge. Segundo Sayão, praticamente, não há muitos defensores dessa corrente nos dias de hoje. 

Amilenismo – acredita que o milênio teve início com a primeira vinda de Cristo. Não é um milênio literal, mas simboliza um longo período de tempo. Para os amilenistas, então, nós já estamos vivendo no milênio, o reinado de Cristo já começou a partir do primeiro século, de forma espiritual, e no céu. Satanás está preso, mas atuante de forma limitada. A batalha de Gogue e Magogue vai acontecer junto da segunda vinda de Cristo e ao findar do milênio. Para essa corrente, Armagedom é a mesma batalha. A maioria dos presbiterianos segue essa linha.

Possível sequência dos fatos – primeira vinda de Cristo, satanás sendo preso nessa ocasião, milênio e reinado espiritual de Cristo, satanás sendo solto ao final deste milênio vigente, Grande Tribulação, Gogue e Magogue – que é o Armagedon. 

Adventismo – conforme o Dr. Rodrigo Silva, os adventistas têm uma escatologia um tanto distinta dessas já apresentadas. Ele explicou: “somos pré-milenistas, mas o reino milenar de Cristo ocorrerá – nesta compreensão – no céu e não na terra. Satanás, na terra estará preso por uma cadeia de circunstâncias e não haverá nenhum ser vivo para fazer-lhe companhia. Depois do milênio vem a Nova Jerusalém, a ressurreição dos ímpios e a batalha final do bem contra o mal, Gogue e Magogue”, explicou.

Para o arqueólogo, o Armagedom é uma guerra espiritual que começa na volta de Jesus e tem seu desfecho depois do milênio, conforme Apocalipse 20. Para os adventistas, essa batalha é espiritual e não um movimento histórico-presente de comoção no Oriente ou de uma luta envolvendo os países atuais. Mas esse ponto também tem diferentes interpretações dentro do próprio no adventismo.

Apesar das divergências

Todas essas correntes escatológicas possuem pontos em comum. São eles: Jesus voltará e todo olho o verá, todo joelho se dobrará e toda língua o confessará. Ele julgará vivos e mortos, haverá uma ressurreição e depois a vida eterna.

As divergências apenas giram em torno da cronologia ou da sequência dos acontecimentos, o que jamais deveria ser motivo de discussão ou discórdia entre os cristãos. Se você quer se aprofundar neste assunto, leia o e-book Apocalipse Investigado. CLIQUE AQUI para ter acesso. 

Milênio ao longo da história da Igreja

Na história da igreja, a segunda vinda de Cristo nunca foi esperada como se fosse acontecer a qualquer hora ou instante, mas precedida de um período de grande sofrimento, a Grande Tribulação, conforme a Bíblia descreve. Esse pensamento só foi alterado por volta de 1830, na Inglaterra, após uma “profecia” de uma jovem, conforme citou o saudoso pastor Russell Shedd, numa de suas pregações, ainda disponíveis na internet. 

Ele contou que a jovem deu início ao que se tornou, hoje, uma nova interpretação bíblica acerca do fim dos tempos – o arrebatamento secreto. Depois disso, vários líderes começaram a divulgar essa posição, conhecida como dispensacionalista. Podemos compreender essa interpretação também como pré-milenista e pré-tribulacionista.

Saber que existe mais de uma interpretação em termos de visão de futuro e profecias que ainda vão se cumprir, é como ter “linhas divisórias” entre os pensamentos dos cristãos, a cerca do tempo do fim. Perceba que só analisando o tema “milênio” já encontramos pelo menos “cinco pensamentos” distintos.


Conclusão

Diante de tantas diferenças na cronologia dos últimos acontecimentos, qual seria a resposta para a nossa pergunta: quando vai acontecer a batalha de Gogue e Magogue? Depende do que você pensa a respeito do milênio. Se você acha que o milênio já começou na primeira vinda de Cristo, então você pensa como os amilenistas e, Gogue e Magogue vai acontecer logo após satanás ser solto novamente por um período curto de tempo. Se você acha que estamos dentro do milênio, então falta pouco para essa batalha acontecer.

Mas se você pensa como os pré-milenistas ou como os dispensacionalistas, o milênio terá início logo após a segunda vinda de Cristo e ao final deste período de mil anos literais, acontecerá a batalha de Gogue e Magogue. 

Neste estudo, você teve acesso às diferentes formas de pensar sobre a cronologia do fim dos tempos. O Movimento Bíblia Investigada é uma “exposição” de pensamentos e não uma “imposição”. E todos nós temos liberdade de pensamento, de consciência e de expressão, e essa liberdade é, inclusive, garantida por lei em nosso país. Por isso, estar diante de diferentes opiniões não deve ser um problema, basta respeitarmos a forma de pensar de cada um.

Se houver necessidade de “mudança de pensamento”, o próprio Espírito Santo atuará nesse caso. Não devemos julgar as pessoas que pensam diferente de nós. E que o amor prevaleça em nosso meio, acima de tudo. Lembre-se do que Jesus disse:

“Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo.” (Mateus 22.37-39)

E para finalizar:

“Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.” (João 8.31-32)

Colaborou “muito” com este estudo o professor e teólogo Luiz Sayão e o arqueólogo Rodrigo Silva.


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