Por George Orwell [1]
In: Gazeta do Povo [2]
Durante todo o ano, os animais trabalharam como escravos. Mas eles eram felizes trabalhando; não se opunham a fazer nenhum esforço ou sacrifício, conscientes de que tudo o que faziam era em benefício próprio e daqueles de sua espécie que ainda nasceriam, e não em benefício de um bando de seres humanos ociosos e ladrões.
Durante a primavera e o verão eles trabalharam sessenta horas por semana e em agosto Napoleão anunciou que trabalhariam também nas tardes de domingo. Este trabalho era estritamente voluntário, mas qualquer animal que se ausentasse teria sua ração reduzida pela metade. Mesmo assim, precisaram abrir mão de certas tarefas. A colheita não foi tão bem sucedida quanto no ano anterior, e dois campos que deveriam ter sido semeados com raízes no início do verão não foram porque a terra não fora arada a tempo. Já dava para prever que o inverno seria bem difícil.
O moinho de vento apresentou muitas dificuldades inesperadas. Havia uma boa pedreira de calcário na fazenda, e tinham encontrado muita areia e cimento em um dos galpões, de modo que todos os materiais para a construção estavam à mão. Mas o problema que os animais não conseguiam resolver a princípio era como quebrar a pedra em pedaços de tamanho adequado. Não parecia haver maneira de fazer isso, exceto com picaretas e pés-de-cabra, que nenhum animal conseguia usar, pois nenhum animal ficava de pé em suas patas traseiras. Foi somente depois de semanas de esforço em vão que uma boa ideia ocorreu a alguém – usar a força da gravidade. Grandes rochas, grandes demais para serem usadas como eram, estavam espalhadas por todo o leito da pedreira. Os animais amarravam cordas ao redor delas e então puxavam com uma lentidão desesperadora, todos juntos, vacas, cavalos, ovelhas e qualquer outro animal que pudesse segurar a corda – até mesmo os porcos se juntavam em momentos críticos – até o topo da pedreira, de onde as pedras eram derrubadas para se despedaçarem em pedaços menores abaixo. Transportar a pedra depois de quebrada era relativamente simples. Os cavalos as carregavam em carroças, as ovelhas arrastavam uma por uma, e até mesmo Muriel e Benjamin usavam uma charrete velha e faziam sua parte. Até o final do verão acumularam um estoque suficiente de pedras e então a construção começou, sob a supervisão dos porcos.
Mas foi um processo lento e laborioso. Frequentemente era necessário um dia inteiro de esforço exaustivo para conseguirem arrastar uma única pedra até o topo da pedreira, e nem sempre elas quebravam quando caiam. Eles nunca teriam conseguido sem o Golias, cuja força parecia igual à de todos os outros animais juntos. Quando as pedras começaram a escorregar encosta abaixo e os animais gritavam desesperados ao se verem arrastados pela colina, era sempre ele que fazia força para segurar a corda e conseguia parar a pedra. Vê-lo trabalhar na encosta, subindo de pouco a pouco, com a respiração rápida, as pontas de seus cascos o segurando no chão e seus grandes flancos cheios de suor, deixava todos admirados. Esperança o advertiu algumas vezes para não se esforçar demais, mas Golias nunca a ouvia. Seus dois lemas, “Vou trabalhar mais” e “Napoleão está sempre certo”, pareciam-lhe uma resposta suficiente para todos os problemas. Tinha feito arranjos com o galo para ser acordado três quartos de hora mais cedo de manhã, ao invés de meia hora. E em seus momentos de lazer, tão raros hoje em dia, ele ia sozinho à pedreira, recolhia um carregamento de pedras quebradas e arrastava até o local de construção do moinho sem nenhuma ajuda.
O verão não foi tão ruim assim para os animais, apesar do trabalho duro. Se não tinham mais comida do que tinham nos dias de Jones, pelo menos não tinham menos. A vantagem de só ter que se alimentar e não ter que suportar cinco seres humanos extravagantes também era tão grande que os fracassos compensavam. E em muitos aspectos, o método animal de fazer as coisas era mais eficiente e poupava trabalho. Trabalhos como capinar, por exemplo, podiam ser feitos com uma minuciosidade impossível para os seres humanos. E novamente, como nenhum animal roubava agora, era desnecessário cercar o pasto da terra arável, o que poupava muito trabalho na manutenção de cercas e portões. No entanto, com o passar do verão, a escassez imprevista de algumas coisas começaram a ser percebidas. Havia necessidade de óleo de parafina, pregos, cordel, biscoitos para cães e ferraduras para os cavalos, todos itens que não poderiam ser produzidos na fazenda. Mais tarde haveria também necessidade de sementes e adubos artificiais, além de várias ferramentas e, finalmente, a maquinaria para o moinho de vento. Como estas seriam adquiridas, ninguém conseguia imaginar.
Numa manhã de domingo, quando os animais se reuniram para receber suas instruções, Napoleão anunciou que havia adotado uma nova política. A partir de agora, a Fazenda dos Animais se dedicaria ao comércio com as fazendas vizinhas: não, é claro, para qualquer propósito comercial, mas simplesmente para obter certos materiais que eram urgentemente necessários. As necessidades do moinho de vento devem se sobrepor a tudo o resto, disse ele. Ele estava, portanto, tomando providências para vender uma pilha de feno e parte da safra de trigo do ano corrente, e mais tarde, se mais dinheiro fosse necessário, eles teriam que vender ovos, sempre muito requisitados em Willingdon. As galinhas, disse Napoleão, deveriam acolher este sacrifício como sua própria contribuição especial para a construção do moinho de vento.
Mais uma vez os animais estavam conscientes de um vago mal-estar. Não tratar com seres humanos, não fazer comércio, não usar dinheiro – não foram estas as primeiras resoluções aprovadas naquela reunião triunfante depois da expulsão de Jones? Todos os animais se lembravam de ter aprovado tais resoluções: ou pelo menos pensavam que se lembravam disso. Os quatro jovens porcos que haviam protestado quando Napoleão aboliu as Reuniões levantaram timidamente suas vozes, mas foram prontamente silenciados por um tremendo rosnado dos cães. Então, como de costume, as ovelhas gritaram “Quatro patas bom, duas patas ruim!” e o constrangimento momentâneo foi suavizado. Finalmente, Napoleão levantou sua pata para pedir silêncio e anunciou que já havia feito todos os arranjos. Não haveria necessidade dos animais entrarem em contato com seres humanos, o que seria claramente indesejável. Ele pretendia assumir todo o fardo sobre seus próprios ombros. Um tal de Sr. Whymper, um advogado residente em Willingdon, tinha concordado em agir como intermediário entre a Fazenda dos Animais e o mundo exterior, e visitaria a fazenda toda segunda-feira de manhã para receber suas instruções. Napoleão terminou seu discurso com seu habitual grito de “Viva a Fazenda dos Animais!” e após o canto de “Animais da Inglaterra”, os animais foram dispensados.
Em seguida, Berro fez uma ronda na fazenda e acalmou a mente dos animais. Ele lhes assegurou que a resolução contra o comércio e o uso de dinheiro nunca havia sido aprovada, ou mesmo sugerida. Era pura imaginação, provavelmente originada nas mentiras circuladas por Bola de Neve. Alguns animais ainda se sentiam um pouco duvidosos, mas Berro lhes perguntou com astúcia: “Vocês têm certeza de que isto não é algo que vocês sonharam, camaradas? Vocês têm algum registro de tal resolução? Está escrito em algum lugar?” E como certamente era verdade que nada do tipo existia por escrito, os animais estavam satisfeitos com a explicação que tinham se equivocado.
Toda segunda-feira, o Sr. Whymper visitava a fazenda como havia sido combinado. Ele era um homenzinho de aparência manhosa com bigodes laterais, um despachante de negócios pequenos, mas afiado o suficiente para ter percebido antes de qualquer outro que a Fazenda dos Animais precisaria de um corretor e que valeria a pena ter as comissões. Os animais observavam suas idas e vindas com uma espécie de pavor, e o evitavam o máximo possível. No entanto, a visão de Napoleão, de quatro, entregando ordens à Whymper, que estava de pé, em duas pernas, despertou seu orgulho e os reconciliou parcialmente com o novo arranjo. Suas relações com a raça humana agora não eram exatamente as mesmas que eram antes. Os seres humanos não odiavam menos a Fazenda dos Animais agora que ela estava prosperando; de fato, eles odiavam-na mais do que nunca. Todo ser humano tinha fé que a fazenda iria à falência mais cedo ou mais tarde, e, acima de tudo, que o moinho seria um fracasso. Eles se reuniam nos bares e provavam uns aos outros por meio de diagramas que o moinho estava destinado a cair ou, que se ele se mantivesse em pé, nunca funcionaria. No entanto, contra sua vontade, eles tinham desenvolvido um certo respeito pela eficiência com que os animais estavam administrando seus próprios negócios. Um sintoma disso foi que eles começaram a chamar a Fazenda dos Animais pelo nome próprio e deixaram de fingir que ela se chamava Fazenda Solar. Eles também haviam abandonado a simpatia a Jones, que havia perdido a esperança de ter sua fazenda de volta e ido morar em outra parte do condado. Exceto por Whymper, ainda não havia contato entre a Fazenda dos Animais e o mundo exterior, mas havia constantes rumores de que Napoleão estava prestes a firmar um acordo comercial definitivo com o Sr. Pilkington de Foxwood ou com o Sr. Frederick de Pinchfield – mas nunca, como se notou, com ambos simultaneamente.
Foi mais ou menos nessa época que os porcos se mudaram de repente para a casa da fazenda e passaram a morar lá. Os animais pareciam se lembrar novamente que uma resolução contra isto havia sido aprovada nos primeiros dias, e novamente Berro conseguiu convencê-los de que este não era o caso. Era absolutamente necessário, disse ele, que os porcos, os cérebros da fazenda, tivessem um lugar tranquilo para trabalhar. Também era mais adequado à dignidade do Líder (pois, nos últimos tempos, ele havia começado a se referir a Napoleão como “Líder”) viver em uma casa do que em uma simples pocilga. No entanto, alguns dos animais ficaram perturbados quando souberam que os porcos não só comiam suas refeições na cozinha e usavam a sala de visitas como sala de recreação, mas também dormiam nas camas. Golias se acalmou com o “Napoleão está sempre certo!”, como sempre, mas Esperança, que achava que se lembrava de uma decisão definitiva contra as camas, foi até o final do celeiro e tentou decifrar os Sete Mandamentos que estavam inscritos ali. Não conseguindo ler mais do que algumas letras específicas, ela foi buscar Muriel.
“Muriel”, disse ela, “leia para mim o Quarto Mandamento. Não diz algo sobre nunca dormir em uma cama?”.
Muriel leu com alguma dificuldade. “Diz: ‘Nenhum animal deve dormir em uma cama com lençóis’”, ela anunciou finalmente.
Curiosamente, Esperança não se lembrava do Quarto Mandamento mencionar lençóis; mas como estava ali na parede, devia ser assim. E Berro, que por acaso estava passando por ali neste momento, acompanhado por dois ou três cães, foi capaz de colocar todo o assunto em perspectiva.
“Vocês ouviram então, camaradas”, disse ele, “que nós porcos agora dormimos nas camas da fazenda? E por que não? Vocês não supuseram, certamente, que alguma vez houve uma decisão contra as camas? Uma cama significa apenas um lugar para dormir. Uma pilha de palha em uma baia é uma cama, quando se para para pensar. A regra era contra os lençóis, que são uma invenção humana. Tiramos os lençóis das camas da fazenda, e dormimos entre cobertores. E olha, são camas muito confortáveis! Mas não mais confortáveis do que precisamos, posso dizer-lhes, camaradas, com todo o trabalho intelectual que temos que fazer hoje em dia. Vocês não nos roubariam o nosso descanso, não é, camaradas? Vocês não deixariam que ficássemos cansados demais para cumprir nossas obrigações? Com certeza nenhum de vocês deseja ver Jones de volta, não é?”
Os animais confirmaram imediatamente que não, não queriam, e não se falou mais nada sobre os porcos dormindo nas camas da fazenda. E quando, alguns dias depois, foi anunciado que a partir de agora os porcos se levantariam uma hora mais tarde pela manhã do que os outros animais, ninguém reclamou.
No outono, os animais estavam cansados, mas felizes. Eles tinham tido um ano difícil, e após a venda de parte do feno e do milho, o estoque de alimentos para o inverno não era abundante, mas o moinho de vento compensava tudo. Agora a construção estava quase na metade. Após a colheita, houve um período de tempo claro e seco e os animais trabalhavam mais do que nunca, achando que valia a pena arrastar blocos de pedra o dia inteiro se ao fazer isso eles pudessem levantar mais um pouco as paredes da construção. Golias até saía à noite e trabalhava por uma ou duas horas sozinho à luz da lua cheia. Em seu tempo livre, os animais andavam em volta do moinho semipronto, admirando a força e perpendicularidade de suas paredes e maravilhando-se com o fato de que foram capazes de construir algo tão imponente. Apenas o velho Benjamin se recusava a ficar entusiasmado com o moinho, embora, como de costume, ele não dissesse nada além do comentário misterioso de que os burros vivem muito tempo.
Chegou o mês de novembro, com os ventos raivosos do sudoeste. A construção teve que parar porque agora estava muito úmido para misturar o cimento. Finalmente chegou uma noite em que o vendaval foi tão violento que as instalações da fazenda balançaram sobre suas fundações e várias telhas foram arrancadas do telhado do celeiro. As galinhas despertaram em terror porque todas haviam sonhado simultaneamente que ouviam uma arma disparar ao longe. Pela manhã, os animais saíram de suas baias para descobrir que o mastro da bandeira havia sido derrubado e um olmo no pé do pomar havia sido arrancado como se fosse um rabanete. Eles tinham acabado de perceber isso quando um grito de desespero saiu da garganta de cada um dos animais. Todos viram algo terrível. O moinho de vento estava em ruínas.
Eles se precipitaram rapidamente para o local. Napoleão, que quase nunca saía para caminhar, correu à frente de todos eles. Sim, lá estava o moinho, fruto de todas as suas lutas, levado às suas fundações; as pedras que haviam quebrado e carregado tão laboriosamente estavam espalhadas por toda parte. Incapazes de falar a princípio, eles ficaram olhando em luto para o monte de pedras caídas. Napoleão andava de um lado para o outro em silêncio, ocasionalmente cheirando o chão. Sua cauda se enrijeceu, se torcendo bruscamente de um lado para o outro, sinal de intensa atividade mental. De repente, ele parou, como se tivesse tomado uma decisão.
“Camaradas”, disse ele silenciosamente, “vocês sabem quem é o responsável por isto? Vocês sabem quem é o inimigo que veio na noite e derrubou nosso moinho de vento? BOLA DE NEVE!” ele bramiu repentinamente com uma voz de trovão. “Bola de Neve fez isto! Em pura maldade, pensando em atrasar nossos planos e vingar-se de sua desonrosa expulsão, este traidor rastejou até aqui sob a cobertura da noite e destruiu nosso trabalho de quase um ano. Camaradas, aqui e agora eu pronuncio a sentença de morte de Bola de Neve. Ofereço uma ordem ‘Herói Animal, Segunda Classe’ e meio alqueire de maçãs a qualquer animal que o leve à justiça. Um alqueire cheio para qualquer um que o capturar com vida”!
Os animais ficaram mais do que chocados ao saber que Bola de Neve poderia ser culpado de tal ação. Houve um grito de indignação e todos começaram a pensar em maneiras de capturar o Bola de Neve se ele voltasse algum dia. Quase imediatamente as pegadas de um porco foram descobertas na grama a uma pequena distância do monte. Elas só podiam ser rastreadas por alguns metros, mas pareciam levar a um buraco na sebe. Napoleão farejou profundamente a região e pronunciou que as pegadas eram de Bola de Neve. E afirmou que, na sua opinião, Bola de Neve provavelmente tinha vindo da direção da Fazenda Foxwood.
“Chega de atrasos, camaradas!” gritou Napoleão quando as pegadas haviam sido examinadas. “Há trabalho a ser feito. Vamos começar a reconstruir o moinho de vento nesta manhã mesmo e vamos construir durante todo o inverno, chuva ou sol. Vamos ensinar a este miserável traidor que ele não pode desfazer nosso trabalho tão facilmente. Lembrem-se, camaradas, não deve haver alteração em nossos planos: eles devem ser realizados no prazo. Avante, camaradas! Viva o moinho de vento! Viva a Fazenda dos Animais”!
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Veja o vídeo sobre a leitura do capítulo VI a seguir:
- [1] George Orwell: “...escritor nascido em uma colônia inglesa na Índia, é considerado um dos mais importantes romancistas da vertente distópica da literatura mundial, caracterizada pela narração de enredos em que os personagens vivenciam situações em espaço e tempo futuros, nos quais não há possibilidade para a utopia, ou seja, para o sonho e para a esperança. Nessa linha, destacam-se suas duas obras-primas, traduzidas para vários idiomas e transpostas para as telas do cinema mais de uma vez: o romance A revolução dos bichos, publicado em 1945, e o romance 1984, publicado em 1949.” Veja mais aqui.
- [2] O que diz o livro Revolução dos Bichos? “O conhecido livro do inglês George Orwell, A Revolução dos Bichos (1945), é um dos legados atemporais mais importantes que escritores do século passado nos deixaram. Na obra, Orwell faz uma crítica ao stalinismo. Então socialista, o inglês – nascido na Índia durante o domínio britânico – se desilude com a ideologia ao ver o totalitarismo soviético e satiriza o sucessor de Lênin. Na alegoria, o autor apresenta uma revolução idealizada por um porco, o Major (que pode representar tanto Marx como Lênin), que convoca os bichos da granja em que vive a expulsar seu proprietário, o humano Sr. Jones (que seria Nicolau II, imperador do Czar). Porco Major morre em seguida e dois outros suínos tomam a frente: Napoleão (representando Stálin) e Bola de Neve (que seria Trotski). A estória segue o roteiro soviético… Napoleão expurga Bola de Neve, deturpa as leis a seu favor e se torna um ditador. Os demais bichos (galinhas, gado, cavalo…) se rendem à autocracia sem questionar, de forma passiva. Cada vez trabalham mais, exaustivamente e com alimento controlado; enquanto isso, Napoleão toma posse das dependências do Sr. Jones, agindo, portanto, de forma mais exploradora e cruel que o antigo chefe. A ironia está no fato de que a máxima da revolução era ‘duas pernas/patas mau’ – referindo-se a seres humanos”. Leia mais em: Rodrigo Constantino – Gazeta do Povo.com.
- [3] ORWELL, George. Revolução dos Bichos. Gazeta do Povo. Capítulo VI, pág. 71 a 84. Veja o livro completo aqui.