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23 de dezembro de 2024

Bispos e Papas (13): Vítor

 Por: Alcides Amorim 


Bispo Vítor I [1]


Continuando a lista dos bispos e papas, destacando inicialmente os listados por Eusébio de Cesareia, ele descreve a ordem dos bispos até o número 12 de seu livro História Eclesiástica (HE) [2], que foi Eleutero. Este aparece no final do seu livro 5, capítulo VI: “O décimo segundo desde os apóstolos no episcopado agora é Eleutero, na mesma ordem e na mesma doutrina...”.  Os demais bispos citados por ele, não aparecem na ordem numérica.

O próximo bispo, o número 13 na ordem dos bispos romanos, é Vítor. “No décimo ano do reinado de Cômodo, Eleutero, que tinha mantido o episcopado por treze anos, foi sucedido por Vítor...” (EC, 5, XXII). Na lista de todos os papas da Igreja Católica (p.ex., aqui), o nome Vítor é acrescido do número I (Vítor I) e corresponde ao 14º papa da lista, considerando que o Apóstolo Pedro também foi papa, juntamente com os demais bispos de Roma. Na Lista, há também o Vítor II (1055-1057), que ocupa a 153ª posição. 

As informações que transcrevemos sobre Vítor I são de fontes católicas, por exemplo, nesta [3] e nesta outra [4].

Vítor I:

  • Nasceu na atual Tunísia, norte da África. Portanto, o primeiro “papa” africano
  • Seu pontificado [ou bispado] foi marcado por definições importantes na liturgia da igreja, referentes a (o):

- Idioma: uso do latim na celebração da missa, ao invés do grego; 

- Batismo: uso de qualquer água no rito batismal;

- Páscoa: celebração no domingo, dia da ressurreição de Cristo;

- Domingo: dia mais importante da semana, em lugar do sábado judaico;

  • As definições litúrgicas acima foram institucionalizadas no primeiro Concílio de Niceia (325).
  • Vítor I também combateu heresias como o adocionismo [5], que ”... pregava que Jesus Cristo não era filho de Deus, mas um homem puríssimo e superior aos outros, adotado por Ele como seu filho...” (Nota 4).

Eusébio (5, XXIV) afirma que o bispo Vítor recebeu de Polícrates, líder dos bispos da Ásia, uma carta na qual afirma: “... assim observamos o dia genuíno, sem pôr nem tirar. Pois na Asia grandes luzes já dormem, as quais ressuscitarão no dia da manifestação do Senhor, em que Ele virá do céu com glória e levantará todos os santos... Todos eles [Filipe e João (apóstolos), Policarpo e outros] eles observam o décimo quarto dia da páscoa de acordo com o evangelho, não se desviando em nada, antes, seguindo a regra da fé...”. Eusébio afirma que Vítor tentou excomungar Polícrates e outros por terem tido essa opinião, mas depois reverteu sua decisão após Irineu e outros terem intercedido. Observe que aqui percebemos divergências doutrinárias entre as igrejas da Ásia e as de Roma...

Bem, segundo esta fonte , Vítor I foi papa entre 189 a 199. E no vídeo, a seguir, veja mais sobre o Bispo ou papa Vítor I.


Notas / Referências bibliográficas:

27 de maio de 2022

A monarquia francesa

Já destacamos no artigo a centralização nas monarquias europeias, que a partir da Baixa Idade Média, a partir do século XI, em algumas regiões da Europa, as monarquias feudais iriam servir de base para a formação de governos centralizados, como a França, a Inglaterra e a Espanha. Neste artigo, vamos ver como isto se deu na França.

Voltando na história francesa, uns séculos antes da Baixa Idade Média, vimos que em 843, o Império Carolíngio foi dividido em três reinos, que, por sua vez, já estavam subdivididos em feudos governados por duques, marqueses e condes. Os reis eram suseranos, que dependiam dos nobres locais para a obtenção de soldados e rendimentos. E em 987 (séc. X), com a subida ao trono de Hugo Capeto, um desses reinos, o da França, passou a ser governado pela dinastia dos capetíngios. sendo Filipe Augusto , um descendente desta dinastia, considerado o primeiro rei a iniciar o processo de consolidação da Monarquia francesa.

Durante o reinado de Felipe Augusto (1180–1223), as cidades começaram a ser libertadas do domínio dos senhores feudais, o que favoreceu a consolidação da burguesia. Apoiado por ela, Filipe impôs sua autoridade aos nobres. Durante seu governo, Paris passou a ser a capital do Reino da França.

Posteriormente, durante o governo de Luís IX (1226–1270). Ele criou uma moeda única, cuja aceitação se tornou obrigatória em todo o território do reino. Contribuiu, assim, para o comércio, facilitando a circulação das mercadorias.

A Batalha de Bouvines, 27 de julho de 1214, pintada por Horace Vernet em 1827. A vitória francesa sobre a Inglaterra e o Sacro Império Romano-Germânico marcou o início do declínio Imperial [1].

Durante o reinado de Filipe IV (1285–1314), mais conhecido como Filipe, o Belo, os mercadores e banqueiros estrangeiros chegaram a ser expulsos da França para evitar a saída de dinheiro, o que fortaleceu ainda mais a burguesia francesa e o próprio rei.

Seu governo entrou em conflito com a Igreja, porque queria cobrar impostos do clero. Com a morte do papa Bonifácio VIII, foi escolhido para substituí-lo o francês Clemente V. Em 1309, Filipe, o Belo, pressionou-o para que transferisse o papado de Roma para a cidade francesa de Avignon (sudeste da França). Assim, a Igreja ficou sob o controle do rei francês. A sede da Igreja só voltaria para Roma em 1377.

A Monarquia francesa consolidou-se nos séculos XIV e XV, durante a Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Aliás, esse conflito seria importante também para a Inglaterra consolidar seu poder central, como veremos logo adiante.

Veja também:


Veja ainda o vídeo a seguir:


Nota / Referências bibliográficas:

[1] Imagem disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_da_Fran%C3%A7a>. Acesso em: 26/05/2022.

17 de dezembro de 2021

O Apóstolo João

João, filho de Zebedeu [1]

E, passando dali um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes, E logo os chamou. E eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os jornaleiros, foram após ele” (Mc 1.19-20 – Destaque e grifo meus).

Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: O primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu; Simão, o Cananita, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu” (Mt 10.2-4 – Destaque e grifo meus)

No evangelho de João (1.35-42), este de quem falaremos a seguir, encontramos que dois discípulos de João Batista foram enviados por este para ser discípulos de Jesus. Na verdade, ao que parece, por ser o autor do evangelho que leva o seu nome, o apóstolo João destaca André, irmão de Simão Pedro e oculta o outro discípulo, que seria ele mesmo. O site A bíblia.org, faz referência a este fato e destaca que “... esta passagem [Jo 1.35-42] se torna difícil de identificação, porque é omitido o nome do segundo discípulo. Os autores [são ditados dois deles, Juan Mateos-Juan Barreto, 1989 e Bettencourt, 1960] comentando este acontecimento, argumentam que em todo o evangelho de João não aparece seu nome, pois foi ele que escreveu o evangelho e estrategicamente omitiu o nome[2].

O discípulo André, que também se tornou apóstolo, era irmão de Pedro e João era irmão (provavelmente mais novo) de Tiago Maior e, ambos, filhos de Zebedeu (Mc 3.17).

Embora[3] seu pai fosse um pescador, eles aparentemente estavam em boas circunstâncias de acordo com a narrativa do Evangelho. Alguns dos antigos falam da família como sendo rica, e até mesmo de conexão nobre. Porém, tais tradições não são reconciliáveis com os fatos relatados nas Escrituras. Lemos, no entanto, de seus "jornaleiros", e eles podem ter tido mais do que apenas um barco. Quanto a Salomé, sem dúvidas, foi uma daquelas mulheres honradas que serviam ao Senhor com o que tinham. E João tinha sua própria casa (Lucas 8:3João 19:27). A partir desses fatos, podemos inferir, com segurança, que a situação deles era consideravelmente acima da pobreza. Como muitos têm sido extremos ao falar dos apóstolos como pobres e analfabetos, é interessante observar algumas poucas dicas nas escrituras sobres esses assuntos.

Do caráter de Zebedeu nada sabemos. Ele não fez objeções a seus filhos quando o deixaram ao chamado do Messias. Mas não ouvimos mais sobre ele depois disso. Frequentemente encontramos a mãe em companhia dos seus filhos, mas não há menções ao pai. É provável que ele tenha morrido pouco depois do chamado de seus filhos.

O evangelista Marcos, ao enumerar os doze apóstolos (Marcos 3:17), quando menciona Tiago e João, diz que nosso Senhor "pôs o nome de Boanerges, que significa: Filhos do trovão." O que nosso Senhor particularmente pretendeu, com esse título, não é facilmente determinado. Conjecturas têm havido muitas. Alguns supõem que seria porque esses dois irmãos eram da mais furiosa e resoluta disposição, e de um temperamento mais feroz e ardente do que o resto dos apóstolos. Mas não vemos motivo para tal suposição na história narrada nos Evangelhos. Sem dúvida, em uma ou duas ocasiões o zelo deles era intemperado, mas isso foi antes de entenderem o espírito de seu chamado. É mais provável que nosso Senhor os tenha apelidado em profecia ao zelo ardente deles ao proclamar aberta e corajosamente as grandes verdades do evangelho, após tê-lo conhecido plenamente. Estamos certos de que João, em companhia de Pedro nos primeiros capítulos de Atos, demonstrou uma coragem que não temia ameaças, e não era intimidado por nenhuma oposição.

Supõe-se que João era o mais novo de todos os apóstolos e, a julgar por seus escritos, parece ter sido possuído por uma disposição singularmente carinhosa, suave e amável. Ele foi caracterizado como "o discípulo a quem Jesus amava". Em várias ocasiões, ele foi admitido a uma livre e íntima relação com o Senhor (João 13).

"O que distinguia João", diz Neander, "era a união das mais opostas qualidades, como temos muitas vezes observado em grandes instrumentos do avanço do reino de Deus – a união de uma disposição inclinada à silente e profunda meditação, com um ardente zelo, embora não impulsionado a uma grande e diversificada atividade no mundo exterior; não um zelo apaixonado, como supomos que tenha enchido os peitos de Paulo antes de sua conversão. Mas havia também um amor, não suave e flexível, mas um que se agarrava com tudo o que podia, e firmemente retia o objetivo para o qual se dirigia – vigorosamente repelindo qualquer coisa que desonrasse esse objetivo, ou tentasse arrancá-lo de sua posse; tal era sua principal característica."

E a história de João está tão intimamente conectada com as histórias de Pedro e Tiago, as quais já abordamos, que podemos agora ser bastante breves. Esses três nomes raramente são vistos separados na história dos Evangelhos. Mas há uma cena em que João aparece sozinho e que é digna de nota. Ele era o único apóstolo que seguiu Jesus ao lugar de Sua crucificação. E lá ele foi especialmente honrado com o respeito e confiança de seu Mestre. "Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa." (João 19:26-27)

Após a ascensão de Cristo e a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, João se tornou um dos principais apóstolos da circuncisão. Mas seu ministério continua até o final do primeiro século. Com sua morte, a era apostólica naturalmente se encerra.

Há uma tradição muito difundida e geralmente aceita de que João permaneceu na Judeia até depois da morte da virgem Maria. A data do evento é incerta. Mas logo depois ele prosseguiu para a Ásia Menor. Lá ele plantou e cuidou de várias igrejas em diferentes cidades, mas fez de Éfeso seu centro. De lá ele foi banido para a Ilha de Patmos, perto do final do reinado de Domiciano. Ali ele escreveu o livro de Apocalipse (ou Revelação) (Apocalipse 1:9). Em sua libertação do exílio, pela ascensão de Nerva ao trono imperial, João retornou a Éfeso, onde escreveu seu Evangelho e suas Epístolas. Ele morreu por volta do ano 100 d.C., no terceiro ano do imperador Trajano, e com mais ou menos cem anos de idade.

Veja também o vídeo de Marlon Engel, do Portal Estudo na Garagem:


Notas / Referências bibliográficas:

25 de novembro de 2021

Mateus, o publicano

O chamado de Mateus[1]

E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um homem, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu” (Mt 9.9).

Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu” (Mt 10.3).

E, depois disto, saiu, e viu um publicano, chamado Levi, assentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu” (Lc 5.27,18)[2] (destaques / sublinhados meus).

O nome de Mateus aparece em todas as listas dos doze apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Destaquei, nos textos acima, as expressões “alfândega”, “publicano” (escritas pelo próprio autor) e “Levi”, em relação ao apóstolo Mateus, uma vez que estas resumem a identidade deste cobrador de impostos – profissional tido, muitas vezes, como traidor e/ou roubador do povo –, mas nesse caso específico, um escolhido por Jesus para compor seu Colégio Apostólico.

Mateus[3] foi um dos doze apóstolos de Jesus e também autor do Evangelho de Mateus. Ele aparece em todas as listas que relacionam os discípulos de Jesus, sendo elas: Mateus 10:3, Marcos 5:18, Lucas 6:15 e Atos 1:13.

Não encontramos muitas informações biográficas sobre Mateus na Bíblia. Na verdade, além das listas com o nome dos discípulos, o apóstolo Mateus aparece apenas em outros dois episódios em todo o Novo Testamento.

Sobre a escolha do apóstolo Mateus, um dos dois relatos em que o apóstolo Mateus aparece na narrativa bíblica além das listas de apóstolos descreve justamente sua chamada para ser discípulo de Cristo. Uma curiosidade sobre isto é que a escolha do apóstolo Mateus é a única chamada individual de um discípulo registrada nos Evangelhos Sinóticos[4]. O próprio Mateus denomina-se como o publicano, cobrador de taxas e impostos a serviço do Império Romano. Essa classe de trabalhadores era desprezada pelos demais judeus que a reputavam praticamente como traidora de seu próprio povo.

Pelo contexto histórico da época, é possível que Mateus estivesse sob as ordens de Herodes Antipas, o tetrarca da Galileia. Considerando o ofício que desempenhava, o apóstolo Mateus provavelmente era uma das pessoas mais cultas do grupo dos discípulos de Jesus.

 Jesus encontrou Mateus “sentado na coletoria”, ou seja, na alfândega, nas proximidades de Cafarnaum, e lhe ordenou que O seguisse (Mt 9.9). Esse local em que o apóstolo Mateus estava era um dos postos fiscais geralmente estabelecidos em estradas, pontes, canais ou nas margens dos lagos para coletar taxas e impostos. T

Merece destaque também que o nome “Levi” que aparece nos Evangelhos. E, como este nome não é mencionado em nenhuma das listas de discípulos de Jesus é amplamente aceito que Mateus e Levi tenham sido a mesma pessoa. Nos Evangelhos de Marcos (2.14) e Lucas (5.27), lemos que Jesus ordenou que Levi o seguisse, numa descrição muito semelhante ao registro do Evangelho de Mateus 9.9 onde o apóstolo foi convocado.

Entendendo então que Levi e Mateus são as mesmas pessoas, logo somos informados de que ele era filho de Alfeu (Mc 2:14). Sabemos também que Tiago, outro apóstolo de Jesus, também era filho de Alfeu. No entanto, não há informações necessárias para que possamos afirmar que se tratava do mesmo Alfeu e, consequentemente, que Tiago Menor e Mateus foram irmãos.

Ainda sobre sua dupla designação (como Levi e Mateus), existe a chance de que seu nome principal era Levi, mas que depois de se tornar apóstolo de Jesus, ele preferiu ser chamado por outro nome, no caso Mateus, tal como Simão Pedro também o fez.

Após o Pentecostes descrito em Atos dos Apóstolos capítulo 2, a Bíblia não nos fornece mais nenhuma informação sobre o apóstolo Mateus. Algumas tradições, sem qualquer comprovação histórica, sugerem que em algum momento após o Pentecostes Mateus partiu para Etiópia, Macedônia, Síria e outras localidades. Uma dessas tradições defende que o apóstolo Mateus morreu de causas naturais estando ou na Macedônia ou na Etiópia. Por outro lado, tradições gregas e romanas afirmam que o apóstolo sofreu martírio. Quando? Possivelmente, em 72[5]

Bem, a obra maior de Mateus é o Evangelho que leva o seu nome, o Evangelho Segundo Mateus. E apesar de alguns críticos defenderem que o apóstolo não pode ter sido o autor do Evangelho que leva seu nome, a tradição cristã, desde a Igreja Primitiva, atribui ao apóstolo Mateus a autoria do primeiro Evangelho. Na verdade, o que pode ser dito é que nenhum argumento contrário à autoria do apóstolo pode ser sustentado à luz de uma análise profunda da questão.

Veja também, a seguir, o vídeo de Lamartine Posella sobre Mateus:



Notas / Bibliografia:

  •  [1] Imagem meramente ilustrativa. Disponível em: <https://theotoucharis.wixsite.com/theo/single-post/2016/03/10/serm%C3%A3o-o-chamado-de-mateus>. Acesso em 22/11/2021.
  •  [2] Todas as referências bíblicas utilizadas neste post são da versão online Almeida Corrigida Fiel. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>.
  •  [3] O texto a seguir é uma reescrita com adaptações do artigo de Daniel CONEGERO: In: <https://estiloadoracao.com/quem-foi-o-apostolo-mateus/>. Acesso em: 22/11/2021
  •  [4] Evangelhos Sinóticos são aqueles que narram a vida e ministério de Jesus sob uma mesma ótica, mesmo ponto de vista ou visão conjunta. São eles: Mateus, Marcos e Lucas.
  •  [5] Segundo a Wikipedia, In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mateus_(evangelista), Mateus morreu em Hierápolis ou Etiópia, c. de 72.

28 de outubro de 2020

A vida de Jesus Cristo


“Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, Até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera; Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando das coisas concernentes ao reino de Deus. E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele, de mim ouvistes (...) Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (At 1.1-4,11).

Continuando nossa série de estudos sobre doutrinas bíblicas e, especificamente, acerca de Jesus, além do post “O Senhor Jesus Cristo, por Myer Pearlman”, escrevemos também sobre Jesus, o Verbo Divino. Neste, destacaremos como o Verbo, tradução do Logos trata-se de Jesus como a Palavra, que criou todas as coisas e, portanto, existe por si mesmo, antes da criação de todas as coisas. Mas este Ser criador foi encarnado e viveu como homem. É sobre esta sua trajetória nesta terra como homem, que era, ao mesmo tempo, o Messias Salvador, que pretendemos enfatizar neste artigo (post). Para isto, queremos usar como base o texto de J. N. GELDENHUYS, conforme referência bibliográfica abaixo.

1.  Historicidade

O fato histórico de Cristo está inexoravelmente estabelecido. As tentativas que têm sido feitas para provar o contrário, durante os últimos duzentos anos, têm falhado inteiramente. Não somente o Novo Testamento inteiro está baseado sobre o Cristo histórico, mas também a elevação e o progresso da Igreja Cristã, e, de fato, o curso da história do mundo durante os últimos dezenove séculos, seriam inexplicáveis à parte do fato histórico do Cristo que viveu, morreu e ressuscitou.

O fato que registros seculares existentes até hoje, pertencentes aos primeiros cem anos depois do ministério de Cristo, contém apenas algumas poucas referências a Ele, é algo perfeitamente natural. O cristianismo foi apenas um dos muitos cultos religiosos que se originaram no Oriente, no mundo romano dos dois primeiros séculos de nossa era, e pouco havia em Cristo que atraísse o interesse dos historiadores pagãos. Somente quando o Cristianismo entrou em conflito com o estado é que se tornou digno de ser mencionado naqueles dias recuados, e os primeiros escritores pagãos a fazerem menção do mesmo, em tal contexto todos mencionam significativamente o nome de Cristo como fundador do Cristianismo.

Excetuando uma passagem duvidosa, e, quando muito, pesadamente interpolada em Josefo, Jesus não é mencionado diretamente nos escritos judaicos não-cristãos referentes àquele período. O motivo disso certamente é a hostilidade e o ressentimento que Sua memória provocava nos líderes judeus de Seu tempo. Entretanto, existem referências indiretas a Ele, nos primeiros escritos rabínicos, que fazem menção razoavelmente reconhecível obre Ele, como um transgressor em Israel, que praticava magia, zombava das palavras dos sábios, fazia o povo desviar-se, e disse que viera para fazer adições à lei, além de ter alterado a Páscoa, e cujos discípulos efetuavam curas de doentes em Seu nome.

Nos primeiros séculos d.C., nem mesmo os mais amargos inimigos do cristianismo tinham qualquer pensamento de negar que Jesus vivera e morrera na Palestina, e que realizou realmente obras maravilhosas, qualquer que fosse a explicação que davam ao poder mediante o qual Ele realizava essas coisas. Nem, nos dias atuais, qualquer historiador objetivo nega o fato histórico de Cristo. Não são os historiadores que brincam com a fantasia do mito-de-Cristo. Não apenas a Sua morte, mas também a Sua ressurreição, devem ser levadas em consideração como os mais bem confirmados fatos históricos que existem.              

2.  Fontes

Quanto aos detalhes essenciais da vida de Cristo, temos que depender inteiramente do Novo Testamento. Conforme já foi dito, não se pode aproveitar muito do estudo da literatura pagã ou judaica das primeiras décadas d.C., e, quando nos volvemos para a literatura cristã extra bíblica, pertencente ao mesmo período, encontramos bem pouco que já não esteja registrado no Novo Testamento. A maioria dos evangelhos apócrifos é tão obviamente produto da imaginação que só nos podem prestar qualquer ajuda, por meio de contraste, para provar o caráter histórico dos Evangelhos canônicos; porém, não adiciona coisa alguma ao nosso conhecimento sobre a vida de nosso Senhor.

Os Evangelhos não são biografias o sentido comum da palavra. Cada um dos quatro evangelistas tinha um propósito específico com seu livro, tendo feito uma seleção apropriada dentre a informação à sua disposição com referência à vida de nosso Senhor. Embora existam muitas diferenças quanto à ênfase, no tocante a certos aspectos de Sua vida, todos os quatro Evangelhos proclamam um só e o mesmo Cristo, como Senhor e Salvador, o perfeito Filho do homem e o Filho unigênito de Deus.

Visto que os Evangelhos não são biografias no sentido ordinário do termo, mas antes, proclamações das boas novas concernentes a Jesus como Salvador e Senhor, não devemos buscar neles um arranjo estritamente cronológico. Por outro lado, o propósito religioso dos evangelistas não os conduziu à negligência do caráter histórico da vida de Jesus. Conforme é declarado tão claramente no prefácio de nosso terceiro Evangelho, os autores sagrados estavam perfeitamente cônscios da urgente necessidade de tornar conhecida a verdade acerca de Jesus Cristo. Para eles e para seus irmãos crentes, a fé em Cristo era questão de vida e morte. Dessa maneira, não podiam permitir que sua fé repousasse sobre fantasias, mitos, ou lendas. Uma fé como a daquelas gerações iniciais de crentes cristãos exigia absoluta lealdade a Cristo – até à morte, se necessário fosse. Tal fé só podia ser edificada em face de fatos certos. Além disso, os escritores dos Evangelhos estiveram num contato tão íntimo e vivo com muitos que haviam ouvido e visto a nosso Senhor, que tiveram oportunidade sem igual de verificar esses fatos. Acresce que os fatos históricos eram conhecidos em primeira mão por tantas pessoas que não podiam arriscar-se a apresentar relatos fictícios.

Embora Lucas tenha incorporado grandes seções de Marcos em seu Evangelho, e que João bem poderia ter conhecido os três primeiros Evangelhos, a verdade é que nossos quatro Evangelhos são essencialmente quatro fontes independentes de informação no tocante à vida de nosso Senhor. Cada um desses relatos frisa certos aspectos de Sua vida e ministério mais que os demais relatos, porém, é sempre essencialmente o mesmo Cristo que encontramos em todos os quatro. Isso é verdade tanto no tocante ao livro de João como aos três Evangelhos sinóticos. O Evangelho de João suplementa os outros e, em resultado de muitos anos de reflexão, e de discernimento mais amadurecido quanto ao significado filosófico e teológico mais profundo da história do Evangelho. João se ocupa mais em ensinar o ensinamento de nosso Senhor no tocante à Sua divina Filiação; porém, até mesmo João não proclama outro Cristo além do Cristo proclamado pelos três primeiros evangelistas.

Em suma, temos nos quatro Evangelhos canônicos, as melhores e mais dignas fontes de informação referente à vida de Jesus Cristo. Embora o restante do Novo Testamento não adicione muito aos detalhes históricos do Evangelho, é importante observar que o livro de Atos, as epístolas e o livro de Apocalipse, estão todos edificados sobre o fato que Jesus viveu, ensinou, sofreu e triunfou conforme os Evangelhos afirmam. Visto que algumas das Epístolas do Novo Testamento foram escritas tão cedo como 50 d.C. (ou talvez um pouco mais cedo ainda) – 1 e 2 Tessalonicenses e Gálatas, e, possivelmente, Tiago – somos assim levados a recuar até não mais de vinte anos depois da data da crucificação de Jesus. Levando em consideração o fato que um dos primeiros escritores neotestamentário, Paulo, foi um figadal perseguidor dos seguidores de Jesus, mas convertido tão cedo como 32 ou 33 d.C., e que a epístola de Tiago foi escrita pelo irmão de Jesus, percebemos quão íntimo era o contato entre o tempo da vida de nosso Senhor sobre a terra (c. de 6/4 a.C. – 30 d.C.) e aquela geração de crentes em cuja vida os primeiros documentos do Novo Testamento foram escritos. O sumário apresentado por Paulo sobre a pregação apostólica, em 1Co 15.1-8, se reveste de grande significação: “irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que ainda perseverais... Antes de tudo vos entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia... E apareceu a Cefas, e, depois, aos doze. Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora, porém alguns já dormem. Depois foi visto por Tiago, mais tarde por todos os apóstolos, e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora do tempo”.

Nessa passagem Paulo não somente proclama essencialmente o mesmo evangelho que o fazem os quatro evangelistas, mas também revela quão íntima era a relação entre a Igreja Cristã Primitiva e os apóstolos e outras testemunhas oculares da vida de nosso Senhor. Dessa maneira, não é surpreendente descobrir que nossos quatro Evangelhos, apesar de toda sua ênfase diferente e da escola variada de detalhes, proclamam o mesmo Cristo que veio buscar e salvar aos perdidos, o Senhor divino a Quem todo poder foi dado, no céu e na terra (Mt 11.27; 28.18; Mc 1.1; 8.29; Lc 1.32,35; 2.11; 9.35; 10.22; Jo 1.1; 10.28 etc.).

Não admira, portanto, que após mais de um século de criticismo agudo e rude, o caráter digno de confiança de nossos quatro Evangelhos canônicos tenha ficado mais firmemente estabelecido que nunca. Uma teoria após outra, e sucessivas escolas de pensamento, que têm lançado dúvidas sobre a fidelidade dos Evangelhos, têm se despedaçado perante a irrefutável historicidade da vida de Jesus que os mesmos historiam. Embora os Evangelhos façam silêncio no tocante a muitos detalhes que naturalmente gostaríamos de saber, os quatro Evangelhos, confirmando-se e suplementando-se entre si, nos fornecem todos os fatos referentes a Jesus Cristo que precisamos saber a fim de que possamos confiar nEle como “Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31).

3.  Sem paralelo

A vida de nosso Senhor não encontra iguais em muitos particulares; um aspecto desse caráter singular é seu cumprimento de profecias específicas feitas centenas de anos antes de Seu nascimento. O próprio Jesus, por exemplo, repetidamente ensinou aos Seus discípulos que Ele, conforme a “tudo quanto está escrito por intermédio dos profetas” haveria de sofrer, morrer e ressuscitar dentre os mortos (cf. Lc 18.31-34). Depois de haver ressuscitado, igualmente, Ele declarou claramente que, em Sua vida, morte e ressurreição, as Escrituras haviam sido cumpridas (Lc 24.25-27,44-48).

Nos discursos de Pedro, de Estevão e de Paulo, registrados no livro de Atos, em praticamente todos os livros do Novo Testamento, a vida, os sofrimentos e a exaltação de Jesus são repetidamente proclamados como o cumprimento das promessas de Deus no Antigo Testamento. Nada existe na história do mundo que se possa comparar com o fato que centenas de anos antes do nascimento de Jesus, muitas coisas a respeito dEle – até mesmo o lugar de Seu nascimento (Mq 5.2) – haviam sido preditos e registrados nas Escrituras do Antigo Testamento. E, em muitos outros aspectos – desde Sua concepção sobrenatural até Sua ascensão ao céu – essa vida é sem paralelo. Somente em Sua vida vemos Deus tornando-se carne. Enquanto que as vidas de todos os outros fundadores de religiões revelam-nos homens que buscaram a verdade e se esforçaram por obter introspecção religiosa, a vida de Jesus Cristo é a única que revela o Deus de amor e justiça, que busca salvar a humanidade caída.

Todas as reivindicações feitas por Jesus referentes à Sua eterna e divina Filiação são confirmadas por Sua vida, morte, ressurreição e ascensão triunfal. Ele não tem igual entre os homens.

4.  Épocas principais

Embora não possamos refazer uma biografia detalhada ou estritamente cronológica de Jesus Cristo, os Evangelhos nos fornecem material suficiente que nos capacita a apontar as épocas mais importantes de Sua vida.

a)  Seu nascimento sobrenatural

Os autores dos Evangelhos tiveram amplas oportunidades para descobrir a verdade a respeito do nascimento de Jesus. À parte do fato que Maria, mãe de Jesus, foi deixada ao encargo do discípulo amado (cf. Jo 19.26,27), devemo-nos relembrar que Tiago, o irmão de Jesus, foi durante muitos anos um dos líderes da Igreja Cristã de Jerusalém. Depois da ressurreição e ascensão de Jesus, Maria e seus filhos ficaram livres de toda dúvida referente à Sua soberania, e passaram a viver em íntima comunhão com seus irmãos na fé, na igreja de Jerusalém (cf. At 1.14). Quando o Evangelista Lucas acompanhou Paulo a Jerusalém, em 56 ou 57 d.C., uma das pessoas a quem visitou foi Tiago, irmão do Senhor (At 21.17,18). Naquele tempo, a julgar pelo prefácio de seu Evangelho, Lucas já estava intensamente interessado nos fatos referentes à vida de Jesus. Se Lucas se encontrou pessoalmente com Maria, não o sabemos; porém, é certo que ele teve acesso a informações referentes ao nascimento de nosso Senhor, que afinal de contas, só poderiam ter sido prestadas pela própria Maria. É basicamente do ponto de vista dela que Lucas relata a história da concepção sobrenatural e do nascimento de Jesus (Lc 1.26-56; 2.1-51). Mateus, por outro lado, conta a mesma história, mas mais do ponto de vista de José. Porém, ambos os Evangelhos concordam que Jesus não era o filho de um pai humano, mas foi concebido pelo poder do Espírito Santo e nasceu como o Filho unigênito de Deus (cf. Lc 1.35; Mt 1.18-24). Em perfeita conformidade com esse fato, João dá início ao seu Evangelho com as palavras: “No princípio era o Verbo, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.1-14).   

b)  Infância, meninice e crescimento até à maturidade

Por Lc 2.40,52 torna-se claro que a vida de Jesus, desde a meninice até a idade adulta ainda jovem foi normal, mas também perfeita. Em Sua vida, o ideal de Deus para uma vida humana perfeita foi cumprido em cada estágio. Embora vivesse num lar humilde com Maria, José, e diversos irmãos e irmãs mais novos, Sua vida em todas as ocasiões estava em completa concordância com a vontade de Deus (Lc 2.52), e desde tenra idade (Lc 2.49) parece que Ele tinha consciência que era o Filho de Deus num sentido todo especial. Por Lc 2.46,47 depreende-se que desde Sua meninice Ele estudara intensamente as Escrituras do Antigo Testamento; e embora José provavelmente tenha falecido cedo e que Jesus tenha sentido necessidade de trabalhar arduamente como carpinteiro, a fim de prover o necessário para Maria e seus irmãos mais novos (Mt 13.55,56), é claro eu Ele dedicava muito tempo à meditação sobre as Escrituras e à oração.

À parte os poucos detalhes dados em relação à meninice de Jesus, e às inferências que podem ser tiradas dos Evangelhos a respeito de Sua vida, que exibem-no a crescer física, mental e espiritualmente até à plena maturidade, o Novo Testamento passa em silêncio aqueles anos de preparação.

c)  Batismo e tentação

Quando Jesus (provavelmente em 27 d.C.) havia atingido o apogeu da vida (cerca de 30 anos de idade, Lc 3.23), partiu da Nazaré e foi batizado por João Batista. Fazendo isso aceitava publicamente Sua tarefa messiânica na qualidade de Filho de Deus e Salvador que, apesar de implacável em Si mesmo, deixou-se revestir pela culpa de Seu povo.

Deus Pai demonstrou Sua aprovação à ação do Seu Filho, ao identificar-se deliberadamente com Seu povo pecaminoso, mediante a descida do Espírito “como pomba, vindo sobre ele” e pela voz do céu, que dizia: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). Essas palavras, que combinam Sl 2.7 com Is 32.1, reconhecem-No como o Messias, mas também indicam que Ele haveria de cumprir Sua chamada messiânica em termos do servo obediente e sofredor do Senhor.

Com essa certeza em Seu coração, Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto da Judeia, onde seria tentado pelo diabo (Mt 4.1). A fim de vindicar a Sua competência para ser o Salvador dos homens, Ele tinha primeiramente de provar Sua total e incondicional obediência ao Seu Pai celeste, bem como Seu poder de vencer o grande enganador. A narrativa da tentação é evidentemente situada em contraste com a história da queda, em Gn 3; dessa maneira, enquanto que Adão e Eva sucumbiram à tentação, a despeito de estarem vivendo nas condições mais favoráveis possíveis, Jesus saiu-se vencedor, ainda que tentado sob as mais difíceis circunstâncias. Depois de quarenta dias de tensão física e espiritual e de privação no deserto, foi assaltado por toda a astúcia concentrada e o poder do tentador, para que pusesse Seu Pai sob teste ou para que rejeitasse a vereda que a voz celestial havia assinalado como a vontade de Seu Pai para com Ele. Jesus, entretanto, resistiu às mais sutis tentações e permaneceu inflexivelmente obediente à vontade de Seu Pai. E assim saiu-se desse conflito espiritual como o leal Filho de Deus e como o Servo Fiel (Mt 4.1-11); Mc 1.12,13; Lc 4.1-13).

d)  Início de Seu ministério público

Tendo triunfado sobre os titânicos assaltos do diabo, Jesus deu início, ativamente, ao primeiro estágio de Seu ministério público, chamando os Seus primeiros discípulos (Jo 2.1-11), realizando milagres (Jo 2.23 e segs.), ensinando a Nicodemos verdades espirituais revolucionárias, e a salvação até mesmo aos desprezados samaritanos (Jo 4.1-42). Esse estágio de Seu ministério fora preparado por João Batista, e atingiu seu clímax quando alguns dos samaritanos confessaram, dizendo “... nós... sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4.42).

e)  Ensino e ministério concentrado na Galileia

O aprisionamento de João Batista foi o sinal para Jesus dar início ao Seu ministério na Galileia, com a proclamação que o tempo determinado chegara, e que o reino de Deus estava próximo (Mc 1.24 e segs.). Quando Sua reivindicação, na sinagoga de Nazaré, de que Ele era Aquele mediante Quem as promessas messiânicas seriam cumpridas, foi rejeitada pela Sua própria cidade adotiva (Lc 4.16 e seg.) Ele fez de Cafarnaum Seu novo quartel. Provavelmente durante mais de um ano Ele então trabalhou e ensinou em Cafarnaum e noutras localidades da Galileia (Mt 4.12-14.13; Mc 1.14-6.34; Lc 4.14-9.11; Jo 4.46-54 etc.), revelando Seu poder divino sobre a natureza (Mc 4.35-41; 6.34-51 etc.), sobre o mundo dos espíritos e demônios (Lc 8.26-39; 9.37-45 etc.), sobre o corpo humano e sobre as enfermidades físicas e espirituais (Mt 8.1-17; 9.1-8 etc.), e até mesmo sobre a vida e a morte (Lc 7.11-17; Mt 8.18-26). Além disso, Ele afirmou possuir autoridade final sobre o destino eterno da humanidade, e, no Sermão da Montanha e noutro ensinos, revelou Sua autoridade sem par de proclamar as leis do reino de Deus (Mt 5.1-7.29 etc.).

Enquanto ao mesmo tempo revela Sua autoridade suprema na qualidade do prometido Cristo, Jesus, durante esse período, também revelou Seu amor e simpatia por amor àqueles que se achavam em apertos físicos e espirituais (Mt 9.1-8,18-22; Lc 8.43-48 etc.). Ele declarou repetidas vezes que viera a fim de buscar e salvar aqueles que estão perdidos, e exerceu a prerrogativa divina de perdoar pecados (Lc 5.20-26; 7.48-50).

Dentre Seu grupo bem maior de seguidores, Ele escolheu doze discípulos especiais (Mt 10.1-4; Lc 6.12-16), aos quais ensinava sistematicamente, treinando-os para serem Seus apóstolos ou enviados.

A autoridade com a qual Ele ensinava aos Seus ouvintes, e Sua recusa de deixar-se intimidar pelos inimigos, entre os governantes judeus e os fariseus, em adição aos Seus muitos milagres de cura e outras manifestações de Seu poder sobre a ordem criada (Lc 4.33-41); Mc 5.1-42 etc.), eram motivos para Jesus tornar-se intensamente popular entre as populações da Galileia (Lc 4.40-42; 5.15,26; 6.17-19). Essa popularidade atingiu seu clímax no milagre da multiplicação dos pães para os 5.000 homens (Mt 14.13-21; Mc 6.30-44; Lc 9.10-17; Jo 6.5-13), e essa prova clara de Seu caráter messiânico fez as massas resolverem coroá-Lo rei (Jo 6.145).

f)   O treinamento dos doze

Depois da recusa de Jesus de ser coroado como um messias terreno (Jo 6.26,27) as multidões e até mesmo muitos dentre Seus discípulos do círculo mais lato, abandonaram-No (Jo 6.66,67). Ele então se retirou para o território pertencente a Tiro, Sidom e Cesareia de Filipe (Mt 15.21; 16.13; Mc 7.31 etc.), porém, em realidade nunca pode escapar da atenção pública. Quando novamente voltou ara as proximidades do mar da Galileia, uma vez mais curou e ajudou a muitos indivíduos em dificuldade, e pela segunda vez alimentou miraculosamente as multidões, visto que tinha compaixão das mesmas (Mt 15.29-39). A seguir, retirando-se novamente dentre as multidões, buscou a solidão em companhia de Seus discípulos, fazendo-lhes a pergunta crucial: “... E vós quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15) Depois que Pedro, falando como porta-voz de todos os apóstolos, havia confessado abertamente “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, Jesus, com grande determinação, começou a preparar os Seus discípulos para o terrível choque que os aguardava em Jerusalém (Mt 6.21-26). Porém, ao mesmo tempo, Ele clara e repetidamente lhes ensinava que alcançaria finalmente a vitória (Mt 16.27,28), e que Seus seguidores, por isso mesmo, não precisavam temer coisa alguma (Lc 12.4-12,32-34).

Sua autorevelação aos Seus discípulos culminou em Sua transfiguração, no monte, quando Seus três mais íntimos seguidores viram-No em Sua divina glória (Mt 17.1-13; Mc 9.2-10; Lc 9.28-36). Visto que Ele veio cumprir tanto a Lei como os Profetas, Moisés (tipificando a lei) e Elias (representante dos profetas) apareceram juntamente com Ele, gloriosamente, antes que finalmente desse início à Sua viagem para Jerusalém, a fim de sofrer a morte visando a salvação dos homens. Uma vez mais a voz de Deus, vinda do céu, declarou que Jesus era o Seu Filho amado, ao qual todos deveriam dar ouvidos (Lc 9.35).           

g)  Antagonismo crescente

Tendo-se revelado aos Seus discípulos, e sendo reconhecido por eles como verdadeiramente o Filho de Deus (Mt 17.1-13; Mc 9.2-10; Lc 9.18-20), Jesus preparou-os em seguida, mais deliberadamente ainda, para a futura tarefa que teriam como membros fundadores de Sua Igreja. Ele lhes ensinou muitas verdades, tanto diretamente como também em forma de parábolas, e continuou a revelar Seu divino poder e autoridade mediante a cura de enfermos (Lc 14.1-6; 17.11-19), restauração da vida aos cegos (Mc 10.46-52), e alívio das mazelas alheias.

A oposição contra Ele, entre os governantes judeus e os líderes religiosos, foi crescendo cada vez mais (Lc 14.1). Todo método e esquema possível foi tentado para apanhá-Lo em alguma armadilha, para interromper Sua contínua influência sobre as massas, e para encontrar um motivo para entregá-Lo às autoridades romanas a fim de que fosse executado (Mt 19.1-3; Lc 11.53,54). Todas as Suas advertências, dirigidas contra os Seus inimigos, e todo o Seu penetrante ensinamento que visava levá-los à mudança de coração, todas as Suas obras de benevolência, curando os enfermos e até mesmo ressuscitando mortos para que voltassem à vida (Jo 11.41-45), tão somente inflamavam mais ainda os fariseus, os escribas, e outros líderes dos judeus, com um ódio ainda mais intenso contra Ele (Jo 11.46-53).

h)  A última semana em Jerusalém

Tendo entrado abertamente em Jerusalém, na qualidade de Messias, em meio à multidão aclamadora (Mc 11.1-10; Jo 12.12-19 etc.), Jesus expulsou os cambistas e traficantes com animais para os sacrifícios, tirando-o a todos do átrio externo do Templo, e assim revelou Sua reivindicação de possuir autoridade messiânica (Lc 19.45,46; Mt 21.12-16). O fim estava agora bem próximo. Jesus, incansavelmente, expunha a hipocrisia dos Seus perseguidores (Mt 23.1-39; Lc 20.45-47), ao ensinar ao átrio do Templo, durante aqueles dias importantíssimos (Mt 21.33-34; 22.1-14; Mc 12.1-12; Lc 20.9-47), e profetizou o que aconteceu ao povo da Judeia, a Jerusalém e ao Templo (Lc 21.20-24 etc.), nos tempos iminentes de desgraça. Advertiu Seus seguidores a respeito dos perigos que os aguardavam (Lc 21.9-19 etc.), predizendo o que esperava o mundo e a Igreja no futuro (Lc 21.25-27), predizendo que a história do mundo culminaria em Seu retorno, em grande majestade, para revelar Seu divino poder sobre todas as forças das trevas e para dar início ao Seu reino eterno (Mt 24.29-31; 25.31-46).

Na véspera de Sua paixão como uma preparação final para os apóstolos para a grande tarefa que os esperava, Jesus lavou os pés dos mesmos (Jo 13.1-11), ensinando-lhes uma lição urgentemente necessária sobre a humildade de uns para com os outros (Jo 13.12-17; Lc 22.24-30), anunciando que Judas haveria de traí-Lo (Mc 14.18-21; Jo 13.21-30), instituindo a Ceia do Senhor (Mt 26.26-29 etc.), e orando em prol de todos os Seus seguidores (Jo 17.1-26).

Então seguiu-se Sua final e completa auto rendição à vontade de Seu Pai no jardim do Getsêmani (Mt 26.39-46 etc.). Tendo tomado sobre Si mesmo a culpa de toda a humanidade caída permitiu-se voluntariamente ser aprisionado, maltratado, falsamente condenado e crucificado. Seu sofrimento sacrificial e expiatório atingiu seu clímax por ocasião da crucificação, quando, no fim de três horas de trevas, Ele clamou em alta voz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46). Ele dissera aos Seus discípulos que não veio a fim de julgar ao mundo, mas antes, para dar Sua vida em resgaste a favor e muitos (Mt 26.28 etc.). Tendo-se oferecido voluntariamente como o Cordeiro e Deus (Jo 1.29; 10.11-18), sua tarefa havia agora terminado. Antes de recomendar Seu espírito às mãos do Seu Pai, anunciou triunfalmente: “Está consumado” (Jo 19.30).

i)   Sepultamento, ressurreição e ascensão 

Depois de Sua morte, não estava mais no poder de Seus inimigos. Seu corpo foi arriado da cruz (Lc 23.50-53) e foi sepultado num túmulo novo, que havia em um jardim nas proximidades do local da crucificação. Sua promessa de ressurgir dentre os mortos logo se cumpriu e, na qualidade de Cristo ressurreto e Senhor eternamente vivo, pessoalmente fez desaparecer os temores e as dúvidas de Seus seguidores (Lc 24.13-49; Jo 20.11-21.22). Durante quarenta dias apareceu-lhes repetidamente abrindo suas mentes para que pudessem entender as Escrituras do Antigo Testamento, e prometendo-lhes enviar o Espírito Santo, o qual haveria de consolá-los, guia-los e dotá-los para agirem como Suas testemunhas – a começar por Jerusalém, e paulatinamente atingindo o mundo inteiro (At 1.8). Tendo-lhes assegurado, uma vez mais, que todo o poder Lhe havia sido conferido, tanto no céu como na terra (Mt 28.18), Cristo os comissionou para que fizessem discípulos dentre todas as nações (Mt 28.19). Depois que prometeu estar com eles para sempre, até o próprio fim do mundo (Mt 28.20), Ele subiu ao céu – com as mãos levantadas, a abençoá-los (Lc 4.50).

Portanto, a vida de Jesus Cristo como Homem entre os homens, sobre este planeta, terminou triunfalmente. A reivindicação apostólica nos provê uma apropriada conclusão para Seu ministério terreno “... a este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.36).

Referência Bibliográfica:

GELDENHUYS, J. N. Vida de Jesus Cristo. In: DOUGLAS, J. D. (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1979, pp. 819 a 824. Texto adaptado.