Translate

13 de janeiro de 2025

Nova República (2): Tancredo Neves, o presidente que não assumiu o poder

 

Tancredo Neves enfermo, ao lado de seus médicos [1]

Como vimos aqui, a eleição indireta de Tancredo Neves representou o auge da transição entre o Regime Militar e a Nova República. A emenda de Dante de Oliveira em 1984, que restabelecia eleição direta para presidente, proposta ao Congresso, não foi votada, por falta de quórum, mas o movimento das “Diretas Já!” ganhou ainda mais força com manifestações por todo o Brasil. Surgiram então algumas alianças para disputar o poder.

1. A Vitória de Tancredo

O PDS, partido onde se concentraram os ex-integrantes da Arena, divide-se, entre três candidatos: Aureliano Chaves, Mário Andreazza e Paulo Maluf. O primeiro, percebendo a pouca chance que tinha, retira a candidatura. Paulo Maluf vence com facilidade a convenção, habilitando-se à sucessão presidencial. Tal vitória, porém, leva a uma fragmentação do PDS, dando origem ao Partido da Frente Liberal (PFL). Formado por grupos derrotados na convenção que elegeu Maluf, tal partido se aproxima da candidatura oposicionista de Tancredo Neves, do PMDB. A aliança implica ceder a vice-presidência a um membro do PFL, no caso José Sarney, ex-arenista.

Em 15 de janeiro de 1985, a oposição chega ao poder com a vitória de Tancredo e de seu vice Sarney. Mas Tancredo Neves morre antes de tomar posse. Depois de muito impasse e da decepção política que envolve a escolha, prevaleceu a determinação legal que garantia a posse do vice-presidente José Sarney ao poder, interinamente, em 15 de março de 1985, e em 21 de abril de 1985, de forma definitiva. E governa o Brasil até 1990.

2. Questionamentos [2] acerca da morte de Tancredo

A versão oficial sobre a morte de Tancredo é que ela teria sido provocada por diverticulite - doença inflamatória no intestino grosso –, e veio a falecer com 75 anos antes de tomar posse, em São Paulo, em 21 de abril de 1985. Mas muitos acreditam que ele teria sido assassinado por meio de envenenamento ou mesmo baleado.

A hipótese de envenenamento de Tancredo tem relação com outra morte, a do seu mordomo João Rosa, em circunstâncias parecidas, isto é, ele teria sentido os mesmos sintomas e dores de Tancredo. O mordomo João, que morreu um dia depois do Presidente, também foi diagnosticado como sendo diverticulite a causa de sua morte.

A outra hipótese, a de um possível assassinato, diz-se que no dia anterior à sua posse, Tancredo estava numa missa em Brasília, para celebrar a vitória, sentiu-se mal e foi internado no Hospital de Base de Brasília, um local sem as condições necessárias para realizar as cirurgias às quais Tancredo foi submetido. A UTI do hospital estava em reforma. Mas por algum motivo desconhecido os médicos impediram Tancredo de ir para São Paulo, onde poderia ser melhor tratado.

A própria data do seu falecimento também é discutida. Há quem acredite que o anúncio da sua morte foi propositalmente feito no Dia de Tiradentes (21 de abril), mas que Tancredo Neves já teria morrido dias antes.

Conspirações ou não, o certo é que a morte de Tancredo é tema de muitas suspeitas e discussões. Veja também o vídeo [3], a seguir, acerca do da polêmica morte de Tancredo Neves.



Fontes:

  • [1Foto: Os bastidores da foto mais polêmica de Tancredo Neves. In: <https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/almanaque/presidente-morto-vivo-os-bastidores-da-foto-mais-polemica-de-tancredo-neves.phtml>. Acesso em: 08/01/2025.

  • [2] Texto:

a) A misteriosa morte de Tancredo Neves, um trabalho do aluno Fabrício Ma, do 8º Ano... Disponível em: https://colband.net.br/2013/05/25/a-misteriosa-morte-de-tancredo-neves/. Acesso em: 08/01/2025.

b) A morte de Tancredo. Disponível em: https://averdadenomundo.blogspot.com/2011/06/morte-de-tancredo-neves.html.  Acesso em: 08/01/2025.

c) Tancredo Neves. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/tancredo-neves/. Acesso em: 08/01/2025. 

6 de janeiro de 2025

Nova República: (1) do fim do Regime Militar às “Diretas Já!”

 Por: Alcides Amorim

O dia em que a ditadura acabou (Gazeta do Povo, 14/01/2015)


Em meio à repressão e censura do Regime Militar, movimentos de protesto exigindo eleições livres e diretas, fim do regime, melhorias salariais e condições de trabalho foram constantes nos anos 70 e início dos 80. Os eleitores valiam-se das próprias eleições para manifestar sua oposição ao regime. Nas eleições de 1970, houve 60% de votos nulos e em branco; nas de 1974, os partidos de oposição foram vitoriosos; em 1978, o governo obteve a maioria graças aos “senadores biônicos” (senadores nomeados) e foi obrigado a manter as eleições indiretas para governador para não perder em muitos estados; nas eleições para governador, em 1982, o governo foi o grande derrotado, com a vitória dos partidos de oposição.

1. João Figueiredo e a abertura política

João Figueiredo

Durante o último presidente militar, João Baptista Figueiredo (1918-1999), foi consolidada a abertura política do país através da Lei da Anistia, a Lei 6683, de 1979, que das eleições diretas para o Congresso e os governos dos estados.

Passeata pela anistia no Rio de Janeiro

Com a abertura política, o processo de democratização passava, ainda, pela garantia da pluralidade partidária. Até então, o Brasil vivia o bipartidarismo e somente existiam dois partidos: a Arena (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Mas Figueiredo permitiu a criação de vários partidos. Assim surgiram:

  • PDS (Partido Democrático Social), onde se concentraram os ex-integrantes da Arena;
  • PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), integrado por aqueles que formaram o MDB e liderado pelo deputado Ulysses Guimarães;
  • PP (Partido Popular), fundado pelo deputado Tancredo Neves;
  • PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), fundado por Getúlio Vargas;
  • PDT (Partido Democrático Trabalhista) de orientação à esquerda e liderado por Leonel Brizola
  • PT (Partido dos Trabalhadores), fundado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

E também na gestão de João Baptista Figueiredo, foi aprovado o projeto que garantia o voto direto para governadores e prefeitos, deputados e senadores, mas não para presidente.

2. Campanha das “diretas já!”

A oposição estava suficientemente fortalecida a ponto de lançar um movimento pelo retorno das eleições diretas para presidente. Como é sabido, desde 1964 esse processo era controlado, por intermédio do Congresso Nacional, pelas forças armadas. A campanha pelas “Diretas Já!” consegue grande adesão popular, sendo registrados comícios com até um milhão de pessoas. Em 1984, a emenda Dante de Oliveira – que restabelece a eleição direta para presidente – é proposta ao Congresso. No entanto, por falta de quórum, não é votada. Embora não tenha atingido seu objetivo principal, a mobilização popular influencia os meios de comunicação de massa, gerando divisões nas elites e fazendo recuar setores radicais do Exército. Pela primeira vez em vinte anos, os militares não controlam mais a sucessão presidencial. O PDS divide-se, então, entre três candidatos: Aureliano Chaves, Mário Andreazza e Paulo Maluf. O primeiro, percebendo a pouca chance que tinha, retira a candidatura. Paulo Maluf vence com facilidade a convenção, habilitando-se à sucessão presidencial. Tal vitória, porém, leva a uma fragmentação do PDS, dando origem ao Partido da Frente Liberal (PFL). Formado por grupos derrotados na convenção que elegeu Maluf, tal partido se aproxima da candidatura oposicionista de Tancredo Neves, do PMDB. A aliança implica ceder a vice-presidência a um membro do PFL, no caso José Sarney, ex-arenista e pedessista, que acompanha a dissidência liderada por Aureliano Chaves, vice-presidente na gestão do general Figueiredo.

Em 15 de janeiro de 1985, a oposição chega ao poder. A campanha, porém, é exaustiva para o candidato vitorioso. Com mais de 70 anos e saúde debilitada, Tancredo Neves morre antes de tomar posse, em 21 de abril de 1985. Apesar da decepção política da maioria dos brasileiros, a determinação legal que garantia a posse do vice-presidente foi acatada e José Sarney tomou posse interinamente em 15 de março de 1985 e em abril de 1985, com a morte de Tancredo, de forma definitiva a presidência da república, tendo que lidar com a hiperinflação e a recessão econômica instalada no Brasil.

Portanto, a chamada ditadura militar terminou em 1985, com a eleição de Tancredo Neves, ainda de forma indireta, mas com a Presidência da República nas mãos de um civil depois de 21 anos.

A seguir, veja o vídeo abaixo Redemocratização do Brasil: revelando os 4 fatos que marcaram o fim da ditadura militar.

Referências bibliográficas:

BEZERRA, Juliana. João Baptista Figueiredo. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/joao-baptista-figueiredo/>. Acesso em:

31/12/2024.

_______________. José Sarney. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/jose-sarney/. Acesso em: 31/12/2024.

DEL PRIORI, Mary e VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.

TODA MATÉRIA. Redemocratização do Brasil: revelando os 4 fatos que marcaram o fim da ditadura militar. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DAxqtxYnqU0. Acesso em: 31/12/2024.

1 de janeiro de 2025

“Pai, começa o começo!”

 "Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas..." (Ec 7.8a)


"Quando eu era criança e pegava uma tangerina para descascar, corria para meu pai e pedia: - 'pai, começa o começo!'. O que eu queria era que ele fizesse o primeiro rasgo na casca, o mais difícil e resistente para as minhas pequenas mãos. Depois, sorridente, ele sempre acabava descascando toda a fruta para mim. Mas, outras vezes, eu mesmo tirava o restante da casca a partir daquele primeiro rasgo providencial que ele havia feito.

Meu pai faleceu há muito tempo (e há anos, muitos, aliás) não sou mais criança. Mesmo assim, sinto grande desejo de tê-lo ainda ao meu lado para, pelo menos, 'começar o começo' de tantas cascas duras que encontro pelo caminho. Hoje, minhas 'tangerinas' são outras. Preciso 'descascar' as dificuldades do trabalho, os obstáculos dos relacionamentos com amigos, os problemas no núcleo familiar, o esforço diário que é a construção do casamento, os retoques e pinceladas de sabedoria na imensa arte de viabilizar filhos realizados e felizes, ou então, o enfrentamento sempre tão difícil de doenças, perdas, traumas, separações, mortes, dificuldades financeiras e, até mesmo, as dúvidas e conflitos que nos afligem diante de decisões e desafios.

Em certas ocasiões, minhas tangerinas transformam-se em enormes abacaxis...

Lembro-me, então, que a segurança de ser atendido pelo papai quando lhe pedia para “começar o começo” era o que me dava a certeza que conseguiria chegar até ao último pedacinho da casca e saborear a fruta.

O carinho e a atenção que eu recebia do meu pai me levaram a pedir ajuda a Deus, meu Papai do Céu, que nunca morre e sempre está ao meu lado.

Meu pai terreno me ensinou que Deus, o Papai do Céu, é eterno e que Seu amor é a garantia das nossas vitórias.

Quando a vida parecer muito grossa e difícil, como a casca de uma tangerina para as mãos frágeis de uma criança, lembre-se de pedir a Deus: 'Pai, começa o começo!'. Ele não só 'começará o começo', mas resolverá toda a situação para você. Não sei que tipo de dificuldade eu e você estamos enfrentando ou encontraremos pela frente neste ano. Sei apenas que vou me garantir no Amor Eterno de Deus para pedir, sempre que for preciso: 'Pai, começa o começo!'”.

(Autoria Desconhecida)

31 de dezembro de 2024

A Nova República: 1985 a 2022 (Introdução)


Os historiadores costumam chamar o período pós-1985 de Nova República ou Redemocratização. Teve início com o fim da Ditadura Militar e segue até o momento. Portanto, é um período que ainda está em vigência. Queremos destacar os principais fatos e medidas dos governantes deste período até 2022: fim do Governo Bolsonaro.

O início da Nova República foi marcado por graves crises econômicas que geraram a chamada hiperinflação. Além disso, o primeiro presidente eleito pelo povo renunciou ao cargo quando estava prestes a sofrer um impeachment. Também foi marcado por muitos escândalos de corrupção, mortes suspeitas, instabilidade política e crise entre os poderes.

 A seguir, enumero os temas/assuntos que pretendo desenvolver acerca deste período, conforme segue:

  • Jose Sarney: muitos planos e poucos resultados. 
  • A Constituição de 1988. 
  • Fernando Collor de Mello: impeachment e renúncia. 
  • Itamar Franco e o Plano Real. 
  • Fernando Henrique Cardoso. 
  • Luís Inácio Lula da Silva. 
  • Dilma Rousseff. 
  • Michel Temer. 
  • Jair Bolsonaro.

Quero destacar também o vídeo, a seguir, do Canal Fatocioso, que destaca: “... o quinto período da República no Brasil é conhecido como Nova República, e teve início em 1985, quando o vice-presidente eleito José Sarney assumiu a presidência do Brasil, após a morte do cabeça de chapa, Tancredo Neves. A nova República estabeleceu as eleições diretas em todos os níveis e tornou a legalizar os partidos políticos. Houve também o fim da censura e garantiu-se o direito de greve, e de liberdade sindical, além dos direitos trabalhistas, que foram aumentados. Saiba mais sobre a história da República no Brasil.” In:


Referências bibliográficas:

HISTÓRIA DO BRASIL: Colônia, Império e República. Conheça cada um desses momentos! Disponível em: <https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/historia-do-brasil>. Acesso em: 26/12/2024.

PILETTI, Nelson & Claudino. História: EJA – Educação de Jovens e Adulto – Ensino Fundamental, 4º Ciclo. São Paulo: Ática: 2003.

PRESIDENTES DA NOVA REPÚBLICA DO BRASIL. Canal Fatocioso. In: <https://www.youtube.com/watch?v=a5O062nyzbI>. Acesso em: 26/12/2024.

23 de dezembro de 2024

Bispos e Papas (13): Vítor

 Por: Alcides Amorim 


Bispo Vítor I [1]


Continuando a lista dos bispos e papas, destacando inicialmente os listados por Eusébio de Cesareia, ele descreve a ordem dos bispos até o número 12 de seu livro História Eclesiástica (HE) [2], que foi Eleutero. Este aparece no final do seu livro 5, capítulo VI: “O décimo segundo desde os apóstolos no episcopado agora é Eleutero, na mesma ordem e na mesma doutrina...”.  Os demais bispos citados por ele, não aparecem na ordem numérica.

O próximo bispo, o número 13 na ordem dos bispos romanos, é Vítor. “No décimo ano do reinado de Cômodo, Eleutero, que tinha mantido o episcopado por treze anos, foi sucedido por Vítor...” (EC, 5, XXII). Na lista de todos os papas da Igreja Católica (p.ex., aqui), o nome Vítor é acrescido do número I (Vítor I) e corresponde ao 14º papa da lista, considerando que o Apóstolo Pedro também foi papa, juntamente com os demais bispos de Roma. Na Lista, há também o Vítor II (1055-1057), que ocupa a 153ª posição. 

As informações que transcrevemos sobre Vítor I são de fontes católicas, por exemplo, nesta [3] e nesta outra [4].

Vítor I:

  • Nasceu na atual Tunísia, norte da África. Portanto, o primeiro “papa” africano
  • Seu pontificado [ou bispado] foi marcado por definições importantes na liturgia da igreja, referentes a (o):

- Idioma: uso do latim na celebração da missa, ao invés do grego; 

- Batismo: uso de qualquer água no rito batismal;

- Páscoa: celebração no domingo, dia da ressurreição de Cristo;

- Domingo: dia mais importante da semana, em lugar do sábado judaico;

  • As definições litúrgicas acima foram institucionalizadas no primeiro Concílio de Niceia (325).
  • Vítor I também combateu heresias como o adocionismo [5], que ”... pregava que Jesus Cristo não era filho de Deus, mas um homem puríssimo e superior aos outros, adotado por Ele como seu filho...” (Nota 4).

Eusébio (5, XXIV) afirma que o bispo Vítor recebeu de Polícrates, líder dos bispos da Ásia, uma carta na qual afirma: “... assim observamos o dia genuíno, sem pôr nem tirar. Pois na Asia grandes luzes já dormem, as quais ressuscitarão no dia da manifestação do Senhor, em que Ele virá do céu com glória e levantará todos os santos... Todos eles [Filipe e João (apóstolos), Policarpo e outros] eles observam o décimo quarto dia da páscoa de acordo com o evangelho, não se desviando em nada, antes, seguindo a regra da fé...”. Eusébio afirma que Vítor tentou excomungar Polícrates e outros por terem tido essa opinião, mas depois reverteu sua decisão após Irineu e outros terem intercedido. Observe que aqui percebemos divergências doutrinárias entre as igrejas da Ásia e as de Roma...

Bem, segundo esta fonte , Vítor I foi papa entre 189 a 199. E no vídeo, a seguir, veja mais sobre o Bispo ou papa Vítor I.


Notas / Referências bibliográficas: