Por: Alcides Amorim
Filosofia e
dogmatismo[1]
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Em posts anteriores falamos um pouco sobre ética bíblica; ética x moral, ceticismo e dogmatismo no
sentido teológico. Continuando, em conexão com estes temas, queremos continuar
falando sobre dogmatismo, principalmente em seu sentido filosófico.
Como já vimos, o dogmatismo,
ao contrário do ceticismo, refere-se à crença em verdades absolutas e
inquestionáveis, geralmente baseadas em princípios estabelecidos ou em
autoridades reconhecidas e que implica na adoção de uma postura de firme
convicção, sem espaço para dúvidas ou críticas.
Bem,
lógica e matemática são exemplos de disciplinas dogmáticas e/ou exatas. Mas nas
áreas humanistas há também filósofos dogmáticos que, por causa de sua teoria
racional bem fundamentada, resistem ao tempo e espaço, tornando-se célebres nos
meios acadêmicos em geral. É possível haver rigor lógico de suas ideias e mesmo
assim elas serem aprovadas pela crítica e serem aceitas como verdades ou
princípios. Platão e Descartes, por exemplo, são considerados
dogmáticos por acreditarem na existência de verdades eternas e imutáveis,
acessíveis através da razão. O dogmatismo de Platão se
manifesta em sua teoria das Ideias, onde ele postula a existência de realidades
perfeitas e imutáveis, acessíveis apenas, repito, através da razão. Já Descartes,
ao permear ceticismo com racionalidade, sintetizada, sobretudo em sua famosa
frase "Penso, logo existo", buscava um fundamento seguro para o
conhecimento através da dúvida metódica, rejeitando qualquer
crença não justificada racionalmente.
· Teoria das Ideias: A base do dogmatismo platônico reside em sua crença na existência de um mundo inteligível, separado do mundo sensível, onde residem as Ideias perfeitas e eternas. Essas Ideias, como a Beleza, a Justiça e o Bem, são consideradas modelos para as coisas do mundo material.
· A razão como método: No chamado método cartesiano (de Descartes), investiga-se a verdade com base na dúvida metódica, com o objetivo de alcançar a certeza através da razão. Portanto, seu dogmatismo refere-se à sua abordagem filosófica que busca verdades absolutas, utilizando a razão como método para alcançar um conhecimento seguro e inquestionável. Ele acreditava ser possível alcançar verdades absolutas por meio da razão.
Voltando à
Teoria das Ideias de Platão e traçando um paralelo com o conceito de dogmatismo[2], podemos afirmar que:
Portanto, o
platonismo tem traços dogmáticos especialmente na crença em verdades eternas e
absolutas (as Ideias). No entanto, Platão estimula o uso da razão e do diálogo
filosófico (a dialética) como meio para alcançar essas verdades, diferentemente
do dogmatismo fechado ao questionamento. Assim, Platão não é dogmático no
método, mas o é no resultado: ele crê que há verdades definitivas a serem
descobertas.
E ainda sobre Descartes: este propõe que existem ideias inatas, ou seja, ideias que não vêm da experiência, mas já estão na mente desde o nascimento. Entre essas estão, por exemplo, a ideia de Deus, de substância, de infinito e de perfeição. Ele distingue entre: Ideias adventícias, provenientes dos sentidos; Ideias factícias, criadas pela imaginação e Ideias inatas, que pertencem à própria natureza da mente racional. Ele rejeita o dogmatismo no ponto de partida, pois inicia sua filosofia duvidando de tudo — inclusive das ideias tradicionais. Porém, após esse processo, ele reconstrói o conhecimento com base em ideias inatas que ele considera absolutamente certas, como a existência do "eu pensante" e de Deus. Assim, podemos afirmar que há um paralelo entre o dogmatismo e o resultado final do pensamento cartesiano, que sustenta algumas verdades inquestionáveis, embora seu o método é essencialmente antidogmático, pois exige que todo conhecimento seja submetido à dúvida antes de ser aceito como verdadeiro.
O meio-termo entre o ceticismo e o dogmatismo é o chamado escrutínio crítico. O dogmatismo e o escrutínio crítico representam atitudes opostas diante do conhecimento, da verdade e das crenças. Daí, podemos concluir com uma pergunta: é possível um código de ética que concilia – filosoficamente – dogmatismo e escrutínio crítico? Um código de ética dogmática parte do princípio de que os valores estão dados, são absolutos, inquestionáveis e vêm de uma fonte superior (Deus, tradição, razão pura, etc.). Já o escrutínio crítico exige liberdade de questionamento, inclusive sobre os fundamentos dos próprios valores éticos. Portanto, do ponto de vista crítico, um código dogmático pode ser visto como autoritário ou ingênuo. Mas há também uma relação indireta ou dialética. Assim, o escrutínio crítico não precisa destruir o dogma, mas pode oferecer uma via de renovação e aprofundamento...
Veja também o meu vídeo sobre o assunto a seguir:
Notas / Referências bibliográficas:
- [1] Imagem meramente ilustrativa, feita pelo I.A. Chat Gpt.
- [2] Dogmatismo. Disponível em: mundoeducação. Acesso em: 19/07/2025.
- [3] Paralelo entre o conceito de dogmatismo e as Ideias de Platão e Ideias Inatas de Descartes, permeados nas fontes: Ceticismo: conceito, dúvida e fé; Dogmatismo; Teologia dogmática; I. A. do Google e Chatgpt.
Olá, amigos, o áudio inserido no post apresenta um conteúdo na Língua Portuguesa mais amplo do que o texto escrito.
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Abraços!
Dogmatismo: "... crença em verdades absolutas e inquestionáveis, geralmente baseadas em princípios estabelecidos ou em autoridades reconhecidas e que implica na adoção de uma postura de firme convicção, sem espaço para dúvidas ou críticas." Este conceito se tornou tão estranho (e fora de moda) em nossa sociedade, mas ao mesmo tempo, os que rejeitam os dogmas (cristãos ou filosófico, por exemplo) aceitam leis ou medidas jurídicas que ultrapassem qualquer nível de razoabilidade ou bom-senso, desde que agradem a minoria que defende a ditadura do pensamento único...
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