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19 julho 2022

Teorias sobre a origem do Homem (2): Criacionismo

"A Criação de Adão", obra de Michelangelo1

Como já vimos, a História, como ciência, estuda o passado das diferentes sociedades humanas... com base num estudo criterioso, investigativo e sistemático sobre a humanidade através dos tempos. E, para melhor identificar os fatos, historiadores costumam dividir o passado da humanidade em fases ou eras como Pré-história, Idade Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. As teorias sobre a origem do homem, por exemplo, são estudadas na primeira fase: pré-história.
Duas teorias sobre a origem do homem são: evolucionismo e criacionismo. Já vimos sobre a primeira - o Evolucionismo – e neste post, veremos algumas considerações sobre o Criacionismo.
Obviamente, o que chamamos de "teoria" (no título do artigo) pode ter um significado maior do que simplesmente um "conhecimento especulativo, metódico e organizado de caráter hipotético e sintético". Entendemos que o Criacionismo pode receber o status de teoria científica, assim como já o fazem com o Evolucionismo na maioria ou (quase) todas as instituições de ensino do mundo. Ou seja, entendemos que embora o assunto seja polêmico, ele pode ser recebido como sendo parte das contribuições da ciência para o estudo da origem do homem.
Mas sabemos que o conceito de um conjunto de conhecimento reconhecido com o status de ciência pode mudar com o tempo. Por exemplo, até o século XVI o Geocentrismo – que afirmava ser a Terra o centro do Universo – era tido como ciência, e que foi deixada de lado a partir de Nicolau Copérnico, o qual sistematizou uma teoria – que ficou chamada de Heliocentrismo – que contrapunha àquele modelo, afirmando que "... a Terra e os demais planetas se moviam ao redor de um ponto vizinho ao Sol, sendo, este, o verdadeiro centro do Sistema Solar2". O Criacionismo também, até meados do século XIX3, era aceito quase que de forma universal no mundo alcançado pelo Cristianismo. Por causa da influência da teologia, considerada a "rainha" das ciências, os cristãos eram criacionistas e jamais ousavam por em dúvida as Escrituras. Foi a partir de Charles Darwin que o Evolucionismo foi pouco a pouco substituindo o Criacionismo de modo que hoje ele é apresentado em escolas e universidades não como uma hipótese, mas sim como um fato “cientificamente” comprovado, impenetrável a qualquer outra forma de pensamento, enquanto cristãos procuravam ficar com o Criacionismo apenas justificando suas bases religiosas e dogmáticas.
Mas muitos estudiosos hoje procuram entender o Criacionismo não apenas pelo lado religioso e dogmático mas também científico. “Tais homens de ciência afirmam não estar longe o dia em que a evolução será ensinada nas escolas, não como um fato, mas como a grande falácia dos séculos XIX e XX” 4. Na verdade, embora o Criacionismo, em linhas gerais, segue o modelo da criação, baseado nas Escrituras, em que “… todos os sistemas básicos da natureza foram trazidos à existência completos, prontos para pleno desempenho de suas funções”5 e que os seres vivos vieram à existência através de atos distintos de criação – “conforme sua especie” –, seguindo a ciência observacional, os criacionistas entendem que há vários processos da natureza que podem provocar mutações capazes de introduzir novidades genéticas em uma dada espécie, embora não ao ponto desta ou daquela espécie mudarem sua criação ou aspecto original. Também não creem que a vida possa ter se originado a partir da matéria sem vida, de um modo inteiramente ao sabor do acaso. Pelo contrário, há um Criador que do NADA fez todas as coisas e que “… findo o período de criação, cessaram os processos criativos, substituídos por processos de conservação, com o fim de preservar tudo que havia sido feito. Nesse contexto, tudo teria sido criado perfeito. Do infinitesimal protozoário aos grandes mamíferos; do minúsculo átomo às gigantescas galáxias, o universo foi criado em perfeita ordem e todos os seres vivos, inclusive o homem, estavam presentes desde o início”6.
As modificações que existem na criação, segundo os criacionistas, são processos normais e naturais e esses processos ocorrem de forma providencial, mas não implicam num processo de criação em si. “Podemos dizer que o mundo é o mesmo desde que foi criado, no sentido de que nada mais está se criando, mas não no sentido de fixismo. Isso significa que as espécies se adaptam para sobreviverem em seus ecossistemas, e as atividades sísmicas alteram aspectos geológicos. O importante é compreender que essa verdade é muito diferente de uma teoria de macro-evolução”7.
A terra e a criação são muito antigos como afirmam os evolucionistas? Algumas correntes criacionistas defendem que a Terra não é tão antiga assim. Uma destas correntes é o chamado Criacionismo da Terra-Jovem (CTJ), cujos princípios de interpretação se baseiam principalmente nos escritos de Henry Morris8, que defendem evidências científicas relacionadas à ‘Creation science’ que significa as evidências científicas como9:
- Repentina criação do universo, energia e vida, a partir do nada.
- A insuficiência da mutação e da seleção natural em suscitar o desenvolvimento de todas as formas de vida a partir de um único organismo.
- Mudanças apenas em limites fixos nos tipos originalmente criados de plantas e animais.
- Ancestralidade separada de humanos e primatas.
- Explicação da geologia da Terra por catastrofismo, incluindo a ocorrência de um dilúvio global.
- Uma origem relativamente recente da Terra e dos seres vivos.
Há outras correntes criacionistas, como por exemplo a da Terra-Antiga e a da teoria da Lacuna. Esta última, também chamada de “criacionismo de ruína-restauração”, se aproxima da teoria evolucionista de que a Terra é muito antiga (mas apenas neste aspecto), uma vez que “… esta posição apoia-se numa leitura alternativa dos primeiros versos da Bíblia, admitindo que há uma lacuna de tempo (Gap) indeterminado entre os versos 1 e 2 de Gênesis 1. O verbo hebraico normalmente traduzido como era em ‘E a terra era sem forma e vazia’ pode ser traduzido como ‘tornou-se’, o que resultaria no seguinte: Gn 1:1 – No princípio criou Deus os céus e a terra. Lacuna (GAP) – possíveis milhões de anos Gn 1:2 - E a terra se tornou sem forma e vazia10...”. Ou seja, houve uma recriação da Terra (tempo recente e em seis dias da criação) para consertar o caos em que ela se tornou (tempo antigo).
Bem, entendemos que o criacionismo é compatível com a abordagem científica referente a qualquer assunto. E também que a verdadeira ciência não entra em choque com a Bíblia, base de sua interpretação. Se não houver consenso em dado resultado de algum objeto estudado é porque a falha não está na Bíblia mas sim na sua interpretação. “Há fatos científicos estabelecidos que são consistentes com o criacionismo, e a forma pela qual esses fatos se relacionam entre si combinam com a interpretação criacionista. Da mesma forma que ideias científicas gerais são usadas para dar coerência a uma série de fatos, assim também ocorre com o criacionismo”11.
O evolucionismo defende os processos naturais de desenvolvimento das espécies, enquanto o criacionismo é definido como a crença de que o universo e organismos vivos se originaram de atos específicos da criação divina. Mas o naturalismo, assim como o criacionismo, requer uma série de pressuposições que não são geradas por experimentos. E assim, tanto o naturalismo como o criacionismo são fortemente influenciados por pressuposições que não podem ser testadas ou provadas, as quais entram nas discussões antes de quaisquer fatos: uma teoria, que pode se tornar científica. Seguindo então a lógica da teoria – conhecimento especulativo, metódico e organizado de caráter hipotético e sintético –, é justo dizer que o criacionismo é tão cientifico quanto o naturalismo e tão compatível com o método científico de descobrimento. Esses dois conceitos não são, no entanto, ciências em si mesmos, pois ambas as opiniões incluem aspectos que não são considerados “científicos” no seu sentido normal, mas teorias. Portanto, nem o criacionismo nem o naturalismo podem ser rejeitados ou negados; quer dizer, não há qualquer experimento que possa conclusivamente refutar um ou o outro. “Apenas tomando esses dois pontos como base – naturalismo x criacionismo – podemos ver que não há nenhuma razão lógica pela qual devemos considerar um como sendo mais científico que o outro (idem, Nota 11). Mais uma observação entre naturalismo e criacionismo é que o primeiro rejeita as crenças em milagres descritas na Bíblia. Nesse caso, “… o criacionismo, na verdade, como teoria propriamente dita, é melhor do que o naturalismo, pois ela possui evidências de declarações de milagres, já que as Escrituras nos fornecem narrativas documentadas de acontecimentos milagrosos. A caracterização do criacionismo como um conceito não científico por causa de milagres exige uma caracterização semelhante para o naturalismo” (Idem, Nota 11). Especificamente no que diz respeito ao debate entre a evolução e a criação, o próprio Charles Darwin defendeu esse argumento.
A base para a afirmação do resultado científico precisa ser a verdade. E “nem todos os cientistas concordam sobre qual é a verdade, mas quase todos concordam que um ou o outro tem que ser verdade” (Idem, Nota 11). E no caminho para além da teoria o criacionismo segue uma abordagem racional e científica à aprendizagem, como os conceitos de probabilidade realística, falta de evidência que sustente a macroevolução, a evidência da experiência etc. A suposta “crença” na criação não é uma barreira ao descobrimento científico, haja vista as grandes realizações de homens como Newton, Pasteur, Mendel, Pascal, Kelvin, Linnaeus e Maxwell, todos declaradamente criacionistas. Criacionismo não é uma “ciência”, assim como naturalismo não é uma “ciência”. Criacionismo é, no entanto, completamente compatível com a ciência propriamente dita.
A Bíblia faz referência a um dilúvio universal e depois disto, todos os homens no mundo de hoje, segundo Gênesis 9.1,19, descendem dos três filhos de Noé. Ou seja, todos os continentes foram, no decorrer dos tempos, ocupados pelos descendentes dos filhos de Noé: Sem, Cam e Jafet.
Mais sobre este assunto, sugiro os textos abaixo:

Veja ainda o vídeo a seguir:


Notas:

  • 1 Nesta obra, o pintor italiano Michelangelo executou a criação do afresco “A criação de Adão”, que retrata o exato momento em que Deus estabeleceu a criação do homem. In: <O Deus de Michelangelo>. Acesso em: 19/07/2022.
  • 5 Idem (Nota 3).
  • 6 Idem (Nota 3).

  • 8 Henry Madison Morris, “… criacionista da Terra Jovem, apologético cristão e engenheiro estadunidense. Foi um dos fundadores da Creation Research Society e do Institute for Creation Research, sendo considerado por muitos como ‘o pai da moderna ciência da criação’. In: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Madison_Morris>. Acesso em: 12/07/2022.
  • 10 GARROS, Tiago Valentim (Veja Nota 8. Pág. 27.

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