Tomé[1]
“Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não
estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos:
Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas
mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no
seu lado, de maneira nenhuma o crerei. E oito dias depois estavam outra vez os
seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas
fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a
Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no
meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. E Tomé
respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!
Disse-lhe
Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram”
(Jo 20.24-29)[2]
– Grifos meus.
Tomé (em aramaico te`ômã`), foi um dos apóstolos de
Jesus, também chamado Dídimo (em grego), que significa
“gêmeo”, (Jo
11.16; 20.24; 21.2). Embora seu nome apareça nos quatro Evangelhos do Novo Testamento, os traços sobre
sua personalidade aparecem principalmente no quarto: Evangelho de João.
Por isso que destaquei na passagem acima a expressão “incrédulo”,
atribuída a ele por Jesus, pelo fato de ele descrer de sua ressurreição, e a
sua resposta “Senhor meu, e Deus meu”,
uma das grandes verdades a respeito da divindade de Jesus, reconhecida por ele
em seguida, um (possivelmente) ex-incrédulo, que entendeu rapidamente o pedido
de Jesus para mudar de atitude e ser “crente”, depois de ser confrontado
com a verdade de que Jesus tinha ressuscitado e que ele podia até tocar em suas
feridas provocadas pelas lanças dos seus algozes. Por estes motivos, acho que
ele pode também bem ser adjetivado como um apóstolo de personalidade racional
e dúbia, uma vez que ele tinha dificuldade de crer em milagres, mas também, uma
vez ciente da verdade a que buscava, ele a defendia naturalmente.
Devido ao significado de seu nome, parece evidente que Tomé tenha
tido um irmão gêmeo, porém não existe qualquer informação sobre esse irmão ou
irmã dele nos Evangelhos. Também é no Evangelho de João – repito – que encontramos
as melhores informações sobre quem foi Tomé, visto que nos outros Evangelhos e
no livro de Atos ele é meramente mencionado na lista que traz os nomes dos
apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6,15 e At 1.13).
Ainda um pouco mais sobre a personalidade de Tomé, percebe-se que
ele demonstra pessimismo e uma enorme devoção ao Senhor ao mesmo tempo, por
exemplo, quando da ressurreição
de Lázaro. Nesta ocasião, Tomé, considerando a ameaçava real de apedrejamento caso Jesus
fosse à Judéia, declarou: “...vamos
também nós para morrermos com ele” (Jo 11.16b). Embora Tomé
demonstre desânimo e pessimismo frente a possibilidade de ser morto, ele declara
sua aptidão a morrer – se fosse o caso – juntamente com o seu Senhor. Todavia,
esta aparente prontidão de morrer com Jesus não fica demonstrada por Tomé
quando Jesus é preso. Naquele momento, ele e os demais apóstolos fugiram. Embora,
pelas Escrituras do Antigo Testamento, isto de fato aconteceria para
cumprimento da profecia que afirma: “... ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão” (Mc 14.27c) – conforme Zacarias 13.7.
Tomé[3]
também demonstrou dúvida acerca do ensino do Senhor Jesus de que os discípulos
conheciam o caminho para onde Ele estava indo, ao dizer: “Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e
como podemos saber o caminho?” (Jo 14.5). É possível que Tomé, nesse questionamento, estivesse
representando o pensamento dos outros discípulos. De qualquer forma, essa frase
revela certa fraqueza, mas que é imediatamente confrontada com a conhecida
resposta do Senhor Jesus: “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a
verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jo 14.6).
Mas Tomé
viu o Cristo ressurreto, seu Senhor e seu Deus. Após sua
ressurreição, como já vimos, Tomé demonstra incredulidade e depois revela o
atributo da onisciência de Jesus, portanto, de um Cristo Deus, o qual tinha
visto e ouvido suas demonstrações de incredulidade, oito dias antes. O texto
bíblico não esclarece se Tomé tocou ou não nas feridas de Jesus, ou se apenas
esse terno convite, respondendo nos mínimos detalhes a sua exigência, já tenha
bastado. Em todos os casos, seja qual tenha sido sua reação, ela o
conduziu prontamente à sua profunda declaração de
fé: “Senhor meu, e Deus meu!” (João
20:28). E sendo Deus, Jesus é reconhecido por Tomé e pelos cristãos,
como uma das pessoas da Trindade
(cf. Jo 1.1-3).
Tomé também estava presente junto aos discípulos que pescavam
num barco no mar da Galileia quando Jesus novamente apareceu a eles (João 21).
Além destes (e outros) relatos bíblicos expostos acima, há
muitas especulações e (possíveis) lendas a respeito de Tomé na tradição cristã.
Uma dessas “lendas” (ou não) que já destacamos, por exemplo, em outro
momento, afirma que Tomé esteve no (que um dia viria a ser) Brasil. Segundo Jorge PINHEIRO[4], pelo menos dois grupos indígenas,
o dos Tupinambá e o
Tupi-Guarani, faziam menção a um tal “Pai Çumé” (ou Sumé), ou seja, Tomé, um
dos apóstolos de Cristo. “... os
tupis [por exemplo] acreditavam
que Çumé partiu caminhando sobre as águas do Atlântico, mas prometeu voltar um
dia para continuar sua obra civilizatória. Quem sabe a profecia se cumpriu e
Çumé retornou com a chegada dos jesuítas?”, diz Jorge (PINHEIRO: 2008,
p. 104). Há outras “possíveis” referências sobre Tomé também na Bahia, Peru,
Bolívia..., e há informações também que Tomé pregou o Evangelho na Índia e Síria.
Sobre sua
morte, não é possível afirmar qualquer coisa realmente confiável sobre
como ela aconteceu. Segundo Franklin Ferreira, “Tomé foi morto por lanceiros próximo
a Madras”[5],
cidade indiana, no ano 72[6]. É bem possível
que haja algum autor gnóstico com o mesmo pseudônimo de Tomé, mas – concordamos
com Conegero (NOTA 3) – o que realmente precisamos saber a respeito de Tomé, as
informações registradas na Bíblia acerca dele são suficientes. Aquele Tomé, popularmente
conhecido como “incrédulo” é também aquele que o Evangelho de João o apresenta
como revelador de um dos mais profundos atributos de Jesus Cristo: a sua
deidade, expressa na confissão “Senhor meu, e Deus meu!”.
Sugiro vídeo de Lamartine Posella, abaixo, como ampliação deste conteúdo...
- [1] Imagem meramente ilustrativa. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A9,_o_Ap%C3%B3stolo>. Acesso em: 28/08/2021.
- [2] Esta e as demais passagens bíblicas utilizadas neste artigo são da versão protestante ACF – Almeida, Corrida Fiel, disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>. Acesso em: 28/08/2021.
- [3] CONEGERO, Daniel. Quem Foi o Apóstolo Tomé? (Texto adaptado). Disponível em: <https://estiloadoracao.com/quem-foi-o-apostolo-tome/>. Acesso em: 28/08/2021.
- [4] PINHEIRO, Jorge. Deus é brasileiro: as brasilidades e o reino de Deus. São Paulo: Fonte Editorial, 2008.
- [5] FERREIRA, Franklin, O martírio cristão. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/franklin-ferreira/o-martirio-cristao/?#success=true>. Acesso em: 28/08/2021.
- [6] Veja NOTA 1.