O próximo bispo de nossa lista (bispos e papas romanos),
que queremos destacar aqui é o BispoAntero. Na lista de Eusébio
de Cesareia, em História Eclesiástica (HE) [2] encontramos:
“Depois de Maximino, Gordiano recebeu em sucessão o principado dos romanos,
e a Ponciano, que havia exercido o episcopado
da igreja de Roma por seis anos, sucedeu Antero, que depois de servir no
cargo durante ummês, teve como sucessor Fabiano” (HE, 6,
XXIX – Destaques meus).
Veja que Eusébio afirma que Antero teve um episcopado muito
curto, de apenas um mês ou pouco um mais. Assim, conforme esta [3] e mais esta [4] e esta outra [5] fontes
católicas, o Papa ou Bispo Antero:
§Exerceu
seu episcopado entre “21 de novembro de 235 a 3 de janeiro de 236”.
§Foi filho
de Rômulo e nasceu na Magna Grécia, na região que hoje é a Calábria, de
uma família de origens gregas, mas seu nome indica que ele foi um escravo
livre.
§Sua eleição
foi marcada pelo enfrentamento da oposição de um sacerdote de nome Nereu de
Chipre, que desejava o trono de São Pedro, mas não reuniu adeptos
em número suficiente para apoiar as suas pretensões.
§Pouco
se sabe da sua morte, mas provavelmente foi condenado à morte por Maximino
Trácio.
§Ordenou a
compilação de documentos canônicos oficiais, recolhidos e conservados na
Igreja, em um lugar chamado scrinium. Muitas recompilações foram queimadas por
ordem do imperador Diocleciano, mas voltaram a ser redigidas para desaparecerem
novamente nos tempos do Papa Honório III (1225).
Segundo o Portal São Francisco (Nota 5) “Antero Promoveu a
coleção de Os Atos dos Mártires, uma ordenação das atas concernentes aos
mártires da Igreja, determinando que fossem lavradas cópias para serem
guardadas nas igrejas. Sua iniciativa irritou o imperador romano Máximiano, um
bárbaro da Trácia, que o levou à condenação e execução, tendo seu corpo sido
sepultado junto às catacumbas de São Calixto. Sua morte violenta, associada a
sua humildade e grande carisma pessoal, resultou em milhares de conversões
entre os romanos e gregos pagãos e até entre a guarda pessoal do imperador...”.
Lembrando que nossa lista segue uma ordem diferente da
Teologia Católica, uma vez que esta considera o apóstolo Pedro como o primeiro
papa.
Notas / Referências bibliográficas:
[1]Imagem (adaptada) e meramente ilustrativa. Disponível em: Paróquia de Coreaú (Nota 4). Acesso em: 06/10/2025.
[2]CESAREIA,
Eusébio. História Eclesiástica: os primeiros quatro anos da Igreja Cristã.
Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
Sobre o comentário acerca das setenta semanas de Daniel, feito pelo Dr.
C. I. Scofield [2],
ele cita dois Pais da Igreja, Irineu e Hipólito, cuja escatologia
se assemelhava à dos fundamentalistas. Sobre o primeiro já falamos aqui e aqui e, sobre Hipólito, veja o conteúdo
abaixo.
1.Quem
era Hipólito[3]
HipólitodeRoma (c. de
170-c. de 236) foi um presbítero de língua grega na igreja em Roma que liderou
um cisma contra o Bispo
Calixto. Ele e um bispo posterior de Roma, Ponciano, foram
exilados para a Sardenha durante a perseguição feita pelo imperador Maximino
(235) Ponciano e
Hipólito aparentemente foram reconciliados antes de morrerem na Sardenha, e
vieram a ser considerados mártires.
Hipólito escreveu vários documentos
importantes. A Refutação de todas as Heresias (as vezes chamada Philosophoumena)
trata principalmente das seitas gnósticas, fazendo seus erros remontarem à
filosofia. ATradiçãoApostólica é a fonte mais completa
no tocante aos costumes organizacionais e litúrgicos da Igreja ante-niceana [4] – e abrange o batismo, a
eucaristia, a ordenação e a festa do amor ágape). O Comentário de Danielé o mais antigo da Igreja Ortodoxa; expõe uma escatologia quillasta [5]. ContraNoeto
opõe-se a uma antiga forma de modalismo. Uma estátua de Hipólito,
presumivelmente preparada durante sua vida, traz uma inscrição que alista seus
escritos e registra uma tabela de cálculo da data da Páscoa.
As opiniões de Hipólito foram aguçadas por sua
controvérsia com Calixto. Além de suas diferenças pessoais (Calixto era um
ex-escravo com pouca educação formal, Hipólto, uma pessoa livre com muita
cultura) e da rivalidade pelo episcopado, os dois homens discordavam
doutrinariamente no tocante a duas considerações importantes. Hipólito defendia
a cristologia do Logos e fazia tanta distinção entre o Pai e Cristo, que Calixto
o chamava de "diteísta"; Calixto e seu antecessor, Zeferino,
enfatizavam a união divina, de tal maneira que Hipólito não via diferença entre
as opiniões deles e o modalismo de Sabélio. Hipólito adotava um conceito
rigorista da disciplina eclesiástica, e negava a reconciliação com a igreja
àqueles que eram culpados dos pecados mais graves, deixando nas mãos de Deus o
perdão; Calixto adotava um conceito mais lasso, e estava disposto a conceder o
perdão da igreja, especialmente nos casos de pecados sexuais.
2.Sua
escatologia
§A
última semana de Daniel (9.27) / o Anticristo.
A exemplo de Irineu de Lyon, Hipólito
de Roma também interpretou as setenta semanas de Daniel (Dn 9.24-27) como um
período literal de 490 anos, conectando a última semana (70ª) diretamente com a
vinda do Anticristo e os acontecimentos finais da história a exemplo também dos
dispensacionalistas. A primeira metade da última semana era um período de
aparente paz e aliança feita pelo Anticristo, enquanto a segunda metade, um
período de extrema perseguição, abolição do sacrifício, “abominação da
desolação” e domínio do Anticristo sobre o mundo. Esta fase é explicada e
conectada também pelos períodos de tempos mencionados em Daniel e Apocalipse: 1260
dias (Ap 11.3; 12.6), 42 meses (Ap 11.2; 13.5) e tempo, tempos e metade de um
tempo (Dn 12.7; Ap 12.14). Após este período de tribulação, Cristo intervirá e
instaurará seu Reino definitivo.
§Arrebatamento
da Igreja / Milênio:
Sobre o arrebatamento,
Hipólito não o via como um evento secreto
como fazem os dispensacionalistas. Para ele, a igreja passará pela perseguição
do Anticristo, especialmente durante os últimos 3 anos e meio da semana de
Daniel. Espera-se que os fiéis sejam perseverantes e aguardem a manifestação
gloriosa de Cristo no final da última semana. Na verdade, a ordem dos eventos
do final dos tempos para Hipólito será:Aparecimento
do Anticristo (Dn 7.25; 9.27; 11.36; Ap 13); Perseguição dos santos:
a Igreja sofreria durante o reinado de 3 anos e meio; Segunda vinda de
Cristo: Cristo destruiria o Anticristo e instauraria o reino. Ressurreição/arrebatamento:
ocorre na manifestação de Cristo, quando os justos são reunidos a Ele (1Ts
4.16-17). Mas, como Irineu e os dispensacionalistas modernos, Hipólito também
cria em um reinado terreno (literal) de Cristo por mil anos.
Numa tabela
criada pelo ChatGPT[6], relacionando Hipólito e dispensacionalistas,
em relação ao tempo do fim temos:
Evento
Hipólito de Roma
Dispensacionalismo
a)Última semana de Daniel (Dn 9.27)
§É futura e se refere ao governo do Anticristo. Dividida em duas
metades de 3 anos e meio: paz aparente (1a);
§Perseguição da Igreja (2a).
§Idem.
b)Anticristo
§Figura real, governará 3 anos e meio, abolirá o sacrifício, instaurará
a abominação da desolação e perseguirá os santos.
§Também é figura real, dominará durante a Tribulação e fará pacto com
Israel.
c)Destino da Igreja durante a
tribulação
§A Igrejapermanece na terra e sofre
perseguição do Anticristo. Não há livramento antecipado.
§Igreja é arrebatada
antes da Tribulação (pré-tribulacionismo).
§Alguns grupos aceitam arrebatamento no meio
ou no fim da tribulação.
d)Arrebatamento / Ressurreição (1Ts 4.16-17)
§Acontece junto com a segunda vinda de Cristo, após a tribulação. É
público e glorioso.
§O arrebatamento é secreto e anterior à tribulação (pré-tribulacionismo
clássico). Depois, ocorre uma segunda vinda visível de Cristo.
e)Milênio (Ap 20.4-6)
§Literal: Cristo reinará 1.000 anos na terra após
derrotar o Anticristo.
§Também literal: Cristo reinará por 1.000 anos após a
Tribulação.
f)Israel e Igreja
§Não faz distinção rígida: judeus e gentios em Cristo é perseguido peloAnticristo e depois participa do Reino.
§Forte distinção: Israel e Igreja têm
destinos diferentes. A Tribulação é voltada a Israel; a Igreja já terá sido
arrebatada.
g)Sequência final
§Anticristo → Tribulação → Segunda Vinda de Cristo →
Arrebatamento/Ressurreição → Milênio → Juízo final → Eternidade.
§Arrebatamento (antes da tribulação) → 7 anos de
Tribulação (Israel no centro) → Segunda Vinda
visível → Milênio → Juízo final → Eternidade.
Para concluir, percebemos as ideias de Hipólito
convergiam com as de dispensacionalistas, principalmente na crença da vinda de Anticristo
real, uma última semana de Daniel futura e um milênio literal. A diferença
crucial está no fato de que Hipólito coloca o arrebatamento apenas no fim da
tribulação, enquanto o dispensacionalismo (clássico) defende que a Igreja não
estará na tribulação, pois será retirada antes. Podemos afirmar, portanto, que Hipólito
é um pós-tribulacionista milenarista, enquanto para o dispensacionalismo a
ideia mais difundida é o pré-tribulacionista milenarista.
Resumo no vídeo a seguir:
Notas:
[1] Imagem ilustrativa,
criado pela I. A. do ChatGpt. In: Hipólito
de Roma.
[2]CyrusIngersonScofield (1843–1921): “... foi um influente ministro americano.
Sua Bíblia de Referência Scofield , repleta de anotações úteis sobre
o texto, foi publicada em 1909 e se tornou o padrão para uma geração de
cristãos fundamentalistas e popularizou a teologia dispensacionalista...”.
Veja mais aqui, aqui e tambémaqui.
[3] FERGUSON, Everett. Hipólito. In: ELWELL, Walter. A. (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol.
II. São Paulo: Vida Nova, 1988 (1ª Ed.), pág. 251-252.
[4] Isto é, ATradiçãoApostólica de Hipólito foi uma das fontes
teológicas que serviram de base para o Concílio de Niceia, o primeiro dos
concílios ecuménicos, ocorrido no ano 325.
[5]Quiliasta:
aquele que defende a crença num "Reino Milenar" literal onde Cristo
reinará na Terra após a sua segunda vinda, com base em interpretações de
passagens bíblicas como Apocalipse 20.1-6 e outras.
[6] Para montagem deste
quadro, o ChatGpt usou como base Exposição sobre Daniel de Hipólito.
Há alguma similaridade entre o ensino
escatológico de Irineu de Lyon (Leão) e o dos protestantes fundamentalistas?
Esta pergunta tem relação com o texto sobre as setenta semanas do profeta
Daniel (9) e os comentários do Dr. C. I. Scofield [1] sobre o assunto. Scofield
foi um pastor protestante fundamentalista que escreveu suas ricas anotações de
sua Bíblia de Referências. Nelas, ele ensina a visão escatológica
futurista e dispensacionalista e, ao comentar Daniel 9.24, ele afirma
que “... a interpretação que atribui a última das semanas ao fim dos tempos
é dos Pais da Igreja”. E, como exemplo, ele cita Irineu e Hipólito.
Resolvi, então, ver o pensamento de Irineu sobre isto, que resumiremos abaixo, e
em outro momento pretendo falar sobre a posição de Hipólito.
1.Sobre
a teologia de Irineu
No tocante à vida de Irineu já falamos um pouco
neste
artigo. Ele era natural da Ásia Menor – provavelmente de Esmirna
– onde nasceu por volta do ano de 130 e morreu em 202. Durante toda sua vida,
Irineu foi um admirador fervente de seu mestre, e em seus escritos se refere
repetidamente aos ensinos do mesmo, isto é, um "ancião" – o
presbítero – cujo nome não menciona, mas que parece ser mesmo o bispo Policarpo.
Este, que fora discípulo do apóstolo
João,
morreu por volta de do ano 100. Seu discípulo Policarpo, que serviu a Cristo 86
anos, talvez tenha morrido com mais de 90 anos, em 155. E Irineu, discípulo deste
último, continuou sua obra. Veja que Irineu absorveu toda a tradição cristã que
o aproximava aos apóstolos. Em todo caso, por razões que desconhecemos, Irineu
se transladou da Ásia Memor para Lyon, no que hoje é França.
Os pontos centrais da teologia de Irineu
era:
· a unidadedaféapostólica
transmitida pela sucessão episcopal e base para o combate às heresias;
· Cristo como Recapitulação (Anakephalaiosis),
a ideia de que Cristo recapitula em si toda a história humana. Adão
trouxe a queda, Cristo, o novo Adão, refaz o caminho, obedecendo onde Adão
desobedeceu (cf. Rm 5.12-21; 1Co 15.22,45) e enfatiza salvação como uma restauração
e renovação da humanidade em Cristo.
· Encarnação comopartedoplanodesalvação: Para Irineu, a
encarnação já fazia parte do propósito eterno de Deus, não apenas uma resposta
ao pecado.
· Combateà heresia gnóstica: Irineu
rejeitou a ideia gnóstica de um Deus superior ao Criador; afirmou que o Deus do
Antigo Testamento é o mesmo do Novo e que a criação é boa, e a redenção
acontece dentro da história, não pela fuga dela.
· Escatologia:
Irineu esperava um reino futuro de Cristo na terra (inclinação
milenarista, comum nos primeiros séculos); e via a história em termos de
“planos” (dispensações) ou “economias” de Deus, conduzindo ao cumprimento em
Cristo. Sobre este ponto falaremos mais abaixo.
Irineu é considerado pela Igreja Católica um
dos grandes Padres apostólicos e apologistas; considerado em 2022, pelo Papa
Francisco, “Doutor
da Unidade”, por sua ênfase na unidade da fé e da Igreja contra
divisões. A sua teologia da sucessão
apostólica é valorizada pela Igreja Católica como base do episcopado
e do magistério, assunto que também destacamos aqui.
Mas é sobre sua escatologia que queremos
destacar a seguir sobretudo considerando os pontos similares com o
fundamentalismo protestante.
2.Escatologia:
Irineu x Fundamentalistas
Perguntei ao Chatgpt que
embora a Igreja Católica considere Irineu como “Doutor da Igreja”, pelo menos a
sua escatologia diverge da doutrina católica. A Resposta da I. A. Chatgpt foi:
“Sua avaliação está correta: Irineu é Doutor da Igreja, mas sua escatologia
não coincide plenamente com a visão católica posterior”. E esta divergência
se dá, principalmente a partir de Agostinho
de Hipona, do século IV em diante. “Agostinho ensinou que o milênio
de Ap 20 não é literal, mas espiritual... corresponde ao período atual da
Igreja entre a primeira e a segunda vinda de Cristo... Essa interpretação se
tornou a dominante (o chamado amilenarismo agostiniano)”. Mas,
voltando a Irineu[2],
vejamos o que ele diz sobre:
a)Dispensações
Como já definimos aqui “... uma dispensação é
um período de tempo no qual o homem é testado na sua obediência a alguma
revelação específica da vontade de Deus. Três conceitos importantes estão
implícitos nesta definição: um depósito de revelação divina quanto à vontade de
Deus, incorporando o que Deus exige quanto à sua conduta; a mordomia do homem
desta revelação divina, na qual ele é responsável de obedecer; e um
período de tempo, geralmente chamado de “século”, durante o qual esta revelação
divina prevalece testando a obediência do homem a Deus[3]”.
Irineu não fala diretamente
sobre dispensações, mas deixa claro que Deus implementou um plano para resgatar
e restaurar a humanidade e a criação, revertendo os efeitos do pecado. Ele
chama este plano de "recapitulação" (p. ex.: pág. 65) e é uma
forma de a Igreja interpretar a história da salvação em diferentes "economias"
ou etapas do plano de Deus. E também destaca sobre “... aquelas coisas que
foram preditas pelo Criador igualmente por meio de todos os profetas Cristo
cumpriu no final, ministrando à vontade de Seu Pai e completando suas dispensações[destaque meu] com relação à raça humana”[4].
b)As
Setenta Semanas de Daniel
Assim como os fundamentalistas (veja
aqui),
Irineu interpretava as setenta semanas de Daniel (Dn 9.24-27) como um período histórico de
490 anos literais. A última semana (7 anos) seria o tempo da tribulação, que
ele vinculava com eventos que precederiam a volta de Jesus. Portanto, trata-se
de um evento escatológico futuro. Ele dividia a última semana em duas partes de
três anos e meio (como fazem os dispensacionalistas).O
“príncipe que há de vir” (v. 26) é o Anticristo, um governante que que fará
uma aliança por uma semana (7 anos), mas na metade da semana (após 3 anos e
meio) romperá o pacto, cessará o sacrifício e instaurará a abominação da
desolação. Resumindo: Irineu vê a última semana como ainda não cumprida em sua
totalidade, projetada para o fim da história, ligada ao governo do Anticristo.
c)Arrebatamento
da Igreja / Segunda vinda de Cristo / grande tribulação
Irineu (pág. 98) relaciona arrebatamento como a
ressurreição dos mortos: “... assim também devemos esperar o tempo da nossa
ressurreição, prescrito por Deus e predito pelos profetas, e assim,
ressuscitando, sermos arrebatados, todos aqueles que o Senhor considerar
dignos deste [privilégio]...”. também cita (Pág. 16 e 17) Enoque e Elias
como exemplo de pessoas arrebatadas ou trasladadas. O arrebatamento deles
apontava “... assim por antecipação a transladação dos justos”. Quando
esta transladação acontecerá? Diferentemente dos fundamentalistas protestantes,
que acreditam que Jesus voltará antes da grande tribulação, Irineu cria que a
Igreja seria “arrebatada” (1Ts 4.17), mas no fim da última semana, na
manifestação de Cristo, não antes. E também não falava de um “arrebatamento
secreto” durante a tribulação. Sua visão era mais próxima do que hoje chamamos
de pós-tribulacionismo milenarista: a Igreja sofre perseguição, Cristo
volta, ocorre o arrebatamento/ressurreição, derrota do Anticristo e início do
milênio.
d)Milênio
O ensino de Irineu sobre o milênio coincide com
a posição dos fundamentalistas. Ele ensinava um milênio literal(quiliasmo),
terrestre e futuro, que ocorrerá após a volta de Cristo. Sua posição foi
abandonada pela Igreja Católica a partir do século IV, como já vimos.
Com a ajuda do chatGpt, elaborei um quadro
abaixo da escatologia de Irineu por ordem dos acontecimentos:
1)Aparecimento
do Anticristo
- Surge
no fim da história como o “príncipe que há de vir” (Dn 9.27).
- Governa
por 3 anos e meio (Dn 7.25; Ap 13.5).
- Rompe
a aliança, cessa o sacrifício e instala a abominação da desolação (Dn 9.27; Mt
24.15).
- Persegue
duramente os santos (Ap 13.7).
2)Grande
Tribulação da Igreja
- A
Igreja não é retirada antes da tribulação, mas chamada a perseverar.
- Irineu
entendia o sofrimento como prova final dos fiéis (Ap 13; Dn 12.7).
3)Segunda
Vinda de Cristo
- Cristo
vem em glória, derrota o Anticristo (2Ts 2.8; Ap 19.20).
- Os
justos são arrebatados / ressuscitados para encontrar o Senhor (1Ts 4.16-17).
- Esse
encontro marca o início do reinado milenar.
4) Milênio
literal (1.000 anos)
- Cristo
reinará na terra, em Jerusalém restaurada (Ap 20.4-6).
- A
criação será renovada (Is 11; 65.17-25).
- Haverá
abundância e paz, cumprimento das promessas a Israel.
- Os
justos reinarão com Cristo.
5)Ressurreição
final e Juízo universal
- Após
os 1.000 anos, Satanás será solto e derrotado (Ap 20.7-10).
- Ocorre
a segunda ressurreição: ímpios ressuscitam para o juízo.
- Cristo
julga todos (Ap 20.11-15).
6) Eternidade:
Novo céu e nova terra
- Consumação
definitiva da criação (Ap 21–22).
- A
humanidade restaurada em Cristo habita com Deus para sempre.
Bem, sobre a escatologia dos dispensacionalistas/conservadores,
estamos postando os assuntos aqui à
medida que conseguimos elaborá-los. Mas quero concluir destacando alguns pontos
de aproximação dela com a de Irineu.
Irineu
não faz distinção entre Israel e a Igreja ao tratar o fim dos tempos, não
ensina sobre um arrebatamento secreto, mas defende uma leitura futurista de
Daniel e Apocalipse; entende ser a última semana de Daniel um acontecimento
ainda futuro, culminando na revelação do Anticristo; divide esse período em
duas metades de 3 anos e meio, conectando com Ap 11–13; afirma que o “príncipe
que há de vir” (Dn 9.26-27) é o Anticristo, que perseguirá os santos; e
acreditava num reino milenar terreno de Cristo após sua vinda.
Portanto, Irineu e o
dispensacionalismo compartilham elementos importantes: leitura futurista de
Daniel, expectativa de um Anticristo histórico e defesa de um milênio literal.
Contudo, separam-se no ponto crucial do arrebatamento da Igreja. Enquanto o
dispensacionalismo vê a Igreja retirada antes da tribulação, Irineu acreditava
que os cristãos enfrentariam o Anticristo, sendo arrebatados somente na segunda
vinda de Cristo. Assim, sua escatologia está mais próxima de um
pós-tribulacionismo milenarista do que da visão pré-tribulacionista moderna.
Veja o resumo do artigo no vídeo a seguir:
Notas / Referências bibliográficas:
[1] CyrusIngersonScofield (1843–1921): “... foi um influente ministro americano.
Sua Bíblia de Referência Scofield , repleta de anotações úteis sobre
o texto, foi publicada em 1909 e se tornou o padrão para uma geração de
cristãos fundamentalistas e popularizou a teologia dispensacionalista...”.
Veja mais aqui, aqui e também aqui.
[2] IRINEU... Contras
as Heresias, Livro V, Cap. 25 a 30.
[3] SCOFIELD, Dr. C.
I. Rota de Gênesis 1.28. In: A Bíblia Sagrada. São Paulo: Imprensa
Batista Regular do Brasil: 1987. Texto e abreviaturas das referências
adaptados.
[4] IRINEU de Lyon. ContraasHeresias: Livro 5, p. 83 e 84), Edição do Kindle.