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23 abril 2025

Bispos e Papas (16): Urbano I

 

Bispo Urbano I [1]

O próximo bispo de nossa lista (bispos e papas romanos), que queremos destacar aqui é o Bispo Urbano.

Relembrando os bispos destacados até aqui, seguindo a ordem proposta por Eusébio de Cesareia, em História Eclesiástica (HE) [2]:

· 01) Bispo Lino - 67 a 76.
· 02) Bispo Anacleto - 76 a 88.
· 03) Bispo Clemente de Roma - 88 a 97.
· 04) Bispo Evaristo - 97 a 105.
· 05) Bispo Alexandre I - 106(?) a 116 (?).
· 06) Bispo Sixto I - 115(?) a 129(?).
· 07) Bispo Telésforo - 125(?) a 138.
· 08) Bispo Higino - 138 a 142.
· 09) Bispo Pio - 142 a 155(?).
· 10) Bispo Aniceto - 154(?) a 166.
· 11) Bispo Sotero - 166 a 174/5.
· 12) Bispo Eleutero - 175 e 189.
· 13) Bispo Vitor I - 189 a 199 (Wikipedia).
· 14) Bispo Zeferino (199 a 217).
· 15) Calisto Primeiro (217 a 222).

Lembrando que esta lista não é a mesma da Igreja Católica, uma vez que a tradição católica considera o apóstolo Pedro como tendo sido o primeiro bispo romano e, por isso, o primeiro papa da igreja e, como se vê acima, Eusébio e muitos outros cristãos consideram Lino o primeiro bispo romano e não o apóstolo Pedro.

Afirma Eusébio que o bispo Zeferino foi sucedido por Calisto, e este por Urbano (HE, 6, XXI). E que “... Urbano, que fora bispo de Roma por oito anos, foi sucedido por Ponciano” (HE, 6, XXIII).

Como os outros casos, as informações que temos do Bispo ou papa Urbano são de fontes católicas. Considerando estas fontes (a), b) e c))[3], descritas nas considerações bibliográficas abaixo, temos o seguinte resumo:

  • O bispo ou papa Urbano I nasceu em Roma, viveu entre 175 e 230 e exerceu seu bispado por 8 anos, entre 222 e 230.
  • Seu bispado/pontificado ocorreu num período de tolerância (222-235) do imperador Alexandre Severo, portanto, num momento de relativa paz para os cristãos. Embora a religião do Império Romano fosse o paganismo e a perseguição e o massacre ao cristianismo fosse intenso naquela época, Alexandre Severo permitiu certa liberdade de culto e tolerou razoavelmente o convício entre as crenças. 
  • Determinou que as esmolas e os legados ofertados à Igreja fossem aplicados exclusivamente em duas direções: sustento/conversão dos pobres e culto divino. 
  • Estabeleceu pioneiramente o uso de ouro, prata e pedras preciosas em patenas, cálices e vasos sagrados e que o sacramento da Confirmação fosse ministrado, após o Batismo, pelas mãos de um bispo. E também benzeu alguns artefatos deste material para a paróquia de Roma. “Era o início da riqueza que marcaria tão notoriamente a história da Igreja Católica” (Infoescola). 
  • Organizou a Igreja de Roma em 25 unidades eclesiásticas, as paróquias de Roma e consentiu que a Igreja adquirisse bens. 
  • Interveio nas disputas sobre o cisma de Hipólito de Roma e ordenou que o patrimônio da igreja doado pelos fiéis não pudesse ser usado, em hipótese alguma, para outros fins a não ser para o sustento dos próprios missionários. 
  • Foi vítima de calúnia e perseguido pelo prefeito Almáquio, de Roma, sob o império de Alexandre Severo. 
  • Foi responsável por inúmeras conversões, inclusive, de pessoas de alta classe social, dentre os quais Valeriano, esposo de Santa Cecília, convertida e martirizada, e de Tibúrcio, seu irmão.
A hagiografia apresenta geralmente como martirizados em seu tempo Santa Cecília e companheiros. Entretanto, parece que o bispo Urbano, de que se fala o martirológio, não era este papa, mas, sim, algum homônimo seu, dos tempos de Marco Aurélio ou Cômodo (161-192). In: Wikipedia.
  • Urbano, com a aplicação da benção a artefatos religiosos da paróquia de Roma, dava o início da riqueza que marcaria tão notoriamente a história da Igreja Católica. 
  • Embora o catolicismo já desse sinais de sua preocupação com a riqueza no final do século II, o papa não deixou de pensar nos desvalidos. Mesmo cultuando os objetos de valor, Urbano I determinou que as esmolas ofertadas à Igreja fossem empregadas exclusivamente em duas frentes, o culto divino e os desvalidos. Ou seja, a Igreja demonstrava já seu perfil dúbio que oscila entre riqueza e pobreza.

Ao que parece, Urbano não tenha morrido como mártir. Ele faleceu no ano 230, com 55 anos de idade, sendo sucedido por Ponciano.


Notas/Referências bibliográficas:

  • [1] Imagem (adaptada) e meramente ilustrativa. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Urbano_I>. Acesso em: 22/04/2025.
  • [2] CESAREIA, Eusébio. História Eclesiástica: os primeiros quatro anos da Igreja Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

  • [3] Papa Urbano I:

07 abril 2025

Nova República (5): Fernando Collor de Mello

Fernando Affonso Collor de Mello [1]

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O último período da História do Brasil que ficou conhecido como Nova República (1985 até o momento), teve como primeiro presidente José Sarney. Este propôs uma nova Constituição para o país, a qual foi votada e promulgada em 5 de outubro de 1988. Um dos pilares da Constituição, no campo político, é a realização de “eleições diretas e universais com dois turnos”. Nesse sentido, após o fim do mandato de Sarney e das disputas eleitorais da época, surgiria o segundo Presidente da República, mas o primeiro eleito diretamente pelos cidadãos brasileiros.

As eleições diretas para presidente foram realizadas em outubro de 1889, sendo vencedor o candidato alagoano Fernando Collor de Mello, que derrotou Luís Inácio Lula da Silva, candidato do Partido dos Trabalhadores.

1. Governo Collor

Collor [2] assumiu no dia 15 de março de 1990. Havia grande expectativa em relação à sua posse, pois foi o primeiro presidente eleito diretamente pelo voto popular em quase trinta anos. A expectativa era grande sobretudo em relação às medidas econômicas que seriam tomadas pelo novo governo, devido à gravidade da situação do país, que se caracterizava por uma inflação extremamente elevada.

Por isso, as atenções se concentraram no plano econômico do novo presidente, que foi anunciado em parte no dia da posse e definido na sua totalidade no dia seguinte.

A principal medida econômica, tomada no primeiro dia do governo Collor, foi o bloqueio de grande parte do dinheiro que as pessoas e as empresas tinham nos bancos, em conta corrente, em cadernetas de poupança e em outras formas de aplicação; o objetivo dessa medida era diminuir o volume de dinheiro em poder das pessoas e, assim, conter a inflação.

A moeda voltou a ser o cruzeiro.

Além do objetivo de conter a inflação, faziam parte do plano econômico de Collor;

  • privatização de empresas estatais; 
  • fechamento de órgãos do governo e venda de carros, casas e apartamentos de propriedade do governo;

  • abertura da economia ao capital externo e às importações de produtos estrangeiros;

  • demissão de funcionários públicos.
  • Em 2016, a ex-presidente Dilma Rousseff também foi afastada da presidência acusada de improbidade administrativa e Collor de Mello participou da votação como senador.
  • PC Farias seria encontrado morto em Alagoas com a namorada em 23 de junho de 1996 e até hoje as circunstâncias do crime não foram esclarecidas.
  • A ex-primeira-dama Rosane Collor de Mello voltou à mídia para contar sua vida com o ex-presidente e exigir um aumento da pensão.

O movimento dos Caras Pintadas mobilizou
estudantes de todo país

Chefiado pela ministra Zélia Cardoso de Mello, o Ministério da Economia passou a ser o principal ponto de atenções do novo governo, diante da necessidade que se colocava de eliminar a inflação. Graças ao choque, a inflação baixou a níveis inferiores a 10% nos primeiros meses da nova administração.

Nenhum outro setor da vida nacional recebeu tanta atenção do governo Collor, que se concentrou, nos primeiros meses, no combate à inflação.

Apesar de todas as iniciativas, no entanto, a situação do país continuou difícil, sobretudo porque a principal consequência da política econômica de Collor foi a recessão, com queda dos salários e aumento do desemprego. Diante do fracasso de sua política, Zélia Cardoso de Mello abandonou o governo em maio de 1991, sendo substituída por Marcílio Marques Moreira.

No final de 1991, além de grave recessão, com diminuição da atividade econômica e com desemprego generalizado, a inflação voltava a elevar-se para níveis de 20% ao mês e continuou a subir durante o ano de 1992.

2.    Impeachment e renúncia

De maneira geral, Collor não cumpriu suas promessas de campanha, pois ele prometeu acabar com a inflação, que, depois de alguns meses, voltou com bastante força; havia prometido governar para os “descamisados” e “pés-descalços”, mas não houve redistribuição de renda; jurou acabar com os “marajás” (funcionários públicos com altos salários e que pouco trabalhavam) e colocar os corruptos na cadeia, mas ele mesmo passou a usufruir de vantagens de uma rede de corrupção; comprometeu-se a pagar dignamente os aposentados, mas negou-lhes os reajustes devidos, levando-os às ruas, em passeatas e outras manifestações públicas, para exigir o respeito aos seus direitos. 

Aos poucos, porém, foram aparecendo na imprensa informações sobre casos de corrupção que se multiplicavam em quase todos os setores do governo: no Ministério da Saúde, foram comprados bicicletas, mochilas e guarda-chuvas em quantidades desnecessárias e a preços acima dos de mercado; em outros ministérios, eram contratadas para fazer obras públicas, sem licitação, empreiteiras que haviam contribuído com dinheiro para a campanha do presidente; a publicidade oficial era encaminhada às agências que haviam feito a propaganda eleitoral de Collor; houve denúncias de desvio de dinheiro da Legião Brasileira de Assistência (LBA), presidida por Rosane Collor, esposa do presidente. 

As denúncias se avolumavam, envolvendo o nome do tesoureiro da campanha presidencial, o empresário alagoano Paulo César Farias [3], o PC. No início de 1992 o próprio irmão do presidente, Pedro Collor, denunciou e confirmou a existência do esquema de corrupção generalizada que tomava conta do governo.

O Congresso Nacional formou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias do irmão do presidente. Inicialmente, os trabalhos da CPI andaram muito devagar, pois era difícil conseguir provas. Mas, a partir do depoimento de Eriberto França, motorista de Ana Acioli, secretária de Collor, o vasto esquema de corrupção, envolvendo centenas de milhões de dólares, começou a ser conhecido: grandes empresas, para obter favores do governo, pagavam milhares de dólares às empresas de Paulo César Farias. Este, por meio de contas bancárias fantasmas, com nomes fictícios, encaminhava parte do dinheiro à conta de Ana Acioli, que o utilizava para pagar as despesas particulares de Collor – como a reforma de sua casa – e de seus familiares e amigos. Houve também denúncias de envio de milhões de dólares ao exterior, carregados por aviões particulares de PC.

Milhares de pessoas, especialmente estudantes – que ficaram conhecidos como caras-pintadas, por pintarem o rosto com as cores da bandeira nacional –, começaram a ir às ruas em grandes manifestações, exigindo o afastamento do presidente. “Fora, Collor” era o grito dos manifestantes.

No dia 29 de setembro de 1992, com base no relatório da CPI, a Câmara dos Deputados, por grande maioria de votos, autorizou o Senado a processar e julgar o presidente. De acordo com a Constituição, Collor foi afastado por 180 dias; Itamar Franco, vice-presidente, assumiu interinamente a Presidência.

Três meses depois, no dia 29 de dezembro, ao ter início o julgamento do Senado, percebendo que seria derrotado, Collor renunciou ao seu mandato de presidente da República. No mesmo dia, Itamar Franco foi empossado como presidente efetivo do Brasil.

Apesar da renúncia, o Senado continuou o julgamento de Collor e suspendeu seus direitos políticos por oito anos.

Mais tarde, em 1995, Collor foi considerado inocente pelo Superior Tribunal Federal (STF). Livrou-se das acusações de corrupção passiva junto ao “Esquema PC”, falsidade ideológica e crime de peculato (utilização de cargos públicos para o desvio de verbas).

Após o Impeachment, Collor e a primeira-dama Rosane, mudam-se para Miami, nos Estados Unidos. A presidência seria assumida pelo seu vice, Itamar Franco, em 02 de outubro de 1992.

Por fim, o governo de Collor foi muito conturbado, marcado por diversos escândalos de corrupção, o que culminou na sua deposição.

Três curiosidades escritas por Juliana Bezerra (aqui, vide R. B.):

Notas:

  • [1] Fernando Collor. Foto disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Collor>. Acesso em: 04/04/2025

  • [2] PILETTI (Vide Referências Bibliográficas). Texto adaptado.

  • [3] Paulo César Farias foi tesoureiro e coordenador da campanha de Fernando Collor de Mello. Ele não possuía um cargo público formal no governo Collor, mas atuava como principal conselheiro do presidente. Veja o documentário feito sobre ele pela Brasil Paralelo, destacando “O que aconteceu com PC Farias? Quem assassinou PC Farias? Descoberta de farsas; Fortuna de PC Farias e o esquema PC; Conclusão do caso PC Farias...” em: <https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/quem-matou-pc-farias>. Acesso em: 04/04/2025.

Referências bibliográficas:

BEZERRA, Juliana. Fernando Collor. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/fernando-collor/>. Acesso em: 04/04/2025.

PILETTINelson & PILETTIClaudino. História: EJA (Educação de Jovens e Adultos), 4º Ciclo. São Paulo: Ática, 2003 (Texto didático adaptado).

31 março 2025

Bispos e Papas (15): Calisto Primeiro

 

Bispo Calisto I [1]

Continuando nossa lista dos bispos e papas romanos, quero destacar aqui o bispo Calisto, que na História Eclesiástica (HE)[2] de Eusébio de Cesareia, aparece como o número 15 da lista. Depois de Zeferino  servir a Igreja por 18 anos, “... foi sucedido no episcopado por Calisto...” (HE, 6, XXI).

Como os outros casos, as informações que temos são de fontes católicas. Conforme esta fonte, por exemplo, Calisto era romano de Trastevere e filho de escravos. Trata-o como como um “administrador pouco habilidoso” que deu grande desfalque ao imperador Cômodo e, por isso, teve que fugir, mas foi capturado em Óstia (cidade próxima de Roma) e condenado a girar a roda de um moinho. Depois foi deportado para as minas da Sardenha. Aqui, encontramos também que “... ele foi preso por ter brigado em uma sinagoga, quando tentou emprestar dinheiro ou receber débitos de alguns judeus’.

Calisto teve o apoio do papa [bispo] Vítor que, para ajudá-lo a desviar da tentação, fixou-lhe um ordenado. Depois, o sucessor do bispo Vitor, Zeferino, foi igualmente generoso com ele e ordenou-o diácono, confiando-lhe a guarda do cemitério cristão na via Ápia Antiga. Calisto sucedeu a Zeferino em Roma, mas seu pontificado atraiu as inimizades de uma ala da comunidade cristã de Roma que acusou o processo de sua escolha de heresia. Como era esperado, Calisto teve muitos opositores, incluindo um antipapa – Hipólito de Roma –. Por conta disto, muitas informações sobre ele são distorcidas. O motivo da discórdia com Hipólito de Roma “... fora a questão trinitária e a absolvição concedida por Calisto aos pecadores de adultério, homicídio e apostasia, absolvição que antes só era dada uma vez na vida e após uma dura penitência pública, enquanto os reincidentes eram excluídos da comunhão eclesial...” (Idem).

Calisto morreu numa revolta popular contra os cristãos e foi lançado a um poço. Mais tarde, deram-lhe sepultura honorífica no Cemitério de Calepódio, na Via Aurélia, junto do lugar do seu martírio.

A Cripta de São Calisto: 

Uma das metas obrigatórias para os peregrinos e turistas que se dirigem à Roma são as catacumbas. Particularmente célebres e frequentadas são as de São Calisto, definidas pelo Papa João XXIII “as mais respeitáveis e as mais célebres de Roma”. Numa área de mais de 120.000 m², com quatro andares sobrepostos, foi calculado que lá existem não menos de 20 quilômetros de corredores... Essa obra colossal fixa para sempre a memória de São Calisto, que cuidou de sua realização, primeiro como diácono do Papa Zeferino, e depois como o próprio Papa. Mas além das dimensões, este lugar é precioso pelo grande número e pela importância dos mártires que ali foram sepultados, e particularmente célebres são a cripta de Santa Cecília e a contígua à dos papas, na qual foram sepultados o Papa Ponciano Antero, Fabiano entre outros... O túmulo dele está colocado bem no meio da Roma antiga, na basílica de Santa Maria in Trastevere, que, construída por determinação do Papa Júlio, na metade do século IV, foi intitulada também de São Calisto. Essa obra colossal fixa para sempre a memória de São Calisto, que cuidou de sua realização, primeiro como diácono do Papa Zeferino, e depois como o próprio Papa. Mas além das dimensões, este lugar é precioso pelo grande número e pela importância dos mártires que ali foram sepultados, e particularmente célebres são a cripta de Santa Cecília e a contígua à dos papas, na qual foram sepultados o Papa Ponciano Antero, Fabiano entre outros... O túmulo dele está colocado bem no meio da Roma antiga, na basílica de Santa Maria in Trastevere, que, construída por determinação do Papa Júlio, na metade do século IV, foi intitulada também de São Calisto (Canção Nova).

Referências bibliográficas:

CANÇÃO NOVA. São Calisto I, Papa criador do cemitério da Via Ápia. Disponível em: https://santo.cancaonova.com/santo/sao-calisto-i-papa-criador-do-cemiterio-da-via-apia/. Acesso em: 27/03/2025.

WIKIPEDIA. Papa Calisto I. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Calisto_I>. Acesso em: 27/03/2025.


Notas:

  •  [1] Imagem (adaptada) e meramente ilustrativa. Disponível em: <https://santo.cancaonova.com/santo/sao-calisto-i-papa-criador-do-cemiterio-da-via-apia/>. Acesso em: 27/03/2025.
  •  [2CESAREIA, Eusébio. História Eclesiástica: os primeiros quatro anos da Igreja Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

26 março 2025

Cristianismo e Socialismo: como compatibilizar?

 

Bandeira do Socialismo Cristão [1]


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O socialismo é uma corrente política e um sistema socioeconômico no qual a produção e a distribuição dos produtos é planejada com vistas a atender, pelo menos na teoria, as necessidades básicas da população. O socialismo pode ser dividido em três segmentos: utópico, cujos pensadores como Charles Fourrier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858), foram assim chamados porque a maioria de seus planos era irrealizável (utópico); científico, atribuído a Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895) que consideravam sua doutrina científica por terem chegado a ela através de análises críticas do desenvolvimento das sociedades humanas; e cristão, cujo precursor foi o sacerdote francês Robert Lamennais (1782 – 1854). Mas o principal personagem desta linha que queremos destacar é Henri Saint Simon, o qual destacaremos abaixo. 


1. Saint-Simon e o socialismo cristão [2]


O reformador social Henri de Saint-Simon (1760-1825) foi um pensador e teórico social francês. Também conhecido como socialista utópico, foi ele quem tentou aplicar os princípios sociais do cristianismo, criando o conceito “socialismo cristão”. Ele predisse uma era muito mais industrializada na qual os problemas sociais seriam resolvidos pela ciência e tecnologia. Foi só mais tarde que ele introduziu uma nota religiosa. Seu Nouveau Christianisme ("Novo Cristianismo") publicado no ano da sua morte, sustentava que a religião devia "guiar a comunidade em direção ao alvo sublime de melhorar tão rapidamente quanto possível as condições de vida da classe mais pobre". Tendo visto aquilo que a França sofreu, primeiramente sob a Revolução com toda a sua ferocidade, e depois sob o governo de Napoleão, conclamou todos os governantes da Europa a se unirem visando a supressão da guerra, e a voltarem para aquele cristianismo verdadeiro que se preocupa com a situação miserável dos pobres. As opiniões de Saint-Simon eram frequentemente desordenadas e imprecisas, mas passaram a influenciar uma combinação improvável de pensadores que incluíam Thomas Carlyle, John Stuart Mill, Heinrich Heine, Auguste Comte, Friedrich Engels e Walter Rauschenbusch, e posteriormente foram ecoadas nas obras dos teólogos norte-americanos mais recentes, tais como Paull Tillich e Reinhold Niebuhr.

Além de exercer um impacto na França, o socialismo cristão era uma força real em muitos outros países europeus, e fomentava a organizações de grupos, sustentando que o operário e o lavrador tinham direito à justiça social e econômica, e que estas eram áreas nas quais os cristãos deviam ser ativos. Na Alemanha, desviou-se tristemente para o antissemitismo que resultou na condenação imperial em 1894. Cinco anos antes, a Sociedade dos Socialistas Cristãos tinha sido formada nos Estados Unidos, mas a ideia estava presente desde 1849, quando Henry James, Sr. expôs princípios semelhantes.

O termo "socialismo cristão" foi popularizado na Inglaterra nos meados do século XIX quando, depois do fracasso do movimento cartista, um grupo de anglicanos procurou obter a aplicação dos princípios cristãos na organização da indústria. Seus líderes foram J. M. F. Ludlow (que fora educado na França), J. F. D. Maurice e Charles Kingsley. Eles ajudaram a financiar sociedades cooperativas, deram início a associações para vários ofícios, e em 1854 fundaram a Faculdade dos Trabalhadores em Londres, tendo Maurice como presidente. As novelas de Maurice, especialmente Yest (“Levedura”) e Alto Locke (publicadas em 1850), desempenharam um papel considerável num movimento que, no entanto, nunca cativou a igreja inglesa, e que logo entrou em declínio. Nem por isso deixou de legar à posteridade princípios e práticas que beneficiaram uma ampla gama de interesses sociais, inclusive cooperativas, institutos educacionais para operários e sindicatos trabalhistas.


2. Como um cristão deve encarar o socialismo?[3]


O socialismo é um sistema social no qual a propriedade, os recursos naturais e os meios de produção são de propriedade e controlados pelo estado, em vez de indivíduos ou empresas privadas. Uma crença básica do socialismo é que a sociedade como um todo deve compartilhar todos os bens produzidos, pois todos vivem em cooperação uns com os outros. Várias teorias do socialismo foram apresentadas desde os tempos antigos, incluindo uma forma de socialismo cristão.

O filósofo mais proeminente a argumentar a favor do socialismo foi Karl Marx, que ensinou que o fator motriz por trás de toda a história humana é a economia. Marx nasceu de pais judeus alemães em 1818 e recebeu seu doutorado aos 23 anos. Ele então embarcou em uma missão para provar que a identidade humana está ligada ao trabalho de uma pessoa e que os sistemas econômicos controlam totalmente uma pessoa. Argumentando que a humanidade sobrevive pelo trabalho, Marx acreditava que as comunidades humanas são criadas pela divisão do trabalho.

Marx viu a Revolução Industrial como uma mudança no estilo de vida básico da humanidade, porque, na mente de Marx, aqueles que trabalhavam livremente para si mesmos agora eram forçados pela economia a trabalhar em fábricas. Isso, Marx sentiu, tirou sua dignidade e identidade, e agora eles foram reduzidos a meros escravos controlados por um poderoso capataz. Essa perspectiva fez da economia do capitalismo o inimigo natural da marca de socialismo de Marx.

O socialismo busca acabar com a propriedade privada. Karl Marx supôs que o capitalismo enfatiza a propriedade privada e, portanto, reduziu a propriedade a poucos privilegiados. Duas "comunidades" separadas surgiram na mente de Marx: os empresários, ou a burguesia; e a classe trabalhadora, ou o proletariado. De acordo com Marx, a burguesia usa e explora o proletariado com o resultado de que o ganho de uma pessoa é a perda de outra. Além disso, Marx acreditava que os empresários influenciam os legisladores para garantir que seus interesses sejam defendidos em vez da perda de dignidade e direitos dos trabalhadores. Por fim, Marx sentiu que a religião é o "ópio das massas", que os ricos usam para manipular a classe trabalhadora; o proletariado recebe a promessa de recompensas no céu um dia se continuar trabalhando diligentemente onde Deus os colocou (subservientes à burguesia).

No socialismo que Marx imaginou, o povo possui tudo coletivamente, e todos trabalham para o bem comum da humanidade. O objetivo de Marx era acabar com a propriedade privada por meio da propriedade estatal de todos os meios de produção econômica. Uma vez que a propriedade privada fosse abolida, Marx sentiu que a identidade de uma pessoa seria elevada e o muro que o capitalismo supostamente construiu entre os proprietários e a classe trabalhadora seria quebrado. Todos se valorizariam e trabalhariam juntos para um propósito compartilhado. O governo não seria mais necessário, pois as pessoas se tornariam menos egoístas.

Há pelo menos quatro erros no pensamento de Marx, revelando algumas falhas no socialismo. Primeiro, sua afirmação de que o ganho de outra [uma] pessoa deve vir às custas de outra pessoa é um mito; a estrutura do capitalismo deixa muito espaço para todos elevarem seu padrão de vida por meio da inovação e da competição. É perfeitamente viável que várias partes compitam e se saiam bem em um mercado de consumidores que querem seus bens e serviços.

Segundo, Marx estava errado em sua crença socialista de que o valor de um produto é baseado na quantidade de trabalho que é colocado nele. A qualidade de um bem ou serviço simplesmente não pode ser determinada pela quantidade de esforço que um trabalhador despende. Por exemplo, um mestre carpinteiro pode fazer uma peça de mobiliário mais rápida e lindamente do que um artesão não qualificado e, portanto, seu trabalho será muito mais valorizado (e corretamente) em um sistema econômico como o capitalismo.

Terceiro, a teoria do socialismo de Marx necessita de um governo livre de corrupção e nega a possibilidade de elitismo dentro de suas fileiras. Se a história mostrou alguma coisa, é que o poder corrompe a humanidade caída, e o poder absoluto corrompe absolutamente. As pessoas não se tornam naturalmente menos egoístas. Uma nação ou governo pode matar a ideia de Deus, mas alguém tomará o lugar de Deus naquele governo. Esse alguém é, na maioria das vezes, um indivíduo ou grupo que começa a governar a população e busca manter sua posição privilegiada a todo custo. É por isso que o socialismo levou a ditaduras com tanta frequência na história mundial.

Quarto e mais importante, o socialismo está errado ao ensinar que a identidade de uma pessoa está ligada ao trabalho que ela faz. Embora a sociedade secular certamente promova essa crença, a Bíblia diz que todos têm o mesmo valor porque todos são criados à imagem do Deus eterno. O verdadeiro valor humano intrínseco está na criação de nós por Deus.

Marx estava certo ao dizer que a economia é o catalisador que impulsiona a história humana? Não, o que dirige a história humana é o Criador do universo que controla tudo, incluindo a ascensão e queda de cada nação. Deus também controla quem é colocado no comando de cada nação: “O Altíssimo governa o reino dos homens, e o concede a quem quer, e constitui sobre ele o mais humilde dos homens” (Daniel 4.17). Além disso, é Deus quem dá a uma pessoa habilidade no trabalho e a riqueza que vem dele, não o governo: “Aqui está o que vi ser bom e apropriado: comer, beber e divertir-se em todo o seu trabalho em que se esforça debaixo do sol durante os poucos anos de sua vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua recompensa. Além disso, quanto a todo homem a quem Deus deu riquezas e bens, também lhe deu poder para comer delas, e receber a sua recompensa, e alegrar-se no seu trabalho; este é o dom de Deus” (Eclesiastes 5.18-19).

O socialismo, apesar de toda sua popularidade em alguns círculos, não é um modelo bíblico para a sociedade. Em oposição ao socialismo, a Bíblia promove a ideia de propriedade privada e emite comandos para respeitá-la: comandos como “Não furtarás” (Deuteronômio 5.19) não têm sentido sem propriedade privada. Ao contrário do que vemos em experimentos fracassados ​​no socialismo, a Bíblia honra o trabalho e ensina que os indivíduos são responsáveis ​​por se sustentarem: “Quem não quer trabalhar não coma” (2Tessalonicenses 3.10). A redistribuição de riqueza fundamental para o socialismo destrói a responsabilidade e a ética bíblica do trabalho. A parábola de Jesus em Mateus 25.14-30 ensina claramente nossa responsabilidade de servir a Deus com nossos recursos (privados).


Notas:

  •  [2] DOUGLAS, J. D. Socialismo Cristão (Texto na íntegra, adaptado). Ver R. B.
  •  [3] GOT QUESTIONS. Socialismo-Christian (Texto na íntegra, adaptado). Ver R. B.

Referências bibliográficas:

  • DOUGLAS, J. D. Socialismo Cristão. In: ELLWELL, Walter A (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol. III. São Paulo: Vida Nova, 1990. Pg. 410.

10 março 2025

Nova República (4): a Constituição de 1988


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O primeiro presidente eleito da Nova República foi José Sarney. Embora obteve poucos resultados no campo econômico, no campo jurídico, entretanto, foi criada e votada em 1988 a Constituição da República Federativa do Brasil que vigora (ou deveria) até hoje.

Em 15 de novembro de 1986, foram eleitos novos deputados e senadores; além das tarefas normais como congressistas, eles tinham a importante incumbência de elaborar uma nova Constituição. Por isso, esse Congresso tinha também a função de Assembleia Nacional Constituinte. Os trabalhos foram iniciados em fevereiro de 1987 e terminaram em 5 de outubro de 1988 com a promulgação da Nova Carta.

A Constituição de 1988, também chamada de “Constituição cidadã”, foi a sétima constituição do Brasil desde a sua Independência, em 1822 e a sexta do período republicano.

Algumas características da Constituição de 1988 no campo trabalhista, direitos humanos e outros, estão especificados pela professora Juliana Bezerra aqui:

1. Direitos Trabalhistas

A nova constituição consolidou diversas conquistas aos trabalhadores, como:

  • O abono de indenização de 40% do FGTS na demissão e o seguro-desemprego;
  • O abono de férias e o 13º salário para aposentados;
  • Jornada semanal de 44 horas, quando antes era de 48 horas;
  • Licença maternidade de 120 dias e licença paternidade de 5 dias;
  • Direito à greve e a liberdade sindical.

2. Direitos Humanos

Além disso, várias outras conquistas foram alcançadas no campo dos direitos humanos:

  • Fim da censura dos meios de comunicação;
  • Liberdade de expressão;
  • Direito das crianças e adolescentes;
  • Eleições diretas e universais com dois turnos;
  • Direito ao voto para os analfabetos;
  • Voto facultativo aos jovens entre 16 e 18 anos;
  • A prática do racismo passou a ser crime inafiançável;
  • Proibição da tortura;
  • Igualdade de gêneros;
  • Fomento ao trabalho feminino.


3. População Indígena

A Carta Magna de 1988 determinou que os índios teriam a posse das terras que ocupavam bem como aquelas que eles tradicionalmente ocupavam.

Também garante à União o direito de legislar sobre os índios e garantir a preservação dos seus costumes, línguas e tradições.

4. Quilombolas

Igualmente, a Constituição de 1988 reconheceu o direito de posse às terras ocupadas por remanescentes de Quilombos...

A Constituição também rege o ordenamento jurídico do país, estabelece regra que regulam e pacificam os conflitos de interesse dos grupos que integram uma sociedade.

A Constituição de 1988 também prevê emendas. Isto é, mudanças no texto da constituição estão previstos por lei e podem ser feitas através de emenda constitucional. E tantas emendas já foram feitas que passaram de 140 em tão pouco tempo de existência. De tal forma que, se comparada à Constituição dos EUA, esta só recebeu 27 emendas em 235 anos. A última emenda foi promulgada em 1992. 

A Constituição de 1988 é boa ou ruim? Na verdade, “...o Brasil é constitucionalmente uma social-democracia com viés de esquerda. Ao Estado compete tudo, ... ao Estado compete o bem-estar da Nação em todas as suas dimensões...” (Ricardo Gomes). Em outras palavras, apenas para resumir, se ao Estado compete tudo, incluindo o bem-estar da Nação é óbvio que esta Constituição não vai funcionar e não tem funcionado nestes 37 anos. Mas o debate continua aqui...

Referências bibliográficas:

BEZERRA, Juliana. Constituição de 1988. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/constituicao-de-1988/>. Acesso em: 07/03/2025.

BRASIL PARALELO. A Constituição de 1988 é boa ou ruim? Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_08a2OxpRR8>. Acesso em: 07/03/2025.