Por: David W. Gill
Resumo em áudio:
...
Sobre o
assunto ética, já publicamos neste blog: Ética e
moral, Ética bíblica, Ética situacional, além de assuntos correlatos. E continuamos,
desta vez, destacando o conceito de Ética social[2],
à luz da Bíblia.
Entende-se por ética social o estudo das
questões do bem e do mal, do certo e do errado, da obrigação e da proibição,
conforme elas surgem num contexto social.
1. Introdução e Definição
O governo público, a política, as ciências
econômicas, a guerra, a pobreza, a educação, o racismo, a ecologia e o crime:
estes são exemplos do conteúdo da ética social. A tarefa da ética social pode
ser melhor compreendida em contraste com outros campos correlatos. Em contraste
com os estudos sociais da História – como era a situação no passado, e a
ciência social – o que é a situação, a ética social ocupa-se com aquilo que
deve existir – com normas e valores que servem para julgar o passado e o
presente. Embora a ética social tenha uma tarefa distinta da história e ciência
sociais, ela não pode ser bem-sucedida neste esforço sem uma interação contínua
com estes campos correlatos.
Conforme acontece no caso de outros subcampos
da ética, a ética social pode ser abordada descritivamente (Qual
é o caráter desta moralidade? Desta linguagem ética?) ou prescritivamente
(proponho este conjunto de valores, estas normas e princípios, este modo de
resolver um dilema ético). Uma distinção adicional deve ser feita entre o discernimento
ético e a implementação ética. A ética social inclui a reflexão sobre o
problema da análise e o discernimento do bem social, bem como sobre o problema
da estratégia e da implementação do bem social. Assim como a teologia dogmática
existe para servir a igreja na sua proclamação e adoração, a ética social
existe para servir ao mundo por meio de reformas sociais que o conformarão mais
estreitamente àquilo que é justo, bom e certo.
É impossível manter uma distinção clara e
precisa entre a ética social e a ética pessoal (individual). Todo
comportamento individual tem implicações sociais. Toda situação ou problema
social tem repercussões individuais. Apesar disso, para propósitos analíticos é
útil tratar a ética social como um campo separado, e dirigir a atenção básica aos
aspectos éticos dos grupos sociais, das instituições e dos problemas coletivos
(raciais, econômicos, políticos etc.). Portanto, em contraste, a ética pessoal
focaliza o agente moral individual.
Como no caso da ética pessoal, a ética social
dirige sua atenção a dois conjuntos gerais de perguntas (cada um dos quais tem
um aspecto de discernimento e de implementação, conforme observado acima). O
primeiro tem a ver com a existência (caráter), e o segundo, com o agir
(decisão e ação específicas). Embora este último (a reflexão sobre dilemas
éticos específicos e imediatos) seja frequentemente uma tarefa urgente para a
ética social, o outro tem, no mínimo, importância igual; ou seja, por trás de
atos e dilemas específicos existem atitudes, disposições e processos que podem
ser justos ou injustos, bons ou maus. Este é o problema do mal corporativo e
estruturado. Para a ética social, o bem e o mal não estão localizados meramente
em agentes morais individuais nem em decisões e ações específicas: também são
atributos de instituições, tradições e disposições e processos sociais.
Somente nestes últimos cem anos é que a ética
chegou a ter seu próprio lugar como especialização acadêmica nos departamentos
de Filosofia, Teologia, e de estudos religiosos. Para a ética social cristã, no
entanto, é essencial reconhecer que o assunto recebeu muita atenção em todas as
partes da Bíblia, desde o Gênesis até ao Apocalipse. Assim, também, a maioria
dos líderes e mestres da igreja cristã, no decurso destes últimos dois mil
anos, tem dado atenção à ética social, ainda que não tenha empregado exatamente
este rótulo. Uma ética social cristã contemporânea deve estar arraigada nas
Sagradas Escrituras como a Palavra de Deus e ser regida por elas. Deve ser
afetada pelo testemunho e pela experiência da igreja no decurso da História. E
deve estar em diálogo frutífero com a história e ciência sociais, conforme foi
sugerido acima.
2. Análise e Discernimento
A primeira tarefa da ética social cristã é a
análise de estruturas e situações e o discernimento do bem e do mal em relação
a estas.
a) A
Revelação e a Observação
A análise ética social cristã avança numa
dialética entre a revelação, a Palavra de Deus "de cima", e a
observação e experiência, "de baixo. Um realismo social deve sondar abaixo
dos problemas da superfície, para chegar a um discernimento correto das forças
e problemas fundamentais da nossa sociedade. Qual é o arcabouço e quais são as
correntezas principais que jazem imediatamente abaixo da superfície de eventos
e dilemas atuais? Ao mesmo tempo, a análise e o discernimento são orientados
pela revelação bíblica, pela Palavra de Deus. Desde o relato em Gênesis, quando
Deus questionou a Adão, Eva e Caim, até quando Jesus questionou a Pedro e aos
discípulos, a ética social está arraigada nesta Palavra de Deus. Deus não
somente ilumina, corrige e aprofunda as nossas observações da realidade social,
mas Ele também levanta novas questões e problemas que, frequentemente, passam
despercebidos, até mesmo pela análise sociológica mais realista. Deste modo, a
ética social cristã tem um papel distintivo a desempenhar na sociedade em
geral, ao dar expressão às perspectivas divinas reveladas quanto aos negócios
humanos.
b) A Criação
Boa parte da ética social teológica
tradicional tem sido formada por apelos a ordens de criação (ou
"esferas" ou "mandatos"). As ordens da família e do
casamento, da política e do Estado, do trabalho e da economia e, às vezes, até
mesmo outras têm sido compreendidas não somente por referência à revelação
bíblica, como também ao bom-senso, à razão e à lei natural. Cada ordem ou
esfera tem seu próprio propósito distintivo e seu arcabouço ético
correspondente. Todas as ordens estão debaixo da derradeira soberania de Deus.
Críticos desta posição têm argumentado que (1) vivemos num mundo caído, em que
os apelos a uma criação já perdida são mal orientados, e (2) a própria Bíblia,
raramente, ou talvez nunca, desenvolve uma "ética da criação".
Quer a ética social esteja fundamentada
basicamente sobre ordens da criação, quer não, certos elementos da revelação
bíblica sobre a criação continuam a ter importância para a ética social cristã
(cf. Gn 1-2). O "bem" ético é definido pela vontade, palavra e obra
de Deus. Pretende-se que a humanidade seja uma co-humanidade: uma participação
social e alegre de seres humanos diante de Deus ("Não é bom que o homem
esteja só"). Um conceito positivo da política e do Estado percebem que
estão arraigados na natureza social da humanidade criada, e subentendidos por
esta. O casamento é implicitamente monógamo e caracterizado por ser uma
parceria diante de Deus. O trabalho é fundamentalmente uma questão de
criatividade (à imagem do Criador) e de mordomia (lavrar a terra e subjugá-la).
c) A Queda
Por mais importante que a doutrina da criação
seja para a ética social, a revelação a respeito da Queda é igualmente
importante. A Queda (Gn 3) indica que o mal se origina na rebeldia contra Deus
e na desobediência ao Seu mandamento. O mal é manifestado na acusação, na
divisão e no domínio de um ser humano sobre outro (Adão e Eva, Caim e Abel). A
saída de Caim de diante da presença de Deus, a fim de edificar a sua própria
cidade e sociedade (Gn 4) e a revelação subsequente a respeito da cidade
(Babel/Babilônia, Ninive etc.) completam esta descrição inicial do mal social. Suas
características essenciais são orgulho, desobediência a Deus, acusação,
divisão. dominação, exploração, violência, bem como cobiça do poder.
Perspectivas posteriores no pensamento
hebraico-cristão desenvolveram este conceito da Queda em termos da inimizade
dos "principados e potestades" cósmicos contra os propósitos de Deus.
Como estruturas de forças sociais, podemos ter um aspecto demoníaco
corporativo. O mal não é simplesmente um fenômeno individual, mas também uma
questão de corpo e estrutura. À luz deste fato, o Estado (ou o trabalho, ou o
dinheiro) é eticamente ambíguo: pode promover uma co-humanidade, que refreia os
homens sociais, e pode ser o habitat dos poderes rebeldes. Tanto a
história social quanto a ciência social, usando terminologias e métodos de
pesquisa diferentes, confirmam a revelação bíblica no tocante ao potencial ambíguo,
transpessoal e estrutural do Estado (e de outras instituições sociais).
d) Lei e Justiça
A ética social cristã, e na verdade toda
ética social, frequentemente se centraliza no problema da justiça e da sua
institucionalização na lei. O relacionamento entre a lei moral divina revelada
e a lei civil positiva foi motivo de reflexão intensiva por Tomás de Aquino,
João Calvino e muitos outros pensadores cristãos clássicos. Uma ética social
cristã deve ser orientada não só pelo exemplo da teocracia de Israel antigo (em
que as associações entre os Dez Mandamentos e o Livro da Aliança e o Código da
Santidade são bastante diretas), mas também pelo exemplo de Israel no exílio e
no cativeiro (onde o povo do mundo vive numa situação alienada).
De qualquer maneira, a justiça (a retidão e o
juízo) é uma das normas éticas mais importantes para a ética social cristã.
"Eu sou o Senhor, e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque
estas coisas me agrado, diz o Senhor" (Jr 9.24). “O Senhor faz
justiça, e juga a todos os oprimidos” (SI 103.6). A justiça bíblica é mais
importante do que equidade e igualdade. Revela-se como alguém que entende as
justas queixas dos oprimidos. Não se mantenha em tensão com o amor, mas inclui
o amor e a misericórdia. Numa era em que a justiça e a lei têm sido reduzidas,
em muitos aspectos, a termos quantitativos, técnicos, a ética social cristã
deve dar expressão ao conceito bíblico de justiça: qualitativa, de origem
divina e de solicitude humana.
e) O Reino de Deus
Até os éticos sociais das ordens-da-criação
mais intransigentes reconhecem que uma nova ordem de redenção toma lugar na
sociedade com a vinda de Jesus Cristo e a fundação da Igreja. Esta Igreja é (ou
deve ser) o principal exemplar do reino de Deus que permanece em tensão com o
reino deste mundo. Segundo os termos de Agostinho, os fatores constituintes
mais importantes da história social são a cidade de Deus e a cidade terrestre.
A primeira é dinamizada pela charitas, o amor a Deus, e a segunda, por cupiditas,
o amor próprio. Para Martinho Lutero, os dois reinos são diferentes entre si
neste ponto: O reino de Deus é uma questão de fé no íntimo, ao passo que o
reino civil diz respeito aos assuntos exteriores. É natural que, para Agostinho,
Lutero e outros, o quadro seja consideravelmente mais complexo do que estes
resumos. Não deixa de permanecer, porém, uma distinção na ética social cristã
entre a realidade coletiva, que toma Jesus Cristo como seu ponto de partida, e
tudo o mais.
É em Jesus Cristo que a palavra de Deus é
mais clara e complementa revelada – para a ética social bem como para todas as
demais coisas. O ensino social de Jesus é revelado na Sua declaração de
"plataforma" (Lc 4.18-21), na Tentação (Mt 4), nas Suas parábolas e
discursos, no Sermão do Monte (Mt 5-7), no Seu discurso da despedida (Jo 13-17)
e nos eventos da Crucificação e da Ressurreição. Os grandes mandamentos no
sentido de amar a Deus e ao próximo, o chamado ao serviço e ao sacrifício sem
qualificações, a Regra Áurea, o chamado à simplicidade, para longe da
inspiração a Mamom (riquezas), e assim por diante, revelam as dimensões essenciais
da ética social de Jesus. A ética cristã social deve refletir não apenas sobre
as interpretações tradicionais e majoritárias do significado de Jesus Cristo,
do reino de Deus e do mandamento do amor, mas também sobre a interpretação e
aplicação deste ensino social pelos franciscanos, anabatistas, quacres e outros
que desenvolveram uma ética social baseada em Jesus Cristo.
f) Escatologia
A ética social cristã é fundamentalmente
escatológica na sua natureza; ou seja, inclina-se em direção à chegada futura e
completa do juízo e da graça de Deus. Mais do que a criação original, a nova
criação é invocada para a orientação ética no NT. O reino de Deus, que está
verdadeiramente presente (em parte), será (plenamente) revelado no fim. Jesus
Cristo é o novo Adão. O Espirito Santo é o “pagamento inicial” que garante o
futuro – não apenas o reflexo da criação original. A história avança em direção
à nova Jerusalém, e não regride para uma idade de ouro no Éden. Por estas
razões, o Apocalipse tem significado ético-social específico, por revelar o
juízo ético final de Deus contra a sociedade humana, em termos da Babilônia (Ap
18) e da nova Jerusalém (Ap 21).
É neste juízo final que os principados e
potestades são destronados final e completamente, terminando a obra de Jesus
Cristo que, "despojando os principados e as potestades, publicamente os
expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz" (Cl 2.15). Babilónia é a
habitação de Satanás, dos principados e das potestades. É condenada por ter
permitido que os mercadores da terra se enriquecessem às custas da sua luxúria,
pelo seu orgulho e poder, pelos seus maus tratos aos santos, profetas e
apóstolos, pelo seu tráfico de corpos e almas dos seres humanos, pela violência
e pelo derramamento de sangue. A nova Jerusalém, em contraste, é o lugar onde
habita Deus, onde estão eliminados a morte, o luto e a dor, onde ficam
satisfeitos os sedentos e os famintos, onde não ocorre nada de vergonhoso nem
de doloso, onde as portas da cidade estão abertas a todas as nações.
Considerando as diretrizes destacadamente escatológicas da ética social
bíblica, a ética cristã leva a sério este cenário apocalíptico final no
discernimento daquilo que é socialmente bom ou mau.
3. A Estratégia e a Implementação
A primeira tarefa da ética social cristã,
portanto, é a análise e o discernimento do bem e do mal social, fazendo uso da
história social da ciência social e, acima de tudo, da ética social bíblica. A
segunda tarefa é refletir sobre o relacionamento entre Cristo e a cultura ou
seja: entre o mandamento ético de Deus e a situação social. É o problema da
estratégia e da implementação.
a) Perspectivas Tradicionais
A reflexão contemporânea sobre como a
convicção cristã (ou religiosa) se relaciona com a sociedade tem sido
grandemente influenciada por historiadores e cientistas sociais. Embora Karl
Marx, Emile Durkheim e outros também tenham tido influência considerável, esta
reflexão deve-se mais aos estudos pioneiros realizados por Max Weber, Ernst
Troeltsch e H. Richard Niebuhr. Os estudos de Weber do papel do profetismo e do
carisma, sua quádrupla tipologia de relacionamento entre os grupos religiosos e
o mundo (o asceticismo do mundo interior e do outro mundo, o misticismo
do mundo interior e do outro mundo) e seu estudo clássico, A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo, continuam a ser um ponto de
partida importante para a reflexão sobre os problemas da estratégia e da
implementação das preocupações éticas sociais cristãs.
O livro de Troeltsch, The Social Teaching of
the Christian Churches ("O Ensino Social das Igrejas Cristãs"), propôs,
com ilustrações históricas volumosas, uma tríplice tipologia de igreja, seita e
associação mística. H. R. Niebuhr desenvolveu e modificou a tipologia de
Troeltsch em cinco categorias que permanecem influentes em muitos debates
atuais. "Cristo contra a cultura" é representado pela abordagem sectária,
anabatista. "O Cristo da cultura" é representado pela abordagem
acomodacionista. "Cristo acima da cultura" é representado por Tomás
de Aquino e uma abordagem sintética. "Cristo e a cultura em paradoxo"
é representado por Lutero e pela abordagem dualista. "Cristo, o
transformador da cultura" é representado por Agostinho e pela abordagem
conversionista.
As tipologias sociais científicas e
históricas, como as citadas acima, não conseguem tratar as tradições
individuais. Nem levam suficientemente em conta o caráter “denominacional” e
“leigo” da sociedade contemporânea. Sendo categorias provenientes das divisões
do século XVI (ou até mesmo do século XIX), não podem ser diretamente
transferidas e aplicadas aos finais do século XX. Apesar disso, a reflexão
sobre a estratégia e a implementação contemporâneas são grandemente empobrecidas
por não se levar em conta estas perspectivas tradicionais.
a) A Oração e a Evangelização
Do ponto de vista da ética social bíblica, as
atividades de oração e evangelização não devem ser subestimadas como
estratégias para a mudança social. Como base desta cosmovisão judaico-cristã
está a convicção de que Deus participa da História humana e nela intervém, pelo
menos parcialmente, como resposta à oração do povo. Súplicas, orações,
intercessões, ações de graça, devem ser feitas por todas as pessoas, inclusive
por aqueles que detêm autoridade política (1 Tm 2.1-2). A oração, portanto, é
uma atividade política e social de grande importância, entre outras atividades.
Faz, também, parte básica do ponto de vista
cristão proclamar o evangelho de Jesus Cristo na esperança de que homens e
mulheres venham a conhecê-lO como Salvador, Senhor e Deus. Embora a ética
social se preocupe basicamente com o bom e o mau das estruturas coletivas, ela
faz parte dos agentes morais individuais que são afetados pela realidade
coletiva e institucional. A evangelização, entre outras coisas, leva a efeito a
mudança social por meio da transformação daqueles que agem na sociedade, os
agentes morais individuais.
b) Comunidade Alternativa
Longe de se tratar de um afastamento
irresponsável e despreocupado quanto ao dever social, a formação de uma
comunidade cristã alternativa desempenha um papel importante na implementação
da mudança ético-social. Uma comunidade alternativa básica é a igreja (tanto no
seu sentido local quanto no seu sentido mais amplo). Negócios, escolas, grupos
políticos e outras associações, todos puramente cristãos, são outros meios
pelos quais esta estratégia pode ser empregada.
Comunidades cristãs alternativas têm uma
relevância quíntupla para a implementação da preocupação social. Em primeiro
lugar, a comunidade é um contexto essencial para a deliberação e
discernimento morais. Os dons e capacidades individuais dos membros da
comunidade combinam-se para discernir as melhores respostas possíveis às
questões e dilemas da sociedade contemporânea. Em segundo lugar,
a própria existência da comunidade (com sua dedicação total a Jesus Cristo)
contribui para a saúde da sociedade ao "abrir" a ordem social. Tendências
totalitárias e monistas são restringidas pela existência de comunidades
alternativas na sociedade. Em terceiro lugar, a comunidade cristã
fornece à sociedade um exemplo de “outra maneira” de lidar com vários problemas
sociais (padrões de liderança, atividades de bem-estar e assim por diante). Em quarto
lugar, uma comunidade pode funcionar como um laboratório onde diversas
formas podem ser testadas, refinadas e demonstradas. Em quinto lugar,
a comunidade prepara e assiste indivíduos que saem da comunidade para diversas
estruturas e situações na sociedade em geral. É um recurso não só de
discernimento, mas também de ação social.
c) A Participação Institucional
Conforme demonstram Moisés, Daniel, Paulo e outros personagens bíblicos, a participação direta nas estruturas e instituições políticas (e outras) da sociedade é outra estratégia disponível para a implementação da preocupação ético-social. Especialmente nas circunstâncias em que os cristãos (juntamente com outras pessoas) são convidados a exercer uma responsabilidade política e social, é apropriado considerar que a participação institucional é um meio válido de implementar a convicção ética. A política eleitoral, as reformas legislativas, as ativações comerciais e profissionais e a educação pública são exemplos das esferas institucionais onde talvez fosse necessária a participação. As fronteiras de tal participação são estabelecidas por dois critérios. Em primeiro lugar, nenhum cristão está, em caso algum, autorizado a violar o mandamento de Deus: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens" (At 5.29). Em segundo lugar, nenhum grupo ou indivíduo cristão está autorizado, em tempo algum, a impor unilateralmente (coercivamente) os padrões morais do reino de Deus sobre o mundo. Os cristãos devem ser o sal da terra, a luz do mundo e ovelhas entre lobos: têm presença e impacto, mas não por meio de coerção e dominação.
d) Meios e Fins
A ética social bíblico-cristã, tanto no
discernimento quanto na implementação, não aceita a classificação fácil como
ética deontológica (fazendo o que é certo sem levar em conta as
consequências) ou como ética teleológica (o fim justifica os meios). Em
especial, porém, uma abordagem teleológica viola uma mensagem bíblica. Não são justificados
nem permissíveis meios malignos, em circunstância alguma (Rm 6). O cristão é
chamado a “vencer o mal com o bem” (12.21). Visto que os meios escolhidos
afetam o caráter do fim, um bom fim pode ser alcançado somente pelo emprego de
bons meios. A justiça será alcançada apenas pelos justos; a paz, por meios
pacíficos; a liberdade ou a igualdade, por meios caracterizados pela liberdade
e igualdade. A reflexão cristã sobre a estratégia e a implementação do bem que
é discernido sempre ressaltará este relacionamento indissolúvel entre meios e
fins.
Notas / Referências bibliográficas:
- [1] Capa de Word of God in the Ethics of Jacques Ellul, um dos livros de Gill, que foi publicado em 1984. David W. Gill, nascido em 1946 em Omaha, Nebraska, EUA, é um autor, professor e palestrante norte-americano, especializado em ética cristã, ética no local de trabalho e ética organizacional... Veja mais em: <https://www.davidwgill.org/bio?utm_source=chatgpt.com>. Acesso em: 14/11/2025.
- [2] GILL, David W. Ética Social. In: Enciclopédia Histórico-Teológica. Editor Walter A. Elwell. Vol. II. São Paulo: Vida Nova: 1988, Pág. 97 a 102 (Texto adaptado).
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